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Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Especialização em Metodologias Ativas para a Educação


Atividade Avaliativa de Aprendizagem em rede
Discente: Giulia Carolina Lage Amaral
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Escuta Formativa: uma experiência

Esta é uma produção de plano de aula que tem como propósito exercitar a escuta ativa como
processo integrante da jornada de aprendizagem. Baseada nos conceitos do Projeto Zero, da
escola de educação de Harvard, que desenvolveu estratégias denominadas Rotinas de
Pensamento, esse plano se baseia no desenvolvimento de uma cultura de pensamento, em
que os estudantes, ativos no processo, trazem suas percepções e conhecimentos prévios para
a construção colaborativa de uma carta de reclamação.

Público-alvo

Estudantes de Redação do 8º ano do ensino fundamental.

Objetivos

● Exercitar a escuta ativa nas relações professor-estudante, estudante-professor e


estudante-estudante;
● Desenvolver o olhar sensível dos estudantes acerca do ambiente escolar;
● Incentivar a reflexão a respeito dos aspectos do ambiente escolar que geram
desconforto nos estudantes;
● Identificar os conhecimentos prévios dos estudantes acerca do gênero textual carta de
reclamação;
● Elaborar coletivamente uma carta de reclamação, requisitando ao diretor da escola a
melhoria de um espaço escolar.

Espaço Escolar
A proposta de escuta ativa deste plano foi realizada a partir de uma caminhada ao modo da
escola peripatética de Aristóteles, ao longo de todo um tempo de aula de 50 minutos. Desse
modo, professora e estudantes percorreram, juntos, todo o espaço físico da escola, fazendo
apontamentos em voz alta, de forma colaborativa.

Desenvolvimento

1ª aula - introdução e escuta ativa

Para dar início ao estudo do gênero Carta de Reclamação, foi elaborado um plano de aulas
baseado, sobretudo, na experiência. Inspirada no primeiro capítulo da série Merlí, em que o
professor que dá nome à série promove, com seus estudantes, uma caminhada peripatética,
aos moldes da escola Aristotélica, foi feita com os estudantes uma caminhada pelos espaços
da escola, para que pudessem trazer, para o contexto deles, uma vivência relacionada ao
gênero textual em estudo. O objetivo da caminhada era observar o espaço da escola, ouvir os
colegas e debater sobre o que poderia ser melhorado e resolvido para trazer mais conforto ao
ambiente escolar.

Ao longo da caminhada, os estudantes observaram atentamente o espaço escolar, utilizando,


para isso, todos os 5 sentidos: visão, audição, tato, olfato, paladar. À medida que se
deparavam com situações que os desagradavam no ambiente escolar, elaboravam a crítica em
voz alta para o grupo, e dali surgia um debate. Passamos pela interdição do bosque, pelas
teias de aranha nas luzes do ginásio, pelo sabor e pelo preço dos lanches da cantina.

Após esse momento, foi feita uma discussão em sala de aula, dividida em dois momentos: no
primeiro, eles compartilharam as sensações e pensamentos que o passeio pela escola
despertou em cada um deles; em seguida, definiram em conjunto qual seria nossa prioridade
ao construir uma carta de reclamação para a diretoria da escola. Os alunos definiram o ponto a
ser apresentado na carta seria a interdição do bosque.

2ª, 3ª e 4ª aulas - mergulho no gênero carta de reclamação

Após algumas aulas sobre o gênero textual carta de reclamação, os estudantes foram
convidados a redigir uma carta colaborativa, que seria entregue, verdadeiramente, ao diretor da
escola. Após escrevermos e revisarmos, juntos, o conteúdo da carta, uma aluna fez a
transcrição manuscrita e entregou a reclamação ao diretor. O fim do projeto se deu com uma
visita do diretor à turma, trazendo a eles uma resposta sobre a requisição.

Rede de Conhecimentos

Nenhum estudante é uma página em branco. E essa crença, ainda tão difundida no meio
educacional, traz consequências profundas para os níveis de participação e aprendizagem dos
estudantes que frequentam as escolas de educação básica do país. Quando não são ouvidos,
quando não têm oportunidade de trazer à tona seus pensamentos, tornando-os visíveis, os
estudantes tendem a se tornar cada vez mais apáticos na jornada de aprendizagem,
retornando à prática transmissiva da educação, sabidamente pouco efetiva no alcance de uma
aprendizagem significativa e duradoura.

Ao elaborar todo um plano de aula baseado na escuta ativa, envolvendo todas as relações
estabelecidas em uma sala de aula - professor-estudante, estudante-professor,
estudante-estudante - foi possível elaborar uma teia de pensamentos, memórias e
conhecimentos que contribuíram - e muito - para a construção dos saberes relacionados ao
gênero textual proposto.

Esse plano foi elaborado também a partir das condições de escrita sobre as quais fala João
Wanderley Geraldi, em sua obra Portos de Passagem. Não é possível que a aprendizagem de
produção de texto seja, de fato, significativa, sem que o estudante escreva sobre algo que
realmente desperte seu interesse em escrever. Essa condição para a escrita pôde ser muito
bem desenvolvida a partir do processo de escuta ativa, uma vez que escutar o outro,
compartilhar experiências, trazer à tona discussões relevantes, faz com que se desperte esse
desejo por expressar ideias.

Ao fim dessa vivência, pode-se afirmar que essa foi, de fato, uma experiência educativa. Por
meio da observação ativa, do espaço de compartilhamento de ideias e de concepções prévias
sobre o ambiente escolar, e sobretudo da aplicação real do conhecimento adquirido,
conseguimos alcançar os quatro elementos do Ciclo da Aprendizagem de Rhonda Bondie,
professora e pesquisadora do Projeto Zero, da Escola de Educação de Harvard. Os estudantes
sentiram-se autônomos, competentes, pertencentes e atuantes em uma situação que, de fato,
os incomodava.

A educação é sobre isso: é sobre criar um senso de inconformismo e, a partir dele, escolher as
melhores estratégias de atuação e ir em busca de respostas. É essa a verdadeira experiência
de aprendizagem: aquela que desperta sentimentos, sensações, pensamentos e, sobretudo,
ações.

ANEXO 1 - AUTOAVALIAÇÃO

Quando fui contratada como professora pela primeira vez em uma escola regular, no ano de
2016, a coordenadora me disse que queria “sangue novo”. Muito além do critério idade, esse
“sangue novo” ao qual ela se referia relacionava-se intensamente às práticas ativas de
aprendizagem. Desde então, tornou-se meu maior propósito proporcionar aos meus estudantes
verdadeiras experiências de aprendizagem, motivo pelo qual sempre procurei estudar e
desenvolver planos de aula que fossem efetivos e engajantes para esse fim.

No projeto descrito neste trabalho, eu havia acabado de começar o curso de especialização em


Metodologias Ativas para a Educação. Conteúdos aprendidos nas disciplinas de Storytelling,
Design Thinking e Documentação Pedagógica foram essenciais para que a construção desse
plano fosse possível. A partir dos conhecimentos adquiridos no curso, fui capaz de desenvolver
um olhar curioso e aguçado para os estímulos ao meu redor e, a partir disso, desenvolver
projetos realmente interessantes para os estudantes.

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