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16 - Os Meios Da Graça
16 - Os Meios Da Graça
John Wesley
"Desde os dias de vossos pais, vos desviastes dos meus estatutos, e não os
guardastes; tornai vós para mim; e eu tornarei para vós , diz o Senhor dos Exércitos;
mas vós dizeis:em que havemos de tornar?". (Malaquias 3:7)
III. Todos os que desejam a graça de Deus deverão esperar por ela, nos meios
que Ele tem ordenado?
IV. Tão claramente quanto Deus tem apontado os meios, os homens têm se
colocado contra eles.
I
(1) Mas existem algumas ordenanças agora, desde que a vida e a imortalidade
foram trazidas à luz pelo Evangelho? Existem, debaixo dos desígnios cristãos, alguns
meios ordenados de Deus, como canais usuais de sua graça? Esta questão nunca pôde
ser proposta, em uma igreja apostólica, a menos, por alguém que, abertamente, se
declarou ser um pagão; todo o corpo cristão está de acordo que Cristo tem ordenado
alguns meios exteriores, para transmitir sua graça às almas dos homens. A constante
prática deles coloca isto além de toda disputa; já que, por quanto tempo, 'todos que
criam estavam juntos, e tinham todas as coisas em comum'. (Atos 2:44), 'eles
perseveraram na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas
orações'. (Atos 2:42)
(2) Mas, no processo do tempo, quando 'o amor de muitos se tornou frio';
alguns começaram a confundir os meios pelos fins; e a colocar a religião, antes,
fazendo aquelas obras exteriores, do que um coração renovado, na busca da imagem
de Deus. Eles esqueceram que 'a finalidade' de todo 'mandamento é o amor, com um
coração puro', com 'uma fé genuína'; o amor deles para com o Senhor, seu Deus, com
todos os seus corações e ao próximo, como a si mesmos; e sendo purificados do
orgulho, raiva, e desejo diabólico, pela 'fé da ação de Deus'. Outros pareceram
imaginar que, embora a religião não consistisse praticamente desses meios exteriores,
ainda assim, havia alguma coisa neles, da qual Deus tinha se agradado: alguma coisa
que ainda os faria aceitáveis à sua vista, embora eles não fossem na exata medida da
lei, justiça, misericórdia e amor de Deus.
(3) É evidente que, naqueles que abusaram deles desse modo, não se
conduziram para a finalidade, para o qual tinham sido ordenados: antes, as coisas que
teriam sido para a saúde deles, foram para eles ocasião de queda. Eles estavam tão
distantes de receber qualquer benção, nesse sentido, que eles apenas lançaram uma
maldição sobre suas cabeças; tão longe de se desenvolverem mais puros, no coração e
vida, que eles duplicaram mais os filhos do inferno, do que antes. Outros, percebendo
claramente que esses meios não conduziriam a graça divina, para esses filhos do
diabo, começaram, desse caso particular, a esboçar uma conclusão geral: a de que eles
não eram os meios de transmitir a graça de Deus.
(4) Ainda assim, o número daqueles que abusaram das ordenanças de Deus foi
muito maior do que aqueles que as desprezaram; até que certos homens se levantaram,
não apenas de grande entendimento (algumas vezes, junto com aprendizagem
considerável), mas que igualmente pareceram ser homens de amor;
experimentalmente familiarizados com a religião interior verdadeira. Alguns desses
eram luzes flamejantes e brilhantes; pessoas famosas, em suas gerações, e como tais,
tinham merecido o bem da igreja de Cristo, por se levantarem, na lacuna, contra o
transbordamento da iniqüidade.
Não se pode supor que esses homens santos e veneráveis pretenderam alguma
coisa a mais, a princípio, do que mostrar que aquela religião exterior não valia a pena,
sem a religião do coração; que 'Deus é um Espírito, e eles que o adoram devem
adorá-Lo, em espírito e verdade': que, por conseguinte, a adoração externa é trabalho
perdido, sem um coração devotado a Deus; que as ordenanças exteriores de Deus,
então, é muito benéfica, quando eles progridem, na santidade interior; mas, quando
eles não progridem, são inaproveitáveis e vazias; são mais levianas do que a vaidade:
que, quando elas são usadas, como se estivessem no lugar disso, elas são total
abominação ao Senhor.
(5) Mesmo assim, não seria estranho, se alguns desses, estando fortemente
convencidos daquela profanação horrenda das ordenanças de Deus, a qual tinha se
espalhado sobre toda a igreja, e quase dirigido a religião verdadeira, para fora do
mundo, — no zelo ardoroso deles, para a glória de Deus, e a recuperação de almas
dessa ilusão fatal, — falassem, como se a religião exterior fosse absolutamente nada;
como se não tivesse lugar na religião de Cristo. Não seria surpresa, afinal, se eles não
pudessem sempre ter se expressado com suficiente precaução; de modo que os
ouvintes imprudentes poderiam acreditar que eles condenaram todos os meios
exteriores, como completamente improdutivos, e como não designados de Deus para
serem o canal comum da transmissão da sua graça nas almas dos homens.
Além do mais, não é impossível que alguns desses homens santos, tivessem,
por fim, se deixado cair nessa opinião; em particular aqueles que, não pela escolhas,
mas pela providência de Deus, foram cortados de todas essas ordenanças; talvez
vagueando, para cima e para baixo, tendo nenhuma habitação certa, ou habitando em
tocas e cavernas da terra. Esses, experimentando a graça de Deus, em si mesmos,
embora eles estivessem privados de todos os meios exteriores, poderiam deduzir que a
mesma graça poderia ser dada a eles que, por firme intenção, se privaram deles.
II
(1) No discurso seguinte, eu proponho examinar mais amplamente, se existem
alguns meios da graça. Por 'meios da graça', eu entendo sinais exteriores, palavras ou
ações ordenadas de Deus, e designadas para essa finalidade, para serem os canais
comuns, por onde Ele poderia transmitir para os homens a graça preventiva,
justificada ou santificada. Eu uso essa expressão, meios da graça, porque eu não
conheço outra melhor; e porque ela tem sido geralmente usada na igreja cristã, há
muitos anos: em particular, por nossa própria igreja, que nos direciona a glorificar a
Deus, tanto pelos meios da graça, e esperança de glória; e nos ensina que o
sacramento é 'um sinal exterior da graça interior, e os meios por onde nós recebemos
o mesmo'.
(2) Mas nós permitimos que todo o valor dos meios esteja subordinado à atual
subserviência deles à finalidade da religião; para que, conseqüentemente, todos esses
meios, quando separados da finalidade, sejam menos do que nada e presunção; uma
vez que, se eles não conduzem verdadeiramente ao conhecimento e ao amor de Deus,
não são aceitáveis à sua vista; antes, eles são uma abominação diante dele; um fedor
em suas narinas; Ele está exausto de suportá-los. Acima de tudo, se eles são usados,
como uma espécie de substituição para a religião, eles foram designados para servir;
não é fácil encontrar as palavras para a enorme tolice e perversidade de assim virar os
braços de Deus contra si mesmo; de manter o Cristianismo fora do coração daqueles
mesmos meios que foram ordenados para produzi-lo.
(3) Nós permitimos, igualmente, que todos os meios exteriores, quaisquer que
sejam eles, se separados do Espírito de Deus, não podem favorecer, afinal; não pode
conduzir, em algum grau, tanto o conhecimento, quanto o amor de Deus. Sem
controvérsia, a ajuda que é feita sobre a terra, Ele mesmo o faz. É Ele sozinho que,
através de seu próprio poder onipotente, opera em nós o que é agradável às suas
vistas; e todas as coisas exteriores, a menos que ele opere nelas, e, através delas,
sejam meramente elementos fracos e desprezíveis. Quem quer que, por conseguinte,
imagine que haja algum poder intrínseco, em alguns meios, quaisquer que sejam, erra
grandemente, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus. Nós sabemos que
não existe poder inerente algum nas palavras que são faladas na oração; nas cartas das
Escrituras lidas; no som que disso é ouvido; ou no pão e no vinho, recebidos na Ceia
do Senhor; mas que é Deus, tão somente, o Doador de todos os bons dons; o Autor de
toda a graça; que todo o poder é Dele, por meio do qual, através de algum desses,
existe alguma bênção transmitida para a nossa alma. Nós sabemos, igualmente, que
ele é capaz de dar a mesma graça, embora não haja meios na face da terra. Nesse
sentido, nós podemos afirmar que, com respeito a Deus, não existem tais coisas como
meios; vendo que ele é igualmente capaz de operar o que quer que o agrade; através
de algo, ou através de nenhum, afinal.
(4) Nós permitimos posteriormente, que o uso de todos os meios que sejam
nunca resgatará um só pecado; que é tão somente o sangue de Cristo, por meio do
qual, qualquer pecador pode ser reconciliado com Deus; não havendo outro sacrifício
expiatório para nossos pecados; nenhuma outra fonte para o pecado e impureza. Todo
crente em Cristo está profundamente convencido de que não existe mérito, a não ser
Nele; que não existe mérito, em algumas de suas próprias obras; nem proferindo a
oração; ou pesquisando as Escrituras; ou ouvindo a palavra de Deus; ou comendo do
pão e bebendo daquela taça. De modo que ninguém mais é pretendido, pela expressão
que alguns têm usado, 'Cristo é o único meio da graça', do que isto, — que Ele é a
única causa meritória dela; ela não pode ser contradita, por alguém que conheça a
graça de Deus.
(5) Ainda uma vez mais: Nós permitimos, embora seja uma verdade
melancólica, que uma larga proporção daqueles que são chamados cristãos, até esse
dia, abuse dos meios da graça para a destruição de suas almas. Isto é, sem dúvida, o
caso com todos aqueles que descansam satisfeitos, na forma da religiosidade, sem o
poder. Tanto eles, afetuosamente presumem que eles já são cristãos, porque eles
fazem assim e assim, — embora Cristo nunca tenha sido ainda revelado em seus
corações, nem o amor de Deus esparramado por todos os lados; quanto eles supõem
que possam infalivelmente ser assim, tão somente, porque eles usam esses meios;
sonhando impulsivamente, (embora talvez, dificilmente consciente disso), que exista
alguma espécie de poder nisso, por meio do qual, mais cedo ou mais tarde (eles não
sabem quando), eles irão certamente se tornar santos; ou que exista uma sorte de
méritos no uso deles, que irá certamente mover Deus a dar a eles santidade, ou aceitá-
los sem ela.
(6) Tão pouco eles entendem do grande fundamento de toda construção cristã:
'Pela graça sois salvos": Você é salvo de todos os pecados; de toda culpa e poder
nele; você é restaurado para o favor e imagem de Deus, não por algumas obras,
méritos, ou merecimentos seus, mas pela graça livre; a mera misericórdia de Deus,
através dos méritos de seu bem-amado Filho: você é assim salvo, não por qualquer
poder, sabedoria, ou força, que estejam em você, ou em qualquer outra criatura; mas
meramente através da graça e poder do Espírito Santo que opera tudo em todos.
(7) Mas a principal questão permanece: 'Nós sabemos que essa salvação é dom
e obra de Deus: mas como (alguém pode dizer que está convencido que ele não a
tem) eu posso alcançar isto?'. Se você disser: 'Acredite, e você será salvo!'. Ele
responde: 'Verdade; mas como eu devo acreditar?'. Você dá a resposta: 'Espere em
Deus'. 'Bom; mas como eu devo esperar? Nos meios da graça, ou fora deles? Eu
devo esperar pela graça de Deus que traz salvação, usando esses meios, ou deixando
esses meios de lado?'.
(8) Possivelmente não pode ser concebido que a palavra de Deus possa dar
nenhuma direção em tão importante ponto; ou, que o Filho de Deus, que veio dos céus
por nós homens, e por nossa salvação, tenha nos deixado indecisos, com respeito às
questões, nas quais nossa salvação é afligida tão de perto. E, de fato, ele não nos
deixou incertos; ele nos tem mostrado o caminho no qual podemos ir. Nós temos
apenas que consultar a Palavra de Deus; para inquirir o que está escrito lá; e, se nós
simplesmente permanecermos, através da decisão dela, nenhuma dúvida
possivelmente restará.
III
(1) De acordo com isto; de acordo com a decisão do santo escrito, todos os que
desejam a graça de Deus devem esperar por ela, nos meios que ele tem ordenado;
usando-os, e não os deixando de lado. Em primeiro Lugar: Todos os que desejam a
graça de Deus devem esperar por ela, no caminho da oração. Essa é a direção
expressa do próprio nosso Senhor. Em seu Sermão da Montanha, depois de explicar,
largamente, no que a religião consiste, e descrever os principais ramos dela, ele
acrescenta: 'Peça, e lhe será dado; busque, e encontrarás; bata à porta, e ela lhe será
aberta: já que todos que pedem receberão; e todos que buscam encontrarão; e todos
que batem à porta a terão aberta', (Mt. 7:7,8)
Aqui nós vamos, da maneira mais clara, perguntar diretamente, com o objetivo
de receber, ou os meios para isso; buscar, com o objetivo de encontrar a graça de
Deus; a pérola de grande valor; e bater, para continuar pedindo e buscando, se
podemos entrar no seu reino.
(2) Para que nenhuma dúvida permaneça, nosso Senhor trabalha nesse ponto,
de uma maneira mais peculiar. Ele apela a cada coração do homem: 'Que homem há,
entre vocês, em que o filho pede pão, e ele lhe dá uma pedra? Ou, se ele pedir um
peixe, lhe dá uma serpente? Se, então, vocês, sendo maus, sabem dar coisas boas aos
seus filhos, quanto dera seu Pai que está nos céus'; o Pai dos anjos e homens; o Pai
dos espíritos de toda carne 'dá boas coisas a eles que o pede?'. (Mt. 7:9-11). Ou,
como ele mesmo afirma, em outra ocasião, incluindo todas as boas coisas em uma:
'Quanto mais o seu Pai celeste dá o Espírito Santo aos que lhe pedem?' (Lucas
11:13). Deve ser particularmente observado aqui, que as pessoas direcionadas a
perguntar não tinham, então, recebido o Espírito Santo: Não obstante nosso Senhor os
dirija a usar esses meios, e prometa que eles serão eficazes; que ao pedirem, eles
deverão receber o Espírito Santo dele, cuja misericórdia está acima de todas as suas
obras.
(3) A necessidade absoluta de usar esses meios, se nós podemos receber algum
dom de Deus, mesmo que apareça posteriormente naquela passagem notável que
imediatamente precede essas palavras: "E disse a eles" — para os que tinham sido
justamente ensinados a como orar —, "qual de vocês terá um amigo e, se for procurá-
lo, à meia-noite,pedir-lhe-á para emprestar-lhe três pães: e ele nisso responder: 'não
me perturbe; eu não posso me levantar a dá-los a você'. Eu respondo que, embora ele
não se levante e dê os pães, por ser seu amigo; ainda assim, por causa de sua
importunidade, ele irá se levantar e irá dar a ele quantos pães ele necessitar. Por isso
eu lhes digo: peça, e ser-lhe-á dado; busque, e acharás; bata, e abrir-se-lhe-á".
(Lucas 11:5-9). Como pode nosso amado Senhor mais claramente declarar que nós
podemos receber de Deus, por esses meios, por importunamente perguntar, o que, do
contrário, não poderíamos receber, afinal?
(4) 'Ele conta também outra parábola, com essa finalidade, para que os
homens devam sempre orar, e não fraquejar', até que, por esses meios, eles possam
receber de Deus qualquer que seja o pedido que tenham feito:
"Havia na cidade um juiz que não temia a Deus, nem respeitava o homem. E
havia uma viúva, que foi ter com ele, dizendo: 'Faça-me justiça contra meus
adversários'; e ele não o faria, por um tempo; mas, depois disse a si mesmo, 'embora
eu não tema a Deus, nem respeite o homem, ainda assim para que essa viúva não me
perturbe, eu irei fazer-lhe justiça, para que, pelo menos, ele não continue vindo, e me
aborreça". (Lucas 18:1-5).
A aplicação disso, o próprio nosso Senhor tem feito: Ouça o que o juiz injusto
disse: 'Porque ela continua a pedir; porque ela não aceitará negativa, por
conseguinte, eu irei fazer justiça a ela'. E Deus não fará justiça aos seus próprios
eleitos, que clamam dia e noite junto a ele? Eu digo a você que ele lhes fará justiça
rapidamente, se eles orarem e não fraquejarem.
(6) Se for possível, em alguma direção, ser mais claro, é no que Deus nos tem
dado, através do Apóstolo, com respeito às orações de todo tipo: públicas, ou
privadas, e as bênçãos anexadas a ela: 'E se algum de vós tem falta de sabedoria,
peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente, e não o lança em seu rosto; e ser-lhe-á
dada' (Tiago 1:5), se eles pedirem; do contrário, 'não tereis, porque não pedis'.
(Tiago 4:2).
Se, for objetado: "Mas isto não é direção para descrentes; para os que não
conhecem a graça de Deus: por isso o Apóstolo acrescenta: 'Mas que ele peça na fé';
do contrário, 'que ele não pense que deva receber alguma coisa do Senhor'": Eu
respondo: o significado da palavra fé, nesse lugar, é fixado pelo próprio Apóstolo,
como se fosse com o propósito de prevenir essa objeção, no que se segue: 'Que ele
peça na fé, em nada inconstante', em nada duvidando. Pelo contrário, acreditando que
Deus ouviu suas orações, e irá realizar o desejo de seu coração.
É provável que, para alguns desses que tinham 'recebido a palavra com toda
prontidão de mente, a fé tenha vindo', como o mesmo Apóstolo fala: 'pelo ouvir', e
foi apenas confirmado, através da leitura das Escrituras: Mas foi observado, acima de
tudo, que debaixo do termo geral de buscar as Escrituras, ouvir, ler, e meditar estejam
contidos.
(8) E que esse é o meio, através do qual, Deus, não apenas dá, mas também
confirma e aumenta a fé verdadeira, nós podemos saber das palavras de Paulo aos
Timóteos, em (2 Tim. 3:15) 'E que, desde a tua meninice, sabes as sagradas letras,
que podem fazer-te sábio para a salvação pela f, que há em Cristo Jesus'. A mesma
verdade (isto é, que esse é o grande meio que Deus tem ordenado para transmitir suas
múltiplas graças ao homem) é entregue, da maneira mais completa que pode ser
concebida, nas palavras que imediatamente se seguem em (Tim. 3:16,17) 'Toda
Escritura divinamente inspirada e proveitosa para ensinar; para redargüir; para
corrigir; para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito e
perfeitamente instruído para toda boa obra'.
(12) E que isto é também um meio comum e firme de receber a graça de Deus,
fica evidente das palavras do Apóstolo que ocorrem no capítulo precedente: (I Cor.
10:16) 'Por acaso, o cálice de bênção que abençoamos não é a comunhão [ou
comunicação] do sangue de Cristo?'. Não é o comer do pão, e beber do cálice, os
meios exteriores, visíveis, por onde Deus transmite para nossas almas aquela graça
espiritual; aquela retidão; e paz; e alegria, no Espírito Santo, que foram resgatadas
pelo corpo de Cristo, uma vez partido, e pelo sangue de Cristo, uma vez derramado
por nós? Que todos, por conseguinte, que verdadeiramente desejem a graça de Deus,
comam do pão e bebam do cálice.
IV
(1) Mas, tão plenamente, quanto Deus tem apontado o caminho, por meio do
qual, ele deverá ser buscado; inumeráveis são as objeções, com as quais os homens,
sábios, aos seus próprios olhos, têm erguido, de tempos em tempos, contra isso. Pode
ser necessário considerar algumas delas; não porque são mais importantes, em si
mesmos, mas porque têm sido freqüentemente usadas, especialmente, nos últimos
anos, para tirar o fraco fora do caminho; sim; para perturbar e subverter aqueles que
estão indo bem, até que Satanás apareceu como um anjo de luz. A primeira e principal
delas é:
'Você não pode usar desses meios (como eles os chamam), sem confiar neles'.
Eu imploro que me mostrem, onde isto está escrito? Eu espero que você possa
me mostrar uma clara Escritura para sua afirmação; do contrário, eu me atrevo a não
recebê-la; porque eu não estou convencido de quer você seja mais sábio do que Deus.
Se isto tem sido realmente como você afirma, é certo que Cristo deve ter conhecido
isto. E se ele conheceu, ele certamente nos alertou; ele teria nos revelado isto, há
muito tempo. Por conseguinte, porque ele não o fez; porque não existe a menor
partícula disso, em toda a revelação de Jesus Cristo, eu estou tão completamente
seguro que sua afirmação é falsa, quanto de que essa revelação é de Deus.
'Entretanto, deixe-as fora, por algum tempo, para ver se você confia nelas ou
não'.
'Além do mais, se você fica preocupado, quando você as deixa fora, é claro
que você confiou nelas'.
Mas o que você quer dizer por 'confiar nelas?' — buscando pela bênção de
Deus nela? Acreditando que, se eu espero nesse caminho, eu devo obter o que do
contrário eu não poderia? Então eu confio. E assim, eu irei confiar que Deus é meu
ajudador, até o fim da minha vida. Pela graça de Deus eu irei assim, confiar neles, até
o dia de minha morte. Ou seja, eu irei acreditar que, se Deus tem prometido, ele é fiel
também para executá-la. E vendo que ele tem prometido me abençoar, nesse caminho,
eu confio que seja de acordo com sua palavra.
"Mas as Escrituras não nos direciona a esperar pela salvação? Davi não
disse, 'Minha alma espera em Deus, por meio dele vem minha salvação?'. E não é
Isaias quem diz, em (Isaias 26:8) 'Até no caminho dos teus juízos, Senhor, te
esperamos; no teu nome, e na tua memória está o desejo da nossa alma'".
Tudo isto não pode ser negado. Vendo que é o dom de Deus, nós estamos
indubitavelmente esperando nele para a salvação. Mas como devemos esperar? Se o
próprio Deus tem indicado o caminho, pode você encontrar um modo melhor de
esperar por ele? Mas aquele que tem apontado o caminho, tem sido mostrado
largamente, e também qual é aquele caminho. As próprias palavras do Profeta, que
você cita, coloca isto fora de questão. Já que toda a sentença, em (Isaías 26:8) é esta:
'Até no caminho dos teus juízos, Senhor, te esperamos; no teu nome, e na tua
memória está o desejo da nossa alma'. E, no mesmo caminho Davi esperou, como
suas próprias palavras testificam abundantemente: 'Eu tenho esperado por tua cura
salvadora, Ó Senhor, e tenho mantido tua lei. Ensina-me, Ó Senhor, o caminho de
teus estatutos, e eu os manterei até o fim'.
(5) "Sim", alguns dizem, "mas Deus tem indicado um outro caminho — 'fique
quieto, e veja a salvação de Deus'".
(2 Crônicas 20:2) ”Então, vieram alguns que deram aviso a Josafá, dizendo:
vem contra ti uma grande multidão, dalém mar e da Síria; e eis que estão em
Hazazom-Tamar, que é En-Gedi. Então, temeu, e pôs-se a buscar o Senhor; e
apregoou jejum em todo o Judá. E Judá se ajuntou, para pedir socorro ao Senhor;
também de todas as cidades de Judá vieram para buscarem o Senhor; e pôs-se Josafá
em pé, na congregação de Judá, e de Jerusalém, na Casa do Senhor, diante do pátio
novo... Então, veio o Espírito do Senhor, no meio da congregação, sobre Jaaziel. E
ele disse: Não te entristeças por causa dessa grande multidão. Amanhã, descereis
contra eles: tu não precisas lutar nessa batalha. Fiquem quietos, e vejam a salvação
do Senhor. E eles se levantaram cedo de manhã, e seguiram em frente. E quando eles
começaram a louvar e a orar, o Senhor colocou emboscadas contra os filhos de
Moabe, Amon, e os dos montes Seir: — e cada um ajudou a destruir o outro".
Tal foi a salvação que os filhos de Judá viram. Mas como tudo isto prova que
nós não devemos esperar pela graça de Deus, nos meios que ele tem ordenado?
(6) Eu devo mencionar, a não ser uma objeção mais, que, de fato, não
propriamente pertence a esse assunto: não obstante, porque ela tem sido
freqüentemente sugerida, eu não posso passar totalmente por ela.
'Se, pois, estais mortos em Cristo, quanto aos rudimentos do mundo, por que
vos carregam ainda de ordenanças, como se vivêsseis no mundo?' (Col. 2:20)
Assim, você diz: 'Se eu sou um cristão, eu não estou sujeito às ordenanças de
Cristo!'. Certamente, através desse absurdo, você deve ver, em princípio, dar uma
olhada, que as ordenanças aqui mencionadas, não podem ser as ordenanças de Cristo:
que se tratam de ordenanças judaicas, para as quais é certo que os cristãos não estão
mais sujeitos. E o mesmo aparece inegavelmente das palavras imediatamente
seguinte: 'não toques; não proves; não manuseies'; tudo evidentemente referindo-se
às antigas ordenanças da lei judaica. Assim, essa objeção é a mais fraca de todas. E,
apesar de tudo, aquela grande verdade deve permanecer inabalável: que todo aquele
que deseja a graça de Deus deve esperar por ele, nos meios que ele tem ordenado.
V
(1) Mas sendo permitido que todo aquele que deseje a graça de Deus espere
por ela, nos meios que ele tem ordenado; pode ser ainda inquirido, como esses meios
devem ser usados, ambos quanto à ordem e maneira de usá-los. Com respeito ao
primeiro, nós podemos observar que existe uma espécie de ordem, em que o próprio
Deus geralmente se agrada como meio de trazer o pecador à salvação. O infeliz
estúpido e insensível segue em seu próprio caminho, não tendo Deus em todos os
seus pensamentos, quando Deus vem sobre ele inesperadamente, talvez, através de um
sermão de avivamento ou conversa; talvez, por alguma providência terrível, ou, pode
ser, um golpe imediato de seu Espírito convincente, sem qualquer meio exterior,
afinal. Tendo agora um desejo de fugir da ira que há de vir, ele propositadamente vem
ouvir como isto pode ser feito. Se ele encontra um pregador que fala para o coração,
ele fica maravilhado, e começa a buscar as Escrituras, para se certificar que essas
coisas são desse jeito. Quanto mais ele ouve e lê, quanto mais convencido ele é; e
mais ele medita nisso dia e noite. Talvez, ele encontre algum outro livro que explique
e reforce o que ele tem ouvido e lido nas Escrituras. E através de todos esses meios, as
flechas da convicção mergulham mais profundamente em sua alma. Ele começa
também a falar das coisas de Deus, que são sempre mais importantes em seus
pensamentos; e fala com Deus; ora a ele; embora tema e se envergonhe, ele raramente
sabe o que dizer.
Mas, se ele pode falar ou não; ele não pode deixar de orar, seja isto apenas em
'murmúrios que não podem ser proferidos'. Ainda assim, estando em dúvida, se 'o
todo poderoso que habita a eternidade' irá considerar tal pecador como ele, ele deseja
orar com todos os que conhecem Deus, com o crente, na grande congregação. Mas
aqui ele observa outros indo para a mesa do Senhor. Ele considera: "Cristo tem dito:
'Faça isto!'. Como eu não faço? Eu sou tão grande pecador, que eu não estou
adequado; que eu não sou merecedor". Depois de lutar com esses receios, por um
tempo, ele abre caminho. E assim continua no caminho de Deus, ouvindo, lendo,
meditando, orando, e partilhando da Ceia do Senhor, até que Deus, da maneira como
lhe agrada, fala ao seu coração: 'Tua fé o salvou. Vai, em paz!'.
(2) Observando essa ordem de Deus, nós podemos conhecer quais os meios
recomendados para alguma alma em particular. Se algum desses alcançar um pecador
estúpido e descuidado, será provavelmente ouvindo, ou conversando. Para tal,
entretanto, nós deveríamos recomendar isto, se ele teve, alguma vez, algum
pensamento sobre salvação. Para alguém que começa a sentir o peso de seus pecados,
não apenas ouvindo a Palavra de Deus, mas lendo-a também, talvez, outros livros
sérios, pode ser um meio de convicção mais profunda.
Você não pode aconselhá-lo também a meditar sobre o que ele lê, para que isto
seja uma força completa sobre seu coração? Sim. E a falar nisso, e não ficar
envergonhado; principalmente, entre aqueles que caminham nos mesmos passos.
Quando a preocupação e o peso caírem sobre ele, você não poderia, então, exortá-lo a
derramar sua alma diante de Deus; sempre a orar e não fraquejar'; e quando ele
deixar cair a inutilidade de suas orações, você não irá trabalhar junto com Deus, e
lembrá-lo de ir até a casa do Senhor, e orar com todos que o temem? Mas, se ele faz
isso, a palavra agonizante de seu Senhor logo irá ser trazida para sua lembrança; uma
intimação clara de que este é o tempo em que devemos apoiar os movimentos do
Espírito abençoado. E assim, podemos conduzi-lo, passo a passo, através de todos os
meios que Deus tem ordenado; não de acordo com sua própria vontade, mas
justamente como a Providência e o Espírito de Deus que segue adiante e abre o
caminho.
(3) Ainda assim, como nós encontramos nenhum comando nos escritos santos,
para alguma ordem particular a ser observada neles, então, nem a providência e o
Espírito de Deus adere a algo, sem variação. Mas os meios, nos quais os diferentes
homens são conduzidos, e nos quais eles encontram as bênçãos de Deus, são variados,
e combinados, de milhares de maneiras diferentes. Ainda assim, nossa sabedoria deve
seguir as conduções de sua providência e seu Espírito; para ser guiado nele (mais
especialmente nos meios em que nós mesmos buscamos a graça de Deus); em parte,
através de sua providência exterior; dando-nos a oportunidade de usar algumas vezes,
um meio, outras vezes, outro; parcialmente, através de nossa experiência, por meio da
qual, seu Espírito livre se agrada mais de operar em nosso coração. E, nesse meio
tempo, a regra certa e geral para todos que murmuram pela salvação de Deus é esta:
— onde quer que a oportunidade sirva, use de todos os meios que Deus tem ordenado;
quem sabe no que Deus irá satisfazer a ti, com a graça que traz salvação?
Em segundo lugar: Antes que você use algum meio, deixe que fique
profundamente impresso em sua alma: não existe poder nisso. Ele é, em si mesmo,
uma coisa pobre, morta, vazia. Separado de Deus, é uma folha seca, uma sombra.
Nem existe algum mérito, em usá-lo; nada intrinsecamente agrada a Deus; nada, por
meio do qual, eu mereça algum favor de suas mãos; não, nem uma gota de água para
resfriar minha língua. Mas, porque Deus ordena, por conseguinte, eu faço; porque ele
me dirige a esperar nesse caminho; assim sendo eu espero aqui pela sua misericórdia
livre, por meio da qual vem minha salvação. Estabeleça isto em seu coração, que o
mero trabalho feito não tem proveito algum; que não existe poder para salvar; a não
ser, no Espírito de Deus; nenhum mérito, a não ser no sangue de Cristo; que,
conseqüentemente, mesmo o que Deus ordena, transmite nenhuma graça para sua
alma, se você não confia somente Nele. Por outro lado, aquele que verdadeiramente
confia Nele, não pode ficar frustrado da graça de Deus, mesmo que ele seja cortado
fora de toda ordenança exterior; mesmo que ele seja encarcerado, no centro da terra.
Lembre-se também: use todos os meios,m como meios; como ordenados. Não
por sua causa, mas com o objetivo de renovar sua alma, na retidão e santidade
verdadeira. Se, entretanto, eles atualmente tendem a isto, muito bem/ mas, se não, eles
são esterco e refugo.
Por último: Depois de ter usado algum desses, cuide em como você valoriza a
si mesmo, nele? Como você se congratula de ter feito alguma coisa grande. Está é
transformar tudo em veneno. Pense: 'Se Deus não estivesse lá, no que isto teria
proveito? Eu não tenho acrescentado pecado ao pecado? Por quanto tempo? Ó
Senhor! Salve-me, ou perecerei! Não deite mais pecado sob minha responsabilidade!'
Se Deus esteve lá; se seu amor emanou, em seu coração, e você se esqueceu de como
ele era, a obra exterior. Você vê; você sabe; você sente que Deus está em tudo.
Humilhe-se. Mergulhe, diante dele. Dê a ele todo o louvor. 'Deixe Deus, em todas as
coisas, ser glorificado, através de Jesus Cristo'. Permita que seus ossos clamem:
'Minha canção seja sempre da bondade do Senhor: com minha boca eu irei sempre
dizer da tua verdade, de uma geração a outra!'.