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EXPERIMENTAÇÃO NO ENSINO DE QUÍMICA

A seção “Experimentação no ensino de química” descreve determinados qualitativa e quantitati-


experimentos cuja implementação e interpretação contribuem para a vamente.
construção de conceitos químicos por parte dos alunos. Os Se possuirmos uma amostra que
materiais e reagentes utilizados são facilmente encontráveis, contenha limalha de ferro e areia,
permitindo a realização dos experimentos em qualquer escola. poderemos facilmente separá-la usando
Neste número são apresentadas quatro experiências que propõem um imã. Também não há problemas em
diferentes técnicas cromatográficas para que os alunos e alunas separar acetona (p.e. 58 ºC) da água
possam observar a variedade de pigmentos que compõem vegetais (p.e. 100 ºC) por destilação fracionada.
e tintas de escrever. Duas delas utilizam giz, uma areia e mármore e Por outro lado, é muito difícil separar os
outra papel como ‘fases estacionárias’. componentes do ar líquido por destila-
ção fracionada, porque o oxigênio
líquido tem ponto de ebulição de -183 ºC
Cromatografia em giz no ensino de e o nitogênio líquido de -196 ºC. Os
pontos de ebulição dos gases nobres
química: didática e economia estão muito próximos a esses valores.
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Rosiléia Paloschi Em química e biologia, muitas


Mára Zeni vezes é necessário separar, purificar e
Raúl Riveros identificar os componentes de misturas
muito mais complexas do que as
Este artigo relata uma sugestão para visualização, por alunos do citadas anteriormente. Por exemplo, a
ensino médio, de um método de separação de substâncias identificação dos componentes indivi-
complexas por meio de uma demonstração simples e de fácil duais de uma mistura de aminoácidos
acesso. A fundamentação teórica envolvida também merece especial de uma proteína é quase impossível
atenção. por um método como a cristalização
cromatografia de adsorção, giz, ensino de química fracionada, devido às semelhanças
nas propriedades físicas e químicas
dos componentes. Já por meio de cro-

E
ntre os métodos modernos de pode ser empregado para substân- matografia, é possível obter uma
análise, a cromatografia ocupa cias incolores. Sua utilização é muito excelente separação.
um lugar de destaque devido ampla, especialmente em processos Praticamente não há campo da quí-
a sua eficiência para efetuar a sepa- de separação, identificação, prepa- mica e da biologia em que não se use
ração, a identificação e a quantificação ração e dosagem de substâncias a cromatografia de alguma forma. A
das espécies químicas, isoladamente químicas. Por exemplo, pode-se cro- análise por cromatografia de papel é
ou em conjunto com outras técnicas matografar a urina de um cavalo para usada em medicina (na detecção de
instrumentais de análise, como por saber se ele estava dopado ou não venenos), em exames de tecidos
exemplo a espectrofotometria ou a quando ganhou uma corrida, ou biológicos e seus processos químicos
espectrometria de massas. ainda isolar de um vegetal uma certa relacionados e nos estudos estruturais
Desde o experimento de Tswett em substância de interesse farmaco- de moléculas complexas, tais como
1906 (Ver artigo à pág. 21 desta lógico. hidratos de carbono, proteínas e fenóis
edição) até as modernas placas complexos de plantas. A cromatografia
preparadas, a cromatografia passou A cromatografia de adsorção é tão importante na química orgânica
por grande aprimoramento. A cromatografia de adsorção pode como na química inorgânica. Foi o
Apesar do significado da palavra ser comparada aos raios de luz em um método empregado para a separação
cromatografia (crom = cor; graphie espectro, em que se separam os di- dos produtos obtidos na fissão nuclear
= escrita), esse processo de separa- versos componentes de uma mistura antes do desenvolvimento das resinas
ção de misturas complexas também de pigmentos, podendo então ser de intercâmbio iônico.

QUÍMICA NOVA NA ESCOLA Experimentos cromatográficos N° 7, MAIO 1998


A cromatografia de adsorção é um ou revelador, que é um agente físico álcool, a fase móvel.
procedimento no qual uma solução de (como luz ultravioleta ou radioatividade) Com experimentos desse tipo, é
substâncias a separar se desloca ou químico (como vapores de iodo) que possível despertar o interesse e a moti-
numa direção predeterminada por uma tornam visíveis essas substâncias. Os vação para a análise crítica dos resulta-
disposição de aparatos, por meio de métodos físicos têm a vantagem de que dos, compensando dificuldades tão
uma fase sólida, insolúvel, inorgânica a substância não sofre transformações freqüentemente citadas pelos alunos
ou orgânica, sendo os componentes e pode-se recuperá-la e estudá-la me- em relação ao aprendizado de química
retidos em medida individualmente lhor. e reforçando conceitos importantes.
distinta. Em geral, na cromatografia de Nos estudos de química do ensino
Glossário
adsorção empregam-se como adsor- fundamental e médio, é possível de-
ventes óxidos, óxidos hidratados ou monstrar com facilidade esse proces- Dissolvente: substância ou mistura
sais. so de separação de misturas comple- de substâncias que constituem a fase
A mistura de substâncias atravessa xas que é a cromatografia de adsor- móvel na cromatografia. Em geral, em-
a fase sólida, finamente dividida, sen- ção. Utilizando materiais simples e de pregam-se líquidos com alta pressão
do que cada componente da mistura fácil acesso, os alunos podem visua- de vapor.
percorre uma distância por ser menos lizar a técnica e relacioná-la com a Rf (fator de retenção): relação ou
ou mais retido na superfície do sólido. teoria. quociente das distâncias percorridas
A escolha do dissolvente baseia-se, simultaneamente desde a origem até
em geral, no fato de que as substân- Material o centro da mancha de uma substân-
cia e até o máximo percorrido pelo
cias em questão podem eluir-se bem Giz
dissolvente.
com os mesmos solventes ou misturas Canetas hidrocor de várias cores
Origem: Zona onde se aplica a
de solventes que as dissolvem bem. Batom
amostra como círculo ou línea na
Se o dissolvente e o soluto movem- Copo
dissolução da mescla que se vai
se ao mesmo tempo, pode-se expres- Álcool comum
separar.
sar a relação entre as distâncias per- Adsorção: Concentração na super-
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corridas por cada um através da fície de um sólido das partículas de
fórmula: Em uma barra de giz escolar
uma substância em dissolução.
branco (sulfato de cálcio — CaSO4),
Rf = Distância percorrida pelo soluto Eluente: Dissolvente polar usado
são traçadas com caneta hidrocor
Distância percorrida pelo eluente em cromatografia para extrair as subs-
listras, que circundem a barra, a cerca
tâncias separadas.
Este método é muito usado na de 1,5 cm da base. Como eluente, em
cromatografia em papel, representada um copo, coloca-se álcool comercial, Rosiléia Paloschi é aluna do curso de engenharia
na Fig. 1. até 1 cm da base. Após alguns minu- química da Universidade de Caxias do Sul. E-mail:
tos, o giz é posto dentro do copo, com rspalosc@ucs.tche.br. Mára Zeni, doutora em quí-
A distância percorrida pelo soluto
mica, é professora do Departamento de Física e
em um certo tempo é medida desde cuidado para que o eluente não toque Química da Universidade de Caxias do Sul. E-mail:
seu ponto de aplicação até o centro a listra pintada, e coberto com uma mzandrad@ucs. tche.br. Raúl Riveros, doutor em
de sua zona de distribuição, enquanto tampa de vidro. O giz deve ficar na química, é professor do Departamento de Física e
posição vertical. Química da Universidade de Caxias do Sul.
para o dissolvente se mede até o
extremo máximo de seu caminho À medida que o eluente é adsor-
percorrido. vido, pode ser observada a separação Para saber mais
Quando não é possível visualizar as da cor inicial em outras cores, dispos-
ABBOTT, D., ANDREWS, R.S. Intro-
substâncias separadas por cromatogra- tas em faixas circulares no decorrer da
ducción a la cromatografía. Espanha:
fia, adiciona-se um agente cromógeno barra de giz. É interessante realizar o
Editorial Alhambra, 1973.
experimento com canetas de várias CIOLA, R. Fundamentos da cromato-
cores. Por exemplo, com um giz pin- grafia a gás. São Paulo: Ed. Edgard
tado com a cor verde, pode-se visua- Blucher, 1985.
Ponto de aplicação
x lizar duas faixas, amarela e azul. A cor COLLINS, C.H., BRAGA, G.L. Intro-
Rf = a preta fornece um resultado excelente, dução a métodos cromatográficos.
b com a separação em diversas cores. Campinas: Editora da Unicamp, 1987.
a O professor pode também motivar os DOMÍNGUEZ, X.A. Cromatografia en
alunos a testar outros materiais colori- papel y en capa delgada. Monterrey,
dos (batom etc.), sempre procurando México: Ed. Copyright, 1975.
b
utilizar um solvente adequado. MOREIRA, C.A.; HAGOPIAN,E.G.;
centro da
mancha AUGUSTO, A.L. Merck (ed.). Cromato-
extremo A cromatografia em giz pode ser
grafia. Ed. Merck (s.d.).
máximo do classificada como cromatografia líqui- RANDERATH, K. Cromatografía de ca-
dissolvente do–sólido ou de adsorção. O giz repre- pa Fina. Bilbao, Espanha: Ed. Urmo, 1978.
Figura 1. Cálculo do fator de retenção Rf. senta a fase estacionária, enquanto o

QUÍMICA NOVA NA ESCOLA Experimentos cromatográficos N° 7, MAIO 1998

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