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NOTA DE ENCERRAMENTO

DAS ATIVIDADES
DO MPJ EM DISPARADA

Construiremos novamente duas organizações


distintas: Disparada e MPJ

31 de janeiro de 2021
NOTA DE ENCERRAMENTO DAS ATIVIDADES DO MPJ EM DISPARADA janeiro/2021

O Brasil passa por um dos piores períodos da sua história. Enfrentamos um governo
autoritário, conservador e com um projeto econômico ultraneoliberal, que tem levado o povo
à miséria. O governo Bolsonaro é extremamente irresponsável e aprofunda as crises que
vivemos: a crise sanitária com milhares de brasileiros mortos pela COVID-19; a econômica,
com milhões de desempregados e a falta de auxílio emergencial ou de qualquer alternativa
de emprego e renda; e a política, marcada pela retirada de direitos e pela destruição da nossa
frágil democracia. Por isso é nossa tarefa construir uma força popular que imponha a
derrubada não apenas deste governo, mas deste projeto de país que está acabando com
todas as conquistas do povo brasileiro.

O Movimento Popular de Juventude em Disparada surgiu após o processo eleitoral de


2018, a partir da união de dois coletivos políticos: o Disparada e o MPJ. Desde aquele
momento, avaliamos que o cenário político forjado pelas elites -- primeiramente com o Golpe
de 2016, que derrubou uma Presidenta legitimamente eleita sem crime de responsabilidade,
seguido do governo golpista de Temer, da prisão de Lula e da eleição de Jair Bolsonaro --
colocou grandes desafios para o conjunto dos movimentos sociais e das organizações de
esquerda. Buscamos responder esses desafios intensificando a disputa da sociedade através
de um movimento de massas e da construção cotidiana do trabalho de base, que estava
enfraquecido nos setores populares. Foram dois anos de militância coletiva com vitórias e
desafios.

Entretanto, não há um caminho único na política para sairmos desse período difícil da
história do nosso povo. Divergências ocorrem dentro e fora das organizações políticas. São
saudáveis quando servem para reflexão, questionamento e reconstrução, mas podem ser
paralisantes quando são profundas. As divergências na forma de enfrentamento ao governo
Bolsonaro, no papel da esquerda na sociedade brasileira e nos caminhos que o Partido dos
Trabalhadores deve tomar neste momento nos impossibilitam de construir um grupo com
unidade política. Por isso, o MPJ em Disparada deixa de existir como coletivo unitário para
abrir novas perspectivas de militância para seus membros.

Por entender a derrota que sofremos em 2016 como uma derrota estratégica, isto é, uma
derrota profunda, que envolveu a captura das instituições, o rompimento democrático, o
descolamento dos setores populares com um projeto eleitoral referenciado na esquerda e o
aprofundamento da exploração e opressão do povo, das mulheres, da população negra, dos
povos indígenas e das pessoas LGBTQIA+, acreditamos que o enfrentamento e a resistência
somente ocorrerão com participação popular através de um intenso e constante processo de
mobilização, norteado por um projeto marcadamente de esquerda, popular e transformador
dos sujeitos políticos.

Dessa forma, não há como construir o enfrentamento necessário com a defesa de


amplas alianças com setores de extrema direita, nas quais nosso projeto e nossas pautas irão
se dissolver, nem como defender projetos ligados a Bolsonaro e a seu governo na política
institucional. Isso vale para eleições municipais e para disputas legislativas. As soluções dos
problemas e dilemas do povo brasileiro não se darão somente em 2022, automaticamente,
sem nenhuma mudança no modo como fazemos política. Bolsonaro e o bolsonarismo têm o
objetivo estratégico de destruição da esquerda, para assim imporem um projeto de
superexploração de longo prazo do povo brasileiro.

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NOTA DE ENCERRAMENTO DAS ATIVIDADES DO MPJ EM DISPARADA janeiro/2021

Sem um balanço profundo do papel da esquerda e sem uma mudança profunda no


nosso modo de fazer política será impossível construirmos novamente um projeto vitorioso
que mude a vida do povo. Precisamos construir novos caminhos. Entretanto, essas saídas
devem sempre ser coletivas, nunca personalistas, e os partidos de esquerda devem ser
instrumentos do povo para a construção de um processo revolucionário, não um fim em si
mesmo.

No mesmo sentido entendemos que é central lutar pelo fim dos privilégios de qualquer
natureza e não podemos tolerar nos espaços internos ações violentas, injustas e
intimidatórias. Em um momento em que as desigualdades se apresentam de maneira
escancarada aos olhos de toda a sociedade devido a grave crise sanitária causada pela
COVID-19 não há espaço para militantes de esquerda compactuarem com fraudes e
privilégios nas filas da vacina, atitude antes vista apenas na elite parasitária que usa da sua
localização para a obtenção de vantagens pessoais. Da mesma forma, é inaceitável a
construção política baseada em agressões físicas, verbais e psicológicas. Nos solidarizamos
com nossas companheiras e companheiros alvos dessas ações e reforçamos que não
compactuamos com tais práticas.

Além disso, acreditamos que as disputas e as articulações se dão através do diálogo e do


convencimento e não compactuamos com táticas de disseminação de mentiras, muito
menos da perpetuação de quaisquer ações e pensamentos discriminatórios internamente
em nossa organização e, principalmente, de atitudes racistas, machistas, LGBTQIA+fóbicas e
de intolerância religiosa. Não aceitamos preconceito e discriminação, que na verdade
refletem divergênciaas profundas de concepção do mundo que queremos construir e da
prática política necessária em uma organização socialista. Somente com diálogo e respeito
enfrentaremos os desafios colocados na conjuntura atual para a esquerda brasileira.

São essas divergências que fazem com que a partir de hoje trilhemos dois caminhos
diferentes: Disparada e MPJ. O Disparada permanece na luta como uma alternativa aos
jovens brasileiros que anseiam por igualdade e justiça social no país. Aos companheiros e
companheiras que continuarão no MPJ, agradecemos pelos momentos bons que
construímos conjuntamente e reafirmamos nossa disposição de construir juntos nas lutas e
nas ruas, sem qualquer desavença, como fazemos com as demais organizações políticas de
esquerda. Com a certeza de termos dado o nosso melhor, aqui encerramos nossas atividades
conjuntas.

Saudações Socialistas,
Disparada

31 de janeiro de 2021

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