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O simbolismo da baleia está ligado de uma só vez à entrada na caverna, ao peixe (em

grego ‘íctio’, emblema da vida) e à letra árabe nun. Na Índia, é o deus Vixenu
metamorfoseado em peixe quem guia a arca sobre as águas do dilúvio. No mito de Jonas, a
própria baleia é a arca: a entrada no período de obscuridade, intermediário entre dois
estados de existência. Jonas no ventre da baleia é a morte iniciática; sua saída é a
ressurreição, o novo nascimento, tal como mostra a tradição islâmica: nun também significa
peixe e, em especial, a baleia, razão pela qual o profeta Jonas é chamado de Dhun-Nun. Na
Cabala, a ideia de novo nascimento, no sentido espiritual, está ligada a letra nun. O próprio
formato da letra, em árabe (a parte inferior de uma circunferência, um arco, encimado por
um ponto que lhe indica o centro), simboliza a arca de Noé flutuando sobre as águas. Essa
semicircunferência representa igualmente uma taça que pode significar o útero. Deste
modo, na qualidade de elemento passivo da transmutação espiritual, a baleia representa
cada individualidade na medida em que contém o germe da imortalidade em seu centro,
representado simbolicamente junto ao coração. O desenvolvimento do germe espiritual
implica que o ser emerja de seu estado individuado e do meio ambiente cósmico ao qual
pertence, assim como o retorno de Jonas à vida coincide com sua saída do ventre da
baleia...essa saída equivale à do ser que emerge da caverna iniciática, cuja concavidade é
igualmente representada pela semicircunferência da letra nun. Certamente não é uma
causalidade que, no Corão, as preces destinadas aos mortos tenham versículos que rimem
em ‘n’.
A tradição islâmica relata que a terra, uma vez criada, se balançava sobre as águas. Deus
fez descer um anjo que levantou a terra sobre seus ombros. A fim de que seus pés
pudessem se apoiar, Deus criou um rochedo verde que, por sua vez, se apoiava nos chifres
de um touro cujas patas estavam apoiadas numa imensa baleia. De tal modo ela é imensa
que, se todas as águas dos mares se reunissem dentro de uma de suas narinas, o conjunto
seria comparável a um grão de mostarda no deserto. Tha’labi disse: Deus criou Nun; é a
grande baleia. A baleia é, portanto, um símbolo de apoio do mundo, um cosmóforo. A
Polinésia, a África, a Lapônia introduzem a baleia em mitos iniciáticos análogos ao de
Jonas. A tradição asiática dos “deuses encalhados” existe igualmente no Japão.
A baleia é símbolo do continente e, num só tempo, símbolo do tesouro escondido e da
desgraça ameaçadora; a baleia contém sempre em si a polivalência do desconhecido e do
interior invisível; é o centro de todos os opostos que podem vir a existir. Por essa razão, se
compara sua massa ovóide à conjunção dos dois arcos de circulo que simbolizam o mundo
do alto e o mundo de baixo – o céu e a terra, os deuses e os mortais.

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