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Práticas de Refrigeração

e Ar-Condicionado
Prof.a Mariana Ricken Barbosa
Prof. Bruno Pizol Invernizzi

Indaial – 2019
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2019

Elaboração:
Prof.a Mariana Ricken Barbosa
Prof. Bruno Pizol Invernizzi

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

B238p

Barbosa, Mariana Ricken

Práticas de refrigeração e ar-condicionado. / Mariana Ricken


Barbosa; Bruno Pizol Invernizzi. – Indaial: UNIASSELVI, 2019.

226 p.; il.

ISBN 978-85-515-0397-3

1. Ar-condicionado. - Brasil. 2. Refrigeração. – Brasil. I. Invernizzi,


Bruno Pizol. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.

CDD 697.93

Impresso por:
Apresentação
Caro acadêmico! Seja bem-vindo à disciplina Práticas de Refrigeração
e Ar-Condicionado. Este conteúdo foi estruturado de tal modo que,
primeiramente, serão compreendidos os principais conceitos nos sistemas
térmicos ditos refrigeração e condicionamento de ar, para isso, são abordados
terminologias e equacionamentos próprios da termodinâmica e psicrometria,
já que elas traduzem os fenômenos de abaixamento de temperatura de um
recinto que naturalmente tenderia a ficar em equilíbrio térmico com um
ambiente externo.

De posse a esse conhecimento, você verá na Unidade 1, quais são


as principais propriedades termofísicas e termodinâmicas que interferem e
descrevem os fenômenos envolvidos na refrigeração de um espaço.

Na Unidade 2, você estudará como efetuar a modelagem de um


ar-condicionado, levando em consideração os aspectos que interferem na
eficiência do circuito de refrigeração proposto, por exemplo, escolha do
compressor, fluido de trabalho, entre outros.

Na Unidade 3, temos o fechamento desse conteúdo, então são


destacados os principais modelos de ar-condicionado existentes, bem como os
seus principais cálculos de projeto e entendimento de segurança operacional.

Nesta disciplina também é apresentado como os assuntos abordados


interagem e podem ser representados por práticas, sejam elas computacionais
ou experimentais. Com isso, você estará preparado para atender à solicitação
de uma realidade industrial, comercial ou residencial no que se refere ao
condicionamento de ambientes diversos.

Bons estudos!

Prof.a Mariana Ricken Barbosa
Prof. Bruno Pizol Invernizzi

III
NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!

IV
V
LEMBRETE

Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela


um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro


que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá
contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares,
entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.

Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!

VI
Sumário
UNIDADE 1 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS EM SISTEMAS DE REFRIGERAÇÃO...........1

TÓPICO 1 – DEFINIÇÕES GERAIS DE TERMODINÂMICA.........................................................3


1 INTRODUÇÃO........................................................................................................................................3
2 CONCEITOS BÁSICOS.........................................................................................................................4
2.1 SISTEMAS E SUAS CARACTERÍSTICAS.......................................................................................4
2.2 TEMPERATURA E LEIS DA TERMODINÂMICA......................................................................10
2.3 PROPRIEDADES VOLUMÉTRICAS DE FLUIDOS PUROS......................................................26
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................30
AUTOATIVIDADE..................................................................................................................................31

TÓPICO 2 – FUNDAMENTOS EM PSICROMETRIA.....................................................................33


1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................................33
2 PROPRIEDADES PSICROMÉTRICAS.............................................................................................33
3 CARTA PSICROMÉTRICA.................................................................................................................40
4 APLICAÇÕES DE PSICROMETRIA.................................................................................................44
4.1 EXEMPLOS TÍPICOS EM CONDICIONAMENTO DE AR.......................................................44
4.2 TORRES DE RESFRIAMENTO.......................................................................................................47
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................52
AUTOATIVIDADE..................................................................................................................................53

TÓPICO 3 – ESTUDOS DE CASO E EXPERIMENTAÇÃO.............................................................55


1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................................55
2 CÁLCULO DA PROPAGAÇÃO DE ERROS....................................................................................56
3 PRÁTICAS PROPOSTAS.....................................................................................................................60
3.1 APLICAÇÃO DE EQUAÇÕES DE ESTADO................................................................................60
3.2 DETERMINAÇÃO EXPERIMENTAL DA VISCOSIDADE DINÂMICA.................................65
3.3 VERIFICAÇÃO DOS EFEITOS DECORRENTES DA PRIMEIRA
LEI DA TERMODINÂMICA...........................................................................................................72
3.4 DETERMINAÇÃO DE PROPRIEDADES PSICROMÉTRICAS . ..............................................74
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................78
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................81
AUTOATIVIDADE..................................................................................................................................82

UNIDADE 2 – APLICAÇÕES EM REFRIGERAÇÃO.......................................................................83

TÓPICO 1 – EQUIPAMENTOS E FLUIDOS USADOS EM REFRIGERAÇÃO..........................85


1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................................85
2 PRINCIPAIS EQUIPAMENTOS, FLUIDOS E SUAS CARACTERÍSTICAS............................85
2.1 COMPRESSOR..................................................................................................................................86
2.1.1 Equações gerais para compressores . ...................................................................................89
2.1.2 Dispositivos de expansão ......................................................................................................91
2.2 CONDENSADOR E EVAPORADOR............................................................................................99
2.3 TUBULAÇÕES................................................................................................................................107

VII
2.4 FLUIDO REFRIGERANTE............................................................................................................108
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................112
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................113

TÓPICO 2 – CICLOS DE REFRIGERAÇÃO.....................................................................................115


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................115
2 CICLO DE CARNOT REVERSO......................................................................................................116
3 O CICLO IDEAL DE REFRIGERAÇÃO POR COMPRESSÃO DE VAPOR...........................119
4 SISTEMA DE REFRIGERAÇÃO EM CASCATA..........................................................................123
5 REFRIGERAÇÃO POR COMPRESSÃO EM MÚLTIPLOS ESTÁGIOS..................................125
6 CICLOS DE REFRIGERAÇÃO A GÁS...........................................................................................126
7 SISTEMA DE REFRIGERAÇÃO POR ABSORÇÃO....................................................................128
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................132
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................133

TÓPICO 3 – ESTUDOS DE CASO E EXPERIMENTAÇÃO EM REFRIGERAÇÃO.................135


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................135
2 ESTUDO DE CASO.............................................................................................................................135
2.1 CICLO DE POTÊNCIA..................................................................................................................135
2.2 OTIMIZAÇÃO DE UM CICLO DE REFRIGERAÇÃO.............................................................139
2.3 IMPLEMENTAÇÃO COMPUTACIONAL DE CICLOS TERMODINÂMICOS...................141
3 EXPERIMENTAÇÃO...........................................................................................................................143
3.1 DETERMINAÇÃO DE COEFICIENTE DE DESCARGA PARA
UMA PLACA DE ORIFÍCIO.........................................................................................................143
3.2 DETERMINAÇÃO DAS VARIÁVEIS TÉRMICAS DE UM CONDENSADOR
E SEUS EFEITOS.............................................................................................................................147
LEITURA COMPLEMENTAR..............................................................................................................151
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................155
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................156

UNIDADE 3 – SISTEMAS DE AR-CONDICIONADO..................................................................159

TÓPICO 1 – AR-CONDICIONADO: CONFORTO E COMÉRCIO.............................................161


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................161
2 SUGESTÃO PARA ESCOLHA DO SISTEMA .............................................................................162
2.1 TIPOS DE SISTEMAS DE AR-CONDICIONADO.....................................................................164
2.1.1 Ar-condicionado do tipo janela..........................................................................................164
2.1.2 Ar-condicionado do tipo Split.............................................................................................165
2.1.3 Selfs contained.........................................................................................................................169
2.1.4 Cogeração..............................................................................................................................170
2.1.5 Sistemas evaporativos..........................................................................................................171
2.2 CÁLCULO DE CARGA TÉRMICA.............................................................................................173
3 REQUISITOS PARA CONFORTO TÉRMICO..............................................................................182
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................186
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................187

TÓPICO 2 – INSTALAÇÕES ELÉTRICAS, MANUTENÇÃO E SEGURANÇA........................189


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................189
2 INSTALAÇÃO: INSTRUMENTOS..................................................................................................190
3 SEGURANÇA: MANUSEIO DE CILINDROS, PRESSURIZAÇÃO
E FLUIDO REFRIGERANTE............................................................................................................195

VIII
3.1 MANUSEIO DE CILINDROS.......................................................................................................195
3.2 PRESSURIZAÇÃO..........................................................................................................................196
3.3 TRABALHANDO COM FLUIDOS REFRIGERANTES............................................................197
4 MANUTENÇÃO: EQUIPAMENTOS MECÂNICOS ..................................................................198
4.1 MANUTENÇÃO DA SEÇÃO DO REFRIGERADOR...............................................................198
4.1.1 Motor e compressor...............................................................................................................199
4.1.2 Verificação de vazamentos de fluido refrigerante............................................................202
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................204
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................205

TÓPICO 3 – ESTUDOS DE CASO E EXPERIMENTAÇÃO...........................................................207


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................207
2 ESTUDO DE CASO.............................................................................................................................207
2.1 CÁLCULO SOBRE OS FATORES DE CARGA TÉRMICA.......................................................207
2.2 PROJETO DE SISTEMA DE CONDICIONAMENTO DE AR..................................................211
2.3 FUNCIONAMENTO DE AR-CONDICIONADO SPLIT..........................................................215
2.4 PRÁTICA DE TORRE DE RESFRIAMENTO.............................................................................217
LEITURA COMPLEMENTAR..............................................................................................................219
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................220
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................221

REFERÊNCIAS........................................................................................................................................223

IX
X
UNIDADE 1

CONCEITOS FUNDAMENTAIS EM
SISTEMAS DE REFRIGERAÇÃO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• identificar a região de interesse em um estudo de sistemas de refrigeração;

• reconhecer as propriedades termodinâmicas que interferem nos estudos


de troca de calor;

• calcular as propriedades psicrométricas de um sistema de condicionamento


de ar;

• determinar a viscosidade dinâmica de um fluido líquido.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – DEFINIÇÕES GERAIS DE TERMODINÂMICA

TÓPICO 2 – FUNDAMENTOS EM PSICROMETRIA

TÓPICO 3 – ESTUDO DE CASO E EXPERIMENTAÇÃO

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1

DEFINIÇÕES GERAIS DE TERMODINÂMICA

1 INTRODUÇÃO

Quando se refere ao funcionamento de ar-condicionado ou refrigeradores,


geralmente pode nos vir em mente que é necessário conhecer e compreender
quais são seus componentes, ou seja, dimensionar e caracterizar os equipamentos
e especificar os fluidos que promovem a transferência de energia entre um meio
a uma temperatura elevada e outro numa temperatura inferior. Perceba que
esses aspectos e o estudo da descrição de fenômenos associados não podem ser
determinados senão houver um conhecimento das terminologias, equacionamentos
e fundamentos teóricos ou experimentais que caracterizam esses sistemas, afinal,
quando se observa uma geladeira com porta aberta e ligada na tomada, apenas
ouvimos um barulho, sentimos um frescor vindo de dentro dela e um ar quente na
parte de trás desse eletrodoméstico, mas todo porquê de como os alimentos ali são
mantidos frescos ainda permanece como um mistério a ser desvendado.

Na intenção de conseguirmos compreender como os alimentos são


refrigerados ou congelados, para fins de conservação dos valores nutricionais e
das características sensoriais, que são percebidas pelos sentidos da visão, olfato,
tato, gosto e audição, assim como o modo com que uma sala ou uma aeronave
é mantida numa temperatura que propicie conforto térmico, por vezes dita
agradável, ainda mais que você está vivenciando dias cada vez mais quentes.

Neste tópico serão apresentadas as leis que explicam como é possível


reduzir a temperatura de um lugar e ao custo do que isso é feito. Certamente
esses formalismos irão ser escritos por fórmulas ditas expressões matemáticas
que compõem um modelo matemático, que por sua vez, contém variáveis
que se relacionam por meio de propriedades facilmente mensuráveis, como a
pressão, temperatura e volume, bem como dispõe de hipóteses para a descrição
simplificada, porém verdadeira, dos fenômenos associados a refrigeração.

Com isso, justifica-se iniciar nossos estudos com a definição de conceitos


básicos, comumente estudados pela ciência dita termodinâmica, que lhe
auxiliará na determinação da inter-relação entre as variáveis e, posteriormente,
caracterização dos sistemas térmicos, especificamente os refrigeradores e ares-
condicionados. Vamos começar pela descrição de um sistema e suas propriedades
associadas. Você está preparado para desvendar os mistérios da refrigeração?

3
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS EM SISTEMAS DE REFRIGERAÇÃO

2 CONCEITOS BÁSICOS
Quando tratamos de dimensionamento, otimização ou até mesmo do
funcionamento de equipamentos de engenharia, necessitamos definir seus
principias constituintes e fundamentos teóricos que alicerçam esse estudo.
Por isso, neste tópico, é discorrido sobre as propriedades termodinâmicas e
terminologias pertinentes aos estudos de refrigeração e ar-condicionado.

2.1 SISTEMAS E SUAS CARACTERÍSTICAS


A compreensão do funcionamento de um processo qualquer é alcançado
quando se é capaz de responder a algumas perguntas, tais como: o que estou
analisando? Para que serve? Como ele opera? Existem melhorias a serem
propostas para otimizar o seu desempenho? Por exemplo, quando você se depara
com um ar-condicionado instalado e em funcionamento, não é visível o que está
acontecendo em seu interior, pois a sua visão delimitou uma região de estudo
que é incapaz de fornecer informações detalhadas.

No entanto, se imaginássemos que fosse realizado um corte nesse


equipamento, conseguiríamos visualizar seu interior, observando a presença de
um ventilador, ventoinha, compressor, filtro e alguns dutos, mas ainda assim não
verificaríamos um fluxo do fluido que promove a diminuição da temperatura
de um meio interno em relação a um ambiente externo, sendo que isso só seria
possível se fixássemos a zona de interesse, por exemplo, o evaporador.

Todas essas seções descritas e delimitadas no ar-condicionado em análise


são denominadas sistemas, que são cercadas por um meio chamado vizinhança
a partir de uma fronteira real ou imaginária. A Figura 1 ilustra de forma genérica
essas definições, se você refletir um pouco mais poderá fazer uma associação
da imagem apresentada com um esquema estudado na teoria de conjuntos, o
diagrama de Venn, no qual temos uma série de conjuntos (aqui sistemas) e a
união de todos eles resulta no universo (que corresponde à soma da contribuição
de todos os sistemas e a vizinhança).

FIGURA 1 – VISUALIZAÇÃO DE SISTEMA, VIZINHANÇA E FRONTEIRA

FONTE: Os autores

4
TÓPICO 1 | DEFINIÇÕES GERAIS DE TERMODINÂMICA

Na Figura 1 é apresentado um cubo em que seu interior é a região do


espaço de interesse, ou seja, o sistema, cujas arestas correspondem à fronteira e
o meio externo é dado por um retângulo localizado exteriormente ao cubo, que
representa tudo que é exterior ao sistema, denominado vizinhança.

NOTA

No caso da Figura 1, não se observa massa entrando ou saindo através da


fronteira do sistema, o que define um sistema fechado. Nesse caso, existe uma quantidade
fixa de matéria, ou seja, a massa do sistema é constante em relação ao tempo, contudo, não
se exclui a possibilidade de ocorrer interação de energia entre o sistema e a vizinhança. Há
um caso especial de sistema fechado em que não há troca de energia do sistema com a
vizinhança, denominado sistema isolado. Pontua-se que podemos ter a situação em que um
fluxo mássico e um fluxo energético atravessam a fronteira do sistema, entrando ou saindo
dele, o que caracteriza um sistema aberto ou também conhecido como volume de controle.
Dessas definições, podemos perceber que um ar-condicionado pode ser tratado como um
sistema fechado se delimitarmos o estudo do equipamento como um todo, mas pode ser
um sistema aberto se o foco for dado sobre um de seus dispositivos, como o evaporador.

Definida a região de estudo, podemos constatar a influência da ação


da vizinhança sobre um sistema a partir de mudanças ocorridas em suas
propriedades, ou seja, em suas características, sejam elas pressão, temperatura,
massa ou volume. Você já deve ter notado que a temperatura de 10 g de água no
interior de um copo é exatamente equivalente a 100 g dessa mesma água num
mesmo meio, contudo, os volumes que 10 g e 100 g de água ocupam são diferentes.
Isso se dá porque a temperatura é um exemplo de propriedade intensiva e o
volume uma propriedade extensiva.

Uma propriedade intensiva é aquela que independe da quantidade de


massa em um sistema, ao passo que a propriedade extensiva é dependente. Essa
classificação é facilmente compreendida quando se secciona virtualmente o
sistema em partes iguais e observa-se o valor da propriedade em cada divisão, se
for o mesmo do sistema original temos uma propriedade intensiva, caso contrário,
será uma propriedade extensiva, a Figura 2 mostra alguns exemplos dessas
propriedades. Ressalta-se que o quociente entre duas propriedades extensivas
resulta numa propriedade intensiva, como é o caso do volume específico, expresso
pela razão entre o volume e a massa do sistema, e da pressão, dada pela razão
entre força e área.

5
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS EM SISTEMAS DE REFRIGERAÇÃO

FIGURA 2 – EXEMPLOS DE PROPRIEDADES INTENSIVAS E EXTENSIVAS

FONTE: Os autores

A Figura 2 apresenta dois quadros que não se comunicam entre si,


sendo que o primeiro contém alguns exemplos de propriedades intensivas,
como: temperatura, densidade, energia interna por quilo, tempo e pressão.
Já no segundo quadro foram destacadas algumas das principais propriedades
extensivas estudadas pelo sistema de condicionamento de ar e refrigeração, são
elas: força, área, energia de uma substância, volume e massa.

É claro que uma única propriedade ou informação é incapaz de definir ou


descrever um sistema como um todo, por exemplo, se disséssemos que em uma
sala há uma pessoa, não sabemos se ela se encontra numa situação de conforto
espacial pois não foram mencionadas as dimensões do local e a estrutura física
da pessoa. Mas, se falássemos que uma pessoa de 65 kg e 170 cm encontra-se
numa sala de 10 m², podemos concluir que ela pode até pode deitar-se sobre o
chão que sobraria espaço. Assim são as propriedades fixas de um sistema, que
determinadas e analisadas em conjunto descrevem inteiramente o seu estado.

E
IMPORTANT

Nos estudos de sistemas de refrigeração, é essencial a compreensão de


propriedades termodinâmicas, essencialmente as que lidam com estados em equilíbrio,
ou seja, não há um agente que provoca, em um determinado tempo, mudanças em sua
temperatura (equilíbrio térmico), pressão (equilíbrio mecânico) e composição química
(equilíbrio químico).

Todavia, você acredita que seja necessário especificar todas as propriedades


para definir o estado de um sistema? Se a resposta para essa pergunta fosse sim,
teríamos um trabalho interminável para descrever um fenômeno de qualquer
natureza, pois só nos estudos envolvendo a termodinâmica existem centenas de

6
TÓPICO 1 | DEFINIÇÕES GERAIS DE TERMODINÂMICA

propriedades! Então, podemos utilizar um artifício matemático já consolidado na


literatura científica para determinar a quantidade de propriedades conhecidas e
necessárias para a especificação de um estado, conhecido como a regra de Gibbs-
Duhem, Equação 1, sendo que foi desconsiderado o termo reacional, pois não
trataremos de fenômenos envolvendo tal efeito neste livro.

F =C − Ph + 2 (Equação 1)

Em que:

F ≡ graus de liberdade (freedom);


C ≡ número de componentes em um sistema (components);
Ph ≡ número de fases em um sistema (phases).

Por exemplo, podemos determinar a massa específica de água líquida


conhecendo a temperatura e pressão em que ela se encontra, pois, nesse caso,
temos que C = 1 (água), Ph = 1 (estado líquido), então F = 1 - 1 + 2 = 2, isto é,
dispondo de duas propriedades intensivas (temperatura e pressão), qualquer
outra pode ser determinada (massa específica ou a densidade).

Para que um efeito seja produzido, por exemplo, uma sala seja resfriada,
são necessárias mudanças no estado de equilíbrio, chamadas de processos e os
diversos estados pelos quais um sistema percorre durante tais processos é dito
percurso. Simplificadamente essas definições podem ser exemplificadas pela
Figura 3, em que se nota um êmbolo ocupando uma posição de um cilindro
contendo oxigênio (O2) gasoso num primeiro estado descrito por p1, v1 e T (1),
após sofrer ação de uma força externa vertical e para baixo (F), o êmbolo percorre
um percurso que provoca o aumento da pressão do sistema (p) em decorrência
da compressão, isto é, diminuição do volume (v) ocupado pelo gás, chegando
a um novo estado dado por p2, v2 e T (2). Todo esse processo ocorreu a uma
temperatura (T) constante, caracterizando um processo isotérmico. É claro que
poderia ter escolhido outra rota, em que a pressão fosse constante (processo
isobárico) ou então o volume (isocórico).

FIGURA 3 – EXEMPLO DE PROCESSO E ESTADO

FONTE: Os autores

7
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS EM SISTEMAS DE REFRIGERAÇÃO

Na primeira imagem da Figura 3, tem-se um conjunto cilindro-êmbolo,


contendo oxigênio gasoso no seu interior a pressão p1, volume v1 e temperatura
T. Noutra imagem, esse mesmo sistema é submetido a uma força vertical para
baixo F, que provoca a descida do êmbolo, fazendo com o sistema chegue às
condições intermediárias com pressão p, volume v e temperatura T. Por fim, na
terceira imagem, cessou-se a ação da força externa F, com isso, o êmbolo deixa
de se movimentar e ele se encontra numa altura inferior aos demais casos para
demonstrar e representar a compressão realizada até atingir uma nova e maior
pressão (p2), volume inferior ao inicial (v2), mantendo-se a temperatura fixa ao
longo de todas essas etapas.

Nesse exemplo, citamos a presença de oxigênio gasoso no interior de


um cilindro, ou seja, definimos o estado físico da substância ali presente. Isso
foi realizado porque é fundamental conhecer a fase que uma substância pura ou
uma mistura se encontra, pois isso interfere diretamente em suas propriedades.
Em termos gerais, temos a fase: (1) líquido comprimido, (2) vapor superaquecido
e (3) fases intermediárias a essas, que são o líquido saturado, ou seja, um líquido
na iminência em se transformar em vapor, em que se observa a formação da
primeira bolha de vapor, mistura de líquido e vapor com porcentual mássico de
vapor dado pelo título, que relaciona a massa de vapor no sistema com a massa
de líquido saturado mais vapor saturado, e a fase de vapor saturado, que contém
a última gota de líquido.

Comumente, essas regiões são dadas em isobáricas (curvas de pressão


constante) de gráficos temperatura versus volume específico, denominados
diagramas T-v, ou em isotérmicas em diagramas p-v, conforme mostram os
Gráfico 1a e 1b, respectivamente, onde são apresentadas as regiões: 1 – líquido
comprimido, 2 – ponto de líquido saturado, 2 a 3 – faixa de equilíbrio líquido e
vapor, 3 – ponto de vapor saturado e 4 – vapor superaquecido, que se diferencia
de vapor saturado pelo fato de se encontrar em pressões mais baixas que a de
saturação a uma determinada temperatura (T), ou temperaturas mais altas que
a de saturação a uma determinada pressão (p), e ainda volumes específicos mais
altos que o de saturação a uma determinada T ou p.

GRÁFICO 1 - DIAGRAMAS (a) T-v e (b) p-v DE SUBSTÂNCIAS PURAS

FONTE: Os autores

8
TÓPICO 1 | DEFINIÇÕES GERAIS DE TERMODINÂMICA

No Gráfico 1a, nós temos um gráfico cujos eixos vertical e horizontal


correspondem, respectivamente, à temperatura e volume específicos. Nessa
imagem, em regiões de baixos valores de temperatura e volume específico,
a uma pressão fixa, temos a Região 1 (fase de líquido comprimido). A uma
determinada temperatura, mantendo-se a pressão fixa, esse líquido começa a
vaporizar, gerando, então, o Ponto 2 (líquido saturado). Seguindo o aquecimento
isobárico da substância, há um aumento no volume específico ocasionado pela
expansão do vapor saturado à temperatura constante e igual a de saturação, até
que se obtenha a última gota, em que se registra o Ponto 3 (vapor saturado). Um
posterior aquecimento, ainda à mesma pressão, provoca um aumento súbito de
volume, formando a Região 4 (vapor superaquecido).

O Gráfico 1b foi realizado com eixos vertical e horizontal correspondentes,


respectivamente, à pressão e volume. Neste caso, em regiões de altas pressões
e baixos volumes específicos, a uma temperatura constante, temos líquido
comprimido, que ao se despressurizar isotermicamente a substância, há a
formação da primeira bolha. Nesse ponto, visualiza-se uma reta paralela ao
volume específico para representar a região de equilíbrio líquido-vapor até
alcançar o Ponto 3. Mantendo a despressurização isotérmica do sistema, há a
formação da região de vapor superaquecido, onde se têm altos valores de volume
específicos em baixas pressões.

E
IMPORTANT

No Gráfico 1a, foi realizado o esboço de apenas uma isobárica, mas poderíamos
plotar tantas linhas de pressão quantas forem necessárias. Afinal, certos processos
necessitam ser realizados em altas pressões, como no caso de compressores, bem como
em baixas pressões, como no caso de expansores. O conjunto formado pela intersecção de
todos os pontos de líquido saturado e vapor saturado resulta na curva binoidal, cuja forma
se assemelha a um sino. Esse mesmo raciocínio pode ser feito para o caso do Gráfico 1b,
traçando-se diversas curvas de temperatura, obtendo como resultado a Figura 4.

FIGURA 4 – DIAGRAMA PRESSÃO, VOLUME E TEMPERATURA DE UMA SUBSTÂNCIA

FONTE: <https://image.shutterstock.com/image-illustration/phase-diagram-2dimensional-
3dimensional-600w-346560500.jpg>. Acesso em: 23 out. 2019.

9
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS EM SISTEMAS DE REFRIGERAÇÃO

2.2 TEMPERATURA E LEIS DA TERMODINÂMICA


Quando ligamos um ar-condicionado ou uma geladeira, dependendo do
set-up que fornecemos a eles, podemos ter a sensação de frio, frio de congelar
ou “calor”. Essas experiências, certamente, dependem de indivíduo a indivíduo
ou de uma situação, por exemplo, em uma sala nota-se (ou tem-se a sensação)
de que uma mesa de metal é mais fria do que uma mesa de madeira. Por isso,
apenas a vivência não é útil para definir uma lei que descreva, para o nosso
caso, os fenômenos associados a energia, que, por sua vez, deve ser geral e
isenta de subjetividade.

Nesse sentido, você saberia responder como se definiu o valor da


temperatura de um corpo? R. H. Fowler, em 1931, foi o responsável pela concepção
de medidas de temperatura ao postular a Lei Zero da Termodinâmica, conforme
mencionam Çengel e Boles (2006, p. 14), “se dois corpos estão em equilíbrio
térmico com um terceiro corpo, eles também estão em equilíbrio térmico entre
si”, ou seja, “ao substituir o terceiro corpo por um termômetro, a Lei Zero pode
ser reescrita como dois corpos estão em equilíbrio térmico se ambos tiverem a
mesma leitura de temperatura, mesmo que não estejam em contato”.

A partir da definição de temperatura, surgiram algumas escalas que


auxiliaram pesquisadores e colaboradores de indústrias a compreenderem as
condições operacionais adotadas por empresas de um país e sua reprodução ou
aprimoramento. Essas escalas foram definidas em função do ponto de ebulição
e congelamento da água, no caso da escala Celsius, à pressão de 1 atm, tem-se
que os valores atribuídos aos pontos de fusão e vapor foram de 0 °C e 100 °C,
respectivamente. A Tabela 1 apresenta as diferentes escalas com seus valores para
o ponto de gelo (fusão) e de vapor (ebulição) da água em uma pressão de 1 atm,
que é equivalente 101,33 kPa.

TABELA 1 – DIFERENTES ESCALAS DE TEMPERATURA EXISTENTES

Escala de Temperatura Ponto de fusão Ponto de ebulição


Celsius (°C) 0 100
Kelvin (K) 273 373
Rankine (R) 492 672
Fahrenheit (°F) 32 212
Réaumur (°Ré) 0 80

FONTE: Os autores

10
TÓPICO 1 | DEFINIÇÕES GERAIS DE TERMODINÂMICA

NOTA

Todas as escalas de temperatura podem ser convertidas entre si, basta


utilizarmos o conceito de interpolação. Apresentaremos, a seguir, algumas expressões para
que seja realizada essa modificação.

• Kelvin para Fahrenheit: °F = K x 1,8 - 460.


• Kelvin para Celsius: °C = K - 273.
• Kelvin para Rankine: R = K x 1,8.
• Kelvin para Réaumur: °Ré = (K - 273) x 0,8.

Apenas conhecer como surgiu o termo de temperatura não nos ajuda


a entender por que uma sala é esfriada ao impormos uma temperatura de
funcionamento do ar-condicionado inferior ao ambiente em que ele se encontra
instalado. Em outras palavras, é necessário (re)conhecer que existem outras leis
para que haja a compreensão de um sistema térmico qualquer.

Para isso, vamos nos valer de uma realidade que você ou alguém próximo
já vivenciou. Suponha que você esteja no mês de outubro e começa a planejar uma
viagem para Porto de Galinhas, localizada no estado brasileiro de Pernambuco.
Além da preocupação com a sua condição de saúde física, você percebe que
precisa fazer uma dieta para reduzir sua massa ou aumentar sua resistência
a fim de aproveitar a viagem curtindo o sol e as belezas naturais da região.
Então, você reduz a quantidade de carboidrato ingerida e percebe que alguns
quilogramas foram “perdidos”. Mas, afinal, como essa situação se relaciona com
o funcionamento de um ar-condicionado? A intenção desse exemplo foi ilustrar
que uma massa de carboidrato contém certa quantidade de energia, que se for
ingerida em excesso, será acumulada na forma de gordura pelo organismo e,
consequentemente, aumentará a massa de quem a ingeriu. Então, deve haver
uma relação entre acúmulo ou armazenamento de energia de um sistema e as
trocas energéticas de um sistema com sua vizinhança, e essa interação, de forma
resumida, é o enunciado da Primeira Lei da Termodinâmica.

A Primeira Lei da Termodinâmica nos afirma que a energia não pode


ser criada tampouco destruída durante um processo, ou seja, ela deve se
transformar. Essa afirmação é similar à frase dita por Antoine Lavoisier em 1773,
ao estabelecer um importante enunciado, dado por, em termos gerais, pela frase:
na natureza tudo se transforma, portanto, não se deve esperar a criação ou perda
de uma massa ou energia, variáveis fundamentais dos estudos em engenharia.
Lavoisier foi então considerado como referência para estabelecer o Princípio de
Conservação da Massa, em que para uma quantidade de matéria fixa, m, a sua
variação temporal é nula, equação 2.

11
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS EM SISTEMAS DE REFRIGERAÇÃO

dM 
 =0 (Equação 2)
dt  sistema

Com:

M sistema
= ∫=dm ∫
M ( sistema ) V ( sistema ) ρdV (Equação 3)

Em que:

t ≡ tempo (s);
V ≡ volume do sistema (m³);
m ≡ massa do sistema (kg).

Caso haja variação de massa em relação ao tempo, como acontece num


processo de enchimento ou esvaziamento de um reservatório, e se observa um
fluxo líquido de massa saindo de um volume de controle (VC), a expressão para
a lei da conservação de massa necessita ser representada pela Equação 4.

∂  
∂t ∫ ∫
VC ρ dV + SC ρ V .d A =
0 (Equação 4)

Em que:

ρ ≡ massa específica do fluido (kg/m³);


A ≡ área da secção transversal ao escoamento (m²).
SC ≡ índice de superfície de controle, que representa os limites geométricos de
um volume de controle.

Para expressarmos matematicamente a Primeira Lei da Termodinâmica,


precisamos compreender as formas de energia que existem em um sistema e as
diversas interações que ele pode ter com a sua vizinhança mais próxima. Um
sistema pode conter diversos tipos de energia, tais como energia térmica, nuclear,
química, mecânica, cinética, potencial, elétrica, magnética etc., sendo que a soma
de todas essas contribuições resulta na energia total de um sistema. É importante
mencionar que nada se pode afirmar sobre o valor absoluto de uma energia total,
o que se sabe e é interessante conhecer e especificar nos cálculos de engenharia
corresponde à variação da energia total, se isso não fosse verdade, os resultados
seriam dependentes do referencial adotado, o que traria imprecisões nos vários
cálculos de projetos térmicos e mecânicos.

A energia total de um sistema pode ser classificada por duas formas: (1)
macroscópica e (2) microscópica. Como o próprio nome diz, o grupo macroscópico
refere-se ao que se tem alcance com um olhar macro, amplo ou ainda externo a um

12
TÓPICO 1 | DEFINIÇÕES GERAIS DE TERMODINÂMICA

sistema, isto é, uma energia que um sistema possui como um todo, sendo que o
referencial se localiza externamente a ele, cuja escolha é arbitrária, são exemplos de
energia macroscópica: a energia cinética (relacionada ao movimento, Equação 2) e
a energia potencial (referente a uma altura em um campo gravitacional, Equação 5).

Vel ²
EC = m (Equação 5)
2

EP = mgz (Equação 6)

Em que:

EC ≡ energia cinética (J);


Vel ≡ velocidade do sistema em relação a um referencial externo (m/s);
EP ≡ energia potencial (J);
g ≡ aceleração da gravidade (m/s²);
z ≡ altura ou cota do sistema em relação a um referencial externo (m).

Por outro lado, as energias microscópicas, de forma ilustrativa, são


quantificadas quando se enxerga o sistema com uma lupa. Isso implica dizer
que ela contabiliza o grau de atividade molecular e se relaciona com a estrutura
molecular de um sistema, resultando na energia interna, a qual contabiliza as
formas estáticas de energia, sendo elas:

1- Energia sensível, que compreende a caracterização do movimento pelo qual


as moléculas de um sistema realizam num determinado espaço (energia de
translação), também temos a quantificação da energia devido ao fato de que
os átomos das moléculas poliatômicas giram em torno de um eixo (energia
cinética de rotação) e a vibração dos átomos de uma molécula poliatômica com
relação ao centro de massa comum (energia cinética de vibração).
2- Energia latente, que é associada à fase de um sistema.
3- Energia nuclear, relacionada às ligações no interior do núcleo do átomo.
4- Energia química, devido às ligações atômicas de uma molécula.

Em aplicações de sistema de refrigeração e ar-condicionado, é comum


desprezar das análises os efeitos magnéticos, elétricos, nucleares e químicos.
Logo, a energia total de um sistema será contabilizada pela soma entre energia
interna, energia cinética e energia potencial (Equação 7).

E =U + EC + EP (Equação 7)

Em que:

E ≡ energia total (J);


U ≡ energia interna (U).
13
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS EM SISTEMAS DE REFRIGERAÇÃO

Apresentadas as energias que um sistema pode armazenar, ou seja, as


formas estáticas de energia, precisamos conhecer quais são os mecanismos que um
sistema fechado pode utilizar para trocar energia com a vizinhança mais próxima,
ditas energias dinâmicas. Caso haja uma diferença de temperatura entre um
sistema e sua vizinhança, esse será o potencial energético, ou força motriz (drive
force), para que ocorra a transferência de energia na forma de calor. Não sendo essa
a motivação para modificar a energia total, tem-se a interação de trabalho, que em
termos gerais pode ser associado a uma força atuante ao longo de uma distância,
como o movimento do pistão em automóveis, deslocamento de um êmbolo numa
seringa e, ainda, uma engrenagem em rotação, como mostra a Figura 5.

FIGURA 5 – ILUSTRAÇÃO DAS ENERGIAS DINÂMICAS DE UM SISTEMA

FONTE: <https://image.shutterstock.com/image-vector/entropy-energy-first-second-laws-
600w-352256309.jpg>. Acesso em: 23 out. 2019.

Destacamos que o calor e o trabalho não são propriedades, ou seja, não


dependem do ponto inicial e final de um processo, mas sim da trajetória percorrida
e é essa uma das motivações para os engenheiros desenvolverem equipamentos
com menor consumo de energia, afinal, isso reduz os gastos de uma empresa ou
residência e o impacto negativo no meio ambiente. Além disso, essas formas de
energia dinâmica são grandezas direcionais e, por isso, exigem a especificação de
magnitude e direção, que é comumente realizada adotando-se uma convenção de
sinal, por exemplo:

• Se calor é transferido do sistema para a vizinhança, convenciona-se um sinal


negativo para calor (processo exotérmico).
• Se calor é transferido da vizinhança para o sistema, convenciona-se um sinal
positivo para calor (processo endotérmico).
• Se trabalho é transferido do sistema para a vizinhança, convenciona-se adotar
um sinal positivo para trabalho (processo de expansão).
• Se trabalho é transferido da vizinhança para o sistema, convenciona-se um
sinal negativo para trabalho (processo de compressão).

14
TÓPICO 1 | DEFINIÇÕES GERAIS DE TERMODINÂMICA

DICAS

O calor pode ser transferido de um corpo ao outro por: condução, convecção


natural ou forçada e radiação. Neste conteúdo, apenas é importante sabermos que
esse calor será uma variável conhecida ou determinada a partir da aplicação das leis da
termodinâmica. Mas, é importante que você saiba quais são as fórmulas e os princípios
físicos pertinentes a cada uma dessa manifestação energética. Por isso, recomendamos
que assista os vídeos:

• Condução: https://www.youtube.com/watch?v=aKwZDvq2nm0.
• Convecção: https://www.youtube.com/watch?v=dkZaiedR_ww.
• Radiação: https://www.youtube.com/watch?v=LLDQOyaVnR8.

Vale lembrar que esses três fenômenos podem acontecer simultaneamente em um único
processo ou sistema (Figura 6), como é o caso de uma garrafa térmica, cuja manutenção
da temperatura do líquido em seu interior pode ser explicada conforme discutido no vídeo
disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=kFhEYmiiGsM.

FIGURA 6 – TRÊS MECANISMOS DE TRANSFERÊNCIA DE CALOR EM UM SÓ PROCESSO

FONTE: <https://image.shutterstock.com/image-vector/heat-transfer-600w-396419494.jpg>.
Acesso em: 23 out. 2019.

Com essas informações, a equação da Primeira Lei da Termodinâmica


para sistemas fechados e em regime permanente ou estado estacionário, isto é,
independentemente do tempo, é capaz de expressar a variação da energia sofrida
por um sistema, dada pela Equação 8.

∆E = Q − W (Equação 8)

Em que:

Q ≡ transferência de calor (J);


W ≡ trabalho (J).

15
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS EM SISTEMAS DE REFRIGERAÇÃO

O sinal de subtração na Equação 8 se dá pela referência aqui adotada para


o sentido de transferência de calor e para o trabalho exercido.

Em sistemas abertos, ocorre o transporte de massa para dentro e para fora


da superfície de controle. Então, aplica-se uma força sobre uma secção transversal
do fluido que promove o deslocamento de uma determinada massa (entrada
ou saída), caracterizando então um trabalho de escoamento, que é dado pelo
produto entre pressão e volume específico ou o quociente entre pressão e massa
específica. Nesses casos, convenciona-se o termo energia mecânica para expressar
todos esses efeitos de energia, conforme mostra a Equação 9.

   p Vel ² 
EM = m  + + gz  (Equação 9)
ρ 2 

Em que:

EM ≡ taxa de energia mecânica de um sistema aberto (J);
.
m ≡ taxa mássica (kg/s);
p ≡ pressão (Pa).

A equação da energia mecânica na verdade advém de simplificação da


segunda lei de Newton, que é dada por: o somatório de todas as forças atuantes
em um corpo (forças de campo ou de superfície) é diretamente proporcional ao
produto de sua massa pela aceleração que ele adquire, Equação 10.


 dP 
F=  (Equação 10)
dt  sistema

Com:

 
=Psistema ∫ M ( sistema )
= Vdm ∫ V ( sistema ) ρ dV
V (Equação 11)

  
F F S + FB
= (Equação 12)

 
FS= ∫ A
− pd A (Equação 13)


FB = m.g (Equação 14)

16
TÓPICO 1 | DEFINIÇÕES GERAIS DE TERMODINÂMICA

Em que:

P ≡ quantidade de movimento linear do sistema (N.s);

 ≡ força resultante (N);
F
F s ≡ força de superfície resultante, que é dependente da viscosidade do fluido em
escoamento (N);

F B ≡ força de campo gravitacional (N).

Em estado estacionário e na ausência de atrito, a Equação 10 pode ser


reescrita por:

  
∫ ρV .dA
Fs + FB = V
SC
(Equação 15)

Com:

1
Fs =
− Adp − dpdA (Equação 16)
2

 dA 
−ρ g  A +
FB =  dz (Equação 17)
 2 

Rearranjando os termos das Equações 16 e 17, em 15, obtemos a energia


total por unidade de massa (energia total específica) associada a um fluxo mássico
corresponde à energia específica de um volume de controle (Equação 18).

p Vel ² p
e+ =u + + gz + (Equação 18)
ρ 2 ρ

Em que:

e ≡ energia por unidade de massa do fluido que atravessa a superfície de controle (J/kg);
u ≡ energia interna específica (J/kg).

Então, a energia total de um sistema é dada pela Equação 19.

Esistema
= ∫=e dm ∫
M ( sistema ) V ( sistema )
e.ρ .dV (Equação 19)

A Equação 18 pode ser reescrita numa forma para quantificar uma energia
proveniente de um fluxo mássico, denominada por entalpia (Equação 20).

17
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS EM SISTEMAS DE REFRIGERAÇÃO

p Vel ²
e+ =i + + gz (Equação 20)
ρ 2

Em que:

i ≡ entalpia específica do fluido nas condições físicas das correntes de entrada e


saída do sistema (J/kg).

A entalpia nada mais é do que um artifício matemático utilizado para


expressar o conteúdo energético de um fluxo de matéria. Na verdade, ela foi
obtida usando-se a Primeira Lei da Termodinâmica e a transformada de Legendre,
que ao ser aplicada sobre uma função diferenciável em relação as suas variáveis
independentes, resulta em uma nova equação em que suas derivadas parciais se
tornam as variáveis independentes. Essa ferramenta foi essencial para definir outras
energias importantes para o estudo da Termodinâmica Clássica, como energia de
Gibbs, e da Termodinâmica Estatística, como a energia livre de Helmholtz.

NOTA

Para exemplificar a transformada de Legendre, considere uma propriedade


extensiva qualquer ϕ0 que é função de duas grandezas extensivas, ou seja, ϕ0=f(ϕk, ϕi).
A superfície ϕ gerada pode ser cortada por um plano, que por sua vez intercepta o plano
cartesiano (ϕk, ϕ0), como mostra o gráfico a seguir.

GRÁFICO 2 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DA TRANSFORMADA DE LEGENDRE

FONTE: Os autores

18
TÓPICO 1 | DEFINIÇÕES GERAIS DE TERMODINÂMICA

O gráfico mostra uma curva com um formato qualquer, que para o


exemplo se assemelha ao trecho decrescente de uma parábola, no ponto (φk j ,φ0 j )
traçou-se uma derivada, cuja ordenada corresponde a ¥ k j .

Em um ponto j qualquer dado por (φk j ,φ0 j), temos que a derivada de ϕ0 no
ponto j intercepta a ordenada num ponto que define ¥ k j , Equação 21.

 ∂φ 
¥=
k j φ0 j −  0  φk (Equação 21)
 ∂φk φi≠ j j
j

Compreendida a Primeira Lei da Termodinâmica, também conhecida


como a lei da conservação de energia, precisamos verificar se ela é capaz de
responder a uma importante pergunta para os sistemas de refrigeração, que
basicamente se resume a “qual a direção da transferência de calor?” Com a
observação das nossas atividades cotidianas, fica fácil responder a essa questão,
pois se retirarmos uma lata de refrigerante de um congelador e a expormos num
ambiente em uma temperatura superior ao local que ela estava, a lata começará a
esquentar, indicando que houve transferência de energia na forma de calor, mas
só com a primeira lei não sabemos se foi da vizinhança para o meio ou o contrário.

Para sanar essa dúvida, que genericamente é expressa pelo conhecimento


de que os processos ocorrem naturalmente em uma determinada direção e não
na oposta, precisamos do formalismo dado pela Segunda Lei da Termodinâmica.
Assim, se tornará um absurdo dizer que “está quente pois o calor entrou na sala”,
na verdade, o correto é dizer que a sala trocou energia na forma de calor com um
meio que estava em temperatura superior a ela e, por isso, aqueceu-se por meio de
mecanismos de transferência de calor até que um equilíbrio térmico fosse atingido.

De antemão, alerta-se que existem diversos enunciados para descrever a


Segunda Lei da Termodinâmica, isso porque ela é aplicada não só para especificar
a direção natural do processo, mas também para expressar a preservação da
qualidade energética e quantificar o limite teórico (máxima eficiência) para o
desempenho de refrigeradores e outros sistemas térmicos, como bomba de calor.

Note que essa lei é fundamental para o projeto e otimização de processos


e a sua compreensão é auxiliada quando se define os termos descritos por Çengel
e Boles (2006):

• Reservatório de energia térmica: corpo hipotético de dimensão relativamente


grande comparada ao sistema que trocará energia com ele, seja cedendo
ou retirando calor sem que essa interação altere a sua temperatura. Para
exemplificar, suponha que em uma praia há uma xícara contendo água a 100
°C, ao despejarmos o seu conteúdo no mar e medirmos a temperatura da
mistura formada, não notaríamos uma variação na temperatura da água do
mar, ou seja, o mar pode ser considerado um reservatório térmico.

19
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS EM SISTEMAS DE REFRIGERAÇÃO

• Fonte: reservatório de energia térmica que fornece calor ao sistema.


• Sumidouro: reservatório de energia térmica que recebe calor do sistema.
• Máquinas térmicas: dispositivos que convertem calor em trabalho e são
caracterizados pela ocorrência de (i) recebimento de calor de uma fonte à
elevada temperatura, como uma fornalha, (ii) conversão de uma quantidade
desse calor em trabalho, (iii) rejeição do restante do calor para o sumidouro,
sendo esse geralmente a atmosfera, e (iv) operação em ciclo. Todos esses efeitos
são visualizados em uma usina a vapor, portanto ela é um exemplo de máquina
térmica e pode ser esquematizada pela Figura 7, em que calor é cedido de uma
fonte de energia (como por exemplo fontes alternativas e renováveis de energia
– solar, eólica, de marés, geotérmica –, queima de carvão, combustível fóssil ou
energia nuclear) para a caldeira, trabalho mecânico é realizado pela turbina,
o condensador dispensa calor para um sumidouro e trabalho é fornecido à
bomba a partir do consumo de energia elétrica.

FIGURA 7 – ILUSTRAÇÃO DOS EQUIPAMENTOS INTEGRANTES DE UMA USINA A VAPOR

FONTE: Os autores

A máquina térmica apresentada é composta por quatros equipamentos,


nos quais um fluido de trabalho percorre um ciclo termodinâmico segundo o
trajeto sequencial: caldeira (fonte quente), turbina (expansor), condensador (fonte
fria) e bomba (promotor do aumento de pressão do fluido).

Como mencionado, a turbina realiza trabalho mecânico e a bomba requer


trabalho elétrico para o seu funcionamento. Então, convencionou-se adotar o
termo trabalho líquido de uma usina de potência, que corresponde a diferença
entre a saída de trabalho com a entrada de trabalho, cujo valor deve ser positivo,
pois o saldo resultante será convertido em energia, utilizada para movimentar um
equipamento ou fornecer energia elétrica, por exemplo. Se delimitarmos a região
de interesse sendo composta pela caldeira, bomba, turbina e condensador, não
haverá fluxo de massa da vizinhança para o sistema ou vice-versa, o que resulta
num sistema fechado sem variação relevante de energia cinética e potencial, então
a Primeira Lei da Termodinâmica se resume a Equação 22.

∆U = Q − W (Equação 22)

20
TÓPICO 1 | DEFINIÇÕES GERAIS DE TERMODINÂMICA

A energia interna é uma propriedade termodinâmica, ou seja, uma


diferencial exata que pode ser submetida a um processo de integração e, por isso,
depende do ponto inicial e final de um processo, expresso pela variação (símbolo
da Equação 8). No caso de problemas cíclicos, em que a propriedade de partida é
idêntica à chegada, essa diferença resulta em zero, já que se trata de um mesmo
ponto, o que resulta na Equação 23, ou seja, a troca líquida de trabalho em um
ciclo é equivalente à troca de calor.

W =Q (Equação 23)

Precisamos contabilizar todos os efeitos de calor e trabalho envolvidos no


processo, no caso de uma máquina térmica temos a entrada e saída de calor e o
trabalho líquido (Equação 24).

WLíq= Qe − Qs (Equação 24)

Em que:

WLíq ≡ trabalho líquido (J);


Qe ≡ calor que entra pela caldeira (J);
Qs ≡ calor que sai do condensador (J).

A partir dessas equações, podemos relacionar o quanto uma máquina


térmica pode produzir trabalho com o custo de entrada de calor, que é a definição
de eficiência de máquina térmica, Equação 25, 26 e 27.

Trabalholíquido
EficiênciaTérmica = (Equação 25)
Calor fornecido

WLíq
η MT = (Equação 26)
Qe

QF
η MT = 1 − (Equação 27)
QQ

Em que:

ηMT ≡ eficiência da máquina térmica (-);


QF ≡ calor da fonte fria (reservatório a baixa temperatura) (J);
QQ ≡ calor da fonte quente (reservatório a alta temperatura) (J).

21
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS EM SISTEMAS DE REFRIGERAÇÃO

Ao observamos a Equação 10, matematicamente nada nos impede em


afirmar que o trabalho líquido de uma máquina térmica é equivalente ao calor que
entra no ciclo. Isso implica dizer que todo o calor recebido de uma fonte quente
é convertido em trabalho. Mas, fisicamente, tal afirmação é impossível, pois
fere o enunciado de Kelvin-Planck, que foram dois cientistas que contribuíram
expressivamente para a formalização da Segunda Lei da Termodinâmica e na
constatação que não existe uma máquina térmica 100% eficiente, como sugere a
Equação 27.

No entanto, não só para produzir trabalho um sistema pode ser projetado,


pois podemos desejar o resfriamento de um ambiente, que por sinal é o objetivo
deste livro. Em virtude disso e para o entendimento de como funcionam os
sistemas de refrigeração, o enunciado de Clausius precisa ser citado: “é impossível
construir um dispositivo que funcione em um ciclo e não produza qualquer outro
efeito que não seja a transferência de calor de um corpo com temperatura mais
baixa para um corpo com temperatura mais alta” (ÇENGEL; BOLES, 2006, p. 234).
Resumidamente, Clausius afirmou que é possível retirar energia de um meio frio
e direcionar parte deste para um outro meio quente desde que se acione uma fonte
externa de energia. No caso da geladeira, existe um motor que consome energia
elétrica para que seja possível manter os alimentos ali presentes em temperaturas
inferiores à atmosfera que a cerca.

Desses dois enunciados, observa-se que as máquinas térmicas reversíveis


– que percorrem um processo possível de ser revertido sem provocar vestígios no
ambiente – existentes entre os mesmos reservatórios térmicos, apresentam igual
eficiência. Essa conclusão faz com que a eficiência de uma máquina reversível seja
independente do fluido e tipo de máquina utilizados, além de identificar que a
máxima eficiência admissível por um sistema corresponde àquela em que opera
num processo cíclico reversível.

Devido à manutenção da temperatura de um reservatório quando se


transfere energia na forma de calor com o ciclo, tem-se que essa propriedade
caracteriza um reservatório e, consequentemente, espera-se que a eficiência das
máquinas térmicas reversíveis seja uma função apenas da temperatura, que também
implica uma relação entre calor do reservatório e sua temperatura, Equação 28.

 QQ  TQ
  = (Equação 28)
 QF  rev TF

Em que:

QQ ≡ calor da fonte quente num processo reversível (J);


QF ≡ calor da fonte fria num processo reversível (J);
TQ ≡ temperatura absoluta da fonte quente (K);
TF ≡ temperatura absoluta da fonte fria (K);
rev ≡ reversível (subíndice).
22
TÓPICO 1 | DEFINIÇÕES GERAIS DE TERMODINÂMICA

Essas conclusões foram fundamentais para a definição da máxima


eficiência possível de uma máquina térmica em função da temperatura, que
corresponde a uma máquina térmica operando em um processo reversível entre
dois reservatórios térmicos, Equação 29.

TF
η MT , rev = 1 − (Equação 29)
TQ

Em que:
T
η MT , rev =≡ eficiência
1− F da máquina térmica reversível (-).
TQ
Então, se num projeto de engenharia a eficiência calculada ou obtida por
testes experimentais da máquina térmica for superior a eficiência de uma máquina
térmica reversível, operando sobre os mesmos reservatórios térmicos, algum
equívoco foi cometido, pois isso é impossível. Por outro lado, caso a eficiência da
máquina térmica projetada for inferior à de uma reversível, temos que a máquina
térmica opera em um ciclo irreversível, o que é totalmente plausível e recorrente
no cotidiano de indústrias químicas, metalúrgicas etc.

Mas, será que existe uma forma de quantificar essa irreversibilidade que
provoca uma diferença na eficiência real (irreversível) de uma eficiência ideal
(reversível)? Pois, se for possível estimá-la, isso poderá representar um ponto
de atenção para tentar encontrar melhorias e, assim, otimizar a operação dos
equipamentos envolvidos.

E
IMPORTANT

A definição de um processo reversível não é trivial, mas podemos sugerir


que essa situação seria desejada na operação de todos os equipamentos mecânicos e
dispositivos térmicos, que produziriam o máximo de trabalho possível e consumiriam o
mínimo de energia em seu funcionamento. Para exemplificar, imagine que você pressione
o êmbolo de um conjunto cilindro-pistão de forma vagarosa, observando que essa
compressão do gás que ali se encontra confinado seja suave. Após cessar a força aplicada,
o êmbolo retornaria exatamente ao ponto inicial.
De modo genérico, estamos dizendo que o processo reversível ocorre quando à medida que
um efeito externo age sobre o sistema, são percorridos diferentes estados de equilíbrio e,
ao caminhar na direção oposta, o sistema passa pelos mesmos estados e retorna ao estado
inicial. É evidente e fácil de observar que isso é, na realidade, impossível e por isso podemos
afirmar que todos os fenômenos ou processos naturais e industriais são irreversíveis.

23
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS EM SISTEMAS DE REFRIGERAÇÃO

Para responder à questão levantada, o físico R. J. E. Clausius em 1850


propôs uma importante desigualdade, que é aplicada para todos os ciclos
termodinâmicos, isto é, reversíveis ou irreversíveis, envolvendo, por exemplo,
processos de aquecimento, resfriamento, compressão e expansão (Equação 30).

δQ
∮ ≤0 (Equação 30)
T

Em que:

T ≡ temperatura absoluta da fronteira (temperatura termodinâmica), em que calor


é transferido entre o sistema e a vizinhança (K).

Nessa integral cíclica, são contabilizadas todas as taxas de transferência


de calor envolvidas no processo, sejam elas recebidas ou cedidas de um sistema.
Além disso, podemos desmembrar a desigualdade em termos de duas operações:
igualdade e desigualdade do tipo “menor que”. No caso da igualdade, verifica-
se uma importante contribuição de Clausius para a definição de uma nova
propriedade termodinâmica, que foi denominada por entropia, Equação 31.

 δQ 
dS =   (Equação 31)
 T  rev

Em que:

S ≡ entropia (J/kg.K);
δQ ≡ diferencial inexato de calor trocado entre o sistema e a vizinhança a partir
de um processo reversível (J).

Ampliando a análise da Equação 30, Çengel e Boles (2006) sugerem


considerar um ciclo envolvendo dois pontos, I e II, de modo que: (i) o processo I-II
pode ser reversível ou irreversível; (ii) o processo II-I é internamente reversível,
então a desigualdade de Clausius resulta na Equação 32.

II δQ II  δQ 
∫I T
+∫
I   ≤0
 T  rev
(Equação 32)

Reconhecendo que o segundo termo do lado esquerdo da equação é a


definição de Clausius para expressar uma variação de entropia de um sistema
(derivada da entropia), então chegamos à Equação 33, que de modo análogo e
simplificado chega-se à Equação 34.

24
TÓPICO 1 | DEFINIÇÕES GERAIS DE TERMODINÂMICA

II δQ
S II − S I ≥ ∫ (Equação 33)
I T

δQ
dS ≥ (Equação 34)
T

É possível eliminar a desigualdade da Equação 35 inserindo um termo de


geração de entropia, a qual é observada apenas nos processos irreversíveis, isto
é, processos reais. Consequentemente, o cálculo da variação de entropia de um
sistema é dado pela Equação 35.

II δQ
∆S sis = S II − S I = ∫ I T
+ S ger (Equação 35)

Em que:

∆Ssis ≡ variação de entropia de um sistema (J/kg.K);


Sger ≡ entropia gerada ou criada num processo irreversível (J/kg.K).

E
IMPORTANT

Existe uma única situação em que a variação de entropia de um sistema é nula, a


qual se refere a um processo reversível e adiabático, ou seja, não há transferência de calor entre
a vizinhança e o sistema. Esse processo é chamado de processo isoentrópico e é amplamente
utilizado no projeto de dispositivos de engenharia, como expansores, turbinas e compressores,
afim de determinar as suas máximas e reais eficiências de conversão energética.

A entropia foi apresentada como uma forma de estimar as irreversibilidades


de um processo a partir de sua variação, contudo, não se discutiu o que é, de fato,
entropia. Estudiosos da termodinâmica estatística e dinâmica molecular afirmam
que a entropia está relacionada com uma desinformação, por vezes descrita por
uma desordem molecular, e é definida por cálculos probabilísticos para expressar
as diferentes “configurações possíveis para um determinado estado que constitui
uma incerteza, ou caos, do sistema” (BORGNAKKE; SONNTAG, 2009, p. 228).
Tal afirmação foi inspirada no enunciado da Terceira Lei da Termodinâmica,
conforme mencionam Çengel e Boles (2006, p. 280): “a entropia de uma substância
cristalina pura à temperatura zero absoluto é zero”. Com essas informações,
verifica-se que uma forma alternativa para o cálculo da entropia de um sistema,
como mostra a Equação 36.

25
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS EM SISTEMAS DE REFRIGERAÇÃO

S = k .In ( p ) (Equação 36)


Em que:

k ≡ constante de Boltzmann (1,3806 . 10-23 J/K);


p ≡ probabilidade termodinâmica.

Contudo, vamos nos utilizar da termodinâmica clássica para obter valores


de entropia a partir do conhecimento de propriedades volumétricas de fluidos
puros, que é descrito no subtópico a seguir.

2.3 PROPRIEDADES VOLUMÉTRICAS DE FLUIDOS PUROS


Nos tópicos anteriores, descrevemos como se dá qualitativa e
quantitativamente a transferência de energia entre um sistema e sua vizinhança,
para isso foi necessária a definição de energia interna, entalpia e entropia. Essas
grandezas foram relacionadas com calor, trabalho, velocidade e altura, mas não foi
citado algum aparelho para mensurá-las em virtude da inexistência desse recurso.

Sabida da importância em conhecer tais propriedades termodinâmicas,


nos dedicaremos a desenvolver expressões para determiná-las a partir de
propriedades volumétricas, ou seja, do conhecimento de pressão, temperatura e
volume, que são variáveis facilmente mensuradas, basta utilizar um manômetro,
termômetro e uma trena, respectivamente.

E
IMPORTANT

Alguns artifícios matemáticos são extremamente úteis para a determinação de


propriedades termodinâmicas em função de propriedades volumétricas, ou seja, pressão,
volume e temperatura (pvT). Destacamos as mais úteis para os sistemas de refrigeração e
condicionamento de ar:

• Dada uma propriedade dependente “a” qualquer, cujas propriedades independentes são
“b” e “c”, o diferencial total de a=a(b,c) corresponde a Equação 37.

 ∂a   ∂a 
=da   db +   dc (Equação 37)
 ∂b c  ∂c b

Por exemplo, podemos expressar a variação da energia interna de um sistema fechado em


termos de volume específico e temperatura, Equação 38.

 ∂u   ∂u 
=du   dT +   dv (Equação 38)
 ∂T v  ∂v T

26
TÓPICO 1 | DEFINIÇÕES GERAIS DE TERMODINÂMICA

 ∂u   ∂u 
=du dT + dv
Em que  ∂T  é reconhecido
v
 
 ∂v  como calor específico a volume constante (cv). Analogamente,
T

a entalpia pode ser escrita em função de pressão e temperatura (Equação 39).

 ∂i   ∂i 
=di   dT +   dp (Equação 39)
 ∂T  p  ∂p T
 ∂i   ∂i 
=di   dT +   dp
Em que ∂T  p é reconhecido
 ∂p T como calor específico a pressão constante (cp).
 ∂a   ∂a 
• Se chamarmos  ∂b c de M e de  ∂c b N, a derivada parcial de M em relação a “c” e de N
em relação a “b” resulta na equação 40 e 41, implicando na Equação 42.

 ∂M  ∂²a
  = (Equação 40)
 ∂c b ∂b∂c

 ∂N  ∂²a
  = (Equação 41)
 ∂b c ∂c∂b

 ∂M   ∂N 
  =  (Equação 42)
 ∂c b  ∂b c

• A Equação 37 também pode ser como b=b(c,a) caso “c” e “a” sejam as variáveis
independentes (Equação 43).

 ∂b   ∂b 
=db   dc +   da (Equação 43)
 ∂c a  ∂a c

• Manipulando as Equações 38 e 44, chega-se à relação cíclica (Equação 44)

 ∂b   ∂c   ∂a 
      = −1 (Equação 44)
 ∂c  a  ∂a b  ∂b c

Em condições de alta temperatura e baixa pressão, as partículas que


compõem um gás estão relativamente afastadas uma das outras, assim a energia
de interação intermolecular é baixa e o gás pode ser considerado como gás ideal,
cuja relação pvT é dada pela Equação 45.

pv = RT (Equação 45)

27
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS EM SISTEMAS DE REFRIGERAÇÃO

Em que:

R ≡ constante universal dos gases (8,314 J.mol/K);


v ≡ volume molar (m³/mol).

No experimento de Joule (1843), demonstrou-se que a energia interna de


um gás ideal é função apenas da temperatura. Como efeito, a entalpia de um gás
ideal pode ser calculada pela equação 46.

i= u + RT (Equação 46)

Em que:

u ≡ energia interna específica.

DICAS

James Prescott Joule no século XIX realizou experimentos que foram


fundamentais para a consolidação da Primeira Lei da Termodinâmica. O artigo intitulado
por Os experimentos de Joule e a primeira lei da termodinâmica de Júlio César Passos
resume a importante colaboração desse cientista, por isso vale a pena se dedicar a
leitura desse texto que está disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S1806-11172009000300013.

Então, o conhecimento da variação de entalpia requer o conhecimento da


variação de energia interna, que pode ser obtida em função de dados pvT a partir
da Equação 47.

T2 v2   ∂p  
∫ cv dT + ∫
du =
T1 v1 T  ∂T  −
  
p  dv

(Equação 47)

Em que:

cv ≡ capacidade calorífica do fluido a volume constante (J/kg.K).

Como a Equação 46 é válida apenas para o caso ideal, podemos, a partir


da definição de entalpia, primeira e segunda leis da termodinâmica e com a
utilização de ferramentas matemáticas chegar na fórmula geral da variação da
entalpia e da entropia específica de uma substância pura em função de dados
volumétricos, Equações 48 e 49, respectivamente.

28
TÓPICO 1 | DEFINIÇÕES GERAIS DE TERMODINÂMICA

T2 p2   ∂v  
di = ∫
T1
c p dT + ∫
p1 v − T  ∂T
 
 p  dp
 
(Equação 48)

T2 cp p2  ∂v 
=ds ∫T1 T
dT − ∫
p1   p dp
 ∂T 
(Equação 49)

Em que:

cp ≡ capacidade calorífica do fluido a pressão constante (J/kg.K).

29
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• Um sistema fechado é definido pela troca de energia na forma de calor e


trabalho entre o sistema e a vizinhança, mas não permite a permuta mássica.
O sistema aberto, também denominado de volume de controle, permite tanto a
troca de energia quanto de massa.

• A primeira lei da termodinâmica representa o fundamento da lei da conservação


de energia, sendo que ela não pode ser comprovada matematicamente, mesmo
assim não existe algum fenômeno que a desobedeça.

• Apenas a primeira lei da termodinâmica não é suficiente para explicar os


eventos energéticos ocorridos num sistema, já que apenas quantifica a variação
da energia de um sistema. Por isso, em cálculos de sistemas térmicos, como
no caso de ar-condicionado e refrigeração, requer-se o uso da segunda lei da
termodinâmica, para então quantificar a degradação da energia diante uma
transformação e concluir se um processo é possível.

• As equações de estado são fundamentais para descrever o comportamento


pressão-volume-temperatura de um processo, além de serem úteis para
determinar grandezas que não são mensuráveis experimentalmente.

30
AUTOATIVIDADE

1 O conhecimento de como as propriedades termodinâmicas se relacionam é


fundamental para que possamos determinar a variação de grandezas que não
podem ser obtidas experimentalmente. Isso tem como alicerce a definição
de derivada total e os axiomas de diferenciais parciais, sobre os quais são
estabelecidas as relações de Maxwell. De posse a essas informações, assinale
a alternativa que indica a variação da entropia em relação a pressão de um
sistema num processo à pressão constante e igual a 300 kPa.

Dados: volume específico da água a 300 ºC e 300 kPa: 0,87535 m³/kg; volume
específico da água a 200 ºC e 300 kPa: 0,71643 m³/kg.

a) ( ) 0,00159 m³/kg.K.
b) ( ) 0,02571 m³/kg.K.
c) ( ) -0,00159 m³/kg.K.
d) ( ) 0,00163 m³/kg.K.
e) ( ) -0,03418 m³/kg.K.

2 A entropia é uma propriedade termodinâmica que foi assim nomeada


com o enunciado da segunda lei da Termodinâmica. A partir dela, pode-
se determinar a eficiência de equipamentos mecânicos, como compressores,
bombas e turbinas. No entanto, não existe um instrumento capaz de
mensurá-la, então faz-se necessário utilizar de equações fundamentais para
determinar a sua variação. Assinale a alternativa que indica a expressão
utilizada para a estimativa da variação da entropia em relação a temperatura
num processo isobárico.

a) ( ) T
/ p .
cp
b) ( ) / T .
c) ( ) p
/ v .
d) ( ) cv
/ p .
e) ( ) p
/ T .

31
32
UNIDADE 1
TÓPICO 2

FUNDAMENTOS EM PSICROMETRIA

1 INTRODUÇÃO
Em um dia de calor, quando passeamos em um shopping ou temos a
oportunidade de ligar o ar-condicionado em nossas residências, observamos
que após certo tempo presente nesses locais, nossos olhos começam a sofrer
um processo de irritação, a ponto de provocar uma coceira ou até mesmo uma
vermelhidão. Isso acontece porque o ar que ali nos cerca foi resfriado e, com
isso, foi retirada certa quantidade de líquido (umidade) devido à diferença
de concentração de água entre o olho e o ambiente. Desse breve exemplo,
verifica-se que para entender o motivo que nos causa certo desconforto físico
diante do acionamento de dispositivos de condicionamento do ar, é necessária
a compreensão de assuntos relacionados a umidificação do ar, que, em termos
gerais, inclui misturas que são estudadas pela psicrometria.

A psicrometria define importantes princípios para a descrição de sistemas


que envolvem ar seco e vapor de água além do equipamento comumente
denominado por ar-condicionado, como é o caso de torres de resfriamento, que
são úteis para promover o resfriamento de fluidos, seja para obedecer a alguma
legislação ambiental vigente de descarte de efluentes ou para reaproveitar o potencial
energético desses fluidos, além de realizar a desumidificação de correntes de saída
oriundas de processos químicos de indústrias de fertilizantes, por exemplo, em que
as torres de resfriamento promovem a retirada de uma determinada quantidade
de vapor de água de gases compostos por óxidos de enxofre (SOx), o que evita a
formação de ácido sulfúrico (H2SO4), o qual pode provocar corrosões expressivas e
prejudiciais a tubulações, acessórios e outros equipamentos.

Diante do exposto, podemos observar a importância de conhecer as


variáveis relacionadas com massa e temperatura, além de propriedades que
exprimem, de certo modo, o conteúdo energético de um fluido, como a entalpia,
que nos permitirão compreender melhor o funcionamento de condicionadores de
ar, sendo esses assuntos apresentados no tópico que se segue. Vamos começar?

2 PROPRIEDADES PSICROMÉTRICAS
Para definirmos as propriedades psicrométricas, primeiramente é
necessário compreender quais são as espécies químicas envolvidas em estudos
psicrométricos, no caso, temos um sistema composto por ar isento de água (ar

33
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS EM SISTEMAS DE REFRIGERAÇÃO

seco) e vapor de água. Daí surge a expressão ar úmido, que se refere a uma
mistura formada por ar seco e vapor de água que se encontra em uma pressão
relativamente baixa (inferior a 303,99 kPa ou 3 atm), fazendo com que o seu
comportamento seja considerado equivalente ao de uma mistura de gás ideal e,
portanto, descrito pela Equação 50.

mm RT
p= (Equação 50)
M ⋅ Var

Em que:

mm ≡ massa da mistura (kg);


M ≡ massa molecular da mistura (kg/mol);
Var ≡ volume do ar úmido (m³).

NOTA

O ar, na realidade, não é uma substância simples, mas é uma mistura


homogênea composta por 78,08% (molar) de nitrogênio, 20,95% (molar) de oxigênio, 0,93%
(molar) de argônio, 0,035% (molar) de dióxido de carbono, e 0,003% (molar) de outros gases,
tais como o hélio, metano e hidrogênio. Esses percentuais têm sofrido suaves alterações
devido a uma crescente exploração dos recursos naturais, o que pode ser acompanhada de
uma degradação ambiental, como a poluição atmosférica. Todas essas composições são
importantes para a determinação da massa molecular da mistura (Equação 51) e da pressão
parcial, ou seja, a pressão que cada componente exerce no sistema, conforme enunciado
pela lei de Dalton (Equação 52 e Equação 55).

M = ∑ i =1 yiMi
nc
(Equação 51)

pi = yi p (Equação 52)

ni
yi = (Equação 53)
nT

nT = ∑ i =1 ni
nc
(Equação 54)

mi RT
pi = (Equação 55)
M iV

34
TÓPICO 2 | FUNDAMENTOS EM PSICROMETRIA

Em que:

yi ≡ fração molar do componente “i” (-);


mi ≡ massa do componente “i” (kg);
ni ≡ número de mols do componente “i” (mols);
nT ≡ número de mols totais (mols).

DICAS

É claro que se uma fase gasosa desvia significativamente do comportamento


de gás ideal, não podemos utilizar a equação 50. Como alternativa, temos que empregar
outras equações, como as equações de estado cúbicas, por exemplo, equação de (1) Van
der Waals, (2) Soave-Redlich-Kwong, (3) Peng-Robinson, entre outras, ou ainda, nos casos
em que nenhuma dessas opções refletem o comportamento real de uma mistura gasosa,
pode-se optar por equações advindas de estudos de dinâmica molecular, como a PC-SAFT
(Perturbed-Chain Statistical Associating Fluid Theory), que é discutida na dissertação de
mestrado de Yuri Guerrieri Pereira, intitulada por Modelagem e Simulação do Equilíbrio de
Fases em Plantas de Polietileno Utilizando a Equação de Estado PC-SAFT, disponível no
link: http://repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/266774/1/Pereira_YuriGuerrieri_M.pdf.

A seguir são listadas as principais propriedades psicrométricas, que se


resumem a umidade e suas variações, variáveis energéticas e temperaturas.

• Umidade absoluta (Y) ou razão de mistura ou umidade específica: quociente


entre a massa de vapor (A) e a massa do gás seco (B), Equação 56, que pela
hipótese de gás ideal, também pode ser dado em função das pressões parciais
do sistema, Equação 57, na qual se conhece a razão entre as massas moleculares
das duas substâncias, o que resulta na Equação 58. Observe que o teor de
umidade é nulo para o gás puro (gás seco).

mA
Y= (Equação 56)
mB

M A pA
Y= (Equação 57)
M B ( p − pA )

0,622. p A
Y= (Equação 58)
( p − pA )

35
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS EM SISTEMAS DE REFRIGERAÇÃO

Em que:

MA ≡ massa molecular do vapor (g/mol);


MB ≡ massa molecular do gás seco (g/mol);
pA ≡ pressão parcial de A na mistura (Pa).

• Umidade de saturação (YS): expressa o valor de umidade na situação em que


uma mistura gás-vapor se encontra em equilíbrio com o líquido, o que significa
numa igualdade entre a pressão parcial do vapor com a do vapor saturado.
Simplificadamente, é a umidade do gás em condição de saturação de vapor a
uma temperatura, Equação 59.

M A p As
Ys = (Equação 59)
(
M B p − p As )
Em que:

p AS ≡ pressão parcial de vapor A no gás saturado.

• Umidade relativa (YR): razão entre a pressão parcial de vapor A no gás e a


pressão parcial de vapor A no gás saturado estando à mesma temperatura
de bulbo seco, Equação 60, frequentemente é encontrada em literatura da
área de ar-condicionado a umidade relativa expressa em função da fração
molar de vapor de água contida em um ar úmido e fração molar de ar úmido
saturado, Equação 61.

pA
YR = 100 (Equação 60)
p As

yA
YR = (Equação 61)
y As

NOTA

A umidade absoluta, assim como a relativa, pode ser determinada


empiricamente, ou seja, medidas com auxílio de equipamentos. No caso da umidade
absoluta pode-se usar um higrômetro, e a umidade relativa é obtida através de transdutores,
que correspondem a sensores do tipo resistivo ou capacitivo.

36
TÓPICO 2 | FUNDAMENTOS EM PSICROMETRIA

• Calor úmido (cS): assemelha-se ao calor específico à pressão constante, isto é,


identifica a quantidade de calor necessária para elevar em 1 °C uma massa de 1 g
de gás e de qualquer vapor nele contido. Para misturas de gases perfeitos, como
é a hipótese já adotada e justificada, essa propriedade é uma função apenas da
umidade absoluta, que, por sua vez, é dependente da temperatura, Equação 62.

cS c p , B + Yc p , A
= (Equação 62)

Em que:

cp,B≡ calor específico a pressão constante de B (J/kg.K);


cp,A ≡ calor específico a pressão constante de A (J/kg.K).

• Entalpia total (I): representa a quantidade de energia referente ao conteúdo de


uma unidade de massa de gás seco e vapor de água, Equação 63.

I = cS (T − Tref ) + Y λo (Equação 63)

Em que:

Tref ≡ temperatura de referência (comumente adota-se 0 °C);


λ0 ≡ calor latente da água a Tref, consultando tabelas termodinâmicas ou softwares
relacionados, encontra-se que λ0 a 0 °C corresponde a 2501,4 kJ/kg vapor de água.

• Volume úmido (vh): volume específico ocupado por gás seco e vapor, em m³/g,
à pressão 101,325 kPa e temperatura absoluta T, Equação 64. Observe que o
número 0,0224 corresponde ao volume molar ocupado por um gás qualquer
nas condições normais de temperatura e pressão (CNTP).

0,0224T  1 Y 
=vh  +  (Equação 64)
273  M B M A 

• Grau de saturação (YA): razão entre a umidade absoluta e a umidade de


saturação à mesma temperatura, resultando num percentual, Equação 65.

Y
YA = 100 (Equação 65)
Ys

• Temperatura de orvalho (To): temperatura em que a mistura de vapor de água


e ar se encontra na saturação, condição na qual comumente é observada a
formação da primeira gota de líquido no sistema.

37
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS EM SISTEMAS DE REFRIGERAÇÃO

• Temperatura de bulbo seco (T): temperatura da mistura vapor e ar, medida


por um termômetro convencional, ou seja, é a temperatura real ou temperatura
termométrica.
• Temperatura de bulbo úmido (Tw): temperatura que uma quantidade
infinitesimal de água atinge sob condições operacionais adiabáticas quando
exposta a uma corrente de ar de temperatura, umidade e velocidade constantes.
• Temperatura de saturação adiabática (Ts): temperatura em que o sistema
vapor e ar se encontra saturado num processo em que o calor cedido por um é
recebido por outro, Equação 66.

T − Ts λ
= − s (Equação 66)
Y − Ys cs

Em que:

λs≡ calor latente da água a Ts. (J)

A partir dessa temperatura é possível estimar a umidade absoluta


utilizando-se da aplicação da lei de conservação de massa e energia em um
saturador adiabático, em que se assume que opera em estado estacionário e na
ausência de significativa transferência de calor do sistema para a vizinhança,
como mostrado na figura a seguir.

FIGURA 8 – ILUSTRAÇÃO DE UM SATURADOR ADIABÁTICO

FONTE: Os autores

A Figura 8 representa esquematicamente um processo pelo qual a Equação


66 foi obtida, que consiste num saturador adiabático que opera sem interação de
calor da vizinhança com o sistema, no qual uma mistura gás-vapor à temperatura
T1, umidade absoluta Y1 e entalpia i1 é alimentada ao sistema junto com um
líquido a temperatura T2. Caso não haja líquido em quantidade suficiente para
a saturação do gás, a corrente de saída consistirá numa mistura gás-vapor com
condições T3, Y3 e i3.

Çengel e Boles (2006, p. 587) acrescentam que:

38
TÓPICO 2 | FUNDAMENTOS EM PSICROMETRIA

Uma mistura ar-vapor de água de razão de mistura desconhecida


entra no saturado adiabático a pressão e temperatura conhecidas. À
medida que a mistura passa pelo dispositivo, esta entra em contato
com um reservatório de água. Se a mistura de entrada não estiver
saturada, parte da água poderia evaporar. A energia necessária para
evaporar a água viria do ar úmido, assim a temperatura da mistura
iria decrescer à medida que o ar passasse pelo duto. Para um duto
suficientemente longo, a mistura estaria saturada ao sair. Como uma
mistura saturada seria alcançada sem transferência de calor com a
vizinhança, a temperatura da mistura de saída é a temperatura de
saturação adiabática.

Dessa explicação, obtemos a Equação 67.

iB (Ts ) − iA (T ) − w′ iAs (Ts ) − iAs ,l (Ts ) 


Y= (Equação 67)
iAs (T ) − iAs ,l (Ts )

Em que:

iAs ≡ entalpia de vapor saturado (J);


iAs , ≡ entalpia de água líquida saturada (J);
W’ ≡ razão de umidade na temperatura de saturação adiabática (-)

E
IMPORTANT

Como em todo projeto de engenharia, precisamos saber como calcular a


entalpia e entropia para os fluidos envolvidos, uma vez que essas variáveis são utilizadas
no equacionamento de dispositivos térmicos, essencialmente na primeira e segunda leis
da termodinâmica. Uma alternativa para a Equação 67 é dada pela Equação 68, sabendo-
se que a entalpia do vapor de água pode ser expressa pela entalpia de vapor saturado na
temperatura de mistura.

iA = iAs (T ) (Equação 68)

Assim como a entalpia, a entropia apresenta duas parcelas: (1) vapor de água e (2) ar seco,
sendo que a contribuição de vapor é dada pela Equação 69.

pA
s A = s As − R ⋅ ln (Equação 69)
p As

Em que:

s A ≡ entropia de vapor de água (J/kg.K).


s As ≡ entropia de vapor saturado (J/kg.K).

39
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS EM SISTEMAS DE REFRIGERAÇÃO

3 CARTA PSICROMÉTRICA
Os resultados provenientes de cálculos que podem ser feitos aplicando-se
as equações anteriores no sistema ar-água podem ser representados graficamente
em uma carta psicrométrica, determinada para uma pressão barométrica fixa,
geralmente adota-se 101,33 kPa, como mostra o Gráfico 3.

Esse modo de apresentação de dados favorece uma análise e coleta


imediata dos principais parâmetros ou variáveis necessárias para a compreensão
dos efeitos térmicos ocorridos durante o condicionamento de ar, assim como são
úteis para a realização do projeto ou otimização de uma torre de resfriamento.

GRÁFICO 3 – EXEMPLO DE CARTA PSICROMÉTRICA SIMPLIFICADA

FONTE: Os autores

No Gráfico 3 são apresentadas algumas das várias linhas que compõem


uma carta psicrométrica a pressão barométrica equivalente a 101,33 kPa, dado
que o eixo horizontal representa os valores de temperatura (bulbo seco e leitura
de temperatura de orvalho ou bulbo úmido) e no eixo vertical os dados de razão
de mistura. Também são mostradas algumas curvas com variadas concavidades
identificando a umidade relativa e retas mais inclinadas para o volume úmido e
outras retas suavemente inclinadas para a entalpia de mistura, a qual é lida na
região onde não existe curvas de umidade relativa.

40
TÓPICO 2 | FUNDAMENTOS EM PSICROMETRIA

DICAS

A carta psicrométrica da figura a seguir contém apenas algumas das


informações que uma carta psicrométrica real contém, pois, na verdade, existem diversas
curvas de umidade relativa, entalpia, dentre outras propriedades psicrométricas já estudadas,
como mostra a figura. Disso, você pode ter notado que há uma quantidade expressiva de
informações em apenas uma figura e é de se esperar que a determinação das propriedades
de uma corrente de ar úmido utilizando-se o método gráfico seja não trivial.

CARTA PSICROMÉTRICA COMPLETA

FONTE: <https://image.shutterstock.com/image-vector/psychrometric-chart-sea-level-
vector-600w-425902306.jpg>. Acesso em: 23 out. 2019.

Para a sua orientação e entendimento de como ler os valores dessas variáveis, recomendamos
que assista o vídeo disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=NHJDzYohbNI.
Ao visualizar o link, recomendamos que você faça anotações dos principais passos
apresentados, pois isso certamente contribuirá com o seu aprendizado.

Num primeiro momento, pode nos parecer que a obtenção de informações


num diagrama psicrométrico é complicada, confusa ou até mesmo impossível.
Para facilitar a compreensão disso, o Quadro 1 mostra algumas recomendações,
em outras palavras dicas, para a sua correta interpretação e uso do diagrama,
observe que nas imagens ilustradas há a indicação da escala onde se obtém a
informação para cada propriedade do ar úmido, destacada por curvas ou retas.

41
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS EM SISTEMAS DE REFRIGERAÇÃO

Ainda observando o Quadro 1, note que um formato se repete ao longo


das explanações de como se proceder com a leitura, sendo este nada menos
do que o perfil que descreve o comportamento das propriedades de ar úmido,
sendo delimitado pelas regiões de máxima e mínima saturação, ou seja, umidade
relativa equivalente a 100% e 0%, respectivamente, e temperaturas de bulbo seco
negativas ou superiores à temperatura em que se tem a pressão de vapor de água
para a pressão do sistema em que se obteve a carta psicrométrica.

QUADRO 1 – ORIENTAÇÃO PARA A LEITURA DE CARTA PSICROMÉTRICA

Propriedade termodinâmica Identificação gráfica

Temperatura de bulbo seco

Temperatura de ponto de orvalho

Temperatura de bulbo úmido

Umidade relativa

Umidade absoluta

Volume específico

FONTE: Os autores

Para você acompanhar como coletar as informações da carta, tais como


umidade relativa, volume específico, umidade absoluta e entalpia, propomos um
exemplo em que se dispõe de um sistema de ar úmido, no qual a temperatura de
bulbo seco é equivalente a 25 °C e a temperatura de bulbo úmido é 20 °C. Qual
seria o procedimento a ser adotado? Vejamos o que fazer seguindo as instruções
dos tópicos:

42
TÓPICO 2 | FUNDAMENTOS EM PSICROMETRIA

• O primeiro passo é localizar a intersecção dessas duas variáveis, para isso


temos que:
◦ A temperatura de bulbo seco é obtida no eixo horizontal do gráfico,
conforme mostra o Quadro 1 e localizado na Figura 4 pela reta cheia para
o valor dado de 25 °C.
◦ Já a temperatura de bulbo úmido (20 °C) é lida no eixo horizontal, por onde
traçou-se uma seta pontilhada até a curva de saturação, como indicado no
círculo, a partir do qual traçou-se uma seta inclinada pontilhada, característica
da temperatura de bulbo úmido.

GRÁFICO 4 – LOCALIZAÇÃO DAS INFORMAÇÕES DO SISTEMA DADO


NA CARTA PSICROMÉTRICA

FONTE: Os autores

• A intersecção das duas setas traçadas nos fornece o ponto X da figura, que
caracteriza o estado termodinâmico do ar úmido em questão.
• Leitura seguindo as especificações do Quadro 1 das propriedades desejadas.
• A umidade relativa está entre 60 e 70%, conforme pode ser visualizado nas
curvas cheias e círculos do gráfico. Fazendo-se uso da interpolação, podemos
encontrar um valor equivalente a 65%.
• O valor do volume específico também é obtido por interpolação, sendo que os
limites estão identificados por retas cheias inclinadas, resultando em 0,865 m3/
kg ar seco.
• A umidade absoluta (seta para a direita) é de, aproximadamente, 12,5 g vapor/
kg ar seco.
• Por fim, a entalpia (reta pontilhada e inclinada) 18 kcal/kg ar seco.

43
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS EM SISTEMAS DE REFRIGERAÇÃO

GRÁFICO 5 – LOCALIZAÇÃO DAS PROPRIEDADES DESEJADAS EM UM SISTEMA DE


CONDICIONAMENTO DE AR OU TORRE DE RESFRIAMENTO NUMA CARTA PSICROMÉTRICA

FONTE: Os autores

4 APLICAÇÕES DE PSICROMETRIA
Sabendo dos conceitos de psicrometria, precisamos compreender como
relacioná-los com aplicações no condicionamento de ar e técnicas de umidificação
ou desumidificação. Para isso, nos subtópicos que se seguem são descritos alguns
problemas e suas resoluções.

4.1 EXEMPLOS TÍPICOS EM CONDICIONAMENTO DE AR


Para explanar sobre as diversas situações ocorridas em processos de
condicionamento de ar, tais como: condicionamento de ar úmido a composição
fixa, desumidificação, umidificação, resfriamento evaporativo e mistura adiabática
de dois fluxos de ar úmido, necessita-se que os balanços mássico e energético em
sistemas abertos já estejam compreendidos. Por isso, a seguir será demonstrado
de modo sucinto os equacionamentos e os significados que eles compreendem.

Na figura a seguir é apresentado um sistema típico de condicionamento


de ar composto por duas correntes de entrada (1 e 3) e uma corrente de saída (2),
que deve resultar num fluxo

de ar úmido. Observa-se a entrada de uma taxa de
transferência de calor ( Q ), que pode ser negativo, positivo ou nulo, dependendo
da aplicação dada para o condicionamento do ar, mas respeitando o que já foi
explanado no que se refere à convenção de sinais, recordando:

• Troca de calor nula ( Q = 0 ): se não há transferência de calor entre o sistema e a
vizinhança (processo adiabático).

44
TÓPICO 2 | FUNDAMENTOS EM PSICROMETRIA


• Troca de calor positiva ( Q > 0 ): há transferência de calor da vizinhança para o
sistema (processo endotérmico).

• Troca de calor negativa ( Q < 0 ): há transferência de calor do sistema para a
vizinhança (processo exotérmico).

FIGURA 9 – DESCRIÇÃO DE UM VOLUME DE CONTROLE PARA UM CONDICIONAMENTO DE AR

FONTE: Os autores

A figura ilustra apenas um sistema aberto de formato aleatório, no qual


há entrada de duas correntes mássicas cruzadas (numeradas por 1 e 3) e uma
corrente de saída (numerada por 2). Também é apresentada uma entrada de
taxa de transferência de calor por uma seta pontilhada, que não necessariamente
precisa ser de fato uma entrada, pode ser uma saída ou até mesmo nem existir
troca de calor do sistema com a vizinhança.

O balanço de massa, em estado estacionário, necessita ser feito optando-se


pela escolha de:

• Um balanço de massa para cada componente, ou seja, uma equação para o ar


seco e outra para o vapor de água.
• Um balanço de massa global e um balanço de massa por componente (ar seco
ou vapor de água).

Comumente a primeira opção é a escolhida por ser de fácil compreensão


que a quantidade de ar seco e vapor de água no sistema é constante, ou seja, não há
reação química ocorrendo no volume de controle selecionado e a operação ocorre
em estado estacionário (regime permanente), resultando nas Equações 70 e 71,
para o ar seco, espécie (B) e vapor de água, espécie (A) ou (w), respectivamente.

m
 B ,1 m=
= B ,2 m B (Equação 70)

m A,1 + m w =
m A,2 (Equação 71)

45
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS EM SISTEMAS DE REFRIGERAÇÃO

Em que:

mw

≡ taxa mássica de água líquida ou vapor que entra na seção 3;
mB

≡ taxa mássica de ar seco;
mB ,1

≡ taxa mássica de ar seco na seção 1.
mB ,2

≡ taxa mássica de ar seco na seção 2.
mA,1

≡ taxa mássica de vapor de água na seção 1.
mA,2 ≡ taxa mássica de vapor de água na seção 2.

As taxas de vapor de água nas seções 1 e 2 podem ser expressas em função


da umidade absoluta:

 
mw mB ( w2 − w1 )
= (Equação 72)

O balanço de energia é feito também em regime permanente, e podemos


considerar como desprezíveis as variações de energia cinética e potencial, além de
que o único trabalho envolvido no sistema dado é do tipo trabalho de escoamento.
Então, a partir da Equação 8 e das hipóteses adotadas, a descrição energética do
sistema dado pela Figura 9 resulta na Equação 73.

     
Q + (mB iB1 + m A,1 iA1 ) + mw iw − (mB iB 2 + m A,2 iA 2 ) (Equação 73)
0=

• Condicionamento de ar úmido a composição constante: em edificações, é


comum considerar que os sistemas de condicionamento de ar realizam a sua
operação de aquecimento ou resfriamento do ar interior sem provocar uma
mudança na quantidade de vapor de água presente no ar úmido, ou seja,
a umidade absoluta e a pressão da mistura são constantes, mas a umidade
relativa e outros parâmetros do ar sofrem alterações, como mostra a Figura 6
num gráfico temperatura versus volume específico.

GRÁFICO 6 – REPRESENTAÇÃO DE AQUECIMENTO DE AR ÚMIDO A COMPOSIÇÃO FIXA

FONTE: Os autores

46
TÓPICO 2 | FUNDAMENTOS EM PSICROMETRIA

GRÁFICO 7 – ILUSTRAÇÃO DA DESUMIDIFICAÇÃO

FONTE: Os autores

O gráfico anterior mostra que num trecho de carta psicrométrica foi


plotado o Ponto 1 com uma temperatura de bulbo seco T1 e umidade relativa
YR,1 e identificado que sofreu um processo de desumidificação com abaixamento
de temperatura de bulbo seco, alcançando o Ponto 2, que possui umidade relativa
de 100%.

• Umidificação: um umidificador é um dispositivo capaz de promover o aumento


da umidade do ar presente em uma residência, escritório etc., através da injeção
de vapor, por exemplo, a temperatura relativamente alta, fazendo com que a
umidade absoluta assim como a temperatura de bulbo seco aumente.
• Resfriamento evaporativo: o resfriamento evaporativo é uma metodologia
utilizada desde a antiguidade pelos egípcios e consiste numa refrigeração para
climas quentes e considerados secos. Então, água líquida é borrifada no ar ou
força-se a passagem do ar em uma almofada encharcada que é constantemente
abastecida com água. Nessa opção de condicionamento de ar, um porcentual
de água injetada sofre evaporação.
• Mistura adiabática de dois fluxos de ar úmido: em uma determinada aplicação
de condicionadores de ar é possível observar a mistura de dois ou mais fluxos
de ar úmido, resultando numa saída cujas propriedades são estimadas por uma
análise termodinâmica, que requer o balanço de massa para o ar seco e para
o vapor de água e um balanço energético considerando o sistema composto
pelas n-ésimas entradas e saídas.

4.2 TORRES DE RESFRIAMENTO


Uma torre de resfriamento consiste num equipamento fabricado de
madeira, alumínio, aço, tijolo, concreto ou chapa de amianto, por onde se processa
o escoamento de dois fluidos a diferentes condições térmicas e fases, por isso é
comum classificá-la como um trocador de calor de contato direto, ou seja, não há
uma barreira que separa os fluidos que possuem gradiente de temperatura entre si.

47
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS EM SISTEMAS DE REFRIGERAÇÃO

Em termos gerais, o seu funcionamento consiste na alimentação de água


quente no topo do equipamento por bocais que promovem o seu gotejamento,
em seguida, esse líquido escoa por um recheio da coluna graças ao efeito da
força gravitacional e é retirada na base da torre por um coletor. Para aumentar a
eficiência de troca térmica, ar é alimento de modo contracorrente ou por corrente
cruzada, com o auxílio de um ventilador, que caracteriza uma convecção forçada,
a partir daí ocorre o contato entre os dois fluidos e uma parte do fluxo de água
evapora no ar úmido, aumentando a umidade absoluta do ar que deixa a torre e
diminuindo a temperatura da água.

Geralmente, encontram-se torres contendo em seu interior bandejas


perfuradas ou colmeias de material plástico, cerâmico e metálico, que aumentam
o desempenho de troca térmica. É claro que uma excessiva umidade no sistema
gasoso representa um risco potencial de corrosão nos equipamentos instalados
posterior e sequenciamento a torre, para remediar esse efeito indesejado,
recomenda-se instalar eliminadores de gotas no topo da torre.

FIGURA 10 – EXEMPLO DE TORRE DE RESFRIAMENTO DE UMA PLANTA DE POTÊNCIA

FONTE: <https://image.shutterstock.com/image-photo/cooling-tower-power-plant-
600w-285674201.jpg>. Acesso em: 23 out. 2019.

Essencialmente, os cálculos feitos em uma torre de resfriamento referem-


se ao balanço de massa e energético total e em elementos de volume de controle
diferenciais (dz), com variáveis indicadas por Subíndice 1 para o fundo da torre
de resfriamento e Subíndice 2 para o topo, como mostra a figura a seguir.

48
TÓPICO 2 | FUNDAMENTOS EM PSICROMETRIA

FIGURA 11 – REPRESENTAÇÃO DE UMA TORRE DE RESFRIAMENTO

FONTE: Os autores

Em que:

L1≡ taxa molar de líquido na saída da torre (mol/s);


L2≡ taxa molar de líquido na entrada da torre (mol/s);
L ≡ taxa molar de líquido em uma altura qualquer da torre (mol/s);
iL1 ≡ entalpia específica da fase líquida na saída da torre (J/kg);
iL2 ≡ entalpia específica da fase líquida na entrada da torre (j/kg);
V' ≡ vazão molar de gás seco (mol/s);
V1≡ vazão molar de gás na entrada da torre (mol/s);
V2≡ vazão molar de gás na saída da torre (mol/s);
Y1≡ umidade absoluta do gás na entrada da torre (-);
Y2≡ umidade absoluta do gás na saída da torre (-);
iv1 ≡ entalpia específica da fase vapor na entrada da torre (J/kg);
iv2 ≡ entalpia específica da fase vapor na saída da torre (J/kg);
TL≡ temperatura da fase líquida (°C);
TV≡ temperatura da fase gasosa (°C);
dz ≡ altura infinitesimal de recheio (m).

De posse das variáveis que contemplam as correntes do sistema em


questão, pode-se efetuar o balanço de massa total para a fase líquida:

L1 + Y2V ′ = 1 '
L2 + YV (Equação 74)

O balanço de massa para o condensável numa porção qualquer de recheio


é dado pela Equação 75.

49
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS EM SISTEMAS DE REFRIGERAÇÃO

V ′Y L + V ′ (Y + dY )
L + dL += (Equação 75)

Eliminando os termos em comum da Equação 75, obtemos a Equação 76.

dL = V ′dY (Equação 76)

Assumindo que uma torre de resfriamento opera adiabaticamente,


desconsideranddo a potência do ventilador e impondo que as variações da
energia cinética e potencial são desprezíveis, obtemos que o processo como um
todo é isoentálpico:

H entrada = H saída (Equação 77)

Essas hipóteses também são utilizadas para o balanço de energia numa


altura qualquer da torre, resultando na Equação 78.

( L + dL )( H L + dH L ) + V ′HV = LH L + V ′ ( HV + dHV ) (Equação 78)

É comum observar pequenas variações na vazão da fase líquida nessas


operações, de modo que dL ≅ 0 , logo dL ⋅ dH L ≅ 0 e o balanço de energia numa
dada seção da torre resulta na Equação 79.

d ( L ⋅ H L ) = V ′dHV (Equação 79)

Na situação em que a vazão total das correntes é superior à velocidade de


transferência da água para a fase gasosa, a vazão da fase líquida sofre alterações.
Nesse cenário, recomenda-se utilizar um valor de vazão média.

L1 + L2
Lmédio = (Equação 80)
2

O contato entre os fluidos água e ar provoca uma transferência de calor


e, como consequência, um aumento na temperatura do ar, que é quantificada
pelo calor sensível, e a evaporação da água, expressa pelo calor latente. Como
consequência disso, ocorre um aumento na temperatura de bulbo seco e na
umidade absoluta nas correntes em cada seção da torre. Além disso, a vazão de
água sofre uma discreta variação de temperatura, por isso, podemos assumir que
seu calor específico é constante. Com essas observações, podemos expressar a
variação de entalpia das correntes pelas Equações 81 e 82.

50
TÓPICO 2 | FUNDAMENTOS EM PSICROMETRIA

d ( L⋅HL ) =
Lmédio ⋅ cL ⋅ dTL (Equação 81)

dHV d c p ,V (TV − T0 ) + Y ⋅ λ0 


= (Equação 82)

DICAS

No caso do nosso estudo em torre de resfriamento, devemos manter o foco


para a determinação de pelo menos uma vazão mássica desconhecida. Contudo, em
literatura de operações unitárias, por exemplo, o livro Transport processes and separation
process principles, de C. J. Geankoplis, podemos encontrar os passos envolvidos para
o dimensionamento dessas torres, isto é, são descritos os fundamentos físicos e os
procedimentos matemáticos para a determinação da altura e diâmetro necessários para
uma dada condição operacional.

51
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• Os cálculos envolvendo projeto de equipamentos de condicionamento de ar


e torres de resfriamento baseiam-se em princípios de conservação de massa e
energia, nos quais se deve considerar um sistema composto por ar (substância
pura que é dita ar seco, isenta de contaminantes) e água (no estado de vapor),
formando o ar úmido.

• As propriedades termodinâmicas importantes para o estudo e uso da


psicrometria são volume (volume específico) e energia (entalpia específica).

• A temperatura de bulbo seco é a indicada por um termômetro convencional


(mercúrio ou por componente eletrônico). A temperatura de bulbo úmido
também é medida por um termômetro comum, mas, além disso, esse
instrumento encontra-se envolvido por um tecido de algodão molhado com
água destilada.

• Temperatura de ponto de orvalho corresponde à temperatura em que o ar


úmido atinge a saturação na pressão local.

• Razão de mistura ou umidade absoluta representa uma razão entre a massa de


vapor de água e a massa de ar seco.

• A umidade relativa significa a quantidade de água que o ar possui em relação


à quantidade que ele possuiria se estivesse saturado.

52
AUTOATIVIDADE

1 As cartas psicrométricas são bastante úteis para a determinação do teor de


umidade de uma corrente gasosa, o que nos fornece as condições que deveriam
ser alcançadas para se atingir um conforto térmico. Por isso, existe uma variedade
de recursos tecnológicos para auxiliar na obtenção de informações nelas
contidas, como é o caso do site http://www.agais.com/toolbox/psicrometria3.
php. Utilizando essa ferramenta, tem-se um problema em que ar atmosférico a
101,33 kPa é alimentado em um trocador de calor a 3400 m³/h numa temperatura
de bulbo seco de 33 °C e umidade relativa 30%. Como resultado disso, obteve-
se uma corrente de saída a temperatura de bulbo seco de 15 °C e bulbo úmido
equivalente a 12 °C. Nessas condições, obteve-se com o site os seguintes

Condição de entrada: razão de mistura = 0,0095 kg água/kg ar, entalpia = 57 kJ/


kg; Condição de saída: razão de mistura = 0,0075 kg água/kg ar seco, entalpia
= 34 kJ/ kg; Entalpia da água = 50,41 kJ/kg; Volume específico = 0,88 m³/kg.
Diante essas informações, assinale a alternativa que indica o módulo da taxa
de transferência de calor ocorrida no trocador de calor.

a) ( ) 24,6 kW.
b) ( ) 13,7 kW.
c) ( ) 39,4 kW.
d) ( ) 18,3 kW.
e) ( ) 57,1 kW.

2 Os dados contidos em uma carta psicrométrica nos fornecem subsídios para


o projeto de umidificação, desumidificação, mistura adiabática de dois fluxos
de ar úmido e resfriamento evaporativo, que são processos importantes na
indústria alimentícia e de processos químicos. Baseado nisso, classifique V
para as sentenças verdadeiras e F para as falsas.

( ) As propriedades termodinâmicas importantes para o estudo e uso da


psicrometria são volume e entropia.
( ) A temperatura de bulbo úmido é a indicada por um termômetro
convencional, desde que expresse a temperatura em que o sistema se
encontra supersaturado.
( ) A temperatura de ponto de orvalho corresponde a temperatura em que o
ar úmido atinge a saturação na pressão local.
( ) Razão de mistura ou umidade relativa representa uma razão entre a massa
de vapor de água e a massa de ar seco.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:


a) ( ) V – V – V – F.
b) ( ) F – F – F – V.
c) ( ) V – V – F – V.
d) ( ) F – F – V – F.
e) ( ) V – V – F – V.
53
54
UNIDADE 1
TÓPICO 3

ESTUDOS DE CASO E EXPERIMENTAÇÃO

1 INTRODUÇÃO
Nos tópicos anteriores dessa unidade discorreu-se sobre os principais
conceitos teóricos que englobam os sistemas de refrigeração e ar-condicionado, ou
seja, foram apresentadas as principais propriedades de estado, termodinâmicas,
psicrométricas e termofísicas, além dos princípios de conservação mássica e
energética. Apesar de vivenciarmos diversos efeitos causados por essas temáticas,
muitas vezes, não notamos as suas influências nas atividades que exercemos, seja
por mera distração ou desconhecimento.

Contudo, um profissional perspicaz pode ser considerado aquele que,


entre outros aspectos, conhece os detalhes de um processo e propõe metodologias
para aprimorar o seu funcionamento, isto é, garantir que o sistema alcance a
mesma resposta, mas com menor necessidade de insumo (energia, matéria-prima
etc.). Baseado nisso e na tentativa de colaborar com o desenvolvimento de suas
expertises no que tange ao funcionamento e projeto de sistemas térmicos, serão
apresentados alguns roteiros para a execução de práticas computacionais ou
experimentais englobando os assuntos: (i) Aplicação de equações de estado para
fluidos de ciclos de potência e refrigeração (R22, R134 e água), (ii) Determinação
experimental da viscosidade dinâmica, (iii) Verificação dos efeitos decorrentes da
primeira lei da termodinâmica; (iv) Determinação de propriedades psicrométricas.

Por meio da execução dessas propostas serão obtidos dados quantitativos


de um sistema. Contudo, em qualquer medida feita, deve-se observar que é
cometido algum tipo de erro, seja um erro sistemático, oriundo da qualidade (ou
ausência de) dos aparatos experimentais, como acontece em erros de medição de
uma massa por uma balança descalibrada, erro casual, provocado pela falta de
experiência ou zelo do experimentador (observador), que se equivoca numa leitura
de temperatura e aferição de pressão, e por isso recomenda-se a realização de uma
série de medidas sobre a variável de interesse para compensar o efeito deste tipo
de erro, que é amenizado pelo efeito da média aritmética, ou por erros estatísticos.

Todos esses erros são inter-relacionados e indissociáveis, fazendo com


que seja necessário compreender como eles afetam globalmente na determinação
de uma medida, seja para mais ou para menos, ou seja, realizar o cálculo da
propagação de erros, assunto esse discorrido no próximo item.

55
2 CÁLCULO DA PROPAGAÇÃO DE ERROS
Para compreendermos como a propagação de erros acontece, vamos
supor que em um determinado experimento mediu-se os parâmetros x, y,..., z
“n” vezes, ou seja, temos um conjunto de medidas dado por:

x1 , y1 , …, z1 
x2 , y2 , …, z2 
 medidas
 
xn , yn , …, zn 

Como consequência dos erros sistemáticos, casuais e estatísticos, não se


conhece qual o real valor destes parâmetros. No entanto, os valores médios x,
x, y,...,
y,...,xzz, y,..., z
são tais que melhor se aproximam dos “verdadeiros” dentro de uma confiança σx, σy
e σz, os quais são calculados pelas Equações 83 a 88.

1 n
x= ∑ xi
n i =1 (Equação 83)

1 n
y= ∑ yi
n i =1
(Equação 84)

1 n
z= ∑ zi
n i =1 (Equação 85)

1 n 2
=σ x2
n
∑ i =1
( xi − x ) (Equação 86)

1 n 2
=σ y2 ∑
n i =1
( yi − y ) (Equação 87)

1 n 2
=σ z2
n
∑ (z − z )
i =1 i
(Equação 88)

Mas, será que existe um caminho para encontrar o valor que mais se
aproxima do “verdadeiro”, assim como a sua confiabilidade quando a variável
de interesse não pode ser medida diretamente, mas sim por uma expressão
matemática? Em outras palavras, deseja-se, por exemplo, determinar a velocidade
de um corpo baseado em medições de distâncias e tempo discorrido.

56
1 n 2
=σ y2 ∑
n i =1
( yi − y )
Vejamos como fazer isso supondo que se deseja encontrar “w” em função
de “x, y, ..., z”, isto é, w=w (x,y,z). Uma alternativa consiste no cálculo de wi para2
1 n
todos os conjuntos xi, yi,...,zi de medidas e calcular a média
= w e σ z2 , Equação (89
n
∑ z)
zi e−90.
i =1

x1 , y1 , …, z1 
x2 , y2 , …, z2 
 medidas
 
xn , yn , …, zn 

1 n
z= ∑ zi
n i =1
(Equação 89)

1 n 2
=σ x2 ∑
n i =1
( xi − x ) (Equação 90)

Utilizando essa estratégia, verifica-se que é necessário calcular todos


os valores wi, o que é de se imaginar um procedimento no mínimo trabalhoso.
Então, seria mais fácil obter w a partir da média dos seus termos independentes.
Será que isso pode ser feito? Para respondermos a essa pergunta, que na verdade
facilitará a execução e as análises de ensaios, Vuolo (1992) propõe expandir o
valor de wi em séries de potência (Equação 91).

 ∂w   ∂w   ∂w 
=wi w ( x , y ,…, z ) +   ( xi − x ) +   ( yi − y ) + … +   ( zi − z ) +
 ∂x   ∂y   ∂z 
1  ∂²w  1  ∂²w  1  ∂2w 
( i ) ( i )  ( zi − z ) + …
2 2 2
+  x − x +  y − y + … +  (Equação 91)
2  ∂x ²  2  ∂y ²  2  ∂z 2 

Caso a função w sofre uma variação lenta, ou seja, não se observa altos
gradientes, considera-se que os termos de segunda ordem ou ordens superiores
são desprezíveis. Com isso, a média de w é dada pela Equação 92.

1 n
w= ∑ w
n i =1 i
(Equação 92)

Ou:

57
1 n n
 ∂w 
=w
 ∑ w ( x , y , …, z ) + ∑   ( xi − x ) +
=n  i 1 =i 1  ∂x 
 ∂w  n n
 ∂w  
+∑   ( yi − y ) + … + ∑   ( zi − z )  (Equação 93)
 ∂y 
=i 1 = i 1  ∂z  

Com:

1 n 1 1 1
∑ ) = ∑ i 1=
( xi − x= xi − ∑ i 1 x =x −
n n
nx =0 (Equação 94)
=i 1
n n n n

Então,

=w w ( x , y ,…, z ) (Equação 95)

Um raciocínio análogo é desenvolvido para encontrar o desvio de “w”:

1 n
=σ w2 ∑
n i =1
( wi − w ) ² (Equação 96)

Utilizando wi da Equação 91, incluindo apenas dos termos de ordem


menor e igual a um, temos:

  ∂w   ∂w   ∂w 
( w=
i − w)  w ( x , y ,…, z ) +   ( xi − x ) +   ( yi − y ) + … +   ( zi
2

  ∂ x   ∂y   ∂z 
 ∂w   ∂w   ∂w  
w ( x , y ,…, z ) +   ( xi − x ) +   ( yi − y ) + … +   ( zi − z ) − w (Equação 97)
 ∂x   ∂y   ∂z  

Ou:

2 2
 ∂w   ∂w 
(=
wi − w )   ( xi − x ) +   ( yi − y ) + … +
2 2 2

 ∂x   ∂y 
 ∂w   ∂w   ∂w  ∂w 
+2    ( xi − x )( yi − y ) + 2    ( xi − x )( zi − z ) + … + … (Equação 98)
 ∂x   ∂y   ∂x  ∂z 

58
Mas,

 ∂w   ∂w 
2   ( xi − x )( yi − y ) =
0 (Equação 99)
 ∂x   ∂y 

Então,

2 2 2
 ∂w  2  ∂w  2  ∂w  2
=σ   σx + 
2
w  σ y +…+   σz (Equação 100)
 ∂x   ∂y   ∂z 

NOTA

Vejamos como essa definição de propagação de erros se aplica para o cálculo


da incerteza no volume de um cilindro (σv), cujos valores médios do raio e de altura foram
calculados e equivalentes a r e l , respectivamente. Utilizando a Equação 100, temos que:

2 2
 ∂v   ∂v 
=σ v2   σ r2 +   σ l2 (Equação 101)
 ∂r   ∂l 

O volume de um cilindro é calculado pela equação 102:

V = π r ²l (Equação 102)

Logo,

∂v
= 2π rl (Equação 103)
∂r
E,

∂v
= π r² (Equação 104)
∂l
Portanto, a incerteza sobre o cálculo do volume do cilindro é dada pela Equação 105:

( 2π rl ) σ r2 + (π r ² ) σ l2
2 2
=σ v2 (Equação 105)

59
3 PRÁTICAS PROPOSTAS
As quatro práticas que serão apresentadas neste tópico consistem na
implementação de códigos computacionais em softwares gratuitos e execução de
experimentos envolvendo materiais acessíveis.

3.1 APLICAÇÃO DE EQUAÇÕES DE ESTADO


Os valores das diversas propriedades termodinâmicas podem ser
determinados a partir de consultas em tabelas ou diagramas específicos. Mas,
muitas vezes, os profissionais da indústria e pesquisa se confrontam com novos
fluidos, para os quais há um desconhecimento dessas informações. Como
alternativa para resolver esse impasse, aplicam-se funções de partida, que
correspondem a uma propriedade residual dada pela diferença entre dois estados
termodinâmicos: um real e outro ideal, e equações de estado, com a equação
cúbica de Peng Robinson (Equação 106).

1 aρ
=p − (Equação 106)
(
1 − ρ RT 1 + 2bρ − b 2 ρ 2 )
Com:

0, 45724 R ²Tc2 ∝ (T )
a= (Equação 107)
pc

0,0778 RTc
b= (Equação 108)
pc

∝ (T ) =1 + m(1 − Tr  ² (Equação 109)

m =0,37464 + 1,54226 w − 0, 26992 w² (Equação 110)

T
Tr = (Equação 111)
Tc

Em que:

a ≡ energia de interação intermolecular (J);


b ≡ covolume (m³);

60
Tc ≡ temperatura crítica da substância (°C);
Tr ≡ temperatura reduzida da substância (-);
pc ≡ pressão crítica da substância (Pa);
w ≡ fator acêntrico (-).

NOTA

Você pode escolher outra equação de estado, se isso for feito, lembrar-se de
utilizar as expressões adequadas para o cálculo da energia de interação intermolecular,
covolume e função da pressão em relação a massa específica e temperatura.

A Equação 107 pode ser escrita em função do fator de compressibilidade


(Z) (Equação 112).

−1
A B B 
−1 2
 B
Z =1 −  − 1 + 2 −    (Equação 112)
 Z Z  Z  Z  

Ou:

( ) (
Z 3 − (1 − B ) Z 2 + A − 3B 2 − 2 B − AB − B 2 − B 3 =
0 ) (Equação 113)
(Equação 115)
Com:

pv
Z= (Equação 114)
RT

ap
A= (Equação 115)
R ²T ²

bp
B= (Equação 116)
RT

61
Dado que a Equação 113 é um polinômio do terceiro grau, ao resolvê-
la podemos obter uma raiz real e duas complexas, sendo que o zero real
representa o valor do fator de compressibilidade da substância no estado de
vapor superaquecido se Z for próximo da unidade, caso contrário o fator de
compressibilidade do líquido comprimido. Se o resultado encontrado for três
raízes reais, a maior corresponde o fator de compressibilidade do vapor saturado
e a menor do líquido saturado, a terceira não possui significado físico qualquer,
apenas satisfaz uma condição matemática.

Conhecido o valor do fator de compressibilidade, pode-se determinar a


entalpia (Equação 117) e a entropia (Equação 118) de uma substância, que são
duas variáveis importantes para um sistema de refrigeração.

ρ
i − i id  ∂Z  d ρ
=∫ − T   + ( Z − 1) (Equação 117)
RT 0  ∂T  ρ

ρ
s − s id   ∂Z   dρ
= ∫ −T   − ( Z − 1)  + lnZ (Equação 118)
R 0  ∂T   ρ

Em que:

iid ≡ entalpia específica do gás ideal (J/kg);


sid ≡ entropia específica do gás ideal (J/kg.K).

As Equações 117 e 118 podem ser reescritas com parâmetros da equação


de estado de Peng Robinson:

i − i id
= Z − 1 − ln 
( )
 Z + 1+ 2 B   
 A 1 + K Tr  (Equação 119)
RT ( )
 Z + 1 − 2 B  B 8 
 
∝ 

s − s id
= ln ( Z − B ) − ln 
(
 Z + 1+ 2 B  ) 
 A  K Tr 

(Equação 120)
R ( )
 Z + 1 − 2 B  B 8  ∝ 
 

• Objetivo: verificar o erro cometido ao utilizar a equação de gás ideal para


determinar o volume específico, entalpia e entropia de substâncias no estado de
vapor superaquecido, líquido saturado e vapor saturado. Além disso, verificar o
comportamento dado pela pressão, temperatura e volume do R22, R134 e água.
• Materiais utilizados: essa prática não requer o uso de equipamentos
laboratoriais tampouco reagentes. Mas, recomenda-se o uso de computador
ou calculadora e papel milimetrado.
62
• Procedimentos: 1- A partir de dados coletados na literatura, deseja-se utilizar
as equações citadas na contextualização dessa prática para prever propriedades
termodinâmicas. 2- Preencher as lacunas da Tabela 2.

TABELA 2 – DADOS E VARIÁVEIS DESCONHECIDAS

Substância T (°C) p (bar) Volume Entalpia Entropia Volume Entalpia Entropia


GI* GI GI GR** GR GR
-20 0,4
-30 0,4
40 4,5
30 4,5
90 9,0
70 9,0
40 9,0
-10 3,6
16 8,1
R-22
60 24,3
-5 0,6
0 0,4
-15 0,6
25 1,5
20 2,0
70 7
25 7
15 7
-20 0,6
-10 0,6
40 6,0
80 6,0
-40 0,5
-40 0,6
24 6,5
36 9,1
R-134
100 39,7
50 0,6
50 1,0
180 10
40 10
20 2,8
120 2,8
200 14

63
121 0,07
200 0,07
232 7,0
300 7,0
375 700
430 700
170 7,9
240 33,4
360 186,5
H2O 100 2,4
240 3,4
360 4,2
280 1,5
120 1,5
160 3,0
600 3,0
180 5,0
440 5,0
240 20,0
*GI: gás ideal; **GR: gás real.
FONTE: Os autores

Observação: As propriedades das substâncias requeridas para os


cálculos dessa prática são listadas na Tabela 3.

TABELA 3 – PARÂMETROS NECESSÁRIOS PARA OS CÁLCULOS

Substância Tc (°C) Pc (bar) W (-)


R-22 ´96 50 0,220
R-134 101 41 0,327
H2O 374 221 0,345

FONTE: Adaptado de <http://www.coolprop.org/fluid_properties/fluids/R22.html>;


<http://www.coolprop.org/fluid_properties/fluids/R134a.html>;
<http://www.coolprop.org/fluid_properties/fluids/Water.html>. Acesso em: 15 maio 2019.

3- Plotar um diagrama temperatura versus volume específico para cada uma das
três substâncias analisadas (R-22, R-134 e H2O). 4. Calcular o erro relativo entre a
propriedade termodinâmica calculada segundo gás ideal e a obtida pela equação
cúbica de Peng Robinson.

64
TÓPICO 3 | ESTUDOS DE CASO E EXPERIMENTAÇÃO

AUTOATIVIDADE

1 Com os cálculos de entalpia, entropia e volume específico para o R-22,


R-134 e H2O a partir da equação de estado proposta, os valores obtidos
foram muito diferentes dos calculados por um gás ideal?

2 Por que os desvios encontrados foram da magnitude calculada?

3 Quais são os motivos que justificam a diferente obtenção de um gráfico


temperatura versus volume específico para o R-22 e a H2O?

3.2 DETERMINAÇÃO EXPERIMENTAL DA VISCOSIDADE


DINÂMICA
Quando se observa o escoamento de mel ou água, nota-se que eles
apresentam um movimento característico em que a água se move com maior
facilidade em relação ao mel. A propriedade que representa essa resistência
à fluidez é dita viscosidade dinâmica e seu estudo é tratado pela reologia dos
fluidos, que classifica os fluidos em newtoniano ou não newtoniano, sendo que
esse segundo grupo é representado pelos fluidos pseudoplástico, dilatante,
plástico de Bingham e Herschel-Bulkley.

A viscosidade dinâmica representa uma forma de mensurar


quantitativamente a resistência interna de uma substância ao fluxo quando
lhe é aplicada uma tensão cisalhante. Quanto mais viscosa, mais difícil é o seu
escoamento, portanto, maior o seu coeficiente de viscosidade. Essa propriedade
é determinada a partir da utilização de aparelhos ditos viscosímetros, que
comumente são classificados em primário, quando se determina a viscosidade
de fluidos Newtonianos ou não Newtonianos por medidas diretas da taxa
de deformação e da tensão, e secundário, em que a viscosidade de fluidos
Newtonianos é obtida por procedimentos indiretos, tal como pelo uso de um
viscosímetro de Stokes, que é um aparelho de baixo custo, mas requer uma
quantidade considerável de fluido e só opera com líquidos translúcidos, ou
viscosímetro de Copo Ford.

O funcionamento do viscosímetro de Stokes fundamenta-se no tempo


dispendido para um corpo deslocar uma distância L no fluido que se deseja
estimar a viscosidade, sobre as condições: (i) corpo necessita ser esférico; (ii)
fluido encontra-se parado; (iii) corpo move-se com velocidade constante e igual
a velocidade terminal; (iv) as forças atuantes no sistema contabilizam o efeito do
arrasto, peso e empuxo, cujo balanço resulta na Equação 121.

CD π Ds2 π Ds3
⋅ ρF ⋅V T ⋅
2
= ⋅ ( ρs − ρF ) g (Equação 121)
2 4 6
65
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS EM SISTEMAS DE REFRIGERAÇÃO

Em que:

CD≡ coeficiente de arrasto (-);


ρF ≡ massa específica do fluido (kg/m³);
ρS ≡ massa específica da partícula esférica (kg/m³);
DS ≡ diâmetro da partícula esférica (m);
VT ≡ velocidade terminal de queda livre partícula esférica (m/s).

DICAS

Os corpos ao caírem no seio de um fluido qualquer são submetidos a uma


aceleração durante um tempo. Em seguida, movem-se a uma velocidade constante,
conhecida como velocidade terminal, que é dependente da massa específica, tamanho
e forma da partícula, além das propriedades do fluido e do campo ao qual eles estão
submetidos, como o campo gravitacional. Para que você compreenda como essa
velocidade terminal se relaciona com a viscosidade de um fluido, e também observe o
sistema de equações envolvidos nessa temática, recomendamos que leia o artigo de Lev
Vertchenko e Larissa Vertchenko, intitulado por Determinação da viscosidade por meio
da velocidade terminal: uso da força de arrasto com termo quadrático na velocidade,
disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbef/v39n4/1806-1117-rbef-39-04-e4304.pdf.

Para ilustramos essa velocidade, observe a figura em que estão caracterizadas as forças
atuantes num paraquedista em queda livre, são elas: força peso (vertical para baixo) e força
de arrasto (vertical para cima). Quando a força peso é maior que a força de arrasto, o
corpo desce acelerado. Caso essas forças tenham o mesmo módulo, o corpo desce com
velocidade constante, dita velocidade terminal. No momento em que se abre o paraquedas,
a força de arrasto é maior do que a força peso, então o corpo desce desacelerado.

FIGURA – ILUSTRAÇÃO DE VELOCIDADE TERMINAL

FONTE: <https://image.shutterstock.com/image-vector/forces-when-skydiving-physics-
lesson-600w-680546299.jpg>. Acesso em: 23 out. 2019.

66
TÓPICO 3 | ESTUDOS DE CASO E EXPERIMENTAÇÃO

O coeficiente de arrasto pode ser calculado pela proposta de Landenberg


em Brodkey:

24  Ds 
CD
= 1 + 2,0144  (Equação 122)
Re  D

Com:

DsVT ρ F
Re = (Equação 123)
µ

Em que:

D ≡ diâmetro interno do tubo do viscosímetro (m);


µ ≡ viscosidade dinâmica do fluido (kg/m.s).

Substituindo as Equações 123 e 122 em 121, chega-se na expressão para a


determinação da viscosidade dinâmica:

1 gD ² ( ρ s − ρ F )
µ=
18V  Ds  (Equação 124)
1 + 2,0144 
 D

O viscosímetro copo Ford determina a viscosidade do fluido pela


medida do tempo necessário para o esvaziamento de um reservatório, dito copo.
Esse aparelho possui um princípio de funcionamento relativamente simples e
demanda de um pequeno volume de amostra, porém ele só fornece a viscosidade
em temperatura ambiente. A compreensão de como obter a viscosidade por essa
metodologia se dá quando são adotadas as hipóteses: regime de escoamento
quase-estacionário durante o esvaziamento do reservatório, qualquer perda é
desconsiderada, exceto a perda de carga no orifício. Com isso, pode-se utilizar
a equação de Poiseuille para caracterizar esse escoamento, de modo que a
viscosidade é calculada pela Equação 125.

µ t
=
ρF h  (Equação 125)
C ln  f 
 h0 

Com:

67
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS EM SISTEMAS DE REFRIGERAÇÃO

128 At L
C= (Equação 126)
π gD 4

Em que:

At ≡ área da seção transversal do copo (m²);


hf ≡ altura final do fluido no copo (m);
h0 ≡ altura inicial do fluido no copo (m);
t ≡ tempo gasto para esvaziamento de h0 a hf (s);
L ≡ comprimento do copo (m);
D ≡ diâmetro do orifício do copo (m).

A Equação 125 pode ser ajustada segundo parâmetros do fabricante do


viscosímetro, de modo a obter a Equação 127.

µ ρ ( A⋅t + B )
= (Equação 127)
Em que:

A ≡ constante definida pelo fabricante do copo;


B ≡ constante dada pelo fabricante do copo para corrigir aproximações feitas em
relação às perdas de carga no escoamento e às características do viscosímetro, tal
como o ajuste devido ao formato cônico na base.

• Objetivo: o experimento objetiva determinar a viscosidade dinâmica da


glicerina, utilizando-se para isso um viscosímetro de Stokes e copo Ford.
• Materiais utilizados: Para a realização dessa prática são necessários os
materiais listados a seguir.
◦ Viscosímetro de copo Ford.
◦ Cronômetro.
◦ Termômetro.
◦ Densímetro.
◦ Paquímetro.
◦ Corpos esféricos idênticos (de preferência todos com 2 mm de diâmetro).
◦ Balança analítica de precisão.
◦ Glicerina líquida.
• Procedimento: para o caso do ensaio envolvendo o viscosímetro copo Ford, é
necessário seguir os passos: 1- Medir três vezes o tempo de esvaziamento do copo
Ford com o auxílio de um cronômetro e registrar os valores na tabela a seguir.

68
TÓPICO 3 | ESTUDOS DE CASO E EXPERIMENTAÇÃO

TABELA 4 – TEMPO DE ESCOAMENTO

Medição Tempo (s)


1
2
3
Média

Fonte: Os autores

2- Medir a temperatura do óleo no copo onde se encontra o fluido que se deseja


determinar a viscosidade para cada escoamento. Em seguida, registre na tabela
os valores obtidos:

TABELA 5 – TEMPERATURA DO FLUIDO DE ESCOAMENTO

Medição Temperatura (oC)


1
2
3
Média

Fonte: Os autores

3- Determinar a partir de um densímetro a massa específica do fluido de interesse


para cada escoamento e registrar os valores na tabela.

QUADRO 6 – MASSA ESPECÍFICA DA GLICERINA

Medição Massa específica (kg/m³)


1
2
3
Média

FONTE: Os autores

4- Registrar os erros de medida dos equipamentos utilizados.

No experimento do viscosímetro de Stokes, deve-se seguir as orientações: 1-


Determinar com o auxílio de um paquímetro o diâmetro das esferas e do tubo. Realize
três medições para a esfera e o tubo. Disponha os resultados na tabela a seguir:

69
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS EM SISTEMAS DE REFRIGERAÇÃO

TABELA 7 – MEDIDAS DA ESFERA E DIÂMETRO DO TUBO

Medição Diâmetro da Esfera (mm) Diâmetro do tubo (mm)


1
2
3
Média

FONTE: Os autores

2- Determinar a massa dos corpos esféricos com auxílio de uma balança analítica
e registrar os valores na Tabela 8:

TABELA 8 – MASSA DAS ESFERAS

Medição Massa do sólido (kg)


1
2
3
Média

FONTE: Os autores

3- Calcular o volume dos corpos esféricos e registrar os valores na tabela a seguir:

TABELA 9 – VOLUME DAS ESFERAS

Medição Volume do sólido (m3)


1
2
3
Média

FONTE: Os autores

4- Calcular a massa específica dos corpos esféricos e registrar os valores no quadro


a seguir:

TABELA 10 – CÁLCULOS DA MASSA ESPECÍFICA DA ESFERA

Medição Massa específica sólido (kg/m³)


1
2
3
Média

FONTE: Os autores

70
TÓPICO 3 | ESTUDOS DE CASO E EXPERIMENTAÇÃO

ATENCAO

A massa específica do corpo esférico será calculada pelo quociente entre a


massa desse sólido e seu volume (Vol), que é calculado pela Equação 128.

4
Vol = π R ³ (Equação 128)
3

5- Mensurar a densidade da glicerina três vezes utilizando um densímetro e


registrar os resultados na tabela a seguir.

TABELA 11 – MASSA ESPECÍFICA DA GLICERINA POR LEITURA EM DENSÍMETRO

Medição Massa específica glicerina (kg/m³)


1
2
3
Média

FONTE: Os autores

6- Efetuar o lançamento das esferas três vezes cada e registrar o tempo gasto na
Tabela 12.

TABELA 12 – TEMPO DE LANÇAMENTO DOS CORPOS

Medição Tempo esfera 1 (s) Tempo esfera 2 (s) Tempo esfera 3 (s)
1
2
3
Média -

FONTE: Os autores

7- Estimar a velocidade terminal das esferas medindo-se o intervalo que o corpo


demora para percorrer no fluido uma distância conhecida. Em seguida, registre
esses valores:

71
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS EM SISTEMAS DE REFRIGERAÇÃO

TABELA 13 – RESULTADO DA VELOCIDADE TERMINAL

Medição Velocidade terminal (m/s)


1
2
3
Média

FONTE: Os autores

AUTOATIVIDADE

1 Para o experimento do viscosímetro de Stokes, responda:

a) Quais foram os valores médios do diâmetro das esferas e do tubo?


b) Qual foi o valor médio para o tempo de queda dos corpos esféricos?
c) Qual é o valor da viscosidade dinâmica do fluido analisado? Lembre-se
de inserir as incertezas associadas a cada variável medida, em seguida
utilize da propagação de erros para determinar a incerteza da medição da
viscosidade calculada.

2 Para o experimento do copo Ford, responda:

a) Qual é o tempo médio de esvaziamento do copo?


b) Qual é a viscosidade dinâmica do fluido analisado?
c) Compare os resultados encontrados para o viscosímetro de Stokes de copo.
Os valores encontrados foram próximos? Justifique o porquê da diferença
observada.

3.3 VERIFICAÇÃO DOS EFEITOS DECORRENTES DA PRIMEIRA


LEI DA TERMODINÂMICA
A primeira lei da termodinâmica contribuiu para o desenvolvimento de
pesquisas relacionadas à conversão de energia térmica em energia mecânica.
Esse é o resultado dos principais processos cíclicos, por exemplo, de máquinas
de potência, em que ocorre a retirada de calor de uma fonte quente, da qual uma
parcela dessa energia realiza trabalho mecânico e o restante é dispensada para
uma fonte fria.

Apesar da termodinâmica ser uma ciência relativamente nova, datada


do final do século XIX, Heron, inventor grego, já havia concebido no século I
d.C. um dispositivo que funcionava segundo os preceitos da primeira lei, em que
utilizava uma esfera de metal com dois furos, por onde vapor de água percorria
para produzir uma pequena quantidade de energia mecânica. Essa ideia foi

72
TÓPICO 3 | ESTUDOS DE CASO E EXPERIMENTAÇÃO

aprimorada conforme a termodinâmica conquistava espaço no mundo científico


e industrial, até que em 1770, o inventor James Watt analisou os dispositivos então
existentes e propôs um modelo de máquina mais eficiente, por isso foi empregada
para o acionamento de moinhos, bombas de água, locomotivas e barcos, o que
impulsionou a Revolução Industrial e pesquisas na área.

• Objetivo: reproduzir o experimento de Heron utilizando materiais de baixo


custo de aquisição a fim de verificar empiricamente as consequências da
primeira lei da termodinâmica.
• Materiais utilizados: para a realização dessa prática, que é baseada no conteúdo,
disponível em: http://www.if.ufrgs.br/~leila/heron.htm, são necessários os
materiais listados a seguir.
◦ lata de alumínio (refrigerante);
◦ 2 canos metálicos curvados;
◦ 300 mL de água;
◦ fio elástico de 4 cm;
◦ suporte;
◦ vareta de alumínio de 50 cm;
◦ seringa descartável;
◦ cola;
◦ vela.
• Procedimento: para a realização da prática envolvendo a primeira lei de
termodinâmica é necessário:
1- Furar a lata de alumínio para esvaziar o seu conteúdo.
2- Lavar com 150 mL de água a lata para a remoção de sujidades.
3- Fazer dois furos em extremidades opostas da lata com o diâmetro dos canos
metálicos e, em seguida, colá-los para a sua completa vedação.
4- Introduzir com a seringa 150 mL de água no interior da lata.
5- Garantir que o sistema se encontra completamente vedado.
6- Prender o fio no centro superior da lata.
7- Curvar uma das extremidades da vareta.
8- Prender esse fio com o recipiente na extremidade curva da vareta.
9- Fixar o sistema no suporte.
10- Acender a vela e aguardar alguns minutos até que um fenômeno seja observado.

AUTOATIVIDADE

1 Como se trata de uma aplicação da primeira lei da termodinâmica, quais os


instrumentos dessa prática que representam o sistema em estudo?

2 No momento em que se acendeu a vela, o que pode ser visualizado?

3 Qual é a explicação para o movimento da lata?

4 O que acontece se for apagada a chama da vela?

73
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS EM SISTEMAS DE REFRIGERAÇÃO

3.4 DETERMINAÇÃO DE PROPRIEDADES PSICROMÉTRICAS


A psicrometria engloba os estudos de uma mistura formada por ar, que
nessa área de conhecimento se refere a uma substância pura, e vapor de água.
Conhecer as variáveis psicrométricas e como elas se relacionam é fundamental
para a concepção de projetos de instalações de conforto térmico, especificamente
no cálculo de carga térmica, e sistemas de refrigeração, desumidificação e
umidificação, englobando serpentinas, torres de resfriamento, sistemas de ar-
condicionado e condensadores evaporativos.

As condições de conforto humano são estabelecidas em função da


temperatura do ar e da fração de vapor d’água presente no ar atmosférico,
conhecida como umidade do ar, uma vez que elas relacionam as condições de
equilíbrio térmico e as suas interferências sobre a taxa de evaporação. Então, para
altos valores de temperatura ambiente, o nosso corpo se equilibra termicamente
de acordo com a taxa de evaporação por transpiração, com isso a quantidade de
vapor de água presente no ar atmosférico necessita ser inversamente proporcional
à temperatura ambiente, conforme mostra a tabela a seguir.

TABELA 14 – TEMPERATURA AMBIENTE E SUA UMIDADE ABSOLUTA

Temperatura (°C) Teor de umidade (g vapor/ g ar seco)


20 12,4
25 12,1
30 11,8
35 11,3
40 9,7

FONTE: Os autores

Esses valores de umidade absoluta nem sempre são fáceis de serem


relacionados com a faixa de umidade que nos proporciona uma sensação de conforto
térmico, por isso é mais recomendado localizar numa carta psicrométrica a região em
que se localiza essa zona, conforme mostra o hexágono na figura a seguir.

FIGURA 12 – LOCALIZAÇÃO DA REGIÃO DE CONFORTO TÉRMICO NO DIAGRAMA PSICROMÉTRICO

FONTE: Os autores

74
TÓPICO 3 | ESTUDOS DE CASO E EXPERIMENTAÇÃO

Na figura é apresentada uma carta psicrométrica em que nas regiões de


alta umidade relativa e baixa temperatura tem-se uma sensação térmica de frio,
caminhando nessa imagem para a direita, tem-se regiões de alta temperatura de
bulbo seco e umidade relativa e absoluta elevadas, caracterizando-se uma sensação
de calor. Ainda na seção de temperatura relativamente alta mas com baixa umidade
relativa e absoluta, temos a localização da zona de conforto térmico.

Usualmente, a determinação das propriedades psicrométricas é feita através


da leitura de cartas psicrométricas, conhecidas como diagrama de Mollier para o
ar úmido, que pode ser elaborada à pressão do nível do mar (1 atm). Um ponto
localizado nessa carta é dito ponto de estado, em que sua localização é determinada
conhecendo-se duas propriedades psicrométricas. Porém, o seu uso pode ser
considerado como limitado, pois requer uma certa habilidade por parte do usuário.

Como alternativa para esse impasse, realiza-se uma modelagem matemática


contemplando equações já consolidadas na literatura devido a sua precisão,
como as propostas por Wilhelm (1976), o que também uma forma para facilitar
a sua elaboração em códigos computacionais com fim de simulação de sistemas
térmicos, necessitando apenas fornecer duas propriedades psicrométricas.

• Objetivo: elaborar um modelo matemático para o cálculo de propriedades


psicrométricas, como: temperatura de bulbo seco, temperatura de bulbo
úmido, temperatura de orvalho, umidade absoluta, umidade relativa, pressão
de vapor, entalpia e volume específico.
• Materiais utilizados: essa prática não requer o uso de equipamentos
laboratoriais tampouco reagentes. Mas, recomenda-se o uso de computador
com uma planilha eletrônica instalada ou software gratuito para a programação
computacional, como o Scilab, que se encontra disponível para download em:
https://www.scilab.org/.
• Procedimento: a simulação computacional de propriedades psicrométricas
requer o conhecimento das equações que as descrevem em função de
parâmetros fornecidos por um usuário do código. Em sistemas de ar-
condicionado geralmente conhece-se a temperatura de bulbo seco ou úmido
e a umidade relativa, pois elas são grandezas facilmente determinadas por
um psicrômetro. Para a execução dessa prática, recomenda-se a utilização das
equações descritas por Melo et al. (2004), que são apresentadas em sequência,
sendo que as equações estão no sistema internacional de unidades.
◦ Pressão de vapor na saturação ou na temperatura de bulbo úmido:

Para 233,2 < T(K) < 273,15:

6238,64
ln ( ps ) =
24, 28 − − 0,34444ln (T ) (Equação 129)
T

75
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS EM SISTEMAS DE REFRIGERAÇÃO

Para 273,2 < T < 393,15:

7511,5
ln ( ps ) =
− + 89,63 + 0,024T − 1,165 ⋅10−5 T 2 +
T
−1, 28 ⋅10 T + 2,1⋅10−11T 4 − 12, 2ln (T )
−8 3
(Equação 130)

◦ Umidade absoluta:

Para 233,2 < T(K) < 383,15:

Y=
( 2501 − 2, 41TB )U AU − 1,006 (T − TB )
(Equação 131)
2501 + 1,775T − 4,186TBU

◦ Umidade absoluta na saturação:

0,622 ps
Ys = (Equação 132)
( p − ps )

◦ Umidade relativa:

pv
YR = (Equação 133)
ps

◦ Temperatura de ponto de orvalho:

Para 223 < T (K) < 273:

5,994 12, 41ln ( pv ) + 0, 4273 ln ( pv )  ²


To =+ (Equação 134)

Para 273 < T (K) < 323:

6,983 14,38ln ( pv ) + 1,079 ln ( pv )  ²


To =+ (Equação 135)

Para 323 < T (K) < 383:

13,8 + 9, 478ln ( pv ) + 1,991 ln ( pv )  ²


To = (Equação 136)

76
TÓPICO 3 | ESTUDOS DE CASO E EXPERIMENTAÇÃO

◦ Volume específico:

R "T
=v (1 + 1,6078Y ) (Equação 137)
p

Com: R” = 0,28705 kJ/kg.K.

◦ Entalpia específica:

i =1,006t + Y ( 2501 + 1,775t ) (Equação 138)

Com: t em °C.

77
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS EM SISTEMAS DE REFRIGERAÇÃO

LEITURA COMPLEMENTAR

AS QUATRO LEIS DA TERMODINÂMICA

REDAÇÃO GUIA DO AC

A termodinâmica é um assunto engraçado. A primeira vez que você “vê”,


você não entende nada. A segunda vez que você “vê”, você acha que entende,
exceto por um ou dois pontos. A terceira vez que você “vê”, você sabe que não
entende, mas quando você acostuma com o assunto, isso não o incomoda mais.
Vou tentar explicar de uma forma bem suscita. Com isso, vamos começar pelo
começo, “correto”. Pois a primeira das leis da termodinâmica não é a primeira lei
da termodinâmica.

A LEI ZERO DA TERMODINÂMICA

Vamos começar com a pergunta óbvia: por que não é chamada a primeira
lei da termodinâmica? Acontece que esta lei foi descoberta depois da primeira e
segunda leis, mas considerada mais fundamental. Então nós temos uma lei zero.

“Se dois sistemas estão em equilíbrio térmico com um terceiro, eles estão
em equilíbrio térmico um com o outro”.

E isso, naturalmente, levanta a questão da definição de equilíbrio térmico.


Vamos começar com um copo de água morna. Se você deixar cair um cubo de gelo,
o gelo está em equilíbrio térmico com a água? Não. Ele absorve calor da água.

Mas se pensarmos no cubo de gelo que está no freezer antes de retirá-lo. O


gelo é cercado por ar frio no freezer. Assim que o gelo estiver no congelador por
tempo suficiente para congelar completamente e atingir a mesma temperatura
que o ar no freezer, não haverá transferência de calor entre o cubo de gelo e o ar
do freezer. Agora temos um caso de equilíbrio térmico.

Assim, dois sistemas que estão em equilíbrio térmico estão na mesma


temperatura, estão em contato térmico uns com os outros e não têm fluxo de calor
líquido de um para o outro. Uma consequência da lei zero é que as medições de
temperatura são muito importantes.

A PRIMEIRA LEI DA TERMODINÂMICA

Na termodinâmica, a primeira lei é declarada como uma relação entre calor,


trabalho e energia interna. Vamos renunciar a essa formalidade e detalhes técnicos
aqui e cortar o princípio fundamental que é importante para a construção da ciência:

“A energia não pode ser criada nem destruída”.

78
TÓPICO 1 | DEFINIÇÕES GERAIS DE TERMODINÂMICA

Sim. A primeira lei da termodinâmica é uma formulação da lei da


conservação de energia. Tem muitas aplicações na construção de ciência.

Vamos começar como aquecemos os edifícios. Se for com um forno a gás,


o combustível tem uma certa quantidade de energia química. Quando o gás chega
ao queimador e se inflama, ele muda de forma. A reação química gera calor, o que
eleva a temperatura dos gases de escape. Esses gases de escape viajam através
do trocador de calor, aumentando a temperatura daquele pedaço de metal. O
soprador sopra o ar sobre o trocador de calor, extrai calor do metal e o envia
através dos dutos.

Cada bit de energia química convertida em calor acaba em algum lugar.


Idealmente, você quer que o máximo de calor possível termine em sua casa, mas
nem tudo isso acontece. Alguns sobem a chaminé com os gases de escape. Os
melhores trocadores de calor captam mais calor para uso na casa, mas todos os
fornos enviam pelo menos algum calor para a chaminé. Outra maneira de perder
calor é quando seus dutos passam por um espaço não condicionado. A linha
de fundo, porém, é que se você queima 100 unidades de energia química, você
obtém 100 unidades de calor.

Aqui está outra maneira pela qual a primeira lei funciona nos prédios.
Considere um ventilador de teto. No verão, você o liga para criar uma brisa
agradável que sopra sobre a sua pele para refrescar você. O que acontece com a
energia é que você está realmente esquentando a sala. Neste caso, a energia de
entrada é elétrica. O motor do ventilador converte em energia mecânica, as pás
do ventilador em movimento. Mas não converte eletricidade em movimento com
100% de eficiência. Os fios no motor do ventilador têm resistência, o que cria
algum calor. Assim, parte da eletricidade é transformada em calor imediatamente.

O resto da energia mecânica, mas mesmo isso eventualmente se torna


calor. Assim, toda a eletricidade que você usa para operar o ventilador de teto
aquece a sala, e é por isso que não adianta deixá-los quando ninguém está lá para
sentir a brisa.

A SEGUNDA LEI DA TERMODINÂMICA

Uma vez que os cientistas descobriram a primeira lei da termodinâmica,


eles começaram a ver que isso permitiria que todos os tipos de coisas bizarras
acontecessem. Vamos voltar ao nosso copo de água morna. Não violaria a primeira
lei para que a água na metade inferior do vidro ficasse fria, possivelmente congelando
em um bloco de gelo. Para que isso aconteça, a água na parte superior do copo teria
que ficar quente, mantendo a mesma quantidade de energia térmica no vidro.

Já viu isso acontecer? Não. Pode não violar a primeira lei, mas sabemos por
nossa própria experiência direta que coisas assim simplesmente não acontecem.
É aí que entra a segunda lei da termodinâmica. Esta é um pouco mais complexa e
tem várias formulações equivalentes.

79
UNIDADE 1 | CONCEITOS FUNDAMENTAIS EM SISTEMAS DE REFRIGERAÇÃO

Poderíamos ignorar os motores térmicos, a eficiência de Carnot, a entropia


e a flecha do tempo, mas para os propósitos da construção da ciência, a afirmação
da segunda lei de Rudolf Clausius é a mais significativa:

“A quantidade de entropia de qualquer sistema isolado termodinamicamente


tende a incrementar-se com o tempo, até alcançar um valor máximo”.

Quando uma parte de um sistema fechado interage com outra parte,


a energia tende a dividir-se por igual, até que o sistema alcance um equilíbrio
térmico. Enquanto a primeira lei da termodinâmica estabelece a conservação de
energia em qualquer transformação, a segunda lei estabelece condições para que
as transformações termodinâmicas possam ocorrer. A transformação de calor
em trabalho por um processo cíclico exige a presença de duas fontes térmicas
mantidas a temperaturas diferentes entre si.

Uma outra maneira de ver a segunda lei é pela observação da sua


relevância. A primeira lei é na verdade, um princípio de contabilidade de energia:
as parcelas de energia devem ser somadas. Ou seja, a primeira lei trata das
quantidades de energia. A segunda lei, entretanto, ao dizer que energia cinética
(por exemplo) pode ser integralmente transformada em energia térmica (calor)
mas não ao contrário, indica uma qualidade para a energia:

Exemplarmente, pode-se imaginar um automóvel a 50 km/h. Ele é


subitamente freado. Toda a sua energia cinética será eventualmente transformada
em energia interna das pastilhas de freio (e outras fontes de atrito) que se
aquecerão. Finalmente, uma certa quantidade de calor será transferida para o
meio ambiente. Entretanto, se eu ceder esta mesma quantidade de calor ao
automóvel (ou ao freio), ele não sairá do lugar.

A TERCEIRA LEI DA TERMODINÂMICA

“O zero absoluto da temperatura é inatingível”.

Esta lei é uma consequência direta da segunda lei. Quando um sistema


se aproxima da temperatura do zero absoluto, todos os processos cessam, e a
entropia tem um valor mínimo. A lei, portanto, fornece um ponto de referência
para a determinação do valor da entropia.

FONTE: <https://guiadoarcondicionado.com.br/as-quatro-leis-da-termodinamica/>. Acesso em:


18 abr. 2019.

80
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• É possível fazer a aplicação de equação de estado cúbica de Peng Robinson para a


determinação do volume específico, entalpia e entropia de fluidos refrigerantes
(R22 e R134) e água em condição de saturação e vapor superaquecido.

• A viscosidade dinâmica de fluidos líquidos pode ser determinada


experimentalmente utilizando viscosímetro de Stokes e copo Ford.

• A verificação experimental das consequências advindas da primeira lei da


termodinâmica requer a utilização de objetos com baixo custo de aquisição.

• A aplicação de expressões matemáticas pode gerar dados para a determinação


de propriedades psicrométricas.

CHAMADA

Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem


pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao
AVA, e veja as novidades que preparamos para teu estudo.

81
AUTOATIVIDADE

1 Elabore um algoritmo que seja capaz de determinar as propriedades


psicrométricas a partir das entradas descritas a seguir e apresente os erros
em relação aos valores obtidos em cartas psicrométricas:

a) Temperatura de bulbo seco e bulbo úmido (TBSBU).


b) Temperatura de bulbo seco e umidade relativa (TBSUR).
c) Temperatura de bulbo seco e umidade absoluta (TBSUA).

82
UNIDADE 2

APLICAÇÕES EM REFRIGERAÇÃO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir desta unidade você será capaz de:

• compreender quais são os equipamentos e suas utilidades em circuitos de


refrigeração;

• escolher um fluido refrigerante para uma dada aplicação prática, seja


industrial ou residencial;

• propor melhorias para circuitos térmicos já existentes;

• identificar o efeito das propriedades termodinâmicas sobre a eficiência de


processos de refrigeração.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – EQUIPAMENTOS E FLUIDOS USADOS EM


REFRIGERAÇÃO

TÓPICO 2 – CICLOS DE REFRIGERAÇÃO

TÓPICO 3 – ESTUDOS DE CASO E EXPERIMENTAÇÃO EM


REFRIGERAÇÃO

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

83
84
UNIDADE 2
TÓPICO 1

EQUIPAMENTOS E FLUIDOS USADOS EM REFRIGERAÇÃO

1 INTRODUÇÃO
Ao realizarmos o projeto ou propormos melhorias para uma planta
industrial, comercial ou residencial já existente e em operação, devemos conhecer
quais são as características, os princípios de funcionamento e o equacionamento
envolvido de todos os dispositivos que compõem um dado processo. Isso implica
saber como aplicar as equações fundamentais da física, química e mecânica em
uma dada condição operacional.

No caso de sistema de refrigeração, precisamos conhecer os fenômenos


relacionados aos processos de compressão, expansão e troca térmica. Para isso,
propomos o desenvolvimento do formalismo matemático, bem como da explanação
dos tipos de equipamentos existentes para cada uma dessas funções, reconhecidos
como compressor, válvula de expansão, tubo capilar e trocador de calor.

É claro que alguma substância deve percorrer todos esses instrumentos,


chamada de fluido de trabalho. Se você observar o manual de instruções de sua
geladeira ou veículo automotivo, verificará que existem diferentes fluidos em seções
distintas, afinal cada um tem propriedade termofísica e termodinâmica importante
para uma dada função, seja ela promover o resfriamento de um corpo ou potencializar
uma compressão com um menor gasto energético possível. Assim, neste tópico,
também será dada uma atenção para os fluidos refrigerantes disponíveis no mercado.
Percebeu como os conceitos estão relacionados? Do exposto, começaremos nossos
estudos estudando os tipos de compressores existentes.

2 PRINCIPAIS EQUIPAMENTOS, FLUIDOS E SUAS


CARACTERÍSTICAS
Nos subtópicos que seguem, serão explanados os principais conceitos acerca
dos equipamentos necessários para a execução de um circuito de refrigeração, bem
como as propriedades que caracterizam um fluido como fluido refrigerante.

85
UNIDADE 2 | APLICAÇÕES EM REFRIGERAÇÃO

2.1 COMPRESSOR
O compressor é um dispositivo tão importante nas aplicações industriais
que Stoecker e Jones (1985, p. 27) afirmam que ele representa “o coração do sistema
de compressão a vapor”. O seu uso é imprescindível para as situações em que se
deseja elevar a pressão de um fluido a partir da realização de trabalho mecânico,
que impulsiona o escoamento de substâncias em dutos ou outros equipamentos,
além de favorecer a dissipação de calor de fluido em sistemas de refrigeração para
o ambiente externo. Convém aqui abrir um parêntese para diferenciar bombas de
compressores, sendo que isso se dá, dentre outros aspectos, pelo estado físico no
qual o fluido se encontra, assim as bombas deslocam líquidos e os compressores
são usados quando se tem a necessidade de escoar gases ou vapores.

Existe uma diversidade de compressores disponível no mercado e a sua


classificação é feita pelo (1) modo como é realizada a compressão, (2) número de
cilindros existentes, (3) tipo de acionamento e (4) localização do motor (MILLER;
MILLER, 2014). Com relação ao modo de compressão, os compressores podem
ser do tipo alternativos, palheta, centrífugo, parafuso e scroll (espiral), cujas
características encontram-se no Quadro 1.

QUADRO 1 – ALGUMAS PONTUAÇÕES ACERCA DOS TIPOS DE COMPRESSÃO EXISTENTES

Tipo de compressão Caracterização


Possui um pistão dentro de um cilindro. Seu uso é recomendado quando se
Alternativo requer pequena vazão (inferior a 250 m³/min) ou pressão de saída relativamente
alta (superior a 250 MPa) e na presença de fenômenos de condensação.
Não requer válvula de aspiração, pode ser fabricado com configuração do tipo
palheta estacionária (com anel de aço e uma barreira deslizante) ou palheta
Palheta
giratória (que corresponde a um tambor centrado em um eixo excêntrico).
Opera em vazões de 2 a 80 m³/min e pressão inferior a 900 kPa.
A compressão é realizada por engrenamento de dois rotores conjugados,
Parafuso denominados por rotor macho (acionamento) e fêmea (compressão). Opera
em vazões de 10 a 700 m³/min e pressão inferior a 4500 kPa.
A entrada do fluido ocorre pela abertura central e devido a ação da força
centrífuga, que converte energia de pressão dinâmica em estática a partir de
Centrífugo
um escoamento forçado através de uma abertura afunilada. Opera em vazões
de 50 a 2800 m³/min e pressão inferior a 7000 kPa.
Não possui válvulas e, por essa razão, apresenta uma conformação radial
que permite a passagem de pequenas quantidades de líquido e de sujeira.
Scroll A sua configuração favorece uma operação silenciosa e baia variação de
torque, o que possibilita alcançar altas eficiências de compressão em relação
aos compressores a pistão.

FONTE: Miller e Miller (2014, p. 48)

86
TÓPICO 1 | EQUIPAMENTOS E FLUIDOS USADOS EM REFRIGERAÇÃO

DICAS

No Quadro 1 foram apresentados alguns pontos descritivos dos tipos de


compressores existentes, mas esse assunto não se esgota apenas com esse conhecimento.
Por isso, recomendamos que assista ao vídeo disponível em: https://www.youtube.
com/watch?v=zG9bwTzf0a4, para que você seja instigado em descobrir e propor outras
oportunidades de aplicação industrial desses equipamentos, além de visualizar as suas
principais partes móveis e fixas. Com isso, você poderá perceber que a escolha do tipo de
compressor a ser utilizado em um sistema é dependente da vazão volumétrica aspirada,
pressão de descarga, razão de compressão, temperatura de entrada, temperatura máxima
de saída, vazão volumétrica e propriedades do fluido, tais como: composição, temperatura
e pressão crítica, peso molecular, fator de compressibilidade, capacidade calorífica a pressão
e volume constante.

Apesar dessa diversidade de opções, daremos destaque para os


compressores alternativos, pois eles são os mais utilizados em aplicações de
refrigeração e condicionamento de ar, já que podem ser fabricados para atenderem
uma faixa extensa de capacidade de refrigeração, graças a possibilidade de serem
constituídos por um ou vários cilindros (multicilindros). Porém, o seu uso é
recomendado apenas nos casos em que se tenha vazão baixa e pressão operacional
relativamente alta.

Esses impulsores mecânicos são classificados em: compressores abertos


ou independentes (motor externo à carcaça, cujo acionamento se dá pela ação
de correias), compressores herméticos (o fluido entra em contato direto com o
motor em funcionamento, isso porque o motor e o compressor estão no mesmo
alojamento, que é selado por soldagem, e por assim operar diz-se que é um
compressor aberto, fazendo com que seja necessário tomar cuidado com possíveis
problemas envolvendo vazamentos) e compressores semi-herméticos (Figura 1),
que são similares aos herméticos, mas com cabeçotes removíveis.

FIGURA 1 – COMPRESSOR COMPACTO SEMI-HERMÉTICO

FONTE: <https://image.shutterstock.com/image-photo/semihermetic-compact-screw-
compressor-cut-600w-1037865889.jpg>. Acesso em: 25 out. 2019

87
UNIDADE 2 | APLICAÇÕES EM REFRIGERAÇÃO

Em termos de operação, observa-se que o fluido é aspirado pela válvula


de aspiração quando o êmbolo está em processo de descida, no caminho
contrário, ou seja, na subida, o pistão realiza a compressão do fluido e o expulsa
pela válvula de descarga.

O desempenho de um compressor alternativo ideal é avaliado em termos


de volume deslocado, Equação 1, eficiência volumétrica efetiva, Equação 2, e
eficiência volumétrica de espaço nocivo, Equação 3.

π D ² SzN
Volume deslocado = (Equação 1)
4

vazão que entra no compressor


ηv , e ( % ) ⋅100 (Equação 2)
taxa de deslocamento do compressor

Vc −V1
ηv , n ( % ) =
100 + ⋅100 (Equação 3)
V3 − Vc

Em que:

D ≡ diâmetro do cilindro (m);


S ≡ curso do pistão (m);
z ≡ quantidade de pistões (-);
N ≡ rotação do compressor (rps).
Taxa de deslocamento do compressor ≡ volume coberto pelo êmbolo quando se
processa a aspiração (m³/s).
Vc ≡ volume do espaço nocivo, que representa o volume mínimo quando o
êmbolo passa por um ponto extremo (m³);
V1 ≡ volume que o gás ocupa antes da abertura da válvula de admissão (m³);
V3 ≡ volume máximo obtido com a passagem do êmbolo em um ponto extremo (m³).

E
IMPORTANT

Perceba que foi definido o desempenho de um compressor alternativo em


funcionamento ideal, isso porque desprezando as irreversibilidades do sistema (expansões
e compressões isoentrópicas), é possível compreender de modo mais simples os diversos
efeitos que afetam a sua operação. Depois de ter feito essas análises, pode-se corrigir
facilmente a hipótese de idealidade, já que o aumento do volume do fluido no espaço
nocivo é o único parâmetro que afeta a eficiência de compressão, expressa pela Equação 4.

Trabalho de compressão isoentrópica


ηc ( % ) ⋅100 (Equação 4)
Trabalho real de compressão

88
TÓPICO 1 | EQUIPAMENTOS E FLUIDOS USADOS EM REFRIGERAÇÃO

2.1.1 Equações gerais para compressores


A equação de energia de um compressor requer o conhecimento de
equações que relacionam pressão, volume e temperatura de entrada e saída desse
sistema. Num processo isentrópico, considera-se que:

pv k = constante (Equação 5)

Com:

cp
k= (Equação 6)
cv

Em que:

p ≡ pressão do sistema (Pa);


v ≡ volume específico do sistema (m³/kg);
k ≡ constante do processo politróprico (-);
cp ≡ calor específico a pressão constante (J/kg.K);
cv ≡ calor específico a volume constante (J/kg.K).

Sabendo-se o comportamento de um gás ideal, é possível relacionar a


pressão de entrada e saída no compressor pela Equação 7.

p Av A TB
= (Equação 7)
pB vB TA

Em que:

pA ≡ pressão de entrada no compressor (Pa);


pB ≡ pressão de saída do compressor (Pa);
TA ≡ temperatura de entrada no compressor (K);
TB ≡ temperatura de saída do compressor (K);
vA ≡ volume específico de entrada no compressor (m³/kg);
vB ≡ volume específico de saída do compressor (m³/kg).

Utilizando a Equação 5 em 7, podemos relacionar os volumes específicos


ou temperatura de entrada e saída em função da pressão, Equação 8 e 9,
respectivamente.

1
va  pb  k
=  (Equação 8)
vb  pa 
89
1− 1
k
va  pb  k
= 
UNIDADE 2 | APLICAÇÕES EM REFRIGERAÇÃO
vb  pa 

1− 1
Tb  pb  k
(Equação 9)
= 
Ta  pa 

Com:

pa
rc = (Equação 10)
pb

Ou, para compressores multiestágios:

pf
( rc )i = n (Equação 11)
pi

Em que:

rc ≡ razão de compressão (-);


i ≡ índice do estágio;
pf ≡ pressão final (Pa);
pi ≡ pressão inicial (Pa).

Caso rc for inferior a 4, não se observa uma considerável variação de


temperatura entre as seções de alimentação e descarga do compressor. Contudo,
se rc for superior a 10, observa-se uma liberação de energia na forma de calor
do sistema para a sua vizinhança imediata, portanto, nesse caso se recomenda a
utilização de camisas de resfriamento.

A equação geral de energia para o compressor com uma entrada e uma


saída é obtida pela expressão de Bernoulli modificada, Equação 12.

 pa Vela ²   pb Velb ² 
 + + za + ηW=
  + + zb + h f  (Equação 12)
 ρa g 2g   ρb g 2g 

Em que:

za ≡ altura do ponto “a” em relação a um referencial externo (m);


zb ≡ altura do ponto “b” em relação a um referencial externo (m);
Vela ≡ velocidade do ponto “a” (m/s);
Velb ≡ velocidade do ponto “b” (m/s);
W ≡ trabalho do compressor (J);
η ≡ eficiência mecânica do compressor (-);
hf ≡ perda de carga por atrito (m).
90
TÓPICO 1 | EQUIPAMENTOS E FLUIDOS USADOS EM REFRIGERAÇÃO

2.1.2 Dispositivos de expansão


Como o próprio nome sugere, os dispositivos de expansão são úteis
para a redução da pressão em algum ponto do sistema, mas esse alívio possui
limites para ocorrer e é dependente das condições operacionais impostas na sua
entrada e saída, de tal modo que são estabelecidas situações favoráveis ao seu
funcionamento seguro e também à troca térmica nos trocadores de calor que
compõem o sistema de refrigeração e condicionamento de ar. Outra finalidade
desses equipamentos refere-se à regulação da vazão de entrada no evaporador.

Se fizéssemos uma busca em páginas web, verificaríamos uma quantidade


considerável de fabricantes de dispositivos de expansão, e uma boa parte deles
comercializam válvulas do tipo: válvula de boia, válvula de expansão de pressão
constante, tubo capilar e válvula de expansão termostática. Vejamos algumas
características de cada um desses sistemas.

Os tubos capilares são recomendados para uso em sistemas de refrigeração


que não requererem grandes potências, como é o caso de frigoríficos pequenos
(10 kW). Esses tubos podem ter comprimento de 1 a 6 metros, diâmetro interno
equivalente a 0,5 a 2 mm, não requerem partes móveis, como pode ser visto pela
Figura 2, e a sua construção e manutenção são relativamente baratas quando
comparadas a outros expansores. Perceba que ele se trata apenas de um duto,
então o que promove a queda de pressão do fluido é a perda de carga friccional
ocorrida no escoamento, tal atrito pode ser tão relevante a ponto de provocar a
evaporação do fluido.

FIGURA 2 – ILUSTRAÇÃO DE UM TUBO CAPILAR DE COBRE

FONTE: Os autores

91
UNIDADE 2 | APLICAÇÕES EM REFRIGERAÇÃO

DICAS

O desenvolvimento da equação para a predição de perda de carga por atrito em


tubos capilares pode ser visto no trabalho de conclusão de curso de Flávio Barroso Neves,
intitulado por Método algébrico para dimensionamento e simulação de tubos capilares
adiabáticos, disponível no link: http://sites.poli.usp.br/d/pme2600/2006/Trabalhos%20finais/
TCC_072_2006.pdf.

Sabendo disso, como você acha que é feita a seleção de um tubo capilar?
Basta que sejam selecionados o diâmetro e o comprimento do tubo capazes de
gerarem um fluxo em condição de equilíbrio termodinâmico à temperatura
de evaporação de interesse, isso parece trivial. Porém, essa escolha requer um
procedimento iterativo, descrito pelos passos:

1- Cálculo da perda de pressão em um tubo capilar: obtido pela aplicação da lei


de conservação de massa, energia e quantidade de movimento no volume de
controle identificado pelas linhas tracejadas na Figura 3.

FIGURA 3 – VOLUME DE CONTROLE SOBRE UM SEGMENTO DO CAPILAR

FONTE: Os autores

• Equação da conservação de massa (em estado estacionário):

m
 m=
= 1 m 2 (Equação 13)

Com:

=m ρ=
1V1 A1 ρ 2V2 A2 (Equação 14)

m
= ρ=
= constante 1V1 ρ 2V2 (Equação 15)
A
92
TÓPICO 1 | EQUIPAMENTOS E FLUIDOS USADOS EM REFRIGERAÇÃO

Em que:

m ≡ taxa mássica de fluido em todo trecho de tubo capilar (kg/s).


m 1 ≡ taxa mássica na seção 1 (kg/s).
m 2 ≡ taxa mássica na seção 2 (kg/s).
V1 ≡ velocidade na seção 1 (m/s).
A1 ≡ área da seção transversal em 1 (m²).
ρ1 ≡ massa específica do fluido na seção 1 (kg/m³).
V2 ≡ velocidade na seção 2 (m/s).
A2 ≡ área da seção transversal em 2 (m²).
ρ2 ≡ massa específica do fluido na seção 2 (kg/m³).

• Equação da conservação de energia (em estado estacionário e na ausência de


transferência de calor entre o tubo capilar e a vizinhança):

V12 V2
i1 + =i2 + 2 (Equação 16)
2 2

Em que:

i1 ≡ entalpia específica do fluido na seção 1 (J/kg).


i2 ≡ entalpia específica do fluido na seção 2 (J/kg).

ATENCAO

A soma da entalpia do fluido com a sua energia cinética é comumente tratada


no escoamento compressível como entalpia de estagnação. Essa nomenclatura é uma
forma de alertar que nos transportes de gases o termo de energia cinética não é desprezível
quando comparado à entalpia. Em casos extremos, o fluido atinge a velocidade do som,
consequentemente, restringe-se a sua passagem, fenômeno esse denominado por “choque”.

• Equação da conservação de quantidade de movimento:

 ∆L V m 
( p1 − p2 ) − f D 2 A  A= m (V2 − V1 ) (Equação 17)

Com:

0,33
f = (Equação 18)
( DV ρ / µ )
0,25

93
µ= µ (1 − x ) + µ x
0,33
f =
( DV ρ / µ )
0,25
UNIDADE 2 | APLICAÇÕES EM REFRIGERAÇÃO

µ= µ L (1 − x ) + µV x (Equação 19)

m V
x= (Equação 20)
m V + m L

Em que:

p1 ≡ pressão na seção 1 (Pa).


p2 ≡ pressão na seção 2 (Pa).
f ≡ coeficiente de atrito (-).
∆L ≡ comprimento do trecho estudado (m).
D ≡ diâmetro do duto (m).
µ ≡ viscosidade dinâmica do fluido (kg/m.s).
µL ≡ viscosidade dinâmica do líquido saturado (kg/m.s).
µV ≡ viscosidade dinâmica do vapor saturado (kg/m.s).
x ≡ título mássico (-).
m V ≡ taxa mássica de vapor saturado (kg/s).
m L ≡ taxa mássica de líquido saturado (kg/s).

2- Estimativa do comprimento: o comprimento total do capilar é calculado a partir


de vários trechos ∆L, em que são conhecidas a vazão mássica e as condições na
Seção 1, estipula-se uma temperatura na Seção 2 para utilizá-la no cálculo da
entalpia (i2) e massa específica (ρ2). Então, determina-se a raiz da Equação 21.

vL ,2 + ( vV ,2 − vL ,2 ) x  ²  m 2 V12
iL ,2 + ( iV ,2 − iL ,2 ) x +  
  i
=+1 (Equação 21)
2  A 2

Com:

1
vL ,2 = (Equação 22)
ρ L ,2

1
vV ,2 = (Equação 23)
ρV ,2

Em que:

iL,2 ≡ entalpia do líquido saturado na seção 2 (J);


iV,2 ≡ entalpia do vapor saturado na seção 2 (J);
vL,2 ≡ volume específico do líquido saturado na seção 2 (m³/kg);
vV,2 ≡ volume específico do vapor saturado na seção 2 (m³/kg).

94
TÓPICO 1 | EQUIPAMENTOS E FLUIDOS USADOS EM REFRIGERAÇÃO

3- Cálculo de propriedades na seção 2: após calculado o valor do título mássico, a


entalpia, o volume específico e a velocidade na Seção 2 podem ser determinados
pelas equações 24, 25 e 26, respectivamente.

i2= iL ,2 (1 − x ) + iV ,2 x (Equação 24)

v=
2 vL ,2 (1 − x ) + vV ,2 x (Equação 25)

mv
 2
V2 = (Equação 26)
A

4- Determinação do fator de atrito: o fator de atrito é, então, calculado pela


Equação 18.

5- Cálculo de ∆L: trecho do escoamento no capilar é obtido pela Equação 17.

ATENCAO

Ao seguir os passos descritos anteriormente para a determinação dos trechos


de tubo requeridos para se alcançar uma despressurização desejada, pode ser que seja
encontrado ∆L negativo. Essa situação é fisicamente impossível e descreve a ocorrência
do evento blocagem do escoamento, que é “semelhante ao que ocorre em um bocal
convergente quando a pressão de descarga é reduzida até que a velocidade sônica seja
atingida na garganta”, como consequência, “reduções sucessivas da pressão de aspiração
não alteram a vazão através do tubo capilar” (STOECKER; JONES, 1985, p. 160).

Alternativamente, podemos escapar das iterações numéricas fazendo-se


uso da metodologia proposta por Hopkins (1950), que consiste no uso de um
gráfico onde se observa o comportamento da vazão em função da pressão na
entrada (Gráfico 1) para um tubo capilar de comprimento igual a 2,03 m e 1,63 mm
de diâmetro, a partir do qual é determinado o valor de título ou da temperatura
de subresfriamento.

95
UNIDADE 2 | APLICAÇÕES EM REFRIGERAÇÃO

GRÁFICO 1 – DETERMINAÇÃO DO TÍTULO PELO PROCEDIMENTO DE HOPKINS (1950)

FONTE: Adaptado de Hopkins (1950, p. 161)

No Gráfico 1 são apresentadas três retas para diferentes valores de título,


que correspondem a 0, 0,05 e 0,1. Além disso, há uma reta para a temperatura de
fluido equivalente a 5 °C e outra a 10 °C. A partir dos dados de pressão de entrada,
em kPa, e vazão mássica, em kg/s, podemos encontrar o ponto que interceptará
uma dessas cinco opções de retas.

Obviamente que nem todos os tubos capilares terão as dimensões citadas


para uso No Gráfico 1, por isso Whitesel (1957) propôs um gráfico para a corrigir
a vazão de um capilar qualquer, como mostra o Gráfico 2.

GRÁFICO 2 – CORREÇÃO DA VAZÃO EM FUNÇÃO DO DIÂMETRO E COMPRIMENTO DO CAPILAR

FONTE: Adaptado de Whitesel (1957, p. 174)

96
TÓPICO 1 | EQUIPAMENTOS E FLUIDOS USADOS EM REFRIGERAÇÃO

O Gráfico 2 apresenta cinco curvas, uma para cada diâmetro do capilar


equivalente a 1, 1,5, 2, 2,5 e 3 mm. A partir do conhecimento desse diâmetro e
comprimento do tubo, encontra-se o seu ponto de intersecção e faz-se a leitura do
fator de correção da vazão.

A válvula de expansão de pressão constante, como o próprio nome sugere,


opera preservando a pressão na sua descarga, que corresponde à entrada do
evaporador. Devido a essa característica, a sua utilização é limitada a sistemas de
potência com capacidade inferior a 30 kW e é recomendada quando se necessita
manter a temperatura de evaporação a um determinado valor para que o controle
de processos de congelamento nos resfriadores de água seja garantido.

Em termos de operação, esse tipo de válvula consegue fazer uma operação


isobárica devido ao seu ajuste de abertura ou fechamento, provocado pela ação
conjunta entre a pressão do evaporador requerida e a pressão da mola presente
no dispositivo (ver Figura 4).

O grupo Value Comercial (s.d., s.p.) destaca que:

a válvula incorpora um diafragma que separa a pressão atmosférica


da pressão do sistema. Uma mola de controle de velocidade de fluxo,
com ajuste de pressão, está localizada acima do diafragma. Abaixo do
diafragma está um conjunto de pino e esfera de pressão comandada
por uma mola de fechamento. Um anel o’ring, localizado no pino
de pressão, cria uma abertura balanceada. Essa característica faz o
balanceamento do efeito do aumento ou diminuição da pressão de
entrada, e auxilia a manter uma pressão de saída constante.

FIGURA 4 – ILUSTRAÇÃO DE UMA VÁLVULA DE EXPANSÃO DE PRESSÃO CONSTANTE

FONTE: Os autores

A Figura 4 mostra um esboço de uma válvula de expansão de pressão


constante, identificando algumas de suas partes, tais como: mola, diafragma, agulha
e assento, parafuso de ajuste, além dos canais de entra e saída de fluxo mássico.

97
UNIDADE 2 | APLICAÇÕES EM REFRIGERAÇÃO

Em caixas d’água de residências e edificações, é comum utilizar válvulas


do tipo boia (Figura 5) para que o nível de líquido nelas contido permaneça
constante, o que garante um abastecimento permanente de água. Então, o sistema
de refrigeração também pode se utilizar desse tipo de equipamento, pois assim
a altura de líquido em um evaporador permanece a mesma durante um ciclo, a
menos que o evaporador utilizado seja do tipo tubo-contínuo.

FIGURA 5 – ILUSTRAÇÃO DE VÁLVULA DE EXPANSÃO BOIA

FONTE: Os autores

A Figura 5 ilustra uma válvula de expansão boia, em que são mostradas


em seções opostas a entrada e saída de fluxo mássico. Além disso, são ilustrados
o flutuador, tubo de purga e assento da válvula.

Podemos encontrar no mercado duas variações para a válvula boia, são elas:

• Válvula de boia de baixa pressão: consiste num recipiente vazio, normalmente


esférico, conectado por alavancas e articulações. A evaporação do fluido provoca
uma redução do nível de líquido, consequentemente, a boia se abaixa e uma
articulação causa a abertura da válvula, possibilitando a entrada de fluido, o
efeito contrário também é observado caso o nível exceda o ponto necessário. Seu
funcionamento é eficaz, porém apresenta alguns problemas, como vazamento
devido a problemas de corrosão, implosão da boia caso esteja submetida a
elevadas pressões e operação inadequada em decorrência da ebulição do fluido.
• Válvula de boia de alta pressão: é composto pelos mesmos elementos da válvula
de baixa pressão, contudo essa válvula localiza-se abaixo do condensador e sua
abertura se dá quando se observa um aumento do nível de líquido.

As válvulas de expansão termostática (VET) (Figura 6) correspondem aos


expansores mais usados em circuitos de refrigeração, isso porque apresentam
elevada eficiência e se adaptam com facilidade a qualquer tipo de aplicação.
Comumente, elas são utilizadas para promover a regulação da vazão de fluido
e, assim, garantir com que ele evapore totalmente num trocador de calor,
podendo isso ser feito por duas rotas, isto é, válvula de expansão termostática
com equalização externa de pressão (não são influenciadas pela queda de pressão
no evaporador) ou equalização interna (recomenda-se seu uso quando a perda
de carga no trocador de calor for menor que a queda de pressão devido a uma
variação de 1,2 °C na temperatura de saturação).
98
TÓPICO 1 | EQUIPAMENTOS E FLUIDOS USADOS EM REFRIGERAÇÃO

FIGURA 6 – ILUSTRAÇÃO DE UMA VÁLVULA DE EXPANSÃO TERMOSTÁTICA

FONTE: Os autores

A Figura 6 ilustra uma válvula de expansão termostática, em que são


identificadas em fluxo cruzado as zonas de entrada e saída de taxa mássica, a
presença de um elemento termostático e uma mola.

Devemos nos manter atentos a possíveis instabilidades operacionais


numa VET, como altos ou baixos superaquecimentos, que resultam em
superalimentação e subalimentação cíclica do evaporador, ou seja, flutuações na
pressão ou temperatura, ditos hunting da válvula.

2.2 CONDENSADOR E EVAPORADOR


Você deve ter percebido que os compressores e expansores descritos
contribuíram com a variação da pressão do escoamento. Então, como já é esperado
de um circuito de refrigeração, temos que provocar efeitos sobre a temperatura
de fluido, e isso é conseguido pela ação de condensadores e evaporadores, que
nada mais são que trocadores de calor.

De modo simplificado e genérico, um trocador de calor é descrito por


mecanismos de troca de calor, ou seja, diante a observação de uma diferença de
temperatura entre dois sistemas, espera-se que o calor seja transferido de um corpo a
alta temperatura para outro a menor temperatura, seja via condução ou convecção, e
isso ocorre até o limite em que a condição de equilíbrio térmico seja atingida.

A condução de calor ocorre quando não se observa um transporte


de matéria, então diz-se que o objeto em questão se encontra em repouso
macroscópico. Nos sólidos, a condução de calor ocorre via elétrons livres, e para
os demais estados físicos por colisões ou difusões moleculares. Para quantificar
a taxa de transferência de calor condutiva, J. Fourier (1768-1830) notou em seus
estudos que ela depende da diferença de temperatura entre dois sistemas e de
algumas características do corpo que se deseja analisar tal efeito, por exemplo:
constituição, área, geometria e espessura do material. A partir disso, foi possível

99
UNIDADE 2 | APLICAÇÕES EM REFRIGERAÇÃO

formular expressões matemáticas para quantificar a taxa de transferência de calor


condutiva nas configurações cartesiana (Equação 27), cilíndrica (Equação 28) e
esférica (Equação 29), Figuras 7a, 7b e 7c, respectivamente.

∆T
q = kA (Equação 27)
∆x

∆T
q = 2π Lk (Equação 28)
( ln ( r2 ⁄r1 ) )

∆T
q = 4 kπ (Equação 29)
(1 / r1 −1 / r2 )

Em que:

q ≡ taxa de transferência de calor (W);


k ≡ condutividade térmica do material (W/m.K);
A ≡ área de transferência de calor (m²);
∆T ≡ diferença de temperatura (K);
x ≡ espessura do material (m);
L ≡ comprimento do cilindro (m);
r2≡ raio externo de um corpo cilíndrico (m);
r1 ≡ raio interno de um corpo cilíndrico (m).

FIGURA 7 – SISTEMAS DE COORDENADAS ESPACIAIS EM QUE A TRANSFERÊNCIA DE CALOR


POR CONDUÇÃO É POSSÍVEL DE OCORRER

FONTE: Os autores

A Figura 7a mostra um cubo para representar o sistema cartesiano de


coordenadas, cujos eixos são ortogonais entre si e nomeadas por x, y e z. A Figura
7b mostra um cilindro para ilustrar o sistema cilíndrico de coordenadas, em que

100
TÓPICO 1 | EQUIPAMENTOS E FLUIDOS USADOS EM REFRIGERAÇÃO

é necessário especificar um ângulo, raio e comprimento z. A Figura 7c mostra


uma esfera, identificando, então, o sistema esférico de coordenadas, onde são
representados dois ângulos e um raio.

DICAS

Alguns materiais, como a madeira, apresentam diferentes valores de


condutividade térmica em cada posição de sua estrutura quando são submetidos a uma
transferência de calor, em virtude desse fato, são conhecidos como materiais anisotrópicos.
No entanto, a condutividade térmica é uma função da temperatura para todos os materiais,
mas nas aplicações de projeto de condensadores e evaporadores, é comum considerar
um valor médio para essa propriedade termofísica, a qual é obtida experimentalmente ou
coletada em literaturas de transferência de calor, como: (1) KREITH, Frank; BOHN, Mark;
MANGLIK, Raj. Princípios de transferência de calor. 7. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2014.
(2) KERN, Donald. Process heat transfer. 6. ed. Echo Point Books & Media: Brattleboro, 2017.

Caso seja observado um movimento macroscópico de um fluido, temos


a transferência de calor convectiva, que é subdividida em dois tipos: convecção
forçada, em que o fluido escoa devido a ação de uma força externa, como
bomba, compressor ou ventilador, e convecção natural, cujo escoamento se
dá devido à ação do empuxo, isto é, pela diferença entre massa específica de
fluidos quente (fluido leve) e frio (fluido denso). Para ambos os casos, aplica-
se a Equação 30 para determinar a transferência de calor por convecção, dita
lei de Newton do resfriamento.

q = h ⋅ A ⋅∆T (Equação 30)

Em que:

h ≡ coeficiente de calor convectivo (W/m².K);


A ≡ área perpendicular ao fluxo de calor (m²).

101
UNIDADE 2 | APLICAÇÕES EM REFRIGERAÇÃO

ATENCAO

O coeficiente convectivo não é uma constante, mas possui dependência com


relação às propriedades, velocidade e natureza do fluido em movimento, bem como é
função da geometria da superfície por onde a transferência de calor ocorre. Perceba que
devido a essa expressiva diversidade de situações, deve-se ter equações próprias para cada
uma delas. Em livros de Transferência de Calor são apresentadas algumas correlações para a
determinação desse coeficiente, sendo que elas são expressas em números adimensionais,
como Nusselt (Nu), Prandtl (Pr), Reynolds (Re) e Grashof (Gr). No caso de evaporadores e
condensadores com formato cilíndrico, utiliza-se a Equação 31.

Nu= C ⋅ Re n ⋅ Pr m (Equação 31)

Com:

hD
Nu = (Equação 32)
k

VD ρ
Re = (Equação 34)
µ

cpµ
Pr = (Equação 33)
k
Em que:
n ≡ constante do número de Reynolds, que para escoamento turbulento vale 0,8;
m ≡ constante do número de Prandtl, que para escoamento turbulento vale 0,4;
cp ≡ calor específico a pressão constante do fluido.

Os valores das constante “m” e “n” podem variar se o escoamento for laminar ou ocorrer em
configurações diferentes da cilíndrica, para esse caso recomenda-se que a sua obtenção
seja feita utilizando o livro Incropera: FRANK, P. et al. Fundamentos de transferência de
calor e de massa. 7. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2014.

Dentre os trocadores de calor existentes, os multitubulares em carcaça


(Figura 8) são os mais usados como condensadores e evaporadores, por isso
daremos mais enfoque à sua modelagem matemática.

102
TÓPICO 1 | EQUIPAMENTOS E FLUIDOS USADOS EM REFRIGERAÇÃO

FIGURA 8 – TUBOS EM DESTAQUE DO TROCADOR DE CALOR MULTITUBULAR EM CARCAÇA

FONTE: <https://image.shutterstock.com/image-photo/heat-exchanger-shell-tube-repairing-
600w-1151221559.jpg>. Acesso em: 25 out. 2019.

Nesse tipo de equipamento, a simultânea ocorrência dos efeitos


condutivos e convectivos pode ser escrita em função do coeficiente global de
transferência de calor, Equação 35.

D
ln  o 
1 1
=+  Di  + 1 (Equação 35)
UA hi Ai 2π kL ho Ao

Em que:

hi ≡ coeficiente convectivo interno (W/m².K);


ho ≡ coeficiente convectivo externo (W/m².K);
Ai ≡ área interna de troca de calor (m²);
Ao≡ área externa de troca de calor (m²);
Di ≡ diâmetro interno do trocador de calor (m);
Do≡ diâmetro externo do trocador de calor (m);
U ≡ coeficiente global de transferência de calor (W/m².K).

Com o passar do tempo e uso do trocador de calor, é esperado que a sua


eficiência diminua, isso ocorre devido a uma barreira adicional que lhe é conferida
diante a precipitação de sólidos contidos no fluido, deposição de partículas de
cinzas em gases de combustão, ou de agentes microbiológicos, tais efeitos são
denominados por incrustação e ela é escrita em termos de uma resistência à
transferência de calor, cujo módulo é obtido experimentalmente pelo fabricante
do trocador de calor (TEIXEIRA; BRANDÃO, 2002).

As equações de taxa de transferência de calor apresentadas nos mostram


que ela é diretamente proporcional à diferença de temperatura entre corpos a
temperaturas distintas. Mas, em um dispositivo cilíndrico com troca térmica na
direção axial (direção z), faz-se necessário usar uma expressão que generalize a

103
UNIDADE 2 | APLICAÇÕES EM REFRIGERAÇÃO

diferença de temperatura Tq e Tf em cada posição z em função das temperaturas


globais de entrada e de saída do trocador de calor, Tq,e, Tq,s, Tf,e e Tf,s, como
mostra a Figura 9.

FIGURA 9 – ESBOÇO DE UM TROCADOR DE CALOR DO TIPO DUPLO TUBO E


CONFIGURAÇÃO PARALELO

FONTE: Os autores

A Figura 9 ilustra dois tubos cilíndricos concêntricos, em que no cilindro


interno há entrada de fluxo mássico de fluido quente à temperatura Tq,e e sua saída
Tq,s. No cilindro externo há entrada de fluxo mássico de fluido frio a temperatura
Tf,e e sua saída a Tf,s.

Ao observar a Figura 10a verifica-se que, em um trocador do tipo duplo


tubo, no escoamento paralelo a diferença de temperatura entre o fluido quente
(indicado pela curva contínua) e frio (curva tracejada) é grande na seção de entrada
do trocador de calor, mas diminui exponencialmente até a zona de saída. Para um
mesmo trocador de calor, mas com alimentação em contracorrente, observa-se
pela Figura 10b que a diferença de temperatura entre os fluidos quente e frio
quase se mantém, por isso ela é recomendada para os sistemas que requerem
expressiva troca térmica e trocadores de calor menores.

104
TÓPICO 1 | EQUIPAMENTOS E FLUIDOS USADOS EM REFRIGERAÇÃO

FIGURA 10 – DISTRUIBIÇÃO DE TEMPERATURA EM (A) ESCOAMENTO PARALELO, (B)


CONTRACORRENTE NUM TROCADOR DE CALOR TIPO DUPLO TUBO

FONTE: Os autores

Na imagem 10a é apresentada uma curva cheia de decaimento de


temperatura no formato exponencial, iniciando em Tq,e e finalizando em Tq,s,
que correspondem à temperatura de entrada do fluido quente e temperatura de
saída do fluido quente, respectivamente. Nessa mesma figura, temos uma curva
pontilhada para identificar o fluido frio, sendo que sua entrada se dá paralelamente
ao fluido quente, provocando no início uma alta diferença de temperatura, que
diminui ao longo do comprimento do trocador de calor. O fluido quente está
representado com um escoamento na carcaça e o fluido frio no interior de um
tubo. Na imagem 10b apresentada uma curva cheia de decaimento e aumento de
temperatura também seguindo uma função exponencial. Contudo, a diferença de
temperatura observada ao longo do tubo se mantém quase que constante, tendo
em vista a disposição contracorrente adotada para alimentação dos fluidos.

Ainda observando a Figura 10, nota-se que a diferença de temperatura


ao longo de z não é constante para nenhuma configuração, isso talvez sugeriria
o uso de média aritmética para expressar a força motriz necessária para a
permuta energética. Mas, isso nem sempre é válido, exceto se a diferença de
temperatura em um dos extremos do trocador de calor for diferente em até
40% do valor da diferença de temperatura na outra seção. Contudo, podemos
generalizar a obtenção de ∆T por meio de uma média logarítmica, Equação 36,
que pode ser definida a partir de um balanço de energia para cada fluido numa
seção diferencial, cuja demonstração não será aqui desenvolvida para não nos
prolongarmos nesse assunto.

∆T − ∆T2
∆TML = 1
∆T (Equação 36)
ln  1 

 ∆T2

105
UNIDADE 2 | APLICAÇÕES EM REFRIGERAÇÃO

Em que:

∆T1≡ diferença de temperatura na seção 1 (K), que para o trocador de calor em


escoamento paralelo equivale a ∆T1=Tq,e-Tf,e e no caso contracorrente é ∆T1=Tq,s-Tf,e;
∆T2 ≡ diferença de temperatura na seção 2 (K), que para o trocador de calor em
escoamento paralelo equivale a ∆T1=Tq,s-Tf,s e no caso contracorrente ∆T1=Tq,e-Tf,s;
∆TML ≡ diferença de temperatura média logarítmica no trocador de calor (K).

Dessas definições, temos que a transferência de calor num evaporador ou


condensador do tipo multitubular em carcaça é dada pela Equação 37.

q= U ⋅ A ⋅∆TML (Equação 37)

Já sabemos quantificar duas incógnitas da Equação 37, que são o


coeficiente global de transferência de calor e a diferença de temperatura do
sistema. Mas, ainda nos restam duas variáveis: a taxa de transferência de calor
e a área de troca térmica, logicamente uma delas será conhecida e a outra
calculada, senão não teríamos algo a determinar. Em problemas de projeto de
evaporadores ou condensadores, deseja-se estimar a área “A” sendo conhecidas
as propriedades e temperaturas dos fluidos envolvidos nesse fenômeno, assim
como as características de escoamento adotadas, cuja recomendação se encontra
no Quadro 2.

QUADRO 2 – CARACTERÍSTICAS DE ESCOAMENTO RECOMENDADA POR STOECKER E JONES

Trocador de Calor Refrigerante* Fluido


Gás na carcaça
Interior dos tubos
Líquido na carcaça**
Condensador
Gás nos tubos**
Carcaça
Líquido nos tubos
Gás na carcaça
Interior dos tubos
Líquido na carcaça
Evaporador
Gás nos tubos**
Exterior dos tubos
Líquido nos tubos
*Refrigerante é um tipo de fluido utilizado em ciclos de refrigeração com aspectos
interessantes e próprios para essa finalidade. Outros detalhamentos dessa substância
serão dados ainda nesse tópico.
**Configuração pouco usual.
FONTE: Adaptado de Stoecker e Jones (1985, p. 258)

Aproveitando-se novamente da primeira lei da termodinâmica e da


definição de entalpia, podemos determinar a taxa de transferência de calor sensível,
ocasionado pela diferença de temperatura, e latente, que ocorre devido à mudança
de fase, em um evaporador ou trocador pela Equação 38 e 39, respectivamente.

106
TÓPICO 1 | EQUIPAMENTOS E FLUIDOS USADOS EM REFRIGERAÇÃO

q= m ⋅ c p ⋅∆T (Equação 38)

q= m ⋅ λ (Equação 39)
Em que:

m ≡ taxa mássica de fluido (kg/s);


cp ≡ capacidade calorífica a pressão constante (J/kg.K);
λ ≡ calor latente do fluido à temperatura de mudança de fase (J/kg).

2.3 TUBULAÇÕES
Por todo o circuito de refrigeração ou condicionamento de ar, um certo
fluido deve escoar em tubulações após entrar ou sair de equipamentos em
que foram submetidos a compressão, expansão, aumento ou diminuição de
temperatura. Em virtude disso, precisamos identificar métodos para a escolha
do diâmetro do duto, afim de garantir o fluxo necessário aos trocadores de calor,
além de uma operação segura e de baixo custo. Stoecker e Jones (1985) relata que
os tubos feitos de cobre tipo L, com diâmetro externo (DE) variando de 9,53 mm
a 308 mm, e aço Schedule, com DE 21,34 mm a 303,3 mm, são os mais utilizados
em sistemas de ar-condicionado.

A perda de carga (queda de pressão) em um sistema é devido a duas


contribuições: (1) perda de carga distribuída: relacionada com o trecho reto,
equação 40, e (2) perda de carga localizada: ocasionada em decorrência da presença
de acessórios, tais como os ilustrados na figura 13, além de juntas, conexões,
cotovelos, válvulas variadas, derivações etc., Equação 41, em que a constante K
é fornecida pelo fabricante em função do diâmetro nominal, conforme pode ser
visto na Tabela 1.

L V²
∆pd =f ρ (Equação 40)
D 2


∆pl =K ρ (Equação 41)
2

Em que:

L ≡ comprimento do trecho reto (m);


∆pd ≡ perda de carga distribuída (m);
∆pl ≡ perda de carga localizada (m);
K ≡ constante relacionada à perda de carga devido a um acidente (-).

107
UNIDADE 2 | APLICAÇÕES EM REFRIGERAÇÃO

TABELA 1 - VALORES DE K PARA ACESSÓRIOS EM FUNÇÃO DO DIÂMETRO NOMINAL EM

Parafusada Flangeada
Acessório
1” 2” 1” 2”
Válvula
Globo 8,2 6,9 13 8,5
Gaveta 0,24 0,16 0,8 0,35
Cotovelo
90° normal 1,5 0,95 0,5 0,39
180° normal 1,5 0,95 0,41 0,35
Tês
Escoamento direto 0,90 0,90 0,24 0,19

FONTE: Adaptado de White (2013, p. 258)

FIGURA 11 – EXEMPLOS DE ACESSÓRIOS UTILIZADOS EM SISTEMAS, COMO (A) VÁLVULA


GAVETA, (B) COTOVELOS DE DIFERENTES ANGULAÇÕES

FONTE: <https://image.shutterstock.com/image-photo/gate-valve-waterworks-isolated-on-
600w-1264727035.jpg>. Acesso em: 25 out. 2019.

2.4 FLUIDO REFRIGERANTE


Neste tópico, à medida que as explicações dos dispositivos mecânicos
e térmicos foram desenvolvidas, você deve ter observado que foi mencionada
a palavra “fluido” para tratar da substância que estava em escoamento. Agora,
convém detalharmos as características e propriedades dessa substância, dita
fluido refrigerante, uma vez que conhecer as suas especificidades representa
ter conhecimento do potencial em transferir ou armazenar energia em sistemas
de condicionamento de ar e refrigeração, o que é essencial para a determinação
da potência requerida por um compressor, trabalho gerado por um expansor e
facilidade de troca de energia térmica.

Primeiramente, é importante saber que os fluidos refrigerantes são, na


prática, fluidos que absorvem energia na forma de calor para que seja possível
a sua evaporação, preferencialmente à baixa temperatura e pressão, e cedem
energia, igualmente pelo calor, a uma alta temperatura e pressão. Comumente,
eles encontram-se divididos em dois grupos: (1) fluido refrigerante primário:
108
TÓPICO 1 | EQUIPAMENTOS E FLUIDOS USADOS EM REFRIGERAÇÃO

utilizados em sistemas de compressão a vapor, (2) fluido refrigerante secundário


ou anticongelantes: líquidos que se encontram a baixa temperatura (inferior à
temperatura de ebulição na pressão de escoamento).

Os fluidos refrigerantes comumente encontrados em equipamentos que


realizam a transferência de calor entre um ambiente interno de um externo são,
em sua maioria, hidrocarbonetos fluorados, mas também podem ser compostos
inorgânicos, como a amônia (NH3), ar, água (H2O), dióxido de enxofre (SO2) e
dióxido de carbono (CO2), e, ainda, hidrocarbonetos, por exemplo metano (CH4),
etano (C2H6) e propano (C3H8).

Os halocarbônicos, como o próprio nome sugere, são fluidos refrigerantes


que contêm carbono e halogenos (cloro, bromo, flúor) em sua estrutura, como
é o caso de Tricloromonofluormetano (CCl3F), Diclorodifluormetano (CCl2F2),
Diclorotetrafluoretano (CClF2CClF2), Cloreto de metila (CH3Cl), entre outros,
os quais podem ser identificados por um sistema de enumeração, seguindo a
especificação em que “o primeiro dígito à direita é o número de átomos de flúor
no composto; o segundo dígito da direita para a esquerda é o número de átomos
de hidrogênio adicionado de um; e o terceiro dígito da direita para a esquerda é o
número de átomos de carbono subtraído de um. Quando o terceiro dígito é zero,
ele é omitido” (STOECKER; JONES, 1985, p. 327).

NOTA

Perceba que a identificação de um halocarbônico é relativamente simples e


pode ser simplificada por: (i) 1° algarismo: número de átomos de carbono menos um (C-
1); (ii) 2° algarismo: número de átomos de hidrogênio mais um (H+1); (iii) 3° algarismo:
número de átomos de flúor (F). Então, o dicloropentafluoroetano (C2ClF5) é escrito por:
C-1= 2-1=1, H+1: 0+1=1, F=5, logo equivale a 115.
Os compostos inorgânicos possuem o sistema de numeração dado por: (i) 1° algarismo:
7; (ii) 2° algarismo e 3° algarismo: massa molecular, então, a amônia é simbolizada por: 7,
MM(NH3)=17, logo equivale a 717.
Os refrigerantes hidrocarbonetos possuem uma identificação similar ao halocarbônico,
então o metano é simbolizado por: C-1=1-1=0, 4+1=5, 0, logo equivale a 050 ou apenas 50.

Do exposto, você deve ter percebido que existe uma variedade de fluidos
refrigerantes disponíveis no mercado. Com isso, a seleção deve levar em consideração
as características termodinâmicas, custos de aquisição, impacto negativo ao meio
ambiente, como a destruição da camada de ozônio, e segurança em sua operação,
pontuando-se os aspectos de inflamabilidade, toxidade, fácil de detecção diante da
ocorrência de vazamentos e possibilidade de ocorrência de reações químicas com
materiais que compõem os dutos, causando corrosões irreversíveis.

109
UNIDADE 2 | APLICAÇÕES EM REFRIGERAÇÃO

A Tabela 2 apresenta alguns valores de propriedades termodinâmicas


importantes para uma seleção adequada, sendo que alguns pontos merecem
destaque, vejamos:

• As pressões de vapor necessitam ser suficientemente baixas para diminuir a carga


térmica requerida para o processo de mudança de fase, mas nos casos em que
essa pressão é abaixo da pressão atmosférica, observa-se um arraste de ar para o
evaporador. Além disso, pressões de vapor altas requerem sistemas compostos
por materiais mais resistentes, que geralmente possuem alto custo de aquisição.
• A pressão de condensação também é desejável que seja baixa, pois isso facilita
a operação de um compressor, além de que acompanham temperaturas de
condensação mais baixas, favorecendo a remoção de calor do fluido.
• O efeito de refrigeração é um indicador de eficiência do ciclo, entretanto deve-
se analisar em conjunto a esse parâmetro o trabalho de compressão requerido.
• O coeficiente de eficácia é desejado que seja alto, pois ele relaciona o efeito
de refrigeração (desejado que seja o maior valor possível) e o trabalho de
compressão requerido (desejado que seja o menor valor possível).

TABELA 2 – DADOS TERMODINÂMICOS E EFEITOS NA REFRIGERAÇÃO

Pressão de Efeito de
Fluido Pressão de vapor Coeficiente de
condensação a refrigeração (kJ/
refrigerante a -15°C (kPa) eficácia
30°C (kPa) kg)
CCl3F 20,4 125,5 155,4 5,03
CHClF2 296,0 1192,0 162,8 4,66
NH3 236,5 1166,6 1103,4 4,76

FONTE: Adaptado de Stoecker e Jones (1985, p. 330)

Alguns fluidos refrigerantes já são referência para uma dada aplicação,


conforme menciona Menezes (2010, p. 88):

Ar: o maior uso com refrigerante é em aviões, onde diante de um peso


reduzido de sistema, o ar compensa seu baixo coeficiente de eficácia.
Amônia: é mais frequente o seu uso em grandes instalações industriais
de baixa temperatura.
Dióxido de carbono: usado as vezes para congelar alimentos para
contato direto, sua aplicação é limitada para sua alta pressão de
condensação, sendo aplicada na parte de baixa temperatura no sistema
de cascata.
Refrigerante 11: teve o seu uso proibido por ser CFC e provocar danos
a camada de ozônio. Foi substituído pelo R-123, que é utilizado em
sistema com compressores centrífugos.
Refrigerante 22: a sua maior aplicação é em condicionadores de ar.
O seu uso tem aumentado em substituição ao refrigerante 12 porque
utiliza um compressor menor e mais barato, e não é tão agressivo a
camada de ozônio.

110
TÓPICO 1 | EQUIPAMENTOS E FLUIDOS USADOS EM REFRIGERAÇÃO

É claro que, com o passar dos anos e o desenvolvimento de pesquisas


científicas, existe uma tendência para realizar a substituição de fluidos refrigerantes,
seja por questões ambientais, de saúde ou custos. Plataformas de informação são
estruturadas para compartilhar o conhecimento acerca de propriedades de fluidos
naturais, com isso, é de se esperar uma maior aceitação dessas oportunidades e
um aumento de seu uso seguindo os preceitos do desenvolvimento sustentável
nos sistemas de refrigeração e ar-condicionado residenciais e industriais, como
exemplo temos como caso da Eurammon, Refrigerants Naturally e os portais
www.hydrocarbons21.com e www.r744.com. Miller e Miller (2014) destacam
como fluidos alternativos: (1) CFC-11 por R134a, (2) CFC-12 por R-409a e R-406a,
(3) CFC-502 por R-408a e R507, (4) HCFC-22 por R-410a, R-407c e R-411a.

111
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• Dentre as oportunidades de compressores existentes, temos o alternativo,


palheta, parafuso, scroll e centrífugo, que se diferenciam na vazão e diferença
de pressão operacional, sendo o tipo alternativo o mais utilizado em sistemas
de refrigeração.

• A expansão do fluido pode ocorrer em tubo capilar ou válvulas de expansão


do tipo pressão constante, boia ou termostática, que corresponde ao expansor
mais utilizado em circuitos de refrigeração por conferir elevada eficiência e se
adaptarem a mudanças em condições operacionais.

• Os condensadores e evaporadores são nomes dados aos trocadores de calor em


que a transferência de energia se dá na forma de calor devido a mudança de
fase do fluido.

• As tubulações são essenciais para permitir o escoamento do fluido de uma


entrada a uma saída de diferentes dispositivos. Com esse movimento, há a
perda de carga do sistema devido à fricção no duto e à presença de acidentes
ao longo do trajeto percorrido.

• Os fluidos refrigerantes evaporam a baixa temperatura e pressão e cedem calor


a uma alta temperatura e pressão. Além disso, eles devem ser ambiental e
operacionalmente seguros.

112
AUTOATIVIDADE

1 Para o funcionamento de um ciclo de refrigeração, é requerido um trocador de


calor para realizar a condensação e evaporação do fluido refrigerante. Existe
uma diversidade de fabricantes de trocadores de calor, que se diferenciam,
basicamente, na qualidade e configuração dos seus sistemas. Com relação ao
trocador de calor do tipo carcaça e tubos julgue os itens que se seguem.

I- O trocador de calor carcaça e tubo de escoamento paralelo apresenta uma


melhor eficiência térmica em relação à disposição em contracorrente.
II- O projeto de trocador de calor requer o conhecimento do coeficiente
convectivo de troca térmica.
III- Deve-se levar em conta nas análises de trocador de calor o fator de
incrustação, que confere uma resistência a mais para o sistema.

Agora, assinale a alternativa que apresenta o(s) item(s) CORRETO(S).


a) ( ) I, apenas.
b) ( ) I e II.
c) ( ) II e III.
d) ( ) III, apenas.
e) ( ) I e III.

2 Os compressores são equipamentos fundamentais para elevar a pressão do


fluido em sistemas de condicionamento de ar e refrigeração. Existe uma
diversidade de opção no mercado para a aquisição desses dispositivos,
que se diferem em faixas de pressão e vazão operacional, assim como
em termos de estruturas físicas. Contudo, eles são unânimes quanto ao
equacionamento dos princípios físicos envolvidos, que basicamente recaem
na lei da conservação de massa e de energia em um volume de controle.
Diante disso, para o caso de um compressor de potência 447 kW, com
entrada de ar a 9 kg/s em condições atmosféricas e temperatura de 21 ºC
e saída a 344 kPa, 38 °C numa seção de 0,09 m², assinale a alternativa que
apresenta o valor da taxa de transferência de calor ocorrida nesse processo.
Dado: capacidade calorífica do ar equivale a 1005 J/kg.K.

a) ( ) -290 kW.
b) ( ) 360 kW.
c) ( ) -476 kW.
d) ( ) 185 kW.
e) ( ) 0 kW.

113
114
UNIDADE 2 TÓPICO 2

CICLOS DE REFRIGERAÇÃO

1 INTRODUÇÃO
A aplicação de sistemas de refrigeração é conhecida pela humanidade
desde as antigas civilizações, um exemplo disso é o registro histórico de povos
gregos e romanos que aproveitavam o gelo apanhado por escravos no alto das
montanhas para a preparação de bebidas geladas e conservação de alimentos.
Os impactos dessa dependência da natureza para a obtenção de gelo, que só se
formava durante o inverno ou em regiões de clima muito frio e elevada altitude,
motivaram pesquisadores a buscarem métodos e processos que possibilitassem
manter objetos ou ambientes refrigerados sinteticamente (REY, 2019).

Na literatura científica podemos encontrar diversas inovações


realizadas na área de refrigeração, pois cada dia que passa temos a necessidade
de desenvolver processos mais eficientes em virtude do alto consumo de
energia elétrica requerido para o resfriamento de equipamentos e sistemas,
cujo valor corresponde a 60% da energia total demandada, e de prédios ou
estabelecimentos comerciais, para os quais 30% da energia consumida é
utilizada em sua climatização (MENNA et al., 2007).

Nesse contexto, Ferdinand E. Carré, em 1820, foi o primeiro cientista


a desenvolver um sistema de refrigeração com aplicação em larga escala na
Alemanha, França e Inglaterra, conhecido como “máquina de absorção”. Em
1824, o físico Carnot idealizou uma máquina térmica que possibilitaria um
rendimento máximo, uma vez que a sua proposta foi constituída por um ciclo
termodinâmico ideal, dito reversível, que até hoje é útil para estabelecer um padrão
de funcionamento do ciclo de refrigeração a partir do uso de dois sistemas com
capacidade térmica infinita e em diferentes condições térmicas, denominadas por
fonte quente e fonte fria.

Com o desenvolvimento da ciência e de seus resultados, como o


aprimoramento da eficiência de dispositivos mecânicos e térmicos, os sistemas
de refrigeração sofreram modificações e, para a sua compreensão, é necessário
estudar os principais aspectos relacionados aos ciclos remotos até os atuais. Então,
convido você para conhecer essa evolução, dando início aos conceitos envolvidos
no ciclo de Carnot reverso, ciclo ideal para refrigeração, refrigeração em cascata,
a gás e, por fim, refrigeração por absorção.

115
UNIDADE 2 | APLICAÇÕES EM REFRIGERAÇÃO

2 CICLO DE CARNOT REVERSO


As máquinas térmicas são sistemas compostos por, basicamente, quatro
equipamentos pelos quais um fluido de trabalho escoa e retorna ao seu estado
termodinâmico inicial após completar um ciclo. Ao longo desse processo, o fluido
apresenta propriedades que possibilitam a execução de trabalho mecânico com o
auxílio de uma turbina e trabalho elétrico é consumido por um compressor para
que seja capaz de impulsionar o fluido.

A subtração entre esses dois trabalhos é o trabalho líquido executado pela


máquina térmica, e esse é uma variável que dita a eficiência de um processo,
que por sua vez é dependente da forma com que os processos individuais que
compõem o ciclo serão executados. O trabalho líquido e a eficiência do ciclo podem
ser potencializados com o uso de métodos e tecnologias que exijam o mínimo de
trabalho elétrico e resultem no máximo trabalho mecânico, ou seja, condições
regidas por processos reversíveis. Deste modo, não deve ser uma surpresa que
os ciclos térmicos mais eficientes sejam reversíveis, ou seja, ciclos compostos por
dispositivos que operam na ausência de irreversibilidades.

Os ciclos reversíveis não podem ser executados na prática, pois as


irreversibilidades relacionadas a cada processo não podem ser eliminadas, como
é o caso da fricção sentida por um fluido ao escoar em tubulações. Contudo, os
ciclos reversíveis representam os limites superiores para a concepção dos ciclos
reais. Por isso, convém compreendermos os seus detalhes, que foram concebidos
por Carnot no início do século XIX.

O ciclo de Carnot é um ciclo completamente reversível, consistindo em


dois processos isotérmicos reversíveis e em dois processos isentrópicos, isto
é, adiabáticos e reversíveis. Este ciclo tem a eficiência térmica máxima para
determinados limites de temperatura e serve como padrão de comparação para
os ciclos de potência e refrigeração reais. Por ser classificado como reversível,
todos os quatro processos que contêm o ciclo de Carnot podem ser revertidos. A
inversão do ciclo também reflete nos sentidos das interações de calor e trabalho,
e o resultado disso é um ciclo operando na direção anti-horária em um diagrama
temperatura versus entropia (gráfico T-s), o qual é denominado por ciclo de
Carnot reverso e apresentado na figura a seguir. Um refrigerador ou uma bomba
de calor que atuam nas condições de ciclo de Carnot reverso são conhecidos como
refrigerador de Carnot ou bomba de calor de Carnot.

116
TÓPICO 2 | CICLOS DE REFRIGERAÇÃO

GRÁFICO 3 – DIAGRAMA T-S DO CICLO DE CARNOT REVERSO

FONTE: Os autores

O Gráfico 3 possui um eixo horizontal equivalente a entropia específica e


vertical a temperatura, em que existe uma binoidal com marcação em 4 pontos,
originados a partir de duas isobáricas e duas isobáricas, sendo dados por: (1)
baixa pressão e mistura de baixo título, (2) baixa pressão e elevado título, (3) alta
pressão e vapor superaquecido, (3) alta pressão e líquido comprimido.

O equacionamento de um ciclo de Carnot reverso é compreendido com a


descrição das etapas do Gráfico 3. Vejamos quais são elas:

• Processo 1-2: o fluido refrigerante absorve uma quantidade de calor (QL) de


forma isotérmica a partir de uma fonte com temperatura baixa (TL).
• Processo 2-3: compressão isentrópica até o estado 3, em que a temperatura se
eleva até a máxima admissível (TH).
• Processo 3-4: descarte isotérmico de calor (QH) para um sumidouro a TH, em
que o fluido modifica seu estado de vapor saturado para líquido saturado.
• Processo 4-1: expansão isentrópica do fluido refrigerante até o estado 1, onde a
temperatura cai até TL.

NOTA

Os números de 1 a 4 identificam as correntes:

• 1: saída da turbina e entrada no evaporador; 2: saída do evaporador e entrada no


compressor; 3: saída do compressor e entrada no condensador; 4: saída do condensador
e entrada na turbina.

A área abaixo da curva do diagrama T-s representa, quantitativamente, a taxa de transferência


de calor para os processos internamente reversíveis, já que é uma consequência da
segunda lei da termodinâmica. Então, a área abaixo da curva na etapa entre 4 e 1 reflete o
calor absorvido pelo fluido refrigerante no evaporador. E a área sob a curva no trecho 2-3
retrata o calor rejeitado pelo sistema no condensador para a vizinhança imediata.

117
UNIDADE 2 | APLICAÇÕES EM REFRIGERAÇÃO

A partir dessas definições, é possível conhecer a eficiência de um ciclo de


Carnot reversível, que é comumente denominado por coeficiente de performance
(COP). No caso de refrigeradores, tem-se a intenção de remover calor de um espaço
à baixa temperatura à custa de energia elétrica, Equação 42, já em uma bomba de
calor, deseja-se manter um espaço aquecido a uma temperatura superior ao meio
externo, Equação 43.

QL
COPR = (Equação 42)
Wlíq

QH
COPBC = (Equação 43)
Wlíq

Em que:

COPR ≡ Coeficiente de performance de um refrigerador (-);


COPBC ≡ Coeficiente de performance de uma bomba de calor (-);
Wlíq ≡ trabalho líquido do ciclo reverso de Carnot (J);
QL ≡ calor removido da fonte fria (J);
QH ≡ calor liberado para a fonte quente (J).

Para o ciclo de Carnot reverso, podemos reescrever as equações em função


das temperaturas da fonte fria e fonte quente, resultando nas Equações 44 e 45.

1
COPR , rev = (Equação 44)
TH / TL − 1

1
COPBC , rev = (Equação 45)
1 − TL / TH

Em que:

COPR,rev ≡ Coeficiente de performance de um refrigerador (-);


COPBC,rev ≡ Coeficiente de performance de uma bomba de calor (-);
TL ≡ temperatura da fonte fria (K);
TH ≡ temperatura da fonte quente (K).

O ciclo de Carnot reversível é apenas uma idealização, pois ele corresponde


ao modo de máxima eficiência pelo qual um sistema de refrigeração ou bomba
de calor é capaz de operar entre dois níveis distintos de temperatura. No entanto,
precisamos trazer esses fenômenos para a realidade, ou seja, considerar os efeitos
decorrentes das irreversibilidades que ocorrem em um processo cíclico.

118
TÓPICO 2 | CICLOS DE REFRIGERAÇÃO

Çengel e Boles (2006) destacam que a hipótese de transferência de calor


isotérmica é possível na prática e não requer grandes esforços, visto que o
escoamento à pressão constante de uma substância pura é acompanhado pela
manutenção da temperatura de sua mistura bifásica, conhecida por temperatura
de saturação. Dessa forma, a descrição dada acima para os processos 1-2 e 3-4
pode ser bem próxima da observada em evaporadores e condensadores reais.

Todavia, as etapas descritas pelos processos 2-3 e 4-1 não podem ser
obtidas na realidade com exatidão, pois em 2-3 temos a compressão de uma
mistura de líquido e vapor, o que requer um compressor que lide com duas
fases sem detrimento de sua potência ou danificação de seus componentes,
e em 4-1 seria necessária a expansão do fluido refrigerante com alto conteúdo
de umidade, o que é altamente indesejável em uma turbina. Esse inconveniente
poderia ser eliminado pela aplicação do ciclo de Carnot reverso em uma região
fora da condição de saturação, mas na prática isso não é possível pois percebe-
se uma certa dificuldade em manter condições isotérmicas durante os processos
de absorção e rejeição de calor, o que desqualifica o emprego do ciclo de Carnot
reverso em processos reais, então ele apenas servirá como padrão de comparação
para os sistemas de refrigeração reais.

DICAS

A presença de líquido em uma turbina prejudica consideravelmente sua


operação por provocar vibrações no equipamento, ruídos, erosão nas pás, diminuição
da eficiência de expansão e, consequentemente, redução do tempo de vida útil.
Compreender como evitar essa umidade ou recuperar as turbinas afetadas é primordial
para garantir o funcionamento seguro desses expansores. Por isso, recomendamos que
leia a dissertação de Ricardo Vechin de Macedo, intitulada Recuperação de turbinas
hidráulicas danificadas por erosão cavitacional por soldagem com aço inoxidável/cobalto,
disponível no link: https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/124479/000836546.
pdf?sequence=1&isAllowed=y.

3 O CICLO IDEAL DE REFRIGERAÇÃO POR COMPRESSÃO


DE VAPOR
Diversas das dificuldades práticas relatadas para a execução do ciclo
de Carnot reverso podem ser extintas pela vaporização completa do fluido
refrigerante antes de sua compressão e pela troca da turbina por um equipamento
de estrangulamento, podendo ser uma válvula de expansão ou um tubo capilar,
por exemplo. Como resultado, temos um ciclo denominado por ciclo ideal de
refrigeração por compressão de vapor, que é ilustrado de forma esquemática no
diagrama T-s da Gráfico 4.

119
UNIDADE 2 | APLICAÇÕES EM REFRIGERAÇÃO

GRÁFICO 4 – DIAGRAMA T-S DE REFRIGERAÇÃO POR COMPRESSÃO DE VAPOR

FONTE: Os autores

O Gráfico 4 mostra um gráfico com eixo horizontal de entropia específica


e vertical à temperatura, onde está plotada uma binoidal com duas isobáricas,
que geram cinco pontos, são eles: ponto 1 vapor saturado a baixa pressão, ponto
2 vapor superaquecido a alta pressão, ponto 3 líquido saturado a alta pressão,
ponto 4’ mistura de líquido e vapor pobre em vapor a baixa pressão, ponto e
mistura líquido e vapor e título superior ao ponto 4’.

O ciclo de refrigeração por compressão de vapor é o mais utilizado em


projeto de refrigeradores, sistemas de condicionamento de ar e bombas de calor.
Em termos gerais, ele consiste em quatro etapas, sendo elas:

• Processo 1-2: compressão isentrópica do fluido em um compressor. O fluido


refrigerante entra como vapor saturado no compressor, onde é comprimido
de forma isentrópica até a pressão do condensador. Essa pressurização é
acompanhada por um aumento de temperatura.
• Processo 2-3: rejeição de calor a pressão constante. O fluido entra no condensador
como vapor superaquecido e o deixa como líquido saturado, como efeito tem-
se a rejeição de calor para a vizinhança, mas a temperatura do fluido permanece
superior à temperatura da vizinhança.
• Processo 3-4: estrangulamento em um dispositivo de expansão. O líquido
saturado é estrangulado até a pressão de operação do evaporador ao passar
por uma válvula de expansão ou um tubo capilar. Ao longo deste processo, a
temperatura do refrigerante cai abaixo da temperatura do espaço refrigerado.
• Processo 4-1: absorção de calor à pressão constante em um evaporador. A mistura
saturada com baixo teor de vapor evapora totalmente devido a absorção de calor
do espaço refrigerado. O fluido refrigerante deixa o evaporador como vapor
saturado e entra no compressor, concluindo um ciclo (ÇENGEL; BOLES, 2006).

Em um refrigerador doméstico, popularmente conhecido como geladeira,


podemos visualizar facilmente dois desses quatro equipamentos, como mostra a
Figura 12. Os tubos do compartimento do congelador, onde o calor é absorvido

120
TÓPICO 2 | CICLOS DE REFRIGERAÇÃO

pelo refrigerante, fazem parte do evaporador. As serpentinas encontradas na


parte de trás do refrigerador auxiliam na remoção de calor para o ar da cozinha,
portanto, desempenham o papel de condensador.

DICAS

O funcionamento de uma geladeira é apresentado de modo iterativo no vídeo


disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=VHrfwDax3GA&t=78s.

FIGURA 12 – IDENTIFICAÇÃO DOS COMPONENTES DE REFRIGERAÇÃO DE UMA GELADEIRA

FONTE: <https://image.shutterstock.com/image-illustration/typical-refrigeration-cycle-
compressor-constricts-600w-159596558.jpg>. Acesso em: 25 out. 2019.

Outro método comumente utilizado na análise de ciclos de refrigeração


por compressão de vapor é o diagrama pressão versus entalpia (gráfico p-h),
ilustrado no Gráfico 5. Nessa configuração, três das quatro etapas se apresentam
como linhas retas, já que a operação do condensador e do evaporador é considerada
isobárica e a válvula de expansão isoentálpica, assim como os comprimentos
das curvas correspondentes aos trocadores de calor é proporcional e a taxa de
transferência de calor.

121
UNIDADE 2 | APLICAÇÕES EM REFRIGERAÇÃO

GRÁFICO 5 – DIAGRAMA P-H DO CICLO DE REFRIGERAÇÃO IDEAL POR COMPRESSÃO DE VAPOR

FONTE: Os autores

O Gráfico 5 possui um eixo horizontal equivalente à entalpia específica e


vertical à pressão do sistema, em que se encontra uma binoidal, duas isotermas
e quatro pontos, identificados por: ponto 1: vapor saturado a baixa temperatura,
ponto 2: vapor superaquecido a alta temperatura, ponto 3: líquido saturado a alta
temperatura e ponto 4: mistura líquido e vapor a baixa temperatura.

Ainda visualizando o Gráfico 5 é possível afirmar que, ao contrário dos


ciclos ideais, o ciclo de refrigeração ideal por compressão de vapor não é um ciclo
internamente reversível, visto que ele envolve um processo irreversível, dado
pelo estrangulamento. Caso o dispositivo de expansão fosse substituído por uma
turbina isentrópica, o fluido refrigerante entraria no evaporador no estado 4’, como
consequência, o COP de refrigeração aumentaria numa proporção dada pela área
sob o processo 4’-4 da Figura 15, e a demanda líquida de trabalho reduziria em
decorrência da produção de trabalho pela turbina. Todavia, a troca da válvula
de expansão por uma turbina não é uma solução prática, visto que a vantagem
supracitada não justificaria o custo e a complexidade operacional adicional.

Os quatro componentes mecânicos e térmicos relacionados ao ciclo de


refrigeração por compressão de vapor são recursos que operam com escoamento
em regime permanente e suas variações das energias cinética e potencial
normalmente são desprezíveis em relação aos termos de trabalho ou transferência
de calor, portanto elas podem ser eliminadas da análise energética. Desse modo,
a equação de energia, por unidade de massa, se reduz a Equação 46.

( qe − qs ) + ( we − ws ) =( is − ie ) (Equação 46)

Em que:

qe ≡ taxa de transferência de calor que entra num dispositivo do ciclo (J/s);


qs ≡ taxa de transferência de calor que sai de um dispositivo do ciclo (J/s);
we ≡ taxa de trabalho inserida a um dispositivo do ciclo (W);

122
TÓPICO 2 | CICLOS DE REFRIGERAÇÃO

ws ≡ taxa de trabalho produzida por um dispositivo do ciclo (W);


ie ≡ entalpia que entra num dispositivo do ciclo (J/s);
is ≡ entalpia que sai de um dispositivo do ciclo (J/s).

O condensador e o evaporador não produzem ou consomem trabalho


mecânico e o compressor pode ser aproximado como um equipamento adiabático.
Então, os COPs dos refrigeradores e bombas de calor que atuam no ciclo por
compressão de vapor podem ser expressos pela Equação 47 e 48, respectivamente.

i1 − i4
COPR = (Equação 47)
i2 − i1

i2 − i3
COPBC = (Equação 48)
i2 − i1

Em que:

i1 ≡ Entalpia do vapor saturado à p1;


i3 ≡ entalpia do líquido saturado à p3.

4 SISTEMA DE REFRIGERAÇÃO EM CASCATA


Diversas aplicações industriais demandam quedas de temperatura
relativamente altas, como é o caso de refrigeradores de indústrias alimentícias. Essa
exigência dificulta a operação de um único ciclo de refrigeração por compressão
de vapor, que por vezes é incapaz de conseguir satisfazer as necessidades do
sistema, pois necessitaria de um amplo intervalo de pressão no ciclo, o que
caminha na contramão do desempenho de um compressor alternativo. Uma
forma de lidar com tais circunstâncias é executar o método de refrigeração em
uma série de etapas, isto é, ter dois ou mais ciclos de refrigeração que atuem em
configuração do tipo série, ou seja, consecutivos sistemas denominados por ciclos
de refrigeração em cascata.

Um ciclo de refrigeração em cascata com duas etapas é ilustrado no


Gráfico 6, em que se observa dois ciclos interligados por um trocador de calor,
que se adequa como evaporador para o ciclo superior (ciclo A) e condensador
para o ciclo inferior (ciclo B).

123
UNIDADE 2 | APLICAÇÕES EM REFRIGERAÇÃO

GRÁFICO 6 – DIAGRAMA T-S PARA O SISTEMA DE REFRIGERAÇÃO EM CASCADA


COM DOIS ESTÁGIOS

FONTE: Os autores

O Gráfico 6 possui um eixo horizontal representado pela entropia específica


e vertical à temperatura do sistema, em que se tem uma binoidal com dois ciclos e
quatro isobáricas, sendo que o ciclo 1 está localizado na parte inferior do gomo e
com quatro pontos, são eles: Ponto 1: vapor saturado à pressão baixa do sistema;
Ponto 2: vapor superaquecido à segunda pressão mais baixa; Ponto 3: líquido
saturado à mesma pressão de 2; Ponto 4: mistura de equilíbrio líquido vapor à
pressão de 1. O outro ciclo possui duas isobáricas distintas ao ciclo anterior, mas
também contempla quatro pontos, dados por: Ponto 5: vapor saturado à pressão
superior a maior pressão do ciclo 1; Ponto 6: vapor superaquecido à máxima
pressão; Ponto 7: líquido saturado à mesma pressão de 6; Ponto 8: equilíbrio
líquido vapor à pressão de 5.

Considerando que o trocador de calor esteja isolado e que as alterações das


energias cinética e potencial não possuem relevância frente às variações entálpicas
sofridas pelas correntes de entrada e saída desse dispositivo térmico, a taxa de
transferência de calor do fluido do ciclo inferior deve ser igual à transferência de
calor para o fluido do ciclo superior. Ademais, as outras etapas são analisadas
como um ciclo de refrigeração comum.

Um ponto importante deve ser observado para o sistema em cascata


ilustrado no Gráfico 6, que se refere a utilização de um mesmo fluido refrigerante
em ambos os ciclos, por isso o seu COP pode ser estimado pela Equação 49.
Porém, isso não é uma regra, uma vez que o trocador de calor empregado é do
tipo sem mistura. Em determinadas aplicações, pode ser interessante usar fluidos
refrigerantes com características que otimizem as diversas etapas envolvidas no
circuito. Nestes casos, haveria um domo de saturação isolado para cada fluido.

ÿ
mB ( i1 − i4 )
COPR , cascata = ÿ ÿ (Equação 49)
mA ( i6 − i5 ) + mB ( i2 − i1 )
124
TÓPICO 2 | CICLOS DE REFRIGERAÇÃO

Em que:

COPR,cascata ≡ Coeficiente de performance de um refrigerador em cascata (-);


mA ≡ taxa mássica do fluido refrigerante no ciclo A (kg/s);
mB ≡ taxa mássica do fluido refrigerante no ciclo B (kg/s).

A interpretação do diagrama T-s (Gráfico 6) revela que o trabalho requerido


pelo compressor diminui e a parcela de calor absorvido do espaço refrigerado
aumenta como resultado do sistema em cascata. É claro que devemos observar os
pontos negativos dessa metodologia, que se referem ao aumento da complexidade
operacional, ou seja, é necessário um maior número de instrumentos de controle
e automação, além de considerar um aumento nos custos de aquisição dos
equipamentos adicionais. Logo, uma análise termoeconômica é necessária para
definir o número de etapas da refrigeração em cascata para uma dada operação.

5 REFRIGERAÇÃO POR COMPRESSÃO EM MÚLTIPLOS


ESTÁGIOS
Quando se opta por um único fluido para percorrer todo o sistema de
refrigeração em cascata, o trocador de calor entre as etapas de troca térmica
pode ser substituído por uma câmara de mistura, uma vez que ela é reconhecida
por possuir melhores atributos para uma transferência de calor eficiente. Como
consequência, tem-se a formação de um novo modo de refrigeração, conhecido
como refrigeração de compressão em múltiplos estágios, em que não se percebe
um distanciamento entre as curvas de temperatura constante no diagrama
T-s, como pode ser observado no Gráfico 7, o que implica uma diminuição de
demanda energética para o acionamento dos compressores.

GRÁFICO 7 – DIAGRAMA T-S DO SISTEMA DE REFRIGERAÇÃO POR COMPRESSÃO MULTIESTÁGIO

FONTE: Os autores

125
UNIDADE 2 | APLICAÇÕES EM REFRIGERAÇÃO

O Gráfico 6 é similar ao Gráfico 7, exceto pelo fato de que há o encontro


de duas isobáricas, já que forma um ciclo único, cujos estados são: Ponto 1:
líquido saturado; Ponto 2: vapor superaquecido; Ponto 3: vapor saturado; Ponto
4: vapor superaquecido; Ponto 5: líquido saturado; Ponto 6: equilíbrio líquido
vapor; Ponto 7: líquido saturado; Ponto 8: mistura líquido e vapor; Ponto 9: vapor
superaquecido.

No sistema ilustrado anteriormente, temos que a compressão é dada em


dois estágios, em que o líquido saturado (Estado 5) é despressurizado por uma
válvula de expansão até atingir a pressão de operação da câmara de mistura (Estado
6), com isso há a formação de um sistema bifásico, em que parte dessa corrente sofre
perda de carga até a formação de vapor saturado (Estado 3), o qual é misturado
ao vapor superaquecido oriundo do compressor de baixa pressão (Estado 2) para
alimentar um compressor de alta pressão (Estado 9). A outra parte da corrente de
saída da câmara de mistura se encontra como líquido saturado (estado 7) e tem
sua pressão reduzida até o Estado 8 com o auxílio de outra válvula de expansão,
nessa condição de baixa pressão e temperatura, o fluido refrigerante está apto para
remover calor do espaço que se deseja manter refrigerado, chegando a condição de
vapor saturado (Estado 1), completando um ciclo.

E
IMPORTANT

Todos os ciclos de refrigeração requerem propriedades termodinâmicas para a


determinação do coeficiente de performance. Basicamente são requeridas as informações:
entalpia, entropia e volume específico, que são obtidas a partir de softwares comerciais
ou tabelas presentes em apêndices de livros de Termodinâmica. Essa segunda fonte de
dados requer o conhecimento de como detectar o estado físico de uma substância pura a
partir de alguns valores conhecidos, veja o procedimento indicado para a leitura dos dados
de vapor superaquecido, o qual necessita de duas variáveis especificadas para se ter um
estado definido:

• Vapor superaquecido: (1) pressão do sistema é inferior à pressão de saturação na


temperatura de operação, (2) temperatura do sistema é superior à temperatura de saturação
na pressão de operação, (3) volume específico do sistema é superior ao volume específico
do vapor saturado a uma temperatura ou pressão de operação, (4) entalpia do sistema é
superior a entalpia do vapor saturado a uma temperatura ou pressão de operação.

6 CICLOS DE REFRIGERAÇÃO A GÁS


O ciclo reverso de Brayton, chamado de ciclo de refrigeração a gás, difere-
se dos demais ciclos apresentados principalmente pelo fato de que o fluido
refrigerante não altera o seu estado físico, por isso, ele é preferível nas aplicações
em que se deseja alcançar temperaturas muito baixas. Em termos operacionais, o
ciclo reservo de Brayton consiste em quatro etapas (Gráfico 8), são elas:

126
TÓPICO 2 | CICLOS DE REFRIGERAÇÃO

• Etapa 1-2: compressão adiabática e isentrópica, em que parte do ponto 1 com


temperatura inferior a temperatura do espaço frio (TL) e chega ao ponto 2 com
temperatura superior a temperatura do espaço quente (TH).
• Etapa 2-3: remoção isobárica de calor, com T3 > TH.
• Etapa 3-4: expansão adiabática e isentrópica, com T4 > TL.
• Etapa 4-1: recebimento isobárico de calor, com T4 > T1 < TL.

GRÁFICO 8 – DIAGRAMA T-S PARA O CICLO REVERSO DE BRAYTON

FONTE: Os autores

O Gráfico 8 é um gráfico com eixo horizontal equivalente a entropia


específica e vertical temperatura, onde são traçadas duas isentrópicas, uma
ligando o Ponto 1 de baixa pressão ao Ponto 2, de alta pressão. A outra isentrópica
conecta o Ponto 3 de pressão análoga a do Sistema em 2 ao Ponto 4, cuja pressão
é equivalente ao do Ponto 1.

A partir do diagrama T-s gerado, observa-se algumas características


importantes. A primeira refere-se à equivalência da área sob a curva do passo
4-1 com o calor removido do espaço refrigerado, em segundo tem-se que a
área total do ciclo (1-2-3-4-1) equivale ao trabalho líquido. Por último, mas não
menos importante, o ciclo dispõe de dois trocadores de calor que não operam
isotermicamente, tendo em vista que se trata de uma transferência de calor do
tipo sensível. Como consequência desses efeitos, os ciclos de refrigeração a gás são
menos eficientes quando comparados aos ciclos de refrigeração por compressão
de vapor ou ao ciclo reverso de Carnot, Equação 50.

COPR , gás =
( i1 − i4 )
(Equação 50)
( i2 − i1 ) − ( i3 − i4 )

Em que:

COPR,gás ≡ Coeficiente de performance de um refrigerador a gás.

127
UNIDADE 2 | APLICAÇÕES EM REFRIGERAÇÃO

Contudo, os ciclos de refrigeração a gás envolvem elementos simples


e mais leves, o que os tornam adequados para o resfriamento de aviões, e
possibilitam a integração com ciclos de regeneração para uso em liquefação
de gases e processos criogênicos. Nessas aplicações, necessita-se levar em
consideração a compressão e expansão não isentrópica, assim como a perda de
carga no evaporador e condensador.

7 SISTEMA DE REFRIGERAÇÃO POR ABSORÇÃO


O ciclo de refrigeração por absorção é utilizado quando se tem uma fonte
de energia térmica, solar, de combustíveis fósseis e afins disponível a uma faixa
de 100 a 200 °C e observa-se a absorção do fluido refrigerante pela ação do meio
de transporte, constituído, geralmente, pelo par amônia (NH3)-água, água-cloreto
de lítio e água brometo de lítio. Em termos operacionais, ele se assemelha com
o ciclo de refrigeração por compressão a vapor, mas com a pressão do fluido
elevada pela ação de um sistema complexo, que se utiliza de um absorvedor
– equipamento em que se dá a absorção do fluido refrigerante e liberação de
calor, bomba de solução – impulsor da mistura, gerador, válvula e retificador.
Nesse conjunto, que é isento de partes móveis, e, portanto, explicado por leis
físicas e químicas em vez de mecânicas, ocorre tanto transferência de calor quanto
de massa, com controle de temperatura de refrigeração dado pelo controle da
pressão de saturação do sistema, conforme pode ser visto na Figura 13 e pela
descrição dada por Çengel e Boles (2006, p. 637):

O vapor de amônia sai do evaporador e entra no absorvedor, onde


ele se dissolve e reage com água para formar o NH3 + H2O. Essa é
uma reação exotérmica e, portanto, o calor é liberado durante esse
processo. A quantidade de NH3 que pode ser dissolvida em H2O é
inversamente proporcional à temperatura. Assim, é preciso resfriar
o absorvedor para manter sua temperatura a mais baixa possível, e
maximizar a quantidade de NH3 que é dissolvida na água. A solução
líquida, que é rica em NH3, é bombeada para o gerador. O calor é
transferido de uma fonte para a solução com o intuito de vaporizar
parte desta solução. O vapor, que é rico em NH3 puro a alta pressão
continua sua jornada através do restante do ciclo. A solução quente,
que é fraca em NH3, passa através de um regenerador, onde transfere
parte do calor para a solução rica que sai da bomba e é estrangulada
até a pressão do absorvedor.

128
TÓPICO 2 | CICLOS DE REFRIGERAÇÃO

FIGURA 13 – ILUSTRAÇÃO DE UMA REFRIGERAÇÃO POR ABSORÇÃO DE SIMPLES EFEITO

FONTE: Os autores

A Figura 13 mostra os equipamentos envolvidos no ciclo de refrigeração


por absorção de simples efeito, sendo dados sequencialmente por: válvula de
expansão de baixa pressão (corrente de entrada: 8, corrente de saída:1), evaporador
(corrente de entrada:1, corrente de saída:2), absorvedor de baixa pressão (correntes
de entrada: 7 de solução fraca e 2, corrente de saída: 3 de solução forte), bomba
de solução (corrente de entrada: 3, corrente de saída:4), gerador a alta pressão
(corrente de entrada: 4, correntes de saída 6 e 5) e condensador a alta pressão
(corrente de entrada: 5, corrente de saída: 8).

O uso desse sistema tem vantagens em relação à potência necessária para


operar a bomba, que consiste em valores de 10 a 30 vezes inferiores à requerida por
um compressor, além de que a energia necessária para o acionamento do sistema
pode provir de fontes renováveis, que além do aspecto positivo de sustentabilidade,
ela é mais barata quando comparada a advinda de trabalho mecânico.

A modelagem matemática desse ciclo requer o desenvolvimento de balanço


mássico e energético para cada componente presente no circuito e a adoção de
hipóteses simplificadoras consolidadas. Fernández et al. (2007) esquematizaram
uma metodologia para a solução de problemas desse tipo com fluido amônia-
água, em que foram estabelecidas as condições: (1) nos trocadores de calor só há
passagem de amônia (ou outro fluido com propriedades similares), (2) a queda de
pressão nos dutos e equipamentos térmicos pode ser desprezada, (3) a corrente
de saída do evaporador é de vapor saturado, (4) não há troca de calor entre os
dispositivos de expansão e suas vizinhanças, (5) a compressão de líquidos é
reversível, (6) na corrente de saída do condensador ocorre um subresfriamento
de 5 K, (7) o ciclo de refrigeração ocorre em estado estacionário, (8) indicação de
um ponto “M” para sinalizar o término da absorção de vapor de amônia e início
da transferência de energia na forma de calor.

De posse dessas especificações e do sistema dado pela Figura 13, pode-se fazer
o balanço mássico e energético no absorvedor, Equação 51 e 52, respectivamente.

129
UNIDADE 2 | APLICAÇÕES EM REFRIGERAÇÃO

m 2 + m 7 = m 3 = m M (Equação 51)

m 2i2 + m 7i7 = m 3i3 = m M iM (Equação 52)

Em que:

m i ≡ taxa mássica na corrente “i” (kg/s);


ii ≡ entalpia específica da corrente “i” (J/kg).

O trocador de calor promove uma diferença de entalpia da mistura a


partir do calor enviado para o sistema, Equação 53 e 54.

= m 3 (i3 − iM )
QAbsorvedor (Equação 53)

QAbsorvedor
= UA∆TML (Equação 54)

Com:

1
U= (Equação 55)
1 rint ,T r  rext ,T 1
+ ln ext ,T +
hT kT  rint ,T  rint ,T hs

dint ,T
hT = 0,14 (Equação 56)
 RePrd 1/ 3
 µ 
int ,T 
CT 1,86    
T

 CT µ
   T ,TP 

hs =
(
k s 0, 29 Re0,53 Pr 0,344 ) (Equação 57)
δ

Em que:

QAbsorvedor ≡ Calor trocado no absorvedor (J);


U ≡ Coeficiente global de troca térmica do trocador de calor (W/m².K);
A ≡ Área de transferência de calor (m²);
∆TML ≡ Diferença de temperatura média logarítmica (K);
hT ≡ Coeficiente convectivo interno aos tubos (W/m².K);
rint,T ≡ Raio interno dos tubos (m);
kT ≡ Condutividade térmica dos tubos (W/m.K);
rext,T ≡ Raio externo dos tubos (m);

130
TÓPICO 2 | CICLOS DE REFRIGERAÇÃO

hs ≡ Coeficiente convectivo externo aos tubos (W/m².K);


CT ≡ Comprimento dos tubos internos (m);
Dint,T ≡ Diâmetro interno dos tubos (m);
Re ≡ Número de Reynolds (-);
Pr ≡ Número de Prandtl (-);
µT ≡ Viscosidade do fluido que escoa internamente aos tubos (kg/m.s);
µT,tp ≡ Viscosidade do fluido que escoa externamente aos tubos (kg/m.s);
δ ≡ Espessura de filme da solução (m).

DICAS

Existe um sistema de refrigeração muito utilizado em indústria de laticínios e de


frigoríficos, que é denominado por sistema de refrigeração multipressão. Como o próprio
nome sugere, esse processo se dá pela compressão de vapor em dois ou mais níveis de
pressão, as quais são relativamente baixas para que se garanta uma condição operacional
adequada para a remoção de calor de um meio. Você pode compreender o fluxograma,
bem como os princípios envolvidos nesse sistema a partir da leitura da dissertação de
Julío Manuel Rodrigues Boa, intitulada por Análise energética de equipamentos de uma
fábrica de lacticínios, disponível no link: https://ubibliorum.ubi.pt/bitstream/10400.6/2450/1/
Disserta%C3%A7%C3%A3o%20J%C3%BAlio%20Boa.pdf.

131
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• O ciclo de Carnot reverso é análogo ao ciclo de Carnot que descreve o


funcionamento de máquinas térmicas, se diferindo em relação ao sentido em
que o ciclo se dá, o que proporciona o resfriamento de sistemas a partir do
consumo de trabalho elétrico.

• A eficiência de uma bomba de calor é dependente do calor da fonte quente e


do trabalho líquido do ciclo, ao passo que a eficiência do refrigerador, também
chamado de coeficiente de performance, é dependente do calor da fonte fria e
do trabalho líquido do ciclo.

• O ciclo de refrigeração a gás também conhecido como ciclo reverso de Brayton


opera com um fluido somente no estado gasoso.

• O ciclo ideal de refrigeração por compressão de vapor é similar ao ciclo de Carnot


reverso, exceto pelo fato que há o uso de uma válvula de estrangulamento ou
tubo capilar em vez de uma turbina.

• O sistema de refrigeração em cascata é uma oportunidade para aplicações que


requerem a remoção de grande quantidade de calor, podendo ser feito em duas
ou mais etapas, para cada uma das quais há um fluido diferente.

• A refrigeração por compressão em múltiplos etapas é similar a em cascata, mas


necessita de apenas um fluido para percorrer todo o circuito.

• O sistema de refrigeração por absorção é isento de partes móveis, então a


elevação de pressão e a troca térmica é realizada por um absorvedor.

132
AUTOATIVIDADE

1 O ciclo de Carnot reverso é uma referência para os outros processos de


refrigeração que foram surgindo ao longo dos anos, pois ele apresenta
etapas que conduzem ao máximo de eficiência possível. Em termos gerais,
ele se assemelha ao ciclo de uma máquina de potência, mas como possuem
finalidades distintas, espera-se que as etapas envolvidas neles sejam
diferentes. Baseado nas definições do ciclo de Carnot reverso, analise os
itens que se seguem.

I- É composto pelos equipamentos: evaporador, compressor, condensador e


turbina.
II- Baseia-se em duas etapas com troca de calor entre o fluido refrigerante e a
vizinhança imediata e duas etapas irreversíveis.
III- É convenientemente apresentado num diagrama temperatura versus
entalpia, cuja área abaixo da curva gerada identifica o valor da taxa de
transferência de calor dos processos envolvidos.
IV- A eficiência desse refrigerador é dada pelo quociente entre calor da fonte
fria e o trabalho líquido do sistema.

Agora, assinale a alternativa que apresente o(s) item(s) CORRETO(S).


a) ( ) I e IV.
b) ( ) I, II e IV.
c) ( ) II e III.
d) ( ) I e III.
e) ( ) II e IV.

2 A partir da realização de ensaios experimentais é possível determinar alguns


parâmetros importantes de dispositivos de refrigeração, como por exemplo
um compressor. Supondo que num determinado processo foi utilizado R134
com condições de entrada no compressor dadas por 3,2 bar e 10°C, e saída
a 9 bar e 60°C. Assinale a alternativa que apresenta corretamente o valor da
eficiência isentrópica desse equipamento.

Dados: nas condições de entrada a entalpia e entropia valem, respectivamente,


255,62 kJ/ kg e 0,9427 kJ/kg.K; na saída tem-se 293,21 kJ/kg e 0,9897 kJ/kg.K.
Caso seja necessário obter outros valores de entalpia ou entropia, a figura a
seguir mostra valores para a sua interpolação.

133
RELAÇÃO DE ENTALPIA E ENTROPIA DO R134

FONTE: Os autores

a) ( ) 75%.
b) ( ) 25%.
c) ( ) 60%.
d) ( ) 40%.
e) ( ) 91%.

134
UNIDADE 2 TÓPICO 3

ESTUDOS DE CASO E EXPERIMENTAÇÃO EM REFRIGERAÇÃO

1 INTRODUÇÃO
Ao longo dos anos, diversos departamentos de pesquisa e
desenvolvimento e grupos universitários vêm propondo sugestões para
aprimorar os sistemas de refrigeração, visto que eles são fundamentais para as
nossas atividades cotidianas, como, por exemplo:

(a) congelamento, transporte e armazenamento de alimentos perecíveis


como os leites e as carnes (e seus derivados), as frutas e os vegetais,
(b) processamento de alimentos como a pasteurização do leite, a
produção de sorvete e cerveja e a cura de queijos,
(c) separação do ar em oxigênio, nitrogênio e argônio,
(d) produção de gelo para restaurantes, hotéis e indústrias de alimento,
(e) resfriamento de concreto durante a cura para redução da expansão
e tensões de construções de risco e
(f) condensação de vapores tóxicos (SILVA, 2011, p. 173).

Nesse sentido, faz-se necessário realizar estudos sobre as condições


operacionais dos equipamentos que compõem o circuito de refrigeração, não
só apenas em termos práticos, mas também computacionais. Então, esse tópico
destina-se a apresentação de três práticas numéricas: (1) descrição de um ciclo
de potência, (2) verificação das consequências trazidas pela introdução de
multiestágios num sistema simples e (3) implementação do ciclo de Carnot de
reverso, assim como duas práticas experimentais, que objetivam determinar
a vazão volumétrica real de um processo e a sua interferência sobre a taxa de
transferência de calor em um condensador.

2 ESTUDO DE CASO
Diante dos conceitos apresentados sobre o ciclo de refrigeração,
apresentaremos alguns estudos de caso para que haja a compreensão dos aspectos
termodinâmicos envolvidos nesses processos.

2.1 CICLO DE POTÊNCIA


Você foi selecionado para estagiar na empresa Power+ e sua primeira
missão é responder a alguns questionamentos sobre o funcionamento de um ciclo
a vapor. Então, sua gerente sugeriu que você retomasse os conceitos necessários
135
UNIDADE 2 | APLICAÇÕES EM REFRIGERAÇÃO

para analisar com parcimônia a planta industrial que lhe será enviada. De
antemão, você recordou das primeiras interrogações que deve vir em mente
quando se trata de ciclos termodinâmicos, sendo elas:

1- Qual é a finalidade do ciclo analisado?


2- Que fluido de trabalho deve ser escolhido?
3- Quais são os equipamentos necessários para garantir que o objetivo do ciclo
seja alcançado?
4- Existem hipóteses simplificadoras que auxiliarão na resolução do problema?
5- Quais são os princípios físicos, mecânicos e químicos capazes de descreverem
matematicamente os dispositivos?
6- Quais são os estados de entrada e de saída dos equipamentos?
7- Como determinar as propriedades termodinâmicas das correntes do processo?

Todas essas questões podem ser respondidas diante a análise do documento


apresentado pela sua gerente, que se encontra sistematizado na Figura 15.

FIGURA 15 – REPRESENTAÇÃO DO CICLO DE POTÊNCIA

FONTE: Os autores

Esse questionamento a que você se propôs foi observado por um


coordenador de projetos, que lhe ajudou prontamente com a elaboração das
seguintes respostas:

• A finalidade do ciclo é produzir trabalho a partir de duas turbinas, que estão


acopladas para fornecer um maior rendimento. Então o ciclo em questão é do
tipo ciclo de potência.
• Normalmente, em ciclos de potência utilizam de água para a geração de
trabalho, tanto é que o ciclo é comumente denominado por ciclo a vapor.
• O trabalho produzido por turbinas promove uma despressurização do sistema,
que geralmente é seguido de uma queda de temperatura. Assim, faz-se
necessários mecanismos para aumentar a pressão e a temperatura do sistema,
sendo que isso é possível com o auxílio de um condensador, evaporador (no
caso da Figura 15, gerador de vapor) e bomba (ÇENGEL; BOLES, 2006).
136
TÓPICO 3 | ESTUDOS DE CASO E EXPERIMENTAÇÃO EM REFRIGERAÇÃO

• Sabendo-se da necessidade dos equipamentos descritos no tópico anterior,


pode-se adotar algumas hipóteses simplificadoras, tais como perda de carga
desprezível nos aquecedores, condensador, acessórios e tubulação, variação
desprezível da energia cinética e potencial, equipamentos com operação
adiabática (exceto os trocadores de calor) e operação em estado estacionário.
• Para equacionar o ciclo proposto é necessário apenas o balanço de massa e de
energia nos volumes de controle, ou seja, descrever a primeira e segunda leis
da termodinâmica.
• Os estados de entrada e de saída dos equipamentos devem ser conhecidos pela
realização de experimentos.
• As propriedades termodinâmicas podem ser obtidas na literatura, como em
apêndices de livro de Termodinâmica ou Sistemas Térmicos, assim como
por softwares comerciais de processos de separação ou do tipo integração de
trocadores de calor e, ainda, artigos científicos, muitos dos quais possuem
acesso aberto a todos interessados.

DICAS

Se realizássemos uma busca na internet por plataformas ou softwares gratuitos


que disponibilizam propriedades termodinâmicas a partir do fornecimento (input) de duas
informações, verificaríamos uma diversidade de opções para nos auxiliar na resolução
desse estudo de caso, fornecendo o estado físico, entalpia, entropia e volume específico,
por exemplo: https://www.irc.wisc.edu/properties/, https://webbook.nist.gov/chemistry/
fluid/, http://platform.sysmoltd.com/ThermoFluids/FluidPropsCalculatorView, https://www.
steamtablesonline.com/steam97web.aspx?lang=pt.

Com essas informações, sua gestora verificou que você está apto para
responder o ponto crucial do ciclo a vapor, ou seja, determinar a eficiência
térmica do ciclo. Então, ela lhe fornecer mais algumas informações, são elas: (1)
a eficiência isentrópica da turbina vapor operando a alta pressão é 90%, (2) a
eficiência isentrópica da turbina a vapor de baixa pressão é a máxima possível de
um ciclo reversível, (3) todas as bombas operam na máxima condição de eficiência,
(4) a corrente efluente do condensador se encontra no estado de líquido saturado,
(5) a corrente 11 é líquido saturado.

• Objetivo: interpretar, coletar e utilizar dados termodinâmicos de entalpia


e entropia; determinar a eficiência de um ciclo de potência a vapor sendo
fornecido alguns pares de propriedades termofísicas (pressão e temperatura) e
termodinâmicas (entalpia e entropia); esboçar o diagrama temperatura versus
entropia do processo e provocar reflexão de como poderia aplicar esse ciclo
para a promoção do resfriamento de um local.

137
UNIDADE 2 | APLICAÇÕES EM REFRIGERAÇÃO

• Materiais utilizados: essa prática não requer o uso de equipamentos


laboratoriais tampouco reagentes. Mas, recomenda-se o uso de computador
com uma planilha eletrônica instalada e acesso à internet ou calculadora e
uma tabela com propriedades termodinâmicas da água, no estado: líquido
comprimido, líquido saturado, vapor saturado e vapor superaquecido para
uma ampla faixa de temperatura e pressão.
• Procedimentos:
1- Para o cálculo da eficiência do ciclo de potência a vapor, é necessário preencher
as informações ausentes na Tabela 3 para as catorze correntes listadas.

TABELA 3 – PROPRIEDADES DA ÁGUA NAS CORRENTES DO CICLO DE POTÊNCIA

Corrente Pressão (MPa) Temperatura (°C) Entalpia (kJ/kg) Entropia (kJ/kg.K)


1 14,0 480,0 3264,5 6,3143
2 6,0
3 6,0 400,0 3177,2 6,5408
4 0,01
5 6,0
6 0,2 120,0 6,5408
7
8
9 0,01 45,80 191,8 0,6493
10
11 0,2 120,0 504,7 1,5301
12
13 14,0 200,0 852,5 2,3309
14 14,0

FONTE: Os autores

Nota: observe o estado termodinâmico de cada corrente a jusante e


montante dos equipamentos e as possíveis variações de pressão sofridas.

2- Realizar o balanço energético nos volumes de controle envolvendo o


agrupamento das correntes:
• Grupo 1: 5, 7, 12 e 13;
• Grupo 2: 6, 11 e 10.
3- Calcular o trabalho produzido envolvendo a entalpia das correntes: 1 e 2, 3 e 6, 4 e 6.
4- Estimar a demanda de calor do ciclo para as correntes: 1 e 14, 2 e 3.
5- Obter o trabalho líquido do ciclo de potência.
6- Calcular a eficiência do ciclo de potência a partir dos resultados dos itens “3”,
“4” e “5” supracitados.

138
TÓPICO 3 | ESTUDOS DE CASO E EXPERIMENTAÇÃO EM REFRIGERAÇÃO

AUTOATIVIDADE

1 O diagrama temperatura versus entropia obtido se assemelha a algum ciclo


de refrigeração estudado? Justifique sua resposta confrontando o gráfico
obtido com o coletado na literatura, que deve ser referenciada.

2 Calcular o valor da taxa de transferência de calor calculada pela definição


do ciclo de potência?

3 Existe alguma recomendação para aumentar a eficiência do ciclo de potência


analisado? Justifique a sua resposta.

2.2 OTIMIZAÇÃO DE UM CICLO DE REFRIGERAÇÃO


O ciclo de refrigeração por compressão de vapor pode ser realizado em um ou
múltiplos estágios, cuja escolha da quantidade de etapas é dependente da necessidade
de refrigeração e do recurso financeiro disponível para garantir a operação do sistema.
A fim de analisar esses efeitos, propõe-se duas situações, descritas por:

• Situação 1: Ciclo de refrigeração por compressão a vapor simples, isto é, apenas um


estágio, com evaporador a 0,12 °C, perda de carga desprezível e efluente no estado
de vapor saturado, condensador a 51 °C com corrente de saída na saturação, R22
como fluido de trabalho, compressor com 75% de eficiência isentrópica.
• Situação 2: Ciclo de refrigeração por compressão a vapor em dois estágios,
manutenção das condições térmicas dos trocadores de calor da situação 1,
pressão intermediária de 1 Mpa, dois compressores com eficiência isentrópica
iguais a 75%.
• Objetivo: interpretar, coletar e utilizar dados termodinâmicos de entalpia e
entropia; determinar o coeficiente de performance de um ciclo de refrigeração
de um e dois estágios; esboçar o diagrama pressão versus entalpia do processo.
• Materiais utilizados: essa prática não requer o uso de equipamentos
laboratoriais tampouco reagentes. Mas, recomenda-se o uso de computador
com uma planilha eletrônica instalada e acesso à internet ou calculadora e uma
tabela com propriedades termodinâmicas do fluido refrigerante R22.
• Procedimentos:
1- Assistir ao vídeo disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Lka4
sxn1GSc para visualizar um processo de refrigeração fechado.
2- Realizar o esboço do ciclo de refrigeração de um estágio, adotando a
numeração para os estados: “1” baixa pressão e vapor saturado, “2*” alta
pressão, vapor superaquecido e isoentrópico em relação a “1”, “2” alta
pressão e vapor superaquecido, “3” alta pressão e líquido saturado, “4”
baixa pressão e equilíbrio líquido vapor.
3- Preencher as informações da Tabela 4 com auxílio de uma fonte de dados
termodinâmicos para o R22.

139
UNIDADE 2 | APLICAÇÕES EM REFRIGERAÇÃO

TABELA 4 – PROPRIEDADES TERMODINÂMICAS DO CICLO DE REFRIGERAÇÃO SIMPLES

Estado Temperatura (°C) Pressão (kPa) Entalpia (kJ/kg) Entropia (kJ/kg.K)


1
2
2*
3
4

FONTE: Os autores

4- Determinar a diferença de entalpia entre os estados “1” e “4”, “2” e “1”.


5- Estimar o coeficiente de performance do ciclo simples.
6- Realizar o esboço do ciclo de refrigeração de dois estágios, adotando a numeração
para os estados: “1” baixa pressão e vapor saturado, “2*” pressão intermediária,
vapor superaquecido e isoentrópico em relação a “1”, “2” pressão intermediária
e vapor superaquecido, “3” pressão intermediária e vapor superaquecido, “4*”
alta pressão, vapor superaquecido e isentrópico em relação ao estado “3”, “4”
alta pressão e vapor superaquecido, “5” líquido saturado a alta pressão, “6”
mistura líquido e vapor com pressão intermediária, “7” líquido saturado a pressão
intermediária, “8” mistura líquido e vapor a baixa pressão.
7- Preencher as informações da Tabela 5, atentando-se às condições de evaporador
e condensador que foram mantidas de um ciclo em relação ao outro.

TABELA 5 – PROPRIEDADES TERMODINÂMICAS DO CICLO DE REFRIGERAÇÃO SIMPLES

Estado Temperatura (°C) Pressão (kPa) Entalpia (kJ/kg) Entropia (kJ/kg.K)


1
2
2*
3
4
4*
5
6
7
8

FONTE: Os autores

8- Determinar o título (porcentual de vapor) no estado 6.


9- Graficar os estados de 1 a 8 no diagrama pressão versus entalpia.
10- Determinar a diferença de entalpia entre os estados “1” e “8”, “2” e “1”, “4” e “3”.
11- Estimar o coeficiente de performance do ciclo simples e calcular o aumento
desse parâmetro em relação ao ciclo simples.

140
TÓPICO 3 | ESTUDOS DE CASO E EXPERIMENTAÇÃO EM REFRIGERAÇÃO

AUTOATIVIDADE

1 Quais são as justificativas, matemáticas e físicas, para o aumento do


coeficiente de performance de um ciclo em relação ao outro?

2 Você considera essa melhoria uma otimização do processo? Justifique a sua


resposta.

2.3 IMPLEMENTAÇÃO COMPUTACIONAL DE CICLOS


TERMODINÂMICOS
As duas práticas anteriores demandaram conhecimento de propriedades
termodinâmicas, fundamentos relacionados ao balanço de massa e energia em
volumes de controle e uso de planilhas eletrônicas. Note que qualquer modificação
no processo, por exemplo, aumento da pressão do evaporador, condensador ou
alteração na condição de saída dos expansores ou compressores, provoca o ajuste
de todos os parâmetros do ciclo, que se fosse executado do modo como havíamos
feito anterior poderia tornar o processo tedioso.

Mas, os processos industriais são melhorados justamente fazendo


essas análises, e isso motivou o desenvolvimento do Computer Aided Process
Engineering (CAPE), traduzido por engenharia de processos auxiliada por
computador, e “representa uma resolução para a elaboração de interfaces de
softwares que permite a comunicação padronizada entre os simuladores de
processo e produtos desenvolvidos por terceiros” (ELISIARIO, 2013, p. 26).

O CAPE permite a comunicação entre softwares que executam diferentes


funções, pois muitos não possuem interface gráfica ou um dispõem de um banco
de dados limitado, sendo que essa contribuição é gratuita e aberta a inserções
de códigos computacionais relacionados às operações industriais, propriedades
termofísicas e termodinâmicas e métodos numéricos para a solução de problemas
(SZCZEPANSKI; VAN BATEN, 2011). Baseado nesse protocolo, surgiu o software
COCO, disponível para download dos componentes: (1) COFE – responsável pela
geração de fluxograma de processos de separação, reação, mistura, mecânicos e
térmicos, permite a conversão de sistemas de unidades e exibe gráficos, (2) TEA
– contém banco de dados da biblioteca ChemSep, (3) COUSCOUS – configura
os dispositivos de engenharia, (4) CORN – dispõe de informações acerca de
reações químicas, como estequiométrica, cinética, entre outras. A partir desses
complementos é possível a realização da parametrização de um sistema, ou seja,
a realização automática de variações sobre parâmetros de sistemas, o que facilita
a implementação computacional e a análise dos resultados obtidos.

141
UNIDADE 2 | APLICAÇÕES EM REFRIGERAÇÃO

DICAS

O teste paramétrico é fundamental para a otimização de operações unitárias.


Para que você visualize como isso pode ser feito e suas consequências, assista ao vídeo
disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=0kRHMnd1IBA.

• Objetivo: aprender a manipular o software gratuito COCO simulator para a


realização de parametrização do ciclo de Carnot de reverso.
• Materiais utilizados: essa prática não requer o uso de equipamentos
laboratoriais tampouco reagentes. Mas, é necessário uso de computador com o
software COCO simulator instalado.

DICAS

O download do software COCO é feito acessando o site: https://www.


cocosimulator.org/. Verifique que nessa página eletrônica existem diversos exemplos de
aplicações industriais, então recomendamos que você leia os documentos apresentados e
execute os códigos listados para que essa prática se torne ainda mais impressionante.

• Procedimentos:
1- Selecionar os componentes envolvidos no ciclo reverso de Carnot, que no
caso é apenas água.
2- Inserir uma corrente, na qual devem ser especificadas as suas condições
de temperatura (500 °C), pressão (10 MPa), fração molar (1) e vazão (1
kg/s). Com essa especificação, o simulador calcula automaticamente todas
as propriedades termodinâmicas (entalpia, entropia e volume específico),
termofísicas (capacidade calorífica a pressão constante e condutividade
térmica) e de transporte (viscosidade dinâmica) da substância analisada,
além de prever o estado físico por meio de equações de estado contidas no
pacote TEA.
3- Inserir um instrumento de medição para que seja possível realizar a
parametrização do sistema.
4- Inserir uma corrente na saída do instrumento de medição.
5- Selecionar um expansor do tipo turbina e conectar a corrente do passo “4”
a ela. Nesse equipamento, especificar sua queda de pressão em 9,9 MPa e
observar que a pressão resultará em 0,1 MPa. Além disso, como se trata de
um ciclo ideal, alterar a eficiência isentrópica para 100%.

142
TÓPICO 3 | ESTUDOS DE CASO E EXPERIMENTAÇÃO EM REFRIGERAÇÃO

6- Adicionar um trocador de calor e conectá-lo com uma corrente do passo


“5”. Ajustar a temperatura de saída desse equipamento para 773,15 K.
7- Selecionar outro expansor, que corresponde a turbina de baixa pressão do
ciclo, com queda de pressão 0,092 MPa e pressão de saída 0,008 MPa. Em
seguida, conectá-lo a corrente do passo “6”.
8- Inserir um tambor flash, que exercerá a função do condensador, e especificar
os parâmetros: pressão de saída 8 kPa e fração de vapor nula. Conectar com
uma corrente os equipamentos do passo “8” com “7”.
9- nserir duas correntes de saída ao condensador.
10- Selecionar uma bomba e seus dados: aumento de pressão em 92 kPa, pressão
de saída equivalente a 100 kPa e eficiência adiabática de 100 %. Conectá-la a
corrente líquida do passo “9” e inserir uma corrente de saída.

AUTOATIVIDADE

1 Quais são as semelhanças do ciclo elaborado com o estudo no tópico de


ciclos de refrigeração?

2 Baseado nos seus conhecimentos acerca do ciclo de Carnot, quais seriam as


suas propostas para otimizá-lo?

3 Qual é a influência do sobreaquecimento no desempenho térmico de um


ciclo termodinâmico?

3 EXPERIMENTAÇÃO
A fim de verificar e quantificar experimentalmente as principais variáveis
envolvidas nos ciclos de refrigeração e condicionamento de ar, foram propostos
alguns roteiros com os seus devidos questionamentos.

3.1 DETERMINAÇÃO DE COEFICIENTE DE DESCARGA PARA


UMA PLACA DE ORIFÍCIO
Todos os sistemas de refrigeração e condicionamento de ar, além de tantos
outros circuitos para a formação de produtos ou separação de componentes,
requerem para o seu funcionamento a passagem de fluidos em seus equipamentos,
cuja vazão volumétrica ou taxa mássica necessita ser especificada com base
na carga requerida para o resfriamento e disponibilidade de energia para o
deslocamento dessas substâncias.

143
UNIDADE 2 | APLICAÇÕES EM REFRIGERAÇÃO

Nesse sentido, o uso de placas de orifício torna-se imprescindível para


a medição de vazão, cujo princípio baseia-se na mudança de área disponível
ao escoamento, o que provoca uma alteração de energia cinética em energia de
pressão e vice-versa. Para compreender como isso é feito, observe a Figura 16.

FIGURA 16 – REPRESENTAÇÃO DA FUNCIONALIDADE DA PLACA DE ORIFÍCIO

FONTE: Os autores

A Figura 16 mostra uma tubulação cilíndrica com diâmetro DT no


interior do qual escoa um fluido da esquerda para a direita. Logo na seção de
entrada do fluido há a conexão de um braço do manômetro e na região central
do duto há uma placa de orifício que restringe o diâmetro por onde o fluido
escoa, denominado por Do. Imediatamente, após essa placa, o outro braço
do manômetro é então conectado, gerando um desnível sofrido pelo fluido
manométrico e de altura “h” entre essas duas regiões.

DICAS

Existe uma diversidade de dispositivos que são úteis para a determinação da


vazão volumétrica de um determinado processo, tais como bocal e tubo venturi. A escolha
do equipamento depende da disponibilidade de recursos financeiros para a aquisição
do aparato experimental bem como da precisão requerida. Para você compreender
como utilizá-los, verifique o roteiro disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.
php/4435504/mod_resource/content/1/Experiencia_Medidores_de_Vazao.pdf.

A Figura 16 apresenta um aspecto importante para a descrição do


escoamento em questão, que se refere ao desnível observado no manômetro. Note
que no lado esquerdo do manômetro o fluido se encontra em um nível inferior
ao lado direito, isso se deve pela conversão das energias do sistema, sendo que
na região de maior diâmetro tem-se uma energia cinética inferior à energia de

144
TÓPICO 3 | ESTUDOS DE CASO E EXPERIMENTAÇÃO EM REFRIGERAÇÃO

pressão, ao passo que com a constrição de área, provocada pela presença da placa
de orifício (Figura 17), verifica-se a ocorrência de um aumento na velocidade do
fluido em detrimento de uma queda de pressão. Esse fenômeno é descrito pela lei
de energia de Bernoulli, que ao manipular a expressão matemática em favor da
vazão volumétrica obtemos a Equação 58.

π DT2 2 g ( ρ m − ρ ) β
4
Q= h (Equação 58)
4 ρ (1 − β 4 )

Com:

Do
β= (Equação 59)
DT

Em que:

Q ≡ vazão volumétrica (m³/s);


DT ≡ diâmetro da tubulação (m);
Do ≡ diâmetro da restrição (m);
g ≡ aceleração da gravidade (m/s²);
ρ ≡ massa específica do fluido de escoamento (kg/m³);
ρm ≡ massa específica do fluido manométrico (kg/m³);
h ≡ desnível no manômetro (m).

FIGURA 17 – EXEMPLO DE PLACA DE ORIFÍCIO

FONTE: <https://image.shutterstock.com/image-photo/orifice-plate-use-differential-pressure-
600w-1162693684.jpg>. Acesso em: 25 out. 2019.

A Equação 58, como já mencionado, foi obtida a partir da lei de escoamento


ideal de fluidos, onde se despreza a perda de carga, que no caso equivale a
ausência de forças viscosas promotoras do atrito entre a parede da tubulação e
o fluido. Para corrigir essa idealização, insere-se o termo coeficiente de descarga
da placa de orifício, CD,p, que traduz o efeito da proporcionalidade entre a vazão
volumétrica com o desnível observado pelo fluido manométrico no medidor de
pressão, Equação 60.
145
UNIDADE 2 | APLICAÇÕES EM REFRIGERAÇÃO

π DT2 2 g ( ρ m − ρ ) β
4
Q = CD , p h (Equação 60)
4 ρ (1 − β 4 )

E
IMPORTANT

A Equação 60 pode ser usada para escoamento de líquidos sem a necessidade


de algum ajuste, visto que esses fluidos são incompressíveis e suas propriedades termofísicas
são dependentes apenas da temperatura. No entanto, caso o escoamento seja de um fluido
gasoso a baixa pressão e elevada, requer-se o uso da equação de gás ideal para escrever a
massa específica do fluido em função da pressão.

• Objetivo: determinar o coeficiente de descarga de uma placa de orifício a partir


do escoamento de ar em uma tubulação.
• Materiais utilizados: para a realização dessa prática são necessários os
materiais listados a seguir:
◦ Rotâmetro similar ao da figura 25.
◦ Manômetro de tubo em U preenchido com água.
◦ Soprador.
◦ Tubulação com diâmetro conhecido.
◦ Placa de orifício com diâmetro inferior ao diâmetro da tubulação.
◦ Termômetro.

FIGURA 18 – ROTÂMETRO INDICADO PARA O EXPERIMENTO DE PLACA DE ORIFÍCIO

FONTE: <https://image.shutterstock.com/image-photo/measuring-device-intensive-care-unit-
600w-670122409.jp>. Acesso em: 25 out. 2019.

146
TÓPICO 3 | ESTUDOS DE CASO E EXPERIMENTAÇÃO EM REFRIGERAÇÃO

• Procedimentos:
1- Instalar a placa de orifício na tubulação.
2- Conectar os braços do manômetro em seções similares a apresentadas na
Figura 18, ou seja, em uma região próxima à entrada da tubulação e outra
após a placa de orifício.
3- Acionar o soprador com seu by-pass aberto.
4- Alterar as vazões volumétricas a partir do fechamento progressivo da linha
by-pass, anotando após cada alteração a leitura feita pelo rotâmetro.
5- Para cada modificação na vazão, registrar o desnível de fluido manométrico
observado no medidor de pressão.
6- Medir a temperatura de entrada e saída do ar.
7- Repetir os passos 4 a 6 por oito vezes e registrar os valores obtidos na Tabela 6.

TABELA 6 – DADOS COLETADOS NO EXPERIMENTO DE PLACA DE ORIFÍCIO

Teste 1 2 3 4 5 6 7 8
Vazão (m³/s)
Desnível (m)
Temperatura (°C)*
* Anotar a média de temperatura lida nas seções a jusante e montante da placa de orifício.
FONTE: Os autores

3.2 DETERMINAÇÃO DAS VARIÁVEIS TÉRMICAS DE UM


CONDENSADOR E SEUS EFEITOS
Os dispositivos onde ocorre a troca térmica entre dois ou mais fluidos,
misturados ou não, são denominados por trocadores de calor, que surgiram
20.000 a.C. para o cozimento de alimentos a partir do calor de mudança de fase.
Atualmente, são encontrados nas instalações de sistemas de condicionamento de
ar, plantas de geração de trabalho elétrico, nas indústrias químicas, farmacêuticas,
alimentícias e em circuitos de refrigeração, auxiliando na separação de
componentes, no aumento de rendimento em reatores químicos e na promoção
de conforto térmico (KERN, 1987).

De forma geral, esses dispositivos são classificados de acordo com o tipo de


transferência de calor envolvido, modo de construção, configuração do escoamento,
aplicação e número de fases ou fluidos. Todos esses fatores afetam a transferência
de calor entre os corpos e refletem no cálculo do coeficiente global de transferência
de calor, que para o caso de condensadores é expresso pela Equação 63.

q
U= (Equação 63)
A∆TLn

Com:
147
UNIDADE 2 | APLICAÇÕES EM REFRIGERAÇÃO

=q m f c f (T3 − T2 ) (Equação 64)

(T1 − T2 ) − (T1 − T3 )
∆TLN = (Equação 65)
T −T 
ln  1 2 
 T1 − T3 

Em que:

mf ≡ taxa mássica do fluido frio (kg/s);


cf ≡ calor específico médio do fluido frio (J/kg.K);
U ≡ coeficiente global de troca térmica (W/m².K);
q ≡ taxa de transferência de calor (W);
A ≡ área de troca térmica (m²);
T3 ≡ temperatura de saída do fluido frio no trocador de calor (K);
T2 ≡ temperatura de entrada do fluido frio no trocador de calor (K);
T1 ≡ temperatura de saturação no evaporador (K).

Devido à presença de resistências condutivas, convectivas e de incrustação


para a transferência de calor, além da própria capacidade do fluido em armazenar
energia na forma de energia interna, não é possível transferir todo o calor
disponível de um fluido para o outro. Esse fato conduziu para a definição da
eficiência de um condensador, que relaciona a taxa de transferência observada e
a máxima permuta energia que seria possível de ser alcançada, conhecida como
efetividade, Equação 66.

qreal
ε= (Equação 66)
qmáximo

Com:

qreal T −T
= 3 2 (Equação 67)
qmáximo T1 − T2

Em que:

ε ≡ efetividade (-);
qreal ≡ taxa real de transferência de calor (W);
qmáximo ≡ transferência de calor máxima (W).

148
TÓPICO 3 | ESTUDOS DE CASO E EXPERIMENTAÇÃO EM REFRIGERAÇÃO

DICAS

Um outro trocador de calor muito utilizado em aplicações industriais é


do tipo placas. Selecionamos um vídeo para que você assista a ele como deveria ser o
seu procedimento experimental, no link disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=K4qeFshMYu8.

• Objetivo: calcular a diferença média logarítmica de temperatura e o coeficiente


global de transferência de calor em um condensador do tipo carcaça e tubos.
Além disso, propõe-se verificar a dependência da troca térmica com a vazão
e do coeficiente global com o número de Reynolds, que refletirá os efeitos de
turbulência sobre a troca energética.
• Materiais utilizados: para a realização dessa prática é necessário utilizar um
trocador de calor casco e tubo do tipo “Hilton steam to water heat exchanger”,
composto pelo sistema apresentado a seguir.
◦ Câmara de vapor provida de tubos de cobre, distribuidores capazes de
realizar o escoamento nos dutos por 1, 2 ou 4 passes e pontos para a coleta
de temperatura do fluido frio na entrada e saída do condensador.
◦ Elemento de aquecimento: o fluido quente é evaporado por meio de uma
resistência térmica.
◦ Controlador de fornecimento de calor: a corrente elétrica pode ser alterada
por um controle manual.
◦ Bomba de circulação.
◦ Desareador.
◦ Aparelho de instrumentação de temperatura.
• Procedimentos: tendo disponível o condensador casco e tubo Hilton, necessita-
se seguir os seguintes passos para a execução da prática proposta:
1- Com o trocador de calor ajustado para 4 passes no tubo e 1 passe na carcaça,
ajustar a vazão volumétrica (Q) para 60 mL/s.
2- Ajustar o aquecimento para garantir a temperatura do condensador em 100 °C.
3- Garantir que só há vapor de água no sistema, caso verifique a presença de ar
na linha, realize a purga abrindo a válvula de alívio.
4- Registrar a temperatura de entrada e saída do fluido do frio.
5- Ajustar a vazão volumétrica para 50 mL/s e aguardar a estabilização do
circuito, recomenda-se esperar 5 minutos após essa modificação, mas esse
tempo pode variar devido a presença de perturbações, então orienta-se
medir as temperaturas de entrada e de saída do condensador, que precisam
ser equivalentes a 100 °C.
6- Repetir os passos “3” e “4”.
7- Alterar a vazão para, sequencialmente, 40 e 30 mL/s, efetuando os passos
“5” e “6”.
8- Repetir todos os sete passos supracitados para uma configuração de 2 passes
no tubo e 1 passe na carcaça.

149
UNIDADE 2 | APLICAÇÕES EM REFRIGERAÇÃO

9- Coletar em apêndices de livros de termodinâmica, trocadores de calor ou


sites o calor específico a pressão constante, viscosidade dinâmica e massa
específica da água para a faixa de temperatura estudada.

Para efeito de exemplificação, na Tabela 7 são propostos alguns possíveis


resultados para o procedimento descrito.

TABELA 7 – POSSÍVEIS RESULTADOS PARA OS DADOS FORNECIDOS

Número de passes Q (mL/s) T1 (°C)* T2 (°C) T3 (°C)


4 60 100 76 84,1
4 50 100 72,2 83,5
4 40 100 73 84,5
4 30 100 69,7 84,6
2 60 100 78,5 88,3
2 50 100 77,6 88,2
2 40 100 73,8 86,6
2 30 100 69,1 85,6
*A temperatura no condensador pode oscilar devido à incerteza associada ao equipamento. Para
efeitos de simplificação, todos os valores aqui apresentados serão iguais ao setpoint desejado, ou
seja, equivalentes a 100°C.
FONTE: Os autores

150
TÓPICO 3 | ESTUDOS DE CASO E EXPERIMENTAÇÃO EM REFRIGERAÇÃO

LEITURA COMPLEMENTAR

A INDÚSTRIA ALIMENTÍCIA E A REFRIGERAÇÃO

Roberta Provatti

A indústria alimentícia, de maneira geral, tem muito a comemorar. Hoje


o Brasil disputa a liderança nas exportações de diversos produtos, tais como
carne bovina, suína, frango congelado, frutas e sucos. Esse impulso nas vendas
externas serviu para alavancar o desenvolvimento de toda a cadeia logística
e de suprimentos e, por consequência, a indústria de refrigeração voltada ao
mercado de alimentos.

O esforço visando a aumentar as exportações representou a grande mola


propulsora. No entanto, o mercado interno também deu sua contribuição, uma
vez que o processador ou fornecedor está mais atento aos anseios, exigências
e à conscientização do consumidor. Basta verificar as ações do Procon, Idec,
associações como ABTF, Abrava, IBF, Abras, Apas, Abia, Ibraf, ABNT e agências
como Anvisa ou Vigilância Sanitária, analisa Lincon de Camargo Neves Filho,
presidente Instituto Brasileiro do Frio, IBF, e professor da Faculdade de Engenharia
de Alimentos da Unicamp, Universidade de Campinas.

Segundo Lincon Neves Filho, do ponto de vista da indústria alimentícia,


perder é deixar de ganhar. Não adianta aumentar a produção se a cadeia logística
leva ao desperdício. A adequação da refrigeração é fundamental nesse ponto,
para garantir que o produto chegue ao consumidor final com a qualidade e o
aspecto desejáveis, argumenta.

O Brasil é atualmente um dos maiores exportadores de carnes e para isso


teve que buscar o desenvolvimento em termos de tecnologia para atender às duras
exigências de mercados externos. O resultado disso está nos dados da Associação
Brasileira da Indústria de carnes (Abiec) que mostram que a receita cambial
das exportações de carnes brasileiras no mês de abril foi de US$ 184 milhões, o
que representa um crescimento de 65% em comparação com o mesmo período
de 2003. Em volume, o crescimento foi de 25%. Assim sendo, a refrigeração
passou a ser um setor estratégico que complementa a logística. Não adiantaria
desenvolvermos uma ótima logística, com a refrigeração deixando a desejar.
Temos que ter um eficiente controle de temperatura de câmaras, antecâmara
dos baús dos caminhões, sempre respeitando a cadeia do frio, afirma Alexandre
Gennari, auditor de Estoque da Maxi Meat, empresa de cortes especiais de carnes,
peixes e também fornecimento de vegetais. Com a marca Maxi Meat, a companhia
está há cerca de 20 anos no mercado e, atualmente, inicia o processo visando
exportações. Segundo ele, a empresa tem realizado constantes investimentos em
instalações, em câmaras de grande porte para resfriados, congelados e secos, e em
uma antecâmara também de grande porte que permite a separação de pedido e
em seguida o carregamento dos carros sem a perda de frio.

151
UNIDADE 2 | APLICAÇÕES EM REFRIGERAÇÃO

Gennari acredita que a indústria de carnes congeladas está preparada para


atender as novas exigências de mercados externos, assim como as do interno,
uma vez que o Brasil conta com equipamentos de qualidade e grande capacidade
de automação.

Outro setor que merece destaque é o de carne de frango congelada, que


atingiu o maior crescimento nas exportações entre 2000 e 2001. Segundo José
Augusto Castro Chagas, gerente de Engenharia da York Refrigeração, nessa
época as indústrias alimentícias buscaram aumentar suas instalações, tanto em
tamanho, quanto em capacidade de refrigeração.

Pudemos perceber, como foi o caso dos produtores de frango congelado,


que quem aumentou as vendas externas passou a preocupar-se mais com a
qualidade e com maiores avanços tecnológicos, analisa o engenheiro. José Chagas
afirma que a tecnologia em refrigeração avança mais rapidamente no exterior.
O Brasil absorve essas novidades e aplica internamente conforme a demanda,
diz. Falar sobre as necessidades da indústria alimentícia como um todo é assunto
muito amplo. No que diz respeito à refrigeração, cada tipo de alimento tem
características próprias a serem mantidas e, assim, necessidades de diferentes
tipos de equipamentos de refrigeração.

Só no ramo de frutas, por exemplo, as necessidades entre cada espécie são


diferenciadas, como explica o gerente de Vendas da Dânica Wanderley Martins Filho.

O grande atrativo de maçãs, por exemplo, além da qualidade, é o visual


da fruta, o que exige, além do controle da temperatura da armazenagem (entre +1
e +2 ºC), o controle de umidade e do nível do oxigênio. Já produtos como o suco
de laranja concentrado e congelado, FCOJ (Frozen Concentrated Orange Juice) –
demanda outro tipo de cuidados, explica.

A exportação de sucos

O Brasil é o maior produtor e maior exportador mundial de FCOJ e o


estado de São Paulo responde por cerca de 95% da produção que o País exporta.

Segundo o engenheiro de Alimentos Paulo Celso Biasioli, diretor Industrial


da Sucorrico, empresa brasileira estabelecida em 1996 em Araras, interior de
São Paulo, com capacidade de produzir 48 mil toneladas de suco de laranja
concentrado por estação, o produto é conservado quase que exclusivamente por
meio de congelamento, sendo baixo o uso de preservantes para isso.

Biasioli conta que, em meados dos anos 60, quando a produção brasileira
de sucos congelados começou a ganhar relevância, as primeiras indústrias de
porte investiram em sistemas de refrigeração, principalmente em câmaras frias
para estocagem do produto embalado em tambores metálicos de 200 litros,
protegidos por sacos plásticos devidamente lacrados e que desta forma eram
exportados. Com o crescimento da demanda externa, o Brasil passou a investir

152
TÓPICO 3 | ESTUDOS DE CASO E EXPERIMENTAÇÃO EM REFRIGERAÇÃO

na estocagem, nas unidades fabris e nos portos. Ainda assim, com o aumento do
volume, a manipulação dos tambores complicava a logística, além da questão
do descarte das embalagens na ponta do comprador. A solução apresentou-se
por volta da década de 80, com a estocagem a granel (bulk-storage). Passaram a
ser usados grandes tanques de aço chamados tank farms de capacidade variável,
construídos dentro de grandes câmaras frias e mantidos a uma temperatura em
torno de -12°C até o momento do embarque.

Hoje a movimentação de FCOJ por sistema bulk, representa cerca de


90% do volume total exportado pelo Brasil, afirma o diretor da Sucorrico. Paulo
Biasioli também mencionou a evolução na cadeia produtiva dos Sucos Não
Concentrados de Laranja, os chamados NFC (Not From Concentrate), que por não
serem concentrados exigem rigoroso controle das condições de armazenagem.
Inicialmente, foram realizadas exportações de NFC em blocos congelados em
tambores, mas este processo se mostrou oneroso e de difícil manipulação. O
sistema a granel de transporte e distribuição facilitou a operação e gerou custos
compatíveis, o que possibilitou o crescimento da demanda, principalmente na
Europa, constata.

O engenheiro afirma que, para se ter uma ideia da importância da geração


de frio na indústria cítrica, aproximadamente 20% da capacidade elétrica instalada
destina-se à área de refrigeração.

Com isso, a utilização de sistemas de supervisão de última geração,


instrumentações e modernos acessórios de linha, são crescentes no setor. Projetos
bem elaborados, o uso de controladores de demanda elétrica, de geradores
econômicos e eficientes, tudo isso operado por profissionais bem treinados, são
itens para economia e eficiência, complementa.

Há cerca de três anos, o Brasil deparou-se com uma crise no setor de


fornecimento de energia elétrica. As ameaças de apagão fizeram com que
momentaneamente as indústrias estancassem investimentos em sistemas que
pudessem aumentar o consumo de energia elétrica.

No caso da indústria de alimentos congelados, o consumo de energia


elétrica não se trata de conforto. É fator fundamental e se reflete diretamente na
qualidade da mercadoria e na produtividade. Coube, então, aos fornecedores de
equipamentos de refrigeração trabalharem alternativas de baixo consumo e alta
eficácia, tanto no caso de altas como de baixas temperaturas, analisa José Augusto
Chagas, da York. Lincon Neves Filho diz que o problema, no futuro, não será uma
questão de aumento do preço da energia elétrica, e sim da disponibilidade. Há
que se preparar, através de análises ou estudos, para a conservação e recuperação
de energia, acredita. Wanderley Martins Filho, da Dânica, diz que a fase do
apagão foi momentânea, mas concorda com a afirmação de que a indústria da
refrigeração deve procurar cada vez mais desenvolver equipamentos de maior
eficácia e menor consumo de energia. E nesse ponto todos são da mesma opinião:
o Brasil está preparado tecnologicamente para avançar em termos de refrigeração.

153
UNIDADE 2 | APLICAÇÕES EM REFRIGERAÇÃO

Wanderley Martins Filho diz que em termos de tecnologia, o Brasil não fica
devendo ao restante do mundo. A indústria de refrigeração brasileira adquiriu
muitos conhecimentos na Europa, Estados Unidos, além do que foi desenvolvido
no próprio país.

Acredito também que a mão de obra qualificada e a manutenção constante


de equipamentos venham garantir o sucesso dos investimentos. Segundo ele, a
indústria de refrigeração não se desenvolve tão rapidamente como a informática,
por exemplo, mas demanda treinamento constante de profissionais nas novas
tecnologias e produtos.

José Chagas completa: com o advento de empresas globais, a tecnologia


chega ao Brasil da mesma forma como que no restante do mundo, mesmo que nem
tudo seja aplicado nas indústrias do País, em função de maior ou menor demanda.

O professor da Unicamp reforça que há no mercado equipamentos


eficientes e de excelente tecnologia. O que falta é a disposição para enfrentar a
cultura do imediatismo que, por diversos motivos, se sobrepõe em detrimento de
resultados a médio e curto prazo. Isto envolve desde o conceito do projeto até a
manutenção.

Ele também aponta como um dos entraves ao desenvolvimento da


indústria de refrigeração a falta de recursos disponíveis e, por ser uma área
estratégia, o investimento deveria ser facilitado por meio de linhas de crédito,
alíquotas e prazo de pagamento adequados. O diretor da Sucorrico, Paulo
Biasioli, diz que a expectativa da indústria alimentícia é que haja uma evolução
contínua nos equipamentos de resfriamento para garantir maior economia de
energia, redução do nível de ruídos, segurança operacional, redução de custos de
manutenção e constantes atualizações de controles supervisórios. Dessa forma,
o Brasil conseguirá aprimorar as relações comerciais externas e continuar em
posição de destaque mundial no fornecimento de alimentos congelados, finaliza.

FONTE: <https://cienciadoleite.com.br/noticia/2752/a-industria-alimenticia-e-a-refrigeracao>.
Acesso em: 18 abr. 2019.

154
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• Na prática de ciclo de potência foi possível utilizar os conceitos aprendidos sobre


a geração de trabalho para o cálculo da eficiência do processo, representação e
interpretação gráfica da segunda lei da termodinâmica.

• Na prática de otimização de ciclo de refrigeração pode-se verificar a influência


positiva de um ciclo multiestágio sobre o coeficiente de performance do
sistema, além de propor a investigação sobre os parâmetros que poderiam ser
alterados para aprimorar ainda mais a eficiência do processo.

• Na prática de implementação computacional de ciclos termodinâmicos foi


possível conhecer uma ferramenta computacional muito útil para a simulação
de operações unitárias, além de realizar o estudo paramétrico de um ciclo de
Carnot reverso de forma rápida e com resultados confiáveis.

• Na prática de determinação de coeficiente de descarga para uma placa de


orifício pode-se determinar a relação entre a vazão volumétrica real observada
no escoamento de um fluido numa tubulação e a vazão volumétrica ideal,
estimada pela equação de Bernoulli.

• Na prática de determinação das variáveis térmicas de um condensador e seus


efeitos pode-se determinar o coeficiente global de transferência de calor e a
interferência da vazão volumétrica sobre a troca térmica em um condensador
do tipo casco e tubo.

CHAMADA

Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem


pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao
AVA, e veja as novidades que preparamos para teu estudo.

155
AUTOATIVIDADE

1 Qual é a correlação adequada para a massa específica e a viscosidade


dinâmica da água em relação a temperatura?

2 Qual é a equação que relaciona a capacidade calorífica a pressão constante


da água e a temperatura?

3 Quais são os valores médios para as propriedades termofísicas (massa


específica – ρ e cf) e de transporte (viscosidade dinâmica - µ) que preenchem
a tabela e suportam os cálculos dessa prática?

PROPRIEDADES NECESSÁRIAS PARA O DESENVOLVIMENTO DA PRÁTICA PROPOSTA

T2 (°C) T3 (°C) ρ (kg/m³) cf (J/kg.K) µ (Pa.s)


76 84,1
72,2 83,5
73 84,5
69,7 84,6
78,5 88,3
77,6 88,2
73,8 86,6
69,1 85,6

FONTE: Os autores

4 Ao utilizar as equações listadas na contextualização dessa prática, quais são


os valores da diferença média de temperatura, taxa de transferência de calor
e do coeficiente global de troca térmica que preenchem os dois quadros que
seguem? (Utilize uma área de seção transversal equivalente a 3,0.10-5 m²)

CÁLCULOS DE TRANSFERÊNCIA DE CALOR NO CONDENSADOR COM 4 PASSES

T1 (°C) T2 (°C) T3 (°C) ∆TLn (°C) Q (J/s) U (W/m²K)


100 76 84,1
100 72,2 83,5
100 73 84,5
100 69,7 84,6

FONTE: Os autores

156
CÁLCULOS DE TRANSFERÊNCIA DE CALOR NO CONDENSADOR COM 2 PASSES

T1 (°C) T2 (°C) T3 (°C) ∆TLn (°C) Q (J/s) U (W/m²K)


100 78,5 88,3
100 77,6 88,2
100 73,8 86,6
100 69,1 85,6

FONTE: Os autores

5 Qual é a expressão você usaria para determinar o número de Reynolds (Re)


de cada teste?

6 Qual é a relação obtida entre a troca de calor e a vazão volumétrica para o


conjunto de testes com 4 e 2 passes?

157
158
UNIDADE 3

SISTEMAS DE AR-CONDICIONADO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir desta unidade você será capaz de:

• caracterizar o tipo de condicionamento de ar em indústrias, comércios e


residências;

• calcular a carga térmica de um recinto conhecendo as especificidades de


uma dada aplicação;

• reconhecer os principais mecanismos para a realização da manutenção de


um ar-condicionado;

• apontar e quantificar quais são as fontes energéticas responsáveis pelo


aquecimento de um ambiente.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – AR-CONDICIONADO: CONFORTO E COMÉRCIO

TÓPICO 2 – INSTALAÇÕES ELÉTRICAS, MANUTENÇÃO E


SEGURANÇA

TÓPICO 3 – ESTUDOS DE CASO E EXPERIMENTAÇÃO

CHAMADA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos


em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá
melhor as informações.

159
160
UNIDADE 3
TÓPICO 1

AR-CONDICIONADO: CONFORTO E COMÉRCIO

1 INTRODUÇÃO
Desde os primórdios de sua existência o ser humano teve como
preocupação encontrar alternativas tecnológicas para garantir o seu conforto
térmico, uma vez que, por muitas vezes, este era decisivo para sua existência,
como se verifica em registros históricos à procura por abrigo em uma caverna a
fim de se proteger das intempéries do meio ambiente. Além disso, ao longo de
todo seu processo evolutivo, o organismo humano desenvolveu um complexo
e eficiente sistema termorregulador para proporcionar seu bem-estar térmico,
conceito que está diretamente relacionado ao balanço energético, que por sua vez
depende da intensidade de atuação do sistema biológico para manter o equilíbrio
térmico do corpo, ou seja, quanto mais intenso for o trabalho desse mecanismo
na manutenção da temperatura corpórea numa condição estável, maior será a
sensação de desconforto térmico (ARANTES, 2013).

Os primeiros estudos científicos relativos ao conforto térmico datam de


1845, quando Walter Bernan produziu sua obra intitulada por History and Art
of Warming and Ventilation Rooms and Buildings, nela, o referido autor menciona
que a concepção e a manutenção de ambientes climatizados artificialmente terão
fundamental importância na preservação da saúde e uma das garantias para
promover a longevidade humana, fatores que fazem sentido na nossa atualidade,
pois estamos enfrentando temperaturas cada vez mais elevadas, principalmente,
nos dias de verão, e invernos mais rigorosos (RUAS, 1999).

Em estudos desenvolvidos entre os anos de 1970 e 1990, foi definitivamente


comprovado que o conforto e equilíbrio térmico do corpo humano estão
intimamente relacionados, e que esta dependência sofre influência de fatores
pessoais (percepção, sensibilidade, peso, hábitos, rotina) e ambientais (umidade
relativa, temperatura, presença de ventos, altitude). Portanto, há locais
onde as condições ambientais por si só são favoráveis ao equilíbrio térmico,
proporcionando bem-estar e aumento na produtividade de um colaborador
numa atividade laboral, enquanto há outros ambientes que são adversos a este
equilíbrio provocando assim indisposição física devido às temperaturas extremas,
e um despertar para a necessidade de implantação de um sistema de refrigeração
artificial, ou seja, sistemas de condicionamento de ar (SILVA, 2010).

Sendo o Brasil um país cujo clima é predominantemente quente e úmido,


o tema conforto térmico requer uma atenção especial dada a sua importante
influência sobre a descrição das condições adequadas para a execução de um
161
UNIDADE 3 | SISTEMAS DE AR-CONDICIONADO

trabalho, seja ele realizado em um espaço amplo ou pequeno. Nesse aspecto,


convidamos você para conhecer os principais conceitos e seguir algumas
orientações para que seja capaz de fazer uma seleção acertada de um sistema
de ar-condicionado, assim como conhecer e refletir quais são os requisitos para
alcançar o conforto térmico.

2 SUGESTÃO PARA ESCOLHA DO SISTEMA


Nos dias atuais, existe uma grande demanda por edifícios e residências
inteligentes e sustentáveis, o que inevitavelmente tem gerado um aumento
significativo na procura de melhores soluções envolvendo o conforto térmico e
condicionamento de ar, representados por “um processo que visa ao controle
simultâneo, num ambiente delimitado, da pureza, umidade, temperatura, e
movimentação do ar. Ao contrário do que ocorre com a ventilação, não depende
das condições climáticas exteriores” (SANTOS et al., 2001, p. 274). Para um
bom projeto e escolha de sistemas térmicos é fundamental que o sistema de
ar-condicionado proporcione, simultaneamente, conforto térmico, eficiência
energética e economia de energia.

No entanto, para que se tenha estes objetivos atingidos requer-se a correta


seleção do tipo de equipamento de ar-condicionado a ser utilizado para uma
dada demanda, o que não é trivial, pois é necessário responder a uma série de
questionamentos, tais como:

• Quais são as dimensões do espaço que se deseja refrigerar?


• Qual é o comprimento do pé direito da construção?
• Qual é o número de portas abertas?
• Qual é o número de portas que passam a maior parte do dia fechadas?
• Qual é o número de janelas?
• Existe radiação solar na janela?
• Em que período se observa a incidência de raios solares e por quanto tempo
isso ocorre?
• As janelas são protegidas por uma cortina ou outro tipo de recurso?
• Qual é o número de pessoas que permanecem no local e por qual período se
observam um maior fluxo de passantes?
• Quais são as potências e números de equipamentos elétricos existentes no espaço?
• Qual é o tipo de revestimento utilizado no espaço?
• As lâmpadas utilizadas no espaço são do tipo fluorescente, fluorescente
compacta, vapor metálico ou incandescente?

Perceba que são inúmeras as variáveis envolvidas na seleção e no projeto


propriamente dito de instalação de um sistema de ar-condicionado, por isso
é comum optar pelo auxílio de um especialista para determinar a solução mais
adequada para uma dada situação do cliente. No entanto, lembre-se de que esta
escolha também é dependente das restrições orçamentárias do solicitante, assim é
necessário resolver a equação que relaciona o custo ao benefício de cada alternativa.

162
TÓPICO 1 | AR-CONDICIONADO: CONFORTO E COMÉRCIO

Não obstante, a identificação da eficiência energética e os fundamentos


de sustentabilidade do projeto não se esgotam nesta fase inicial, mas se estendem
para as fases de instalação e operação, pois se o projeto é bem feito e a instalação
é deficitária, tem-se uma operação que também será deficitária. Agora, se tanto o
projeto quanto a instalação tiverem sido bem executados, o usuário final deve ser
instruído a operar o sistema de forma correta no intuito de atingir as máximas do
projeto, ou seja, alta eficiência e sustentabilidade ambiental e financeira.

DICAS

Observe a temperatura em que o sistema de condicionamento de ar de sua


residência ou trabalho está ajustada. Certamente encontra-se numa temperatura programada
equivalente a 23 °C e isso não foi escolhido por acaso. Para compreender melhor o motivo
disso, leia o artigo Por que vale mais a pena deixar o ar-condicionado em 23 ºC do que em
temperaturas mais baixas, de Ana Karina Giacomelli, disponível no link: http://diariogaucho.
clicrbs.com.br/rs/dia-a-dia/ajuda/noticia/2017/01/por-que-vale-mais-a-pena-deixar-o-ar-
condicionado-em-23c-do-que-em-temperaturas-mais-baixas-9706170.html.

Entre as inúmeras opções de sistemas de ares-condicionados que podem


ser escolhidas para uma dada aplicação, limitaremos nosso estudo aos modelos
descritos por Creder (2004), denominados por:

• Tipo janela: indicado para ambientes menores, devido a sua baixa capacidade
de refrigeração quando comparada a outros modelos.
• Split Systems: recomendados para áreas inferiores a 70 m², tais como residências
e pequenas áreas comerciais.
• Selfs: recomendados para áreas maiores que 400 m², nelas incluem os bancos e
as indústrias.
• Cogeração: indicado para ambientes maiores que 500 m², como, por exemplo,
shoppings e supermercados, pois possui como um de seus principais atrativos
sua economia de energia.
• Sistemas evaporativos: indicados para locais em que há um fluxo intenso de
pessoas, como é a realidade de academias desportivas, aeroportos, restaurantes
e casas de show ou espetáculos.

Do exposto, verifica-se que os sistemas foram diferenciados, em termos


gerais, pelo tamanho do local a ser refrigerado e pelo número e intensidade do fluxo
de pessoas. Mas não são só essas variáveis que distinguem esses equipamentos,
você conseguiria de antemão listar outros aspectos? Vejamos no subtópico a seguir
se suas reflexões estão de acordo com as respostas para este questionamento.

163
UNIDADE 3 | SISTEMAS DE AR-CONDICIONADO

NOTA

Com a leitura desta unidade você perceberá que os sistemas de


condicionamento de ar apresentam determinadas especificidades que diferenciarão os
equipamentos entre si. Entretanto, é comum a presença dos seguintes componentes
em um ar-condicionado: (1) ventilador – força a passagem do ar pelo sistema a partir do
consumo de energia elétrica por um motor com duplo eixo, permitindo a conexão de
um lado com o ventilador do evaporador e doutro com o ventilador do condensador;
(2) grupo refrigerador – similar ao de uma geladeira, composto por um compressor,
evaporador e condensador; (3) termostato – mantém o ambiente na temperatura de set
point estabelecida pelo usuário através da interrupção do funcionamento do compressor
e manutenção do trabalho do ventilador, o que garante a circulação e renovação do ar.

2.1 TIPOS DE SISTEMAS DE AR-CONDICIONADO


Neste subtópico, serão apresentados alguns dos modelos mais comuns
de ares-condicionados encontrados no mercado. É importante mencionar que o
objetivo aqui não é descrever um guia completo sobre cada um dos modelos,
até porque inovações surgem dia após dia, mas visamos discorrer sobre as
principais características de cada um deles, sua recomendação de uso, vantagens
e desvantagens.

2.1.1 Ar-condicionado do tipo janela


O ar-condicionado do tipo janela consiste no modelo mais simples e
compacto de todos existentes, estando presente em inúmeras residências e
pequenos ambientes comerciais. Essa ampla utilização pode ser explicada por um
de seus principais atrativos, que consiste na sua fácil instalação, que é realizada
através de uma abertura na parede voltada para o ambiente externo. Além disso,
esse tipo de aparelho possui um baixo valor de aquisição quando comparado aos
modelos Split.

Você certamente já se deparou com um lugar que tem esse dispositivo


instalado, mas pode ter passado despercebido o motivo do seu tamanho
reduzido, para facilitar a sua recordação veja a ilustração desse sistema na Figura
1. Isso se deve ao fato de que a unidade condensadora e a unidade evaporadora
estão localizadas em um mesmo gabinete, no entanto esta característica faz com
que o aparelho seja recomendado para ambientes em que não há restrições de
ruídos, uma vez que sua compacidade produz um maior nível de ruído quando
comparado aos tradicionais modelos Splits.

164
TÓPICO 1 | AR-CONDICIONADO: CONFORTO E COMÉRCIO

FIGURA 1 – AR-CONDICIONADO DO TIPO JANELA

FONTE: <https://image.shutterstock.com/image-photo/old-styled-air-conditioner-on-
600w-1152073979.jpg>. Acesso em: 25 out. 2019.

O rendimento desses aparelhos é diretamente relacionado às trocas


térmicas que ele está sujeito, portanto, devido ao seu encapsulamento e a intensa
exposição à radiação solar, assim como às eventuais restrições de fluxo de ar, seu
rendimento pode ser afetado em até 30% (para menos), acarretando, assim, num
excessivo consumo de energia elétrica para que seja garantida a manutenção do
espaço refrigerado.

Encontrados com potências variando de 7.000 Btu/h a 30.000 Btu/h, esse


tipo de aparelho tem vida útil entre 10 e 15 anos, a depender das condições
térmicas do ambiente em que se encontra. Diante disso, resumimos as suas
principais vantagens e desvantagens no Quadro 1.

QUADRO 1 – AR-CONDICIONADO DO TIPO JANELA: VANTAGENS E DESVANTAGENS

Vantagens Desvantagens
Menor valor de aquisição. Nível de ruído considerável.
São aparelhos compactos. Restrição quanto alguns ambientes de instalação,
Fáceis de instalar. tais como edifícios.
Ideais para ambientes pequenos. Consumo de energia alto.

FONTE: Os autores

2.1.2 Ar-condicionado do tipo Split


O sistema de condicionamento de ar do tipo Split é composto,
essencialmente, por duas unidades: (1) unidade evaporadora e (2) condensadora,
sendo a primeira instalada no ambiente interno a ser refrigerado e a segunda
externamente. Ambas as unidades são conectadas por tubulações de cobre e
esta divisão (do inglês split) permitiu que este tipo de ar-condicionado ganhasse
preferência para a sua aplicação em residências, pois garantem um baixo nível de
ruído e alta eficiência energética.

165
UNIDADE 3 | SISTEMAS DE AR-CONDICIONADO

A unidade condensadora contém o compressor e o condensador do


circuito frigorígeno. Além disso, este conjunto possui um ventilador que sopra
o ar, horizontal ou verticalmente, para a condensação do fluido refrigerante. Já a
unidade evaporadora contém a válvula de expansão, o evaporador e um filtro de
ar, cujo aparato troca calor com o ar do ambiente que é arrastado pelo ventilador.

As variações dos tipos de unidades condensadoras são as responsáveis


pela diferenciação de cada um dos modelos Splits. Além disso, este tipo de ar-
condicionado também pode ser classificado de acordo com sua capacidade,
tamanho, ou quanto ao seu destino, isto é, se usados para fins residencial ou
comercial. Do exposto, serão apresentados os modelos mais comuns de Split,
reconhecidos como: Split Hi-wall, Split Cassete, Split Piso-teto e Split Built.

• Split Hi-Wall: encontrado principalmente em residências e em ambientes


comerciais de pequeno porte, o ar-condicionado do tipo Hi-Wall, além de dispor
de um design agradável a muitos consumidores, é um tipo de split que possui
uma configuração adequada para a sua instalação em paredes. Neste tipo de
sistema, as partes que provocam ruídos ficam instaladas no ambiente externo,
deixando no ambiente interno apenas a unidade evaporadora instalada na
parede, o que contribui para um baixíssimo nível de ruído na zona em que se
deseja o resfriamento. Chaves (2018) destaca que a opção split HI-Wall demanda
de um baixo consumo energético, isto porque seu sistema de compressão
é extremamente eficiente. A manutenção deste tipo de ar-condicionado é
relativamente simples e pode ser executada pelo usuário, conforme mostra
a Figura 2, pois envolve principalmente a limpeza do filtro de ar na unidade
evaporadora em face do acúmulo de pó, umidade ou resíduos nos componentes.

FIGURA 2 – ILUSTRAÇÃO DA LIMPEZA DE AR-CONDICIONADO TIPO SPLIT HI-WALL

FONTE: <https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/male-technician-cleaning-air-
conditioner-indoors-767061754>. Acesso em: 25 out. 2019.

De forma concisa, mas precisa, as vantagens e desvantagens deste modelo


são elencadas no Quadro 2.

166
TÓPICO 1 | AR-CONDICIONADO: CONFORTO E COMÉRCIO

QUADRO 2 – SPLIT HI-WALL VANTAGENS E DESVANTAGENS

Vantagens Desvantagens
Versatilidade, podendo ser aplicado na maior
parte das residências.
Baixo nível de ruído. Maior custo em relação a outros modelos.
Alta eficiência. Não é indicado para ambientes amplos.
Instalação ágil. Não é recomendado para espaços com grande
Fácil manutenção. fluxo de pessoas.
Baixo consumo de energia.
Design discreto.

FONTE: Os autores

A Figura 3 ilustra um ar-condicionado do tipo split HI-Wall em corte.


Como pode ser observado pela imagem, a unidade evaporativa tem como
função promover a sucção do ar quente do ambiente, que passa através de um
filtro, e devolver o ar frio refrigerado para o espaço a ser resfriado, e a unidade
condensadora é responsável pela realização da troca de calor.

FIGURA 3 – MODELO SPLIT HI-WALL

FONTE: <https://image.shutterstock.com/image-vector/room-air-conditioner-how-does-
600w-152015783.jpg>. Acesso em: 25 out. 2019.

DICAS

Percebeu a diferença entre ar-condicionado Split hi-wall e sistema Split? Para


um aprofundamento acerca da funcionalidade dos equipamentos envolvidos na opção
hi-wall, recomendamos que você assista ao vídeo em que é realizada uma abertura do
equipamento para melhor visualização de seus componentes internos, confira no link:
https://www.youtube.com/watch?v=oMJwtu8PA5Y.

167
UNIDADE 3 | SISTEMAS DE AR-CONDICIONADO

• Split Cassete: representado pela Figura 4, é um tipo de ar-condicionado


indicado para ambientes residenciais e comerciais de médio porte, tais como
universidades, bancos, salões de festas, escritórios etc. As principais vantagens
deste tipo de split são: unidade evaporadora embutida ao teto do espaço
composta por até quatro saídas para o ar refrigerado, permitindo o controle
individual do fluxo de ar em cada delas, e unidade condensadora instalada na
parte externa do ambiente.

FIGURA 4 - MODELO SPLIT CASSETE

FONTE: <https://image.shutterstock.com/image-photo/ceiling-mounted-cassette-type-air-
600w-612682172.jpg>. Acesso em: 25 out. 2019.

O principal ponto positivo desses dispositivos refere-se aos seus designs


modernos e minimalistas, porém isso encarece o produto, além de não ser atrativo
para ambientes com pequeno número de pessoas, já que haveria um resfriamento
além do necessário.

• Split do tipo piso teto: consiste em um robusto sistema de ar-condicionado


split que possui uma elevada capacidade de refrigeração combinada a um
eficiente consumo energético. Como nos demais casos de ar-condicionado
split, ele é composto pela seção evaporadora e outra condensadora, mas
difere-se pela sua versatilidade com que a instalação pode ser realizada,
sendo possível optar pela posição horizontal ou vertical, promovendo, então,
a integração do projeto de refrigeração ao arquitetônico, o que favorece um
melhor aproveitamento do espaço interno e otimiza o tráfego de pessoas
e objetos. Deve-se lembrar de que esses equipamentos são indicados para
atender às demandas de ambientes residenciais amplos ou comerciais de
pequeno porte, com potências que variam de 18.000 e 80.000 Btu/h. Ademais,
como em qualquer processo, a manutenção preventiva e periódica se mostra
como uma aliada para o seu funcionamento adequado, observando algumas
necessidades, consistências e checagens, por exemplo:
◦ Determinação da quantidade de fluido refrigerante operante.
◦ Realização de testes de vazamento de gases refrigerante.
◦ Medição do fluxo de ar através da bobina do evaporador. 
◦ Verificação da sequência de controle elétrico.
◦ Inspeção de terminais elétricos.

168
TÓPICO 1 | AR-CONDICIONADO: CONFORTO E COMÉRCIO

• Split do tipo Built: indicado para ambientes em que existam diferentes áreas
que devem ser climatizadas em condições térmicas semelhantes, ou seja,
aplicados para uma ampla área com climatização uniforme, como é o caso
de uma clínica em que se tem salas separadas por poucas divisórias, casas de
show ou escritórios de coworking, como mostra a Figura 5.

FIGURA 5 – EXEMPLO DE LOCAL PARA O USO DE AR-CONDICIONADO SPLIT BUILD

FONTE: <https://image.shutterstock.com/image-illustration/side-view-white-black-open-
600w-670450231.jpg>. Acesso em: 25 out. 2019.

A unidade condensadora é localizada na parte interna do espaço a ser


refrigerado e pode ser instalada em locais com constituição de gesso e forro rebaixado
para atender a uma demanda de 18.000 e 60.000 btu/h. Apesar desses benefícios,
sua manutenção é mais trabalhosa quando comparada aos outros modelos Split e
envolve os procedimentos: limpeza do condensador e dos gabinetes, checagem dos
drenos para a detecção de entupimentos ou amassamentos, verificação de fiação
para evitar deterioração da parte elétrica, entre outros.

2.1.3 Selfs contained


Você já deve ter notado que existe uma enorme variedade de modelos
de ar-condicionado split, que são diferenciados por suas estruturas, funções e
especificações técnicas. No entanto, existem outras opções para arrefecimento
de grandes ambientes, isto é, áreas superiores a 400 m², tais como shoppings e
indústrias, como é o caso do modelo Self contained. Apesar deste aparelho ser
desconhecido pela maioria das pessoas, ele reúne inúmeras características que
promovem uma surpreendente eficácia, isso graças a existência de três unidades
compressoras, sendo que em cada circuito existe uma unidade condensadora a
ar ou a água, um evaporador, um compressor, um filtro secador, um visor de
líquido, uma válvula de expansão, um distribuidor de líquido, válvulas de serviço
e pressostatos de alta e baixa (OLIVEIRA; MARTINS, 2014).

169
UNIDADE 3 | SISTEMAS DE AR-CONDICIONADO

DICAS

O pressostato protege os dispositivos de sistema de condicionamento de ar no


intuito de evitar possíveis sobrepressões ou subpressões ocorridas durante o funcionamento
do sistema. “Também tem a função de verificar a pressão do óleo em compressores semi-
herméticos” (LUMERTZ, 2017, s. p.). Confira o funcionamento desse importante aparelho no
vídeo disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=m2m1DhuDU2s.

A escolha do condensador do tipo ar ou água é feita considerando-se a


necessidade de refrigeração, então para os casos em que as instalações exijam
até 14 toneladas de refrigeração (TR), faz-se a opção pelo uso de máquinas com
condensadores a ar, caso contrário deve-se optar pelo tipo água, o que requer a
instalação de torres de arrefecimento contendo bombas e tubulações hidráulicas,
que oneram a instalação em aproximadamente 30% (CREDER, 2004). O Quadro 3
lista as principais vantagens e desvantagens deste tipo de aparelho.

QUADRO 3 - SELFS: VANTAGENS E DESVANTAGENS

Vantagens Desvantagens
Alta potência e durabilidade. Unidades externas com 165 a 1060 kg.
Filtros de ar lavável e fácil de limpar. Instalação mais trabalhosa quando comparada
Ideal para refrigerar grandes espaços. aos Splits.
Estrutura apropriada para manutenção A condensação feita com água exige água em
preventiva ou corretiva. abundância e de boa qualidade.

FONTE: <http://www.splitrefrigeracao.com.br/blog/o-que-e-ar-condicionado-self-contained.html>.
Acesso em: 20 abr. 2019.

2.1.4 Cogeração
Segundo definição dada por Public Utilities and Regulatory Policies Act
(PURPA), cogeração é o termo utilizado para especificar a produção combinada
de trabalho ou energia elétrica e energia térmica útil (calor ou frio) a partir do
uso sequencial de energia decorrente do consumo de um combustível. Sistemas
que trabalham com este tipo de processo podem atingir expressivos rendimentos
energéticos globais, da ordem de 75 a 90% e, por isso, são caracterizados como
sistemas de alta eficiência, cujo módulo é dependente do fator de utilização de
energia, que por sua vez é expresso pelo produto entre a massa de combustível e
o poder calorífico inferior (BARJA, 2006).

A cogeração é conhecida desde o início do século XX como sendo um meio


descentralizado de produção de energia térmica e elétrica, cuja utilização ganhou
destaque a partir do ano 1980, impulsionada pela tendência de desregulamentação

170
TÓPICO 1 | AR-CONDICIONADO: CONFORTO E COMÉRCIO

da indústria elétrica por alguns países e adoção de políticas visando ao


racionamento de energia elétrica e a priorização de técnicas que minimizassem
os impactos ambientais negativos, provocados principalmente pelo uso de
combustíveis fósseis para o funcionamento de maquinários (MOREIRA, 2019).

Os processos de cogeração têm grande importância na indústria do frio,


como descreve Creder (2004, p. 84):

Para grandes áreas (shoppings, supermercados ou áreas de grande


público) pode ser indicado o sistema de cogeração, que utiliza o gás
natural. Este sistema pode trazer economia de energia elétrica, um
dos grandes problemas atuais da humanidade. Existem instalações
utilizando o gás natural com o sistema de absorção, usando compressores
tipo parafuso, com resultados satisfatórios em relação à economia de
energia elétrica e à ecologia (o gás natural não· é poluidor).

DICAS

A fim de ampliar os horizontes sobre os sistemas de cogeração na indústria do


frio, recomendamos a leitura da tese de Antônio Garrido Gallego, intitulada por Sistemas
de refrigeração a partir da cogeração-análise e simulação de propostas para o caso de
cervejarias utilizando gás natural. Nesse estudo complementar, registre os pontos acerca
do princípio de funcionamento, as principais vantagens em utilizar esse sistema e
verifique se você consegue propor alguma melhoria com base nos seus conhecimentos
até então adquiridos. Disponível no link: https://www.unimep.br/phpg/bibdig/pdfs/
docs/25052012_140706_antonio_garrido_gallego.pdf.

2.1.5 Sistemas evaporativos


O resfriamento evaporativo consiste em um processo que utiliza a
evaporação da água (calor latente) para promover a queda de temperatura de
uma corrente gasosa, por assim ser caracterizado, os fluidos de trabalho são o ar
e a água. Esta técnica é relativamente simples, além de possuir diversos atrativos,
tais como o baixo consumo de energia elétrica, a facilidade de manutenção,
instalação e de operação, e, ainda, a não utilização de gases agressivos ao meio
ambiente e comuns em sistemas de refrigeração, como é o caso do CFC e HFC. No
entanto, mesmo com todas essas vantagens, este tipo de sistema ainda é pouco
empregado no Brasil, sendo utilizado principalmente em locais onde exista um
grande fluxo de pessoas, tais como shoppings, aeroportos e restaurante, pois
seu funcionamento baseia-se na renovação total do ar, o que proporciona a
eliminação da proliferação de fungos e bactérias, problemas estes comuns nos
sistemas convencionais de ar-condicionado devido a recirculação do ar no espaço
refrigerado (CAMARGO, 2003).

171
UNIDADE 3 | SISTEMAS DE AR-CONDICIONADO

Essencialmente, esse tipo de sistema é aplicado a dois tipos equipamentos


evaporadores: refrigeração direta e indireta. Na opção direta, há o resfriamento
da corrente de ar pelo seu contato direto com uma superfície líquida, ou através
de uma superfície sólida úmida, ou ainda pela pulverização de líquido por um
spray. Qualquer uma dessas formas promove a vaporização adiabática da água
existente na corrente de ar, acarretando na diminuição da temperatura de bulbo
seco e no aumento do teor de umidade do ar. Ao efetuar o balanço energético com
o evaporador representando o volume de controle, verifica-se que essa operação
se trata de um processo isoentálpico, desta forma, a mínima temperatura que
pode ser obtida é a de bulbo úmido do ar que alimenta o sistema.

Os equipamentos de resfriamento evaporativo indireto podem ser vistos


como uma evolução dos sistemas evaporativos diretos, como o próprio nome diz,
neste tipo de equipamento não há o contato efetivo entre o ar que será climatizado
e o fluido de trabalho, como mostra esquematicamente a Figura 6, em que se
observa que o ar que será resfriado transfere calor para o fluido de trabalho que
fora previamente resfriado via evaporação. Desta forma, a entalpia do fluido a ser
refrigerado sofre uma redução.

DICAS

O processo de um sistema de condicionamento de ar do tipo evaporativo


requer cálculos da carga térmica do ambiente a ser refrigerado, isto é, especificação da
dimensão do local, número de pessoas que sentirão o conforto térmico proporcionado,
potência demandada para a iluminação e manutenção do funcionamento dos
equipamentos eletrônicos, efeitos devido à insolação etc. assunto esse que já discutimos
em outra oportunidade ainda nessa unidade. A partir disso, serão definidos os métodos
para quantificar a transmissão de calor sensível e a vazão de ar requerida para o sistema.
Perceba que são diversos assuntos inter-relacionados e a sua prática pode ser vista no
vídeo disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=CdY8qiL5kyc.

FIGURA 6 – RESFRIADOR EVAPORATIVO INDIRETO DO TIPO TUBO

FONTE: Os autores

172
TÓPICO 1 | AR-CONDICIONADO: CONFORTO E COMÉRCIO

Na Figura 6 é apresentado resfriador evaporativo indireto provido de


um feixe de tubos com escoamento interno de ar primário no interior dos dutos
e água na parte externa.

2.2 CÁLCULO DE CARGA TÉRMICA


No início dessa unidade, elaboramos algumas perguntas para nos
auxiliar na escolha do ar-condicionado e, em seguida, apresentamos algumas
opções de dispositivos disponíveis para a aquisição. Mas, não discutimos os
equacionamentos envolvidos nessa seleção e nos auxiliam a determinar a
“carga térmica” de um sistema de condicionamento de ar, que é enunciada pela
“quantidade de calor sensível e latente, geralmente expressa em btu/h ou kcal/h,
que deve ser retirada ou colocada no recinto a fim de proporcionar as condições
de conforto desejadas” (CREDER, 2004, p. 80). Então, precisamos definir como
relacionar a taxa de transferência de calor a ser removida de um espaço com
a ventilação do local, número de pessoas presentes, estrutura, configuração e
material da parede, entre outras variáveis.

A taxa de transferência de calor em meios sólidos contribui para a carga


térmica de condução, que representa um calor sensível e pode ser determinada
pela Equação 1 para os casos em que se tem materiais homogêneos, paredes
planas e paralelas.

AKD
Q= (Equação 1)
x

Em que:

Q ≡ taxa de transferência de calor transmitida (W);


A ≡ área perpendicular ao fluxo de calor (m²);
x ≡ espessura do material por onde calor é transmitido (m);
K ≡ condutividade térmica do material onde ocorre a transferência energética (W/m.k);
D ≡ diferença de temperatura do meio externo em relação ao interno (K).

ATENCAO

É claro que existem paredes que são compostas por uma variedade de materiais,
como, por exemplo, tijolo, massa corrida, cimento e isolamento de fibra de vidro ou vidro
celular, disposta em conjuntos numa sequência com configuração em série (opções do tipo
“E”, ou seja, o fluxo de calor percorre um material e outro) ou paralelo (opção do tipo “OU”,
com fluxo de calor de um material “A” para o material “B” ou de “A” para o material “C”). Cada

173
UNIDADE 3 | SISTEMAS DE AR-CONDICIONADO

um dos materiais que compõem essas estruturas tem condutividade térmica diferentes e
iguais a 0,496 kcal/h.m. °C (cimento asbesto), 0,17 kcal/h.m. °C (tijolo de concreto furado
de 10 cm), 0,62 kcal/h.m. °C (argamassa de nata de cimento com areia). Então, a Equação
1 necessita ser ajustada para atender a essa especificidade, basta utilizarmos o termo
de condutância em vez de condutividade térmica, resultando, assim, numa resistência
equivalente à passagem de fluxo de calor promovida pela diferença de temperatura. Assista
ao vídeo disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=AEezJtnV9hw e entenda
como isso pode ser feito.

Esses meios sólidos funcionam como uma barreira para a transferência


de calor, e também separam dois ambientes em condições distintas de temperatura
e especificidades, afinal, em dias frios as paredes impedem a entrada de ventos
frios e em dias quentes dificultam a passagem de ventilação natural. Note que
esses casos são semelhantes no que diz respeito ao fluxo de ar, que é um outro
modo de transferência de calor, dito convectivo, Equação 2.

Q = AhD (Equação 2)

Em que:

h ≡ coeficiente convectivo superficial (W/m².K).

Não podemos nos esquecer do responsável pelo aquecimento natural


de uma sala, principalmente em dias de verão, conhecido como raio solar. Na
verdade, a “mais poderosa energia que a superfície da Terra recebe do universo
é a energia solar, que já está sendo aproveitada pelo homem como fonte térmica.
Essa energia é, quase sempre, a responsável pela maior parcela da carga térmica
nos cálculos do ar-condicionado” (CREDER, 2004, p. 105).

Existe uma quantidade considerável de parâmetros que devem ser


levados em consideração nos cálculos de aquecimento de paredes e tetos por
radiação solar, tais como intensidade de brilho, refletância, rugosidade e cor
da superfície refletora, posição geográfica do local a ser resfriado em relação ao
Sol num determinado período etc. O Gráfico 1 exemplifica alguns valores para
a transmissão de calor por radiação solar através de uma superfície de vidro,
conhecida como fator solar, em função do horário para as várias faces de um
prédio num local a latitude 22° 54’ sul em um dia de verão.

174
TÓPICO 1 | AR-CONDICIONADO: CONFORTO E COMÉRCIO

GRÁFICO 1 – FATOR SOLAR PARA DIFERENTES FACES DE UM PRÉDIO A 22°54’ DE LATITUDE SUL

FONTE: Adaptado de Creder (2004, p. 95)

Existem três possibilidades para os raios do sol percorrerem uma


superfície transparente, como é o caso do vidro, são elas: reflexão (raios solares
provenientes de um meio “A” incide no meio “B” e retorna ao meio “A”), absorção
(raios solares de um meio “A” são absorvidos por um material que separa os
meios “A” e “B”) e refração (raios solares atravessam um meio “A” para o meio
“B”), e a soma deles representa a incidência solar total, Equação 3.

qsol = qabs + qrefl + qrefr (Equação 3)

Em que:

qsol ≡ taxa de transferência de calor por radiação solar (W);


qabs ≡ taxa de transferência de calor absorvida (W);
qrefl ≡ taxa de transferência de calor refletida (W);
qrefr ≡ taxa de transferência de calor refratada, que é a parcela importante para o
cálculo da carga térmica (W).

Para as demais superfícies, ditas opacas, representadas predominantemente


pelas paredes e telhados, a taxa de transferência de calor por radiação é dada pela
Equação 4.

=Q AI (Tex − Tin ) + ∆Tadd  (Equação 3)

Em que:

A ≡ área total de troca térmica (m²);


U ≡ coeficiente global de transferência de calor (W/m².K);
Tex ≡ temperatura do meio exterior (K);
Tin ≡ temperatura do meio interior (K);
∆Tadd ≡ incremento de temperatura (K).
175
UNIDADE 3 | SISTEMAS DE AR-CONDICIONADO

A variável ∆Tadd da Equação 4 assume valores diferentes para o telhado e


a parede conforme a tonalidade apresentada e a localização, conforme mostra a
Gráfico 2.

GRÁFICO 2 – INCREMENTO DE TEMPERATURA PARA A PAREDE E O TELHADO

FONTE: Adaptado de Creder (2004, p. 97)

O Gráfico 2 possui um eixo horizontal equivalente a seção estudada, eixo


vertical os valores de incremento de temperatura e três curvas para as opções de
cores: cor escura, cor média e cor clara. Os dados identificados pela imagem são:
telhado e cor clara: 8,3 °C; telhado e cor média: 11,1 °C, telhado e cor escura: 25
°C, parede ao leste e cor clara: 5,5 °C, parede ao leste e cor média: 11,1 °C, parede
ao leste e cor escura: 16,6 °C, parede ao oeste e cor clara: 5,5 °C, parede ao oeste
e cor média: 11,1 °C, parede ao oeste e cor escura: 16,6 °C, parede ao norte e cor
clara: 2,7 °C, parede ao norte e cor média: 5,5 °C, parede ao norte e cor escura: 8,3
°C, parede ao sul e cor clara: 0 °C, parede ao sul e cor média: 0 °C, parede ao sul
e cor escura: 0 °C.

Outros sistemas devem ser considerados no cálculo da carga térmica,


são eles:

• Retorno da corrente gasosa que promoveu o resfriamento do recinto ao ar-


condicionado através de dutos retangulares ou circulares e adição de energia
na forma de calor, que posteriormente deve ser removida pela serpentina do
evaporador, Equação 5.

Q = AdU d ∆Td (Equação 5)

176
TÓPICO 1 | AR-CONDICIONADO: CONFORTO E COMÉRCIO

Em que:

Ad ≡ Área lateral do duto (m²);


Ud ≡ Coeficiente global de transferência de calor, que é dependente do diâmetro
característico do duto e de seu isolamento (W/m².K);
∆Td ≡ diferença de temperatura entre o meio externo e o ar interno ao duto (K).

• Número de pessoas e os movimentos que elas exercem são variáveis que


influenciam na quantidade de energia liberada na forma de calor latente
(transpiração) e sensível (oscilações de temperatura ao longo do dia), isso
se deve pelo mecanismo termostático que possuímos, o qual atua “sobre o
metabolismo, mantém a temperatura do corpo aproximadamente constante,
embora variem as condições externas” (CREDER, 2004, p. 99). A norma técnica
brasileira com número 16.401 de 2008 (NBR 16.401: 2008) fornece informações
acerca do calor liberado, em kcal/h, por uma pessoa de acordo com o seu tipo
de atividade, conforme mostra a Tabela 1.

TABELA 1 – ENERGIA LIBERADA POR UMA PESSOA EM FUNÇÃO DA TEMPERATURA AMBIENTE


E DA ATIVIDADE EXERCIDA

Pessoa sentada ou em
Temperatura Pessoa em atividade moderada
movimento lento
ambiente (°C)
Calor sensível Calor latente Calor sensível Calor latente
29 45,1 54,9 38,1 128
27 54,9 45,1 51,9 144,1
25 62,0 38,1 64,0 101,8
23 69,1 31 77,1 89
21 75,1 24,9 88 78,1

FONTE: Adaptado de NBR 16.401 (2008)

• Equipamentos elétricos que dispõem de um motor para o seu funcionamento,


como é o caso de ventiladores, geladeiras, computadores, liquidificador,
elevador, perfuradora, compressor etc. Como nem toda energia elétrica
alimentada ao sistema é convertida em trabalho, pois pode ocorrer “perdas”
no enrolamento, por exemplo, essa diferença contribui para a carga térmica
do sistema e é dependente se o motor está em contínua atividade ou se o seu
acionamento é esporádico. As Equações 6 e 7 são as fórmulas utilizadas para
a predição da carga termina para o ventilador dentro da corrente de ar e fora
dela, respectivamente.

Pot
Q= .733 (Equação 6)
η

Q = P.733 (Equação 7)

177
UNIDADE 3 | SISTEMAS DE AR-CONDICIONADO

Em que:

Pot ≡ potência do motor (W);


η ≡ eficiência mecânica do motor, especificada pelo catálogo do fabricante (-).

A Equação 8 quantifica a carga para outros motores que não de ventiladores.

 Pot 
=Q  − Pot  .733 (Equação 8)
 η 

NOTA

Perceba que a palavra perda foi destacada entre aspas e isso tem uma
explicação, que você já deve saber e se refere ao fato de que nenhuma energia é
efetivamente perdida, mas ela sofre uma transformação em energia útil ou energia que não
conseguimos ter proveito, como é o caso de energia devido ao atrito e outras dissipações
por campo elétrico.

• O tipo e a quantidade de lâmpadas contribuem com a carga pelo calor sensível,


que dependem se a iluminação é incandescente (Equação 9) ou fluorescente
(Equação 10).

Q=P (Equação 9)

Q = P. f (Equação 10)

Em que:

f ≡ fator devido ao reator da lâmpada fluorescente.

• Os equipamentos que utilizam gás para funcionarem colaboram com a


carga devido à reação química (sensível) e ao vapor gerado (latente), então é
necessário conhecer as entalpias de formação para estimar esse calor. A Tabela
2 apresenta alguns valores calculados para diferentes máquinas.

178
TÓPICO 1 | AR-CONDICIONADO: CONFORTO E COMÉRCIO

TABELA 2 – CARGA TÉRMICA DE MÁQUINAS A GÁS

Carga sem coifa Carga com coifa


Equipamento
Sensível Latente Sensível
Fritadeira para 7 kg 1890 1890 756
Fogão (por queimador) 806 453 252
Torradeira 907 604 302
Cafeteira 12 L 882 378 252

FONTE: Adaptado de Creder (2004, p. 103)

• A presença de tubulações transportando fluidos interfere na carga devido à


diferença de temperatura entre o espaço refrigerado e o fluido. Para esse fator,
é necessário considerar o diâmetro e qual o isolamento utilizado no duto, assim
como o tipo de fluido escoado. A Tabela 3 apresenta alguns exemplos de carga
térmica, em W/m, para o caso em que a temperatura ambiente equivale a 26
°C por onde se tem um escoamento de água no estado líquido e vapor, ambos
ocorrendo num duto isento de isolamento ou revestido por fibra de vidro de
uma polegada.

TABELA 3 – CARGA TÉRMICA (W/M) REFERENTE AO ESCOAMENTO DE ÁGUA E AMBIENTE

Água líquida a 82 °C Água gasosa a 35,15 kPa


Diâmetro (in)
Sem isolamento Fibra de vidro Sem isolamento Fibra de vidro
½ 53,7 8,6 89,2 14,4
1 80,6 12,5 133,4 19,2
2 138,2 18,2 229,4 28,8
3 197,8 25,0 228,3 37,4
4 249,6 30,7 103,7 47,0

FONTE: Adaptado de Creder (2004, p. 104)

• A circulação de ar externo para o ambiente refrigerado por meio de frestas nas


portas, janelas e demais aberturas contribuem para a carga em calor sensível
e latente. Não existe uma expressão matemática para quantificar com exatidão
esse fator, até porque uma porta pode estar pouco aberta, ou uma janela ter furos
ou tantas outras configurações possíveis. Por isso, recomenda-se o uso de dois
procedimentos: (1) troca de ar, para a contabilizar a renovação do ar contido no
ambiente em um período de uma hora, equação 11, (2) método das frestas, leva
em consideração a velocidade com que o vento escoa, equação 12, (FILHO, 2019).

=Q ' 1,08q (Tex − Tin ) (Equação 11)

Q " = 583.C (Equação 12)

179
UNIDADE 3 | SISTEMAS DE AR-CONDICIONADO

Com:

C= (Y2 − Y1 ) ⋅γ ⋅ q " (Equação 13)

Em que:

Q’ ≡ carga térmica devido à contribuição sensível, (Btu/h);


Q’ ≡ carga térmica pelas frestas (Btu/h);
q ≡ vazão volumétrica de ar (ft³/min);
C ≡ constante do método das frestas (kg/h);
Tex ≡ temperatura do ar exterior (°F);
Tin ≡ temperatura do ar interior (°F);
Y1 ≡ umidade absoluta do ar no meio interior (-);
Y2 ≡ umidade absoluta do ar circulante (-);
γ ≡ peso específico do ar (kg/m³);
q” ≡ vazão volumétrica de ar (m³/h).

• Como nem todo o ar insuflado num espaço é retornado ao dispositivo de


refrigeração, já que pode haver perdas pelas frestas e consumo pelas pessoas
(respiração), deve-se considerar o fator carga devida à ventilação, cujo valor é
fornecido pela NBR 6.401/1980, com alguns exemplos de citações apresentados
na Tabela 4.

TABELA 4 – VAZÃO POR PESSOA PARA CÁLCULO DA CARGA POR VENTILAÇÃO

Espaço Vazão preferível (m³/h) Vazão mínima (m³/h) % de fumantes


Apartamento 335 25 Baixa
Bar 35 25 30 %
Loja 48 8 0
Cinema 13 10 0
Restaurante 35 25 25 %

FONTE: Adaptado de NBR 6.401 (1980, p. 3)

180
TÓPICO 1 | AR-CONDICIONADO: CONFORTO E COMÉRCIO

NOTA

Geralmente, o profissional de instalação e manutenção de sistemas de


condicionamento de ar utiliza a tabela a seguir para organização de todos os fatores que
influenciam no cálculo da carga térmica.

ESPECIFICAÇÕES NECESSÁRIAS PARA A DETERMINAÇÃO DA CARGA TÉRMICA


Unid.
Procedência do
Unidades Fatores X Btu/h
calor
Fator
Tipo I - Janelas c/ Proteção Proteção
Largura Altura Total S/ Proteção 0
isolação Int. Ext.
1.1 – Norte     0,00 1000 480 290  

1.2 – Nordeste     0,00 1000 400 290  

1.3 – Leste     0,00 1130 550 360  

1.4 – Sudeste     0,00 840 360 290  


0
1.5 – Sul     0,00 0 0 0  

1.6 – Sudoeste     0,00 1680 670 480  

1.7 – Oeste     0,00 2100 920 630  

1.8 – Noroeste     0,00 1500 630 400  


Tipo II – Janelas
Largura Altura Total   0
Transmissão
2.1 – Vidro
    0,00 210 0
comum
2.2 – Tijolo de
vidro/ vidro     0,00 105 0
duplo
Cons.
Tipo III – Paredes Largura Altura Constr. Leve 0
Pesada
3.1 – Externas
    0,00 55 42  
voltadas p/ o Sul
3.2 – Externas
    0,00 84 50  
outras orientações
Tipo IV – Teto Compr. Largura Total   0

4.1 – Laje     0,00 315 0


4.2 – Em laje, c/2,5
cm de isolação ou     0,00   125   0
mais
4.3 – Entre
    0,00 52 0
andares
4.4 - Sob telhado
    0,00 72 0
isolado
Tipo V – Piso Compr. Largura Total   0
Piso não colocado
    0,00 52 0
sobre o solo
Tipo VI – Pessoas     0

181
UNIDADE 3 | SISTEMAS DE AR-CONDICIONADO

Em Atividade
  630 0
Normal
Em Atividade
  1000 0
Física (Academia)
Tipo VII –
Iluminação e             0
aparelhos
Lâmpadas
  W 4 0
Incandescentes
Lâmpadas
  W 2 0
Fluorescentes
Aparelhos
  KW 860 0
Elétricos
Motores   HP 645 0
Número de
  W 3,412 0
Computadores
Tipo VIII - Portas
Largura Altura Total       0
ou vãos
Abertos
    0 630 0
constantemente

FONTE: Adaptado de <http://www.refrigeracao.net/Legislacao/nbr_5858.pdf>.


Acesso em: 20 abr. 2019.

3 REQUISITOS PARA CONFORTO TÉRMICO


O conforto térmico é definido como sendo aquele em que as pessoas
expressam contentamento físico devido a uma sensação positiva percebida do
ambiente pela temperatura do corpo, você certamente já experimentou isso
sentindo um frescor em centros comerciais providos de ar-condicionado num
dia em pleno verão, não é verdade? No entanto, há uma enorme variação de
condições fisiológicas e psicológicas de pessoa para pessoa, portanto, é muito
difícil de estabelecer um consenso em relação a isso.

Neste sentido, é correto afirmar que as condições ambientais que resultam


em conforto térmico não são as mesmas para cada um dos ocupantes do ambiente.
Devido a esse número de variáveis, diferentes laboratórios apoiados em estudo
estatísticos tentam definir as condições para as quais uma percentagem mínima de
ocupantes se sentirá termicamente confortável, resultando no ábaco de conforto,
que é “obtido após ensaios feitos com pessoas vestidas com roupa comum e
submetidas a várias condições de temperatura, umidade relativa e movimento
do ar, anotando-se as reações em face das diversas condições” (CREDER, 2004, p.
76), resultando no Gráfico 3 caso o ar se encontre parado.

182
TÓPICO 1 | AR-CONDICIONADO: CONFORTO E COMÉRCIO

GRÁFICO 3 – PERCENTUAL DE PESSOAS COM CONFORTO TÉRMICO NO VERÃO E NO INVERNO

FONTE: Adaptado de Creder (2004, p. 77)

O Gráfico 3 possui valores de temperatura de bulbo seco na horizontal


e temperatura de bulbo úmido na vertical. São apresentados os percentuais de
pessoas em situação de conforto térmico para as estações verão e inverno, em que
formam gomos com limites dados por: (1) zona de conforto no inverno: umidade
relativa de 30 a 70% e pontos extremos com pares ordenados (65; 57,5), (67,5;
52,5), (74; 67,5), (79; 59); (2) zona de conforto no verão: umidade relativa de 30 a
70% e pontos extremos com pares ordenados (78; 72), (85; 64), (72,5; 54), (67,5; 62).

NOTA

A Sociedade Americana de Engenheiros de Aquecimento, Refrigeração e Ar-


condicionado (ASHRAE) considera que para uma região de clima quente a temperatura
ótima de conforto térmico assume valores entre 23 e 27 °C, nas condições em que a
velocidade do ar é de 0,5 m/s, umidade relativa entre 30 e 70%, vestimenta normal, pessoa
sentada e de ocupação sedentária.

Segundo Maragno (2002), as condições de conforto térmico em um


dado espaço podem ser estabelecidas a partir da definição dos fatores a elas
relacionadas, que são denominadas por variáveis ambientais que “guardam
estreitas relações com regime de chuvas, vegetação, permeabilidade do solo,

183
UNIDADE 3 | SISTEMAS DE AR-CONDICIONADO

águas superficiais e subterrâneas, topografia, entre outras características locais


que podem ser alteradas pela presença humana” (FROTA; SCHIFFER, 2001, p.
15). A NBR 16.401-2/2017 descreve tais parâmetros por:

• Temperatura do ar: necessita ser aferida a partir de sua tomada em locais


diferentes e em tempos diversos de exposição de uma pessoa e, em seguida,
estimado um valor médio.
• Temperatura radiante média: consiste numa “temperatura uniforme de um
ambiente imaginário, no qual a transferência de calor por radiação do corpo
humano é igual à transferência de calor por radiação em um ambiente real não
uniforme” (NBR 16401-2, 2017, p. 8).
• Taxa metabólica: dependente da atividade de cada ocupante do ambiente, uma
vez que essa energia produzida pelo organismo se relaciona com a quantidade
de oxigênio consumida, que por sua vez é uma função do sexo, idade, peso,
altura, vestuário, condição de saúde, atividade exercida, entre outros. Em geral,
os valores associados a taxa metabólica para cada atividade estão tabelados,
como por exemplo, posição sentada e corpo relaxado: 58 W/m², realizando
trabalhos domésticos: 116 W/m² e caminhando em local plano a 3 km/h: 140
W/m² (ISO 7.730, 1994). Para o seu cálculo utiliza-se a Equação 14.

M =QSK + QRES + W (Equação 14)

Com:

QSK + QRES = C + R + ESK + CRES + ERES (Equação 15)

Em que:

M ≡ taxa metabólica de produção de calor (W);


W ≡ trabalho mecânico desenvolvido pelo corpo (W);
Qsk ≡ taxa total de perda de calor pela pele (W);
QRES ≡ taxa total de perda de calor por respiração (W);
C ≡ perda de calor sensível pela pele por convecção (W);
R ≡ perda de calor sensível pela pele por radiação (W);
ESK ≡ perda de calor latente pela pele por evaporação (W);
CRES ≡ perda de calor sensível pela respiração por transferência convectiva (W);
ERES ≡ perda de calor latente pela respiração por evaporação (W).

• Vestimenta: representa uma resistência térmica convectiva e exerce papel de
um isolante, já que mantém junto ao corpo um ar mais ou menos aquecido, de
acordo com seu ajuste ao corpo e a porção do corpo que cobre, opção de roupa
e com o tipo de clima, por exemplo:

184
TÓPICO 1 | AR-CONDICIONADO: CONFORTO E COMÉRCIO

em climas secos (desertos), onde se atinge elevadas temperaturas,


poder-se-ia pensar que a ausência de roupas poderia garantir condições
mais confortáveis para os habitantes destas regiões. No entanto,
em climas secos, vestimentas adequadas podem manter a umidade
advinda do organismo pela transpiração e evitar a desidratação
(MENEZES, 2010, p. 113).

• Umidade do ar: identifica um valor de referência útil para descrever o teor de


umidade no ar, ou seja, massa de água existente em 1 kg de ar. Esse fator é
facilmente percebido por nós em cidades litorâneas no verão, em que sentimos
desconforto térmico devido à redução da evaporação.
• Velocidade do ar: tem relativa importância quando se contabiliza as
transferências de calor por mecanismos sensíveis (convectivos) e latente
(evaporação). Sua estimativa requer a consideração das flutuações do vento
em termos de intensidade e direcionamento (LAMBERTS, 2014).

Nesse contexto, índices de conforto térmico foram estabelecidos através de


diferentes abordagens e metodologias a fim de reunir num só efeito a influência de
todos os fatores supracitados, que devem ser considerados em qualquer projeto
de sistema de condicionamento de ar. A determinação destes índices estabelece
zonas de conforto térmico, que são delimitadas graficamente em diagramas
ou cartas similares à Figura 9 para a delimitação dos parâmetros físicos que as
identificam em conformidade com a NBR 16.401/2008.

NOTA

Os índices de conforto térmico são classificados em três grupos:

Índices biofísicos – que se baseiam nas trocas de calor entre o


corpo e o ambiente, correlacionando os elementos do conforto
com as trocas de calor que dão origem a esses elementos;
Índices fisiológicos – que se baseiam nas reações fisiológicas
originadas por condições conhecidas de temperatura seca do ar,
temperatura radiante média, umidade do ar e velocidade do ar;
Índices subjetivos – que se baseiam nas sensações subjetivas de
conforto experimentadas em condições em que os elementos
de conforto térmico variam (FROTA; SCHIFFER, 2001, p. 26).

185
RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico, você aprendeu que:

• Existe uma diversidade de opções de sistemas de condicionamento de ar,


como, por exemplo, tipo janela, split, selfs, cogeração e evaporativos. A
escolha depende, principalmente, da área a ser refrigerada, fluxo de pessoas,
disponibilidade de espaço físico e eficiência térmica requerida.

• No grupo ar-condicionado split, existem as possibilidades hi-wall, cassete, piso


teto e built, sendo os primeiros os mais versáteis, de baixo consumo de energia,
mas pouco indicados para locais com intenso fluxo de pessoas.

• Os sistemas de cogeração utilizam de gás natural para o seu funcionamento, o que


favorece seu uso em grandes instalações, como é o caso de indústrias químicas.

• Os sistemas evaporativos promovem o resfriamento de um recinto a partir da


evaporação da água presente em uma corrente de ar a partir do contato direto
ou indireto entre os fluidos quente e frio.

• O cálculo da carga térmica é dependente da radiação solar incidente, número


de pessoas no espaço a ser refrigerado, número de portas e janelas, entre outros
aspectos que são organizados numa tabela com fatores pré-determinados pela
associação brasileira de Normas Técnicas.

• Na descrição do conforto térmico, devem ser levados em consideração as


variáveis: temperatura do ar, temperatura radiante média, taxa metabólica,
vestimenta, umidade e velocidade do ar.

186
AUTOATIVIDADE

1 O assunto desenvolvimento sustentável está em foco nos debates informais,


em reuniões de centros universitários e indústrias químicas, farmacêuticas,
alimentícias, entre outras, pois a visão das pessoas em todo o mundo sobre
como é “preciso garantir as necessidades do presente sem comprometer
o futuro” vem mudando. O desenvolvimento de ambientes inteligentes
proporcionaria, além de uma economia energética, uma mínima degradação
ambiental, conciliando o desenvolvimento econômico e social com a
preservação ambiental.

FONTE: <http://www.ene.unb.br/adolfo/Monographs/Graduation/TG09%20Alexandra%20G.
%20%C3%81vila%20e%20Breno%20H.%20Saloio.pdf>. Acesso em: 23 abr. 2018.

Neste contexto, julgue as afirmações que se seguem:

I- Um bom projeto requer um sistema de ar-condicionado que proporcione,


simultaneamente, conforto térmico, eficiência energética e economia de energia.
II- Os ares-condicionados do tipo janela têm como sua principal característica
seu baixo nível de ruído.
III- Os ares-condicionados do tipo Split se caracterizam por terem a unidade
condensadora e evaporadora instaladas em locais distintos, porém ligadas
através de uma linha frigorígena.

É CORRETO apenas o que se afirma em:


a) ( ) I.
b) ( ) II.
c) ( ) III.
d) ( ) I e II.
e) ( ) I e III.

2 O ar-condicionado do tipo Hi-Wall é um split que permite a instalação


na parede, por isso ele também é chamado de “parede” (tradução de
wall, em inglês). É o tipo mais comum de split, podendo ser encontrado,
principalmente, em residências e em estabelecimentos comerciais de
pequeno porte. Os splits Hi-Wall estão cada vez mais sofisticados, com painel
espelhado, coloridos, com adesivos decorativos e evaporadoras menores.
Além desses pontos interessantes, eles estão também com instalação mais
barata.

FONTE: <http://repositorio.roca.utfpr.edu.br/jspui/bitstream/1/1380/1/MD_COMIN_2012_2_
10.pdf>. Acesso em: 23 abr. 2019.

Neste contexto, julgue as asserções que se seguem e a relação proposta entre elas.

187
I- Os ares-condicionados do tipo Hi-Wall apresentam um baixíssimo nível de
ruído interno.

PORQUE

II- Dado sua concepção as partes ruidosas ficam instaladas no ambiente externo
deixando no ambiente interno apenas a unidade evaporadora instalada na
parede.

Sobre as asserções é CORRETO apenas o que se afirma em:


a) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e II é uma justificativa da I.
b) ( ) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma
justificativa da I.
c) ( ) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa.
d) ( ) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira.
e) ( ) As asserções I e II são proposições falsas.

3 Os tipos residenciais e comerciais mais usuais são: janela, split hi-wall, split
cassete, split piso-teto e o dutado. Eles variam principalmente quanto à forma
de instalação, os formatos dos aparelhos e as potências de refrigeração. Os
tipos janelam e o split hi-wall costumam ser mais baratos por possuírem fácil
instalação, sendo o custo do split hi-wall um pouco mais elevado, porém é o
mais encontrado em residências e estabelecimentos comerciais.

FONTE: <https://monografias.ufrn.br/jspui/bitstream/123456789/3358/3/analise-quantitativa-
aproveitamento-PIMENTA-Artigo.pdf>. Acesso em: 23 abr. 2019.

Considerando o contexto apresentado, assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) O modelo de ar-condicionado do tipo janela apresenta menor nível de
ruído quando comparados aos splits.
b) ( ) O modelo Split Cassete é um tipo de ar-condicionado indicado para
ambientes de pequeno porte.
c) ( ) O ar-condicionado Split do tipo piso teto consiste em um robusto sistema
de ar-condicionado split que como tal possui uma elevada capacidade
de refrigeração.
d) ( ) O ar-condicionado do tipo Split Built é indicado para ambientes em
que existam diferentes áreas que devem ser climatizadas em condições
diferentes.
e) ( ) O resfriamento evaporativo consiste em processo de resfriamento que
utiliza a evaporação da gelo seco para resfriar uma corrente de ar,
portanto, os fluidos de trabalho são o ar e gelo seco.

188
UNIDADE 3
TÓPICO 2

INSTALAÇÕES ELÉTRICAS, MANUTENÇÃO E SEGURANÇA

1 INTRODUÇÃO
Indiscutivelmente, a criação dos aparelhos de condicionamento de
ar e refrigeração foi um dos marcos e uma das ferramentas mais importantes
para o avanço da civilização moderna. É claro que, ao longo dos anos, esses
equipamentos sofreram (e ainda sofrem) modificações em suas estruturas e
condições de funcionamento, afinal, dia após dia encontramos alguma barreira
a ser quebrada ou, por outro ponto de vista, um desafio para ser alcançado,
seja de ordem econômica, ambiental, política, social e comercial, mas todas elas
dizem respeito a passar à frente de concorrentes ofertando produtos com design
moderno e seguindo os preceitos do desenvolvimento sustentável, por exemplo.

A geladeira tal qual conhecemos e utilizamos, muitas vezes conhecida


como o nome de refrigerador, ganhou ares domésticos apenas em 1913, antes
desse ano era um produto utilizado e destinado para a elite social. Em 1918, após
a invenção da eletricidade, a Kelvinator Co. introduziu o primeiro refrigerador
elétrico, denominado por “Frigidaire”, o qual foi vendido como aparelho capaz de
armazenar alimentos, que eram até então colocados no interior de caixas com gelo.
É claro que esse lançamento foi um grande sucesso, dentre outros tantos positivos,
um se refere a não necessidade da retirada da água proveniente do gelo derretido,
o que deu ideia para o slogan dessa marca de “mais frio que o gelo” (HYDE, 2010).

Ainda com relação aos exemplos de história de sistemas de refrigeração,


tomemos o caso dos refrigeradores de ar, que trabalhavam da seguinte forma:
uma hora antes de começar o espetáculo fazia-se trabalhar o compressor de
ácido sulfuroso, resfriando-se assim a salmoura do refrigerador. Algum tempo
antes de abrir o teatro punham-se em movimento as bombas de aspiração da
salmoura resfriada, fazendo-se então circular essa solução pelos tubos de ferro dos
refrigeradores de ar. Desta forma, o ar era resfriado e os ventiladores o colocavam em
circulação nos dutos do interior do teatro. Os condicionadores tinham capacidade
para resfriar a quantidade de ar necessária para uma boa ventilação do teatro
durante as quatro horas, duração média dos espetáculos. Ao final do período, o
ar ia, gradualmente, elevando sua temperatura para que na ocasião de saída, o
público não sentisse uma diferença muito sensível de temperatura (RIENZO, 2006).

Poderíamos nos prolongar com relação às diversas modificações que os


refrigeradores sofreram com o passar dos anos, mas saiba que não basta apenas
ter o conhecimento de como utilizar estes refrigeradores, é necessário, também,

189
UNIDADE 3 | SISTEMAS DE AR-CONDICIONADO

conhecer os seus principais métodos ou quesitos de instalação, segurança e


manutenção, uma vez que, o negligenciamento dessas boas práticas pode
acarretar, em determinado momento, na falha desses sistemas, provocando
por consequência disso a limitação ou até mesmo a perda da funcionalidade.
Nesse sentido, o presente tópico versa sobre os instrumentos necessários para
a instalação dos circuitos refrigeradores, assim como trataremos sobre algumas
orientações para serem seguidas a fim de garantir um melhor desempenho e vida
útil desses dispositivos.

2 INSTALAÇÃO: INSTRUMENTOS
Alguns passos são considerados importantes para a realização do
primeiro desempacotamento e da instalação de uma unidade condensadora,
sendo que instruções gerais fornecidas pelo fabricante devem ser seguidas para o
correto despacho, uma recepção adequada do sistema e uma criteriosa inspeção
da unidade antes de a mesma ser colocada em operação. É válido mencionar
que se necessita fornecer para cada nova unidade um manual de operação, o
qual, se seguido completamente conforme indicado, dispõe de uma garantia que
resguarda o comprador sobre qualquer problema futuro observado.

NOTA

Ao efetuar a instalação de um ar-condicionado, verifique se você dispõe


de informações construtivas do local que deseja refrigerar, ou seja, planta, orientação
geográfica, número de pessoas que permanecerão no espaço, quais são as potências de
acionamento dos equipamentos, tipo de iluminação etc., assim como os cálculos que
justifiquem a seleção do sistema e os dispositivos que garantirão o controle e a segurança
operacional, como é o caso de chaves magnéticas de ventiladores, pressostato nos
compressores, termostato, umidostato e chave de fluxo (MENEZES, 2010).

Destacamos algumas das instruções contidas no guia de instalação de


uma unidade condensadora e indicadas por Miller e Miller (2014), que são:

• Informações gerais: as informações dispostas no manual são trazidas para


assessorar as ações durante a instalação, manutenção e operação cabíveis ao
sistema de ar-condicionado. Uma instalação incorreta ou uma instalação não
executada conforme as instruções do manual podem acarretar operações e
condições insatisfatórias ou até mesmo perigosas, fazendo com que a garantia
do produto seja interrompida. Recomenda-se a leitura deste documento e
quaisquer outras instruções para com equipamentos separados utilizados para
a preparação do sistema antes de sua instalação. Lembre-se da importância em
guardar o manual para consultas futuras. Como exemplo dessas informações,

190
TÓPICO 2 | INSTALAÇÕES ELÉTRICAS, MANUTENÇÃO E SEGURANÇA

destacamos as ações para atingir a efetividade e a capacidade operacional


de projeto deste aparelho, que dizem respeito à utilização de serpentina de
resfriamento interna e à inspeção de chapas de metal externas para fins de
localização de sinais de dano ou manuseio incorreto.
• Inspeção do produto recebido: a inspeção da unidade adquirida é fundamental
para que se constate se houve algum dano à estrutura durante o transporte.
Os danos aparentes ou ocultos devem ser avisados imediatamente para a
companhia de transporte. Sempre fique atento ao número do modelo da
unidade condensadora, suas características elétricas e os acessórios para
identificar se estão corretos, ou seja, em conformidade com a solicitação feita.
Não se esqueça de conferir os componentes do sistema, tais como: serpentina do
evaporador, unidade condensadora, evaporador e ventilador, para assegurar-
se de que todos formam uma apropriada combinação.

E
IMPORTANT

As peças de metal do condensador estão sujeitas à ferrugem ou


deterioramento, conforme mostra a figura a seguir, se expostas a ambientes ou elementos
corrosivos, como, por exemplo, borrifos de sal, maresia, nevoeiros em áreas costeias,
enxofre, cloro presente em sistemas de irrigação de jardins, contaminantes químicos
vindos de indústrias, entre outros. Essa oxidação pode limitar o tempo de vida útil do
equipamento e, em virtude disso, deve-se ter uma atenção especial quanto à localização
e exposição da unidade, considerando-se que algumas instruções devem ser seguidas,
tais como destacam Miller e Miller (2014):

• Evitar que jatos d’água, como regadores de jardim, atinjam o gabinete do condensador.
• Não posicionar o condensador em fachadas de prédios voltados para áreas costeiras ou
praianas.
• A proteção formada por arbustos e cercas pode providenciar uma certa barreira para o
condensador.
• A lavagem frequente do gabinete, das pás do ventilador e da serpentina com água
doce ajuda na remoção da maior parte do sal ou outros contaminantes acumulados no
condensador.
• A limpeza regular e o enceramento do gabinete com cera automotiva de boa qualidade
ajudam na proteção do condensador.
• A utilização de um detergente líquido de boa qualidade auxilia na remoção de materiais
que, porventura, não são removidos somente com a água. Essa limpeza pode ser feita
várias vezes ao ano.
• O uso de diversos tipos de revestimento é útil para a proteção, porém o fabricante do
equipamento não pode assegurar a efetividade de tais materiais de revestimento.

Todas essas ações de manutenção devem ser realizadas após desconectar toda a
alimentação elétrica do condensador.

191
UNIDADE 3 | SISTEMAS DE AR-CONDICIONADO

FIGURA – ILUSTRAÇÃO DE OXIDAÇÃO EM DUTOS DO AR-CONDICIONADO

FONTE: <https://image.shutterstock.com/image-photo/close-rubber-pipe-air-behide-
600w-586125197.jpg>. Acesso em: 25 out. 2019.

• Posicionamento da unidade: listaremos alguns tópicos de construção e


regulamentações locais a respeito de exigências especiais para instalação
do condensador, tais como: (A) utilização de espaçamento mínimo de (i)
24 polegadas em um lado para acesso em momentos de manutenção e (ii)
12 polegadas para entrada de ar completa em todos os lados, evitando o
sobreaquecimento do sistema, e (iii) 60 polegadas no topo da unidade para
a descarga de ar; (B) acomodação do condensador no ambiente exterior,
não podendo ser conectado a calhas de tubulações; (C) posicionamento do
condensador onde o ruído operacional não incomode a atividade das pessoas
localizadas nesse ambiente; (D) posicionamento do condensador de maneira
que a água de escoamento do telhado não caia em direção do mesmo, caso seja
necessário, providencie uma calha ou outra opção para proteção do nível do
telhado; (E) se for empregada uma base de concreto, não acople à fundação ou
estrutura do prédio, pois isso preserva a transmissão de ruído; (F) não tape ou
vede as aberturas no fundo da unidade; (G) mantenha sempre que possível o
menor comprimento das tubulações de fluido refrigerante e fiação, pois isso
evita prejuízos na capacidade de refrigeração e altos custos de operação; (H)
posicione a base em um nível elevado, tal como a opção que seja acima do
declínio do terreno, já que isso impossibilita a entrada de água do solo no
condensador (MILLER; MILLER, 2014).
• Montagem da unidade: observar que se o condensador estiver elevado, seja
num telhado plano ou numa laje, é importante seguir a recomendação que
se refere ao uso de vigas de 4x4 polegadas posicionadas de forma a dividir
igualmente o peso do condensador, evitando vibração e, consequentemente,
ruídos. Nesse dimensionamento, considere que a bandeja de degelo aumenta a
serpentina da unidade condensadora em ¾ polegadas acima do coxim da base.
• Conexões para fluido refrigerante: uma unidade é completada na fábrica com
fluido refrigerante R-22, R-410a ou com um suplente devidamente aprovado. É
importante manter as extremidades dos tubos seladas utilizando-se válvulas de
serviço até que as ligações de instalação sejam feitas, evitando a contaminação
do sistema.

192
TÓPICO 2 | INSTALAÇÕES ELÉTRICAS, MANUTENÇÃO E SEGURANÇA

DICAS

O fluido R-410a é um fluido ecológico, já que não contém cloro em sua


composição, que vem conquistando espaço no mercado de refrigeração, apesar de ser uma
alternativa mais custosa. Devido a sua composição química, ele possui diversas vantagens
do ponto de vista ambiental, como não causar danos à camada de ozônio, o que vai de
encontro com os objetivos elaborados ainda no Protocolo de Montreal, em 1987. Mas, ele
necessita de alguns cuidados na sua manipulação, que são discutidos no vídeo disponível
em: https://www.youtube.com/watch?v=K12mWdn7Go4.

• Substituição de unidades existentes: para impossibilitar a ocorrência de


falhas de uma nova unidade condensadora, é recomendado que o sistema de
tubulações do evaporador já instalado e em operação sofra por um processo de
limpeza, ou, se necessário, feita a sua substituição. Verifique se o dispositivo
de expansão não se encontra bloqueado, se estiver, providencie a troca. Caso
o motor do compressor esteja indicando falhas, é recomendada a instalação de
filtros secadores na linha de líquido.
• Serpentina do evaporador: as serpentinas do evaporador dispõem de somente
uma carga de manutenção de nitrogênio seco. É importante manter todas as
extremidades dos tubos vedadas até que as conexões sejam realizadas, atentando-
se para (i) o não posicionamento da serpentina no duto de retorno de uma
caldeira a gás ou óleo; (ii) fornecimento de uma entrada para serviço de inspeção
e limpeza da serpentina; (iii) uso de uma bandeja de condensado secundária em
chapa de metal embaixo de toda extensão da unidade no momento em que a
serpentina for colocada acima de um teto com acabamento. No caso de unidades
fabricadas há pouco tempo, a bandeja de drenagem ou de condensado necessita
ser fabricada com plástico moldado para contribuir na remoção de água, de
maneira a evitar a propagação de fungos e demais problemas relacionados com
água parada. Em relação às linhas de drenagem, não é recomendado conectar
uma linha de drenagem menor do que a conexão proporcionada na serpentina, e
é importante inclinar a linha pelo menos ¼ de polegada por pé de comprimento
a começar da serpentina, além de ser aconselhado levar a linha até um dreno
aberto ou para meios externos (MILLER; MILLER, 2014).
• Teste de vazamento: para verificar possíveis vazamentos, mantenha o conjunto
de linhas e serpentina por meio das conexões com nitrogênio seco até um
máximo de 150 psig (MILLER; MILLER, 2014). É importante testar todas as
junções utilizando detergente líquido para verificar se há vazamentos, como
mostra a Figura 7. Caso seja detectado um vazamento, despressurize o sistema
e providencie mudanças para sanar esse problema.

193
UNIDADE 3 | SISTEMAS DE AR-CONDICIONADO

FIGURA 7 – DETECÇÃO DE VAZAMENTO POR FORMAÇÃO DE BOLHA AO USAR DETERGENTE

FONTE: <https://image.shutterstock.com/image-photo/ac-cooling-air-pipes-covered-
600w-1085353301.jpg>. Acesso em: 25 out. 2019.

Alguns cuidados que devem ser tomados, como a não utilização de


oxigênio para purgar linhas de sistemas pressurizados durante a execução de
teste de vazamento, pois o oxigênio reage violentamente com o óleo, fazendo com
que aconteça uma explosão, resultando em graves ferimentos ou até mesmo na
morte do operador. A serpentina interna e as tubulações de unidades de classe
soldadas a estanho precisam ser evacuadas antes de se operar o condensador. É
necessário utilizar as chaves Allen de 3/16 polegada e 5/16 polegada para válvulas
de serviço de latão. Deve ser tomado um cuidado extremo para não forçar a haste
de válvula contra o anel de retenção quando se proceder a abertura das válvulas.
Nunca abra a válvula no caso de se constatar que o anel de retenção está ausente
(MILLER; MILLER, 2014).

Após a evacuação e carregamento da unidade condensadora, é preciso


empregar um detector de vazamento, composto por substâncias halogenadas,
nas tubulações no interior da unidade condensadora, evaporador e tubulações
de interligação. Caso seja detectado um vazamento, o fluido refrigerante precisa
ser imediatamente recuperado antes de se consertar o vazamento, já que existe
normas ambientais que impedem a liberação do fluido refrigerante para o
ambiente externo, por conta da contaminação atmosférica, como é o caso da
Instrução normativa do IBAMA n° 14 de 2012.

DICAS

Existem diversos vídeos disponíveis na internet que orientam na verificação


de vazamentos em sistemas de condicionamento de ar. Veja o material disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=HgF6Q2p8qlM e compare os passos descritos com os
listados nessa unidade.

194
TÓPICO 2 | INSTALAÇÕES ELÉTRICAS, MANUTENÇÃO E SEGURANÇA

Do exposto, vamos simplificar uma instalação de ar-condicionado do tipo


Split. Esse objetivo é alcançado quando se realizam os seguintes passos: (A) alocar
corretamente as unidades; (B) instalar as unidades interna e externa; (C) efetuar a
conexão das unidades; (D) testar se há vazamentos; (E) proceder à desidratação do
sistema e (F) verificar possíveis fontes de superaquecimento. Note que a primeira
instrução se refere ao preparo do local em que o sistema de condicionamento de
ar será instalado, isso inclui a marcação do posicionamento dos equipamentos
conforme as especificações dadas em projeto ou no manual, além de atentar-se
para o trajeto em que os tubos de cobre percorrerá para conectar as unidades
condensadoras e evaporadoras, assim como o caminho para permitir a drenagem.
É necessário, também, verificar pontos de força acessíveis e checar se a estrutura
física suporta o peso das máquinas. Tudo isso vai interferir na decisão final de
posicionamento das unidades interna e externa.

Além disso, Silva (2005, p. 245) destaca algumas dicas, descritas por:

O local não deve ter obstáculos para a entrada e a saída de ar e deve-se


respeitar as distâncias mínimas fornecidas em manual;
Não se deve instalar a unidade evaporadora de tal forma que ocorra
curto circuito, isto acontece quando a saída da máquina insufla o ar
diretamente contra um obstáculo, que fará com que o fluxo possa
retornar para a sucção do aparelho;
Verificar a existência de caixa sifonada para instalação de dreno;
Cuidar com as lâmpadas fluorescentes, pois pode haver interferência
eletromagnética no sinal de controle enviado para a evaporadora;
Lembrar que o local da instalação do equipamento deve
permitir a manutenção futura.

3 SEGURANÇA: MANUSEIO DE CILINDROS, PRESSURIZAÇÃO


E FLUIDO REFRIGERANTE
As práticas de segurança são essenciais para a execução da manutenção de
aparelhos de refrigeração e por muitos anos foram fundamentadas no bom senso
do operador. Porém, como isso não é senso comum, ações vêm sendo promovidas
a fim de reforçar o esclarecimento de todos os usuários e colaboradores em relação
aos problemas que podem ocasionar caso um trabalho seja realizado de maneira
irregular. Em virtude disso, destacaremos algumas boas práticas relacionadas com
os sistemas de pressão e fluido de trabalho do sistema de condicionamento de ar.

3.1 MANUSEIO DE CILINDROS


Profissionais que atuam com refrigeração e ar-condicionado devem ser
capacitados para manusear corretamente gases comprimidos para evitar graves
acidentes, como o ocorrido em 2011 na Braskem, que feriu gravemente seis
pessoas devido ao rompimento de uma tubulação do sistema de refrigeração
do tipo cloro-soda (GAMA, 2011). Dentre os procedimentos que necessitam ser
empregados para garantir uma operação segura, deve-se ressaltar que o oxigênio
195
UNIDADE 3 | SISTEMAS DE AR-CONDICIONADO

ou o acetileno em momento algum devem ser empregados para pressurizar um


sistema de refrigeração. Isso porque o oxigênio causa uma explosão quando em
contato com óleo e as moléculas de acetileno tendem a se expandir subitamente
quando submetidas às pressões operacionais dos circuitos de refrigeração, salvo
quando essa substância é corretamente dissolvida em acetona conforme for
manuseada em cilindros comerciais de acetileno (SILVA, 2016).

O nitrogênio (N2) ou dióxido de carbono (CO2) secos são gases recomendados


para a pressurização de circuitos de refrigeração e ar-condicionado quando se
deseja realizar ensaios de vazamento ou a limpeza do sistema. Entretanto, Miller e
Miller (2014) destacam as seguintes limitações específicas: os cilindros comerciais
de N2 englobam pressões superiores a 2.000 psi na temperatura ambiente normal
e, ainda, os cilindros de CO2 comerciais englobam pressões superiores a 800 psi
na temperatura ambiente normal.

Por fim, qualquer cilindro necessita de um manuseio cauteloso, isso


implica o seu não tombamento ou choque contra algo. É essencial manter os
cilindros na posição vertical e fixos de forma segura para evitar possíveis quedas.
Não é recomendado aquecer o cilindro com maçarico ou outra espécie de chama
livre, mas se for necessário calor para retirar gás do cilindro, opte pelo emprego de
calor por meio da imersão da parte inferior do cilindro em água quente, tomando
cuidado para não aquecer o cilindro a temperaturas acima de 43 °C.

3.2 PRESSURIZAÇÃO
Os testes ou limpezas utilizando sistemas de pressão podem ser críticos
em equipamentos de refrigeração e ar-condicionado. Tendo isso em mente, é
importante o cuidado na seleção e no uso dos dispositivos para a pressurização
desses sistemas. Por tal motivo, é altamente recomendável que os procedimentos
listados a seguir sejam seguidos.

Nunca tente pressurizar um sistema sem primeiro instalar uma


válvula reguladora de pressão apropriada na descarga do cilindro
de nitrogênio ou dióxido de carbono. Esta válvula reguladora deve
ser equipada com dois manômetros de pressão em funcionamento:
um indicando a pressão no cilindro e o outro mostrando a pressão
de descarga ou a jusante. Sempre instale uma válvula de alívio de
pressão ou um dispositivo de alívio de pressão por ruptura, do tipo
disco quebradiço, na linha de fornecimento de pressão. Este dispositivo
deve ter um orifício de descarga de diâmetro de pelo menos ½ in NPT.
Essa válvula ou disco de ruptura deve ser regulada para alívio a 175
psig. Um sistema pode ser pressurizado até um máximo de 150 psig
para teste de vazamento ou purga (MILLER; MILLER, 2014, p. 520).

Os compressores do tipo hermético operam com pressões de sucção


baixas, pois o sistema de pressurização e movimentação das partes mecânicas
encontram-se numa só carcaça. Como consequência dessa característica, esses
compressores são colocados, em geral, em equipamentos nos quais é inviável
desligar ou isolar o compressor do sistema durante um teste de pressão.
196
TÓPICO 2 | INSTALAÇÕES ELÉTRICAS, MANUTENÇÃO E SEGURANÇA

Ao longo da limpeza ou purga de um sistema contaminado, por exemplo


infecção por água de um sistema de refrigeração com amônia, é importante tomar
cuidado para proteger os olhos e a pele do fluido refrigerante saturado e ácido ou
névoa de óleo (PEREIRA, 2016). Assim, recomenda-se utilizar óculos de proteção
e uma vestimenta adequada para evitar o contato das demais partes do corpo
com o fluido refrigerante. Contudo, caso alguma distração ou imprevisto tenha
ocorrido e se percebeu o contato entre o fluido refrigerante com os olhos ou a
pele, é preciso lavar a área exposta imediatamente com água fria e aplicar sobre
o local da lesão uma bolsa de gelo, mas se a queimadura for séria é orientada a
procura imediata por um médico.

3.3 TRABALHANDO COM FLUIDOS REFRIGERANTES


Em 1930, Thomas Midgley Jr. desenvolveu pesquisas para encontrar
alternativas de fluidos refrigerantes que fossem atóxicos e não inflamáveis,
o que levou à síntese do R-12. No entanto, como destaca Ferreira (2012), esse
hidrocarboneto halogendo é agressivo ao meio ambiente e, por isso, diversas
pesquisas vêm sendo desenvolvidas para encontrar o fluido refrigerante que
atenda às especificações e demandas técnicas necessárias para promover uma
refrigeração eficaz, assim como sejam compostos classificados pela química
verde e com níveis de toxicidade e inflamabilidade aceitáveis conforme padrões
definidos pela ASHRAE 34, que são: toxicidade, toxicidade crônica, limite
ocupacional de exposição, nível sem efeito observado, calor de combustão,
limite de concentração inflamável, limite inferior de inflamabilidade, limite de
concentração de fluido frigorífico, pior caso de formulação para inflamabilidade,
pior caso de fracionamento para inflamabilidade, entre outros. Com isso, o
R-12 foi substituído, gradativamente, pelo R-134a ou por outro dos substitutos
aprovados, lembrando que um gás sob pressão pode ser perigoso, sendo que
a energia latente já pode causar danos e deve-se aplicar os mesmos cuidados
utilizados em sistemas que trabalham com outros gases pressurizados.

DICAS

Você sabe quais são os conceitos, princípios e requisitos envolvidos na química


verde? Para que você responda a essa pergunta e reflita sobre oportunidades de trabalho
relacionadas com essa área recomendamos que leia o artigo intitulado por Química Verde:
Sustentabilidade na Indústria Brasileira, elaborado pelo Conselho Regional de Química do
Rio de Janeiro, disponível no link: http://crq3.org.br/noticia/quimica-verde-sustentabilidade-
na-industria-brasileira/.

197
UNIDADE 3 | SISTEMAS DE AR-CONDICIONADO

Ademais, é importante não preencher inteiramente ou porcentuais


acima de 80% qualquer cilindro de fluido refrigerante com líquido, já que
é necessário um espaço para que seja possível a ocorrência de expansões
volumétricas sob condições normais, que são inevitáveis. Igualmente, certifique-se
de que uma área é devidamente ventilada antes de purgar ou evacuar um sistema
que utiliza R-12 e R-22. Em determinadas concentrações e na presença de chama
livre como são os casos de fogão a gás ou aquecedor de água a gás, pode ocorrer
a quebra química de ligações do R-12 e R-22, formando uma baixa quantidade do
gás fosgênio, que é altamente nocivo e por essa razão já foi utilizado na Primeira
Guerra Mundial como armamento químico (BEZERRA, 2013).

4 MANUTENÇÃO: EQUIPAMENTOS MECÂNICOS


Definimos as diversas possibilidades para os equipamentos de
condicionamento de ar, no entanto, também se faz necessário conhecer quais são
as principais manutenções que devem ser realizadas nos dispositivos mecânicos
constituintes desse sistema, assunto esse que é discorrido neste subtópico.

4.1 MANUTENÇÃO DA SEÇÃO DO REFRIGERADOR


Para compreender como efetuar a manutenção do refrigerador,
primeiramente é necessário reconhecer o caminho que é percorrido pelo fluido
e seus obstáculos, que na verdade são equipamentos responsáveis pela troca
térmica entre dois meios. O funcionamento do compressor nos sistemas de
refrigeração envolve um ciclo do tipo contínuo, ou seja, não há interrupção de
funcionamento. Nesse processo fechado, o fluido refrigerante líquido é vaporizado
no evaporador pelo calor que adentra ao gabinete por meio das paredes isoladas,
seja pela carga do produto ou pelas fendas da porta. O fluido refrigerante, no
estado termodinâmico caracterizado como vapor, passa do evaporador por meio
da linha de sucção em direção à carcaça do compressor, caracterizando a pressão
de sucção. Do alto interior da carcaça, o vapor escoa num fluxo descendente pelo
interior de um tubo para dentro do cilindro de compressão, que provocará um
aumento da pressão e temperatura do vapor. Em sequência, o vapor é compelido
por entre a válvula de descarga para o interior da linha de descarga e para o
condensador. O ar sobre a superfície do condensador transfere o calor do vapor à
alta pressão, desse modo, o fluido refrigerante é condensado formando uma fase
líquida, que passa do condensador para o evaporador por meio de uma linha de
expansão de líquido de pequeno diâmetro, comumente denominado por tubo
capilar. No evaporador, o fluido é sub resfriado pelo vapor de sucção à baixa
temperatura que se movimenta pela linha de sucção e retoma ao início do ciclo.

Percebeu como é complexo o circuito a ser percorrido pelo fluido


refrigerante? Então, vejamos as principais características intrínsecas do
compressor. A justificativa da escolha desse equipamento se deve pelo fato de
ele ter uma operação complexa e normalmente ser a causa das falhas encontradas
nos circuitos de refrigeração.
198
TÓPICO 2 | INSTALAÇÕES ELÉTRICAS, MANUTENÇÃO E SEGURANÇA

4.1.1 Motor e compressor


Todo compressor é dotado de um sistema com suspensão de molas
internas, mas apenas alguns dispõem de um relé magnético de partida de encaixe
provido de um protetor de sobrecarga, que pode ser embutido ou separado do
compressor. Tendo em vista esta especificação, recomenda-se no momento da
encomenda de um compressor de reposição, que seja especificado o detalhamento
do número do modelo e série do refrigerador, além do número da peça do
compressor. De posse a essas informações, os fabricantes conseguem indicar os
devidos procedimentos para que a manutenção seja realizada.

O Quadro 4 apresenta as principais tratativas de manutenção a serem


realizadas diante a constatação de alguns defeitos com suas causas e soluções.

QUADRO 4 – RELAÇÃO DE DEFEITO EM COMPRESSORES E COMO PROCEDER PARA O AJUSTE

Defeito: Compressor não funciona


Causa Solução
Termostato inoperante Troque o termostato
Fio de alimentação elétrica está fora da tomada
Posicione-o no lugar correto
da parede
Não há tensão na tomada da parede Troca do fusível danificado
Instalação elétrica do gabinete irregular Conserte-o se possível ou substitua-o
Relé solto ou ineficaz Pressione-o ou substitua-o
Enrolamentos do compressor destampados ou
Substitua o compressor
compressor bloqueado
Defeito: Compressor funciona, mas não há refrigeração
Causa Solução
Sistema sem fluido Verificar se existe vazamento
Compressor não provoca aumento de pressão
Troque-o
do fluxo mássico
Filtro secador ou tubo capilar bloqueado Remova-o e substitua-o
Observação de umidade no sistema Recolha o gás e recarregue a unidade
Defeito: Compressor executa ciclos curtos
Operação de termostato inconstante Troque-o
Ventilador do condensador com operação
Conserte-o se possível ou substitua-o
ineficaz
Compressor consome muita potência Troque-o
Defeito: compressor funciona boa parte ou 100% do tempo
Causa Solução
Termostato irregular ou ajustado para muito
Troque-o ou ajuste-o para a posição normal
frio

199
UNIDADE 3 | SISTEMAS DE AR-CONDICIONADO

Caso a temperatura do ambiente exterior esteja


mais baixa, abra as janelas para promover a
Temperatura ambiente interna superior ao
troca térmica, se possível, ligue os ventiladores
comum
para mover o ar interno e favorecer a
transferência.
Sistema de refrigeração está sobrecarregado ou
Regule a carga térmica
subcarregado
Escoamento de ar sobre o condensador
Remova os bloqueios
bloqueado
Defeito: ruído
Causa Solução
Tubulação vibra Regule-a
Ruído interno no compressor Troque-o
Compressor vibrando na moldura do gabinete Ajuste-o
Bandeja de evaporação de água solta Pressione-a
Motor do ventilador do condensador ineficaz Inspecione os fusíveis e o disjuntor

FONTE: Adaptado de Miller e Miller (2014, p. 325)

Uma atenção especial deve ser dada à questão da observação de ruídos em


sistemas de condicionamento de ar e refrigeração, já que o som necessita percorrer
um complexo e delicado sistema antes de alcançar os centros nervosos cerebrais,
cuja percepção pode causar um trauma acústico, seja ele devido a uma exposição
curta ou demorada, dependendo do tipo de fonte perturbadora. “Os ruídos, além
de prejudicar diretamente o aparelho auditivo e o cérebro, podem agir sobre alguns
outros órgãos, às vezes por ação reflexa, perturbando as funções neurovegetativas,
com implicações no funcionamento orgânico” (SILVA, 2005, p. 6).

Existem três vias conhecidas para a emissão do ruído, descritas pela


“via aérea: 340 m/s (ar), via líquida: 1435 m/s (água) e via sólida: 3000 a 6000
m/s (aço, concreto, vidro)” (SILVA, 2005, p. 279). Alguns ruídos são inevitáveis,
como aqueles observados nas tubulações de ar, gás refrigerante e da água de
condensação, principalmente em regiões onde ocorrem grandes quedas de
pressão do tipo perda de carga por acidente ou localizada.

O procedimento a ser tomado como manutenção do sistema após


a detecção de um ruído se inicia com a medição por decibelímetros de sua
intensidade dentro de uma gama de frequências audíveis, aproximadamente 20
a 20000 hertz (NETO; SANTOS, 2018). Constatada a perturbação, convém seguir
um roteiro obedecendo às condições:

Combate na fonte: combater o ruído na sua própria origem parece


elementar, mas não é. Por exemplo, fabricar máquinas silenciosas.
Infelizmente, trata-se de um problema da aldeia global, que nos países
menos desenvolvidos torna-se crítico.
Enclausuramento: se a máquina faz barulho, o remédio mais aplicado
é: enclausurá-la. Trata-se de combatê-lo na própria fonte. Para isso,
utilizamos paredes, telhados, estruturas, barreiras especiais, janelas

200
TÓPICO 2 | INSTALAÇÕES ELÉTRICAS, MANUTENÇÃO E SEGURANÇA

ou portas isolantes acústicas, capazes de atenuar os ruídos originados


nas máquinas, levando-os a níveis compatíveis com os seus ambientes.
Tratamento acústico: muitas vezes o barramento não é o bastante. Para
isso, tratamos as superfícies internas com material acústico absorvente,
que não só atenua parte da energia, mas também contribui para o
rebaixamento do nível de ruído existente no local. Esses materiais são
os chamados absorventes acústicos e geralmente são esponjosos.
Cálculo do tempo de reverberação: como vamos saber se o ambiente está
bom ou não com referência ao nível de seus sons internos? A maneira
de avaliar é encontrar o seu tempo de reverberação, isto é, aquele tempo
no qual um som internamente com um nível x dBA caia de 60 dBA, ou
seja, torne-se x-60 dBA para uma frequência escolhida. Esse tempo é
avaliado pela Equação 16 já conhecida de Sabine (SILVA, 2005, p. 280).

V
tr = 0,161 (Equação 16)
∑S

Em que:

tr≡ tempo de reverberação (s);


V≡ volume da sala (m³);
S≡ somatório dos produtos das áreas de todas as superfícies internas pelos seus
respectivos coeficientes de absorção (m²).

De posse ao tempo de reverberação, localiza-se no Gráfico 4 o ponto dito


ótimo na frequência média de 512 Hertz para a qual se pode exercer sem prejuízos
as atividades previstas num certo ambiente, seja ele um estúdio de rádio, uma
sala de concerto ou de aula etc.

GRÁFICO 4 – TEMPO DE REVERBERAÇÃO A 500 HERTZ

FONTE: Adaptado de Silva (2005, p. 145)

201
UNIDADE 3 | SISTEMAS DE AR-CONDICIONADO

Caso os defeitos não sejam sanados a tempo, os compressores podem ser


totalmente perdidos, isso porque ele de fato é queimado, cuja motivação pode ser
devido à baixa tensão de linha, perda de fluido refrigerante, elevada pressão de
descarga e presença de umidade.

DICAS

O cálculo do tempo de reverberação é frequentemente aprimorado. Existem


softwares ou sites que solicitam alguns dados de entrada (inputs) para o seu cálculo, como
por exemplo, o quão ocupado está um ambiente, quais as dimensões do recinto, qual o
material que compõe as paredes etc. Para efeitos de teste, recomendamos que estime o
tempo de reverberação de um local da sua escolha utilizando as informações disponíveis
em: http://wwwp.feb.unesp.br/jcandido/acustica/Calculos/Tempo_de_reverb.htm.

4.1.2 Verificação de vazamentos de fluido refrigerante


Caso seja diagnosticada a falta de fluido refrigerante no sistema e este
não esteja aberto, é provável que exista alguma zona de vazamento. Em primeiro
momento pode parecer óbvio tomar a atitude de acrescentar fluido refrigerante
sem antes encontrar e consertar o vazamento, mas isso não irá corrigir de fato
o problema. Mas, você sabe como pode ser possível encontrar um vazamento?
Pontua-se que, por vezes, o escapamento de uma certa quantidade de fluido
refrigerante é insuficiente para realizar um teste de vazamento e nesse cenário
convém colocar uma válvula perfuradora de ¼ polegada no tubo de serviço do
compressor, adicionando fluido refrigerante suficiente para ampliar a pressão até
75 psi. Através deste procedimento, pequenos vazamentos serão mais fáceis de
serem detectados antes que ocorra descarregamento do sistema e a contaminação
do ar na vizinhança (MILLER; MILLER, 2014).

Diversos modelos de detectores de vazamento estão disponíveis na


literatura, sendo comumente utilizados os detectores do tipo líquido, maçaricos
para gases halogenados, detectores eletrônicos frágeis a halogênio e detectores
eletrônicos transistorizados frágil à pressão (REFRIGERAÇÃO, 2019, s.p.), que
são assim descritos:

Os detectores líquidos (bolhas) podem ser usados para detectar


pequenos vazamentos da seguinte maneira. Esfregue o detector líquido
sobre a área suspeita e observe a formação de bolhas conforme o gás
escapa. Se o vazamento for pequeno, você pode ter que esperar vários
minutos para que uma bolha apareça. ATENÇÃO: use o método de
bolhas somente quando tiver certeza de que o sistema possui pressão
positiva. A sua utilização quando um vácuo está presente pode
arrastar o detector líquido para o sistema.

202
TÓPICO 2 | INSTALAÇÕES ELÉTRICAS, MANUTENÇÃO E SEGURANÇA

Quando realizar testes com o maçarico para gases halogenados,


assegure-se de que o ambiente esteja livre de vapores de fluido
refrigerante. Observe a chama em busca da mais leve variação na
cor. Um verde muito pálido indica um vazamento pequeno. A chama
passará inconfundivelmente do verde para o roxo quando vazamentos
grandes forem encontrados. Para simplificar a detecção de vazamentos,
mantenha o sistema pressurizado com, no mínimo, 75 lb/in2.
Para testes mais sensíveis, empregue um detector de vazamentos
eletrônico. Os detectores eletrônicos sensíveis a halogênio podem
detectar vazamentos mínimos de fluido refrigerante, mesmo que o ar
das vizinhanças contenha pequenas quantidades de fluido refrigerante.
Um detector eletrônico, transistorizado e sensível à pressão não exige
que o sistema seja pressurizado com fluido refrigerante. Ar seco ou
nitrogênio podem ser usados para pressurizar o sistema. A pressão
escapando através de uma abertura minúscula é detectada (MILLER;
MILLER, 2014, p. 526).

Nas opções de sistemas de refrigeração em que há um isolamento com


espuma de uretano, pode ser que você ainda se depare com equipamentos nos
quais foram aplicados o fluido R-11 como agente espumante, no qual as moléculas
constituintes do R-11 preenchem as paredes internas e externas do gabinete.
Desta forma, no momento em que for realizado o teste para a constatação de
locais com vazamento, pode ocorrer um escoamento do fluido refrigerante, o que
na verdade não se refere a um vazamento, mas sim a retirada do espumante.

E
IMPORTANT

Os tubos de cobre sofrem, com uma probabilidade relativamente alta, ataques


por agentes químicos corrosivos ou ácidos orgânicos, que estão presentes na atmosfera na
qual o refrigerador está instalado, como são os casos de compostos químicos constituintes
de adesivos, gabinetes, carpetes, tintas, produtos de limpeza a base de amônia ou alvejante,
gesso, entre outros tantos capazes de liberarem compostos orgânicos voláteis, sendo o
ácido acético o mais comum, que é convertido em acetato na presença de água. Esses
materiais causam corrosão na serpentina de cobre do refrigerador ou ar-condicionado
do tipo puntiforme devido a presença de oxigênio, agente quimicamente corrosivo ou de
umidade (FRAUCHES et al. 2014).

203
RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você aprendeu que:

• Existem alguns passos importantes que devem ser dados no momento do


desembrulho do sistema de condicionamento de ar até a sua devida instalação,
sendo que eles devem ser seguidos para garantir a operação do sistema
conforme carga térmica previamente calculada e especificada pelo cliente
(comprador).

• É necessário seguir todas as recomendações apresentadas no manual do


fabricante para diminuir as chances de ocorrer falhas de funcionamento ou
perda da garantia do produto.

• O manuseio dos cilindros bem como a verificação das condições de pressurização


e do fluido de refrigeração são fundamentais para uma operação segura.

• Existe uma variedade de defeitos que o compressor pode apresentar e, para


cada um deles, é necessário um tratamento específico, que com a experiência
do operador pode ser proposto conforme uma detecção imediata e sem o uso
de instrumentos.

• Deve-se ficar atento a possíveis vazamentos do sistema de refrigeração, que


por vezes é detectado por uma operação ineficiente, pois isso acarreta danos à
saúde das pessoas existentes no local refrigerado.

204
AUTOATIVIDADE

1 Leia atentamente os trechos a seguir que se referem à instalação de ar-


condicionado:

Num dia de calor, você verificou suas economias e viu que conseguirá
comprar um ar-condicionado para instalar na sala de residência. Verificou,
então, em sites de diversas marcas qual apresentava a melhor relação entre
custo e benefício, observando o consumo de energia quando acionado e o
preço de mercado. Como é a primeira vez que você tem contato com esse
tipo de equipamento, você resolve chamar um técnico especializado em ar-
condicionado para não danificar o seu produto recém-adquirido ou até mesmo
provocar acidentes. O profissional contratado já verificou que no prédio onde
você mora é permitido o tipo de ar-condicionado que você comprou e está
pronto para começar a trabalhar.

Baseado no texto apresentado e em seus conhecimentos acerca de instalação


de ar-condicionado, analise os itens que seguem.

I- Os danos aparentes ou ocultos na unidade devem ser avisados


imediatamente para a companhia de transporte.
II- Mantenha sempre que possível o maior comprimento das tubulações de
fluido refrigerante e fiação.
III- É essencial manter as extremidades dos tubos abertas até que as ligações
de instalação sejam realizadas.

Agora, assinale a alternativa que apresenta somente o(s) item(s) CORRETOS(S).


a) ( ) I.
b) ( ) II.
c) ( ) I e II.
d) ( ) II e III.
e) ( ) I, II e III.

2 Existe uma variedade de falhas que podem ocorrer na unidade de


condicionamento de ar ou sistema de refrigeração, principalmente no que diz
respeito ao funcionamento do compressor, dentre elas pode-se mencionar a
verificação que não há tensão na tomada da parede. Diante da constatação
desse problema, assinale a alternativa que apresenta uma possível solução
para resolver o impasse e o sistema voltar a operar normalmente.

a) ( ) Troque o termostato.
b) ( ) Posicione a caixa de energia no lugar correto.
c) ( ) Desative o funcionamento do ventilador.
d) ( ) Troca do fusível danificado.
e) ( ) Regule a carga térmica.

205
206
UNIDADE 3
TÓPICO 3

ESTUDOS DE CASO E EXPERIMENTAÇÃO

1 INTRODUÇÃO
Toda seleção de um sistema de condicionamento de ar é realizada na
tentativa de climatizar um ambiente, que se baseia num “processo de tratamento
de ar em recinto fechado, de modo a controlar simultaneamente sua temperatura,
umidade, pureza e movimentação” (SILVA, 2011, p. 60), garantindo, assim, um
“estado de espírito que reflete satisfação com o ambiente térmico que envolve
uma pessoa” (ASHRAE, 1997, p. 438) através do atingimento ideal de valores
para variáveis individuais, que incluem tipo de atividade e vestuário, segundo o
conhecimento de variáveis ambientais, que são representadas pela temperatura
de bulbo seco do ar, temperatura média radiante, velocidade e umidade relativa
do ar. Isso é conseguido graças à movimentação contínua do ar e sua passagem
em dispositivos de separação (filtros), térmicos e mecânicos.

Tendo em vista os aspectos levantados no parágrafo anterior, esse tópico


destina-se a execução de práticas de sistemas de condicionamento no que dizem
respeito a: (i) aplicação de fórmulas para o cálculo da carga térmica para fins
de (ii) especificação de equipamentos de ar-condicionado, (iii) compreensão do
circuito térmico desse equipamento e (iv) modelagem matemática de torres de
resfriamento.

2 ESTUDO DE CASO
Existem diversas variáveis que nos auxiliam na escolha de um sistema
de ar-condicionado. Para você compreender como elas afetam no funcionamento
desses processos térmicos, nesse tópico são explanados e propostos alguns
estudos de caso.

2.1 CÁLCULO SOBRE OS FATORES DE CARGA TÉRMICA


A carga térmica é um dado fundamental para o projeto de sistemas de
condicionamento de ar, uma vez que ela identifica a necessidade de transferência
de calor de um espaço a ser refrigerado em relação a um ambiente externo. A
partir do conhecimento da quantidade de energia transferida pode-se propor a
aquisição ou substituição de equipamentos, garantindo o conforto para quem
usufrui dessa instalação de ar-condicionado.

207
UNIDADE 3 | SISTEMAS DE AR-CONDICIONADO

Para a estimativa da carga térmica, é necessário aplicar leis térmicas,


essencialmente as que dizem respeito aos fenômenos de condução, convecção,
radiação solar, presença de equipamentos elétricos, sistemas de iluminação
e desumidificação, assim como de leis biológicas, por exemplo o cálculo sobre
atividades metabólicas de pessoas em diferentes funções, e, ainda, a observação
de informações concedidas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas acerca
de sistemas de refrigeração.

Do exposto, essa prática requer o cálculo da carga térmica para os


enunciados citados no parágrafo acima segundo as especificações descritas por:

• Condução: sabe-se a composição dos materiais constituintes da parede em


que ocorre a transferência de calor, conforme mostra a Figura 8, sendo que as
espessuras são: madeira de lei 3 cm, tijolo comum 25 cm e reboco 2 cm.

FIGURA 8 – COMPOSIÇÃO DA PAREDE

FONTE: Os autores

• Convecção: efeito percebido pela parede de reboco nas situações em que se


encontra exposta externamente às condições de: (1) ar parado, (2) vento a 12
km/h, (3) vento a 24 km/h.
• Insolação: radiação solar através de uma janela de vidro sem proteção com
as características: dimensões: 3,0 x 2,5 m, localização do imóvel na cidade do
Rio de Janeiro (RJ), horário para o cálculo: 15h do dia 20 de fevereiro e janela
voltada para o oeste. O quadro a seguir é uma ferramenta para auxiliar na
obtenção de dados necessários para a estimativa desejada.

208
TÓPICO 3 | ESTUDOS DE CASO E EXPERIMENTAÇÃO

TABELA 4 – RADIAÇÃO SOLAR EM FUNÇÃO DO DIA E POSIÇÃO DA CONSTRUÇÃO

Dados para o RJ Horário (h)


Dia Face 6 8 10 12 14 16 18
Sul 87 65 45 40 51 62 87
Sudeste 250 380 180 40 38 38 13
20 de dezembro

Leste 253 470 274 36 36 36 13


Nordeste 97 220 148 45 41 41 13
Norte 13 30 38 47 41 37 13
Noroeste 13 30 36 41 163 187 105
Oeste 13 30 36 36 284 449 234
Sudoeste 13 30 36 40 194 230 210
Sul 58 47 39 36 36 39 41
Sudeste 226 370 158 36 36 33 9
20 de novembro

Leste 242 478 294 36 36 33 9


20 de janeiro

Nordeste 98 258 191 47 36 33 9


Norte 9 31 44 55 44 33 9
Noroeste 9 31 36 36 191 245 99
Oeste 9 31 36 36 294 438 242
Sudoeste 9 31 36 36 158 332 226

FONTE: Os autores

• Calor sensível em duto de retorno: duto retangular com dimensões


equivalentes a 50 x 35 cm e 20 m de comprimento, isolamento de isopor com
duas polegadas, temperatura do ar de retorno em 27 °C, temperatura do ar
externo correspondente a 37 °C.
• Número de pessoas: escritório com 10 pessoas exercendo atividades moderadas
(AM) e 60 pessoas sentadas (AS). Deseja-se que esse espaço seja refrigerado
numa temperatura fixa de 25 °C. A tabela 11 fornece alguns dados para auxiliar
nessa determinação.

TABELA 5 – TAXA DE TRANSFERÊNCIA DE CALOR DEVIDO À MOVIMENTAÇÃO DO CORPO HUMANO

Pessoa sentada ou em movimento


Pessoa em atividade moderada
Temperatura lento
(°C) Calor sensível Calor latente Calor sensível Calor latente
(kcal/h) (kcal/h) (kcal/h) (kcal/h)
28 50,2 50,2 45,1 121
26 58 42,1 58 108,1
24 66 34 72,1 97
22 72,1 28 82,2 83,9

FONTE: Adaptado de Creder (2004, p. 100)

209
UNIDADE 3 | SISTEMAS DE AR-CONDICIONADO

• Presença de motores elétricos: 3 ventiladores de teto com 175 W cada e


rendimento dado pelo fabricante de 87%.
• Iluminação: espaço composto por restaurante (22 conjuntos de lâmpadas
fluorescentes de 3 x 60 W) e sala de espera com 10 spotlights de 180 W e do tipo
incandescente.
• Ventilação: sala de aula com 40 lugares, com ar interior a 24 °C e umidade absoluta
0,009 kg água/ kg de ar seco e ar exterior a 34 °C e 0,014 kg água/ kg ar seco.
• Latente: escritório mantido a 25 °C e provido de um sistema de ventilação que
proporciona uma vazão de ar equivalente a 100 m³/h a 10 °C.

• Objetivo: interpretar, utilizar fórmulas e coletar dados para a determinação de


carga térmica em diferentes situações práticas.
• Materiais utilizados: essa prática não requer o uso de equipamentos
laboratoriais tampouco reagentes. Mas, recomenda-se o uso de computador
com uma planilha eletrônica instalada ou calculadora e acesso à internet para a
consulta e coleta de propriedades térmicas.
• Procedimento: a determinação da carga térmica para cada uma das situações
apresentadas na contextualização dessa prática requer o preenchimento das
informações na Tabela 6.

TABELA 6 – VARIÁVEIS PERTINENTES AO CÁLCULO DA CARGA TÉRMICA

Condução
Carga térmica
Resistência 1 Resistência 2 Resistência 3 Coeficiente global
global

Convecção
Resistência 1 Resistência 2 Resistência 3 Carga térmica 1 Carga térmica 2

Insolação
Coeficiente global Área de troca Carga térmica devido à radiação

Duto de retorno
Diferença de Efeito do Carga térmica
Área de troca Coeficiente global
temperatura isolamento total

Número de pessoas
Calor sensível Calor latente Carga térmica
Calor sensível AS Calor latente AS
AM AM total

Motores elétricos
Carga térmica
Carga térmica ideal Carga térmica real
total

210
TÓPICO 3 | ESTUDOS DE CASO E EXPERIMENTAÇÃO

Iluminação
Restaurante: Restaurante: Sala de espera: Sala de espera: Carga térmica
potência carga térmica potência carga térmica total

Ventilação
Quantidade Vazão de ar Carga térmica
Calor sensível Calor latente
de ar exterior total total

Latente
Carga térmica
Entalpia a 25°C Entalpia a 10 °C Peso específico Força motriz
total

FONTE: Os autores

AUTOATIVIDADE

1 Qual é o mecanismo de transferência de calor que mais contribui para a carga


térmica do sistema de condicionamento de ar? Justifique a sua resposta.

2 O que aconteceria nos cálculos da questão anterior se fosse utilizada uma


tinta térmica na parede exposta ao ar atmosférico?

3 A carga térmica devida à iluminação deve ser levada em consideração na


escolha do ar-condicionado? Justifique a sua resposta.

4 Se o número de pessoas no recinto fosse duplicado, seria esperado que a


carga térmica também aumentasse em duas vezes? Justifique a sua resposta.

5 Qual o valor para a carga térmica total? Baseado nesse número calculado,
qual seria o ar-condicionado selecionado? Justifique a sua resposta
apresentando opções de fabricantes com seus respectivos valores.

2.2 PROJETO DE SISTEMA DE CONDICIONAMENTO DE AR


Você foi escolhido para selecionar um sistema de condicionamento de
ar para atender à solicitação de um cliente em Vitória (Espírito Santo) chamado
Marcos, quem lhe apresentou a seguinte situação: quais são as opções de
refrigeração de uma sala construída com bloco de concreto, esquematizada pela
Figura 9, em que se pratica lutas jiu jitsu e karatê.

211
UNIDADE 3 | SISTEMAS DE AR-CONDICIONADO

FIGURA 9 – PLANTA SIMPLIFICADA DA SALA A SER REFRIGERADA

FONTE: Os autores

Na Figura 9 é apresentada uma planta simplificada da sala de lutas


estudada, cujas dimensões são 4 por 6,5 metros. Na parede ao norte tem-se uma
porta com comprimento de 0,8 metro e distante de 0,2 metro da parede de 6,5
metros a oeste que contém uma janela. As demais paredes não têm detalhamentos.

Marcos ainda especificou as seguintes informações que lhe auxiliarão


como inputs para os seus cálculos de carga térmica:

• Parede de 6,5 m a oeste é a única parede externa que é exposta à radiação solar
e contém uma janela com dimensões de 1,7 x 6,0 m sem alguma proteção, mas
pode-se sugerir alguma alteração no que diz respeito a inserção de uma cortina
ou outra barreira externa.
• A construção possui pé direito de 3,6 m.
• A sala encontra-se no antepenúltimo andar de um prédio, podendo desprezar
a carga térmica advinda do espaço superior.
• A porta existente mantém-se boa parte do tempo fechada, só permitindo o
fluxo de pessoas quando se troca de equipe a cada hora.
• A academia de luta comporta, simultaneamente, 20 pessoas em plena atividade
e deseja-se ampliar esse número para 22.
• Existem os seguintes equipamentos no recinto: 2 bebedouros vertical de 140 W
(cada), 1 televisão de 104 W e um modem de internet de 8 W.
• A iluminação da sala é realizada por um sistema composto por lâmpadas
fluorescentes de 30 W/m².

Para esse projeto, devem ser adotadas algumas considerações, tais


como: estudo preliminar, no qual são levantadas as normas para a definição
das características do sistema a ser implementado, estabelecimento das bases
de cálculo, ou seja, dos parâmetros que influenciam no projeto (iluminação,
ocupação, radiação solar) e apresentação de plantas ou detalhamentos acerca da
construção do recinto que se deseja resfriar. Com isso, é possível definir todos os
constituintes do sistema a ser adotado a partir da descrição objetiva da solução
adotada em um memorial descritivo.

212
TÓPICO 3 | ESTUDOS DE CASO E EXPERIMENTAÇÃO

DICAS

A descrição dessa prática apresenta os instrumentos elétricos, número


de pessoas, presença da incidência solar em uma das paredes, entre outros fatores que
influenciam no cálculo da carga térmica no que diz respeito à quantidade de calor sensível
e latente que deve ser retirada para que se mantenham as condições de conforto térmico.
Compreenda melhor como eles afetam nessa determinação e descubra outras orientações
para a seleção de um sistema de condicionamento de ar fazendo a leitura da NBR 5.858/1983.

• Objetivo: interpretar a norma NBR 5.858/1983, calcular a carga térmica


demandada pelo recinto e selecionar um sistema de condicionamento de ar
que atenda à solicitação de um cliente.
• Materiais utilizados: essa prática não requer o uso de equipamentos
laboratoriais tampouco reagentes. Mas, recomenda-se o uso de computador
com uma planilha eletrônica instalada ou calculadora e acesso à internet para a
consulta dos fatores de carga térmica e fabricantes de ar-condicionado.
• Procedimento: para atender à solicitação de Marcos, é necessário o
preenchimento das informações dispostas na Tabela 7, que simplificam as
especificações da NBR 5.858/1983.

TABELA 7 – PARA PREENCHIMENTO CONFORME INFORMAÇÕES DADAS PELO CLIENTE

Cliente: Local:
Janelas ou portas dispostas à insolação
Localização Área Sem proteção Com proteção interna Fator Energia
Norte 240 115 70
Nordeste 240 95 70
Leste 270 130 85
Sudeste 200 85 70
Sul 0 0 0
Sudoeste 400 160 115
Oeste 500 220 150
Noroeste 350 150 95
Paredes externas expostas à radiação
Tipo Área Construção Leve Construção pesada Fator Energia
Orientação ao Sul 13 10
Outra orientação 20 12
Detalhamentos do teto
Tipo Área Fator Energia
Ao sol sem isolamento 75
Entre andares 13

213
UNIDADE 3 | SISTEMAS DE AR-CONDICIONADO

Sob telhado com insolação 18


Sob telhado sem insolação 50
Influência do número de pessoas
Tipo Número Fator Energia
Em atividade normal 150
Em repouso 75
Em atividade intensa 750
Outras fontes de calor
Quantidade Item Potência Fator Energia
..
. 0,86
... 0,86
Motores elétricos
Quantidade Item Potência Fator Energia
..
. 645
... 645
Influência de iluminação
Tipo Item Quantidade Potência Fator Energia
Incandescente 1
Fluorescente 0,5
Portas ou vãos continuamente abertos para áreas não condicionadas
Número da porta Área Quantidade Fator Energia
..
. 150
... 150
Localização geográfica do recinto Fator Energia

Carga térmica total:


Orientação do sistema a ser adquirido:

FONTE: Os autores

AUTOATIVIDADE

1 A partir das informações fornecidas, qual foi a carga térmica total da sala de
lutas? Você considera esse valor alto para um estabelecimento comercial?
Justifique sua resposta.

2 Em sua opinião, Marcus foi detalhista nos dados fornecidos ou faltou algo
para que o projeto fosse conclusivo? Justifique sua resposta.

3 Qual é a diferença da carga térmica se fosse implementado algum mecanismo


para proteção térmica na janela?

214
TÓPICO 3 | ESTUDOS DE CASO E EXPERIMENTAÇÃO

4 Qual é a sua proposta para apresentar a Marcus? Seria mais adequado


um único ar-condicionado ou pelo menos dois? Justifique sua resposta
em termos econômicos e também sobre o ponto de vista dos esforços
demandados pelos dispositivos do circuito em questão.

2.3 FUNCIONAMENTO DE AR-CONDICIONADO SPLIT


Um aparelho de ar-condicionado do tipo Split é composto por dispositivos
similares a outros sistemas de refrigeração, ou seja, provém de condensador,
evaporador, trocador de calor, dispositivo de despressurização, que por razões
relacionadas à favorável razão entre custo e benefício é, na maioria das vezes,
uma válvula de expansão, compressor e trocador de calor. Em termos gerais:

o fluido refrigerante que atravessa o evaporador dentro da serpentina


de resfriamento e desumidificação retira energia do ambiente a
ser resfriado através do contato do ar. Essa energia retirada deverá
ser liberada para o meio exterior por meio do condensador. Para
possibilitar esse processo, os sistemas de climatização podem ser do
tipo expansão direta e de expansão indireta. No sistema de expansão
direta, o ar a ser climatizado entra em contato direto com a serpentina,
enquanto que um sistema de expansão indireta utiliza um fluido
intermediário para climatizar o ar ambiente. Baseado nisso, o aparelho
de condicionamento deve ser instalado de forma a permitir o contato
entre duas fontes de calor, uma fria e outra quente (SILVA, 2010, p. 64).

Desse circuito, nem sempre temos a sorte de adquirir um aparelho


que atenda exatamente à carga térmica total de um recinto, ocasionando na
subespecificação ou superdimensionamento. Como consequência, podemos estar
utilizando um equipamento aquém ou além de sua capacidade de refrigeração
e isso interferirá negativamente no seu funcionamento, sobrecarregando os
dispositivos de compressão e troca térmica ou dispendendo de uma quantidade
de energia elétrica acima da real necessária para o acionamento do sistema, o
que é desperdício de dinheiro (custo) gasto com fornecimento de energia. Então,
compreender quais são os equacionamentos pertinentes a cada volume de controle
e a influência das propriedades termodinâmicas e termofísicas é fundamental
para uma escolha acertada, visando à economia de gastos com energia elétrica e
menores impactos negativos sobre o meio ambiente.

Dado o contexto, você foi responsável para efetuar cálculos pertinentes ao


sistema de condicionamento de ar provido de um conjunto de ar-condicionado
Split Hi-wall, com fluido refrigerante R22, já que é uma substância que não possui
características tóxicas, inflamáveis e explosivas (BEHAR, 1980) e cada um possui
capacidade térmica de 7.000, 9.000 e 18.000 Btu/h, instalados em um ambiente
com necessidade de refrigeração de 53.000 Btu/h.

• Objetivo: interpretar a influência de um dimensionamento equivocado sobre


o funcionamento de um ar-condicionado, quantificar os efeitos térmicos e
mecânicos no dispositivo de refrigeração proposto.
215
UNIDADE 3 | SISTEMAS DE AR-CONDICIONADO

• Materiais utilizados: essa prática não requer o uso de equipamentos


laboratoriais tampouco reagentes. Mas, recomenda-se o uso de computador
com uma planilha eletrônica instalada ou calculadora e, ainda, acesso à internet
para a consulta de especificidades concedidas por endereços eletrônicos de
fabricantes de ar-condicionado bem como a coleta de dados termodinâmicos
do fluido refrigerante R22.

UNI

• Procedimentos: a determinação das propriedades termodinâmicas nas correntes de


saída e entrada dos dispositivos que compõem o ar-condicionado é um importante
ferramental para responder às perguntas que se encontram no questionário desta prática.
Considerando as correntes descritas abaixo, busque com auxílio de uma referência os
dados que preenchem a Tabela 8.
◦ Corrente 1: saída do trocador de calor e entrada do compressor.
◦ Corrente 2: saída do compressor e entrada do condensador.
◦ Corrente 3: saída do condensador e entrada do trocador de calor.
◦ Corrente 4: saída do trocador de calor e entrada da válvula de expansão.
◦ Corrente 5: saída da válvula de expansão e entrada do evaporador.
◦ Corrente 6: saída do evaporador e entrada do trocador de calor.

QUADRO 12 – PROPRIEDADES TERMODINÂMICAS DE UM CONJUNTO SPLIT

Corrente Estado Pressão Temperatura Entalpia Entropia


1
2
3
4
5
6

FONTE: Os autores

AUTOATIVIDADE

1 Quais são as variáveis necessárias para a determinação da vazão mássica de


fluido refrigerante no ar-condicionado?

2 Quais são os valores de entalpia das correntes envolvidas no processo que


permitem a determinação da eficiência do ar-condicionado?

3 Qual é o valor do coeficiente de performance do ciclo?

4 Qual é a troca térmica no evaporador?


216
TÓPICO 3 | ESTUDOS DE CASO E EXPERIMENTAÇÃO

2.4 PRÁTICA DE TORRE DE RESFRIAMENTO


Os processos de refrigeração já são reconhecidos como importantes e
fundamentais para a remoção de energia, na forma de calor, de um determinado
sistema, sendo que em grande parte das aplicações industriais a água é utilizada
como fluido de resfriamento devido a sua abundância, baixo custo e por apresentar
propriedades químicas e toxicológicas que favorecem a sua operação simples
e segura. Para o reaproveitamento dessa água, seja ele motivado por questões
econômicas ou ambientais, é necessário o seu resfriamento, que comumente
ocorre em torres de resfriamento.

Nas torres de resfriamento, a água aquecida é alimentada na seção


superior onde percorre um equipamento que provoca o seu gotejamento na
seção superior. Posteriormente, esse fluido escoa, por ação da gravidade, através
de diversos enchimentos em contracorrente com um fluido frio, que geralmente
é o ar. Devido à diferença de temperatura percebida entre os fluidos, calor é
transferido da água para o ar, ocasionando a evaporação da água, cujo calor
latente é de ordem superior ao calor relacionado com a diferença de temperatura,
promovendo, assim, o seu abaixamento de temperatura.

Do exposto, verifica-se que a torre de resfriamento é um equipamento que


pode ser dimensionado e caracterizado segundo a obediência de princípios de
transferência de calor e massa. Além disso, seu projeto é dependente dos valores
de vazão e de temperatura da água de alimentação.

• Objetivo: realizar os princípios elementares de massa e calor na torre de


resfriamento.
• Materiais utilizados: essa prática não requer o uso de equipamentos
laboratoriais tampouco reagentes. Mas, recomenda-se o uso de computador
com uma planilha eletrônica instalada ou calculadora e, ainda, acesso à internet
para a consulta de propriedades psicrométricas.
• Procedimentos: supondo que tenha sido realizado um experimento numa
torre de resfriamento de bancada, conforme os passos descritos por Sampaio
(2013). A partir dessa execução, registrou-se as seguintes informações:
◦ Temperatura de bulbo seco do ar de entrada: 29,5 °C.
◦ Temperatura de bulbo úmido do ar de entrada: 24 °C.
◦ Temperatura de bulbo seco do ar de saída: 36,7 °C.
◦ Temperatura de bulbo úmido do ar de saída: 36,7 °C.
◦ Vazão do ar de entrada: 351 m³/h.
◦ Vazão de vapor na entrada: 7,04 kg/h.
◦ Vazão de vapor na saída: 17,13 kg/h.
◦ Temperatura de entrada da água líquida: 52,5 °C.
◦ Temperatura de saída da água líquida: 26,4 °C.
◦ Vazão de entrada de água líquida: 248,5 kg/h.
◦ Vazão de saída de água líquida: 221 kg/h.
◦ Pressão atmosférica local: 707 mmHg.
◦ Pressão total na torre: 722,5 mmHg.

217
UNIDADE 3 | SISTEMAS DE AR-CONDICIONADO

1- Determine quais são as equações que descrevem o balanço de massa no sistema.


2- Desenvolva as expressões de balanço de energia no volume de controle
selecionado, adotando as devidas hipóteses simplificadoras.
3- Descreva quais são as equações necessárias para o fechamento do grau de
liberdade do sistema estudado.
4- Explane sobre como esboçar curvas características do funcionamento de uma
torre de resfriamento.

218
TÓPICO 3 | ESTUDOS DE CASO E EXPERIMENTAÇÃO

LEITURA COMPLEMENTAR

AR-CONDICIONADO SEM ELETRICIDADE É


CRIADO EM BANGLADESH

Any Karolyne Galdino

A situação precária de Bangladesh torna a vida de muitos habitantes


difícil, além de não terem eletricidade, internet, água limpa, comida, ainda sofrem
com a alta temperatura. Em Daulatdia um vilarejo no país com aproximadamente
28 mil pessoas, empilhadas em casebres sem água corrente, com temperaturas
que passam de 45 ºC, criaram o primeiro ar-condicionado sem eletricidade, com
baixo custo já que é feito de garrafas pet e papelão.

São feitos furos no papelão, e preenchidos com garrafas pet. Após


finalizado, o ar-condicionado é colocado na frente da porta ou janela. O efeito
refrigerador é imediato e abaixa 12º celsius. Isso acontece, pois o ar quente entra
nas garrafas pelo lado de fora e depois manda um ar mais frio pra fora pela
passagem da garrafa.

Além de ajudar na refrigeração deste lugar, também incentiva a reciclagem.


O Eco-cooler com certeza é uma ideia muito criativa e que ajuda muito essas pessoas.

FONTE: <https://engenhariae.com.br/meio-ambiente/ar-condicionado-sem-eletricidade-e-criado-
em-bangladesh>. Acesso em: 18 abr. 2019.

219
RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você aprendeu que:

• É possível efetuar o cálculo de carga térmica a partir das situações em que


ocorrem: condução em paredes ou outras superfícies sólidas, convecção devida
principalmente à ação do vento, insolação, calor sensível em duto, ambientes
comportando um determinado número de pessoas ou motores elétricos, efeitos
de iluminação, ventilação e latente.

• Um sistema de condicionamento de ar pode ser proposto se são especificadas


as informações de um cliente e analisadas as condições operacionais do
equipamento selecionado, sendo necessário observar se a demanda foi
atingida sem o detrimento do funcionamento adequado dos componentes do
ar-condicionado.

• Um ar-condicionado do tipo split pode ser explicado de acordo com os princípios


de termodinâmica, em que se tem uma série de equipamentos dispostos
em série com funções mecânicas de pressurização ou despressurização e,
ainda, térmicas, para a retirada de energia de um recinto com consequente
abaixamento de temperatura.

• O projeto de uma torre de resfriamento requer o conhecimento de algumas


variáveis de entrada, cujo número é definido por graus de liberdade. De
posse desse conhecimento, realiza-se os cálculos mássicos e energéticos
pertinentes, que são fundamentais para a escolha das melhores condições
operacionais do referido equipamento para a promoção do abaixamento de
temperatura de um fluido.

220
AUTOATIVIDADE

1 Qual é o ganho de vapor pelo ar de entrada em kg/h? O que se deve esse


aumento?

2 Qual é a taxa de perda mássica de água percebida?

3 Qual é a energia específica do (i) ar seco, (ii) vapor e (iii) água líquida na
entrada e saída? Baseado nesses resultados, você pode considerar que a torre
de resfriamento se encontra isolada termicamente? Justifique sua resposta.

CHAMADA

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221
222
REFERÊNCIAS
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