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METODOLOGIAS PARA

APRENDIZAGEM
ATIVA

Pablo Rodrigo Bes


Rotação por estações
e dramatização
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Identificar as possibilidades de aplicação da estratégia de rotação


por estações.
„„ Demonstrar como os desafios de cada estação podem ser aplicados
por meio de diferentes estratégias e recursos.
„„ Planejar cada desafio das estações, contemplando a interdisciplinari-
dade e a dramatização como possibilidades de aprendizado.

Introdução
A educação híbrida tem revolucionado as formas de promoção de ensino
e aprendizagem ao redor do mundo, sendo vista como a vanguarda dos
movimentos educacionais contemporâneos. É seu mérito romper com
as ideias cristalizadas sobre a educação realizada somente em sala de
aula, por meio da exposição de conteúdos pelo professor, fazendo com
que o aluno se aproprie do conhecimento em sua casa, a partir do uso
de tecnologias digitais, estudos on-line no ambiente virtual escolar, pela
prática destes na escola e pela realização das atividades planejadas e
propostas pelos professores. Isso exige que o professor conheça e planeje
suas atividades ativas em sala de aula, utilizando modelos educacionais
típicos do blended learning como a rotação por estações, que dispõe de
diferentes formatos e possibilidades a serem adaptadas aos objetivos de
aprendizagem requeridos.
Neste capítulo, você irá estudar sobre as possibilidades de utilização
da rotação por estações na educação híbrida. Conhecerá as estratégias e
os recursos a serem utilizados em cada tipo de estação proposto, assim
como aprenderá a planejar os desafios das estações a partir da interdisci-
plinaridade e do uso da dramatização.
2 Rotação por estações e dramatização

A rotação por estações e suas possibilidades


Existem muitos modelos dentro da educação híbrida e cada um deles apresenta
uma especificidade e características particulares, podendo ser utilizados para
compor o planejamento dos professores para a utilização de suas metodologias
ativas durante os encontros em que recebe os alunos em sala de aula. Uma
das maneiras interessantes e eficazes de reforçar, testar e complementar a
aprendizagem dos alunos na educação híbrida é a utilização da técnica co-
nhecida como rotação por estações. É importante percebermos que, conforme
salientam Horn e Staker (2015), as escolas já costumam utilizar o modelo de
rotação por atividades diferenciadas (estações) há muitas décadas. No entanto,
ao falarmos em educação híbrida, um novo e decisivo elemento se insere no
contexto atual: a fase on-line. Dessa forma, algumas das estações utilizadas
para enriquecer a aprendizagem a partir de atividades práticas deverão ser
realizadas on-line.
Na rotação por estações, o professor organiza os alunos em grupos que
deverão se alternar entre as estações, realizando as atividades propostas. Essas
atividades estão envolvidas com o planejamento realizado pelo professor e
podem se apresentar de maneiras bastante diversificadas, não deixando de
incluir as atividades realizadas on-line no circuito. Após cada grupo realizar
as práticas da estação em que se encontra, é realizado um rodízio entre os
grupos das estações para que todos participem das várias etapas que compõem
a rotação completa. Os alunos podem ser organizados, ainda, de modo a troca-
rem de grupos caso seu interesse não seja o mesmo dos colegas na sequência
que está sendo seguida. No entanto, ao final da rotação, todos deverão ter
concluído todas as estações.
As estações serão estruturadas de acordo com os objetivos que o professor
pretende que os alunos atinjam com as atividades, podendo apresentar os tipos
de estação listados a seguir.

„„ Estação da pesquisa.
„„ Estação de brainstorming.
„„ Estação mão na massa.
„„ Estação de representação.
„„ Estação de apresentação.
Rotação por estações e dramatização 3

A estação da pesquisa é a etapa em que o grupo receberá as informações


sobre aspectos relevantes dos conteúdos, incluindo os objetivos que deverão
atingir no decorrer de todo o processo rotacional. É importante que os alunos
compreendam que deverão cumprir com todas as estações para que adquiram
as aprendizagens necessárias e desenvolvam as habilidades propostas. É
comum que o professor localize as atividades on-line durante esta estação,
permitindo que os alunos acessem as informações disponíveis na internet, já
previamente preparadas e selecionadas pelos professores, como a assistência
de um vídeo sobre o tema, coleta de dados estatísticos e conhecimentos gerais
sobre o assunto. Os professores também podem se valer desta estação para
que os alunos utilizem o próprio ambiente virtual da escola para ter acesso a
conhecimentos pertinentes.
A estação de brainstorming deriva da técnica conhecida como tempestade
de ideias e sugere ao grupo de alunos que articulem seus pensamentos em
torno do tema estudado, apontando suas hipóteses e servindo como mecanismo
exploratório sobre o objeto pesquisado. Aqui o professor pode trabalhar coma
construção de cartazes, mapas conceituais, esquemas, croquis, entre outras
formas, para que os grupos possam registrar suas impressões diversas sobre
o tópico de estudo.
A estação mão na massa segue dentro da cultura maker e do aprender-
-fazendo. Esta estação prevê que os grupos tenham que construir algo, desem-
penhando alguma ação que se relacione com o tema que vem norteando sua
trajetória pelas estações. Por exemplo, em modelos de rotação por estações para
trabalhar os conteúdos de geometria, a estação mão na massa poderia exigir do
grupo a construção de algumas formas geométricas a partir de materiais diversos.
A estação de representação é aquela que irá se utilizar dos elementos da
criatividade e da inovação para que os grupos representem as aprendizagens
adquiridas até então com dramatizações, valendo-se de técnicas de teatro e
improvisação. Esta estação, além de permitir que os alunos elaborem melhor
seus conhecimentos adquiridos pela arte de representar, também propicia
que desenvolvam suas habilidades de relacionamento interpessoal e controle
emocional, contribuindo para a melhoria da comunicação e da desinibição.
A estação de apresentação é aquela em que ocorrerá a culminância do
processo de rotação e em que será realizado o relato oral (ou dramatizado) dos
resultados encontrados pelos grupos que realizaram a rotação. Esta estação
ajuda a reforçar as aprendizagens e permite que o docente faça um diagnóstico,
a partir das falas dos alunos, sobre quais itens devem ser mais bem aprofun-
dados com a turma, visando aperfeiçoar o modelo rotacional para quando for
utilizado novamente no futuro.
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Para que possa visualizar melhor o funcionamento da rotação por estações, acompanhe
este exemplo que uma professora de uma turma de 5º ano do ensino fundamental
preparou para a aprendizagem da unidade temática de matéria e energia, da disciplina
de Ciências, na qual trabalha, seguindo a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), os
objetos de conhecimento sobre consumo consciente e reciclagem com seus alunos.
Segundo a BNCC (BRASIL, 2018, p. 341), os alunos deverão desenvolver as seguintes
habilidades: “[...] Construir propostas coletivas para um consumo mais consciente e
criar soluções tecnológicas para o descarte adequado e a reutilização ou reciclagem
de materiais consumidos na escola e/ou na vida cotidiana”. Acompanhe no esquema
abaixo como a professora estruturou sua rotação por estações.

Estação 1
Sensibilizando
para o tema

Estação 2
Estação 4
Sustentabilidade
Dramatizando
na prática

Estação 3
Afinal o que
é
degradação
ambiental?

Perceba que a professora optou pela construção de quatro estações para utilizar
durante o período de um dia de aula, sendo que montou seu cronograma da seguinte
maneira.
„„ Dividiu a turma em seis grupos de cinco alunos.
„„ Estruturou o espaço físico da estação 1 no laboratório de informática da escola
para que os alunos pudessem ter contato com o material que havia previamente
selecionado e pudessem pesquisar on-line.
„„ Definiu a estação 2, de caráter prático, prevendo a realização de atividades de
separação e classificação de resíduos e ideias criativas para os temas envolvidos, e
a estação 3, com caráter de brainstorming e análise das informações já adquiridas.
As estações foram estruturadas dentro da sala da professora.
Rotação por estações e dramatização 5

Ambos os grupos realizam a rotação entre as estações 1, 2 e 3 durante os primeiros


períodos de aula, antes do intervalo, uma vez que participam dois grupos por estação.
Após o intervalo, todos se dirigem, mantendo os grupos, para o ginásio da escola,
onde irão projetar, ensaiar e apresentar os resultados com pequenas dramatizações
sobre o tema. Estruturando as estações dessa forma, a professora pôde acompanhar
os alunos durante a maior parte dos momentos em que estiveram em atividade,
contando somente com o apoio da professora do laboratório de informática da escola.

Podemos perceber que a rotação por estações é um modelo que pode ser
adaptado às características da turma, aos recursos e espaços que a escola
oferece, bem como aos conteúdos e habilidades que são requeridos dos alunos,
fornecendo uma excelente opção para que os professores possam tornar suas
aprendizagens mais dinâmicas e significativas.

Um detalhe importante ao trabalharmos com a rotação por estações é o fechamento


da atividade, quando o professor deverá prever maneiras para que os grupos possam
expressar aquilo que aprenderam ao longo do processo de realização das atividades
de cada estação. Logo, planejar a utilização do modelo de rotação por estações
exige uma boa programação do tempo e das atividades, podendo ser utilizado um
cronograma para isto .

Desafios, estratégias e recursos das estações


As atividades de planejamento por parte dos docentes são imprescindíveis
para que o modelo de educação híbrida de rotação por estações possa cumprir
com suas finalidades de forma mais eficiente e, assim, atingir os objetivos de
aprendizagem propostos. O planejamento do professor deve ser feito a partir da
observação de três etapas decisivas: a análise, a reflexão e a previsão (HAYDT,
2006). O processo de planejamento educacional na educação híbrida também
deve partir da análise de condições existentes, de situações sobre a qual se
queira atuar buscando melhorias em algum aspecto pedagógico ou, ainda,
de dificuldades encontradas na escola, partindo para a reflexão sobre estes
aspectos, suas causas, suas variáveis determinantes e, enfim, prevendo formas
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de resolver tais questões, propondo-se um plano. Logo, podemos perceber que


enquanto o planejamento é um processo que envolve as três etapas citadas, o
plano é a materialização desse processo, o caminho que será utilizado para
nortear as ações que foram organizadas e previstas para resolver o problema
analisado e refletido pelo docente ou pelos gestores escolares.
O planejamento das estações que serão disponibilizadas aos alunos deve
nos fornecer respostas para as seguintes perguntas:

„„ O que pretendemos realizar?


„„ O que iremos fazer?
„„ Como iremos fazer?
„„ Quais são os recursos que se encontram aqui envolvidos (materiais,
financeiros, pedagógicos, humanos, tempo, tecnologias digitais)?
„„ Quando realizaremos?
„„ Quem participará?
„„ O que se deseja atingir como resultado dessa ação?

Responder a estes questionamentos possibilita a construção de um plano


bem estruturado e que aumentará as possibilidades de sucesso na conquista
dos objetivos de aprendizagem traçados.
Para que possamos traçar as melhores estratégias ao utilizarmos algum
modelo da educação híbrida com nossos alunos, podemos considerar em nosso
planejamento os itens a seguir:

„„ alunos;
„„ objetivos;
„„ recursos;
„„ conteúdos;
„„ tempo;
„„ procedimentos;
„„ avaliação.

A partir desses itens, podemos entender com mais clareza como iremos
estruturar as estações que farão parte da rotação que estamos planejando.
Vamos exemplificar com uma rotação por estações para a educação infantil.
Rotação por estações e dramatização 7

Alunos
Os alunos são de uma turma de educação infantil da pré-escola, tendo em
média cinco anos de idade. A turma conta com 18 alunos, sendo 12 destes
meninos e seis meninas. Todos demonstram certo nível de autonomia e não
apresentam grandes conflitos de relacionamento. Um colega apresenta trans-
torno do espectro autista.

Objetivos
A proposta da rotação por estações busca desenvolver alguns dos objetivos
de aprendizagem e desenvolvimento elencados nos seguintes campos de
experiência da BNCC (BRASIL, 2018): O eu, o outro, o nós e o corpo, gestos
e movimento. Os principais objetivos perseguidos são: “ampliar as relações
interpessoais, desenvolvendo atitudes de participação e cooperação” (BRA-
SIL, 2018, p. 45) e “demonstrar controle e adequação do uso de seu corpo em
brincadeiras e jogos, escuta e reconto de histórias, atividades artísticas, entre
outras possibilidades” (BRASIL, 2018, p. 47). Perceba que os objetivos estão
diretamente implicados com o formato que as estações irão tomar, pois são
eles que deverão ter sido apreendidos pelos alunos durante sua participação
nas estações.

Recursos
Os recursos devem ser planejados para cada tipo de estação específica. Neste
caso, a professora planeja utilizar três estações: uma do tipo pesquisa, uma
mão na massa e uma de representação/apresentação. Para que pudesse prever
os recursos necessários para cada estação, a professora construiu o Quadro 1.
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Quadro 1. Recursos por estação

Estação Recursos Tempo Observações

Estação da Computadores 13h – 15h A professora deslocou


pesquisa e rede on-line. três computadores
Vídeos curtos e do laboratório de
Título: animações em 15h: lanche informática da escola
Navegando que as atitudes para a sua sala de aula,
na internet de cooperação e que permitem acesso à
participação dos internet via rede wireless.
personagens são Para isso, montou
evidenciadas. uma estação em um
dos cantos da sala.

Estação mão Blocos de 13h – 15h Na área coberta em


na massa encaixe, frente à sala de aula,
colchonetes, a professora montou
Título: Eu almofadas, 15h: lanche um circuito no qual os
quero, eu bambolês, alunos deverão realizar
posso! cones, apito e atividades colaborativas
cronômetro. em sequência, contando
tempos individuais
e em equipes.

Estação Fantoches de 15h30min A apresentação dos


de repre- personagens – 17h30min resultados finais será
sentação/ diversos, realizada na sala de
apresentação tanto pessoas atividades múltiplas da
quanto animais, escola, que possui palco
Título: Ah... se frutas e outros para dramatizações e
meu fantoche elementos, teatro de fantoches.
falasse... estrutura para
apresentação
de teatro de
fantoches,
dedoches e
tatame com
almofadas para
a plateia.
Rotação por estações e dramatização 9

Conteúdos
Por se tratar da educação infantil, os conteúdos irão se alinhar com os campos
de experiência que a professora está focando, permitindo que alcance seus
objetivos de aprendizagem e desenvolvimento, como comunicação entre as
pessoas, bons hábitos de educação no relacionamento (palavras mágicas:
com licença, obrigado, por favor, me desculpe), jogos e brincadeiras, escutar
e recontar histórias, entre outros.

Tempo
A distribuição do tempo também é um item fundamental para o sucesso da
rotação por estações. Neste caso, perceba na tabela dos recursos que o tempo
foi dividido entre os espaços antes e depois do lanche dos alunos, que costuma
ocorrer no refeitório da escola, em horário fixo. Para turmas de ensino fun-
damental, ensino médio ou, ainda, na educação superior, as estações podem
ser divididas em períodos de aula ou horas.

Procedimentos
Este item ajuda o professor a perceber como irá agir em cada estação. Por
exemplo, quando os alunos chegarem à estação navegando na internet, serão
recebidos pela monitora da turma, que explicará a proposta a todos. Depois
disso, irá explicar aos alunos que eles têm cinco possibilidades de vídeos e
animações e deverão escolher entre elas, chegando a um consenso do grupo
(lembre que um dos objetivos aqui é a participação e a colaboração). Após
a escolha, os alunos irão assistir ao vídeo selecionado. Em seguida, irão
acessar a uma plataforma de jogos que se relaciona com o tema deste vídeo
e, ao interagirem entre si e com o quiz, irão responder juntos. Ao pensar nos
procedimentos, o professor deve prever atividades que possam ser realizadas
caso um grupo apresente um ritmo diferente dos demais (mais lento ou mais
rápido) para que, em todos os casos, os objetivos sejam atingidos. Lembre
que, quando descrevemos o perfil dos alunos, comentamos que há um colega
autista. Neste caso, quais adaptações serão necessárias para que este aluno
passe pelas estações? Isso deve ser levado em conta.
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Avaliação
Para cada uma das estações, deverão ser previstos formatos de avaliação, de
acordo com a etapa de educação que está sendo aplicada à rotação de estações.
No caso da educação infantil, a professora e sua monitora (auxiliar) irão se
basear na observação e no registro dos grupos, assim como nos aspectos indi-
viduais mais pertinentes para comporem seus portfólios de avaliação da turma.

Inovação e motivação
Considerando ainda uma das funções didáticas importantes no contexto da
utilização das metodologias ativas na educação híbrida, gostaríamos de destacar
a inovação e a motivação. Conforme salientam Camargo e Daros (2018) em
suas conversas com alunos da educação básica e do ensino superior sobre os
modos de ensinar e aprender, constataram que:

[...] o ensino essencialmente transmissivo, centrado unicamente no conheci-


mento do professor, é motivo para muitas insatisfações. Reclamam não só do
fato de terem de ficar horas ouvindo, mas também da rigidez dos horários,
do distanciamento do conteúdo proposto com a vida pessoal e profissional
e dos recursos pedagógicos pouco atraentes. Ao conversar com professores,
as queixas são similares. Reclamam da falta de envolvimento, do excesso de
desinteresse dos alunos e das condições do exercício docente.

Dessa forma, para que exista motivação, é necessário que em toda estação
iniciada pelos alunos existam mecanismos desafiadores e criativos, que possam
trazer sua atenção para os temas que serão trabalhados, despertando o interesse
e os motivando a seguir em frente. Boas técnicas de introdução e motivação
costumam envolver um desafio, um enigma, um problema pertinente ao tema,
um disparador para pensar, um videoclipe, um vídeo curto chocante, a letra
de uma música ou, ainda, uma encenação por parte do professor, entre tantas
outras técnicas.
Rotação por estações e dramatização 11

Quando formos utilizar uma estação do tipo brainstorming, devemos trabalhar com os
alunos as regras básicas que cercam esta técnica de dinâmica grupal. Estas normalmente
giram em torno dos seguintes itens: cada um deve falar de uma vez; a quantidade
importa, deve-se procurar criar o máximo de ideias possíveis sobre o tema; construa
sobre a ideia dos outros; encoraje as ideias excêntricas; seja visual; mantenha o foco,
fique no assunto proposto inicialmente; não faça críticas ou julgamentos, todas as
participações são bem-vindas.

A interdisciplinaridade e a dramatização como


estratégias a serem utilizadas nas estações
Viemos aprendendo sobre os cuidados a se considerar no planejamento do
modelo híbrido de rotação por estações, uma vez que essa ação nos ajuda
a atingir a eficiência em relação aos objetivos que perseguimos com nossos
alunos. Gostaríamos de comentar sobre outros aspectos que também são de
grande relevância e que devem ser considerados ao se propor os desafios que
compõe as estações planejadas pelo professor: a interdisciplinaridade e a
dramatização.
A interdisciplinaridade é um dos temas que tem sido discutido, visando
modificar os paradigmas educacionais contemporâneos que proporcionam o
ensino dos conteúdos de forma fragmentada, sem estabelecer conexões entre
disciplinas e áreas do conhecimento. Buscar uma prática interdisciplinar sig-
nifica, de acordo com Fazenda (2018), “mais processo que produto”, não sendo
vista somente como “categoria do conhecimento, mas de ação”, significando
uma tentativa de romper com discursos soberanos nos sistemas educacionais
em que nos encontramos e, inclusive, subverter a própria maneira como fomos
ensinados durante nosso processo de escolarização.
Ao analisar as diversas fases pelas quais o conceito de interdisciplinaridade
percorreu ao longo das décadas de 1970, 1980 e 1990, a autora enfatizou que:

A revisão contemporânea do conceito de ciência orienta-nos para a exigência


de uma nova consciência, que não se apoia apenas na objetividade, mas que
assume a subjetividade em todas as suas contradições. A partir da constata-
ção de que a condição da ciência não está no acerto, mas no erro, passou-se
a exercer e a viver a interdisciplinaridade das mais inusitadas formas (FA-
ZENDA, 2018, p. 34).
12 Rotação por estações e dramatização

Partindo da citação da autora, percebemos que a interdisciplinaridade


considera a subjetividade em seu processo, o que também se faz presente nos
modelos da educação híbrida. Dessa forma, imagine o ganho na aprendiza-
gem a partir do momento em que você, como professor(a), passa a utilizar
o modelo de rotação por estações e possibilita aos seus alunos que optem
pelos itinerários que irão realizar entre as estações ou, ainda, que dentro de
cada estação poderão realizar escolhas, optando pelos assuntos que mais lhe
agradam e tendo como possibilidade a relação entre diversos conteúdos que
vêm aprendendo, inclusive em áreas de conhecimento diferentes.
Infelizmente, ainda são poucos os professores que se arriscam a buscar uma
postura interdisciplinar em seus projetos e planejamentos de aula, desfazendo-
-se das amarras das ciências cartesianas que, na maioria das vezes, fizeram
parte de nossa escolarização inicial. Veiga-Neto (2002, p. 23) nos leva a refletir
quando comenta que:

Todos nós que hoje exercemos a docência ou a pesquisa em Educação tivemos


uma formação intelectual e profissional nos moldes iluministas. Uma das
consequências disso é que talvez não estejamos suficientemente aptos para
enfrentar, nem mesmo na vida privada, as rápidas e profundas mudanças
culturais, sociais, econômicas e políticas em que nos achamos mergulhados.

Que possamos nos sentir desafiados a romper com os moldes nos quais
fomos escolarizados para nos tornarmos professores melhores, mais dinâmicos
e atualizados com as modificações que hoje são consideradas como os novos
paradigmas educacionais, entre eles a interdisciplinaridade e a utilização das
metodologias ativas e da educação híbrida.
A educação híbrida, a partir de seus modelos educacionais, proporciona
que as operações de pensamento possam se realizar de forma inovadora,
quebrando os padrões tradicionais ao incluir ações dessa natureza. Ao analisar
os processos de inovação que surgem a partir da educação híbrida, Camargo
e Daros (2018) chamam atenção para o fato de que

[...] é necessário considerar que o processo de ensino-aprendizagem é algo


extremamente complexo, possui caráter dinâmico e não acontece de forma
linear, exigindo ações direcionadas, para que os alunos possam se aprofundar
e ampliar os significados elaborados mediante sua participação.

Ao utilizar estratégias interdisciplinares, o professor pode manter a dina-


micidade e tornar as práticas vivenciais mais significativas para os alunos.
Rotação por estações e dramatização 13

Outro recurso interessante e importante para as estações é a dramatização,


o que pode ser feito em estações específicas para tal ou, ainda, articulada
com estações de representação/apresentação de resultados ao final da rotação
realizada pelos alunos. O teatro tem sido utilizado na área da educação com
mais intensidade em turmas de educação infantil, em que os alunos costumam
assistir suas peças, e na educação básica, como forma de projetos específicos
ou grupos teatrais que recebem aqueles que se interessam em participar, o que
é uma pena, pois acreditamos que, como descrito por Cavassin (2008, p. 48):

O teatro [...] pode ser a brecha que se abre na nova perspectiva da ciência e
ensino-aprendizagem, pois envolve essencialmente o que o soberanismo da
lógica clássica e do modelo racional excluía; o ilógico, as possibilidades (o
“vir a ser”), a intuição, a intersubjetivação, a criatividade... enfim, elementos
existentes nas relações dessa manifestação artística e que são princípios para
a concepção de Inteligência na Complexidade e vice-versa.

Dessa forma, tal como a educação híbrida surge para renovar a educação
contemporânea, quebrando paradigmas anteriores, também a utilização do
teatro remete ao uso de outras lógicas para a aprendizagem, que podem pro-
mover novos ganhos de criatividade e inovação sobre os objetos que estão
sendo estudados, partindo das manifestações artísticas dos alunos.
Ao se referir ao teatro espontâneo em pequenos grupos, Davoli (1999, p. 81)
comenta sobre alguns passos interessantes que devem ser utilizados, a título
de aquecimento anterior às práticas de dramatização. São eles:

1. ambientação;
2. grupalização;
3. preparação para o papel de ator;
4. preparação para o papel de autor;
5. preparação da plateia.

A ambientação serve para que os alunos possam se apropriar das caracterís-


ticas do local onde a estação está organizada, no qual irão atuar ao dramatizar
para os colegas. Todos os elementos do local devem ser explorados de forma
individual e coletiva, como as distâncias, a altura, os objetos ali dispostos, os
sons e os cheiros existentes. A grupalização serve para que o grupo possa
se conhecer melhor em relação à possibilidade de dramatização, percebendo
as características e aptidões de cada um, sua capacidade de improviso, níveis
14 Rotação por estações e dramatização

de desinibição, entre outros. Também é o momento em que devem ser reali-


zados exercícios teatrais com os participantes do grupo que irão dramatizar
posteriormente.
Após ambientados e com o processo de grupalização bem definido, pas-
samos para a preparação dos papéis de ator e de autor. Para os atores, deve
ficar claro que estarão desempenhando um papel em si, não serão mais a própria
pessoa e sim o personagem que construíram para a peça. Os atores devem
aquecer seus corpos e suas vozes para atuar. Já o papel de autor é escolhido
quando o grupo pensa sobre o que pretende dramatizar e cria a peça que
irão encenar posteriormente para a plateia . Este é o momento de se definir
o protagonista, o antagonista, a linguagem que será utilizada, os eventos que
ocorrerão, as emoções, entre outros pontos.
Segundo Davoli (1999), a fase de preparação da plateia apresenta inúme-
ras possibilidades, como a de incluir membros do grupo já aquecidos em seu
meio para que possam se infiltrar e participar da dramatização em momentos
combinados, envolver os demais que assistem, interagindo e compondo cenas
de forma voluntária, realizando sons que são necessários durante a peça,
entre outras estratégias que mantém o foco e a atenção de todos durante a
dramatização do grupo.
Perceba que utilizar uma estação para dramatização exige certo conheci-
mento e empenho por parte do professor, para que possa se extrair o máximo
dos grupos que ali participam. O melhor resultado alcançado com a dramati-
zação nem sempre é a peça apresentada, o produto final, mas sim as relações
interpessoais e os processos internos de cada aluno, que durante a vivência
das etapas vai sendo elaborado subjetivamente, reforçando ainda mais sua
aprendizagem sobre o tema específico que vem sendo desenvolvido ao longo
de toda a rotação por estações.
No Quadro 2 observamos as operações de pensamento que podem ser
realizadas a partir da rotação por estações.
Rotação por estações e dramatização 15

Quadro 2. Operações de pensamento que podem se realizar a partir da rotação por es-
tações

Operação de
Conceito/relações
pensamento

Aplicação de Solucionar problemas e desafios, aplicando aprendizados


fatos e princípios anteriores, usando a capacidade de transferências,
a novas situações aplicações e generalizações ao problema novo.

Busca de Supor é aceitar algo sem discussão, podendo ser


suposições verdadeiro ou falso. Temos de supor sem confirmação
dos fatos. Após exame cuidadoso, pode-se verificar quais
são as suposições decisivas, o que exige discriminação.

Classificação Colocar em grupos, conforme princípios, dando ordem à


existência. Exige análise e síntese por conclusões próprias.

Comparação Examinar dois ou mais objetos ou processos com a


intenção de identificar relações mútuas, pontos de
acordo e desacordo. Supera a simples recordação,
enquanto ação de maior envolvimento do aluno.

Crítica Efetivar julgamento, análise e avaliação, realizando


o exame crítico das qualidades, dos defeitos, das
limitações. Segue referência a um padrão ou critério.

Decisão Agir a partir de valores aceitos e adotados na escolha,


possibilitando a análise e consciência deles. A escolha
é facilitada quando há comparação, observação,
imaginação e ajuizamento, por exemplo.

Imaginação Imaginar é ter alguma ideia sobre algo que não está
presente, percebendo mentalmente o que não foi
totalmente percebido. É uma forma de criatividade,
liberta dos fatos e da realidade. Socializar o imaginado
introduz flexibilidade às formas de pensamento.

Interpretação Processo de atribuir ou negar sentido à experiência,


exigindo argumentação para defender o ponto
proposto. Exige respeito aos dados e atribuição de
importância, causalidade, validade e representatividade.
Pode levar a uma descrição inicial para depois haver
uma interpretação do significado percebido.

(Continua)
16 Rotação por estações e dramatização

(Continuação)

Quadro 2. Operações de pensamento que podem se realizar a partir da rotação por es-
tações

Operação de
Conceito/relações
pensamento

Levantamento Propor algo apresentado como possível solução para


de hipóteses um problema. Forma de fazer algo, esforço para explicar
como algo atua, sendo guia para tentar a solução de
um problema. Proposição provisória ou palpite com
verificação intelectual e inicial da ideia. As hipóteses
constituem um interessante desafio ao pensar do aluno.

Observação Prestar atenção em algo, anotando cuidadosamente.


Examinar minuciosamente, olhar com atenção,
estudar. Sob a ideia de observar existe o procurar,
identificar, notar e perceber. É uma forma de descobrir
informação. Compartilhada, amplia o processo
discriminativo. Exige objetivos definidos, podendo ser
anotada, esquematizada, resumida e comparada.

Obtenção e A base de um trabalho independente. Exige objetivos


organização claros, análise de pistas, plano de ação, definição de
dos dados tarefas-chave, definição e seleção de respostas e de
tratamento delas, organização e apresentação do material
coletado. Requer identificação, comparação, análise,
síntese, resumo, observação, classificação, interpretação,
crítica, suposições, imaginação, entre outros.

Planejamento Projetar é lançar ideias, intenções, utilizando-se esquema


de projetos e preliminar, plano, grupo, definição de tarefas, etapas,
pesquisas divisão e integração de trabalho, questão ou problema,
identificação das questões norteadoras, definição de
abrangência, de fontes, definição de instrumentos
de coleta dos dados, validação de dados e respostas,
etapas e cronograma. Requer identificação, comparação,
resumo, observação, interpretação, busca de suposições,
aplicação de princípios, decisão, imaginação e crítica.

Resumo Apresentar de forma condensada a substância do que


foi apreciado. Pode ser combinado com a comparação.

Fonte: Adaptado de Anastasiou e Alves (2015).


Rotação por estações e dramatização 17

Acesse o link a seguir e observe, pelas expressões das crianças, como a aplicação de
oficinas de teatro pode fazer a diferença nos processos de ensino e aprendizagem.
Esta também é uma excelente técnica a ser utilizada para compor uma das estações
do modelo de rotação por estações.

https://qrgo.page.link/yP19W

Como professor no ensino superior de uma turma de Pedagogia a distância, na mo-


dalidade semipresencial, em que nos encontrávamos em sala de aula uma vez por
semana, pude colocar em prática a interdisciplinaridade ao produzir os conteúdos que
compunham a plataforma dos alunos e também utilizei do recurso da dramatização
em sala de aula. Lembro de um desses momentos, quando os alunos estudavam
sobre os aspectos da educação, da diversidade e da cultura, em que criei fóruns que
tratavam de forma interdisciplinar estes tópicos em três disciplinas diferentes e que,
ao final, propunham como desafio uma narrativa de vida por parte de cada aluno,
abordando seus aspectos étnicos, sociais e culturais. No encontro presencial, propus
que dramatizássemos algumas das narrativas expostas pelos alunos. Para isto, reunimos
o grupo, foram escolhidas as histórias mais pertinentes e emocionantes que, com o
consentimento dos autores, foram preparadas, transformadas em pequenas peças,
ensaiadas e apresentadas a todos ao final da aula. Com as apresentações das histórias de
vida daqueles grupos de alunos entendi que os meus objetivos tinham sido plenamente
atingidos, pois as encenações ilustravam de forma prática, por meio de representações
cotidianas, alguns conceitos complexos que havíamos estudado, como a importância
da cultura e das tradições familiares para a formação da subjetividade humana.

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