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Uma ideia presente no texto do autor refere-se a dupla consciência, mas para
aprofundar essa questão é feito uma costura dentro do contexto histórico do surgimento
de hemisfério ocidental no imaginário do sistema mundo moderno/ colonial, a partir do
entendimento de Thomas Jefferson nos EUA e Simon Bolivar na América de
ascendência ibérica. O segundo pensava a união das Américas e sua integração no
Hemisfério Ocidental, enquanto o primeiro pensava em sua nação como líder desse
movimento de união e consequentemente num movimento do que viria se tornar
colonialismo interno. Ainda dentro desse contexto havia a consciência criolla branca
(anglo-saxã ou ibérica) que podia se integrar nesse chamado hemisfério ocidental por
serem herdeiros dos colonizadores enquanto a consciência criolla negra não se
percebida de tal forma por serem herdeiros da escravidão. O que seria então a dupla
consciência? Deste lado dos nativos brancos é uma negação da Europa sem negar uma
europeidade, ou seja, formação de uma ideia dentro do imaginário moderno/colonial de
integração baseada nas relações de poder e subjetividade da diferença colonial. Disso
não se tratava uma questão racial, mas para os nativos brancos uma questão puramente
geopolítica. A integração da América ao Ocidente ou pelo menos do coletivo dentro da
consciência criolla branca fez com que estes não notarem essa dupla consciência, mas
para a consciência criolla negra isso era impossível (não perceber a dupla consciência).
Nesse sentido percebe-se que o conceito de “hemisfério ocidental” torna-se ambíguo. A
América é diferente, mas ao mesmo tempo é a mesmidade. É outro hemisfério, mas é
ocidental. É diferente da Europa, pois não é Oriente, mas está totalmente ligada a ela. É
diferente, no entanto, da África e da Ásia, continentes e culturas que não formam parte
da definição de hemisfério ocidental. Percebe-se aí a ambiguidade, pois a integração
parecia ser o caminho natural para a consciência criolla branca, embora não para a
criolla negra.
A guerra eclodiu pelo poder sobre o canal do Panamá e os mares ao redor com a
tentativa de dominação de países da Europa Ocidental. Isso serviu para reavivar a
urgência do surgimento do “hemisfério ocidental”. Nessa urgência surgiram ideias a
partir da Argentina, no que ficou conhecido como Doutrina Drago, devido ao
idealizador, Luis Maria Drago, Ministro das Relações Exteriores Argentino. Esta
Doutrina na verdade viria a ser uma versão da Doutrina Monroe que apareceu nos EUA
como solução para os conflitos, porém nos EUA a Doutrina Monroe se tratava mais de
uma política nacional e de certa forma unilateral. Já a Doutrina Drago buscava se tornar
multilateral, democrática e interamericana sendo válida para todo o hemisfério
ocidental. O que acabou ocorrendo foi uma força maior e a implementação da Doutrina
Monroe, o que reconfigurou o sistema mundo/moderno colonial e o imaginário
moderno/colonial com a ascensão de um país neocolonial ou pós-colonial (os EUA), o
que fez aumentar as diferenças percebidas no imaginário entre a América Anglo-saxã e
a América Latina. Segundo Mignolo, esse movimento é conhecido na literatura como
Ode a Roosevelt.