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ORDEM

DOS
PSICÓLOGOS
PORTUGUESES
CÓDIGO
DEONTOLÓGICO
Publicação / 21 Abril 2011
Primeira revisão / 26 Dezembro 2016
(Publicado no Diário da República · 2ª série nº 246 / 2)
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4 MENSAGEM DO BASTONÁRIO

9 PREÂMBULO

13 PRINCÍPIOS GERAIS
14 Princípio A. Respeito pela dignidade e direitos da pessoa
15 Princípio B. Competência
16 Princípio C. Responsabilidade
17 Princípio D. Integridade
18 Princípio E. Beneficência e Não-Maleficência

19 PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS
19 1. Consentimento Informado
21 2. Privacidade e Confidencialidade
24 3. Relações Profissionais
26 4. Avaliação Psicológica
29 5. Prática e Intervenção Psicológicas
31 6. Ensino, Formação e Supervisão Psicológicas
32 7. Investigação
35 8. Declarações Públicas

ORDEM
DOS
PSICÓLOGOS
PORTUGUESES
CÓDIGO
DEONTOLÓGICO
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Mensagem do Bastonário / 1ª Publicação

(1ª Publicação · 21 Abril 2011)

Colega,

Tem à sua frente um poderoso instrumento para teriorização das exigências éticas da profissão. As- o trabalho de estudantes e psicólogos mais jovens É justo que se enunciem aqui as pessoas que do-
o exercício da Psicologia. Um instrumento que lhe sim poderemos aperfeiçoar o que já fazemos bem, na profissão, e ajudar na aplicação destes princí- aram o seu tempo, ao longo dos três anos, para o
permite prestar serviços de elevada qualidade, no e saberemos julgar o que não é aceitável como prá- pios é uma das melhores formas de o promover. imenso trabalho do Código. O Prof. Dr. Mário Ro-
respeito pelos deveres e direitos das pessoas en- tica tanto em nós como nos outros. drigues Simões, presidiu aos trabalhos da comis-
volvidas no serviço. Houve uma grande preocupação em produzir um são. Colaboraram a Prof. Dr.ª Ana Margarida Veiga
O Código servirá também para aferir das práticas documento coerente, íntegro, enunciador dos prin- Simão, a Prof. Dr.ª Carla Moleiro, o Prof. Dr. José
Este é o primeiro Código Deontológico a que todos alvo de queixa. A sua eficácia será manifesta na cípios, fonte para a acção e reflexão. Beneficiámos Frederico Marques, o Dr. Miguel Ricou, a Dr.ª Rute
os psicólogos portugueses estão obrigados. correcção do que são práticas defeituosas da Psi- da existência de muitos outros Código de Ética e do Agulhas e eu próprio.
cologia. Em última análise, é pelo Código que serão contributo de muitos psicólogos, grupos e cidadãos
Deve constituir motivo de orgulho profissional de- julgadas as acções dos psicólogos, no âmbito do individuais. Beneficiámos ainda de um conheci- Os trabalhos foram secretariados com a prestimo-
fender estes princípios, pois daqui resulta uma seu organismo de regulação profissional - a Ordem mento acumulado de sete anos das questões que sa colaboração da Dr.ª Sarah Freire, que deu um
prática melhor, mais transparente na relação com dos Psicólogos Portugueses. preocupavam os profissionais e os utilizadores dos contributo fundamental aos trabalhos da comissão.
os diversos intervenientes, e promotora de valores serviços de psicologia.
fundamentais para a intervenção psicológica. Há um longo caminho a percorrer, que começa Como Código Deontológico de uma associação pú-
na aprendizagem do Código Deontológico desde o A comissão que esteve na base da elaboração do blica profissional quisemos dar ampla divulgação
A ideia de um Código Deontológico é em primeiro início do estudo de Psicologia, e progressivamen- Código trabalhou intensamente durante cerca de oficial, pelo que foi publicado no Diário da Repúbli-
lugar servir de orientação para a prática, identifi- te ir conhecendo as dimensões da sua aplicação. três anos, para produzir uma obra que servisse ca, 2ª série, nº 78 de 20 de Abril de 2011.
cando princípios, e promovendo o raciocínio ético a A preparação para ser um praticante começa des- todos os psicólogos. As discussões sobre os temas
partir desses princípios. Não se encontrarão aqui de o primeiro momento, e é na vivência do Código foram fascinantes, e é pena que não tenham encon- Aqui fica o instrumento, criado com o esforço de
todas as respostas para as nossas questões e dú- que melhor se poderá fazer a sua aprendizagem. trado expressão sobre uma forma escrita. Ficou a muitas pessoas, na procura de que sirva para a
vidas éticas, mas estão neste Código Deontológico É indispensável conhecimento, reflexão, aplicação, reflexão profunda, a clarificação de posições, o re- promoção do bem, consubstanciado numa prática
as bases para pensar essas respostas, e orientar a exemplos de boas práticas e divulgação dos eleva- conhecimento daquilo que está em causa quando se de elevada qualidade. Compete a si utilizá-lo da
nossa acção, sabendo que somos chamados a to- dos padrões de conduta que queremos para a nossa fala de questões éticas, e também o conhecimento melhor maneira possível. Faça bom uso, em prol
mar decisões difíceis, e que podemos agora anco- profissão. da complexidade desta área. Mas o importante foi dos utilizadores da Psicologia, dos psicólogos e dos
rar essas decisões no Código Deontológico. poder chegar ao Código, um instrumento para o cidadãos.
Para quem é psicólogo há muitos anos, o Código pensamento e para a acção, com a consciência de
Nenhum texto muda por si só a prática profissional, poderá condensar muito do que já sabem e apli- que este é um processo em permanente evolução, e Telmo Mourinho Baptista
mas dispor de um Código Deontológico actualizado cam, mas creio ter também lugar para a novidade, para o qual teremos de estar sempre atentos. Bastonário
que podemos estudar, consultar e aprender, cons- pelo que merece uma leitura atenta e cuidadosa.
titui ajuda potencialmente decisiva na tarefa de in- Muitos de nós temos a responsabilidade de orientar
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Mensagem do Bastonário / 2ª Publicação

(2ª Publicação · 26 Dezembro 2016)

de pessoas, grupos, organizações e comunidades. Passa a ter a seguinte redacção:


Alteração do Código Deontológico da Ordem dos Psicólogos Portugueses, apro-
Consequentemente, um dos deveres prioritários
vado em anexo ao Regulamento n.º 258/2011, publicado na 2.ª Série do Diário da será o de se preocupar em fazer o bem ao seu “Princípio E — Beneficência e Não-Maleficência.
República em 20 de abril de 2011 cliente e em evitar, de toda a maneira, prejudicá-lo. Os/as psicólogos/as devem ajudar o seu cliente a
Deste modo, ao definir este princípio como um dos promover e a proteger os seus legítimos interesses.
princípios centrais do exercício da Psicologia, assu- Não devem intervir de modo a prejudicá-lo ou a
Nos termos e para os efeitos da alínea f) do arti- pela Ordem dos Psicólogos Portugueses e do con- me-se o pressuposto de que mesmo em processos causar -lhe qualquer tipo de dano, quer por
go 28.º e da alínea d) do artigo 33.º do Estatuto da sequente arquivamento do processo, por parte da de intervenção cuja motivação central não seja pro- acções, quer por omissão. Se a Psicologia tem um
Ordem dos Psicólogos Portugueses, aprovado pela Autoridade da Concorrência, em 7 de outubro de mover o interesse das pessoas como, por exemplo, espectro de actuação muito largo, estando presente
Lei n.º 57/2007, de 4 de setembro, com a redação 2016 a Assembleia de Representantes da Ordem em algumas situações da psicologia forense ou em quase todas as actividades humanas, a verdade
da Lei n.º 138/2015, de 7 de setembro, a Direção da dos Psicólogos Portugueses aprovou a seguinte al- organizacional, o profissional deverá ter em aten- é que deve ser assumida como uma actividade ao
Ordem dos Psicólogos Portugueses propôs à As- teração ao Código Deontológico da Ordem dos Psi- ção que as pessoas devem estar no centro das serviço do bem -estar da pessoa humana. Nesse
sembleia de Representantes da Ordem a alteração cólogos Portugueses: suas inquietações. Esta preocupação deve ser sentido, o seu papel assistencial deve estar sem-
do Código Deontológico da Ordem dos Psicólogos estendida a todos os implicados no trabalho dos/ pre presente, considerando -se os/as psicólogos/as
Portugueses, aprovado em anexo ao Regulamento as psicólogos/as, incluindo clientes, participantes como profissionais que desenvolvem o seu trabalho
n.º 258/2011, publicado na 2.ª Série do Diário da 1. O ‘Princípio E — Beneficência e Não-Maleficência’ de investigação (humanos ou animais), estudantes, na promoção do bem -estar físico, psíquico e social
República em 20 de abril de 2011. antes assim: estagiários ou quaisquer outras pessoas relaciona- de pessoas, grupos, organizações e comunidades.
das directa ou indirectamente com o mesmo. Quan- Consequentemente, um dos deveres prioritários
A necessidade de alteração surge na sequên- “Princípio E — Beneficência e Não-Maleficência. do surgem conflitos de interesse a este nível os/as será o de se preocupar em fazer o bem ao seu
cia de compromissos assumidos pela Ordem dos Os/as psicólogos/as devem ajudar o seu cliente a psicólogos/as devem fazer o máximo esforço com cliente e em evitar, de toda a maneira, prejudicá-lo.
Psicólogos Portugueses perante a Autoridade da promover e a proteger os seus legítimos interesses. vista à minimização dos danos. Os/as psicólogos/as Deste modo, ao definir este princípio como um dos
Concorrência no âmbito do PRC/2015/6 (processo Não devem intervir de modo a prejudicá-lo ou a deverão ter sempre o melhor interesse do cliente princípios centrais do exercício da Psicologia, assu-
interno daquela Autoridade), no âmbito do qual a causar -lhe qualquer tipo de dano, quer por como referência, procurando ajudá-lo e nunca o me-se o pressuposto de que mesmo em processos
Autoridade da Concorrência concluiu que a versão acções, quer por omissão. Se a Psicologia tem um prejudicar. Qualquer intervenção poderá provocar, de intervenção cuja motivação central não seja pro-
dos pontos 3.5 e 3.7 do Código Deontológico até espectro de actuação muito largo, estando presente potencialmente, algum tipo de prejuízo à pessoa. mover o interesse das pessoas como, por exemplo,
agora em vigor poderia ser suscetível de suscitar em quase todas as actividades humanas, a verdade Contudo, desde que o balanço entre o risco e o be- em algumas situações da psicologia forense ou
algumas preocupações jusconcorrenciais, visando é que deve ser assumida como uma actividade ao nefício seja positivo para o cliente, a intervenção é organizacional, o profissional deverá ter em aten-
os referidos compromissos responder às referidas serviço do bem -estar da pessoa humana. Nesse legítima. O dano a evitar será aquele que não cum- ção que as pessoas devem estar no centro das
preocupações. sentido, o seu papel assistencial deve estar sem- prir esta equação, bem como todo o prejuízo que suas inquietações. Esta preocupação deve ser
pre presente, considerando -se os/as psicólogos/as resultar de uma actuação grosseira, negligente, estendida a todos os implicados no trabalho dos/
Assim, na sequência da aceitação pela Autorida- como profissionais que desenvolvem o seu trabalho propositadamente malévola ou não fundamentada as psicólogos/as, incluindo clientes, participantes
de da Concorrência dos compromissos assumidos na promoção do bem -estar físico, psíquico e social em conhecimentos científicos actualizados.” de investigação (humanos ou animais), estudantes,
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Preâmbulo

estagiários ou quaisquer outras pessoas relaciona- Passa a ter a seguinte redacção: (1ª Publicação · 21 Abril 2011)
das directa ou indirectamente com o mesmo. Quan-
do surgem conflitos de interesse a este nível os/as “3.5 – Integridade profissional. Os/as psicólogos/
psicólogos/as devem fazer o máximo esforço com as pautam as suas relações profissionais pela inte-
A Lei 57/2008, de 4 de Setembro, criou a Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP)
vista à minimização dos danos. Os/as psicólogos/as gridade, não desviando casos de instituição pública
deverão ter sempre o melhor interesse do cliente para a prática privada, e não julgando ou criticando
e aprovou o seu Estatuto. Com a criação da Ordem dos Psicólogos Portugueses
como referência, procurando ajudá-lo e nunca o outros colegas ou outros profissionais de forma não como organismo regulador da profissão de psicólogo em Portugal, impunha-se
prejudicar. Qualquer intervenção poderá provocar, fundamentada.” instituir um Código Deontológico que, de modo sistemático, ordenasse o pensa-
potencialmente, algum tipo de prejuízo à pessoa.
mento sobre as questões éticas e deontológicas essenciais ao exercício da profis-
Contudo, desde que o balanço entre o risco e o be-
nefício seja positivo para o cliente, a intervenção é 3. No ponto ‘3 – Relações Profissionais’ do Código
são de psicólogo.
legítima. O dano a evitar será aquele que não cum- Deontológico, o ponto ‘3.7 – Duplicação de Inter-
prir esta equação, bem como todo o prejuízo que re- venções’ antes assim:
sultar de uma actuação grosseira, negligente, pro- A referida Lei, no seu artigo 77º, atribuiu à Ordem Defender e fazer defender o sigilo profissional; f)
positadamente malévola ou não fundamentada em “3.7 — Duplicação de intervenções. Os/as psicó- dos Psicólogos a responsabilidade pela elabora- Exigir aos seus membros e colaboradores o res-
conhecimentos científicos actualizados. Tendo em logos/as não estabelecem relações profissionais ção de um Código Deontológico da profissão. Quis peito pela confidencialidade; g) Utilizar os instru-
conta os princípios da beneficência e da não ma- com clientes que estejam a ser assistidos por um o legislador imprimir desde logo uma relevância mentos científicos adequados ao rigor exigido na
leficência, os/as psicólogos/as podem recusar-se a colega para o mesmo fim. Obtêm o consentimento deontológica na própria lei, elencando um conjun- prática da sua profissão; h) Conhecer e agir com
estabelecer relações profissionais com clientes que informado do cliente antes de contactar outros co- to de princípios e deveres gerais que devem reger respeito pelos preceitos legais e regulamentares;
estejam a ser assistidos simultaneamente por um legas com quem o cliente estabeleceu uma relação o comportamento profissional dos psicólogos. i) Respeitar as normas de incompatibilidade que
colega para o mesmo fim, sempre que entenderem profissional, ou com quem estabeleça presente- decorram da lei.
que tal duplicação de intervenções possa ser preju- mente para outros fins.” Para tal criou um capítulo próprio, o capítulo VI,
dicial para o cliente. sobre Deontologia Profissional, que nos seus arti- Artigo 76º. Deveres gerais. O psicólogo, na sua
É revogado. gos 75º (Princípios Gerais) e 76º (Deveres Gerais), actividade profissional, deve: a) Abster-se de
estabelece o seguinte: sancionar documentos ou de fazer declarações
2. No ponto ‘3 – Relações Profissionais’ do Código que indevidamente resultem em favorecimento
Deontológico, o ponto ‘3.5 – Integridade Profissio- Telmo Mourinho Baptista Artigo 75º. Princípios gerais. No exercício da sua próprio ou de outrem; b) Evitar a deturpação da
nal’ antes assim: Bastonário actividade profissional, devem ser respeitados interpretação do conteúdo, explícito ou implícito,
pelo psicólogo os seguintes princípios gerais: a) de documentos de apoio técnico ao exercício da
“3.5 — Integridade profissional. Os/as psicólogos/as Actuar com independência e isenção profissional; profissão, com o intuito de iludir a boa-fé de ou-
pautam as suas relações profissionais pela inte- b) Prestigiar e dignificar a profissão; c) Colocar a trem; c) Defender os princípios da ética da profis-
gridade, não captando clientes de outros profis- sua capacidade ao serviço do interesse público; são, recusando colaborar ou participar em qual-
sionais, não desviando casos de instituição pública d) Empenhar-se no estabelecimento de uma di- quer serviço ou empreendimento que julgue ferir
para a prática privada, e não julgando ou critican- nâmica de cooperação social com o objectivo de esses princípios; d) Exercer a sua actividade em
do outros colegas ou profissionais de forma não melhorar o bem-estar individual e colectivo; e) áreas dentro da psicologia para as quais tenha re-
fundamentada.”
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cebido formação específica; e) Recusar quaisquer Deontológico. Dito de outro modo, espera-se dos da Ordem quer por parte de todos os seus mem- mento legal, mas podem agora encontrar eco no
interferências no exercício da sua actividade que psicólogos portugueses uma atitude activa de bros” e, ainda, (…) “c) instruir e julgar todos os pro- resultado dos trabalhos da Comissão. Não foram
ponham em causa aspectos técnico-científicos ou defesa e implementação das normas de compor- cessos disciplinares instaurados aos membros”. em vão, e estão no espírito que presidiu à elabo-
éticos do exercício profissional, sejam quais forem tamento, princípios e valores explicitados neste ração deste Código. E se não foi possível atendê-
as suas funções e dependências hierárquicas ou documento. Adicionalmente, ao identificar e definir padrões -las na altura, pelas circunstâncias enunciadas, é
o local onde exerce a sua actividade; f) Abster-se de comportamento esperado e exigível no con- importante que se saiba que contribuirão para que
de utilizar materiais específicos da profissão para Aprovado o Código Deontológico, procede-se ago- texto das “boas práticas”, e ao sancionar “práti- muitas situações sejam evitadas e não voltem a
os quais não tenha recebido formação, que saiba ra à sua divulgação, de forma a que exista um co- cas incorrectas”, o Código Deontológico constitui repetir-se. Ou que, na sua repetição, terão as con-
desactualizados ou que sejam desadequados ao nhecimento generalizado deste documento funda- um elemento de trabalho indispensável na orga- sequências que se entenderem adequadas para
contexto de aplicação. mental por parte dos profissionais e ele possa ser nização e regulação interna da profissão. Neste as respectivas acções. Não ficarão esquecidas, e
integrado igualmente no currículo de formação contexto, o Código Deontológico é justamente serão atendidas.
Na base dos princípios e deveres enunciados, e dos futuros profissionais. Neste plano, interessa considerado como um símbolo e referência da
no uso da competência que lhe é estabelecida, a destacar a importância que o Código Deontológico identidade dos psicólogos e, ao mesmo tempo, um É igualmente importante conhecer as decisões
Ordem dos Psicólogos elaborou uma proposta de tem no Ensino e Formação dos estudantes e dos texto fundamental que contribui para o reconheci- orientadoras dos trabalhos da Comissão, para
Código Deontológico que foi objecto de ampla par- profissionais de Psicologia. Estamos cientes que mento público e social da profissão. uma adequada compreensão da intenção e limi-
ticipação e discussão públicas. Uma parte muito nos espera uma longa e exigente tarefa educativa, tes do próprio Código. Neste contexto, a primeira
substantiva dos contributos recebidos durante o que interiorize uma atitude que assuma os aspec- O trabalho de elaboração do Código Deontológico opção foi a de elaborar um Código que reflectis-
período de consulta pública foi acolhida e integra- tos éticos e deontológicos como primeira conside- correspondeu a processo prolongado (2008-2011) se grandes princípios orientadores do compor-
da no texto final do Código Deontológico dos Psi- ração nos comportamentos dos profissionais. e exigente, que a seguir se delimita. Nele partici- tamento dos profissionais, sem remeter a um
cólogos Portugueses. Após parecer do Conselho param um conjunto de especialistas em diversas detalhe e particularização que não poderiam
Jurisdicional, o Código Deontológico foi aprovado, Não é demais relevar a importância que tem para áreas relevantes do conhecimento e intervenção atender exaustivamente todos os dilemas éticos e
por unanimidade, na sessão da Assembleia de os psicólogos portugueses a existência de um Có- psicológica, que deram os seus contributos ao situações concretas que se encontram no dia-a-
Representantes da Ordem dos Psicólogos Portu- digo Deontológico aplicável a todos os profissio- longo de múltiplas reuniões, até se conseguir a -dia da prática profissional. Os princípios servem
gueses realizada no dia 25 de Março de 2011 e, nais. De facto, e embora tivessem anteriormente versão final do documento. de guias para a tomada de decisão e enunciam
posteriormente, objecto de publicação no Diário surgido na sociedade portuguesa códigos de ética os valores axiais orientadores dos comportamen-
da República (2.ª série — N.º 78 — 20 de Abril de e deontologia para os profissionais da Psicologia, Houve a preocupação de disponibilizar aos mem- tos do psicólogo. Dada a vastidão da intervenção
2011; Regulamento n.º 258/2011). estes nunca estiveram alicerçados numa organiza- bros da Comissão Preparatória do Código Deon- psicológica, seria impossível tentar descrever to-
ção com poderes atribuídos para a sua vigilância tológico uma tipologia dos problemas e queixas das as situações com implicações deontológicas.
Cumpre-se assim um dos principais desígnios e e sanção. Com a aprovação do presente Código apresentados ao longo de alguns anos à, na altura,
missões da Ordem dos Psicólogos: criar instru- Deontológico fica disponível um instrumento fun- Associação Pró-Ordem dos Psicólogos, que serviu Além disso, o enunciado estipulado na Lei 57/2008
mentos que possibilitem defender a qualidade da damental para o julgamento sobre os comporta- para identificar problemas e dar a conhecer a sen- dá um contributo explícito à afirmação desses
prática profissional da Psicologia em Portugal. mentos dos profissionais, ancorado no trabalho do sibilidade dos utilizadores dos serviços de Psico- princípios. Quando se entendeu abordar a mesma
Neste âmbito, deve reconhecer-se que a pertença Conselho Jurisdicional da OPP, que tem por função logia e dos psicólogos para estas matérias. Muitas temática no Código foi porque se procurou reforçar
à Ordem dos Psicólogos obriga ao cumprimento “a) velar pelo cumprimento da lei, do Estatuto e dos dessas preocupações e queixas não puderam an- e estender o alcance do princípio.
dos princípios estabelecidos no presente Código regulamentos internos, quer por parte dos órgãos teriormente ser atendidas por falta do enquadra-
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Princípios Gerais

A segunda decisão, decorrente da primeira, foi a Num plano complementar, é indispensável reco- Os princípios gerais são, por natureza, aspiracionais. Ou seja, pretendem ser
de deixar espaço para o desenvolvimento poste- nhecer aqui que o processo periódico de futura orientações para os profissionais no sentido de os guiar e inspirar para uma actu-
rior de linhas de orientação de prática (guidelines) actualização e revisão do Código Deontológico é ação centrada nos ideais da intervenção psicológica.
que pelo seu carácter particular, e também pela indissociável da experiência da sua aplicação prá-
mudança a que estão sujeitos devido à contínua tica bem como do acompanhamento informado da
actualização do conhecimento, possam servir os evolução do pensamento ético, dos conhecimen- Estes princípios gerais são derivados daquilo que Os princípios gerais constituem um conjunto de
profissionais, e sejam suficientemente específicas tos disponíveis e das questões deontológicas que se pode denominar como moral comum da Psi- pressupostos de actuação consensuais na sua
a um conjunto representativo de situações. atravessam uma prática profissional da Psicolo- cologia, ou seja, a moral compartilhada pelos/as aceitação, já que são construídos e inspirados nas
gia, cada vez mais rigorosa, especializada e diver- psicólogos/as Portugueses/as. Estes devem ser características naturais da pessoa, resultantes de
O edifício constitutivo da dimensão deontológica é sificada. considerados como agentes promotores de liga- um raciocínio filosófico secular e com base na na-
construído de forma tripartida, tendo em conta o ções entre a teoria e a prática, podendo ser ge- tureza da intervenção psicológica. Trata-se, pois,
capítulo VI da Lei 57/2008, o Código Deontológico neralizados, já que são conceptualizados como de um conjunto de princípios sentidos como intui-
aprovado, e as diversas linhas de orientação que obrigações prima facie. Ou seja, mesmo quando tivamente correctos que se flexibilizam na resolu-
forem produzidas ao longo do tempo. Esta orga- Mário R. Simões não decisivos, os princípios devem ser tomados ção de dilemas éticos.
nização, que percorre um eixo que vai da maior Presidente da Comissão Preparatória em consideração, uma vez que providenciam uma
abstracção para a concretização de situações-tipo do Código Deontológico coerência intelectual que torna as normas morais
bem identificadas, procura dar resposta às preo- mais flexíveis.
cupações dos profissionais e utilizadores dos ser-
viços de Psicologia. Por isso mesmo, quando os princípios estabeleci-
dos entram em conflito, cabe ao profissional, em
No entanto, convém insistir, tem-se consciência última análise, decidir sobre como resolver o di-
plena que, mesmo assim, este articulado não po- lema ético surgido, a partir do seu raciocínio éti-
derá responder a todas as questões, particular- co. Neste processo os/as psicólogos/as podem, e
mente aos dilemas que, pela sua natureza, exigem devem, recorrer ao Código Deontológico ou ao Di-
a necessidade de continuar a examinar, ponderar reito. Devem informar-se sobre os procedimentos
e reflectir acerca das consequências das acções usuais em circunstâncias idênticas, consultar a
de forma a que se encontre o maior bem para a Comissão de Ética da instituição onde trabalham,
maior parte das pessoas e instituições envolvidas. colegas e superiores hierárquicos.
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Princípio A Princípio B

Respeito pela dignidade e direitos da pessoa Competência

Os/as psicólogos/as devem respeitar as decisões e os direitos da pessoa, desde que estes sejam enqua- Os/as psicólogos/as têm como obrigação exercer a sua actividade de acordo com os pressupostos téc-
drados num exercício de racionalidade e de respeito pelo outro. Nesta perspectiva, não devem fazer dis- nicos e científicos da profissão, a partir de uma formação pessoal adequada e de uma constante ac-
tinções entre os seus clientes por outros critérios que não os relacionados com os problemas e/ou ques- tualização profissional, de forma a atingir os objectivos da intervenção psicológica. De outro modo,
tões apresentadas, e devem, com a sua intervenção, promover o exercício da autonomia dos clientes. acresce a possibilidade de prejudicar o cliente e de contribuir para o descrédito da profissão.

A dignidade consiste num valor universal, caracte- de todos e de cada um. Naturalmente, os/as psi- A competência é adquirida através de uma forma- Sendo a Psicologia uma ciência que tem como
rístico do ser humano, sendo que decorre da sua cólogos/as terão essa mesma obrigação, e de uma ção teórica e prática especializada, obtida no en- objecto o estudo das pessoas nos seus diversos
natureza racional e relacional tornando-o capaz forma acrescida, em virtude das características e sino superior e constantemente actualizada, bem contextos, sendo o seu principal instrumento de
de distinguir o bem do mal e de construir relações objectivos das relações profissionais que estabe- como de uma formação prática supervisionada intervenção a relação interpessoal, resulta como
interpessoais. A dignidade será, então, um valor lecem. por psicólogos/as. Cada psicólogo/a deve garantir natural o reconhecimento que profissionais dife-
específico e exclusivo da pessoa humana que deve as suas qualificações particulares em virtude dos rentes tenham características diferentes, pelo que
ser respeitada sob pena de lhe ser negada a sua Este princípio geral corresponde à obrigação dos/ seus estudos, formação e experiência específicas, cada um deverá ter consciência das suas necessi-
própria condição. as psicólogos/as em olhar para a pessoa como fixando pelas mesmas os seus próprios limites. dades específicas, sendo o próprio o melhor juiz
um ser único, diferente de todos os outros, com da sua competência. Este pressuposto, para além
Respeitar a dignidade será aceitar todas as deci- vontade própria que, mais do que ser respeitada A competência será o reconhecimento de que os/ de aumentar a responsabilidade dos/as psicó-
sões da pessoa desde que enquadradas num exer- deverá ser promovida no contexto relacional ca- as psicólogos/as devem estar conscientes que têm logos/as, chama a atenção para a dificuldade do
cício de racionalidade, a partir de uma consciência racterístico da pessoa humana.Este princípio obri- como obrigação fundamental funcionar de acordo controlo formal dos níveis de competência de cada
alargada e reflectida. Porém, estas decisões não ga os/as psicólogos/as a respeitar e a promover com as boas práticas baseadas em conhecimentos um dos membros da profissão. Por isso mesmo,
podem ser desenquadradas da realidade social a autonomia e autodeterminação do seu cliente, científicos actualizados, por existir um risco acres- independentemente da importância da regulação
que envolve a pessoa e que condiciona todo o seu aceitando de uma forma incondicional todas as cido de prejudicar seriamente alguém se presta- do acesso à profissão através de um controlo rigo-
ser e o seu agir. Por isso, a referência aos direitos suas opiniões, preferências, credos e todas as rem um serviço para o qual não estão convenien- roso da formação, a consciência individual de cada
e à natureza relacional da pessoa. características decorrentes da afirmação do seu temente qualificados. Coloca-se, pois, uma grande um é condição central para o bom desempenho da
carácter, desde que integradas num quadro de co- ênfase na formação e na prática orientada, bem actividade.
Os direitos têm como objectivo fundamental re- erência e de respeito pelo outro. Os/as psicólogos/ como na constante actualização do profissional.
gular a vida da pessoa em sociedade, ou seja, as obrigam-se a tratar todas as pessoas a partir Paralelamente, será fácil compreender que a
orientar as suas relações interpessoais, pelo me- de uma igualdade desigual, considerando uma Para além disso uma actuação pouco competente única forma que o profissional tem de responder
nos a partir de determinados limites. Parte-se do perspectiva justa na promoção de condições que poderá levar ao questionamento da credibilidade pelas suas acções e de ter uma noção o mais ob-
reconhecimento de que a existência de um direito considerem as diferenças individuais de cada um, do profissional e da profissão. Os/as psicólogos/ jectiva possível sobre a sua intervenção, é desen-
pressupõe o reconhecimento desse mesmo direi- e que, à partida, não coíbam determinadas pesso- as deverão ter em atenção que quando desem- volver uma actuação baseada em conhecimentos
to no outro, sendo por isso um dever. Então, será as de atingir o mínimo essencial para uma igual penham a sua actividade de uma forma menos científicos actualizados. Apenas deste modo po-
dever, ético ou jurídico, de todas as pessoas, dada dignidade como seres humanos. competente contribuem para o descrédito da Psi- derão os/as psicólogos/as antecipar as prováveis
a sua característica racional, respeitar os direitos cologia, para além do prejuízo que o seu cliente consequências da sua intervenção, sendo por isso
poderá sofrer. responsáveis por elas.
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Princípio C Princípio D

Responsabilidade Integridade

Os/as psicólogos/as devem ter consciência das consequências que o seu trabalho pode ter junto das Os/as psicólogos/as devem ser fiéis aos princípios de actuação da profissão promovendo-os de uma
pessoas, da profissão e da sociedade em geral. Devem contribuir para os bons resultados do exercício forma activa. Devem prevenir e evitar os conflitos de interesse e, quando estes surgem, devem contri-
da sua actividade nestas diferentes dimensões e assumir a responsabilidade pela mesma. Devem sa- buir para a sua resolução, actuando sempre de acordo com as suas obrigações profissionais.
ber avaliar o nível de fragilidade dos seus clientes, pautar as suas intervenções pelo respeito absoluto
da decorrente vulnerabilidade, e promover e dignificar a sua actividade.

Os/as psicólogos/as, a partir do saber adquiri- Num mundo cada vez mais centrado no valor da A integridade é a qualidade de quem revela intei- Deste modo, a integridade, tal como foi expressa,
do com a sua formação, ficam responsáveis por autonomia individual, não pode ser negada uma reza moral, também definida como uma virtude, poderá ficar comprometida sempre que o profis-
proporcionar, dentro das suas possibilidades, a maior atenção à vida em sociedade e às responsa- uma conjugação coerente dos aspectos do eu. sional se deixar influenciar pelas suas próprias
devolução da autonomia ao cliente que a eles/as bilidades que esta comporta. O interesse da socie- Para os/as psicólogos/as, será necessário que motivações ou crenças, preconceitos e juízos mo-
recorre. Desta forma, passa-se de uma definição dade deverá ser objecto de atenção por parte dos a esta coerência de carácter se adicione uma fi- rais, nos casos em que surjam conflitos de inte-
que poderia corresponder ao mero conceito de profissionais, tal como os interesses e os direitos delidade aos princípios de actuação da profissão, resse pessoal, profissional e institucional, dilemas
“prestar contas”, para um conceito mais alargado de cada pessoa. A dificuldade reside no facto de, defendendo-os quando estão ameaçados. Deve centrados nas hierarquias, ou mesmo a partir de
que responsabiliza os/as psicólogos/as por ajudar por vezes, o interesse individual poder entrar em então promover-se, no contexto profissional, a in- pedidos não razoáveis dos clientes.
todos aqueles que necessitem dos seus serviços conflito com o interesse social. tegridade moral como um traço de carácter que
profissionais. consiste numa integração coerente de valores pro- Quando confrontado com as dificuldades acima
Nestas circunstâncias, o profissional deve procu- fissionais razoavelmente estáveis e justificáveis, descritas, o profissional deverá promover a dis-
Assim, pretende-se salvaguardar que os/as psicó- rar um meio de suprimir, na medida do possível, acompanhada de uma fidelidade activa a esses va- cussão das diferentes perspectivas em equação,
logos/as tenham consciência das consequências as potenciais consequências negativas a estes lores tanto no juízo como na acção. Só assim será tentando encontrar situações de compromisso
do seu trabalho e que o apliquem em prol do bem- dois níveis. A referência ao interesse social obriga possível promover a integridade da Psicologia, ob- que respeitem os princípios gerais, específicos e
-estar da pessoa, respeitando-a como tal. não apenas a considerar a comunidade humana, jectivo central deste princípio. linhas de orientação da prática da Psicologia.
mas também todas as outras componentes do
A noção de imputabilidade está também implícita mundo natural em que a pessoa se insere.
neste princípio, sendo que esta se refere não só
ao cliente como à comunidade em geral e, ainda, Outra dimensão da responsabilidade reside na
ao grupo profissional como um todo. Passa pela importância do desenvolvimento do conhecimen-
necessidade do profissional assumir a escolha, a to científico, como forma de aumentar o potencial
aplicação e as consequências dos métodos e téc- da intervenção psicológica, o que constituirá um
nicas que aplica, bem como dos seus pareceres, benefício para as pessoas e para a sociedade em
perante as pessoas, os grupos e a sociedade. Ain- geral.
da assume a responsabilidade pelo respeito es-
crupuloso do Código Deontológico.
18 19

Princípio E Princípios Específicos

Beneficência e Não-Maleficência 1. Consentimento Informado

Os/as psicólogos/as devem ajudar o seu cliente a promover e a proteger os seus legítimos interesses. Os/as psicólogos/as respeitam a autonomia e autodeterminação das pessoas com quem estabelecem
Não devem intervir de modo a prejudicá-lo ou a causar-lhe qualquer tipo de dano, quer por acções, relações profissionais, de acordo com o princípio geral de respeito pela sua dignidade e direitos. Desta
quer por omissão. forma, aceitam as suas opiniões e decisões, e todas as características decorrentes da sua afirmação
pessoal, desde que integradas num quadro de respeito por si próprio e pelos outros. Nesse contexto,
entende-se por consentimento informado a escolha de participação voluntária do cliente num acto
Se a Psicologia tem um espectro de actuação muito fazer o máximo esforço com vista à minimização
psicológico, após ser-lhe dada informação sobre a natureza e curso previsível desse mesmo acto, os
largo, estando presente em quase todas as activi- dos danos.
seus honorários (quando aplicável), a confidencialidade da informação dela decorrente, bem como os
dades humanas, a verdade é que deve ser assumi-
limites éticos e legais da mesma. Esse consentimento significa que é reconhecida à pessoa a capacida-
da como uma actividade ao serviço do bem-estar Os/as psicólogos/as deverão ter sempre o melhor
de de consentir, que esta foi informada apropriadamente quanto à natureza da relação profissional, e
da pessoa humana. Nesse sentido, o seu papel as- interesse do cliente como referência, procurando
que expressou o seu acordo livremente. A autonomia e autodeterminação do cliente significam, ainda,
sistencial deve estar sempre presente, consideran- ajudá-lo e nunca o prejudicar. Qualquer interven-
o seu direito geral de iniciar e de interromper ou terminar, em qualquer momento, a relação profis-
do-se os/as psicólogos/as como profissionais que ção poderá provocar, potencialmente, algum tipo
sional com o/a psicólogo/a. Do mesmo modo, o processo de obtenção do consentimento informado é
desenvolvem o seu trabalho na promoção do bem- de prejuízo à pessoa. Contudo, desde que o balan-
interpretado como instrumental na construção de uma relação de confiança com o cliente. Constitui-
-estar físico, psíquico e social de pessoas, grupos, ço entre o risco e o benefício seja positivo para o
-se, por isso, também, como uma forma de corresponder ao exposto pelo princípio da beneficência e
organizações e comunidades. Consequentemente, cliente, a intervenção é legítima. O dano a evitar
não maleficência, potenciando os resultados da intervenção psicológica.
um dos deveres prioritários será o de se preocupar será aquele que não cumprir esta equação, bem
em fazer o bem ao seu cliente e em evitar, de toda como todo o prejuízo que resultar de uma actuação
a maneira, prejudicá-lo. Deste modo, ao definir grosseira, negligente, propositadamente malévola
este princípio como um dos princípios centrais do ou não fundamentada em conhecimentos científi- 1.1. Consentimento informado. No contexto da não seja de todo possível, o processo de obtenção
exercício da Psicologia, assume-se o pressuposto cos actualizados. sua actividade, os/as psicólogos/as fornecem in- do consentimento informado prolonga-se para
de que mesmo em processos de intervenção cuja formação aos seus clientes e asseguram a sua além do primeiro momento em que se estabelece
motivação central não seja promover o interesse Tendo em conta os princípios da beneficência e compreensão. Essa informação diz respeito às a relação profissional.
das pessoas como, por exemplo, em algumas si- da não maleficência, os/as psicólogos/as podem suas acções profissionais, procedimentos e conse-
tuações da psicologia forense ou organizacional, o recusar-se a estabelecer relações profissionais quências prováveis, confidencialidade da informa- 1.3. Participação voluntária. A participação do
profissional deverá ter em atenção que as pessoas com clientes que estejam a ser assistidos simulta- ção recolhida e limites éticos e legais da mesma. cliente em actividades de avaliação e intervenção
devem estar no centro das suas inquietações. Esta neamente por um colega para o mesmo fim, sem- psicológica, consultadoria e investigação é volun-
preocupação deve ser estendida a todos os impli- pre que entenderem que tal duplicação de inter- 1.2. Processo de obtenção de consentimento tária, com excepção das situações em que a sua
cados no trabalho dos/as psicólogos/as, incluindo venções possa ser prejudicial para o cliente. Os/as informado. A clarificação e discussão das infor- autodeterminação possa ser limitada em razão da
clientes, participantes de investigação (humanos psicólogos/as obtêm o consentimento informado mações necessárias para a obtenção de consen- idade (crianças e adolescentes, em conformidade
ou animais), estudantes, estagiários ou quaisquer do cliente antes de contactar outros colegas com timento informado têm lugar no início da relação com a legislação em vigor), competências cogniti-
outras pessoas relacionadas directa ou indirecta- quem o cliente estabeleceu uma relação profissio- profissional e são retomadas de forma contínua vas, estado de saúde mental ou imposições legais.
mente com o mesmo. Quando surgem conflitos de nal, ou com quem estabeleça presentemente para sempre que se justificar, procurando optimizar Porém, o respeito devido ao cliente será sempre
interesse a este nível os/as psicólogos/as devem outros fins. o trabalho efectuado junto do cliente. Quando tal o mesmo.
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Princípios Específicos

2. Privacidade e Confidencialidade
1.4. Limites da autodeterminação. Nas situações colhida, enfatizam a importância da natureza cola-
em que a autodeterminação é limitada em razão borativa do trabalho e discutem as consequências
Os/as psicólogos/as têm a obrigação de assegurar a manutenção da privacidade e confidencialidade de
da idade, competências cognitivas, estado de saú- prováveis da intervenção para o cliente, indepen-
toda a informação a respeito do seu cliente, obtida directa ou indirectamente, incluindo a existência da
de mental ou episódio de descompensação aguda, dentemente do envolvimento de terceiros.
própria relação, e de conhecer as situações específicas em que a confidencialidade apresenta algumas
o consentimento informado é pedido ao repre-
limitações éticas ou legais.
sentante legal do cliente. Ainda assim, a ênfase é 1.7. Registo de Informação. O consentimento in-
colocada na natureza colaborativa da relação do formado é obtido de forma oral ou escrita e pos-
cliente com o/a psicólogo/a, que explica o seu pa- teriormente documentado no processo do cliente. 2.1. Informação do Cliente. No início da relação para uma melhor compreensão dessa mesma in-
pel, procura o acordo do cliente e age de forma a Em situações específicas, como o registo fotográ- profissional, e sempre que se justificar, é discutida formação.
promover os direitos e bem-estar deste. fico, áudio ou vídeo, o consentimento deve ser es- com o cliente a confidencialidade e as suas limi-
crito, explicitando, não apenas esse consentimen- tações. 2.5. Clientes Organizacionais. Quando o cliente
1.5. Situações agudas. Em situações de manifesta to, como também a posterior utilização a dar aos é uma entidade institucional ou organizacional,
urgência (ex., risco sério de suicídio ou homicídio, registos obtidos. 2.2. Privacidade dos Registos. Os/as psicólogos/ a informação sobre pessoas obtida no âmbito de
perda grave do controle dos impulsos), e na im- as recolhem e registam apenas a informação es- actividades avaliativas ou formativas é transmi-
possibilidade de obter o consentimento informa- tritamente necessária sobre o cliente, de acordo tida a quem a solicita, não excedendo aquilo que
do do cliente ou do seu representante legal, os/as com os objectivos em causa. for considerado estritamente necessário para os
psicólogos/as intervêm em tempo útil, de forma a objectivos formulados. Sempre que for possível as
assegurar o bem-estar do cliente ou de terceiros. 2.3. Utilização posterior dos registos. O cliente pessoas avaliadas devem ter conhecimento da in-
é também informado sobre o tipo de utilização formação produzida. Contudo, os limites desta in-
1.6. Imposições determinadas por um processo posterior desses registos, bem como sobre o tem- formação devem sempre ser objecto de discussão
legal. Quando prestam serviços a um cliente su- po que esse material será conservado e sob que prévia com as pessoas.
jeito a imposições determinadas por um processo condições. O arquivo, manipulação, manutenção e
legal, os/as psicólogos/as clarificam o seu papel e destruição de registos, relatórios ou quaisquer ou- 2.6. Interrupção ou conclusão da intervenção. Em
os limites da confidencialidade da informação re- tros documentos acerca do cliente são efectuados qualquer caso de interrupção ou conclusão da re-
de forma a assegurar a privacidade e confidencia- lação com o cliente, os/as psicólogos/as assegu-
lidade da informação, respeitando a legislação em ram a manutenção da privacidade da informação
vigor. No caso de morte ou incapacidade mental relativa ao cliente.
grave do/a psicólogo/a, os registos devem ser se-
lados e encaminhados para a Ordem dos Psicólo- 2.7. Autorização para divulgar informação. Os/as
gos Portugueses. psicólogos/as podem divulgar informação confi-
dencial sobre o cliente quando este, ou o seu re-
2.4. Acesso do Cliente à Informação sobre si Pró- presentante legal, der previamente o seu consen-
prio. O cliente tem direito de acesso à informação timento informado.
sobre ele próprio e a obter a assistência adequada
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Princípios Específicos

2.8. Limites da Confidencialidade. O cliente e ou- -se ao estritamente necessário para os objectivos 2.14. Situações Legais. Sempre que haja solicita-
tros com quem os/as psicólogos/as mantenham em causa. O cliente deve ter a consciência e ser ção legal para a divulgação de informação confi-
uma relação profissional (ex., entidade empre- esclarecido previamente acerca da possibilidade dencial sobre o cliente (registos, relatórios, outros
gadora, colegas, pessoal auxiliar, voluntários, desta partilha de informação dentro da equipa de documentos e/ou pareceres), é fornecida a um
serviços com quem prossigam uma articulação trabalho ou entre os diferentes serviços e profis- destinatário específico, apenas a informação rele-
interinstitucional) são informados e esclarecidos sionais. Em determinadas circunstâncias, o clien- vante para a situação em causa, tendo em conta
sobre a natureza da confidencialidade e as suas te pode recusar essa partilha de informação confi- os objectivos da mesma, podendo haver recusa de
limitações éticas e legais. dencial o que, no limite, poderá obviar a realização partilha de informação considerada não essencial.
A não manutenção da confidencialidade pode dessa mesma intervenção. O cliente é previamente informado desta situação,
justificar-se sempre que se considere existir uma bem como dos conteúdos da informação a reve-
situação de perigo para o cliente ou para terceiros 2.11. Casos especiais. Quando o cliente é uma lar, excepto em situações em que tal for mani-
que possa ameaçar de uma forma grave a sua inte- criança, adolescente ou adulto particularmente festamente impossível. Caso os/as psicólogos/as
gridade física ou psíquica — perigo de vida, perigo indefeso em razão da idade, deficiência, doença considerem que a divulgação de informação con-
de dano significativo, ou qualquer forma de maus- ou outras condições de vulnerabilidade, pode par- fidencial pode ser prejudicial para o seu cliente,
-tratos a menores de idade ou adultos particular- tilhar-se com os seus responsáveis legais apenas podem invocar o direito de escusa (de acordo com
mente indefesos, em razão de idade, deficiência, a informação estritamente necessária para que se o disposto no artigo 135.º do Código de Processo
doença ou outras condições de vulnerabilidade. possa actuar em seu benefício e em conformidade Penal).
com a legislação em vigor.
2.9. Comunicação de informação confidencial. 2.15. Defesa Legal do/a Psicólogo/a. A não ma-
A informação confidencial é transmitida apenas 2.12. Meios Informáticos. Quando serviços ou nutenção da confidencialidade pode também jus-
a quem se considerar de direito e imprescindível informação são fornecidos através de meios in- tificar-se se o/a psicólogo/a for processado pelo
para uma intervenção adequada e atempada face formáticos, o cliente é informado sobre eventuais cliente. Nessa situação, o/a psicólogo/a transmite
à situação em causa. O cliente é informado sobre riscos e limitações relativos à manutenção da pri- apenas a informação considerada estritamente
a partilha de informação confidencial antes desta vacidade e confidencialidade. necessária por forma a assegurar o seu processo
ocorrer, excepto em situações onde tal seja mani- de defesa.
festamente impossível, pretendendo minimizar-se 2.13. Situações didácticas e formativas. Em situa-
os danos que a quebra de confidencialidade pode- ções com objectivos didácticos ou outros (ensino,
rá causar na relação profissional. apresentação oral de casos clínicos ou ilustrati-
vos, publicações escritas, supervisão) é sempre
2.10. Trabalho em Equipa. Quando os/as psicólo- protegida a identidade do cliente. Se esta partilha
gos/as estão integrados numa equipa de trabalho, de informação puder, de alguma forma, suscitar a
ou em situações de articulação interdisciplinar e possibilidade de identificação do cliente por parte
ou interinstitucional, podem transmitir informa- de terceiros, os/as psicólogos/as devem assegu-
ção considerada confidencial sobre o cliente, ten- rar-se de que este dá previamente o seu consenti-
do em conta o interesse do mesmo, e restringindo- mento informado.
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Princípios Específicos

3. Relações Profissionais

O exercício da Psicologia tem uma finalidade humana e social, com objectivos que envolvem o bem-
3.7. Responsabilidade profissional. É responsa-
-estar, a saúde, a qualidade de vida e a plenitude do desenvolvimento das pessoas. Os/as psicólogos/
bilidade dos/as psicólogos/as sensibilizar outros
as não são os únicos que perseguem estes objectivos, sendo conveniente, e mesmo necessário em
colegas para a boa prática da Psicologia, incluindo
alguns casos, a colaboração com outros profissionais, sem prejuízo das competências e saberes de
o respeito pelo presente Código. Quando tomam
cada um. Os/as psicólogos/as respeitam as relações profissionais, competência específica, deveres e
conhecimento de um desrespeito grave ou reite-
responsabilidades de colegas e outros profissionais. Paralelamente, os/as psicólogos/as constituem-
rado por parte de outro colega, os/as psicólogos/
-se como primeiros responsáveis pela excelência do desempenho profissional, auxiliando os colegas
as devem: a) informar esse colega do seu desres-
na prossecução desse objectivo.
peito pelo actual Código Deontológico, e b) proce-
der a uma exposição escrita dirigida ao Conselho
Jurisdicional da Ordem dos Psicólogos Portugue-
3.1. Promover a boa prática da Psicologia. Os/as 3.4. Cooperação institucional. Os/as psicólogos/ ses, órgão competente pela análise deste tipo de
psicólogos/as prestam colaboração aos colegas, as contribuem para a realização das finalidades conteúdo. Os/as psicólogos/ as devem denunciar
salvo em caso de justificado impedimento. Não de- das organizações com as quais colaborem, desde outras pessoas que desempenhem funções para
sacreditam colegas, independentemente de estes que não sejam contrárias aos princípios gerais e as quais apenas os/as psicólogos/as estão habi-
utilizarem os mesmos ou outros modelos teóricos específicos deste Código. litados.
ou metodologias de intervenção, com validade
científica. 3.5. Integridade profissional. Os/as psicólogos/
as pautam as suas relações profissionais pela
3.2. Encaminhamento de clientes. Os/as psicólo- integridade, não desviando casos de instituição
gos/as indicam os serviços de outros colegas sem- pública para a prática privada, e não julgando ou
pre que não tenham competência ou manifestem criticando outros colegas ou outros profissionais
impossibilidade de assumir a intervenção, deven- de forma não fundamentada.
do, nesse caso, e com o consentimento informado
do cliente ou do seu representante legal, facultar 3.6. Respeito de competências. Os/as psicólogos/
os elementos necessários ao bom acompanha- as respeitam as relações profissionais, a compe-
mento do caso. tência específica, os deveres e a responsabilida-
de de outros, e limitam o seu trabalho ao âmbito
3.3. Autonomia profissional. Os/as psicólogos/as da sua competência. Ajudam os clientes a obter o
exercem a sua actividade de acordo com o prin- apoio adequado e necessário por parte de outros
cípio da independência e autonomia profissional profissionais em situações que ultrapassem o âm-
em relação a outros profissionais e autoridades bito da sua competência.
superiores.
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Princípios Específicos

4. Avaliação Psicológica

A avaliação psicológica corresponde a um processo compreensivo (abrangendo áreas relacionadas


não qualificados. Os/as psicólogos/as asseguram dos e interpretações formuladas à pessoa ou seu
com o pedido de avaliação e os problemas identificados) e diversificado (recorrendo potencialmente
a protecção e segurança dos materiais de avalia- representante legal, ou a outros profissionais ou
a vários interlocutores pode assumir distintos objectivos, reconhece diferentes tipos de informações,
ção, prevenindo a sua divulgação para o domínio instituições a quem prestam serviços de avaliação,
considera variados resultados). Pretende, igualmente, ser um processo justo (reconhecendo e não
público. estes últimos com o consentimento do cliente. O
penalizando diferenças relativas a grupos minoritários, incluindo pessoas com deficiências físicas,
cliente tem direito de acesso aos resultados da
sensoriais, linguísticas ou outras fragilidades, a menos que sejam estas variáveis a mensurar e consi-
4.6. Instrumentos. Os/as psicólogos/as utilizam avaliação, bem como informação adicional rele-
derando as consequências dos resultados). A avaliação psicológica concretiza-se através do recurso a
instrumentos de avaliação que foram objecto de vante para a sua interpretação.
protocolos válidos e deve responder a necessidades objectivas de informação, salvaguardando o res-
investigação científica prévia fundamentada, e que
peito pela privacidade da pessoa.
incluem estudos psicométricos relativos à valida- Preferencialmente, os/as psicólogos/as fazem
de e fiabilidade dos seus resultados com pessoas uma entrevista de devolução dos resultados da
de populações específicas examinadas com esses avaliação, prévia ao envio do relatório, onde expli-
4.1. Natureza da avaliação psicológica. A avaliação mado para os processos de avaliação ou diagnós- instrumentos, bem como dados actualizados e cam os dados constantes no relatório e possibili-
psicológica é um acto exclusivo da Psicologia e um tico, excepto quando estes fazem parte das acti- representativos de natureza normativa. O uso de tam ao cliente a manifestação de dúvidas e o seu
elemento distintivo da autonomia técnica dos/as vidades de rotina institucional, organizacional ou instrumentos supõe um conhecimento rigoroso esclarecimento.
psicólogos/as relativamente a outros profissionais. educacional, que correspondam a uma solicitação dos respectivos manuais, incluindo o domínio de
regulamentada na lei ou pretendam identificar a modelos teóricos subjacentes, condições de admi- 4.9. Fundamentação dos pareceres. Os/as psicó-
4.2. Competência específica. As técnicas e ins- capacidade de tomada de decisão. nistração, cotação, interpretação bem como o co- logos/as fundamentam a avaliação, as decisões
trumentos de avaliação são utilizados por psicó- nhecimento da investigação científica actualizada. relativas à intervenção ou as recomendações em
logos/as qualificados/as com base em formação 4.5. Materiais de avaliação, sua protecção e segu- dados ou resultados de testes reconhecidamente
actualizada, experiência e treino específicos, ex- rança. Os/as psicólogos/as têm a responsabilida- 4.7. Dimensões da interpretação. Na interpreta- úteis e apropriados para os objectivos gerais e es-
cepto quando tal uso é realizado, com supervisão de de seleccionar e utilizar, de modo apropriado, ção dos resultados, os/as psicólogos/as conside- pecíficos da avaliação.
apropriada, com objectivos de treino ou formação. protocolos de avaliação suficientemente válidos, ram o objectivo da avaliação, variáveis que os tes-
actualizados e fundamentados do ponto de vista tes implicam, características da pessoa avaliada 4.10. Relatórios psicológicos. Os relatórios psico-
4.3. Utilização apropriada. A utilização apropriada científico. Estes protocolos incluem entrevistas, (incluindo diferenças individuais — linguísticas, lógicos devem ser documentos escritos objectivos,
de técnicas e instrumentos de avaliação refere-se testes e outros instrumentos de avaliação psico- culturais ou outras) e situações ou contextos que rigorosos e inteligíveis para o(s) destinatário(s),
à administração, cotação, interpretação (incluindo lógica que são utilizados para justificar formula- podem reduzir a objectividade ou influenciar os juí- procurando introduzir apenas informação relevan-
o recurso a programas informáticos) e usos da in- ções e conclusões incluídas em avaliações, diag- zos formulados. te que permita dar resposta às questões e pedi-
formação obtida, e requer investigação e evidência nósticos, relatórios, pareceres, recomendações e dos de avaliação considerados pertinentes. Os/as
de utilidade. outros tipos de comunicação. Os materiais e pro- 4.8. Comunicação dos resultados. Os/as psicó- psicólogos/as devem ponderar as consequências
tocolos de avaliação, incluindo manuais, itens, e logos/as proporcionam explicações objectivas das informações disponibilizadas nos relatórios
4.4. Consentimento informado para a avaliação. sistemas de cotação e interpretação, não são dis- acerca da natureza e finalidades da avaliação, psicológicos, considerar criticamente o carácter
Os/as psicólogos/as obtêm consentimento infor- ponibilizados aos clientes ou a outros profissionais bem como dos limites dos instrumentos, resulta- relativo das avaliações e interpretações, e especi-
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Princípios Específicos

5. Prática e Intervenção Psicológicas

Para além dos métodos e técnicas utilizados, a prática e intervenção psicológicas têm em conta os
ficar o alcance, limites e grau de certeza dos con-
vários modelos teóricos disponíveis e os vários princípios associados a um exercício cientificamen-
teúdos comunicados. Os relatórios incluem como
te informado, rigoroso e responsável da Psicologia, nomeadamente, princípios como a beneficência e
elemento de identificação o nome do psicólogo e o
não-maleficência ou a competência específica. A prática e intervenção psicológicas concretizam –se
número da cédula profissional.
salvaguardando ainda o respeito pelas diferenças individuais e o consentimento informado.

4.11. Relações profissionais. Se o cliente pre-


tender uma segunda opinião por parte de outro/a
psicólogo/a, dados mais completos de avaliação 5.1. Evidência científica. Os/as psicólogos/as desen- formando sobre eventuais opções de intervenção
poderão ser directamente enviados a este último, volvem actividades baseadas no conhecimento cien- alternativas consideradas adequadas.
para evitar interpretações incorrectas por parte do tífico válido e procuram manter e actualizar a sua
cliente e assegurar a segurança e integridade dos competência ao longo do seu percurso profissional. 5.5. Não discriminação. Os/as psicólogos/as não
materiais de avaliação. discriminam os seus clientes em razão de qual-
5.2. Formação. Os/as psicólogos/as exercem a sua quer tipo de factor ou condição.
prática e intervenção profissional dentro dos limi-
tes da sua competência específica, com base na sua 5.6. Minorias culturais. Quando desenvolvem uma
formação académica e/ou profissional, treino es- prática dirigida a populações minoritárias, os/as
pecífico, experiência de supervisão, consultadoria, psicólogos/as procuram obter conhecimento pro-
e/ou actividades de desenvolvimento profissional. fissional e científico relevante para intervir de for-
ma ética e eficaz, adequando as suas intervenções
5.3. Consentimento informado na prática e inter- a factores conhecidos associados à idade, sexo,
venção. Em todas as áreas de prática ou interven- orientação sexual, identidade de género, etnia,
ção psicológica, os/as psicólogos/as obtêm o con- origem cultural, nacionalidade, religião, língua,
sentimento informado no início da sua actividade nível sócio-económico, capacidade ou outros.
profissional com o cliente.
5.7. Conflitos de interesse. Os/as psicólogos/as
5.4. Preocupações de isenção e objectividade na devem prevenir e evitar eventuais conflitos de in-
intervenção. Os/as psicólogos/as devem ter cons- teresse.
ciência da importância das suas características
individuais para o processo de intervenção, pelo 5.8. Relações múltiplas. Os/as psicólogos/as não
que procuram assegurar a maior isenção e objec- devem estabelecer uma relação profissional com
tividade possíveis explicitando junto do cliente as quem mantenham ou tenham mantido uma rela-
limitações inerentes a esse mesmo processo, in- ção prévia de outra natureza. Do mesmo modo,
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Princípios Específicos

não devem desenvolver outro tipo de relações com 5.13. Honorários. São fixados de forma a repre- 6. Ensino, Formação e Supervisão Psicológicas
os seus clientes ou com pessoas próximas dos sentar uma justa retribuição pelos serviços pres-
seus clientes. Em qualquer circunstância a rela- tados e discutidos com o cliente antes do estabe-
O ensino, formação e supervisão em Psicologia respeitam as regras do presente Código Deontológico.
ção profissional deve ser salvaguardada em rela- lecimento da relação profissional. A definição de
Este Código deve ser objecto de ampla difusão nos diferentes contextos e graus de ensino da Psicologia.
ção a qualquer outra entretanto estabelecida, sen- honorários por quaisquer outros serviços comple-
do os/as psicólogos/as responsáveis por qualquer mentares ao processo de intervenção (ex., des-
prejuízo que possa vir a ocorrer nesse contexto. locações, elaboração de relatórios ou pareceres) 6.1. Ensino da Psicologia. O ensino da Psicologia amplo de responsabilidade social.
deve ser feita de forma igualmente justa e acorda- deve ser programado de forma a reflectir uma for-
5.9. Relações românticas ou sexuais. Os/as psicó- da previamente com o cliente. Os/as psicólogos/ mulação actual e representativa das matérias, com 6.6. Consentimento informado. Os supervisores/
logos/as não se envolvem em relações românticas as devem recusar ofertas por parte dos clientes, referência a críticas fundamentadas. orientadores deverão estabelecer um processo de
ou sexuais com os clientes. excepto as de reduzido valor (monetário) e em mo- consentimento informado com os supervisandos/
mentos apropriados, quando tal recusa seja pena- 6.2. Programas. Os programas de ensino, formação orientandos com o objectivo de definir previamen-
5.10. Publicitação profissional. A publicitação de lizadora da intervenção. e supervisão apresentam conteúdos, objectivos e re- te as responsabilidades de cada um, bem como os
serviços é feita com exactidão e rigor e restringe- quisitos de admissibilidade e avaliação bem definidos. objectivos a alcançar.
-se à divulgação de informação, como os tipos de 5.14. Conclusão da intervenção. Equaciona-se a
intervenção e os títulos de que o/a psicólogo/a é conclusão da intervenção quando alcançados os 6.3. Especialização e actualização. Os/as psicólo- 6.7. Relações múltiplas. Os docentes, formadores,
detentor/a. objectivos propostos, em casos de ineficácia da gos/as reconhecem a necessidade de formação es- supervisores ou orientadores não se envolvem em
intervenção, ou ainda quando se observa qualquer pecializada e mantêm-se informados sobre os de- relações românticas ou sexuais com os estudantes,
5.11. Instalações. Os/as psicólogos/as desenvol- tipo de constrangimento à prossecução dos mes- senvolvimentos científicos e profissionais das suas formandos, supervisandos ou estagiários com os
vem a sua prática profissional em instalações ade- mos, incluindo situações de ameaça por parte dos áreas de trabalho. quais possam ser uma autoridade em termos ava-
quadas que garantam o respeito pela privacidade clientes. Estas situações devem ser abordadas liativos. Do mesmo modo, devem evitar outro tipo
do cliente e permitam a utilização dos meios con- com o cliente, podendo este ser referenciado a ou- 6.4. Supervisão. Os/as psicólogos/as reconhecem de relações que possam diminuir a objectividade do
siderados necessários. tro profissional que possa continuar o processo de que a supervisão é uma actividade psicológica es- processo de avaliação.
intervenção de uma forma adequada. pecializada, ela própria fundamentada em conhe-
5.12. Intervenção à distância. Os/as psicólogos/ cimento teórico e empírico. Neste sentido, requer 6.8. Aplicação do Código Deontológico. Os docen-
as devem estar conscientes das limitações e di- formação e responsabilidade pela actualização re- tes, formadores, supervisores e orientadores pug-
ficuldades deste tipo de intervenção (ex., telefone, lativa a conhecimentos científicos, princípios éticos, nam pela aplicação do presente Código Deontoló-
internet, entre outros) e discutir previamente as legislação, e outros documentos relevantes para a gico pelos estudantes, formandos, supervisandos
mesmas com os seus clientes. Neste contexto, promoção da qualidade da actividade de supervisão. e orientandos no exercício das suas competências.
a responsabilidade dos/as psicólogos/as é igual
como em qualquer outro tipo de intervenção. 6.5. Responsabilidade na supervisão. Os super- 6.9. Reflexão sobre questões éticas. Devem ser
visores partilham a responsabilidade com o su- proporcionadas aos estudantes e profissionais, no
pervisando pelo bem-estar dos clientes e pela seu processo de aprendizagem, formação e su-
privacidade e confidencialidade da informação. Os pervisão, condições para uma reflexão sobre as
supervisores devem exercer a responsabilidade de questões éticas associadas à prática profissional e
avaliação do supervisando, bem como o papel mais investigação em Psicologia.
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Princípios Específicos

7. Investigação

No contexto da investigação científica pode acontecer que o desejo legítimo de querer saber mais e
autodeterminação ser limitada. Nestes casos, os oportunidade de obter informação apropriada
de aumentar os conhecimentos entrem em conflito com valores humanos e sociais também eles le-
investigadores obtêm consentimento de outros sobre os objectivos, resultados e conclusões da
gítimos. Isto é especialmente pertinente uma vez que são os/as psicólogos/as que procuram o parti-
que assegurem os seus direitos, nomeadamente investigação. Esta fase pós-investigação serve
cipante, pelo que o respeito pela autonomia se assume como o princípio central. Os/as psicólogos/as,
os seus representantes legais. Todavia, a manifes- também para monitorizar e corrigir eventuais
enquanto investigadores, têm em conta o princípio geral da beneficência e não-maleficência, que os
tação de recusa por parte do participante pode ser efeitos adversos não antecipados subjacentes
levam a colocar em primeiro lugar o bem-estar dos participantes nas investigações, e o princípio geral
impeditiva da sua participação. à realização da investigação. A existência de um
da responsabilidade social no sentido da produção e comunicação de conhecimento científico válido e
esclarecimento pós–investigação não serve de
susceptível de melhorar o bem-estar das pessoas. Daqui decorrem duas áreas de princípios específi-
7.6. Anonimato e confidencialidade de dados re- justificação para danos causados durante a inves-
cos relativos ao tratamento dos participantes em investigações científicas e à conduta profissional do
colhidos. Aos investigadores são exigidos os mes- tigação, nomeadamente para danos previsíveis de
investigador que a seguir se detalham.
mos deveres de confidencialidade e anonimato dos uma avaliação preliminar. O esclarecimento pós-
dados recolhidos de outras áreas da prática psi- -investigação é obrigatório quando o engano fizer
7.1. Não causar danos. Os investigadores assegu- gação. Para este efeito, os investigadores obtêm cológica. No contexto de investigação só se reco- parte do procedimento.
ram que as suas investigações, com tudo aquilo consentimento dos seus participantes. Em con- lhem os dados pessoais estritamente necessários
que comportam, não causam danos físicos e/ou texto académico em que a participação em in- à realização das investigações e os mesmos são 7.9. Investigação com animais. Na investigação
psicológicos aos participantes nas mesmas. vestigações constitui muitas vezes requisito de mantidos confidenciais. A informação que identi- com animais os investigadores asseguram que o
frequência ou elemento de avaliação, devem ser fique de forma única os participantes é mantida seu tratamento durante a investigação é realiza-
7.2. Avaliação de potenciais riscos. Os investi- apresentadas alternativas à participação. Qual- apenas enquanto for necessária, tornando –se o do de modo a proporcionar-lhes condições de vida
gadores avaliam os potenciais riscos para o par- quer compensação, monetária ou outra, não pode mais rapidamente possível em dados anónimos. adequadas e a evitar serem submetidos a sofri-
ticipante antes de decidir pela realização de uma constituir um estímulo que leve o participante a Eventuais limitações à confidencialidade regem- mento desnecessário.
investigação. Os investigadores procuram identi- ignorar riscos eventuais da sua participação. -se pelos mesmos princípios específicos relativos
ficar potenciais riscos para a saúde, bem-estar, a outras áreas da prática psicológica. 7.10. Integridade científica. Os investigadores
valores ou dignidade do participante e eliminá-los 7.4. Participação informada. Os investigadores procuram assegurar que as suas investigações,
ou minimizá-los. Sempre que uma avaliação pre- fornecem aos participantes a informação necessá- 7.7. Uso do engano em investigação. Dados os com tudo aquilo que comportam, são realizadas
liminar das consequências da investigação leve a ria sobre a investigação que permita aos mesmos riscos potenciais acrescidos deste procedimento de acordo com os princípios mais elevados de in-
esperar que dela possam advir danos físicos e/ou uma decisão informada quanto aos potenciais ris- para os participantes, o engano em investigação tegridade científica.
psicológicos para os participantes, a sua realiza- cos e benefícios de participar e quanto às caracte- é utilizado apenas quando tem justificação signi-
ção, ou não, deve ser devidamente considerada. rísticas gerais da sua participação. ficativa e fundamentada cientificamente e quando 7.11. Apresentação de resultados verdadeiros.
Potenciais riscos e benefícios são comunicados outras alternativas que não envolvem engano não Os investigadores não fabricam resultados, in-
adequadamente aos participantes. 7.5. Capacidade de consentimento. Especial podem ser utilizadas para o mesmo objectivo. cluindo invenção, manipulação ou apresentação
atenção deve ser dada aos casos em que os par- selectiva de resultados e corrigem publicamente
7.3. Participação voluntária. Ninguém pode ser ticipantes não têm capacidade para dar consenti- 7.8. Esclarecimento pós-investigação. Em todas erros encontrados.
obrigado ou coagido a participar numa investi- mento informado e voluntário pelo facto de a sua as investigações oferece-se aos participantes a
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Princípios Específicos

8. Declarações Públicas

As declarações públicas prestadas nos mais diversos âmbitos, incluindo programas de rádio e televi-
7.12. Comunicação de resultados das investi-
são, artigos em jornais ou revistas, conferências e internet, devem pautar-se no mais estrito respeito
gações de forma adequada para a comunidade
das regras deontológicas da profissão. Na difusão pública dos conhecimentos da Psicologia devem ser
científica e o público em geral. Os/as psicólogos/
considerados os princípios da competência específica, privacidade e confidencialidade, respeito pela
as reconhecem a importância de divulgação e par-
dignidade da pessoa, integridade, beneficência e não-maleficência.
tilha das investigações realizadas junto dos seus
pares e da comunidade em geral. Os investigado-
res não fazem afirmações públicas que são falsas
ou fraudulentas e minimizam a possibilidade de 8.1. Rigor. Quando fazem declarações públicas, 8.3. Responsabilidade. Os/as psicólogos/as reco-
interpretações erradas dos resultados obtidos, nas suas diversas formas — verbais ou escritas nhecem o impacto das suas declarações junto do
corrigindo publicamente erros ou interpretações — utilizando os media ou outras formas de di- público, em função da credibilidade da ciência que
erradas. vulgação, os/as psicólogos/as devem observar o representam. Este facto aumenta a sua responsa-
princípio do rigor e da independência, abstendo- bilidade em relação às suas afirmações, uma vez
7.13. Crédito autoral de ideias e trabalho nos ter- -se de fazer declarações falsas ou sem fundamen- que os/as psicólogos/as representam uma classe
mos devidos. Os investigadores não apresentam tação científica. Devem relatar os factos de forma profissional.
partes de trabalhos ou ideias de outros autores criteriosa com base em fundamentação científica
como suas e, por outro lado, apenas dão crédito au- adequada, utilizando o direito de rectificação, sem 8.4. Casos particulares. Quando solicitados a co-
toral em trabalhos publicados a todos aqueles que suprimir as posições críticas e permitindo a exis- mentar publicamente casos particulares, os/as
realmente os realizaram de forma significativa. tência do contraditório. psicólogos/as pronunciam-se sobre os problemas
psicológicos em questão mas não sobre os casos
7.14. Responsabilidade por equipas de inves- 8.2. Competência e Especificidade. Os/as psicó- em específico.
tigação. Os investigadores não só cumprem logos/as limitam as suas declarações públicas
estas regras mas asseguram a sua transmis- apenas a temas para os quais têm formação e ex-
são e cumprimento a todos que com eles co- periência específicas.
laborem e ou estejam sob a sua supervisão.
PARA MAIS INFORMAÇÕES
www.ordemdospsicologos.pt

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