EFÉSIOS
Autoria
Os eruditos antigos já atribuíam ao apóstolo Paulo a autoria dessa carta à Igreja em Éfeso. Devido
ao seu caráter eminentemente circular, alguns teólogos modernos chegaram a cogitar que a falta das
tradicionais saudações e outros detalhes quanto ao estilo e conteúdo pudessem ser fatos questio-
nadores da autoria paulina. Entretanto, o próprio Paulo se identifica claramente como o autor dessa
epístola universal (1.1-15; 3.1-13; 4.1; 6.19-23).
Propósitos
p
É possível que o fato de esta carta de Paulo não ter por foco nenhum erro, pecado ou heresia
específica, o que era um traço comum nas missivas do apóstolo, tenha levado alguns estudiosos a
suspeitar da autoria paulina.
A primeira parte deste tratado teológico apresenta a forte e complexa base doutrinária cristã, en-
quanto que, na segunda parte, Paulo escreve como pastor que se preocupa em encorajar seus filhos
na fé. Entretanto, essa linha divisória não é tão simétrica e de fácil contorno. O discurso doutrinário é
exercido mediante uma situação prática, e as exortações são iluminadas por diamantes da verdade.
Paulo escreveu para ampliar os horizontes espirituais de seus leitores de todas as épocas e culturas,
com o objetivo de ajudá-los a compreender um pouco melhor as dimensões do plano eterno de
Deus Pai e da sua Graça. A profunda e abrangente iluminação que o leitor possa receber da leitura
atenta de Efésios, o estimulará a valorizar os alvos mais sublimes que o Senhor estabeleceu para a
Sua Igreja.
Paulo inicia sua mensagem com um louvor que se transforma em exultação pelos propósitos de
Deus para com seus santos, por meio da obra redentora de Jesus Cristo, o Messias, Filho de Deus,
bem como pela ação cotidiana do Espírito Santo na vida dos crentes.
O apóstolo faz uma pausa para duas orações (1.15-23 e 3.14-19), e segue ensinando aos seus
leitores sobre o que está envolvido na redenção: o livramento total do poder do pecado, a vida
regenerada e espiritualmente vitoriosa, o ministério de unidade de todos os santos (separados para
o louvor e a adoração de Deus) e a união eterna do crente com Jesus Cristo.
Deus, portanto, reconciliou o ser humano consigo num ato da Sua Graça leal e eterna (2.1-10). Re-
conciliou também entre si esses indivíduos, porquanto Cristo, por meio de sua morte e ressurreição,
rompeu todas as barreiras entre todos os povos da terra (2.11-22). E mais ainda, o Senhor uniu todas
essas pessoas, agora devidamente reconciliadas, num único corpo: a Igreja de Jesus Cristo, a fim
de que a Igreja seja o meio pelo qual Deus demonstra sua “multiforme sabedoria” aos “principados
e autoridades nas regiões celestiais” (3.7-13). Portanto, fica evidente – até pela redundância propo-
sital da expressão “nas regiões celestiais”, ao longo do texto do apóstolo – que a vida cristã não se
restringe somente ao plano terrestre, mas igualmente tem toda a relevância no céu (lugar celestial),
onde Cristo está entronizado à direita de Deus Pai (1.3,20; 2.6; 3.10; 6.12).
Contudo, Paulo não nos deixa esquecer da dura realidade que todos os cristãos devem viver
durante o tempo de sua peregrinação nesta terra, levando com coragem e galhardia o bom teste-
munho de Jesus. O Senhor exaltado concedeu “dons” aos membros da Igreja, capacitando-os para
cooperar uns com os outros, promovendo a união e crescendo em maturidade espiritual a cada dia
(4.1-16). A maravilhosa unidade da Igreja, sob o governo amoroso e supremo de Cristo, prenuncia
a universal unificação de “convergir em Cristo tudo quanto existe” (1.10). A nova vida, repleta de pu-
reza, humildade, altruísmo e poder espiritual, entra em flagrante contraste com a velha e moribunda
maneira de vaguear sem Cristo pela vida (4.17 – 6.9). Os realmente “fortes no Senhor” conquistam
a plena vitória sobre Satanás e suas hostes por meio do poder da oração e da consagração pessoal
(6.10-20).
1 O vocábulo grego original, aqui traduzido por “santos”, não se refere a pessoas que não erram ou não pecam, mas a pecado-
res salvos pela misericórdia e graça de Deus, que também manifestam fé sincera (por isso fiéis) em Jesus Cristo.
2 Paulo nos garante que os cristãos, na união com o Cristo exaltado (ressurreto e entronizado à destra do Pai), já passaram a
ser beneficiários de todas as bênçãos que Deus destinou ao céu e aos seus habitantes. A expressão “regiões celestiais” aparece
cinco vezes nessa carta de Paulo à Igreja em Éfeso (um dos principais centros urbanos do Império Romano na Ásia). Esta
expressão só é encontrada em Efésios (1.3; 20; 2.6; 3.10 e 6.12), sendo que nos dois últimos versículos têm a ver com o âmbito
das operações demoníacas. Para os cristãos, entretanto, indica um determinado lugar no mundo espiritual que, após a morte e
ressurreição do crente com Cristo, lhes proporcionará o mais agradável e permanente acolhimento (Cl 3.1,2). A expressão “em
Cristo” é o termo chave de toda a carta, na qual ocorre mais de dez vezes. Refere-se à vida espiritual entre Cristo e os crentes,
que Paulo costuma simbolizar por meio da metáfora “corpo de Cristo” (v.23; 2.6; 4.4,12,16; 5.23,30).
3 A eleição divina é um conceito teológico sempre presente nas cartas paulinas (Rm 8.29-33; 9.6-26; 11.5,7,28; 16.13; Cl 3.12;
1Ts 1.4; 2Ts 2.13; Tt 1.1). Deus nos escolheu por meio de sua determinação soberana, na qual Ele nos deu Sua graça salvadora
sem considerar quaisquer possíveis méritos e deméritos nas pessoas escolhidas (Jo 6.37; 17.6).
4 A expressão original grega transliterada echaritõsen significa literalmente “manifestar Sua graça”. No NT, só aparece aqui
e em Lc 1.28. Uma vez ligados ao “Amado” (Cristo, o Deus-Filho), somos abençoados com todo o tipo de riquezas espirituais
provenientes do amor de Deus. Muitas vezes, contudo, não dispomos nossa vontade (fé) no sentido de percebemos os tesouros
divinos e, por isso, vivemos na periferia do Reino de Deus. Salvos, porém, vivendo como incrédulos (1Pe 1.13-25).
5 Paulo usa um exemplo bem dramático e conhecido dos efésios. A redenção era uma prática jurídica greco-romana por
meio da qual alguns escravos ganhavam a liberdade mediante o pagamento de certo valor como resgate. Semelhantemente, o
resgate necessário para libertação dos pecadores da pena de morte pela desobediência à Palavra de Deus, e sua conseqüente
sucessão de pecados (Gn 3; Gl 3.13), era o improvável e alto custo do derramamento do sangue de um humano sem pecado.
A única alternativa de Deus foi enviar-se à Terra, na pessoa humana de Seu Filho, Jesus, que – sem pecado algum – entregou
sua vida em sacrifício eterno pela redenção de todos quantos crêem no poder remidor do Seu sangue na cruz do Calvário (2.13;
1Pe 1.18,19).
6 A expressão original grega, aqui traduzida por “convergir”, transmite a idéia de absoluta e inquestionável liderança, mas
também a idéia de “somar uma coluna de valores”. Ou seja, a reconstituição geral do universo está em pleno curso, com Cristo
à cabeça de todo o processo e que alcançará seu auge e estabelecimento eterno quando toda a oposição for colocada debaixo
dos Seus pés, por ocasião do Seu iminente e glorioso retorno (v.22; Hb 2.8; Rm 8.18-21).
7 O Espírito Santo não é somente o “sinal de entrada”, pago de forma adiantada, e que confirma a legitimidade de propriedade
por parte daquele que nos comprou e, portanto, selou (marcou), mas representa a própria garantia da qualidade de vida que
teremos plenamente no céu e que podemos experimentar durante nossa caminhada cristã na Terra (4.30; 2Co 1.22; 5.5; Fp 1.6).
8 No final da história da humanidade como a conhecemos, o Filho do Homem, o Cristo, reinará soberanamente sobre todos os
elementos do universo (Sl 8.5,6; Hb 2.6-9; 10.13). A igreja é a plenitude de Cristo, especialmente no sentido de que Aquele que
preenche todas as coisas também a satisfaz perfeitamente.
Capítulo 2
1 Paulo começa essa carta comentando sobre os grandes planos do Senhor, que culminam na supremacia absoluta de Cristo
(1.10). Agora, passa a explicar as principais etapas dos propósitos de Deus para o universo, a partir da salvação do ser humano.
A morte espiritual tem vários sentidos, por exemplo, em Adão (Rm 5.12); em nossos delitos e pecados (Cl 2.13), que podem
levar à segunda e derradeira morte (Ap 20.6,14); com Cristo, quando Ele morreu (Gl 2.20; Rm 6.8; Cl 2.20); na simbologia do
batismo (Rm 6.4; 2.12); durante a contínua caminhada cristã (Rm 6.11; Cl 3.5). O fim da existência é a razão porque dependemos
completamente de Jesus, o único que pode nos dar uma nova vida e a vitória sobre a morte.
2 Satanás é um ser criado, mas não possui qualquer característica humana. É um ser angelical, rebelado contra Deus e toda
a criação divina. Desde a queda de Adão (Gn 3), tem domínio sobre a terra e a sociedade mundial. É o príncipe do mal, em cuja
pessoa não existe a menor possibilidade de bem; general ardiloso e sanguinário, comanda imenso exército de anjos caídos, que
muitas vezes se fazem passar por espíritos iluminados ou anjos de luz, a fim de levarem a efeito os planos diabólicos do seu líder.
A matéria-prima usada pelo Diabo e seus seguidores é sempre um amálgama envolvendo dinheiro (poder econômico), prestígio
(poder político e cultura promíscuos), e as religiões (falsos mestres e teologias). Contudo, já foi derrotado por Cristo na cruz do
Calvário, tem conhecimento da destruição do seu reino e da sua condenação eterna, e não tem qualquer poder para resistir ao
Espírito Santo. Paulo usa o “ar” como metáfora para significar toda a massa atmosférica que circunda a Terra, bem como para
referir-se ao ambiente (sistema mundial) que acompanha cada novo século (Jo 12.31; 14.30; Jó 1.6; Ez 28.15; Is 14.12-15).
ainda mortos em nossos pecados, por- Circuncisão, feita no corpo por mãos
tanto: pela graça sois salvos! humanas;
6 Deus nos ressuscitou com Cristo, e com 12 estáveis naquela época sem Cristo,
Ele nos entronizou nos lugares celestiais separados da comunidade de Israel,
em Cristo Jesus, estranhos às alianças da Promessa, sem
7 para revelar nas eras vindouras a supre- esperança e sem Deus no mundo.
ma riqueza da sua graça, por intermédio 13 Todavia, agora, em Cristo Jesus, vós que
da sua bondade para conosco em Cristo antes estáveis distantes, fostes aproxima-
Jesus. dos mediante o sangue de Cristo.6
8 Porquanto, pela graça sois salvos, por 14 Porquanto, Ele é a nossa paz. De am-
meio da fé, e isto não vem de vós, é dom bos os povos fez um só e, derrubando o
de Deus;3 muro de separação, em seu próprio cor-
9 não vem por intermédio das obras, a po desfez toda a inimizade, ou seja,7
fim de que ninguém venha a se orgulhar 15 anulou a Lei dos mandamentos ex-
por esse motivo.4 pressa em ordenanças, para em si mes-
10 Pois somos criação de Deus, realizada mo criar dos dois um novo ser humano,
em Cristo Jesus para vivermos em boas realizando assim a paz,8
obras, as quais Deus preparou no passado 16 e reconciliar com Deus os dois em um
para que nós as praticássemos hoje.5 só Corpo, pelo ato na cruz, por intermé-
dio do qual Ele destruiu toda a irrecon-
A nova humanidade em Cristo ciliabilidade.
11 Portanto, lembrai-vos de que, anterior- 17 E vindo Ele, proclamou a paz para vós
mente, éreis gentios por natureza, chama- que estáveis longe e, da mesma forma,
dos Incircuncisão pelos que se chamam para os que estavam perto;
3 Definitivamente, nenhum sentimento ou esforço da parte de qualquer ser humano tem valor ou capacidade para influir em
sua salvação pessoal. A salvação é simplesmente uma dádiva (dom) de Deus. A expressão grega original “salvos” traduz vários
significados; incluindo, servos salvos (livres) da ira de Deus contra toda a impiedade e seus seguidores (pecadores). O tempo
do verbo revela uma ação já concluída, cujo efeito presente é enfatizado (v.5). A única forma de acesso à justificação divina e,
portanto, ao perdão de Deus e à salvação eterna da alma, é a sincera fé em Jesus Cristo (Rm 3.21-31).
4 Nenhuma pessoa humana pode merecer a salvação mediante bom comportamento ou a “observância da Lei”. Essa forma
legalista de compreender a salvação, ou mesmo o processo de santificação (separação das garras ideológicas do sistema
mundial para uma vida de acordo com a direção do Espírito Santo), é sistematicamente condenada nas Escrituras (Rm 3.20,28).
Portanto, ninguém pode se orgulhar da salvação como se houvesse conquistado uma medalha de honra ao mérito ou sido
aprovado em um exame.
5 O ser humano somente é capaz de realizar “boas obras” de acordo com a perspectiva de Deus e real valor celestial depois de
ser transformado em “nova criação” (a expressão grega original tem o sentido de “uma nova obra de arte”), por meio do Espírito
Santo de Cristo (2Co 5.17; Gl 5.22-25). As Escrituras conferem toda a glória a Deus por haver planejado o ser humano e seu
desenvolvimento santo em sociedade.
6 Depois de haver explicado o maravilhoso plano da salvação dos indivíduos, Paulo passa a argumentar sobre um outro
aspecto fundamental da salvação: a união de todos os povos, raças e culturas diante do único Deus. A partir do sacrifício vicário
do Deus-Filho, o Messias; judeus e não-judeus (gentios), antes hostis uns com os outros e separados de Deus, agora, em todo o
mundo e por toda a história da humanidade, estão reconciliados entre si e com o Senhor, mediante o Cordeiro, Jesus (vv.11-16).
Deus, portanto, uniu esses povos num só Corpo, princípio este detalhado por Paulo nos vv.19-22 e no cap.3. A distinção entre
judeus e gentios, completamente cancelada em Cristo, tornou obsoletos os termos “Circuncisão” e “Incircuncisão” que, ao longo
do tempo e da tradição, haviam assumido a função de títulos e nomes para distinguir (e fazer separação) entre judeus e todos
os demais povos da terra. Apesar de muitos ainda não viverem sob a liberdade dessa nova ordem em Cristo, a separação só é
possível no coração dos incrédulos (Cl 3.11).
7 Paulo usa, como ilustração à sua explanação, a barreira que havia na corte dos gentios no templo em Jerusalém, e que servia
para separar os judeus (puros) dos gentios (impuros). Arqueólogos descobriram, em meados dos séc. XX, fragmentos de pedra
com inscrições proibindo, sob pena de morte, a entrada de gentios nas áreas destinadas aos judeus no templo.
8 O padrão moral exigido na Lei do AT não se altera pela vinda e obra de Cristo. O que é cancelado é o efeito das ordenanças
específicas, e que serviam para separar os judeus dos gentios que não guardassem as leis judaicas, e, por isso, os gentios não
convertidos ao judaísmo eram considerados ritualmente impuros. O “novo ser humano”, criado em Cristo, é a Igreja, que é o Corpo
de Cristo (4.13), a “nova criação” de Gl 6.15. Esta unidade de fé só é possível mediante o ministério do Espírito Santo (vv.18,22).
18 pois por meio dele tanto nós como 5 Esse mistério não foi dado a conhecer
vós temos pleno acesso ao Pai por um às pessoas de outras gerações, mas ago-
só Espírito! ra foi revelado pelo Espírito aos santos
19 Portanto, não sois mais estrangeiros, apóstolos e profetas de Deus,
nem imigrantes; pelo contrário, sois 6 significando que, por intermédio do
concidadãos dos santos e membros da Evangelho, os não-judeus são igual-
família de Deus, mente herdeiros com Israel, membros
20 edificados sobre o fundamento dos do mesmo Corpo e co-participantes da
apóstolos e dos profetas, sendo o próprio Promessa em Cristo Jesus.
Cristo Jesus a principal pedra angular 7 Fui nomeado ministro desse Evange-
desse alicerce.9 lho, segundo o dom da graça de Deus,
21 Nele, o edifício inteiro, bem ajustado, que me foi outorgada conforme a atua-
cresce para ser um templo santo no ção do seu poder.
Senhor,10 8 Embora eu seja o menor dos menores
22 no qual também vós, juntos, sois edifi- de todos os santos, foi-me concedida a
cados para morada de Deus no Espírito. graça de proclamar aos gentios as inson-
dáveis riquezas de Cristo,
Um judeu, apóstolo dos gentios 9 e revelar a todos qual é a dispensação
9 Paulo continua a usar uma linguagem metafórica para comunicar o conceito teológico de uma estrutura sólida e integrada.
Os primeiros apóstolos e profetas realizaram uma obra fundamental ao proclamar e ensinar com toda a dedicação a Palavra de
Deus (1Co 3.10,11). Toda a estrutura, no entanto, depende de Cristo, a rocha de fundamento (alicerce), pedra angular, como em
Is 28.16, que usa a mesma terminologia em sua tradução grega dos antigos manuscritos hebraicos (a Septuaginta), como uma
designação messiânica (Mt 21.42).
10 O supremo Arquiteto projetou, e Ele mesmo é a base do templo que constrói, no qual os gentios (não-judeus) fazem parte in-
tegral do edifício, não como anexos ou simples dependências (como na tradição judaica no passado). A ilustração de um edifício
em construção comunica perfeitamente o sentido do crescimento dinâmico da Igreja e seu propósito (4.16).
Capítulo 3
1 Devemos lembrar que Paulo escreveu originalmente cartas, sem as nossas tradicionais divisões em capítulos e versículos;
aqui, faz alusão a todo o seu arrazoado anterior. Assim, devemos considerar que, por tudo o que Deus tem realizado, Paulo
compreende que é prisioneiro de Cristo e jamais dos homens. Segundo vários historiadores e biblistas, Paulo estava sob prisão
domiciliar na época em que escreveu essa carta (At 28.16,30), e isto, por causa da sua insistência em obedecer às orientações
de Cristo, apesar das oposições judaicas e romanas. Curiosamente, após esse versículo, Paulo interrompe sua primeira linha de
raciocínio para explicar “o mistério de Cristo” (v.4), mas retoma o pensamento inicial no v.14.
2 O mistério é descrito e explicado no v.6, e pode ser assim resumido: “Cristo em vós (não-judeus ou gentios) a esperança da
glória” (Cl 1.27).
3 Aprouve a Deus demonstrar seu poder e sabedoria por meio do milagre de unir num único organismo: a Igreja, judeus e
gentios convertidos a Cristo. Essa capacidade da Igreja de Cristo de unir todos os povos, raças e culturas, revela a multiforme
sabedoria do Senhor, como as diversas facetas do mais belo e puro diamante. Paulo afirma que tanto os anjos fiéis ao Senhor
quanto as hostes subjugadas pelo Diabo contemplam a vida da Igreja (1.21; 4.1; 6.12; Jó 1.11). A supremacia de Cristo, reve-
lada por meio da união da sua Igreja, é uma antevisão do plano eterno de Deus: absoluto domínio de Cristo sobre o universo
(v.11; Mt 28.18).
13Portanto, rogo-vos que não vos desa- Jesus, por todas as gerações, por toda a
nimeis por causa das minhas tribulações eternidade. Amém!
em vosso benefício, pois nisso está a
vossa glória. A unidade da Igreja
4 A palavra “família” e “paternidade” derivam do vocábulo grego original paterr (pai). Deus é nosso Pai e o arquétipo de toda a
paternidade, a fonte de todos os povos e a divisão familiar na criação.
5 Assim como nosso corpo natural retira força e energia dos alimentos físicos, nosso ser interior, semelhantemente, deve ser
alimentado e fortalecido pelo Espírito de Cristo (v.17) que vive (habita) no íntimo de todo crente (Jo 15.5; 1Co 12.8-28).
Capítulo 4
1 Paulo ensinou como Deus resgatou judeus e não-judeus (gentios) para um novo e maravilhoso relacionamento com Ele, e
como sua Igreja (união de todos os cristãos da terra num único Corpo). Agora, o apóstolo passa a mostrar como os crentes em
Cristo devem se desenvolver e amadurecer na fé. Somos chamados a viver de tal modo exemplar que o mundo não possa negar
que somos filhos de Deus e cidadãos do céu. As qualidades do v.2 são imprescindíveis (Fl 2.1-4).
2 Os cristãos têm a máxima responsabilidade de evitar que a unidade da Igreja, produzida por Deus mediante o sacrifício
expiatório de Cristo, seja de alguma forma perturbada ou difamada (2.14-22).
3 A esperança tem diversos aspectos, mas não deixa de ser uma só, basicamente vinculada ao futuro triunfante e glorioso de
Cristo e sua Igreja (1.5,10; 2.7). Paulo não se refere exatamente ao batismo no Espírito (1Co 12.13), que é sempre um milagre
interior e, portanto, invisível. Considerando que Paulo está ensinando sobre o novo símbolo de iniciação consciente à verdadeira
fé em Deus (abolindo a circuncisão e qualquer outro), o qual identifica todos os crentes como irmãos; naturalmente, está também
fazendo referência ao mandamento eclesiástico, segundo o qual todo novo convertido deveria participar publicamente. Na época
de Paulo, essa cerimônia e testemunho públicos representavam, mais do que hoje, uma marca evidente de novo nascimento e
discipulado em Cristo. Um dos motivos era que tal manifestação pública, certamente, implicaria em perseguições de todo tipo
e grande risco de vida.
4 O AT fala do reinado triunfante de Deus no templo de Jerusalém, uma figura do trono do Senhor nos céus (Sl 68.18). Paulo
amplia esse conceito ao falar da ascensão de Jesus Cristo ao céu. A expressão em hebraico “receber” ou “trazer” era interpretada
pelos antigos rabinos em seu sentido espiritual: “dar e receber” ou “trazer e levar”, como uma pista de duas mãos (Gn 15.9; 18.5;
27.13; Êx 25.2; 1Rs 17.10,11).
10 Aquele que desceu é o mesmo que nhor insisto, para que não mais viveis
semelhantemente subiu muito além de como os gentios, que vivem na inutilida-
todos os céus, para preencher tudo o que de dos seus pensamentos.6
existe. 18 Eles estão com o entendimento mer-
11 Assim, Ele designou alguns para gulhado nas trevas e separados da vida
apóstolos, outros para profetas, outros de Deus por causa da ignorância em que
para evangelistas e outros para pastores vivem, devido ao embrutecimento do
e mestres, seu coração.
12 com o propósito de aperfeiçoar os san- 19 Havendo perdido toda a sensibilidade,
tos para a obra do ministério, para que o eles se entregaram a um estilo de vida
Corpo de Cristo seja edificado, depravado, cometendo com avidez toda
13 até que todos alcancemos a unidade a espécie de impureza.
da fé e do conhecimento do Filho de 20 Entretanto, não foi isso que vós apren-
Deus, e cheguemos à maturidade, atin- destes de Cristo!
gindo a medida da estatura da plenitude 21 Se é que de fato o ouvistes e nele fostes
de Cristo. discipulados, conforme a verdade que
14 O objetivo é que não sejamos mais está em Jesus.7
como crianças, levados de um lado para 22 Quanto à antiga maneira de viver,
o outro pelas ondas teológicas, nem jo- fostes instruídos a vos despirdes do velho
gados para cá e para lá por todo vento de homem, que se corrompe por desejos
doutrina e pela malícia de certas pessoas enganosos,
que induzem os incautos ao erro.5 23 a serdes renovados no vosso modo de
15 Longe disso, seguindo a verdade em raciocinar e
amor, cresçamos em tudo naquele que é 24 a vos revestirdes do novo homem,
a cabeça, Cristo. criado para ser semelhante a Deus em
16 Dele todo corpo, ajustado e unido pelo justiça e em santidade provenientes da
auxílio de todas as juntas, cresce e edi- Verdade.8
fica-se a si mesmo em amor, na medida 25 Portanto, cada um de vós deve aban-
em que cada parte realiza a sua função. donar a mentira e falar a verdade ao seu
próximo, pois todos somos membros de
Como devem agir os crentes um mesmo Corpo.
17Sendo assim, eu vos afirmo, e no Se- 26 “Estremecei de ira, mas não pequeis”,
5 O surgimento de falsos mestres não é apenas um fenômeno atual, nem exclusivo ao final dos tempos; Paulo e mesmo Jesus
já lutavam contra pregadores de má índole, que não eram inocentes mal-orientados, mas pessoas perversas, egoístas, avarentas
e fraudulentas; cujo objetivo maior era afastar os crentes imaturos do Caminho do Senhor por meio de sofismas e heresias bem
engendradas (deduções falsas e mentirosas a partir de algumas bases reais e verdadeiras). Paulo usa uma figura de linguagem
da área náutica para comparar o comportamento confuso e inseguro e de certos cristãos instáveis como pequenas embarcações
em meio ao mar revolto (1Tm 4.1,2).
6 Os seres humanos foram criados por Deus para exercer ao máximo e livremente sua capacidade intelectual. Entretanto,
quando o uso da inteligência e da criatividade é realizado longe do amor e da direção do Espírito de Deus, torna-se inócuo,
frustrante e, muitas vezes, perigoso (Rm 1.21; Ec 1.2). Paulo acaba de considerar a unidade e a maturidade v.13, (literalmente
no original grego “homem maduro”), como objetivos gêmeos e simultâneos para o ministério do Corpo de Cristo: a Igreja, a
qual Deus gerou pela morte e ressurreição de Cristo. Agora, o apóstolo do Senhor, passa a demonstrar que a pureza também é
essencial entre os que pertencem a Deus (4.17 – 5.20).
7 Paulo se refere a Cristo (que é a tradução grega do título hebraico “Messias”), por seu nome humano, Jesus, personificando
“a verdade” na vida terrena e no exemplo de Jesus Cristo. Ele incorpora “a verdade” (Jo 14.6), deu testemunho da “verdade” (Jo
18.37) e é a fonte de toda a certeza e de todos os benefícios do Evangelho.
8 As palavras “despirdes” e “revestirdes” lembram a forma do batismo primitivo. Os velhos trajes (figuradamente imundos)
do batizando eram abandonados para se vestir novos trajes brancos (como a santidade). Os tempos verbais, no original grego,
indicam que se referem a atos definitivos; ao passo que o “serdes renovados” comunica a idéia de um processo diário e
permanente. Somente pela renovação contínua promovida no coração do crente pelo Espírito Santo, é possível viver a vida cristã
de uma maneira vitoriosa e gloriosa, apesar das fraquezas naturais e das tribulações (Cl 3.8-12).
9 O ser humano não é desprovido de suas emoções naturais quando se torna um cristão convicto e fiel. Todavia, há uma
bênção poderosa reservada para os crentes que confiam na direção do Espírito Santo e submetem aos seus cuidados todos
os sentimentos e vontades. O pecado em geral se deve aos nossos maus desejos, regados à vaidade, egoísmo, avareza e
arrogância, muito mais do que às tentações promovidas diretamente pelo Diabo e seus demônios. No entanto, é evidente que
Satanás se vale das nossas fraquezas e da falta de sabedoria em agir sob a iluminação do Espírito, e nunca apenas de acordo
com nossos próprios sentimentos (Tg 1.14). A ira (com suas filhas: amargura e vingança) tem sido, ao longo da história, uma das
principais fraquezas humanas catalisadas pelas forças diabólicas. Por isso, Paulo exorta os cristãos a terem cuidado com a raiva
e o furor, os quais devem ter sua expressão purificada pelo Espírito antes de provocarem mais destruição, pois nossa tendência
natural é sempre pagar em dobro pelo mal que nos causaram. Portanto, os crentes são advertidos a exercerem a humildade e
a paciência (como demonstrações de fé na perfeita ação de Deus) e a não deixarem que sua indignação ultrapasse o período
máximo de um dia (Sl 4.4; Mt 5.22).
10 O cristão é uma criação de Deus absolutamente nova e diferente do ser humano natural. Por isso, ao crente não basta
abandonar as práticas imorais e irracionais do “velho homem”, mas cooperar de todas as formas (palavras e atitudes práticas)
para a transformação desse sistema mundial decaído e fadado a destruição. Quem roubava ou extorquia, agora, como cristão,
deve deixar-se levar pelo Espírito à prática de boas obras. Aquele que usa a palavra para expressar rancor e impropriedades,
não apenas cessa com esse mau costume, mas passa a conhecer o poder da palavra e usá-la de forma assertiva, construtiva e
abençoadora (Rm 12.5; Cl 3.9).
11 O verbo grego original aqui usado demonstra que o Espírito Santo é uma pessoa, não meramente uma energia, sentimen-
to ou influência, porquanto somente uma pessoa pode ser “entristecida”. São nossas palavras e atitudes (v.29,31) que podem
alegrar ou entristecer o Espírito de Deus que vive em nós, por causa de Cristo, como garantia eterna (selo) de que somos
novas criações e já estamos separados para habitarmos o novo mundo que se iniciará com o iminente e glorioso retorno do
Senhor (Ap 21.1-4).
Capítulo 5
1 Paulo nos orienta a imitar a Deus por meio de um espírito perdoador e agir como Seu Filho Jesus agiu nas diversas situações
da vida (4.32; Sl 103.8-13). O amor sacrificial de Cristo pode ser notado não somente na grandiosa obra da Salvação (cap.2), mas
também como exemplo de como devemos exercer o amor fraternal. Na Torá (basicamente os primeiros cinco livros do AT), a frase
“aroma suave”, referindo-se à oferta do sacrifício a Deus, aparece mais de 40 vezes, enfatizando o quanto esse ato de profunda
devoção e entrega era agradável ao Senhor (Gn 8.21; Êx 29.18,25,41; Lv 1.9,13,17). A mesma atitude que Deus teve em relação
à salvação da humanidade (Rm 8.32).
2 A expressão grega “filhos da desobediência”, mantida aqui em sua forma original, como aparece na Septuaginta (a tradução
grega do AT), é um hebraísmo, e significa: “pessoas que propositalmente se colocam contra e permanentemente rebeldes ao
apelo do Evangelho” (2.2; Cl 3.6).
3 Embora os cristãos não possam se alienar do sistema mundial vigente, e precisem conviver nos diversos relacionamentos
sociais normais com seus próximos, como também acontecia com Jesus Cristo (Lc 5.30-32; 15.1,2), não devem partilhar do
mesmo estilo de vida pecaminoso dos incrédulos. A pessoa que persiste na cobiça (sexual e de todos os outros tipos) exclui a
ação do Espírito de Deus de sua vida; em conseqüência, Deus a exclui da participação em seu Reino (1Co 6.9,11).
4 O fruto da luz é oposto às obras das trevas (Gl 5.22,23). Cristo é a Luz (Jo 1.9; 3.19; 8.12). Fazer a sua vontade é, portanto,
não apenas caminhar na luz (1Jo 1.7; 2.10), mas refletir a Luz para as áreas mais escuras da alma e da sociedade humanas
(Mt 5.14).
5 Paulo cita uma estrofe de um conhecido hino cristão do primeiro século, baseado em Is 60.1, que apela aos incrédulos para
que não deixem passar a grande oportunidade de aceitar o Evangelho, isto é, o Messias e Salvador Jesus Cristo (Cl 4.5).
6 Assim como a embriaguez domina uma pessoa e altera sua razão e atitudes, o Espírito transforma o comportamento do
crente. O álcool, as drogas e todos os vícios, conduzem seus escravos para as trevas infernais, ao passo que o Espírito Santo
garante, ao seu servo, vida eterna e todos os benefícios do Reino de Deus. O tempo presente do verbo grego no original é usado
para mostrar, que a plenitude do Espírito Santo não é uma experiência. Repetidas vezes, conforme requeira cada ocasião, o
Espírito revestirá o coração do crente para o testemunho, a evangelização, a adoração, a contribuição e o serviço cristão em geral
(Cl 3.15; 4.1 de acordo com Ef 5.18 – 6.9).
7 O cristão que aprendeu a andar diariamente na plenitude do Espírito Santo não tem porque viver se queixando ou amar-
gurado, mesmo em meio às mais difíceis provações. Esse comportamento vitorioso, grato e otimista não tem a ver com forças
do pensamento positivo, mas com a correta compreensão da pessoa de Deus-Pai, do seu amor inalterável e de que todos
os seus propósitos são bons e contribuem para nossa verdadeira felicidade hoje e, mais ainda, na eternidade (Rm 8.28; 1Ts
5.18; Hb 12.3-11).
8 Nos capítulos 2 a 4, Paulo demonstrou como Deus pode unir judeus e gentios cristãos num novo relacionamento com Sua
Pessoa por meio de Jesus Cristo. Em 4.1-6, ressaltou a importância da unidade. Agora revela como os crentes, plenos do Espírito
Santo, podem conviver satisfatoriamente nos vários relacionamentos humanos. Essas orientações práticas quanto às responsa-
bilidades mútuas dos cristãos fiéis é semelhante às que são ministradas em Cl 3.18 – 4.1 e em 1Pe 2.13 – 3.12, de acordo com
Rm 13.1-10. A chave para todos os relacionamentos humanos é a humildade (mútua submissão dos crentes), virtude que só é
plenamente possível por meio do revestimento (pleno controle) do Espírito de Deus.
23 porque o marido é o cabeça da esposa, 31 “Por este motivo, o homem deixará pai
assim como Cristo é o cabeça da Igreja, e mãe e se unirá à sua esposa, e os dois se
que é o seu Corpo, do qual Ele é o Sal- tornarão uma só carne.”
vador. 32 Este é um mistério grandioso; refiro-
24 Assim como a igreja está sujeita a Cris- me, contudo, à união entre Cristo e sua
to, de igual modo as esposas estejam em Igreja.13
tudo sujeitas a seus próprios maridos.9 33 Portanto, cada um de vós amai a sua
25 Maridos, cada um de vós amai a vossa esposa como a si mesmo, e a esposa trate
esposa, assim como Cristo amou a sua o marido com todo o respeito.
Igreja e sacrificou-se por ela,10
26 a fim de santificá-la, tendo-a purifi- Caminhando como pais e filhos
cado com o lavar da água por meio da
Palavra,11
27 e para apresentá-la a si mesmo como
6 Filhos, obedecei a vossos pais no Se-
nhor, porquanto isto é justo.
2 “Honra a teu pai e tua mãe”; este é o
Igreja gloriosa, sem mancha nem ruga primeiro mandamento com promessa,
ou qualquer outra imperfeição, mas san- 3 para que vivas bem e tenhas vida longa
ta e inculpável. sobre a terra.1
28 Sendo assim, o marido deve amar sua 4 E vós, pais, não provoqueis a ira dos
esposa como ama o seu próprio corpo. vossos filhos, mas educai-os de acordo
Quem ama sua esposa, ama a si mesmo! com a disciplina e o conselho do Se-
29 Pois ninguém jamais odiou o próprio nhor.2
corpo, antes o alimenta e dele cuida, as-
sim como Cristo zela pela Igreja,12 Caminhando como servos
30 pois somos membros do seu Corpo. 5 Quanto a vós outros, escravos, obede-
9 Paulo aplica o conceito da total submissão dos crentes a Cristo, e da mútua submissão dos cristãos (plenitude do Espírito),
ao matrimônio. Sujeitar-se ou submeter-se implicava em abrir mão dos direitos. O termo podia ter o sentido de “obediência”,
como na disciplina militar, porém a palavra “obedecer” não aparece em nenhuma parte das Escrituras em relação às esposas,
embora seja usada no tocante aos filhos (6.1), e aos escravos e servos (6.5). A expressão “porquanto sois submissas ao
Senhor” difere da maioria das antigas versões, por deixar mais claro ao leitor o sentido original da frase, que um homem não
pode ocupar o lugar de Deus na vida da esposa. Mas, pelo contrário, que a esposa deve respeitar com carinho a seu marido
como um ato de fé e dedicação ao Senhor. A analogia entre o relacionamento de Cristo com a Igreja e do marido com a esposa
é fundamental para compreensão integral desse princípio bíblico. Cristo fez por merecer seu relacionamento especial com a
Igreja (2.16; 4.4,12,16; 1Co 11.3).
10 Paulo enfatiza que, especialmente no relacionamento conjugal, a submissão não deve ser apenas uma atitude unilateral,
mas um relacionamento recíproco entre duas pessoas que amam a Deus e desejam agradá-lo (oferecendo a Deus o sacrifício de
uma vida santa). A entrega pessoal de Jesus, por nossa salvação eterna, ilustra de forma dramática a maneira pela qual o marido
cristão deve dedicar-se carinhosamente ao bem-estar de sua esposa. Entregar-se à morte a favor da amada é uma manifestação
mais sublime de devoção do que a exigida da esposa. Que mulher não seria submissa a um homem capaz de entregar sua
própria vida para vê-la feliz?
11 O Senhor Jesus Cristo morreu e ressuscitou, não apenas para nos dar o perdão eterno de que tanto carecíamos, mas para
levar sua Igreja a viver uma vida de plena santidade e purificação, como sua “noiva”. Uma análise dos conceitos da lavagem, por
meio da água e da Palavra devem considerar os seguintes textos bíblicos: Jo 3.5; 15.3; Tt 1.18; 1Pe 1.23; 3.21.
12 A base dessas afirmações e da doutrina desses versículos é a citação de Gn 2.24. Se o marido e sua mulher se tornam “uma
só pessoa”, logo, quando o homem ama a esposa, ama aquela que se tornou parte integrante do seu próprio corpo.
13 O mistério da união do homem com a sua mulher é um eco humano da realidade espiritual mais sublime, que há na união
de Cristo com os Seus num só Corpo: a Igreja (Rm 11.25).
Capítulo 6
1 No AT, quando esse mandamento, a “promessa” tem a ver com a ocupação da “terra”, ou seja, de toda a Palestina (Êx 20.12;
Dt 5.16), desde que Israel se arrependesse de seus pecados e se mantivesse fiel a Yahweh (o nome de Deus em hebraico).
Paulo, evidentemente, não está se referindo a esse aspecto particular, mas a uma aplicação geral dos resultados da obediência
ao mesmo princípio bíblico.
2 Os pais representam o cuidado de Deus para com seus filhos, especialmente quanto aos menores de idade. Quando cristãos,
têm a responsabilidade divina de educá-los na Palavra de Deus, zelar por seu progresso moral, ético e social. Os filhos têm a
obrigação de obedecer e respeitar a seus pais, como ao Senhor. Os pais devem evitar submeter seus filhos a qualquer tipo de
constrangimento, maus tratos ou injustiça.
cei a vossos senhores terrenos com todo Deus, para poderdes ficar firmes contra
o respeito e temor, com sinceridade de as ciladas do Diabo;
coração, como a Cristo, 12 Porquanto, nossa luta não é contra seres
6 não servindo à vista, como para humanos, e sim contra principados e po-
agradar a homens, mas como servos de testades, contra os dominadores deste sis-
Cristo, fazendo de coração, a vontade tema mundial em trevas, contra as forças
de Deus,3 espirituais do mal nas regiões celestiais.6
7 servindo de boa vontade como se ser- 13 Por esse motivo, vesti toda a armadura
vissem ao Senhor e não aos homens. de Deus, a fim de que possais resistir
8 Certos de que cada um, seja escravo, firmemente no dia mau e, havendo bata-
seja livre, receberá do Senhor a recom- lhado até o final, permanecereis inabalá-
pensa por todo o bem que fizer. veis, sem retroceder.7
9 E vós, senhores, de igual modo proce- 14 Estai, portanto, firmes, trazendo em
dei para com vossos servos. Abandonai volta da cintura a verdade e vestindo a
as ameaças, pois tendes conhecimento couraça da justiça,
que o mesmo Senhor deles é vosso Se- 15 calçando os vossos pés com a proteção
nhor também, que está no céu e não faz do Evangelho da paz;
diferença entre pessoas.4 16 embraçando sempre o escudo da fé,
com o qual podereis apagar todas as setas
Caminhando com a Armadura inflamadas do Maligno.
10 Concluindo, fortalecei-vos no Senhor 17 Usai igualmente o capacete da salvação
e na força do seu poder!5 e a espada do Espírito, que é a Palavra de
11 Revesti-vos de toda a armadura de Deus.8
3 O escravo ou servo, bem como o funcionário, nos dias de hoje, não deve ter a mesma atitude dos incrédulos em relação
ao trabalho. Para os crentes, realizar um trabalho é antes de tudo um culto a Deus e não apenas uma mera obrigação humana.
Portanto, deve ser executado com todo o amor e honestidade, como uma oferta sacrificada ao Senhor. Os incrédulos é que fazem
apenas o mínimo necessário, e mesmo assim, quando estão debaixo dos olhos de seus patrões e supervisores (Cl 3.22). Tanto
o AT quanto o NT incluem normas para algumas situações sociais criadas pelo próprio homem, usando de sua plena liberdade
e da “dureza do seu coração”, mas não do agrado nem da vontade de Deus. Os reis e governos, a escravidão e o divórcio, por
exemplo, jamais foram projetos de Deus para a humanidade. Os princípios bíblicos não estimulam nem defendem essas práticas
sociais, mas Deus os determinou para que os crentes pudessem lidar com essas realidades e evitassem males ainda piores (1Sm
8.5-7; Dt 24.1-4; Mt 19.8).
4 Paulo torna a enfatizar a necessidade de o cristão sincero sempre agir em homenagem ao seu Salvador, Jesus Cristo, exerci-
tando a mutualidade e a reciprocidade cristã (5.21 – 6.4; Tt 2.9).
5 Paulo confere à sua carta uma abrangência cósmica. Desde o início, vem chamando a atenção dos leitores para o mundo invi-
sível, e agora retrata a batalha espiritual travada contra o mal “nas regiões celestiais”. A expressão original grega endunamousthe,
que significa “sede fortalecidos”, aparece na Septuaginta (a tradução grega do AT), usada por Gideão (Jz 6.34). Paulo afirma que
só teremos vitória sobre os nossos inimigos (e Satanás é o maior deles, seguido da nossa própria carne), se nos “fortalecermos”
diariamente no Espírito de Deus.
6 Não estamos em guerra simplesmente contra outras pessoas humanas, mas contra as forças demoníacas organizadas numa
hierarquia que domina a humanidade e o sistema mundial: economia, política, religião e cultura de todas as sociedades (Rm 8.19
– 23,38). O príncipe destes poderes é Satanás que detém o controle de todas as camadas sociais na rebelião mundial contra a
autoridade do único e verdadeiro Deus (2Co 4.4; Jo 12.3). Somente o supremo poder de Cristo, que venceu todas essas forças
na cruz, pode nos dar a vitória plena e eterna (Cl 2.15).
7 A figura de linguagem, usada no grego original por Paulo, expressa a idéia da resistência e avanço individual de cada soldado
contra um ataque inimigo, não se refere a uma invasão em massa do domínio do mal. Paulo descreve, simbolicamente, a roupa
de guerra do próprio Senhor Jesus, o Messias (Is 11.5), e revela que é o caráter, e não a força bruta ou mesmo a inteligência,
que vence a maior das batalhas. Nesse sentido, é o caráter do guerreiro sua principal defesa também. O próprio Deus é descrito
simbolicamente, vestindo a couraça da justiça ao apresentar-se na fronteira de guerra, revelando o poder da verdade (Is 59.17).
O “dia mau” se refere ao dia em que seremos atacados fortemente pelas dúvidas ou pela tentação de negarmos a fé no Senhor.
Esses ataques se tornarão ainda piores durante o “tempo da apostasia”, sob o domínio do “homem da iniqüidade” (2Ts 2.3-5;
Mt 24.9-13; Ap 13.7-17).
8 Para vencer “A Guerra dos Séculos”, o cristão sincero precisa de uma estratégia defensiva e ofensiva. Primeiramente, assumir
uma posição de defesa, armando-se da verdade (4.15), justiça e santidade (Rm 6.13; Hb 12.14), fé absoluta nas promessas do
Senhor, e certeza pessoal da salvação (1Ts 5.8; Hb 6.11). Em seguida, investir contra os inimigos da nossa alma, empunhando a
espada do Senhor, que é a Palavra de Deus (Hb 4.12), e com a oração, que abre nossa boca para revelar ao mundo o poder do
testemunho e da pregação do Evangelho (vv 19,20).
9 Tíquico era um crente e ministro fiel, amigo e representante de Paulo em vários projetos missionários pelo mundo da época
(Cl 4.7; 2Tm 4.12; Tt 3.12).
10 Paulo termina essa epístola sem as costumeiras saudações individuais, o que denota o caráter de “missiva circular” para
todos os cristãos (v.1). A expressão grega, aqui traduzida por “com amor sincero e incorruptível” tem o sentido original de “amor
que não se deteriora com o passar do tempo”. O amor espiritual é eterno, não diminui por nada, nem tampouco murcha ao longo
dos anos, mas permanece viçoso, puro e fiel.