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Daniel Seemann
Organizacional
Psicologia e Cultura
Psicologia e Cultura
Organizacional
Daniel Seemann
2ª Edição
Curitiba
2018
Ficha catalográfica elaborada pela Fael. Bibliotecária Cassina Souza CRB9/ 1501
FAEL
Direção Acadêmica Francisco Carlos Sardo
Coordenação Editorial Raquel Andrade Lorenz
Revisão Helena Gouveia
Projeto Gráfico Sandro Niemicz
Capa Sandro Niemicz
Imagem da Capa Shutterstock.com/violetkaipa
Arte-Final Evelyn Caroline dos Santos Betim
Sumário
Apresentação | 5
3. Cultura Organizacional | 121
Referências | 167
Apresentação
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Apresentação
* Atua como pesquisador e docente em áreas das Ciências Sociais como Geopolítica, Ambiente
Econômico Global, Homem e Sociedade, Evolução do Pensamento Administrativo e Teoria
Geral da Administração. Atualmente, é professor na Instituição de Ensino Superior da Grande
Florianópolis (IESGF) e na Faculdade de Santa Catarina (FASC).
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Psicologia nas
organizações
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Psicologia nas organizações
1 O estoicismo é uma escola da Filosofia. Embora tenha sido fundada em Atenas - na Grécia
clássica - alguns dos seus principais representantes foram romanos.
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Psicologia e Cultura Organizacional
1.1.1.3 Renascimento
Durante o Renascimento, a visão teocêntrica do mundo deu lugar ao
antropocentrismo. Desse momento em diante, muitos estudiosos passaram
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Psicologia nas organizações
O Método Cartesiano consistia basicamente em colocar
em dúvida tudo o que poderia ser contestado, impondo
o questionamento como força motriz do conhecimento
(DESCARTES, 2004 b).
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Psicologia e Cultura Organizacional
1.1.1.4 Iluminismo
Embora os estudos de Newton e Leibniz tenham sido maiores no campo das
ciências naturais e da Matemática, seus textos filosóficos causaram maior impacto
social e influenciaram um grande movimento cultural que mudou a Europa: o
Iluminismo. Os filósofos iluministas buscaram contribuir para o progresso da
humanidade nos mais diversos aspectos. Assim, o movimento iluminista abran-
geu estudos em diversas áreas. Para o desenvolvimento da humanidade, era fun-
damental o entendimento sobre a sociedade e sobre o homem. Vários foram os
pensadores que contribuíram para o entendimento do ser humano.
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Psicologia nas organizações
consciência, que, por sua vez, é a origem da razão. Além disso, nessa obra,
Kant busca explicar de que forma o homem utiliza a razão para experimentar
o universo metafísico, desenvolver ideias e acumular conhecimento.
Em A Crítica da Razão Prática, Kant descreve a influência do meio
físico – como no caso da sociedade – sobre a mente humana; elucida o meca-
nismo com o qual a mente experimenta a realidade através dos sentidos; e
de que forma a relação do homem com o meio afeta sua razão. Do mesmo
modo, para Kant, o homem utiliza a razão para interferir na realidade onde
vive, além de produzir conhecimentos de origem sensorial (KANT, 2002 a).
Na Crítica da Faculdade do Juízo, Kant busca explicar de que forma
o homem desperta e desenvolve sua capacidade de julgar; de que forma seus
julgamentos são determinados pela razão; e de que forma os julgamentos seus
e dos outros interferem em sua racionalidade posterior. Descreve ainda como
a faculdade do juízo é importante para produzir conhecimento e para a capa-
cidade de compreensão. Busca também explicitar como o homem interage
com o seu próprio juízo e o dos outros (KANT, 2002 c).
Immanuel Kant aventurou-se, ainda, no campo da Estética. Desenvolveu
estudos e escreveu textos em que buscou identificar padrões estéticos influen-
ciados ou determinados pela cultura. Foi também precursor do Idealismo –
corrente filosófica bastante influente na Psicologia –, que buscava compreender
os aspectos ideais das coisas e dos seres. Além disso, o Idealismo procurava des-
vendar a ligação da mente humana com Deus, a perfeição ideal por excelência.
Dessa ligação surgem, para Kant, os padrões estéticos ideais (KANT, 2002 d).
1.1.1.5 Idealismo
O Idealismo foi um movimento filosófico iniciado por Kant, conforme
vimos anteriormente. Mas foi além dele, pois seu pensamento irradiou em
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Psicologia e Cultura Organizacional
muitas obras escritas mesmo depois de sua morte. Entre os demais escritos
idealistas relevantes para a psicologia, as ciências sociais e a lógica organiza-
cional, destacam-se as obras de Georg W. F. Hegel.
Desenvolvedor do método dialético contemporâneo, Hegel deu uma
enorme contribuição ao uso da lógica para a investigação de objetos abstratos
– como a mente – e à formulação de teorias a partir da argumentação e contra
argumentação de ideias. Esse mecanismo orientou muitas pesquisas desenvol-
vidas por outro filósofo pós-kantiano: Hartmann (HEGEL, 2001 b).
Karl R. E. Hartmann foi influenciado, simultaneamente, pelo idealismo
e pelo pessimismo3. Empregou esforços visando a compreender a parte da
mente humana não dominada pela razão: o inconsciente. Seu livro A Filo-
sofia do Inconsciente influenciou diretamente o conceito de inconsciente
apresentado, décadas mais tarde, por Sigmund Freud. Mais que isso, comple-
tou o conjunto de teorias necessárias para início da Psicologia.
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Psicologia nas organizações
veu esse novo campo científico. Ele uniu o entendimento filosófico sobre a mente
e sobre o comportamento com suas teorias ligadas à Fisiologia. O que faltou aos
filósofos para abordar o comportamento e a mente humana da forma como é
feita na Psicologia foi a ligação direta desta com a medicina. Assim, não é por
acaso que um médico e filósofo foi o pioneiro desse ramo do conhecimento.
Wundt definiu a Psicologia como uma ciência, e a mente era seu objeto.
Analisou a consciência, conectando o que havia sido desenvolvido pela Filo-
sofia com seus estudos de fisiologia sensorial. Conforme seu entendimento, a
consciência é diretamente ligada aos sentidos. A porções da consciência mais
próximas dos sentidos são responsáveis pelas sensações; as porções mais atre-
ladas ao aspecto transcendental da mente são responsáveis pelos sentimentos
e pela razão. A sensações são classificadas conforme sua origem nos sentidos:
olfato, paladar, audição, visão, tato. Os sentimentos são elencados de acordo
com as experiências emocionais vividas. A razão, por sua vez, é classificada
conforme a capacidade de apreender e gerar conhecimento, além do conhe-
cimento previamente obtido. Esses aspectos das sensações, dos sentimentos e
da razão são variáveis em intensidade e qualidade (WUNDT, 2013).
Alguns dos principais conceitos de Wundt foram desenvolvidos no pri-
meiro laboratório de psicologia do mundo, fundado em 1879 em Leipzig,
Alemanha, onde Wundt4 se dedicou especialmente às questões da Psicologia
Experimental. Esse laboratório contava com uma notável equipe de pesqui-
sadores dotados de conhecimentos das ciências naturais, medicina e filosofia.
Alguns desses estudiosos foram responsáveis pela propagação da Psicologia fora
da alemanha, como na Áustria, na Suíça, na Inglaterra e nos Estados Unidos.
Wilhelm Wundt com seus colegas em seu laboratório de psicologia.
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Psicologia e Cultura Organizacional
O verbete Völkerpsychologie, no original em alemão, tem por tra-
dução literal “Psicologia popular”. Entretanto, “Psicologia cultural”
enquadra-se melhor ao contexto em que o Wilhelm Wundt esboça
suas teorias e ao emprego dado pela cultura organizacional.
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5 A introspecção experimental é uma técnica para o estudo da mente onde estímulos são
aplicados a um sujeito e as reações são observadas pelo pesquisador e pelo sujeito pesquisado.
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Psicologia nas organizações
Mais que isso, determina sua relevância para as ciências sociais e para a
cultura organizacional.
1.2.1.1 Mente
A mente é considerada a principal fonte das características determinan-
tes do gênero humano e se compõe pelo consciente e pelo inconsciente. Des-
ses dois hemisférios metafíscos da mente derivam suas demais áreas, como a
razão, a memória, os sentimentos e os desejos. Além disso, a mente coordena
outra questão fundamental da Psicologia: o comportamento.
Atribui-se também à mente outra capacidade humana: a intuição. Os
estudos sobre a intuição ainda não produziram muitos dados científicos
satisfatórios, entretanto, ela desperta atenção no universo da administração
relacionado aos negócios. A Psicologia aplicada à cultura organizacional e
à Administração ainda busca entender como algumas pessoas desenvolvem
o que é popularmente conhecido como “faro empresarial” e a ligação desse
fenômeno com o sucesso de grandes organizações.
1.2.1.2 Comportamento
É um dos aspectos principais no estudo da Psicologia. Define-se por com-
portamento o conjunto de ações realizadas por um indivíduo. Desde as teorias
apresentadas pela Filosofia Clássica, o comportamento era dividido em cons-
ciente e inconsciente. Estes, como vimos anteriormente, correspondem respec-
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Psicologia e Cultura Organizacional
1.2.1.3 Psique
Na filosofia helênica, o termo psique denominava a alma dos homens, a
junção de espírito e mente. Modernamente, foi o nome dado pelo fundador da
Psicanálise, Sigmund Freud, para o principal objeto de estudo da sua ciência.
Nesse sentido, mais contemporâneo, o termo psique representa a soma do ego,
do superego e do id, sendo que, para Freud, deve ser agregado ao conceito de
psique o resultado da interação entre os seus fragmentos (FREUD, 2005 b).
1.2.1.4 Consciência
Conforme visto anteriormente, a consciência é considerada pela Filo-
sofia e pela Psicologia uma parte da mente humana. Ela é responsável por
ações mentais como a razão, a memória ativa e os sentidos, e determina
ainda as ações submetidas à vontade – chamadas de comportamento cons-
ciente. Juntamente com o inconsciente, compõe o que os filósofos e psicó-
logos chamam de mente. Por exemplo, a memória ativa de um indivíduo,
que é utilizada para exercer suas funções de trabalho, é parte da consciência
(FREUD, 2005 c; KANT, 2002 b).
1.2.1.5 Inconsciente
É a parte da mente responsável pelos reflexos, pelos instintos, pela memó-
ria passiva e pela intuição. Como é uma parte da mente, influencia no com-
portamento, porém, apenas nas questões comportamentais que não estão
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Psicologia nas organizações
1.2.1.6 Subconsciente
Foi um termo produzido pela escola francesa da Psicologia para deno-
minar a parte da mente antagônica da consciência. Pode ser interpretado de
maneira geral como um sinônimo de inconsciente, mas vale ressaltar que
o paralelismo entre esses vocábulos é corrente no senso comum. No meio
acadêmico, inconsciente é o verbete preferido, por estar ligado às definições
de mente desde as abordagens filosóficas (FREUD, 2005 a).
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1.2.1.8 Sensação
Para a psicofísica, sensação é uma reação da mente para os estímulos
que ela recebe dos sentidos. Pode-se também aplicar o termo sensação para
estímulos promovidos pela intuição. Entretanto, essa utilização do termo
não é plenamente aceita na Psicologia. As áreas da Psicologia mais ligadas à
medicina e às ciências naturais, como a neuropsicologia e a psicofísica, por
exemplo, utilizam o termo apenas para reações aos estímulos sensoriais.
1.2.1.9 Emoção
É um fenômeno da mente ligado ao inconsciente. Embora, por vezes, a
consciência possa desencadear ou manipular processos emocionais, o estado
emocional dificilmente é controlado pela razão. Para as organizações, o estudo
da emoção é relevante, por exemplo, no entendimento da satisfação ou insatis-
fação dos colaboradores com sua profissão, e dos fatores que geram alegria ou
tristeza no ambiente de trabalho. Na estrutura de uma empresa, é interessante
que existam dispositivos que promovam o equilíbrio emocional das pessoas.
1.2.1.10 Sentidos
Os sentidos são mecanismos através dos quais os animais recebem
os estímulos do mundo à sua volta. Os sentidos proporcionam aos seres
humanos, por terem um sistema nervoso muito desenvolvido, experiências
que não podem ser vividas por outros animais. Os filósofos da antiguidade
já concordavam com a existência de cinco sentidos: audição, visão, olfato,
paladar e tato. À junção dos sentidos com o sistema nervoso dá-se o nome de
sistema sensorial. Por meio do sistema sensorial, experimentamos o ambiente
onde estamos inseridos.
Dentro de uma estrutura organizacional, a preocupação com os sentidos
está ligada às questões do ambiente de trabalho, por exemplo. A iluminação de
uma sala de reuniões, o ruído das máquinas no pátio de produção ou o odor
de produtos químicos em ambientes de pesquisa são fatores que influenciam
no humor e na disposição dos trabalhadores (CHIAVENATO, 2011).
1.2.1.11 Psicopatologia
É o termo utilizado para denominar o estudo dos distúrbios patológicos
da mente. Esses distúrbios são também chamados psicopatológicos.
Eles envolvem um grande número de fatores da mente e se exteriorizam
através do comportamento. Os distúrbios psicopatológicos relacionados ao
comportamento social receberam atenção especial na Psicologia cultural de
Wundt, porque, como essa corrente se dedicou mais à compreensão dos
aspectos sociais, políticos e culturais da mente, os distúrbios que afetam o
comportamento nessas esferas foram mais relevantes para o desenvolvimento
de suas teorias. Desse modo, o avanço da psicopatologia também trouxe
benefícios às organizações, já que proporcionou soluções para problemas de
relacionamento e de clima organizacional.
1.2.1.12 Neurose
Designa os transtornos mentais que promovem anomalias leves e
moderadas no comportamento humano. Entre as neuroses mais comuns estão
a ansiedade, as várias formas de fobias, compulsões, obsessões e a depressão.
A depressão e a ansiedade manifestam-se nos ambientes organizacionais
principalmente a partir das expectativas de progresso na carreira profissional
e nas possibilidades de frustração dessas expectativas.
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1.2.1.14 Psicoterapia
É o nome dado ao tratamento dispensado aos pacientes portadores
de anomalias patológicas da mente e do comportamento. Esse tratamento
foi desenvolvido com recursos dos conceitos introduzidos pela psicologia e
pelos avanços da Psiquiatria. A psicoterapia mostrou-se eficaz no combate
a psicopatologias simples, como as fobias leves e complexas, as fobias
agudas, a neurose e a esquizofrenia. Avançou paralelamente à Psicologia e à
Psiquiatria e aos equipamentos desenvolvidos pela física médica.
Os primeiros tratamentos psicoterápicos incluíram a psicoterapia química,
com o uso de entorpecentes como a cocaína, e a psicoterapia física, com o uso,
por exemplo, da eletroestimulação cerebral. A psicoterapia contemporânea inclui
diálogos investigativos acerca de traumas, indução psicoanalítica ou uso de medi-
camentos menos danosos à consciência e ao inconsciente. As psicoterapias mais
comuns nas organizações são as dinâmicas coletivas e as terapias de grupo.
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Conforme a Lei de Weber-Fechner, sensações transmitidas
pelos sentidos variam paralelamente conforme sua intensidade.
Ou seja, quanto mais intensos forem os estímulos, maior será
a necessidade de variação para que uma diferença seja perce-
bida. Por exemplo: quando recebemos um estímulo com um
pequeno alfinete em nosso braço, sentimos uma dor leve e
sabemos que um pequeno objeto pontiagudo toca nossa pele
em uma região específica. Por outro lado, quando uma grande
pedra cai sobre nosso braço, esmagando-o, sentimos uma dor
muito intensa e não conseguimos perceber o formato do objeto
nem a exata área onde esse objeto iniciou o contato. Foi no
círculo acadêmico de Leipzig que Wundt conheceu essa teoria,
que serviu como base para alguns de seus estudos e conclusões.
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1.2.2.4 Estruturalismo
A vertente estruturalista foi criada e introduzida na Psicologia por Edward
Bradford Titchener. Os conhecimentos apresentados por Edward Titchener
tinham influência direta das pesquisas desenvolvidas no Laboratório Wundt,
onde Titchener trabalhou por vários anos. Os estudos da Psicologia Cultural,
especialmente, deram enorme contributo às pesquisas ligadas ao Estruturalismo.
Entretanto, no Estruturalismo, a lógica de compreensão não partia da
mente humana rumo às estruturas sociais e culturais, como na Psicologia
Cultural, mas tinham uma abordagem inversa, partindo da influência das
estruturas na mente e no comportamento do indivíduo. Nessa lógica, não é a
mente nem o comportamento dos homens que determina os padrões de uma
estrutura. São as estruturas que impõem às mentes padrões de comportamento.
1.2.2.5 Psicometria
É um ramo da Psicologia responsável pela pesquisa e aplicação de técni-
cas de mensuração das capacidades mentais. Foi criado pelo filósofo, médico
e psicólogo alemão Hermann Ebbinghaus, que iniciou esse campo com o
estudo das faculdades da memória e da capacidade de memorização.
Os estudos psicométricos não foram realizados apenas em seres humanos.
Foram observados também outros animais, como cães e macacos. A partir disso,
Ebbinghaus empreendeu análises comparativas entre o homem e esses animais
utilizando os recursos desenvolvidos pela psicologia comparada de Wilhelm
Wundt. Posteriormente, avançou para a compreensão das diferenças entre os
seres humanos com distúrbios mentais e os sadios, considerando também os
diferentes níveis de capacidade mental entre eles. Ebbinghaus interessou-se,
ainda, pela relação da consciência e do subconsciente com os sentidos. Pesqui-
sou questões relativas às capacidades dos sentidos de pessoas sadias e de pessoas
com distúrbios, além de outros pontos, como as ilusões sensoriais.
Outro expoente da psicometria, como vimos anteriormente, é o ameri-
cano James McKeen Cattell. Ele foi aluno de Wilhelm Wundt e, no labora-
tório de psicologia de Leipzig, também desenvolveu estudos de psicometria.
Nos Estados Unidos, sua maior contribuição foi relativa ao estudo da inteli-
gência e dos mecanismos de medição das capacidades mentais, como os testes
de aferição de quociente intelectual (FREUD, 2005).
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1.2.2.6 Funcionalismo
O funcionalismo não é uma vertente da Psicologia propriamente dita,
mas um modo de estudar e observar a sociedade e seus fenômenos, partindo
da função de cada componente ou agente social nas estruturas onde está
inserido. Cada sociedade, com sua cultura e seus componentes, reúne-se em
torno de uma cadeia de funções.
Conforme as teorias funcionalistas, os indivíduos vivem em sociedade
porque a atuação coletiva permite superar os desafios da sobrevivência com
maior facilidade. Por outro lado, para pertencer a uma sociedade de maneira
plena, é preciso desempenhar uma função. As funções existentes em uma
sociedade, o modo de desempenhar as tarefas de cada função, as interações
entre as funções e seus níveis de importância variam de uma cultura para
outra. Assim, as características de uma função, assim como a sociedade, são
culturalmente determinadas (ABBAGNANO, 1999).
Percebe-se a presença do funcionalismo em diversos ramos das ciências
sociais. Na Antropologia, o funcionalismo opera nas investigações acerca dos
aspectos culturais presentes na existência e no exercício de uma função. Na
Sociologia, o funcionalismo investiga as funções das instituições, que intera-
gem dentro de um mecanismo orgânico. Na Administração, o funcionalismo
se manifesta no estudo da cultura organizacional, com intuito de desenvolver
estruturas eficientes, onde cada componente exerça sua atividade como etapa
importante de uma ação mais abrangente.
1.2.2.7 Gestalt
A Gestalt é um ramo da Psicologia dedicado ao estudo de formas, conjun-
tos e conjunturas. As formas de que se ocupa a Gestalt são metafísicas, entre-
tanto, ela utiliza noções físicas de forma como paralelo para explicar suas teorias.
De acordo com essa escola, o entendimento de uma conjuntura ou
conjunto não depende apenas da averiguação isolada das partes, porque
essa interação resulta em fenômenos novos, que não existiriam caso esses
componentes agissem separadamente.
Assim, de acordo com a Gestalt, para entender a mente de uma pes-
soa, não basta pesquisar separadamente seu consciente e seu inconsciente,
pois a mente é a soma do consciente com o inconsciente e tudo o que
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1.2.2.8 Psicanálise
A psicanálise foi o ramo da psicologia desenvolvido por Sigmund Freud.
Este, entretanto, não a considerava uma área da Psicologia, mas um novo campo
do conhecimento. A Psicanálise buscava entender os distúrbios psicopatológicos
que causavam debilidade funcional (como as neuroses) ou que eram
incapacitantes (como a psicose6). O tratamento desses distúrbios por meio da
Psicanálise é chamado de terapia psicanalítica. Desse modo, o termo Psicanálise
refere-se ao campo teórico e de investigação cientifica (FREUD, 2005 b).
As principais contribuições da Psicanálise referem-se, especialmente, aos pro-
blemas de comportamento relacionados às disparidades entre consciente e incons-
ciente. A psicanálise propôs uma nova composição para a mente humana, inserindo
os conceitos de id, ego e superego. A resultante desses três fatores é chamada psique.
O id é responsável pelos desejos e impulsos instintivos simples (como a
6 A psicose é um estado psicopatológico no qual se verifica a redução aguda das percepções da
realidade, podendo acarretar em delírios e alucinações. (FREUD, 2005 b)
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Dentro dos princípios da abordagem psicoanalítica, uma pessoa
que tem atitudes antiéticas e imorais (ou até mesmo perversas)
para ascender na hierarquia de uma organização possui um id
preponderante e um superego suprimido. Isso debilita sua capa-
cidade de realizar uma autocrítica da imoralidade ou da perversi-
dade de sua conduta (FREUD, 2005 c).
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o racional e o emotivo.
A formação da psique, para Jung, também possui origem em três esferas de
influência: a biológica, a psicológica e a ambiental. Nesse contexto, a esfera bio-
lógica é composta pelas informações genéticas do indivíduo; a psicológica, pelo
histórico dos eventos e experiências vividas individualmente; e a ambiental, pela
sociedade e pela cultura onde o indivíduo está inserido. Nesse sentido, há tam-
bém um resgate de alguns conceitos da Psicologia de Wundt (FREUD, 2005 a).
1.2.2.10 Comportamentalismo
O Comportamentalismo buscou colocar o comportamento como o
ponto central dos estudos e pesquisas na Psicologia, deixando a mente em um
plano de menor importância. O pioneiro da psicologia comportamentalista
foi o ameriacano John Broadus Watson. Embora ele ainda reconheça que a
mente seja determinante no comportamento, o comportamento é, segundo
Watson, a manifestação prática dos impulsos mais importantes da mente, ou
seja, o comportamento é como uma espécie de janela para observar a mente
(ABBAGNANO, 1999).
Nessa abordagem, o comportamento é derivado de estímulos do
ambiente em paralelo com a satisfação das necessidades. O ser humano possui
um conjunto de necessidades, e os ambientes, uma capacidade de supri-las.
Desse dualismo entre as necessidades do homem e as condições do ambiente,
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1.2.2.11 Neuropsicologia
É um campo da Psicologia dedicado ao estudo das atividades e reações
cerebrais ligadas ao comportamento humano. É importante ressaltar que,
como estuda a ligação do cérebro com o comportamento, sua abordagem é
fortemente fisiológica. Pode-se dizer que, das áreas da Psicologia, é a menos
ligada às ciências sociais e à filosofia e a mais próxima da medicina.
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7 A comparação entre a religião e o ópio já havia sido feita por outros pensadores,
como Immanuel Kant, Heinrich Heine, e Ludwig Feuerbach, entre outros. Porém,
por estes autores a comparação é positiva, onde a religião é um alívio para o sofrimen-
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Psicologia nas organizações
Nesse conceito, o capitalismo se desenvolveria de modo a
estender a dominação das elites sobre todas as camadas trabalha-
doras do mundo, o que provocaria um levante dos trabalhado-
res contra as elites em escala global. Esse fenômeno incidiria em
uma fase pré-comunista, chamada de ditadura do proletariado.
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O raciocínio determinista sobre a cultura defende que os
hábitos de um povo podem ser explicados apenas por meio
do conhecimento de suas origens, regionais, sem a neces-
sidade de correlacioná-los com outros aspectos culturais.
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A capacidade de motivar, segundo Maslow, está ligada
ao tipo de necessidade apresentada pela pessoa que se
busca influenciar. Para interferir na mente e no comporta-
mento de um operário que está com problemas relativos
às suas necessidades fisiológicas, é preciso proporcio-
nar para ele meios de satisfazer essas necessidades. Um
exemplo disso seriam os auxílios sociais, ou até mesmo
uma melhoria salarial, equilibrada entre sua capacidade
produtiva e sua demanda pessoal. Já um indivíduo que
apresenta necessidades sociais pode estar nessa condi-
ção por ser submetido ao isolamento durante a jornada
de trabalho. A solução para o seu problema estaria ligada
à integração dessa pessoa a algum grupo na estrutura da
organização. Por fim, um funcionário que apresente pro-
blemas ligados à necessidade de autorrealização pode-
ria receber instruções sobre as possibilidades de cres-
cimento pessoal oferecidas dentro da organização, por
exemplo, apoio para cursar uma faculdade.
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Psicologia nas organizações
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Psicologia e Cultura Organizacional
a oscilação na luminosidade.
Um dos grupos foi tomado como o de controle: trabalhava com
iluminação constante, tida como ideal para aquele ambiente. O outro
grupo era o da amostra experimental e trabalhou com condições de
iluminação oscilante.
Em contradição às expectativas iniciais, não foi encontrado um nexo
causal entre as variáveis averiguadas, ou seja: a luminosidade do ambiente
de trabalho e a produtividade dos operários. Percebeu-se, no entanto, a
ocorrência de variáveis psicológicas na produção.
Nos testes, os operários produziram menos quando a luz estava mais fraca.
Quando a iluminação estava mais forte, a produção foi elevada. Porém, as dúvidas
no experimento surgiram quando se trocou uma luminosidade relativamente
baixa por outra de igual intensidade, mas fazendo os trabalhadores acreditarem
que a iluminação estava mais forte. Nesse caso, os operários produziram mais,
apesar de as condições de luminescência permanecerem idênticas. Depois,
inverteu-se o procedimento, e a produção se manteve elevada com uma
iluminação um pouco mais fraca. Os pesquisadores constataram, desse modo,
que a produção não variava somente conforme a luminosidade real: variava
também de acordo com suposições dos trabalhadores acerca da iluminação, que
derivavam das suas questões psicológicas (MAYO, 2003).
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Psicologia nas organizações
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Psicologia nas organizações
Síntese
Desde a antiguidade, os homens buscam conhecer e entender a
mente e o comportamento. Através dos séculos, muitos questionamentos
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Organização e estrutura
organizacional
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Organização e estrutura organizacional
2.1 A Organização
A arquitetura e as estruturas organizacionais referem-se ao conceito de
organização. Para compreender a arquitetura e as estruturas organizacionais,
suas funções nas organizações e os seus papéis na produção e no intermédio
dos relacionamentos humanos que ocorrem nas empresas, precisamos entender
o conceito de organização. O que é a organização? Como se dá sua formação?
O termo organização tem sua origem no verbete grego organon, que
quer dizer utensílio, instrumento. Organon também é o nome dado a um
conjunto de obras de Aristóteles sobre os princípios funcionais da razão
para a Filosofia. Nesses textos, Aristóteles trata ainda de princípios gerais
de ordem para as ações, como o pensamento e o labor. De acordo com
Aristóteles, a Filosofia é uma forma organizada de produzir conhecimento
(ARISTÓTELES, 2004).
Em um contexto contemporâneo, organizar é o ato de estabelecer ordem
entre as coisas, de forma sistêmica. Quando se organiza algo, o objetivo é
aprimorar o seu funcionamento, de modo a prover melhores resultados. Ao
organizar um conjunto de tarefas desenvolvidas por vários indivíduos, colo-
cando-as sob a coordenação de uma estrutura e estabelecendo metas e objeti-
vos comuns, cria-se uma organização.
Estabelecer ordem no trabalho humano, criando uma organização, pos-
sibilita aos homens atingir resultados que eles não alcançariam individual-
mente. Nesse sentido:
Uma organização é uma combinação de esforços individuais que tem
por finalidade realizar propósitos coletivos. Por meio de uma organiza-
ção, torna-se possível perseguir e alcançar objetivos que seriam inatin-
gíveis para uma pessoa. Uma grande empresa ou uma pequena oficina,
um laboratório ou o corpo de bombeiros, um hospital ou uma escola
são todos exemplos de organizações, que costumam se classificar desde
microrganizações a pequenas, a médias, a grandes e até megaorganiza-
ções (MAXIMIANO, 2011, p. 38).
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Organização e estrutura organizacional
Existem casos em que as organizações que prestam servi-
ços sociais também têm objetivos econômicos. São exem-
plos disso os hospitais e universidades das redes de saúde
e ensino privadas. No entanto, os fins econômicos dessas
instituições não podem sobrepujar os sociais. Assim, elas
são consideradas, primeiramente, organizações sociais,
em detrimento das suas características econômicas.
A área de atuação de uma organização define a sua função. A
função de uma organização é o fim para o qual a organização foi
criada e que ela deve cumprir. Por exemplo: a função de uma
organização econômica voltada à produção de softwares é o
desenvolvimento de programas de computador comercializáveis.
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Psicologia e Cultura Organizacional
22 Racionalização
O estabelecimento de uma composição sistematizada das atividades
existentes na organização e dos seus procedimentos chama-se racionalização.
A racionalização é o motor dos demais processos de implementação de uma
estrutura organizacional. Desse modo, a racionalidade conduz à elaboração
da hierarquização, da especialização e da formalização. No entanto o emprego
equivocado da racionalidade sobre os demais princípios organizacionais levará
à criação de uma estrutura que inviabilizará a eficácia da organização. O uso de
métodos racionais adequados não só possibilita a eficácia da organização como
também promove sua eficiência. Saber que cargos são necessários para a execu-
ção de uma tarefa, o perfil ideal de pessoas para ocupá-los e o melhor meio de
executar uma atividade depende da racionalização (WEBER, 2001 a; 2001 b).
22 Hierarquização
Nas organizações, as atividades, os dispositivos estruturais (cargos, fun-
ções, normas) e as pessoas se relacionam por meio do princípio da hierarquiza-
ção. O ato de hierarquizar não se refere somente aos postos de comando e ao
material humano. Praticamente tudo dentro de uma organização é observado
dentro de princípios hierárquicos. Existem atividades que são indispensáveis
para a organização, sem as quais sua função não é realizada. Há atividades que
são complementares, e, embora importantes, sua ausência não impede que a
função da organização seja exercida. As atividades indispensáveis são hierar-
quicamente superiores às complementares. A existência de diferentes graus de
responsabilidade entre os cargos também impõe uma noção de autoridade que
é hierárquica. Assim, quanto mais elevada for a posição hierárquica de um
cargo, maior será a autoridade desta e maior será a responsabilidade da pessoa
que a ocupa. É por meio da hierarquia que as atividades da organização são
planejadas, visando à concretização de objetivos (WEBER, 2001 a; 2001 b).
22 Especialização
O princípio da especialização está relacionado às atividades desenvolvidas
pelos indivíduos membros da organização e à função da organização propria-
mente dita. A especialização de um trabalhador em uma tarefa facilita a eficácia
e promove a eficiência. Um indivíduo que ocupa um cargo com muitas atri-
buições necessita de muito talento em várias habilidades, ou não conseguirá
desempenhar devidamente seu papel na organização. Por isso, torna-se mais
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O material humano é fundamental para a organização. Por
isso, a Psicologia Aplicada contribui com a arquitetura orga-
nizacional, já que pode cooperar no entendimento do com-
portamento e da mente das pessoas. O bom uso dos conhe-
cimentos da Psicologia facilita a proposição de soluções
para o desenvolvimento do material humano da empresa.
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Psicologia e Cultura Organizacional
As principais contribuições da Igreja Católica para a
arquitetura organizacional nesse período são: as noções
gerais de unidade de propósitos, que eram orientadas pela
função da organização; e o alinhamento hierárquico de
grandes proporções, que possibilitava a concentração da
autoridade na tomada de decisão em um indivíduo: o papa.
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estruturas estatais são organizadas por meio de uma elaborada hierarquia. Até
mesmo as estruturas socioeconômicas apresentam uma estratificação hierar-
quizada, dividida em classes sociais (WEBER, 2004 a).
Por exemplo, podemos identificar a presença da hierarquia nas religiões e na
estrutura de poder das Igrejas. Nas religiões politeístas, há deuses com maior ou
menor poder, e seu nível de poder define sua posição na hierarquia divina. No
panteão helênico, por exemplo, Zeus é o deus mais poderoso: governa as demais
divindades olímpicas. Já no panteão nórdico, a soberania sobre as demais divinda-
des pertence a Odin. Na religião cristã, Deus é o ser supremo que governa todas
as coisas do universo (ABBAGNANO, 1999).
As árvores genealógicas também possuem divisões com estruturas hie-
rárquicas. No primeiro escalão da hierarquia, estão os antepassados vivos,
avós ou bisavós. Na segunda linha da hierarquia, encontramos os filhos dos
membros do primeiro escalão. Por fim, os descentes mais jovens dos membros
do primeiro escalão, netos e bisnetos, formam as últimas linhas hierárquicas.
O modo de pensar e agir das pessoas também é dividido hierarquica-
mente. Quando um indivíduo se depara com um problema, ele raciocina
em busca de uma solução. Nesse momento, toda a cadeia hierárquica do seu
pensamento é movida com base no ponto mais alto dessa hierarquia: a cons-
tatação do problema (WUNDT, 2013; ABBAGNANO, 1999).
Dessa forma, uma organização também deve ser estruturada por meio
de uma hierarquia, pois a hierarquização é um dos princípios da arquitetura
organizacional. Em uma estrutura hierarquizada, uma pessoa ou um con-
junto de pessoas possui a maior concentração de poder. Esse poder se estende
descendo as linhas da hierarquia e, nessa medida, é distribuído entre outras
pessoas ou grupos mais baixos, conforme a importância das suas atividades e
de suas responsabilidades no cumprimento da função da organização.
A disposição das pessoas e a descrição de suas funções ao longo das linhas
hierárquicas é chamada de organograma. A visualização de um organograma
é geralmente dada pela forma de uma pirâmide. Os cargos ao topo da pirâ-
mide são os que detêm o controle do planejamento estratégico, das tomadas
de decisões e das comunicações entre os graus mais elevados da hierarquia.
O topo da pirâmide em um organograma é também chamado de ápice e
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A figura da pirâmide em um organograma se estende até a base, com-
posta pelas pessoas que ocupam cargos de menor responsabilidade e que pos-
suem menos poder para tomar decisões. Porém, as pessoas na base da pirâ-
mide são as mais importantes nas atividades produtivas.
Entre o ápice e a base está o centro da pirâmide. No organograma de
uma grande organização, o centro da pirâmide é composto pelos departa-
mentos especializados na gerência das atividades produtivas. Os cargos des-
ses departamentos têm uma responsabilidade equilibrada, dividida entre a
tomada de decisão e a participação no processo produtivo (MAXIMIANO,
2012; CHIAVENATO, 2011).
Após sua aplicação, um organograma permite aos gestores visualizar:
22 a estrutura geral da organização;
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22 presidente e diretores;
22 gerentes de divisão;
22 gerentes de departamento;
22 supervisores de área ou função;
22 supervisores de turno.
O organograma é uma estrutura hierárquica muito importante na estru-
tura organizacional. A extensão do organograma, bem como o número de
departamentos e cargos que ele apresenta variam conforme o tamanho e a com-
plexidade da função da organização. Uma estrutura hierárquica bem montada
é fundamental para a visualização das cadeias de poder dentro da organização.
Embora uma hierarquia rigorosa facilite a fluência das ordens dos esca-
lões mais elevados pela estrutura da organização, esse sistema tem recebido
críticas. As principais críticas dirigidas às hierarquias rígidas se referem à
redução da importância das percepções das pessoas que compõem a base da
pirâmide hierárquica. As opiniões dos trabalhadores, muitas vezes, são supri-
midas na busca pela facilitação do gerenciamento.
A criação de assembleias gerais com todos os membros da organização para
discutir temas de interesse coletivo ameniza a situação. Porém, esse é um pro-
cedimento trabalhoso, que nem sempre atinge os resultados esperados. As orga-
nizações mais modernas têm procurado estabelecer cadeias hierárquicas mais
flexíveis, compatíveis com o dinamismo político presente nas suas estruturas.
Permitir aos trabalhadores o acesso às discussões
administrativas é um bom instrumento de motiva-
ção. A participação no processo decisório estreita os
vínculos psicológicos dos trabalhadores com a orga-
nização, além de contribuir para a criação de novas
lideranças e estimular as relações entre os grupos.
2.2.1 Liderança e relações entre grupos
A liderança é um fenômeno social sobre o qual foram feitos muitos estu-
dos ao longo da história. Já na Grécia clássica, houve a preocupação de enten-
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Dica de leitura
Na célebre obra A República, Platão buscou identificar um
perfil ideal de liderança política. Para Platão, um bom líder deve
ser sábio e educado pelos princípios da racionalidade filosófica.
Criou-se, assim, o conceito platônico de rei filósofo.
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22 Estilo visionário
O líder visionário busca a convergência dos planejamentos pessoais dos
membros do grupo com os da organização. Esse estilo de liderar promove
uma boa convivência entre os trabalhadores dentro da estrutura organiza-
cional. Em períodos de mudanças na organização, é um dos estilos de lide-
rança mais necessários, devido à sua abrangente percepção da conjuntura dos
ambientes interno e externo.
22 Estilo conselheiro
O líder conselheiro é aquele que se faz presente nos momentos em que
o grupo precisa de direcionamento técnico ou de um impulso motivacional.
Em uma liderança nesse estilo, os empregados buscam solucionar os dilemas
das suas atividades levando em consideração as opiniões do líder, que atua
como um mentor do grupo.
22 Estilo relacional
O líder relacional prima pela harmonia no ambiente de trabalho da
organização. Nesse estilo de liderança, há a preocupação do líder com o com-
portamento das pessoas que compõem o grupo. Nesse sentido, o líder rela-
cional atua como um mediador de conflitos entre os membros do grupo ou
de conflitos que possam surgir entre a organização e seus colaboradores. Uma
liderança relacional é eficaz para solucionar problemas sociais causados por
desgastes de relacionamento profissional.
22 Estilo pressionador
O líder pressionador é um dos mais eficazes quando existem metas difí-
ceis para serem atingidas. Entretanto, quando um grupo é liderado muito
tempo dentro desse estilo de liderança, inevitáveis desgastes profissionais e
emocionais surgem. Esses desgastes causam um efeito negativo na mente dos
trabalhadores, afetando seu comportamento e sua produtividade. Não é um
estilo de liderança que deva ser aplicado por longos períodos.
22 Estilo dirigista
No estilo dirigista, o líder acompanha de perto as principais atividades
da organização e toma boa parte das decisões. Esse estilo demanda uma ele-
vada capacidade técnica e autoconfiança do líder e é o ideal em momentos
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ções da organização com seu ambiente externo são o sistema aberto e o sis-
tema fechado.
22 Sistema aberto
O sistema aberto possibilita uma intensa relação da organização com o
seu ambiente externo. Como a quantidade de acontecimentos possíveis nos
ambientes externos de uma organização é muito grande, os sistemas aber-
tos demandam que as estruturas organizacionais sejam flexíveis para facilitar
uma interação com a enorme gama de componentes do ambientes externos.
Assim, as questões culturais, políticas, sociais e, principalmente, as econômi-
cas exercem grande influência na organização.
O monitoramento das entradas e saídas de um sistema de relaciona-
mento organizacional aberto é difícil. Por esse motivo, os gestores precisam
saber identificar as entradas e saídas mais importantes do sistema para, sobre
eles, exercer seu monitoramento. Os setores de compra de insumos, de venda
e escoamento da produção, logística e tecnologia estão entre as principais
entradas e saídas de um sistema de relacionamento da organização com seu
ambiente aberto (CHIAVENATO, 2011).
As pessoas que compõem a organização, assim como a própria função da
organização, também constituem as entradas e saídas do sistema. Isso ocorre
porque as pessoas que fazem parte da estrutura da organização também estão
em contato direto com o ambiente externo, e através delas o ambiente externo
também interage com a organização. Essa interação se dá porque todas as
pessoas estão, de algum modo, inseridas no meio cultural, político, social e
econômico. Não há como um gestor, nem mesmo uma equipe de gestores,
coordenar todas as relações possíveis entre o material humano da organização
e o ambiente externo que as envolve.
22 Sistema fechado
No sistema fechado, a intercomunicação entre a organização e o
ambiente externo é limitada. O sistema busca minimizar os efeitos do cenário
cultural, social, político e econômico sobre a organização. Isso, sem dúvida,
não é fácil. Para colocar um sistema fechado em prática, é preciso direcio-
nar as estruturas organizacionais para uma atividade conjunta de retenção
das influências oriundas do ambiente externo. Dentre os objetivos que levam
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Psicologia e Cultura Organizacional
uma organização a optar por um sistema fechado, podem ser citados a busca
pela formação de uma cultura organizacional peculiar (que atenda as especi-
ficidades da função da organização), a preservação de tecnologias produtivas
que a mantenha longe do alcance dos concorrentes, a manutenção de técnicas
administrativas estabelecidas etc.
O funcionamento de um sistema fechado depende da limitação no
número de entradas e saídas presentes no sistema de relação organizacional.
Além dessa limitação no número das entradas e saídas, é preciso haver um
rigoroso controle sobre elas. Do mesmo modo que nos sistemas abertos, as
pessoas que fazem parte da organização interagem com o ambiente externo.
Por esse motivo, os sistemas fechados tendem a ser mais eficazes em organiza-
ções pequenas e médias, em que o número de pessoas é menor. Assim, o res-
trito número de componentes do material humano dará aos gestores de uma
organização com sistema fechado maior possibilidade de monitorar a intera-
ção de seus colaboradores com o ambiente externo, muito embora o controle
total seja, como no sistema aberto, impossível (CHIAVENATO, 2011).
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Na maioria dos casos, o processo decisório conterá um misto das relações
da organização com o ambiente externo e com o ambiente interno. A socie-
dade, a cultura, a política, a economia, as estruturas formais, as estruturas infor-
mais e as percepções pessoais dos membros da organização fazem a composição
do mosaico da tomada de decisão. O processo decisório é, então, uma relação
de interação da organização com ela mesma e com o que está ao seu redor.
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engenheiro escocês James Watt. Os mecanismos criados por James Watt aperfei-
çoaram o funcionamento da máquina a vapor em relação aos modelos anteriores.
O princípio geral da máquina de James Watt era utilizar a energia térmica para
realização de trabalhos mecânicos (WEBER, 2006).
Na mineração, as máquinas a vapor de James Watt foram utilizadas para
movimentar bombas para remover água nos túneis das minas. As bombas
utilizadas anteriormente eram manuais e requeriam uma enorme força de
tração humana ou animal para serem movimentadas. O emprego da máquina
a vapor ampliou a produção nas minas de ferro e carvão inglesas e contribuiu
para a aceleração da produção de bens dependentes desses artigos.
Na indústria têxtil, a máquina a vapor foi empregada nos teares mecâ-
nicos. O tear mecânico já havia ampliado muito a produtividade das fábricas
de tecido inglesas, porém, no início de sua utilização, a movimentação dos
teares mecânicos era realizada com esforço humano. A aplicação da energia
térmica para movimentar os teares por meio das máquinas a vapor foi um
passo fundamental para o aumento da produtividade promovido pela Revo-
lução Industrial (WEBER, 2006).
Com o passar dos anos, novos modelos de máquinas foram descober-
tos e colocados à disposição das fábricas. A elevada produtividade possibili-
tou que empreendedores atingissem maior rentabilidade em seus negócios.
Como a tecnologia industrial transformava com facilidade os investimentos
em retorno econômico, os incentivos a pesquisas na área não parararam. Ao
contrário, cresceram a cada ano, junto com a capacidade produtiva das indús-
trias (WEBER, 2006).
Os sucessos obtidos pelos ingleses foram percebidos nos demais países
europeus, e as perspectivas sobre a utilização de máquinas na produção fabril
passaram a ser favoráveis, especialmente na Alemanha. Os alemães lançaram-
-se, então, na segunda fase da revolução industrial, dedicada principalmente
à metalurgia. Se no princípio da Revolução Industrial o personagem principal
foi a Ingleterra, a Alemanha assumiu o papel de líder na produtividade indus-
trial do momento seguinte (WEBER, 2006).
A indústria metalúrgica foi importante para o aumento da produtivi-
dade alemã em dois setores chave de sua economia: a indústria bélica e a
indústria de ferramentas.
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Psicologia e Cultura Organizacional
O surgimento das novas formas de conhecimento cientí-
fico possibilitou a compreensão de que a produtividade não
depende apenas das descobertas tecnológicas e do mercado
consumidor para absorver os produtos. É também importante
aproveitar melhor os recursos, diminuir as margens de erro da
atividade fabril e elevar o padrão dos artigos produzidos. Essa
percepção ocasionou o aparecimento das noções contemporâ-
neas dos conceitos de eficácia, eficiência e qualidade.
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Organização e estrutura organizacional
2.3.1.1 Eficácia
O conceito de eficácia está ligado à relação entre o objetivo pretendido e
o resultado atingido. Desse modo, alguém é eficaz quando se propõe a realizar
uma tarefa e a cumpre, observando todos os critérios do objetivo. Não se leva
em conta, para a definição da eficácia, o dispêndio de esforços ou recursos
para a obtenção do resultado pretendido. Nesse caso, o que interessa é atingir
o resultado conforme o planejado.
Se após o emprego dos esforços e dos recursos o resultado não é obtido,
considera-se que a tarefa ou ação foi ineficaz. Assim, encontramos na ineficá-
cia o contraponto da ação eficaz.
Aplicando-se o conceito de eficácia às organizações, conclui-se que
uma organização é eficaz quando cumpre a sua função. Se a função de uma
organização econômica é a produção e o comércio de veículos, a organiza-
ção é eficaz se conseguir produzir veículos que funcionem e tenham aceita-
ção mercadológica.
A aceitação dos produtos pelo mercado consumidor é impor-
tante para as organizações, porque todas elas produzem seus
artigos com a finalidade de introduzi-los no mercado consumi-
dor. Se uma indústria automobilística produzir veículos funcionais
sem aceitação no mercado, ela terá uma eficácia parcial. Produ-
zirá os veículos, mas não conseguirá vendê-los. A não comer-
cialização da produção compromete a eficácia total da orga-
nização porque a função de uma organização econômica, de
modo geral, é a produção de bens e serviços comercializáveis.
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Psicologia e Cultura Organizacional
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Organização e estrutura organizacional
2.3.1.2 Eficiência
A eficiência afere a relação entre os recursos empregados e os resultados
obtidos. Quando um indivíduo consegue realizar uma tarefa com um esforço
menor que o habitual, pode-se dizer que ele foi eficiente. Do mesmo modo,
se o esforço habitual for empregado e gerar um resultado superior ao padrão,
o indivíduo também terá atingido a eficiência.
Nicola Abbagnano (1999, p. 307) diz que a eficiência é,
Em sentido próprio, a ação da causa eficiente. Mas hoje, em todas
as línguas, esse termo é empregado com significado diferente, como
correspondência ou adequação de um instrumento à sua função ou de
uma pessoa à sua tarefa. Diz-se também de “eficiência de uma organi-
zação” para indicar a adequação de uma organização às suas funções,
e, correspondentemente, fala-se de “ineficiência”. Neste sentido os
filósofos utilizam esse termo com frequência, embora não se trate de
um termo especificamente filosófico.
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Organização e estrutura organizacional
2.3.2 Qualidade
Definir com exatidão o que é qualidade é difícil devido à subjetividade
do conceito, pois as percepções de qualidade variam de indivíduo para indi-
víduo. A cultura, os perfis psicológicos, as necessidades e as expectativas do
mercado consumidor contribuem para a definição do termo qualidade.
Em uma abordagem genérica, pode-se definir a qualidade como:
Qualquer determinação de um objeto. Como determinação qualquer,
a qualidade distingue-se da propriedade [...] que, em seu significado
específico, indica a qualidade que especifica ou individualiza o próprio
objeto, sendo portanto própria dele. A noção de qualidade é extensíssima
e dificilmente pode ser reduzida a um conceito unitário. Podemos dizer
que ela compreende uma família de conceitos que têm em comum a
função puramente formal de servir de resposta à pergunta qual? [...] O
mesmo significado de qualidade está presente no conceito de qualificação.
“Qualificar-se para” ou “ser qualificado para” significa ter a capacidade ou
a competência, ou seja, a qualidade disposicional para realizar dada tarefa
ou alcançar determinado objetivo (ABBAGNANO, 1999, p. 818 e 817).
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Psicologia e Cultura Organizacional
A definição de qualidade, do ponto de vista do mercado de
consumo, também é difícil. As expectativas de consumo dos
produtos podem ser relativas à estética, à durabilidade, ao con-
sumo de energia, ao valor agregado pela raridade etc. Por esse
motivo, é correto afirmar que o conceito de qualidade na pers-
pectiva dos consumidores é multidimensional.
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Síntese
O conceito de organização está ligado às noções de arquitetura organi-
zacional, estrutura organizacional e função. A função de uma organização é a
finalidade que ela se destina a atender. Toda organização possui uma finalidade,
que determinará a sua categoria. Dentre as categorias de organização, destacam-
-se a organização política, a organização social e a organização econômica.
Independentemente da categoria, uma organização deve zelar pelo bom fun-
cionamento de suas estruturas físicas e organizacionais. Isso, por sua vez, depende
de uma arquitetura organizacional adequada à função da organização. As estrutu-
ras propostas pela arquitetura organizacional devem prover as condições necessá-
rias para o exercício das atividades que resultam na função da organização.
O funcionamento de uma organização deve obedecer aos princípios da
racionalização, hierarquização, especialização e formalização, os quais nor-
teiam a formação das estruturas organizacionais, bem como o desempenho
das atividades da organização. O entendimento desses princípios evoluiu com
a noção de organização ao longo dos anos.
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aos estímulos do meio social ocorrem de acordo com os padrões culturais das
sociedades (WEBER, 2004 a; 2004 b).
As instituições das sociedades, sejam elas formais ou não, são determi-
nadas pelos padrões da cultura burocrática estabelecida no seu meio social.
Quanto mais avançada for a burocracia dentro de uma cultura, maior tende
a ser a formalização das estruturas sociais. Isso ocorre especialmente nas insti-
tuições políticas, como no caso do Estado.
Entretanto, esse fator também pode ser percebido nas instituições sociais
não estatais, como as famílias. No grande tronco da chamada cultura ociden-
tal, de fortíssima influência europeia, até mesmo o funcionamento das famí-
lias é previsto pela burocracia do Estado. Para dar ordem ao funcionamento
das famílias, existe uma série de dispositivos jurídicos regulamentados pelas
constituições e pelas legislações.
Ainda que muitas questões do funcionamento das famílias sejam definidas
em âmbito privado, muitos pontos são abordados pela burocracia estatal por meio
da legislação. Dessa previsão jurídica e da cultura burocrática do Estado sobre as
famílias podem ser citados como exemplos o casamento e o divórcio. Assim, a for-
mação e a alteração das famílias na cultura ocidental é burocraticamente prevista.
A mesma reflexão pode ser empregada na cultura orga-
nizacional correlacionando as família com as equipes
de trabalho. A formação ou a dissolução de uma equipe
de trabalho em uma organização amplamente burocrati-
zada precisa ocorrer dentro dos parâmetros da estrutura
formal da organização. Por outro lado, nas empresas
pouco burocratizadas, a formação ou a dissolução de
uma equipe de trabalho não precisa estar diretamente
amparada pela estrutura formal e, normalmente, ocorre
em parâmetros definidos pela estrutura informal.
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Cultura Organizacional
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Cultura Organizacional
Em uma perspectiva mais ampla, que pode ser aplicada à cultura orga-
nizacional, a cultura política pode também ser entendida como um conjunto
de valores e tendências psicológicas de membros de um agrupamento social
no que se refere às relações de poder. Dentro dessa perspectiva, a cultura polí-
tica propõe-se a observar as relações de poder por meio de três tendências: a
cognitiva, a afetiva e a valorativa.
A tendência cognitiva forma os conhecimentos e as convicções relativas
aos sistemas políticos e se liga também ao entendimento dos cargos existentes
nas estruturas das organizações políticas e às funções inerentes a esses cargos.
Outra temática abrangida por essa tendência é a função das instituições e
organizações políticas (BOBBIO, 2004 a).
A tendência afetiva compreende os sentimentos das pessoas em relação aos
sistemas políticos. Além disso, também revela as percepções afetivas dos indiví-
duos para com as organizações. Partindo desse princípio, afere o nível de con-
tentamento com as instituições políticas e suas estruturas (BOBBIO, 2004 a).
A tendência valorativa é o conjunto dos juízos de valor e opiniões dos
indivíduos acerca dos fenômenos políticos. A emissão dessas opiniões e juízos
de valor requer a articulação entre os conhecimentos, os sentimentos e as
informações dos indivíduos sobre os fenômenos políticos. Os conhecimen-
tos, os sentimentos e as informações serão, por sua vez, condicionados pela
cultura geral da sociedade (BOBBIO, 2004 a).
Compreender a cultura política requer distinguir seus diferentes aspec-
tos, que são revelados pelas três tendências apresentadas. Além da diferenciação
entre as tendências, é necessário distinguir também a cultura política das elites e
a cultura política de massas. Conforme Noberto Bobbio (2004 a, p. 307 - 308):
Outra distinção importante é a da Cultura política das elites da Cultura
política de massas. Do ponto de vista da interpretação dos aconteci-
mentos políticos, a análise da Cultura política de elites no poder e de
elites na oposição tem uma importância absolutamente desproporcio-
nada a sua força numérica. Basta pensar no papel que desempenham as
elites na definição dos temas do debate político, em conduzir nesta ou
naquela direção a opinião pública e, sobretudo, em tornar decisões de
grande importância para a estruturação do sistema como, por exemplo
na formação de coalizões e, mais ainda, nas fases de reestruturação do
sistema, quando ele se acha, por assim dizer, em estado fluido, como
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Psicologia e Cultura Organizacional
Esse mesmo pensamento proposto sobre a cultura política das elites e a cul-
tura política das massas pode ser aplicado à cultura política nas organizações: há,
nas organizações, grupos que detêm mais poder que outros. Os de mais poder,
geralmente, aglutinam pessoas em cargos de elevado destaque na hierarquia.
Os grupos de oposição nas organizações são, geralmente, compostos por
lideranças informais. Essas lideranças são, quase sempre, instauradas entre os tra-
balhadores que possuem cargos de menor peso hierárquico. Esses líderes podem,
por exemplo, buscar uma articulação do seu poder político na empresa para
implementar mudanças favoráveis aos trabalhadores e defender seus interesses.
Muitos fenômenos políticos da sociedade em geral ocor-
rem nas organizações. A percepção que os membros da
organização têm desses fenômenos, em linhas gerais, segue
as mesmas características da cultura política. Assim, as ten-
dências cognitiva, afetiva e valorativa estão constantemente
em funcionamento nas organizações. Além disso, as três
tendências atuam na composição da cultura organizacional.
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Cultura Organizacional
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Psicologia e Cultura Organizacional
Em uma organização, pode haver indivíduos que não tenham
suas convicções profissionais atreladas à cultura da organiza-
ção. Nesse contexto, a preservação da cultura estabelecida
na organização e a promoção de um bom clima organiza-
cional dependem, primariamente, do comportamento dos
colaboradores. Modos de pensar diferentes não são preju-
diciais à cultura organizacional desde que os procedimentos
estabelecidos pela estrutura formal para o exercício da fun-
ção da organização sejam respeitados. Ao contrário, modos
de pensar divergentes podem estimular o debate, que, ao
longo do tempo, solidifica os bons aspectos da cultura orga-
nizacional estabelecida.
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Cultura Organizacional
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Psicologia e Cultura Organizacional
Essa noção do termo cultura serve para enunciar o conjunto dos modos
de vida de um grupo humano determinado, sem referência ao sistema valores
para o qual esses modos de vida estão direcionados. Em outras palavras:
[...] é um termo que pode designar tanto a civilização mais progres-
sista quanto as formas de vida social mais rústicas e primitivas. Nesse
significado neutro, esse termo é empregado por filósofos, sociólogos
e antropólogos contemporâneos. Tem ainda a vantagem de não privi-
legiar um modo de vida em relação a outro na descrição de um todo
cultural. De fato, para um antropólogo, um modo rústico de cozer
um alimento é um produto cultural tanto quanto uma sonata de Bee-
thoven (ABBAGNANO, 1999, p. 229).
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Psicologia e Cultura Organizacional
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A cultura como conceito tem uma história longa e com várias faces.
Ela tem sido usada pelos leigos como uma palavra que indica sofisti-
cação, como quando nos dizemos que alguém é muito “culto”. Pelos
antropólogos, ela tem sido usada para se referir aos costumes e ritu-
ais que as sociedades desenvolvem sobre o curso de sua história. Nas
últimas décadas a cultura tem sido utilizada por alguns pesquisadores
organizacionais e administradores para se referir ao clima e às prá-
ticas que as organizações desenvolvem em torno dos seus adminis-
trados, ou para os valores defendidos e o credo de uma organização
(SCHEIN, 2004, p. 7, grifo nosso, tradução nossa).
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É importante ressaltar que a eficácia de uma organização
não depende apenas da cultura organizacional. A eficácia
no cumprimento da função de uma organização é tam-
bém derivada da relação da cultura com os ambientes
internos e externos da organização. Além disso, deriva
do modo como a cultura organizacional condiciona
as tarefas que compõem a função da organização.
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A limpeza no ambiente de trabalho beneficia a produti-
vidade em todos os tipos de organização: um ambiente
de trabalho limpo é um valor importante e benéfico
nas organizações de um modo geral. Dessa forma, o
asseio ou a ordem no ambiente de trabalho, enquanto
valores organizacionais, estarão quase sempre muito
mais próximos da limpeza do que da sujeira.
Os valores e sua derivação das sensações são instalados nas mentes dos
seres humanos como “programas de computador” (HOFSTEDE, 2001, p.
4). A programação dos valores ocorre coletivamente, por meio da endocultu-
ração4. Já que, muitas vezes, os valores são programados cedo na mente das
pessoas, nem sempre a expressão dos valores ocorre de forma racional. Assim,
a ligação dos valores com as sensações facilita a existência do caráter muitas
vezes irracional dos valores.
A manifestação dos valores, por outro lado, é provocada por estímulos. A
reação aos estímulos, muitas vezes, é racional, como na manifestação dos valores
profissionais em relação a um programa organizacional mau conduzido por uma
liderança incompetente. Quando isso ocorre, os indivíduos averiguam a fonte
do estímulo e a comparam com os valores que estão sendo confrontados. Essa
comparação deve ocorrer, via de regra, por meio de critérios lógicos e racionais.
A irracionalidade da programação da cultura em nossas mentes, somada
à racionalidade da manifestação dos valores culturais, forma uma dialética.
Tal dialética resulta na configuração, ao mesmo tempo subjetiva e racional,
dos valores e do comportamento. Essa configuração também é aplicada aos
valores e ao comportamento organizacional.
A absorção dos valores organizacionais pelos membros da organização inci-
dirá sobre o comportamento organizacional. A definição de comportamento
organizacional é muito próxima das definições gerais de comportamento propos-
tas pelas ciências sociais como um todo, em especial da Sociologia e da Psicologia.
4 Endoculturação é um conceito introduzido nas Ciências Sociais pela Antropologia. É o pro-
cesso de absorção da cultura pelos indivíduos. Como os valores são fragmentos da cultura, eles
são assimilados pelas pessoas por processos de endoculturação.
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No primeiro capítulo deste livro, você pôde perceber que, segundo a Psicolo-
gia, o comportamento é um conjunto de ações realizadas por um indivíduo, deri-
vadas do consciente ou do inconsciente. O comportamento, para a Sociologia,
acrescenta à abordagem psicológica o contexto social em que o comportamento
é também um reflexo dos fenômenos sociais que os seres humanos observam.
O comportamento organizacional é o conjunto de ações
realizados pelos indivíduos membros de uma organiza-
ção dentro do ambiente organizacional. Quase sempre,
o comportamento organizacional é voltado à realiza-
ção da função da organização e possui causas e refle-
xos coletivos, derivados dos valores organizacionais.
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A ética é uma parte importante das discussões atuais sobre cultura orga-
nizacional em seus mais diversos aspectos, especialmente no que se refere ao
fator humano e às relações de trabalho. Na próxima seção, você verá uma
abordagem mais profunda e específica a esse valor.
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A qualidade das relações de trabalho pode ser medida pelo clima organi-
zacional. O clima organizacional não é uma parte da cultura organizacional,
mas um resultado dela. Dentre os fatores culturais que incidem sobre o clima
organizacional, destaca-se a ética.
A seguir, serão apresentados alguns pontos relevantes sobre o estudo da
ética, seu impacto nas relações sociais e no funcionamento das organizações.
5 Nome genérico empregado aos habitantes das regiões da antiga Grécia, Macedônia, e ilhas
próximas.
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Essas duas visões distintas podem gerar uma confusão que atrapalha o
pleno entendimento do conceito geral de ética. Por isso, é preciso destacar
que cada uma das concepções tem uma abordagem diferenciada em relação
ao bem enquanto valor e ao contexto em que o valor bem é empregado.
Ainda segundo Abbagnano (1999, p. 380):
A confusão entre ambos os pontos de vista heterogêneos foi possibili-
tada pelo fato de que ambas costumam apresentar-se com definições
aparentemente idênticas do bem. Mas a análise da noção de bem logo
mostra a ambiguidade que ela oculta, já que bem pode significar o que
é (pelo fato de que é) ou o que é objeto de desejo, de aspiração, etc.,
e estes dois significados correspondem exatamente às duas concepções
de Ética. De fato, é característica da concepção 1ª a noção de bem
como realidade perfeita ou perfeição real, ao passo que na concepção 2ª
encontra-se a noção de bem como objeto de apetição.
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exprimem o bem por si só. Para exprimir o bem, esses valores precisam estar,
na maior parte dos casos, ligados à ética e aos demais valores. Esse é o caso
de valores como a coragem, a bravura, a disciplina, a iniciativa e a liberdade.
A coragem, assim como a bravura, a disciplina, a iniciativa e a liberdade,
estará ligada ao bem se for guiada pela ética. Além disso, será também ética se
tiver o bem como finalidade, como objeto de apetição.
Essa afirmação pode ser vislumbrada através do exemplo de um homem
que testemunha um crime e o denuncia. Ao fazer isso, o homem age com cora-
gem, porque enfrenta o risco de sofrer retaliação do criminoso por causa de
seu testemunho. Nesse caso, a coragem foi exercida de forma ética enquanto
valor, pois o risco foi assumido em busca de um grande bem, que é a justiça.
Por outro lado, a conduta de um criminoso, às vezes, também é corajosa,
já que, em muitas ocasiões, criminosos arriscam suas vidas para cometer deli-
tos. Porém, sua conduta não é ética, porque não visa ao bem. Ao contrário,
sua ação tem o objetivo de provocar prejuízos a outras pessoas para benefício
próprio e promove o mal. A coragem destinada ao mal é antiética.
A ética não deve ser confundida com a lei ou a legislação.
Embora as leis tenham (ou devam ter) embasamento em concep-
ções éticas, elas não se constituem como um valor propriamente
dito. As leis são manifestações dos valores de uma sociedade, e
em seu aspecto ideal, buscam a promoção da ética social.
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Além disso, a ética deve servir como orientação para os demais valores, com o
intuito de que eles também tenham o bem como finalidade.
Sob o mesmo princípio está constituída a ética empresarial, que tem como
objetivo promover o bem-estar social por meio das empresas enquanto organiza-
ções. Esse bem-estar deve prevalecer no ambiente de trabalho, visando, por exem-
plo, a boas condições produtivas para os trabalhadores, mas não somente isso.
A alocação de pessoas nos cargos de liderança, as
formações de grupos de trabalho, as metas de produ-
ção, os aumentos salariais e as mobilizações políticas
empresariais também precisam observar a ética. Esco-
lher uma pessoa para um cargo de chefia por afini-
dade pessoal, e não por capacidade técnica, não é uma
postura ética, especialmente se for em detrimento de
outro trabalhador mais capacitado para a função.
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Fonte: Shutterstock
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Cada vez mais, o pleno exercício da função de uma organi-
zação se evidencia por meio de ativos intangíveis, como a
satisfação dos colaboradores e dos clientes de uma empresa.
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O conceito de paradigma aplicado ao conhecimento filosó-
fico foi introduzido por Thomas Samuel Kuhn. De acordo com
Kuhn, um paradigma é um juízo que se faz de uma realidade,
baseado em um conjunto de premissas, valores, dogmas e axio-
mas. Esse juízo orienta as escolhas feitas por um indivíduo para
interagir com o que ele considera ser o real estado das coisas
(KUHN , 2003).
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É valido ressaltar que um paradigma apresenta consigo a
tendência de se estabelecer por períodos indeterminados
e de resistir às mudanças. Entretanto, o cenário global é
extremamente dinâmico, e isso impõe um processo con-
tínuo de adaptação e de transformações. A inserção das
organizações no panorama social faz com que a imposição
da dinâmica do cenário global as atinja diretamente.
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O novo paradigma se popularizou no fim do século XX e
tomou força nos primeiros anos do século XXI. Agora, está
ainda mais presente nas organizações e introduziu novas
discussões, como a questão ambiental, a inclusão social, a
harmonização entre as diferentes culturas e a integração
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das pessoas por meio das tecnologias de comunicação
e informação (CUMMINGS & WORLEY, 2009).
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A mudança organizacional deve ocorrer não só em benefí-
cio da organização e de seus gestores. Todos os colabora-
dores devem ser contemplados pelas possíveis melhorias
trazidas por um novo paradigma. Os processos de mudança
que visam ao bem-estar geral dos membros da organiza-
ção têm mais chances de serem aceitos e implementados.
Síntese
A cultura tem uma forte relação com os acontecimentos que envolvem
uma organização. O modo como uma organização reage aos fenômenos
sociais, políticos e econômicos varia de acordo com o conjunto de valores,
conhecimentos, estruturas, comportamentos e crenças da organização. Esse
conjunto de fenômenos que estão presentes na organização é chamado de
cultura organizacional.
As relações da organização com o seu ambiente externo têm derivações
culturais, que são condicionadas pela cultura organizacional e pelos aspectos
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Referências
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Vivemos em uma época em que a Educação ocupa um espaço
de destaque. Além disso, falamos em uma Era do Conhecimento, na
qual experimentamos novos desafios em todos os âmbitos de nossa
vida: novas formas de comunicação, de relacionamento e, portanto, de
aprender e ensinar.
Assim, é necessário refletir acerca desse importante campo
do conhecimento. Precisamos aprofundar nossos conhecimentos,
rever conceitos e práticas, porém não podemos perder de vista os
fundamentos teóricos e científicos que nos fizeram chegar à dita Era
do Conhecimento. É com esse espírito, portanto, que vislumbramos
a necessidade de explorar – através de uma obra didaticamente
estruturada e de leitura prazerosa, crítica e reflexiva – o interessante
mundo da Psicologia da Educação.
ISBN 978-85-53370-13-9
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