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Georges Didi-Huberman
Etienne Samain
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CEVI 2021 Vanda Gorjão
Boltanski, Alfredo Jaar, Philippe Bazin, Mathieu Pernot, Israel Galván, Pascal Convert, Sarkis,
Steve McQueen, James Coleman etc.
Huberman dirá: “Creio que todo o meu trabalho está guiado por uma intuição fundamental
sobre a imagem, enquanto ato e enquanto processo […] Diante da imagem devemos convocar
verbos para dizer o que as imagens fazem e o que elas nos fazem (onde elas nos tocam), e não
apenas adjetivos e nomes para acreditar ter dito o que elas são”. Deve-se acrescentar:
Huberman é um coreógrafo das imagens: pensa as imagens, questiona as imagens, deixa-se
interpelar pelas imagens. Em poucas palavras: põe sempre as imagens em movimento. Ele é,
ainda, um brilhante ensaísta que se define assim (Didi-Huberman 2010: 191-192): “Um
ensaísta é um homem simplesmente preocupado de entender o sofrimento do mundo e de
transformá-lo, de remontá-lo em uma forma explicativa, implicativa e alternativa. Ele não
constrói nenhuma verdade absoluta, não fabrica nenhuma obra de arte para a atemporalidade
da arte”. Coloca sempre o seu leitor perante um leque de movimentos, de paixões, de
questionamentos sobre a história presente de nosso mundo. Entre suas últimas publicações,
assinalo os quatro primeiros volumes (de sete anunciados) de L’Oeil de l’Histoire (O Olho da
História), uma clara referência a Georges Bataille e ao seu inquietante livro História do olho.
Um A Arqueologia do Saber Visual.
Numa entrevista dada à Marianne Alphant no Centro Pompidou em junho de 2010, Dido
Huberman afirmava “O meu sonho seria o de esboçar o que Michel Foucault fez muito bem
com os textos [As palavras e as coisas], isto é, esboçar uma arqueologia do saber visual”. O que
viria a significar tal arqueologia para Georges Didi-Huberman? O que nos indicaria? Quais os
caminhos heurísticos e metodológicos que nos sugeriria? Como procuraria nos acompanhar?
Eis alguns prováveis caminhos de suas indagações.
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Para Didi-Huberman, uma imagem nunca é única, elas são sempre plurais. Em seu processo de
trabalho e estudos, ele afirma que quando colocamos diferentes imagens – ou diferentes
objetos, como as cartas de um baralho, por exemplo – numa mesa, temos uma constante
liberdade para modificar a sua configuração: podemos fazer constelações. Podemos descobrir
novas analogias, novos trajetos de pensamento. Como Brecht, ele modifica a ordem, fazendo
com que as imagens tomem uma posição. Uma mesa não se usa nem para estabelecer uma
classificação definitiva, nem um inventário exaustivo, nem para catalogar de uma vez por
todas – como num dicionário, um arquivo ou uma enciclopédia –, mas para recolher
segmentos, traços da fragmentação do mundo, respeitar a sua multiplicidade, a sua
heterogeneidade. Como compreender e como aprender com a imagem e montagem foram
questões já expostas no século XX. Georges Didi-Huberman afirma que:
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para contar-nos a história de um país: são a razão pela qual coexistem, numa
mesma superfície – ou lâmina de atlas – diferentes formas para representar o
espaço (Didi-Huberman, 2011, p. 88).
Georges Didi-Huberman define o conceito de Atlas como uma forma de ver o mundo e de
percorrê-lo segundo pontos de vista heterogêneos, associados uns aos outros.
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Para Didi-Huberman, o ver (voir) é o caminho do saber (savoir) e pode também prever
(prevoir) os momentos históricos e políticos que vivemos. As montagens das imagens são
memórias antropológicas (Didi-Huberman, 2009). Uma relação com o passado e o presente.
Por trás da concepção de montagem, temos as problemáticas do moderno e pós-moderno,
com suas experiências de declínio e caos das guerras e crises econômicas.