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urgências e emergências
da
Faculdade de Medicina de
Botucatu
– UNESP –
Pró-Reitoria de Graduação
Chefes de Departamento
Oftalmologia, Otorrinolaringologia e
Cirurgia de Cabeça e Pescoço Silke Anna Theresa Weber
2
C o n d u t a s e m U r g ê n c i a s e E m e r g ê n c i a s
APRESENTAÇÃO
3
Faculdade de Medicina de Botucatu —UNESP
Editoras
Drª Regina Helena Garcia Martins
Drª Silvana Artioli Schellini
Edição e Produção
CDD 616.025
Os autores e a Faculdade de Medicina da Unesp – Campus de Botucatu, empenharam-se em citar adequadamente e dar os devidos créditos aos detentores de direitos
autorais ao material utilizado neste livro e dispõem-se a proceder aos reparos necessários, caso, algum deles tenha sido, involuntária ou inadvertidamente, omitido.
Os autores e editores deste livro empenharam-se em fornecer informações atualizadas e aceitas à época da publicação, sobre indicação de drogas, especificação e
uso de equipamentos e dispositivos. Entretanto, em virtude de constante evolução das ciências da saúde, modificações em equipamentos e alterações de regulamen-
tações governamentais, recomendamos que os leitores revejam e avaliem a legislação regulamentadora, as informações contidas em bulas ou instruções de drogas,
equipamentos e dispositivos para, entre outras coisas, certificarem-se sobre alterações em instruções e indicações de dosagem, bem como, para eventuais cuidados
e precauções adicionais.
Nenhuma parte desta publicação pode ser utilizada, reproduzida, apropriada ou armazenada em sistema de bancos de dados, em quaisquer formas ou meios (eletrô-
nico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição, pela Internet ou outros) sem expressa autorização da Faculdade de Medicina da Unesp – Campus de Botucatu.
A responsabilidade civil e criminal, perante terceiros e perante a Faculdade de Medicina da Unesp – Campus de Botucatu, sobre o conteúdo total desta publicação,
incluindo as ilustrações e autorizações /créditos correspondentes, é do(s) autor(es) da (s) mesma (s).
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C o n d u t a s e m U r g ê n c i a s e E m e r g ê n c i a s
AGRADECIMENTO
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condutas em
urgências e emergências
da
Faculdade de Medicina de Botucatu
– UNESP –
Volume 1
ADULTO
Editoras
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C o n d u t a s e m U r g ê n c i a s e E m e r g ê n c i a s
SUMÁRIO
Anestesiologia | 17
Intoxicação por anestésicos locais | 19
Intubação orotraqueal | 25
O tratamento da dor na sala de emergência | 30
Sedação em Pediatria | 40
Sedação na terapia intensiva | 48
Cirurgia Torácica | 53
Estenose traqueal | 55
Corpo estranho em árvore traqueobrônquica | 62
Hemoptise maciça | 71
Derrames pleurais benignos e malignos | 78
Conduta nos principais tipos de derrame pleural | 91
Empiema pleural | 98
Pneumotórax | 106
Hemotórax | 114
Contusão torácica | 120
Ferimentos penetrantes do tórax | 128
Perfuração esofágica | 138
Síndrome da veia cava superior | 146
9
Faculdade de Medicina de Botucatu —UNESP
Endocrinologia | 293
Apoplexia de tumor hipofisário | 295
Cetoacidose diabética | 299
Coma mixedematoso | 305
Crise adrenal | 308
Crise tireotóxica | 310
Estado hiperglicêmico hiperosmolar | 313
Emergência hipertensiva no feocromocitoma | 320
Hipoglicemia na terapia do diabetes | 322
Gota | 327
Gastroenterologia | 331
Diarreia aguda | 333
Encefalopatia hepática | 338
Hemorragia digestiva alta – definição e abordagem inicial | 341
Hemorragia digestiva alta – terapêutica específica
na hemorragia varicosa e não varicosa | 345
Hepatite alcoólica | 350
Manejo da ascite no pronto-socorro | 354
Pancreatite aguda | 359
Paracentese | 365
Peritonite bacteriana espontânea | 368
Síndrome hepatorrenal | 373
Geriatria | 379
Confusão mental e alterações comportamentais em idosos | 381
Cuidados paliativos em um serviço de urgência e emergência | 387
Infecção do idoso | 395
Síncope e pré-síncope no idoso | 402
Sintomas comportamentais e psicológicos em pacientes com demência | 407
Tontura em idosos | 412
Úlcera por pressão | 420
10
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Hematologia | 425
Emergências oncológicas de origem metabólica: reconhecimento,
diagnóstico e tratamento | 427
Neutropenia febril | 434
Situações emergenciais nos pacientes com doença falciforme | 439
Transfusão em Medicina de Urgência | 448
Tumores do mediastino | 458
Nefrologia | 521
Emergências e urgências hipertensivas | 523
Lesão renal aguda | 529
Pneumologia | 535
Asma | 537
Doença pulmonar obstrutiva crônica | 543
Insuficiência respiratória aguda | 549
Pneumonia adquirida na comunidade | 555
Tromboembolia pulmonar aguda: diagnóstico e tratamento clínico | 560
Dermatologia | 569
Agravos ambientais | 571
Dermatoses bolhosas | 577
Efeitos adversos da criocirurgia e procedimentos | 581
Efeitos adversos da utilização de
imunomoduladores biológicos e não biológicos | 585
Efeitos adversos de procedimentos cirúrgicos dermatológicos | 588
Identificação de emergências causadas por animais e plantas | 594
Infecções bacterianas agudas | 598
Loxoscelismo cutâneo | 605
Reações cutâneas desencadeadas por fármacos | 607
Síndrome de Stevens-Johnson e necrólise epidérmica tóxica | 612
Urticária e angioedema | 616
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Faculdade de Medicina de Botucatu —UNESP
Gastrocirurgia | 621
Abdome agudo obstrutivo | 623
Abdome agudo perfurativo | 630
Apendicite aguda | 634
Avaliação inicial no trauma | 638
Colecistite aguda | 644
Diverticulite aguda | 648
Neoplasia colorretal obstrutiva | 652
Pancreatite aguda biliar e colangite | 658
Colangite | 662
Trauma abdominal fechado | 666
Trauma abdominal penetrante | 670
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Oftalmologia | 857
Glaucoma agudo | 859
Trauma ocular contuso | 863
Trauma ocular perfurante | 868
Trauma da pálpebra e via lacrimal | 870
Endoftalmite pós-operatória | 873
Endoftalmite pós-trauma | 875
Blebite | 876
Endoftalmite | 879
Afecções agudas de córnea e conjuntiva | 880
Conjuntivites infecciosas | 884
Ceratites infecciosas | 889
Celulite orbitária | 896
Afecções agudas das vias lacrimais excretoras | 898
Uveítes agudas | 901
Perda súbita da visão | 904
Descolamento da retina | 908
Estrabismo paralítico | 910
Otorrinolaringologia | 961
Corpo estranho em otorrinolaringologia | 963
Epistaxe | 967
Faringotonsilites agudas | 973
Otite média aguda | 978
Paralisia facial periférica | 986
Rinossinusites agudas e suas complicações | 995
Surdez súbita | 999
Traqueotomia | 1003
Trauma do pavilhão auricular, canal auditivo externo e orelha média | 1010
Traumatismo do pescoço | 1015
Vertigem aguda | 1025
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Faculdade de Medicina de Botucatu —UNESP
Plástica | 1031
Fraturas de face | 1033
Atendimento inicial ao paciente queimado | 1042
Psiquiatria | 1053
Agitação psicomotora | 1055
Detecção e manejo do risco de suicídio | 1061
Emergências psiquiátricas relacionadas ao uso excessivo
ou dependência de álcool e outras drogas I | 1067
Emergências psiquiátricas relacionadas ao uso excessivo
ou dependência de álcool e outras drogas II | 1072
Emergências psiquiátricas na gestação e puerpério | 1077
Reações adversas aos psicotrópicos | 1081
Transtornos ansiosos e transtornos dissociativo-conversivos | 1086
Transtornos de humor | 1092
Transtornos psicóticos | 1097
Urologia | 1103
Cólica renal e obstrução ureteral | 1105
Escroto agudo | 1108
Infecção do trato urinário | 1114
Parafimose | 1119
Pionefrose, abscesso renal e abscesso perinefrético | 1121
Priapismo | 1125
Retenção urinária aguda | 1127
Traumatismo genital | 1131
Trauma renal | 1135
Trauma uretral | 1140
Trauma vesical | 1145
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condutas em
urgências e emergências
da
Faculdade de Medicina de Botucatu
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Volume 1
ADULTO
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Anestesiologia
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ANESTESIOLOGIA F a c u l d a d e d e M e d i c i n a d e B o t u c a t u —UNESP—
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F a c u l d a d e d e M e d i c i n a d e B o t u c a t u —UNESP—
tempo na corrente circulatória. A hipercarbia, de- dose dependente, mas também potência depen-
vido a sua propriedade vasodilatadora, aumenta dente. Portanto, a bupivacaína e a etidocaína
a captação cerebral do anestésico local. O dió- são depressoras cardíacas mais potentes que a
xido de carbono, ao diminuir o pH intracelular, lidocaína e ropivacaína. Este efeito inotrópico
também aumenta a forma catiônica do anestési- negativo deve-se, em parte, à lenta liberação
co local. A acidose também diminui a capacida- dos anestésicos locais dos canais de sódio e, em
de de ligação proteica dos anestésicos locais e, parte, à ligação com os canais de cálcio.
desta forma, aumenta a fração livre dos mesmos. Quanto mais moléculas de anestésico local
No estado alcalótico existe maior quanti- ocuparem os miócitos, menos eficiente será a
dade de base, que possui grande poder de di- contração. Normalmente, a lidocaína, na dose
fusibilidade, atingindo rapidamente o espaço sanguínea de 0,5mg.ml-1, deprime a força con-
extracelular e os depósitos gordurosos, dimi- trátil do átrio de coelhos em 6%, enquanto que
nuindo, assim, os níveis sanguíneos do anes- a bupivacaína, na dose de 0,5mg.ml-1, deprime
tésico local; estes fatos devem ser lembrados em 70%.
quando se iniciar o tratamento de crise convul- A ropivacaína apresenta potencial car-
siva causada por anestésico local. diotóxico intermediário entre a lidocaína e a
bupivacaína.
20
C o n d u t a s e m U r g ê n c i a s e E m e r g ê n c i a s
Quadro 3: Dissociação dos anestésicos locais ção simultânea de dois agentes anestési-
dos canais de sódio do coração
cos locais resulta em toxicidade aditiva
Constante de tempo de e, por isso, a dose de cada um dos anes-
A. L.
recuperação (s)
tésicos locais deve ser reduzida;
Lidocaína 10 uM 0,2
• uso de vasoconstritores – a adrenali-
Ropivacaína uµM 1,4
na retarda a absorção sistêmica da maio-
Bupivacaína uµM 2,1
ria dos anestésicos locais; considerar as
Segundo De Jong, 1994.
situações em que não deve ser emprega-
A bupivacaína, quando comparada à da ou deve ser empregada com cautela;
ropivacaína, causa maior número de disrit- • velocidade de injeção e volume in-
mias cardíacas. Ambos os anestésicos locais jetado – injeção rápida de determinado
alargam o QRS, mas a dose necessária de volume de anestésico local aumenta o
ropivacaína para induzir disritmias é aproxi- nível plasmático mais rapidamente do
madamente duas vezes maior que a da bupi- que o mesmo volume administrado em
vacaína. A depressão dos potenciais de ação injeções lentas fracionadas;
das fibras de Purkinje do músculo ventricular • condição clínica do paciente – pa-
e do bloqueio da condução é menos intensa cientes hipovolêmicos ou com doença
com a ropivacaína. Com os anestésicos locais, cardíaca importante não toleram doses
a automaticidade está deprimida e a despola- elevadas de anestésico local.
rização das células do marcapasso, lentificada,
sendo que a hipóxia e acidose amplificam este Todo profissional da área médica, inde-
último efeito. pendentemente da especialidade, deve saber
A condução dos impulsos cardíacos é tam- diagnosticar os sinais de intoxicação pelos
bém alterada, tornando-se mais lenta, pois a anestésicos locais e tratá-los adequadamente.
diminuição no influxo de sódio despolariza Desta forma, o tratamento envolve:
mais vagarosamente a membrana. Há pro- 1. assistência ventilatória;
longamento do intervalo PR, alargamento do 2. controle das convulsões;
QRS e bloqueio atrioventricular. O retardo na 3. tratamento do colapso cardiocirculatório.
condução leva ao bloqueio unidirecional e de
reentrada, que determinam taquicardia e fibri- A atenção daqueles que se deparam com
lação ventriculares. quadro de reação tóxica por AL geralmente é
centralizada nas convulsões, esquecendo-se
Tratamento da toxicidade da causa mais provável de morbidade, ou seja,
a depressão respiratória. Portanto, o tratamen-
Os efeitos tóxicos dos anestésicos são de- to deve ser orientado principalmente para a
pendentes de níveis sanguíneos elevados, que ventilação. O aumento da demanda de oxigê- ANESTESIOLOGIA
sempre devem ser evitados. Deve-se estar nio e a maior produção de CO2 causados pelas
atento aos fatores que seguem: convulsões, juntamente com a interferência na
• local de injeção da droga – áreas ventilação pela intensa contração muscular,
altamente perfundidas favorecem a ab- tornam desejável também o controle da con-
sorção, determinando elevados níveis vulsão. No tratamento deve-se, primeiro, ten-
sanguíneos dos anestésicos locais; tar hiperventilar o paciente para, em seguida,
• fármaco selecionado – a bupivacaína controlarem-se as convulsões. Pode-se empre-
e a etidocaína são mais cardiotóxicas que gar o que segue:
outros agentes, mesmo em doses mais bai- • administração de succinilcolina, na
xas, após injeção acidental intravascular; dose de 1mg.kg-1, + manutenção da via
• dose administrada – observar a dose aérea + respiração artificial e/ou oxige-
tóxica máxima permitida; a administra- noterapia;
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F a c u l d a d e d e M e d i c i n a d e B o t u c a t u —UNESP—
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C o n d u t a s e m U r g ê n c i a s e E m e r g ê n c i a s
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F a c u l d a d e d e M e d i c i n a d e B o t u c a t u —UNESP—
ga. A inibição do crescimento e da divisão de 1. não usar doses maiores que 60mg para
fibroblastos pode estar diretamente envolvida a lidocaína, prilocaína e procaína e
com o mecanismo pelo qual os anestésicos lo- 20mg para a tetracaína;
cais impedem a cicatrização quando injetados 2. não empregar AL hidrossolúveis em
na ferida. bloqueio subaracnoideo contínuo, tais
como: tetracaína (extremamente solú-
vel) e lidocaína. Estes AL, quando usa-
Reações devidas ao tipo de dos na técnica contínua, podem atingir
bloqueio massa elevada e tóxica devido ao impre-
visível efeito cumulativo das doses sub-
Em alguns bloqueios regionais, pode ocor- sequentes. Outro perigo é a localização
rer punção de órgãos e estruturas diversas, do cateter próximo às fibras nervosas da
como vasos sanguíneos e pleura, provocando cauda equina; neste caso, o anestésico
o aparecimento de hematomas e a formação de local será injetado em local restrito, sem
pneumotórax, respectivamente. Isto pode acon- possibilidade de ampla diluição com o
tecer, principalmente, nos bloqueios do plexo liquor, determinando maior concentra-
braquial e dos nervos intercostais. ção localizada. Entretanto, a raquianes-
Os anestésicos locais, quando injetados tesia contínua pode ser indicada com o
em altas concentrações e/ou grandes quanti- AL bupivacaína;
dades no espaço subaracnoideo, podem cau- 3. não empregar grandes doses de AL no
sar lesões neurológicas irreversíveis, do tipo bloqueio subaracnoideo, quando o pa-
da síndrome da cauda equina. As fibras ner- ciente for colocado em proclive;
vosas mais suscetíveis são as da cauda equi- 4. evitar grandes doses em pacientes de
na, por estarem localizadas no fundo de saco baixa estatura.
dural (onde as soluções hiperbáricas podem-
-se acumular) e também porque são destituí-
das de bainha de proteção (são mais sensíveis Reações devidas à droga
aos efeitos tóxicos dos anestésicos locais). Não utilizada
se sabe qual a concentração e quantidade de
anestésico local capazes de causar lesão celu- A prilocaína, nas doses superiores a 600mg,
lar e, por isto, sugerem-se as seguintes normas determina metahemoglobinemia; esta é de fácil
para se evitarem as complicações neurológicas tratamento, bastando injetar-se azul de metile-
pós-bloqueio subaracnoideo: no, 1mg.kg-1, por via intravenosa, lentamente.
Referências
ANESTESIOLOGIA
Butlerwrth J. Clinical pharmacology of local anesthetics. In: Hadizic A. Textbook of regional Anesthesia and Acute Pain
Management. 1st ed. New York: Mc Graw Hill; 2007. p. 105-20.
De Jong RH. Local anesthetic pharmacology. In: Brown D L. Regional Anesthesia and Analgesia. 1st ed. Philadelphia: W
B Saunders; 1996. p. 124-42.
De Jong R H. Local Anesthetics. St.Louis. 1st ed. Mosby-Year Book; 1994. 421 p.
Groban L. & Butterworth J. Local anesthetic systemic toxicity. In: Neal M.J. & Rathmell. Complications in Regional
Anesthesia & Pain Medicine. 1st ed. Philadelphia: Saunders Elsevier; 2007. p. 55-66.
Stoelting RK, Hiller, SC. Local anesthetics. In: Stoelting RK, Hiller SC. Pharmacology and Physiology in Anesthetic
Practice. 4th ed. Philadelphia: Williams & Wilkins; 2006. p. 179-207.
Wright JL, Durieux ME, Groves DS. A brief review of innovative uses for local anesthetics. Curr. Opin. Anaesthesiol.
2008;21:651-6.
Zink W, Graf BM. The toxicity of local anesthetic: the place of ropivacaine and levobupivacaine. Curr. Opin. Anaesthesiol.
2008;21:645-50.
Weinberg GL. Treatment of local anesthetic systemic toxicity (LAST). Reg. Anesth. Pain Med. 2010;35:188-193.
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C o n d u t a s e m U r g ê n c i a s e E m e r g ê n c i a s
INTUBAÇÃO OROTRAQUEAL
Rosa Beatriz Amorim1
Leandro Gobbo Braz2
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• tubos traqueais com ou sem balonete; Os tubos aramados não permitem com-
• laringoscópio com lâminas curvas ou pressão ou dobras, sendo bastante utilizados
retas; em cirurgias de cabeça e pescoço(5).
• seringa para insuflação do balonete; O tubo escolhido deve ter o maior diâme-
• conectores; tro possível, de acordo com o diâmetro da glo-
• fio-guia e pinça de Magill (fig. 1); te, de tal forma a não diminuir a passagem do
ar, pois a resistência ao fluxo de gases aumenta
• estetoscópio;
o equivalente à quarta potência do raio dimi-
• material para fixação do tubo;
nuído, dificultando a ventilação do paciente.
• aspirador; Para pacientes acima de 14 anos o tamanho
• oxímetro de pulso; médio do tubo deve ser nº 7,0 para mulheres
• capnógrafo; e nº 8,0 para homens, não se esquecendo de
• lubrificante; deixar números menores e maiores à mão(5,6).
• anestésico local(1,4-6). Para facilitar a escolha do tubo endotraqueal
em crianças pode-se utilizar a fórmula:
Idade (anos) + 16
4
O laringoscópio consta de um cabo conten-
do pilhas e de lâminas que se articulam com o
cabo. A lâmina reta (Miller) é utilizadas para
recém-nascidos e lactentes; a lâmina curva
(MacIntosh) para crianças maiores e adultos.
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C o n d u t a s e m U r g ê n c i a s e E m e r g ê n c i a s
totalmente aberta e com a língua extrusa, o • com a lâmina curva, faz-se a aproxi-
grau de dificuldade na laringoscopia conven- mação da ponta da lâmina à valécula,
cional, através de sua relação com a classifica- ficando toda a língua e toda a mandí-
ção de Cormack e Lehane(8). bula apoiadas sobre a lâmina; eleva-se
Alterações das cordas vocais (paralisia, ede- a lâmina em direção caudal, acompa-
ma ou granuloma) podem ser avaliadas pela nhando o direcionamento do cabo do
presença de rouquidão, durante a entrevista. laringoscópio, realizando, assim, o reba-
timento da epiglote para cima e a expo-
sição da glote.
Tipos de intubação • com a lâmina reta, sob visão direta, ul-
orotraqueal trapassa-se a ponta da epiglote com a
Paciente no estado inconsciente ponta da lâmina, levando-a com cuida-
(anestesia geral) do em direção à face inferior da epiglote
para eleva-la e expor a glote.
Antes da indução anestésica deve-se oxi-
genar o paciente com O2 a 100%, durante mais A passagem do tubo pela glote deve ser
ou menos 3 minutos para troca de nitrogênio feita sob visão direta, até que o balonete desa-
dos alvéolos por oxigênio, aumentando a sua pareça atrás das cordas vocais. Desta maneira
reserva e atrasando o aparecimento de hipoxe- evita-se a lesão das cordas vocais.
mia e depressão cerebral(9). A seguir, o balonete deve ser insuflado. A
Após a perda da consciência, estende-se a pressão endotraqueal deve ser mantida entre
cabeça do paciente de modo a retificar a via aé- 20 e 30cm de H2O, não ultrapassando nunca
rea e melhorar a apresentação da glote, fazen- os 40cm de H2O(5).
do-se coincidirem os três eixos cefálicos,oral, Na criança, há maior chance de complica-
faríngeo e laríngeo: ções traqueais pós-intubação, devido à menor
1. mantendo-se os ombros junto à mesa, pressão de perfusão da mucosa traqueal, que
eleva-se a cabeça 10cm mais ou menos, pode ser diminuída conforme a pressão do
com a ajuda de um traveseiro; tem-se balonete(10).
então a superposição dos eixos faríngeo Após a introdução do tubo, sua posição
e laríngeo; deve ser verificada através da ausculta de am-
2. estende-se a cabeça à custa da articu- bos os campos pulmonares, de forma compa-
lação occipito-atlantoídea; com essa rativa, pela observação da expansão torácica,
manobra o eixo oral também coincidirá pelo movimento do balão reservatório e atra-
com os demais. vés da capnografia, pela presença da curva do
CO2 exalado. Repete-se a verificação após a fi-
Na criança, cuja região occiptal é mais xação da cânula à face do paciente, e toda vez
ANESTESIOLOGIA
desenvolvida, ou mesmo na presença de hi- que o paciente ou o tubo forem mobilizados.
drocefalia ou meningoencefalocele, pode ser
necessária a utilização de um coxim sob os Paciente no estado consciente
ombros, para facilitar a extensão da cabeça(3). (anestesia tópica)
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F a c u l d a d e d e M e d i c i n a d e B o t u c a t u —UNESP—
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C o n d u t a s e m U r g ê n c i a s e E m e r g ê n c i a s
Referências
1. Vane LA, Amorim RB. Manejo de vias aéreas. In: Braz JRC, Castiglia YMM. Temas de anestesiologia
para o curso de graduação. 2nd ed. São Paulo: UNESP. 2000; p. 47-59.
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1617-52.
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Elsevier. 2010; p.573-610.
6. Rebuglio R, Amaral JLG, Slikta Filho J. Intubação traqueal. In: Cangiani LM, Posso IP, Potério GMB,
Nogueira CS. Tratado de Anestesiologia da Sociedade de Anestesiologia do Estado de São Paulo. São
Paulo: Atheneu. 2006; p. 1059-97.
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study. Can J Anaesth. 1985; 32:429.
8. Cormack RS, Lehane J. Difficult tracheal intubation in obstetrics. Anaesthesia. 1984; 39:1105.
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de máscara facial sobre a oxigenação. Rev Bras Anestesiol. 2005; 55:500-7.
10. Bew S. Acute and chronic airway obstruction. Anaesth Int Care Med. 2006; 7:164-8.
11. Moro ET, Goulart A. Compressão da cartilagem cricoide. Aspectos atuais. Rev Bras Anestesiol. 2008;
58:643-50.
29
F a c u l d a d e d e M e d i c i n a d e B o t u c a t u —UNESP—
A dor é uma queixa frequente na po- No Brasil o Ministério da Saúde criou a Orga-
1
Professora
Assistente Doutora pulação mundial. Estima-se que nização Nacional de Acreditação que também
do Departamento
de Anestesiologia da a queixa álgica seja responsável por apro- preconiza a implantação da dor como quinto
Faculdade de Medicina ximadamente 78% dos atendimentos em sinal vital, enquanto um indicador de qualida-
de Botucatu, UNESP unidades de emergência(1-3). Quando não de para os processos assistenciais.
2
tratada, a dor aguda pode desencadear al- O presente capítulo não pretende abordar o
Professor
Assistente Doutor terações plásticas no sistema nervoso, ex- tratamento da enorme variedade de síndromes
do Departamento pondo o paciente ao risco de desenvolver dolorosas ou das patologias clínicas e cirúrgicas
de Anestesiologia da dor crônica. Apesar da importância do trata- a elas associadas. O objetivo central desta ses-
Faculdade de Medicina mento da dor, a subutilização de analgésicos, são é abordar os princípios gerais de tratamen-
de Botucatu, UNESP
ou “oligoanalgesia” é bastante frequente(4,5). to da dor, incluindo o uso apropriado e seguro
Em estudo multicêntrico prospectivo ava- de opioides.
liando a qualidade da analgesia recebida em
unidades de urgência e emergência nos Esta-
dos Unidos da América e Canadá observou- Avaliação da dor
-se, no momento da admissão, presença de
dor intensa (média de 8/10) e após 90 minutos A avaliação adequada e precisa da dor é ne-
apenas 60% dos pacientes receberam analge- cessária para assegurar abordagem segura, efe-
sia. Para 41% dos pacientes, a intensidade da tiva e individualizada da experiência álgica do
dor não se modificou (34%) ou aumentou (7%) paciente. Esta deve incluir história clínica, exame
durante a permanência no pronto-socorro. físico, história da dor (Tabela 1) e avaliação fun-
Aproximadamente três quartos dos pacientes cional. Em um serviço de urgência e emergên-
apresentavam dor moderada ou intensa no cia a avaliação dos quadros álgicos nunca deve
momento da alta hospitalar(6). se dissociar da pesquisa das causas subjacentes,
O tratamento da dor na sala de emergên- em especial daquelas que representem ameaça
cia pode ser desafiador por diferentes motivos. potencial à vida. Do mesmo modo é importan-
Em algumas instituições, a equipe médica te ter em mente que a abordagem sintomática
possui historicamente receio quanto ao trata- da dor deve ocorrer lado a lado da terapêutica
ANESTESIOLOGIA
mento da dor. Alguns acreditam que este tra- específica direcionada à doença de base. Ain-
tamento pode acobertar sintomas e prejudicar da, é importante ressaltar que muitos pacientes
o diagnóstico da doença de base. Outros te- portadores de síndromes dolorosas crônicas (ex:
mem a indução de vício nos pacientes. Entre- neuropatias periféricas, dor associada a neopla-
tanto a dor é um problema urgente que requer sias, fibromialgia, etc) frequentemente buscam
atenção imediata. serviços de pronto-socorro durante episódios de
Hoje a avaliação e tratamento da dor têm exacerbação do quadro álgico.
sido reconhecidos como prioridade no mundo.
A Joint Commission International for Healthca- Mensuração da dor
re Accreditation e a American Pain Society ad-
vogam pela implantação da dor como quinto A definição de dor contempla a complexi-
sinal vital em todas as instituições de saúde. dade da sua mensuração: dor é uma experiên-
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C o n d u t a s e m U r g ê n c i a s e E m e r g ê n c i a s
cia individual e subjetiva modulada por fatores mos fisiológicos envolvendo o sistema nervoso
fisiológicos, psicológicos e ambientais. Assim, central e a secreção de substâncias neuroendó-
a mensuração da dor sempre será baseada no crinas são capazes de intensificar a experiência ANESTESIOLOGIA
auto-relato do paciente. Outro aspecto impor- álgica. A identificação de fatores psicossociais
tante ressaltado por esta definição refere-se ao enquanto exacerbadores da dor deve alertar o
fato de que fatores psicológicos e sociais po- profissional da saúde acerca da maior comple-
dem, de fato, exacerbar a percepção da dor. xidade do caso, que requer para o tratamento
Sendo assim, ao identificar a presença de um sintomático abordagem sensível e posterior en-
fator psicológico ou social como agravante caminhamento para serviço especializado.
potencial da dor, o médico não deve automa- A mensuração da intensidade é sempre
ticamente rotular a dor do paciente como de uma medida subjetiva, porém, de grande im-
origem psicogênica e desconsiderá-la. portância. A partir desta pode-se estabelecer
A dor é sempre uma experiência total e não um acompanhamento evolutivo do quadro
é difícil perceber como sensações de medo, doloroso e avaliar criticamente o sucesso das
insegurança e ansiedade, através de mecanis- terapias introduzidas.
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F a c u l d a d e d e M e d i c i n a d e B o t u c a t u —UNESP—
lha deve-se substituir este fraco por um horas de uso regular (período em que se
forte, para dor intensa. Somente um estabelece um nível sérico estável para a
opioide de cada categoria (fraco ou maioria dos opioides).
forte) deve ser prescrito. Os medica- 4. Individualização: Não existem doses
mentos adjuvantes, analgésicos simples padronizadas para os opioides. A dose
e anti-inflamatórios podem ser associa- correta é a que causa alívio da dor com o
dos em todos os degraus da escada, de mínimo de efeitos colaterais. Os AINES
acordo com as indicações específicas e os opioides fracos, entretanto, apre-
(antidepressivos, anticonvulsivantes, sentam efeito teto, ou seja, dose diária
neurolépticos, relaxantes musculares, máxima recomendada, acima da qual
etc.), no entanto, requerem seguimento não há efeito analgésico adicional, mas
ambulatorial posterior. apenas efeitos colaterais em excesso.
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C o n d u t a s e m U r g ê n c i a s e E m e r g ê n c i a s
Analgésicos anti-inflamatórios
Atenção: Ao prescrever opioides deve- não esteroidais
-se explicar detalhadamente os horários
e antecipar as possíveis complicações e Anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs,
efeitos adversos, tratando-os profilatica- incluindo a aspirina) são analgésicos do pri-
mente. O paciente que usa opioide de meiro degrau da escada analgésica da OMS.
forma crônica deve receber orientações Eles também podem ser úteis como adjuvantes.
sobre laxativos. Seu principal mecanismo de ação é a inibição
das ciclooxigenases, enzimas que convertem o
ácido araquidônico em prostaglandinas. Seu
Tratamento farmacológico uso prolongado tem sido limitado devido ao
perfil de efeitos adversos cardiovasculares,
Analgésicos simples
renais e gastrointestinais. A decisão sobre se,
São preconizados no tratamento da dor como, quando e por quanto tempo utilizar um
fraca e podem ser associados aos opioides nos AINE para o tratamento da dor dependerá de
demais degraus da escada analgésica. diversos fatores, que incluem o prognóstico
do paciente, e a relação risco / benefício dos
Paracetamol AINEs frente a outras estratégias analgésicas
Seu mecanismo de ação ainda não é cla- mais potentes. Além disso, é relevante notar
ro, mas apresenta ações centrais agindo sobre que a piora na perfusão renal, que pode ser
a ciclooxigenase 3 (COX-3) e atividade anti- ocasionada pelos AINEs, tem o potencial de
-inflamatória periférica fraca. A dosagem não exacerbar a toxicidade dos opioides.
deve ultrapassar quatro gramas diários para
minimizar o risco de hepatotoxicidade. Este Opioides
fármaco deve ser utilizado com cautela em pa-
cientes com hepatite ativa, disfunção hepática, Aspectos gerais
alcoolismo ou icterícia.
Os analgésicos opioides correspondem a
Dipirona importante recurso farmacológico para o ma-
nejo da dor. Eles incluem derivados naturais
A dipirona é um analgésico não opioide do ópio, bem como agentes sintéticos e semis-
com propriedades analgésicas, antipiréticas sintéticos que produzem seus efeitos através de
e antiespasmódicas aliadas a um baixo per- sua ação sobre receptores de opioides. No sis-
fil de efeitos adversos. Possui mecanismos de tema nervoso central estes receptores encon-
ação semelhante ao paracetamol, inibindo tram-se concentrados no tálamo, na substância
fracamente a síntese de prostaglandinas na cinzenta periaquedutal e no corno dorsal da ANESTESIOLOGIA
periferia, e por ação direta sobre a substância medula. Também são encontrados receptores
cinzenta periaquedutal (COX-3). A dipirona, opioides em outras regiões como pulmões e o
entretanto, não está associada ao mesmo risco plexo mioentérico do trato gastro intestinal. O
de hepatotoxicidade do paracetamol. O risco efeito analgésico dos opioides está relacionado
de agranulocitose vem sendo desmistificado e principalmente a sua ação sobre os receptores
atualmente é considerado como extremamente mu, embora outros receptores estejam envolvi-
pequeno, variando de 0,2 a 2 casos por milhão dos neste processo (ex: kappa e delta). Estudos
de pessoas ao ano. Sendo assim, pode-se afir- recentes correlacionam o polimorfismo gené-
mar que a dipirona constitui-se em uma opção tico desses receptores à variação da resposta
analgésica segura e eficaz, ocupando lugar de individual a estes fármacos.
destaque no primeiro degrau da escada anal- Os opioides são classificados em “fracos”
gésica da Organização Mundial de Saúde. (ex: codeína e tramadol) e “potentes” (ex: mor-
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fina, metadona, oxicodona) e quanto à ação cial. Esse efeito adverso resolve-se geral-
sobre receptores opioides em agonistas puros, mente em 3 a 4 dias pelo mecanismo de
agonistas parciais, agonistas-antagonistas e tolerância.
antagonistas. Opioides fracos (codeína e tra- • Constipação: efeito adverso pratica-
madol), agonistas parciais (como buprenor- mente universal. O efeito dos opioides
fina) e agonistas-antagonistas (butorfanol e no plexo mioentérico causa redução
pentazocina) apresentam como desvantagem na propulsão das fezes e aumento do
a presença de efeito teto. Agonistas-antago- tempo de transito intestinal, causando
nistas podem causar efeitos psicomiméticos e aumento da absorção hídrica e con-
desencadear síndrome de abstinência quando sequente ressecamento das fezes. Este
administrado a usuários crônicos de agonistas mecanismo associado a outros fatores
puros. Assim, opioides agonistas puros são os comuns em pacientes oncológicos como
mais indicados para o tratamento das síndro- fraqueza, diminuição da ingesta e mobi-
mes dolorosas crônicas. lidade reduzida entre outros, pode tor-
Todos os opioides ligam-se às proteínas nar a constipação um grande problema.
plasmáticas, geralmente à albumina e à alfa1- Para a constipação não existe tolerân-
-glicoproteína ácida. Entretanto, a porcenta- cia. O tratamento deve ser preventivo
gem de ligação varia de 10% para a codeína a e todos os pacientes em uso de opioi-
80 a 86% para o fentanil. A morfina apresenta des devem receber laxativo estimulante
ligação proteica entre 20 e 35%. É importante como senna ou bisacodil associado a
ter em mente esta característica uma vez que laxativo osmótico como a lactulose ou
pacientes com neoplasias em estágios avança- leite de magnésia.
dos frequentemente desenvolvem quadros de
desnutrição e hipoalbuminemia, que podem
• Náusea e vômito: aproximadamente
70% da população pode desenvolver
levar à necessidade de readequação posológi-
náusea relacionada ao uso de opioide,
ca frente às maiores concentrações de droga
particularmente no inicio do uso. Nova-
livre no plasma.
mente, a abordagem deve ser preventi-
A maioria dos opioides apresenta grande
va. Pacientes orientados sobre a possi-
volume de distribuição, dependendo da lipo-
bilidade de náusea geralmente toleram
filicidade e de seus metabólitos. O fentanil e a
melhor e tem menor solicitação de an-
metadona apresentam maior lipofilicidade.
tieméticos. Antieméticos que agem em
Efeitos adversos receptores dopaminérgicos (como o
haloperidol, clorpromazina e metoclo-
São vários os efeitos colaterais associados pramida) são mais efetivos que agentes
ao uso dos opioides. Alguns efeitos adversos, anti-histamínicos como o dimenidrato.
como constipação, náusea e sedação são
ANESTESIOLOGIA
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C o n d u t a s e m U r g ê n c i a s e E m e r g ê n c i a s
Tabela 2
Doença primária, crônica que sofre influência de
componentes genéticos, psicossociais e comportamentais na
sua manifestação. É caracterizado por comportamento que
inclui um ou mais dos itens: ANESTESIOLOGIA
Vício
– Prejuízo no controle sobre o uso do fármaco
– Uso compulsivo
– Uso continuado apesar da presença de dano
– Desejo profundo pelo fármaco
Estado de adaptação manifestado pelo uso crônico de
Dependência
determinado fármaco. A retirada abrupta ou uso de
física
antagonistas pode desencadear síndrome de abstinência.
Estado de adaptação em que a exposição crônica ao fármaco
Tolerância induz mudanças que podem levar à redução de um ou mais
dos efeitos deste fármaco.
Síndrome comportamental que mimetiza os sintomas vistos
na dependência psicológica, porém decorre do subtratamento
Pseudovício
da dor. Sintomas e comportamento aberrantes decorrem do
controle inefetivo do quadro álgico.
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10% da população caucasiana que apresenta Para pacientes com dor aguda atendidos
deficiência desta enzima e pode apresentar no pronto-socorro pode-se titular a dose pela
ausência de resposta analgésica pela codeína. via endovenosa ou subcutânea. Inicia-se com
Possui efeito teto em torno de 120mg/dose, 1mg a 2mg repetidos de acordo com a via a
quando é alcançada a saturação da enzima ser utilizada (EV- a cada 6 minutos, SC – a
CYP2D6. Quando administrado pela via oral cada 30 minutos ou VO – a cada 60 minutos)
possui baixa biodisponibilidade (30 a 50%). É até o alívio da dor. A indicação de repetição
comum o uso da codeína em associação com da dose de ataque a cada 6, 30 ou 60 minu-
um analgésico simples, sendo raro seu uso tos, de acordo com a via de administração do
isolado. medicamento se deve ao seu perfil farmacoci-
nético, uma vez que estes intervalos de tempo
Morfina correspondem ao tempo necessário para a
obtenção do pico de concentração plasmática
A morfina é o protótipo dos opioides po- máxima da droga. Ou seja, se o efeito analgé-
tentes e é o opioide recomendado pela OMS sico não houver sido alcançado neste interva-
para estar disponível em todo o mundo. A lo de tempo, não o será durante o restante da
morfina é metabolizada predominantemente meia-vida do medicamento, sendo, portanto,
no fígado em morfina-3-glucoronídeo (M3G) segura a administração de nova dose de ata-
e morfina-6-gluroronídeo (M6G), ambos eli- que caso a dor não tenha sido controlada.
minados por excreção renal. M6G é o meta- Uma vez identificada a dose total necessá-
bólito ativo com maior meia vida, que se liga ria para o alívio da dor, esta pode ser repetida
aos receptores opioide e exerce efeitos anal- periodicamente (em intervalos de 4 horas se
gésicos. Já o M3G não apresenta efeitos anal- morfina de liberação rápida ou de 12 horas se
gésicos aparentes, no entanto está relacionada morfina de liberação cronogramada), visan-
à neurotoxicidade da morfina (delirium, hipe- do a manutenção de níveis plasmáticos está-
ralgesia, mioclonias e hiperexcitabilidade do veis. Na presença de sedação a dose deve ser
sistema nervoso central). reduzida.
Na insuficiênica renal pode ocorrer acúmu- É importante notar que o maior antago-
lo desses metabólitos, aumentando o risco de nista para a depressão respiratória é o pró-
efeitos adversos graves. Portanto, a morfina prio estímulo álgico. Adequando-se a dose do
deve ser utilizada com cautela nesses pacien- opioide à intensidade da dor não há risco de
tes. Em pacientes com flutuação da função re- indução de depressão respiratória. Além dis-
nal seja por declínio clínico ou consequência so, este fenômeno não se dá de forma abrupta,
de tratamentos, a morfina não é o opioide de e muito antes de ocorrer qualquer diminuição
primeira escolha. da frequência respiratória, haverá sonolência
A morfina está disponível para uso pela e sedação importante.
ANESTESIOLOGIA
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tem meia-vida de cerca de 6 horas (superior à agudos. Trata-se do opioide com maior po-
duração do efeito analgésico do medicamen- tencial para indução de dependência e vício e
to), é excretado por via renal, e seu acúmulo também é contraindicada para o uso crônico.
produz efeitos adversos significativos como Há um movimento mundial para banir o uso
tremores, disforia, mioclonias e convulsões. A da meperidina na prática médica, o que cor-
prescrição regular da meperidina, a cada 3 ho- responde inclusive a um parâmetro de quali-
ras, para analgesia leva ao inevitável acúmulo dade hospitalar em processos de acreditação
de normeperidina e expõe o paciente ao risco internacional.
desnecessário de efeitos adversos, particular- Propoxifeno é geralmente administrado
mente se a depuração renal está prejudicada. em doses que produzem relativamente pouca
Por conseguinte, a meperidina não é recomen- analgesia, não sendo superior a placebos. O
dada para prescrição de horário. aumento da dose visando maior analgesia leva
Inicialmente foi postulado que a meperidi- ao acúmulo de um metabólito tóxico e por isso
na, por possuir estrutura química semelhante tem seu uso contraindicado de forma geral.
à papaverina e à atropina possui ação espas- Os opioides agonistas-antagonistas par-
molítica (apesar da papaverina e atropina não ciais, como pentazocina, butorfanol, nal-
possuírem efeito espasmolítico). Ou seja, o bufina e dezocine, não devem ser utilizados
argumento teórico de que a meperidina seria em paciente usuário crônico de agonista opioi-
o único opioide que não induziria espasmo de puro (codeína, hidrocodona, hidromorfona,
do esfíncter de Oddi, jamais foi comprovado metadona, morfina, oxicodona). Se usados
clinicamente. Clinicamente, em doses equi- conjuntamente, a competição pelos receptores
potentes, a meperidina possui ação tônica opioides pode causar uma síndrome de absti-
sobre a musculatura lisa semelhante aos de- nência. Além disso, sua ação analgésica é limi-
mais opioides, não sendo tratamento custo tada pelo efeito teto característico dos opioides
efetivo(8). É relevante notar que a Society of fracos. O uso de butorfanol e de pentazocina
Critical Care Medicine contraindica o uso da são associados com um risco relativamente
meperidina dentro do contexto de pacientes alto de efeitos adversos psicotomiméticos.
Referências
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SEDAÇÃO EM PEDIATRIA
Norma Sueli Pinheiro Módolo
Professora Titular
do Departamento
Introdução Considerações gerais
de Anestesiologia da
Faculdade de Medicina
de Botucatu, UNESP O aumento do número de procedi-
mentos invasivos relacionados à
área pediátrica, em sua grande maioria rea-
A sedação deverá ser realizada com a má-
xima segurança para a criança e, para isto, al-
gumas considerações deverão ser feitas.
lizados fora de ambiente cirúrgico, tem con- Coté et al., 2000(4), relataram por meio de
tribuído para o crescente interesse no uso de análise crítica, os eventos adversos da sedação
sedativos ou analgésicos por vários tipos de em pediatria.
profissionais médicos. Os autores analisaram os eventos e os fato-
Com o avanço da tecnologia, seja envol- res contribuintes e concluíram que os mais gra-
vendo os aparelhos de monitorização ou novos ves (lesão neurológica permanente ou morte)
agentes, há necessidade de revisão frequente ocorreram com maior frequência em procedi-
das técnicas empregadas, visando sempre a si- mentos realizados fora do ambiente hospitalar,
tuação de menor risco para o paciente. sendo a ressuscitação inadequada e a monito-
Em 1985, o Comitê de Drogas, Seção de rização fisiológica inapropriada os fatores que
Anestesiologia da Academia Americana de Pe- contribuíram para estes resultados. Quando
diatria publicou as primeiras recomendações Coté et al., 2000(5) analisaram as medicações
para sedação (guidelines)(1) inicialmente, a in- utilizadas para sedação e os eventos adversos,
formação sobre os órgãos e sistemas, a necessi- descobriram que estes estavam relacionados
dade de consentimento informado por escrito, com o emprego de três ou mais fármacos e
jejum apropriado, medida frequente dos sinais com sobredose. As complicações aconteceram
vitais, equipamento adequado à idade, suporte com todas as vias de administração e foram
básico de vida, critério de recuperação e alta. mais frequentes quando a sedação aconteceu
As recomendações foram revisadas em sem supervisão médica.
1992 e enfatizou-se que a criança poderia pro- Em primeiro lugar, o profissional que se
gredir de um nível de sedação para outro. O propõe a executá-la deverá ter pleno conhe-
oxímetro de pulso foi recomendado para toda cimento das drogas que serão utilizadas (do-
sedação(2). sagens, indicações, contraindicações, efeitos
ANESTESIOLOGIA
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bro, o órgão), seja obedecido um período de manhos, máscaras faciais e laríngeas, cânulas
não ingesta de alimentos sólidos ou líquidos. de Guedel, mandril, ambos com entrada para
Embora a tendência atual seja a de reduzir este fonte de oxigênio).
tempo ao menor possível, para que a criança As máscaras laríngeas atualmente fazem
não desidrate, não desenvolva hipoglicemia ou parte do arsenal do anestesiologista, podendo
se tome irritável. ser utilizadas em casos de entubação difícil,
A Sociedade Americana de Anestesiologia sedação como complementação de bloqueios
recomenda(6): de nervos para administração de gases anesté-
sicos e oxigênio. São de fácil colocação e não
Alimento ingerido Período mínimo de jejum
requer treinamento prévio. Contudo, não pre-
Líquidos claros 2h
vinem contra aspiração gástrica.
Leite materno 4h
Após o término do procedimento, um mé-
Fórmula 6h
dico da equipe deverá ficar responsável pela
Leite não humano 6h recuperação da criança até que ela tenha con-
*Refeições leves 6h dições de alta.
* Comidas gordurosas, carne, frituras, prolongam o tempo de As complicações mais comuns na recupe-
esvaziamento gástrico acima de seis horas.
ração são: náuseas, vômitos, hipotermia ou as
Drogas que aceleram o esvaziamento gástri- referentes ao trato respiratório. A queda da lín-
co e aumentem o pH poderão ser empregadas gua sobre o palato, depressão respiratória por
para aumentar a segurança do procedimento efeito residual das drogas ou seus metabólitos
nos casos considerados de alto risco para aspi- ativos são problemas comumente encontrados.
ração (emergência, onde o jejum não poderá ser A agitação pode ser um sinal de hipóxia e não
observado, obstrução intestinal, doenças neuro- início do despertar.
lógicas, esofagianas, infecção sistêmica / sepse, Os critérios observados para alta do pa-
via respiratória difícil, obesidade, trauma etc.). ciente foram bem estabelecidos pelo Comitê de
A metoclopramida, na dose de 0,1mg/kg, Drogas da Academia Americana de Pediatria(3):
oral, endovenosa ou subcutânea, também ace- 1. Função cardiovascular e perviedade das
lera o esvaziamento gástrico. vias respiratórias satisfatórias e estáveis.
Durante a realização da sedação é neces- 2. Paciente facilmente despertável e refle-
sário que um membro da equipe fique respon- xos protetores íntegros.
sável pela observação dos sinais vitais, que 3. O paciente pode conversar (se a idade
deverão ser continuamente monitorados. A for apropriada para isto).
monitorização básica deverá constar de apare-
4. O paciente consegue sentar sem ajuda
lho de pressão não invasiva, eletrocardiógrafo,
(se a idade for apropriada para isto).
estetoscópio pré-cordial ou esofágico e, depen-
dendo do caso e oxímetro de pulso. O uso do 5. Deve-se conseguir o nível de responsi-
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Receptor Agonista protótipo Localização do SNC Ação fisiológica tem diminuído. É ne-
morfina Cérebro = lâminas III mu1 analgesia supra espinhal e cessário paciente com
fentanil e IV do córtex, tálamo, dependência inteligência suficien-
meperidina substância cinzenta do mu2 depressão respiratória, te, destreza manual
mu
periaqueduto inibição da motilidade
e força para operar a
Medula = substância gastrintestinal, bradicardia
gelatinosa bomba de PCA. A im-
dinorfina Cérebro = hipotalamo, Analgesia raquiadiana, sedação, possibilidade de enten-
butorfanol? substância cinzenta do miose, inibe a liberação do ADH der o uso da máquina
capa periaqueduto, claustro. e o desejo do paciente
Medula = substância
de não assumir a res-
gelatinosa
ponsabilidade por sua
encefalinas Cérebro = núcleo pontino, Analgesia, euforia
delta amígdala bulbos olfativos, analgesia limitam o
córtex profundo seu uso. Mesmo assim,
cetamina? Disforía, alucinações tem sido técnica cada
sigma —
feniciclidina vez mais utilizada.
Fentanil
histamina e sim dependente de sua migração
cefálica no líquido cerebroespinhal e conse- É cerca de cem vezes mais potente que a
quente interação com o núcleo do trigêmeo. morfina (mg/kg), e sua grande lipossolubilida-
Existem receptores opioides no núcleo do tri- de permite que atravesse rapidamente a barrei-
gêmeo e nas raízes nervosas trigeminais. ra hematoencefálica, o que resulta em rápido
Os opioides mais comumente empregados início de ação. Os efeitos deste analgésico du-
na prática clínica são: ram 30-45 minutos, embora a depressão respi-
ratória possa persistir por tempo maior.
Morfina
Administração
Serve de comparação com outras drogas e
tem um longo registro em pediatria. • Via endovenosa: 0,5-1µg/kg. Doses
Administração: maiores poderão ser administradas, mas
com aumento da incidência dos efeitos
• Via endovenosa: 0,1mg/kg a cada 2 colaterais, principalmente depressão
horas. respiratória e rigidez torácica. O efeito
• Via intramuscular: 0, 1-0, 15mg/kg a de uma dose única de fentanil termina
cada 4 horas por redistribuição rápida e não por me-
• Via subcutânea: 0,1-0,15mg/kg a cada tabolização. Haverá prolongamento do
4 horas efeito depois de múltiplas doses da dro-
ANESTESIOLOGIA
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Diazepan
Propofol (Diprivan)
É bem absorvido por via oral; a intramus-
É um agente hipnótico sedativo, que pelo cular e endovenosa são dolorosas. O seu meta-
seu rápido início de ação e tempo de recupera- bólito ativo, o n-dimetil diazepam, pode causar
ção e ausência de metabólitos ativos tem sido sonolência prolongada quando esta droga for
muito usado para sedação em pequenos pro- utilizada em sedação prolongada.
cedimentos em pediatria. A alta degradação
da primeira passagem pelo fígado faz com que Administração
só possa ser administrado por via endovenosa • Via endovenosa: 0,1 a 0,2mg/kg
e é responsável pelo rápido retomo da cons-
ciência. Pode ser usado em infusão contínua, Midazolam
ou em dose única endovenosa - 0,5 a 1mg/kg.
Causa dor à injeção. Benzodiazepínico com rápido início de
A droga pode produzir rapidamente um ação e meia-vida de eliminação curta. Ajuste
estado de anestesia geral e não deve ser usada nas doses e esquemas de infusão deverá ser
por profissionais que não tenham experiência considerado em situações que interferem com
com controle das vias aéreas. seu metabolismo. O uso concomitante de he-
ANESTESIOLOGIA
Os efeitos colaterais mais importantes são: parina aumenta a fração livre; a cimetidina in-
terfere com o metabolismo hepático da droga,
• Hipotensão, por redução da pré-carga, prolongando a sua meia-vida de eliminação;
pós-carga e contratilidade cardíaca. insuficiência renal e hepática aumentam a con-
centração da droga livre.
• Causa apneia em 20% dos pacientes e
resposta diminuída ao dióxido de car- Administração:
bono.
• Oral – 0,3-0,5mg/kg
• Pode desencadear opistótomo, reações • Retal – 1mg/kg
anafilactoides. Como o propofol não • Nasal – 0,2-0,4mg/kg
contém preservativos, poderá ocorrer • Sublingual – 0,2mg/kg
contaminação bacteriana da solução. • Endovenosa – 0,05-0,15mg/kg
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F a c u l d a d e d e M e d i c i n a d e B o t u c a t u —UNESP—
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C o n d u t a s e m U r g ê n c i a s e E m e r g ê n c i a s
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F a c u l d a d e d e M e d i c i n a d e B o t u c a t u —UNESP—
Professor
Assistente Doutor do
Introdução que, auxiliando na capacidade adaptativa des-
ses enfermos, pode amenizar sua experiência
Departamento de
Anestesiologia da
Faculdade de Medicina
de Botucatu, UNESP
A rotina das unidades de terapia in-
tensiva é caracterizada por ritmo
ininterrupto e atividade constante, luzes, ruí-
nessas unidades(7).
Apesar dos esforços de humanização das
unidades, os objetivos primários do tratamento
dos e uso de aparelhos estranhos, provocando intensivo tornaram-se a aprendizagem e utili-
medo e ansiedade. A relativa imobilidade que zação de sofisticados recursos de monitoriza-
alguns sistemas sensíveis de monitorização exi- ção e terapêutica, esquecendo que, na outra
gem são causas de extrema ansiedade e medo. extremidade dos tubos, cabos e drenos e atrás
Isso requer paciência e colaboração além dos de alarmes, encontra-se um ser humano fragi-
limites impostos pelas enfermidades graves. lizado pela doença subjacente.
É pouco provável que uma pessoa possa Portanto, a sedação em terapia intensiva
tolerar tal ambiente sem que seja instituído deve ser encarada como um aspecto terapêuti-
algum tratamento para a ansiedade, além do co importante do tratamento. O conhecimento
indispensável alívio da dor. de sua correta utilização adquire maior relevo
Ansiedade e medo, responsáveis pelo so- sabendo-se que cerca de 30 a 50% dos pacien-
frimento psíquico, a que são submetidos os tes internados nestas unidades recebem algu-
ingressos dessas unidades, são dificilmente ma forma de sedação(7). Mesmo verificando
avaliáveis e preocupam em demasia pesqui- utilização crescente, a sedação não tem, até
sadores e estudiosos da área(1), principalmente recentemente, despertado interesse científico
por serem prováveis desencadeadores da sín- entre boa parte dos especialistas da área, em
drome descrita, genericamente, como “psicose relação a outros aspectos do tratamento e, não
de UTI”, que apresenta incidência entre 14% raro, é baseada em aspectos subjetivos. Alguns
e 72%(2). Esta síndrome pode cursar com agi- autores lembram que drogas sedativas são
tação leve e até com intensa agressividade e prescritas com maior frequência para compen-
violência, exigindo contenção física imediata sar inquietações da equipe médica ou prover
ou sedação. Nos acometidos de doença co- condições convenientes para a prática de en-
ronariana ou insuficiência respiratória aguda, fermagem, do que em resposta às necessida-
ANESTESIOLOGIA
48
C o n d u t a s e m U r g ê n c i a s e E m e r g ê n c i a s
estado preexistente de ansiedade, por meios bios raramente ocorrem associados à psicose
farmacológicos, ou ainda, quando não se de- verdadeira. A expressão “psicose de UTI” é
senvolvem sinais de ansiedade em circunstân- descrição simplista e inespecífica dos distúr-
cias nas quais se esperava que ocorressem(5). bios de comportamento resultantes da perda
A sedação visa trazer ao doente grave de contato com a realidade(1).
conforto físico e psicológico(5). Ela requer três Medo e ansiedade constituem relevante es-
elementos básicos: compaixão, comunicação tresse psíquico. Eles são influenciados por fato-
e competência no uso de técnicas e agentes res genéticos e experiências prévias (próprias
sedativos(5). ou de conhecidos). A ansiedade pode resultar
Apesar da dificuldade em quantificar os em desorganização psicológica, expressa por
benefícios da sedação e da escassez de infor- desilusão, pânico, sensação de abandono e até
mações acerca de sua utilização em UTI, ela mesmo psicose(8). A presença de alguns desses
encontra larga aplicação nesta área. Segundo componentes foi observada em pesquisa(9) nos
Aitkenhead(8), a maioria dos pacientes admiti- doentes acometidos de agitação ou delírios,
dos em UTI necessita de analgesia ou sedação englobados, neste estudo(9), genericamente,
ou ambas, durante a internação. como distúrbios de natureza psiquiátrica. Essas
Pesquisadores verificaram que, em diver- causas, geralmente, estavam ligadas à agitação
sas instituições, 40% dos pacientes sob cuida- psicomotora e corresponderam a 25,77% das
dos intensivos receberam drogas sedativas(5-6). indicações de sedação(9).
Esses resultados confirmam outras pesquisas Uma equipe amigável e um ambiente aco-
que mostram elevada utilização de drogas se- lhedor (controles de ruído, luminosidade e tem-
dativas, empregadas em 30 a 50% dos pacien- peratura) evitam esta sequência devastadora.
tes graves(6). As visitas de familiares e amigos reforça sobre-
Paralelamente, em estudo(5), verificou-se maneira o apoio recebido da equipe médica e
que, se considerados apenas os pacientes inter- paramédica.
nados por período superior a 24 horas, o uso Problemas respiratórios são comuns em
de sedativos foi de 37,4%, proporção esta que UTI. Enfermidades pulmonares, ou não, po-
cai para 24,6% quando considerados todos os dem levar à necessidade de suporte ventilatório
enfermos do período, inclusive os 182 excluí- prolongado ou temporário. Nestes pacientes, a
dos por permanecerem internados em período presença do tubo traqueal, o ruído monótono
inferior a 24 horas; seja por óbito, por serem do respirador, além do medo e da ansiedade,
doadores de órgãos ou por não apresentarem impedem o sincronismo entre ventilação es-
todos os requisitos para o cálculo do índice de pontânea e mecânica(3). Um medicamento an-
gravidade(5). siolítico e hipnótico pode ser útil para maior
O tratamento intensivo necessita de paci- tolerância.
ência e colaboração. Alguns desses doentes A tolerância ao tubo traqueal é variável, ANESTESIOLOGIA
apresentam alteração do sensório como con- sendo a sonda nasotraqueal mais aceita. A
sequência direta de disfunção orgânica. Inclu- traqueostomia prescinde de sedação. A aspi-
sive, nesses casos, o uso de sedativos pode ração traqueal, porém, já foi descrita como su-
ser benéfico, reduzindo o impacto psicológi- focante, chegando ao limite da tolerabilidade.
co e facilitando o tratamento dos distúrbios O respirador mecânico, no início do tratamen-
somáticos(1). to, chega a ser uma experiência aterrorizante.
As complicações psiquiátricas mais comu- Neste momento, a associação de opioides será
mente observadas são delírio e agitação. No útil por reduzir a resistência ao respirador arti-
delírio incluem-se alterações da sensopercep- ficial e promover analgesia.
ção e do sono, desorientação e agitação psico- A seleção apropriada e o ajuste do méto-
motora. O apoio psicológico reduz a incidência do de ventilação mecânica eliminam a neces-
destes fenômenos em 14 a 33%(6). Estes distúr- sidade de bloqueadores neuromusculares e
49
F a c u l d a d e d e M e d i c i n a d e B o t u c a t u —UNESP—
sedação excessiva em muitos pacientes adul- Ele foi aplicado isoladamente em injeção con-
tos. Apesar disto, a adaptação do paciente à tínua, em 39,17% dos casos e em injeções in-
ventilação mecânica constitui a principal indi- termitentes isoladas em 19,58% dos casos. Em
cação de sedação, como foi demonstrada em recente censo nacional realizado pela Associa-
estudo(9), no qual contabilizaram-se 57,73% de ção de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB)
(13)
todas as circunstâncias para as quais foram ad- , também foi constatada a preferência por
ministrados sedativos. Cerca de 90% dos que fentanil pela maioria dos especialistas brasilei-
se submetem aos respiradores artificiais rece- ros. Contudo, pelas recomendações do comitê
bem tais fármacos, podendo chegar a 100% formado pelas Sociedade e Colégio Americano
dos casos(9-10). de Medicina Intensiva (SCCM e ACCCM)(14) a
Diversos procedimentos são realizados sob morfina é a primeira escolha, principalmente
anestesia local, sem necessidade de sedação. devido ao baixo custo. O mesmo comitê de-
Intervenções extensas e agressivas, entretanto, finiu a utilização do fentanil para situações de
necessitam de sedação ou mesmo anestesia liberação histamínica e instabilidade hemodi-
geral(2). A intubação traqueal é exemplo de si- nâmica. Nas reuniões promovidas pela AMIB
tuação que requer, por breve lapso de tempo, em 1997 e 1999(12-13), o comitê formado reco-
depressão da consciência(8). Por isso, procedi- mendou morfina e fentanil, igualmente, como
mentos desconfortáveis ou dolorosos corres- opção Ia (intervenções ou fármacos recomen-
pondem a 11,34% de todas as indicações de dados a partir das evidências científicas dispo-
sedação(9). níveis e suficiente experiência clínica no Brasil).
Uma vez que a perda dos padrões fisio- Os benzodiazepínicos estão entre as dro-
lógicos do sono tem profundas implicações gas mais comumente prescritas. Diazepam ain-
metabólicas nos pacientes hospitalizados, o da é bastante usado para sedação em terapia
tratamento da insônia é motivo apropriado intensiva(10,11). Midazolam também é, amiúde,
para o emprego de sedativos, porém, não é utilizado isoladamente ou em associação com
verificado em mais do que 5,15% dos casos de narcóticos.
sedação(9-10). Na casuística aqui analisada anteriormen-
(9)
A sedação ideal deve atender ao con- te , diazepam foi administrado, principal-
forto do enfermo sem determinar significante mente, no tratamento do tétano (2 pacientes
depressão da consciência. Limites assim estrei- em 307). A escolha do agente hipnótico recai,
tos tornam a sedação, em terapia intensiva, um geralmente, sobre o midazolam, principalmen-
exercício da arte médica, na qual intervenções te pela hidrossolubilidade, curta meia-vida de
farmacológicas representam apenas um fator, eliminação e custo relativamente baixo. O hip-
ao lado do controle ambiental e da sensibilida- nótico propofol demonstra uma série de pro-
de da equipe(10, 11). priedades adequadas para sedação em UTI,
Narcóticos, associados ou não a benzo- como meia-vida de ação extremamente curta,
ANESTESIOLOGIA
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C o n d u t a s e m U r g ê n c i a s e E m e r g ê n c i a s
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CIRURGIA TORÁCICA F a c u l d a d e d e M e d i c i n a d e B o t u c a t u —UNESP—
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C o n d u t a s e m U r g ê n c i a s e E m e r g ê n c i a s
Cirurgia Torácica
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CIRURGIA TORÁCICA F a c u l d a d e d e M e d i c i n a d e B o t u c a t u —UNESP—
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C o n d u t a s e m U r g ê n c i a s e E m e r g ê n c i a s
ESTENOSE TRAQUEAL
Daniele Cristina Cataneo1
Antônio José Maria Cataneo2
Introdução Etiologia 1
Professora Doutora
Assistente da disciplina
de Cirurgia Torácica
55
F a c u l d a d e d e M e d i c i n a d e B o t u c a t u —UNESP—
cartilagem traqueal, e edema das vias aéreas doenças autoimunes (Granulomatose de Weg-
superiores em adultos(3); atualmente, a maior ner, sarcoidose), apneia obstrutiva do sono
causa de estenose é a intubação endotraque- e radioterapia para o câncer de orofaringe e
al(4). Entre todos os pacientes intubados, a in- laringe(5,14).
cidência varia de 10 a 22%(4-7), mas só 1 a 2%
dos pacientes são sintomáticos ou têm esteno- Infecciosa
se grave(8). Hoje, a estenose grave após a intu-
bação é uma entidade reconhecida com uma A etiologia infecciosa pode ser subdividida
incidência estimada de 4,9 casos por milhão em inespecífica, no caso das infecções bacte-
por ano na população em geral(9). rianas, ou específicas, como a tuberculose, a
A lesão traqueal após a intubação pode blastomicose e a histoplasmose; além das pa-
ocorrer nas seguintes posições: no local do rasitárias, como a leishmaniose.
balonete, no local correspondente à ponta do Na dependência do agente e da gravidade
tubo endotraqueal, no estoma e no segmento do caso, somente o tratamento da patologia de
entre o estoma e o balonete(10). base pode resultar em regressão da obstrução
Na localização do balonete, ocorre em traqueal.
um terço dos casos relatados(4,7), notando-se o
crescimento de uma banda fibrosa. O principal Tumoral
fator causal é a perda de fluxo sanguíneo re-
gional, devido à pressão do balonete na pare- Tumores de origem traqueal ou que inva-
de traqueal(11). A lesão isquêmica inicia-se nas dem a traqueia, tanto benignos como malig-
primeiras horas de intubação e a cicatrização nos, podem evoluir para obstrução da luz do
da região lesada pode resultar em um anel fi- órgão. Nesse tipo de etiologia a conduta de-
brótico, no prazo de 3 a 6 semanas(11,12). Entre- pende da análise específica do tumor e de sua
tanto, com o advento dos balonetes de baixa localização.
pressão esse tipo de lesão diminuiu. No caso dos tumores traqueais, estes re-
No local do estoma, a estenose é mais um presentam uma entidade rara (0,2/100.000
resultado de cicatrização anormal, com exces- habitantes), sendo que os mais comumente en-
so de formação de tecido de granulação em contrados são os papilomas, na população in-
torno do local do estoma ou na cartilagem fra- fantil, e o carcinoma espinocelular em adultos,
turada durante o procedimento(4,7). O dano na além de outros menos comuns, como o tumor
cartilagem pode também resultar em uma ala- Adenoide cístico, que ocupa a segunda posi-
vanca para o tubo traqueal no local do estoma, ção em incidência.
devido ao peso das conexões da ventilação Tumores traqueais, tanto malignos quanto
mecânica, causando necrose por pressão tanto benignos, requerem ressecção, já tumores in-
CIRURGIA TORÁCICA
da mucosa, quanto da própria cartilagem. vasivos de outras estruturas, podem ter o tra-
Outro fator também relacionado foi a in- tamento paliado somente com a passagem de
fecção da ferida em 42% dos casos de este- endopróteses para manutenção da via aérea.
nose no local do estoma após traqueostomia
aberta(13). Congênita
Múltiplos outros fatores predisponentes
para o desenvolvimento de estenose após in- A estenose traqueal congênita é uma mal-
tubação têm sido sugeridos, incluindo: traque- formação rara e potencialmente letal, onde há
ostoma alto, período de intubação prolongado, redução do calibre da via aérea, geralmente de
intubação traumática, história de intubação ou forma progressiva. Atualmente, pouco mais de
traqueostomia prévia, uso excessivo de cor- 300 casos foram descritos na literatura. O diag-
ticosteroides, idade avançada, insuficiência nóstico é frequentemente atrasado pela rarida-
respiratória grave, doença do refluxo severa, de e diversidade de manifestações da doença,
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F a c u l d a d e d e M e d i c i n a d e B o t u c a t u —UNESP—
Fig. 3: Tomografia
computadorizada de
paciente com estenose:
luz estenótica (A)
e traqueia com luz
normal (B).
A B
Fig. 4: Tomografia
computadorizada
com reconstrução
coronal 3D,
de paciente
com estenose
traqueal (A).
Corte tomográfico
transversal da área
estenótica (B). Corte
transversal da área B C
traqueal normal (C).
Fig. 5: Tomografia
computadorizada
de paciente com
estenose: corte
transversal com luz
estenótica de 6mm
(A) e corte sagital
(B) mostrando a área
CIRURGIA TORÁCICA
comprometida.
A B
substituído, na maioria dos centros, pela tomo- coronais, sagitais, frontais e laterais. A coluna
grafia computadorizada (fig. 3) helicoidal com aérea é bem evidenciada, possibilitando deli-
reconstrução coronal (fig. 4) e sagital (fig. 5). mitar adequadamente a área estenótica, no
Apesar de possibilitar a avaliação da estenose entanto, seu custo e a demora na aquisição das
e sua localização, a tomografia geralmente su- imagens, fazem com que ela seja menos utiliza-
perestima a gravidade da lesão. da que a tomografia.
A ressonância magnética é comparável à O melhor método diagnóstico que também
tomografia computadorizada helicoidal, po- pode ser terapêutico, dependendo do momen-
dendo adquirir imagens em cortes transversais, to do exame e da estenose, é a endoscopia
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obstrução novamente e, nesses casos, pode ser Assim, a realização de procedimentos en-
necessária a ressecção endoscópica da neopla- doscópicos pode servir como uma ponte para
sia com bisturi elétrico ou laser, até mesmo an- o tratamento cirúrgico, mas o mais importante,
tes da colocação da órtese. pode constituir um tratamento definitivo para
A desvantagem desse tipo de dispositivo muitos pacientes, incluindo os que são candi-
é, principalmente, o fato de manter a esteno- datos à cirurgia, com taxas de sucesso varian-
se e permitir o crescimento do tumor através do de 32 a 66%.
do mesmo, além de dificultar a eliminação de Quanto ao tratamento cirúrgico, pode ser
secreções e poder migrar. Já no caso das órte- realizado desde a simples traqueostomia tem-
ses de silicone, mais conhecidas como Tubo T porária, até a definitiva e mais acertadamen-
de Montgomery, têm sua indicação na maioria te, a traqueoplastia ou a laringotraqueoplastia
das estenoses que não tenham indicação cirúr- término-terminal.
gica inicial, servindo como molde traqueal até A traqueostomia na urgência, como ma-
que o processo inflamatório regrida e permita neira de manutenção de via aérea, deve ser
a abordagem definitiva ou cronicamente, nos evitada antes da realização de exames que
casos em que não haja indicação cirúrgica permitam avaliar a localização da estenose,
definitiva. pois nos casos de localização cervical baixa ou
O tratamento das estenoses com auxílio de torácica, a cânula de traqueostomia estará aci-
órteses de silicone está geralmente associado à ma da obstrução, não permitindo a ventilação.
dilatação e ao uso de substâncias tópicas e em Quando realizada eletivamente tem a principal
longo prazo tem resultado satisfatório no tra- função de permitir a passagem de órteses tra-
tamento daquelas que não estejam associadas queais de silicone, nos casos onde a dilatação
à malácea. Possuem a vantagem de permitir a exclusiva não teve o efeito desejado em longo
manutenção da capacidade funcional normal, prazo. A traqueostomia definitiva é reservada
não migrar e ser constituídas por material ma- para situações de paliação, quando há neopla-
cio, que promove conforto ao paciente, com sias traqueais que não permitam a ressecção e
mínima chance de formação de granulomas. A reconstrução da via aérea.
principal contraindicação relativa à sua coloca- A ressecção com reconstrução término-ter-
ção é a presença de secreção pulmonar muito minal (laringotraqueoplastia e traqueoplastia)
espessa que possa ocluir o tubo, obstruindo a (fig. 8) é o principal tratamento definitivo para
via aérea. estenoses, tanto benignas, quanto malignas,
mas sua realização estará na dependência da
Fig. 8: Aspecto ressecabilidade da lesão, localização e extensão
final da anastomose
da mesma. Lesões irressecáveis serão aquelas
traqueal término-
terminal. tumorais, quando a neoplasia primária invade a
CIRURGIA TORÁCICA
60
C o n d u t a s e m U r g ê n c i a s e E m e r g ê n c i a s
realização de ressecção, já que até 60% da tra- de. O transplante de traqueia(15), apesar de ser
queia pode ser retirada com possibilidade de um método ainda experimental, já foi descrito
reconstrução primária. em seres humanos e a implantação de células
A evolução das técnicas cirúrgicas e de tronco no local da estenose também vem sen-
manipulação de células tronco hoje permite do experimentada, mas ainda há muito a se
que outras terapêuticas possam ser utilizadas estudar antes que possa ser possível o trata-
no tratamento das estenoses traqueais que mento definitivo de qualquer tipo de estenose
não obedecem aos critérios de ressecabilida- das vias aéreas.
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61
F a c u l d a d e d e M e d i c i n a d e B o t u c a t u —UNESP—
1
Professor Titular
Chefe da disciplina
Introdução (18%), existindo somente 2% de pacientes as-
sintomáticos. O achado radiológico foi normal
de Cirurgia Torácica
do Departamento de
Cirurgia e Ortopedia da
Faculdade de Medicina
A aspiração de corpo estranho (CE)
para a árvore traqueobrônqui-
ca, além de agudamente ser grave pelo risco
em 21% (fig. 1), e o CE radiopaco foi encon-
trado em 20% das vezes (fig. 2). A alteração
radiológica mais comum foi a atelectasia em
de Botucatu UNESP de levar à morte por asfixia(1), pode também 44% (fig. 3) e a hiperinsuflação (fig. 4) ocorreu
2
Professora Doutora cronicamente levar a lesões pulmonares irre- em 15% dos casos. A localização mais comum
Assistente da disciplina versíveis. Muitas crianças com CE na árvore foi à direita em 57% dos casos, à esquerda em
de Cirurgia Torácica brônquica ainda são tratadas como asmáti- 29% e na traqueia em 14%. Os CE mais co-
do Departamento de cas(2,3) e outras, por apresentarem radiografia muns foram as sementes em 42% dos casos,
Cirurgia e Ortopedia da
Faculdade de Medicina de tórax normal o diagnóstico de CE fica co- tendo como principal o amendoim, seguido
de Botucatu UNESP locado em segundo plano(2,4). E o pior é que do milho e feijão. Peças de canetas, ossos de
muitas histórias de “engasgo” são negligencia- frango, pregos, parafusos e similares tiveram
das no primeiro atendimento médico. O papel também incidência alta. Corpos Estranhos
do cirurgião frente a um corpo estranho na ár- curiosos foram um inseto (besouro) (fig. 5), um
vore traqueobrônquica pode ser tanto na fase parasita (mamomonogamus laringeus) e um
aguda, quando o CE não tem condições de ser projétil de arma de fogo (fig. 6) em uma crian-
retirado endoscopicamente, necessitando de ça de 7 meses e dois adultos, respectivamente.
uma broncotomia ou traqueosto-
mia, como também na fase crôni-
ca, onde já ocorreu destruição de
parte do pulmão e este necessita
ser extirpado mesmo que o CE já
tenha sido eliminado.
Incidência
CIRURGIA TORÁCICA
62
C o n d u t a s e m U r g ê n c i a s e E m e r g ê n c i a s
Fig. 3: Tampa de
caneta em brônquio
principal esquerdo.
Notar atelectasia de
pulmão esquerdo
(A). Grão de milho
na emergência do
brônquio do lobo
superior direito.
Notar atelectasia
deste lobo (B).
A B
A B CIRURGIA TORÁCICA
63
F a c u l d a d e d e M e d i c i n a d e B o t u c a t u —UNESP—
Fig. 6: Paciente
adulto vítima de
ferimento por
projétil de arma de
fogo na traqueia
alta. Radiografia
de tórax mostra o
projétil alojado no
hilo direito (A). A
tomografia mostra
que o projétil (B)
estava dentro do
brônquio direito e
ao lado o detalhe do
corpo estranho que A B
foi aspirado após
perfurar a traqueia.
sempre diz “engoliu”, raramente “aspirou”. A pegar o dispositivo inalatório sem a tampa de
presença de CE deve ser suspeitada sempre proteção aspira peças pequenas, que estavam
em pneumonias de repetição ou de difícil re- dentro dela(7). Neste caso teríamos um indiví-
solução. A tríade clássica (respiração ruidosa duo comprovadamente asmático com CE na
+ tosse + diminuição dos sons respiratórios árvore brônquica, mascarando mais ainda o
unilateralmente) ocorre em 40% dos casos(6), diagnóstico de CE (fig. 7).
e em nossa casuística ocorreu em menos de A radiografia de tórax é exame obrigatório
20%, embora 75% dos pacientes tenham um na suspeita de CE. Vane et al(8) relatam 97% de
ou mais deles. A história é o mais importan- acurácia com a radiografia para diagnóstico de
te para se conseguir diagnosticar um CE. Em CE, mas isto só foi conseguido por eles, e con-
nossa casuística 25% foram negligenciados testado pelos que comentaram o seu trabalho,
pelo primeiro médico mesmo com histórica pois a radiografia pode ser normal em 25% dos
típica dos sintomas terem se iniciado após “en- casos. A sensibilidade e especificidade do exa-
64
C o n d u t a s e m U r g ê n c i a s e E m e r g ê n c i a s
Fig. 8: Criança
neuropata com
traqueostoma que se
partiu e foi aspirado
para o brônquio
esquerdo, mantendo
pérvia a árvore
me radiológico de tórax varia de 68 a 73% e brônquica. Veja o
45 a 67%, respectivamente(9,10). A incidência de detalhe da posição
CE radiopaco oscila entre 10 a 25% dos casos na radiografia.
(fig. 8 e 9). Pode-se encontrar atelectasia, seg-
mentar, lobar ou de todo o pulmão, bem como
hiperinsuflação. Portanto, a radiografia nunca
pode excluir a presença do CE, e temos que
continuar pesquisando se a história ou exame
físico são sugestivos. Quando a radiografia fei-
ta em inspiração for normal pode-se fazê-la em
expiração e, neste caso, se houver mecanismo
valvular, teremos hiperinsuflação localizada.
O diagnóstico definitivo, desde que o CE
seja radiotransparente, só vai ser confirmado
após broncoscopia, pois tanto a radiografia CIRURGIA TORÁCICA
quanto a clínica são comuns a diferentes pa-
tologias. Wood & Gauderer(11) indicam bron-
cofibroscopia quando os indícios do CE são
pequenos, e broncoscopia rígida quando são
evidentes. Com este raciocínio em nossa ca-
suística não existiria espaço para a bronco-
fibroscopia, pois temos pouquíssimos casos
onde não existia CE (6%). Este dado não é A B
nada desejável, pois é melhor que tenhamos
broncoscopias negativas do que deixar o CE
Fig. 9: Paciente adulto com traqueostoma definitivo após
sem diagnóstico. Se a clínica é comum a várias laringectomia total que aspirou uma pinça. Detalhe à
patologias respiratórias, então provavelmente radiografia (A), o CE (B) encontrava-se no brônquio direito.
65
F a c u l d a d e d e M e d i c i n a d e B o t u c a t u —UNESP—
estamos deixando muitos casos sem diagnos- que possível. Com o aprofundamento do plano
ticar, pois a maioria dos autores referem um anestésico pode ocorrer depressão respiratória
percentual alto de casos negativos (81% para e a criança é ventilada manualmente. Durante
Wood e Gauderer)(11). A nosso ver, o maior a manipulação do CE a saturação de O2 pode
avanço para o diagnóstico do CE foi a video- cair, neste caso, retira-se a pinça, oclui-se a en-
endoscopia, a qual facilitou muito o encontro trada do broncoscópio e a criança é ventilada
de CE que eram de visualização difícil. até que novamente a saturação de O2 se eleve,
quando a pinça é colocada novamente. Como
o broncoscópio tem orifícios laterais, mesmo
Tratamento sem tirá-lo da intubação seletiva a saturação
de O2 já pode subir, senão, traciona-se a ponta
O tratamento consiste na retirada do CE, do broncoscópio até a traqueia.
que é realizado no momento da broncoscopia Para aqueles que não utilizam o vídeo e
diagnóstica, que se torna também terapêutica. aplicam anestesia inalatória, para se protege-
Alguns autores preferem realizar a broncofi- rem da inalação do anestésico podem utilizar
broscopia diagnóstica e, se positiva, realizar um respirador de mergulhador acoplado a uma
a broncoscopia rígida terapêutica, e poucos válvula bidirecional, onde o endoscopista inala
realizam a broncofibroscopia diagnóstica e ar puro da parte superior da sala e exala para
terapêutica(12). Nós preferimos a broncoscopia baixo onde está o gás anestésico, que é mais
rígida em crianças e a flexível nos adultos. É pesado que o ar. Utilizamos este equipamento
considerada urgência terapêutica quando já por muitos anos antes de termos o video. No
existe obstrução com insuficiência respiratória adulto fazemos somente sedação, atropina e
ou obstrução iminente pelas características do anestesia tópica com lidocaína, para realizar o
CE, como um grão de feijão na carina, que procedimento endoscópico flexível.
pelo fenômeno da turgescência aumenta seu O CE deve ser retirado preferencialmente
volume e pode causar asfixia (fig. 4B). inteiro, e não ser empurrado para baixo, a me-
Desde que não haja urgência deve-se dar o nos que esta manobra seja para salvar a vida
jejum apropriado para a realização da anestesia do doente, isto é, obstruir um brônquio para
na criança, que no nosso serviço, costuma ser que a ventilação possa ser feita pelo outro.
geral inalatória + endovenosa com propofol, A retirada do CE é realizada comumente
mantendo-a em respiração espontânea sempre com o auxílio de pinças de corpo estranho,
(A). Conjunto
broncoscópio +
“dormia” com a
pedra presa (B).
Detalhe do “basket”
extrator + pedra (C).
A B C
66
C o n d u t a s e m U r g ê n c i a s e E m e r g ê n c i a s
mas temos usado também o “basket” extrator, mais) pode ser difícil sua retirada, neste caso
mesmo em broncoscopia rígida, pois já haví- pode ser instituído corticoide e broncodilata-
amos utilizado o catéter de “Dormia” (extra- dor e se realizar drenagem postural e tapota-
tor de cálculo ureteral) que é semelhante ao gem, para tentar sua eliminação espontânea.
“basket” há 30 anos, para retirar uma pedra Moreno et al(14) referem 7,2% de eliminação
da árvore brônquica de uma criança (fig. 10). espontânea. Deve-se tomar o cuidado de não
A vantagem de usar o “basket” extrator é que generalizar esta conduta, pois Burrington e
pode sair mais de um fragmento de uma só vez, Cotton(15) preconizavam inalação de bronco-
útil no caso de amendoim, onde a presença de dilatador associado à drenagem postural e
mais de um fragmento aspirado é comum. tapotagem por 4 dias antes de indicar a bron-
Koloski(13) também indica o uso do catéter coscopia, mas quando Law e Koloski(16) usa-
de Fogarty, que não é o ideal, pois ao passar ram esta técnica tiveram sucesso somente em
pela carina o CE pode migrar para o outro 25% comparado com 89% quando realizavam
lado. O CE deve ser retirado com cuidado, a broncoscopia imediata, e referiram um caso
principalmente os pontiagudos, para que não de parada cardiorrespiratória secundária à mi-
haja lesão da mucosa. A delicadeza com que gração do CE do brônquio para a traqueia no
se pega e traciona o CE é importante, não só momento da drenagem postural. Abandona-
para não lesar a mucosa, como para não per- ram esta técnica pelo risco de asfixia, portanto,
der o CE e, na maioria das vezes, a remoção só se deve tentar a eliminação espontânea em
é feita em bloco (CE + broncoscópio), porque CE pequenos que estão na periferia.
geralmente o CE tem diâmetro maior que a Existem corpos estranhos bastante fáceis
luz do broncoscópio, e alguns são tão grandes de extrair, como o grão de café maduro úmido,
a ponto de existir dificuldade de passar pela que é uma semente firme e não se quebra ao
constrição cricoideana; sendo que alguns auto- ser apreendida. Já o feijão e o amendoim são
res indicam traqueostomia para a sua retirada. frágeis e, se não houver cuidado e paciência,
Nunca necessitamos dela e achamos que des- estes se fragmentam com facilidade. Também
de que o CE entrou pelo anel cricoideano, ele o feijão e o milho, pelo fenômeno da turges-
deve também sair, e se existe dificuldade com cência, aumentam seu volume, podendo ficar
pinça de corpo estranho ele poderá sair com o com o diâmetro maior que o do brônquio, cuja
“basket” extrator que tem “pega” mais estável. mucosa se torna edemaciada, dificultando des-
O edema de glote pode ocorrer em crian- ta forma sua retirada.
ças após a manipulação e, neste caso, utiliza- As tampas de caneta geralmente são aspi-
mos corticoides por 48 horas. Desde que exista radas com a boca para cima, o que facilita sua
secreção purulenta, ou sinais clínicos de infec- apreensão, mas se tiver a boca para baixo é
ção, ou quando o CE ficou muito tempo na necessário pegá-la em todo seu diâmetro com
árvore brônquica, instituem-se também antibi- a pinça de 2 dentes ou, se não for possível, CIRURGIA TORÁCICA
óticos. Brown e Clark(3) indicam também vaso- pode se usar o “basket” extrator. Pedras geral-
constritor tópico na presença de CE irritante da mente são extraídas também com o “basket”.
mucosa, quando o mesmo permaneceu vários Metais como pregos e alfinetes podem ser reti-
dias na árvore brônquica. rados com pinça ou com catéter acoplado com
Após a retirada do CE é importante a re- um imã. Existe maior dificuldade de se retirar
visão de toda árvore brônquica e lavagem da um corpo estranho quando o mesmo já foi ma-
mesma com soro fisiológico, pois Wood e Gau- nipulado, pois geralmente ele foi empurrado
derer(11) encontraram 26% de CE residual em para baixo ficando impactado. Se a criança es-
pacientes que já tinham sofrido broncoscopia tiver bem, vale a pena entrar com corticoides,
para retirada do CE. Quando existem dúvidas eventualmente broncodilatadores se houver
deve se repetir a broncoscopia dias após. Se o broncoespasmo, e realizar drenagem postural,
CE está na periferia (brônquio de 3a ordem ou efetuando-se a broncoscopia 2 dias após.
67
F a c u l d a d e d e M e d i c i n a d e B o t u c a t u —UNESP—
A B C
Na grande maioria dos nossos casos, a reti- dificilmente eles migram para cima, mas du-
rada do CE foi com broncoscópio rígido, sendo rante a manipulação ele pode subir, portanto,
somente 9% retirados com broncoscópio flexí- o melhor é abrir o brônquio transversalmente,
vel. Um e meio por cento foram extraídos com acima do CE, e tracioná-lo através da incisão
ímã (fig. 11) e 3% tiveram eliminação espontâ- por meio de uma pinça (fig. 12). Para os CE
nea, 7% necessitaram de cirurgia ou porque já periféricos, que não são vistos à broncoscopia,
tinham parte do pulmão destruído, ou porque não realizamos cirurgia, pois estes CE são ge-
não se conseguiu tirar o CE por meio de bron- ralmente pequenos, e com o uso de corticoste-
coscopia. Em somente 2,7% dos casos não se roides e drenagem postural, eles costumam ser
conseguiu retirar o CE e houve necessidade de eliminados espontaneamente.
broncotomia. No caso de destruição pulmonar a lobecto-
Nesse caso, após a toracotomia, o brôn- mia ou segmentectomia é realizada da manei-
quio deve ser clampeado levemente, proximal ra tradicional. É importante que se examine a
ao CE, para que com a manipulação não haja árvore brônquica remanescente após a lobecto-
migração para o outro lado. A abertura brôn- mia, pois retiramos vários fragmentos de den-
quica deve ser transversa o mais próximo pos- tadura do coto brônquico de um paciente que
sível do CE, e após sua extração o brônquio havia sofrido lobectomia inferior esquerda por
é fechado com alguns pontos simples. Para a bronquiectasia há 3 anos em outro serviço (fig.
realização da broncotomia devemos, primei- 13). Na realidade, ele havia sofrido acidente au-
ramente, saber a localização do CE, para que tomobilístico há 6 anos, onde perdeu sua den-
seja feito o planejamento cirúrgico adequado. tadura. Quatro fragmentos da mesma estavam
O cuidado para que o CE não migre para o no coto brônquico e, apesar de serem grandes
CIRURGIA TORÁCICA
outro lado deve ser extremo. Geralmente, os (3 cm de comprimento), não foram vistos pelo
Corpos Estranhos que necessitam de bronco- cirurgião, certamente porque o mesmo não exa-
tomia estão encravados no brônquio, então minou a árvore brônquica remanescente.
Fig. 12: Radiografia
de criança que
aspirou um
parafuso visto no
brônquio do lobo
inferior esquerdo ao
PA (A) e perfil
(B), não passível
de retirada sem a
broncotomia (C).
A B C
68
C o n d u t a s e m U r g ê n c i a s e E m e r g ê n c i a s
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F a c u l d a d e d e M e d i c i n a d e B o t u c a t u —UNESP—
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CIRURGIA TORÁCICA
70
C o n d u t a s e m U r g ê n c i a s e E m e r g ê n c i a s
HEMOPTISE MACIÇA
Frederico Henrique Sobral de Oliveira1
Daniele Cristina Cataneo2
Antônio José Maria Cataneo3
2
Professora Doutora
até os pulmões. A eliminação de escarro com exsanguinação e hipotensão. Assistente da disciplina
de Cirurgia Torácica
estrias de sangue é chamada de escarro he- O único tratamento imediato para salvar do Departamento de
móptico. A hemoptise maciça (HM) é conside- a vida do paciente seria a manutenção da Cirurgia e Ortopedia da
rada um sinal e sintoma clínico que coloca em permeabilidade da via aérea do pulmão não Faculdade de Medicina
risco a vida do paciente. Sua definição pela sangrante pelo tamponamento do sangrante e, de Botucatu, UNESP
quantidade de sangue eliminada nas 24 horas a seguir, com as condições ventilatórias mais 3
Professor Titular
não tem sido satisfatória, por isso na literatura adequadas, poderão ser tomadas as medidas Chefe da disciplina
são encontrados valores diversos desde 100ml para contenção do sangramento. A mortali- de Cirurgia Torácica
até 1000ml. dade na HM pode variar de 7% a 50% (Jou- do Departamento de
Cirurgia e Ortopedia da
Mesmo os valores mais comumente encon- gon et al, 2002)(1), dependendo da sequência Faculdade de Medicina
trados, que vão de 400 a 600ml, não levam de casos relatados, e se realizado tratamento de Botucatu, UNESP
em consideração o tamanho do indivíduo. conservador exclusivo pode aumentar para
Sabe-se que a árvore traqueobrônquica tem 50% a 85% ainda na primeira hora (Poianly
um volume aproximado em mililitros que é 2,2 et al, 2007)(2). Felizmente, a HM não é muito
vezes o peso corpóreo. Portanto, uma pessoa frequente, mas sua incidência é difícil de ser
com 100kg teria sua árvore traqueobrônquica quantificada devido à heterogeneidade das di-
inundada com 220ml, enquanto que um indi- versas séries.
víduo menor, com 50kg, necessitaria da meta- A causa mais comum de HM em nosso
de desse volume. meio é a tuberculose, tanto ativa quanto se-
Por outro lado, se o sangramento for con- quelar (fig. 1, 2 e 3). O Instituto de Tisiologia
tínuo, 600ml em 24 horas representam 1ml a e Pneumologia da UFRJ, hoje denominado
cada 2,4 minutos, que pode ser eliminado com Instituto de Doenças do Tórax, localizado no
a tosse sem perigo algum para o paciente, mas estado brasileiro onde a incidência da tuber- CIRURGIA TORÁCICA
um sangramento agudo, de 150ml, que ocorra culose é a maior do país, tem uma das maio-
de uma só vez e pare em seguida, pode asfi- res casuísticas, com mais de 500 casos de HM
xiar o indivíduo. Por isso, alguns autores pre- tratados de 1978 a 1998, onde 85,5% foram
ferem definir HM como aquela em que a perda devidos à tuberculose (Guimarães, 2005)(3).
é de 150 a 200ml de sangue de uma só vez.
Apesar de mais lógica, essa definição tam-
bém é muito relativa, pois a perda de 100ml Etiologia
ou menos de uma só vez por um indivíduo
pequeno, já com insuficiência respiratória ou Diversas doenças podem causar a HM,
inconsciente, pode ser muito pior, levando al- contudo, as mais comuns são as infecciosas (tu-
guns autores a classificar a HM também como berculose, bronquiectasia e abscesso pulmonar)
qualitativa, que seria qualquer hemoptise em e inflamatórias (vasculites) juntamente com as
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F a c u l d a d e d e M e