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Clinica © Sociedade: Rricos © que serd um Psicanalista? CLINICA — SOCIEDADE: © QUE SERA UM PSICANALISTA? José F. Miguel H. Bairrao Professor da Faculdade de Filosofia, Ciéncias @ Letras de Ribeiréo Preto/USP ‘Membro do Departamento Formagéo em Paicanélise do Instituto Sedes Sa RESUMO: O que seri um psicanalista? Respondé-lo depende de uma definigio do estatuto da psicandise. E:conveniente que a questo permaneca em aberto, em parte para manter 0 impacto do inconsciente nao esquecido pelos que 0 vivenciam, em parle porque a extrema novidade da disciplina dificulta que se defina conclusivamente 0 seu estatuto, As sentativas de a classificar que mais comumente, explicita on implicitamente, estito presentes na literatura ¢ na mentalidade dos analistas (citncia, oficio, arte ¢ religido), sdo manifestamente insuficientes para dar conta da singularidade da disciplina. Sugere- se uma outra perspectiva, aproximando-a da ética. Discutem-se algumas das suas vantagens: € mais coerente com 0 fazer da clinica e é propicia ao alargamento da intervengao analitica ‘para além dos limites impostos pelo modelo de exercicio liberal de una profissao (indo ao encontro de uma melbor insergio do analitco na problemética social cultural contempornea). Em beneficio da qualidade e permanente revisio da formagio e em prol dos pacientes, oportunidades de didlogo sfo preciosas. A possibilidade de aprofundate confrontar idéias entre pares é um privilégio raro e imprescindivel ao desenvolvimento de uma atividade como a psicanilise. Mais ainda quando se leva em conta que o seu amago, a pritica clinica, implica numa certa solidao. esse sentido, proponho uma reflexio em torno de uma pergunta que seria sabio preservat como tal, mantendo a resposta em aberto, ¢ reiterar habitualmente. Legitimas preocupagSes quanto ao futuro da psicandlise, em Bol. form. psicanal, Sio Paulo, V 9, n. 2, p:7-22, jul/dez. 2000 gw | BOLETIM certa medida nas mios dos analistas, sublinham-se na sua formulagio pelo cemprego no tempo futuro do verbo “ser”. ‘One sera um psicanalista? (O fato de perguntarde algum modo deixa 0 proponente numa posigio confortivel, visto que se espera que a resposta venha dos interlocutores... Mas, brincadeiras & parte, o sério & que é prejudicial ao progresso da investigacio te6ricae clinica que algumas das suas indagagbes nucleares se fechem em respostas dogmaticas. ‘Os psicanalistas sabem que perguntar pode ser um excelente modo de responder, porém isso nao os desobriga de um compromisso como percurso ‘que levaa claboragio de uma questo, Tanto é indevido livrar-se do problema nio tematizando, quanto solucionando-o apressada e conclusivamente. ‘A prudente reserva de o conservat suficientemente sem resposta (efinitiva) para que se 0 possa retomar assiduamente pode constituit-se em ntidoto contra risco de o cotidiano exercicio de uma profissio se sobrepor 20 trabalho do inconsciente, obstando ao esquecimento da precariedade da circunstincia humana, inevitavelmente posta em jogo para os protagonistas de uma andlise no decurso da mesma. ‘Uma vez socializada e compartillhada, manter a indagacio enquanto tal presta-se a0 encaminhamento de uma reflexio sobre a crise atual, ‘multidimensional, da psicanilise. E, em fungio das preocupacdes que o seu desenvolvimento inspira, nio me parece haver nem melhor nem mais sil alternativa do que dizer e explicitar clara, diteta efrancamente o que no momento aio seia esse respeito. Poderia parti-se de uma analogia (tosca) entte a imaturidade da disciplina ¢ 0 tempo da adolescéncia. 15 como se aproximadamente aos cem anos, com alguma experiéncia de vida (ainda que minima na escala da hist6ria dacultura), a psicanilise se interrogasse sobre 0 que vai ser se e quando crescer. Prosseguindo com aanalogia, digamos que é chegadlo o momento de no apenas se fantasiar gente crescida, mas de se afligit com a saida da casa dos pais: a iminente e angustiante entrada no “mundo de fora”. Em que medida os fndamentos recebidos nas origens, muitas vezes ainda mal digeridos, vio ser suficientes para estabelecer uma relacio bem sucedida dapsicandlise com a imensicade (do ser, da vida, da mente, etc...) Nao recuar para um ensimesmamento de pendor, por assim dizer, autista? Poderi adolescet sem se precipitar num precoce esclerosamento, encobrindo memérias de descobertas em dogmas enquistados? (O perigo é real, Nao obstante podermos beneficiat-nos do irreverente pendor brasileiro pata o sincretismo (recheado dos perigos do ecleti contraponto providencial contra o endurecimento das cabegas ea concomitante perda da lucidex edo espitito hidico imprescindiveis 20 pensat crativo), embora Bol. form. psicanal,, Sio Paulo, V 9, n. 2, p.7-22, jul/dez. 2000 herdeiros de uma época em que o amplo predominio na universidade da chamada escola inglesa ‘‘se miscigenow” com 0 que vitia a set 0 lacanismo tupiniquim (que entao emitia os seus primeitos balbucios), parece que essas “acilitages” pouco ou raramente se consubstanciam em subsidios ¢ autorizagio para aliberdade de pensamento. ‘Como habitualmente acontece entre os pensadores ¢ as doutrinas socialmente estabelecidas em seus nomes —e psicanilise no esta isenta disso —, freqiientemente nos deparamos com uma situagio em que uma reflexiio rica, cheia de possibilidades, fértil em problemas, sugestiva de desdobramentos se achata em como que um catecismo ‘prét porter”, que nio Ihe faz justiga nem explora devidamente a sua contribuigio pata o progresso do pensamento, O conforto doutrinitio encolhe a fertilidade de um pensamento. Situagio banal no campo dos “ismos”, esta condigio afeta sobremaneita a recepcio da obra de um psicanalista que teconheso como parceito privilegiado na tarefa de me ausiliara pensar a psicandlise. Lacan, n0 Brasil mais do que noutros lugares, chegou “embalado” em escombros do “marxismo- estruturalismo” althoussetiano, pr6digo no achatar formulagdes instigantes 20 ‘mergulho no desconhecido em conjuntos sabidos de formulas; propenso a reduzir um pensamento “encorpado” em ressonancias posticas a uma espécie de célculo do “pulsional abstrato”. Ora, 0 que um grande autor nos deixa de mais tico no sio as simplifieagées das suas idéias em sistemas de respostas prontas ¢ acabadas. Sao cs problemas que pensou e os impasses que percorreu, Uma verdadeira formacao niio deve omitir as dividas, os problemas, enfim, os desconhecimentos. Estes sio 0 tesouto a ser transmitido e portanto no é vergonhoso apresentar ralas respostas as grandes questdes concernentes 20 amago da pritica psicanalitica Sabendo que se sabe pouco, em psicanilise cresce-se quando se aprende a valorizar mais saber nio saber do que saber. A par de ser proprio de um respeito para com o fato do inconsciente, a arrogincia sabichona (mantendoa analogia) ¢ tipica de uma javentude que precisa adolescer bem. Lacan mesmo sublinha como momento de uma anilise madura a expetiéncia de trocar a confianca no saber do outro pela responsabilidade dese petceber e de o perceber “nao sabedor”. Analisantes ¢ analistas passam pela prova de fogo de se verem avangando no desconhecido. A eapacidade pata o enfientar é, por assim dizer, uma habilidade inerente ao “aéier”. A partir de certa altura de uma anilise (¢ do analista), conta menos o que se sabe do que a conduta perante 0 nio sabido. Portanto, nfo estaré mal encaminhada a pergunta que nos trago sese tomar como ponto de partida a suspensio das tespostas ripidas, prontas, ligeieas.. O problema proposto tem uma resposta tautolégica (instil do ponto de vista do actéscimo do saber, mas sempre verdadeita): “O analista €0 operador Bol. form, psicanal, Sio Paulo, V 9, n. 2, p.7-22, jul/dez. 2000 Clinica e Sociedad © que soré um Psicanalisto? BOLETIM de uma anilise”. ‘O“” em aberto é 0 que seria uma anilise. Actescentaria nada dizer que €0 que faz 0 analista... Abra-se um paténtese para recordar que embora seja impensivel escamoteara clinica, ela 86 porsi no é um argumento nem pode “falar” respostas. ‘Nio € auto-explicativa ¢ nem sempre informa muito: além de se registrarem grandes sucessos, constatam-se tremendlos fracassos, e muitas vezes isso apenas “se explica” a posteriori, o que pode indicar uma mera construgiio retérica. Pior, ino ha garantia de que as explicagdes do sucesso ou do fraeasso confiram coma verdade (sea liisso, a verdade, o que fot). A psicanslise nos ensina a desconfiar das explicages dadas. Para complicar as coisas, ainda por cima pode havet sucesso a partic de praticas que estio longe do que se admita como anilise. Portanto, no plano estritamente clinico, o problema persiste insolucionavel. & melhor fundamenté-lo no campo préptio que Ihe da consisténcia, o da razio humana, naturalmente refletindo a experiéncia, mas sem a ingenuidade de crer que esta ¢ auto-reveladora, ‘86 se ptospectard o que seré o analista se previamente se examinar 0 que seja a psicanilise, e como nenhum destes dois momentos do nosso problema pode dissolver-se exaltando a clinica, para equacioné-lo no patamar devido tomo apoio na contribuicio de Lacan A reflexao sobte o estatuto da psicanilise (obviamente solidatio do que se estabelece como 0 estatuto do analista). Parto de dois enunciados que recorto na sua obra, que me sio particularmente caros. Lacan pergunta-se: “O que é que o analisante vem procurar na anilise? Vem procurar 0 que tem a encontrar, ou, mais exatamente, se procura é porque hi alguma coisa encontrar. Ea (nica coisa que pata ele hi a encontrar, falando propriamente, o tropo dos topos, o que se chama seu destino” (Lacan, 1991, p.372). Em que pesem os achatamentos teéricos promovidos pelo furor formalizante de epfgonos, Lacan ensina que, pata além do patamar comunicativo ‘edas figuras de estilo, a Palavra cifra o horizonte do tempo de vita ser de cada sujcito,o seu destino, O destino cifra-se em palavras atuantes no acontecer (do) sujeito Bairro, 1996). (© que entio se encontra, numa anilise, nfo é um autoconhecimento. Bo préprio ser, em devir: “Kern unseres wesen”, o nd de meu ser, nfo é tanto isso que Freud ‘nos ordena visat, como tantos outros o fizeram antes dele, pelo vio adigio “Conhece a ti mesmo”. Sio apenas as vias que af conduzem que nos dé pata revisat. “Ou melhor, o que nos propée aleangar nao é o que possa ser objeto de um conhecimento, mas aquilo — nio o diz? — que faz.0 meu sete de que Bol. form. psicanal, Sto Paulo, V 9, n. 2, p:7-22, ul/dex. 2000 Clinica © Sociedade: (© que seré um Psicanalistaé ‘nos ensina que testemunho tanto e mais nos meus caprichos, nas minhas aberragdes, nas minhas fobias e nos meus fetiches, do que no meu personagem ‘vagamente policiado” (Lacan, 1966, p526). Em anilise, o sujeito encontra-se ser, mas insubstantivo, feito de atos temporalmente produtores de sentido: “Fi que ao tocar por pouco que sejaa relagio do homem ao significante. ‘muda-se 0 curso de sua histéria modificando as amatras do seu ser” (dem, p52), ‘As duas teses — analisar é transformar o ser ¢ o que se atinge ¢ 0 destino —, ao se combinarem, uma vez que set é “feito significante” que sucede temporalmente, permitem deduzir que no ato analitico (na medida em que se atingem as “‘cordas significantes” que sio as “amarras” do ser sujeito) muda-se o destino (Baittio, 1996). ‘Logo, analisar é mudar o destino. Esta tese me parece suficientemente convincente pata se constituir em cixo de referéncia e ponto de partida para um exame de algumas tomadas de posisio sobre o estatuto da anilise que de vez em quando sio retomadas na nossa comunidade, para em seguida apontar o hotizonte diferente para o qual, amen ver, apontam. ‘Diga-se de passagem que hesitagdes e ambigtiidades relativamente a um ponto tio basico como o estatuto da disciplina, embota obviamente possam levar a algum constrangimento quando se fazem piblicas no concerto geral da cultura, sio inevitéveis pela radicalidade e novidade da psicanilise. ‘Os modelos de entendimento do problema do estatuto da psicanilise (Correlativo do do psicanalista) que consegui isola, freqientemente mais explicita ou implicitamente defendidos, siio quatro: 1. O modelo cientifico: a psicanlise € uma ciéncia, uma psicologia bem feita. 2, O modelo do oficio: é um trabalho de tipo artesanal. 3.O modelo da arte: uma pratica “sensivel” que se enraiza no talento ‘ena criatividade de cada analista 4, O modelo religioso: a psicanilise é uma doutrina que oferece um sentido completo para a aventura humana (numericamente este é 0 mais comum, mas nao é defendido por ninguém), © modelo da psicanilise como conhecimento cientifico, o mais professado explicitamente, subdivide-se nas diversas cortentes epistemolégicas ‘que competern pela hegemonia no campo das ciéncias humanas. HA aqueles ‘que se empenham em aproximar a psicandlise da ciéncia num sentido forte (e restrito): uma combinagio de enunciados tedricos logicamente encadeados ¢ confirmados por fatos empiticos. Desta maneira enredam-se em polémicas sobre o estatuto ¢ as condicdes do empirico em psicanilise, servindo de alvo ficil parailustragées de equivocos entendimentos do método cientifico, Afinal, 1s regtas do jogo escolhido ja foram implicitamente accitas, Por isso, toda ¢ Bol. form, psicanal., Sio Paulo, V 9, n. 2, p.7-22, jul/dez. 2000 BOLE f ‘qualquer tentativa nesta ditego deveria, antes, dar conta da critica demolidora promovida por Wittgenstein (1971) e por Popper (1980), especialmente 0 primeiro (que em boa parte esti por tris e provavelmente persistiré sendo a principal fonte das crticas 4 psicandlise provenientes do hotizonte intelectual anglo-saxio). Do ponto de vista destes, muito abreviadamente, a psicanilise nio ppassatia de uma retérica pseudo cientifica. Enunciados que niio se baseiam no cempitico mas sim em interpretagbes da descriio linglifstica da experiéncia, narrativas ue nfo podem ser contrastadas com fatos, hip6teses sempre confirmadas mesmo ue os dados as contratiem, definiriam um quadro de confuséo ou mesmo de desonestidade intelectual. Os principais conccitos psicanalitcos seriam metafisicos, sem nenhuma base empirica, tendo o mesmo aleance que qualquer outta rettica suficientemente persuasiva. O psicanalista seria o sofista moderno: & pago e bem ago para “‘provar” retoricamente qualquer coisa Os analistas defensores da cientificidade da deveriam justificar melhor o que podetia ser uma plataforma empitica para a psicanzlise, em vez de virarem alvo ficil e didético para ilustragdes de més aplicagdes do método cientifico. Argumentar, pateticamente, com a experiéncia pessoal da clinica nio tem valor perante a razo cientifica, que exige dados objetivos e piblicos. Ao olhar de seus crticos, deste modo a psicanslise em nada se diferenciaria do discurso mistico, fxzendo um uso puramente “tet6tico” do método cientifico e aspirando ao favor gratuito de exigéncias diferenciadkas, De qualquer modo, as etticas wittgensteinianas 3 psicanilise deveriam ser muito bem estudadas por todos os formadores de psicanalistas. Especialmente os que falam em cigncia da mente, on investigagio (conhecimento) da mente, precisam explicat-se muito bem, sob pena de se isolarem da cultura ‘contemporinea. ‘Noutra perspectiva (mas ainda neste primeiro grupo) estio aqueles ‘que diferenciam as ciéncias do espirito das ciéncias natura, exigindo uma ‘moltiplicidade de métodos para a diversidade das ciéncias. Em geral marcados pela fenomenologia, insistem na especificidade de uma metodologia propria para o humano em geral eo inconsciente em particular, propondo oalargamento da nogio de ciéncia de maneira que inclua a psicanilise. Mas se niio houver critérios extrinsecos ao campo analitico ou que possam ser debatidos por gente de fora, nfo iniciada, pode-se de novo cai em algo puramente ret6tico, ou mesmo esvaziar o termo “ciéncia” (tudo passa a ser “ciéncia”, a astrologia, os florais..), em iltima instincia incorrendo-se numa valorizagio puramente ideoldgica do mesmo, sem nenhum efeito do ponto de vista de um progresso teético efetivo. Em suma, as propostas cientificas, as “psicologias”, precisam evitar facilidades retsricas que apenas conduzem a um isolamento, restringindo a psicandlise a um gueto sectirio que a leva a uma progressiva perda de qualquet Bol. form. psicanal, Sio Paulo, V 9, n. 2, p.7-22, jul/dez. 2000 influéncia na cultura contemporinea. Em que pese o (ainda) grande prestigio da cientificidade, certamente merecido, é descabido tentar manter-se no seu bojoa qualquer custo, sob pena de um barateamento geral. © modelo do “oficio” (e agora, mesmo no imbito lacaniano, multiplicam-se as “oficinas”) tem a vantagem de sublinhar que, tal como na atividade do artesio, cada pega (caso) é uma pega (caso). Reconhece e evidencia a impossibilidade de tratar por alto e genericamente, a0 modo universalizante do conhecimento cientifico, a clinica psicanalitica. Diferencia-a da psicologia clinica por valorizar menos um conhecimento do objeto e mais um “aprender a fazer” (© psicanalista estaria mais para um velho lobo do mar do que para um ‘oceandgeafo), 0 que é positivo, Mas apresenta como grande desvantagem que, ao fortalecero elo entre mestre e aprendiz, nfo permite dar conta eficazmente da necessitia distingo entre a formagio do discipulo e 0 modelo proporcionado pelo mestre. O mestre aparece como quem sabe para aquele discfpulo. A diferenca tende a instaurar-se em discérdia, ¢ ficam faltando meios para uma avaliagio menos dual dos procedimentos, mais sobranceira. Ou seja, este modelo prescinde da proposta de um conhecimento genérico, mas postula uma relagio de aprendizagem e nfo fornece meios para que esta seja avaliada, Portanto presenta, par de algumas qualidades, desvantagens significativas. De todos, terceiro modelo, o artistico na acepgio da apreensio ¢ da ctiagio estéticas, étalvez.o mais interessante e mais insuficiente, se nao pernicioso, Interessante porque valoriza possibilidades de escuta para além do entendimento dos significados. Potém, freqiientemente nem pretende nem alcanga rigor para se formular em categorias no impressionistas. Por exemplo, a idéia de escutar como se ouve uma pattitura musical é interessante, mas desconheco se alguma vez isso foi além de uma vaga indicagao, quase pottica, sobre o trabalho interpretativo, Pode tet valorclinico, mas sem maior alcance tebrico, Apesat de pleitear uma escuta para além dos significados, o modelo nao consegue teotizar 0 que setia isso. ‘Além disso, em geral pressupée uma visio romAntica do trabalho attistico, crédula em “dons” ¢ em genialidades. A pior decotréncia desta perspectiva € que o psicanalista, mesmo que retoricamente se esconda atrés de uma falsa humildade, passa a ter um papel “gordo”: tudo depende do seu talento e este é (quase) inexplicavel. F. como que tum “dom” (0 que inviabiliza qualquer explicitagio de uma transmissio). Enfim, vulgatiza-se a dimensio inefivel inerente ao trabalho analitico, falando demais aseu respeito! Eventualmente os seus proponentes podem incorret em ataques & exatido cientfica, valorizando uma fantasia do que seria o trabalho da magia. Mas os que assim procedem desconhecem o rigor da magia ea criatividade do trabalho cientifico. Depreciam a teoria como prosa sem valor, em pol de um enaltecimento da cor da vida, contra o cinza da teoria. Porém, esta é uma atitude Bol. form. psicanal., Sio Paulo, V 9, n. 2, p.7-22, jul/dez. 2000 Clinica e Sociedade: (© que sera um Psicanalista® (poner fora de lugar, porque se a teoria for cinza, na hora da exposicio, fotografias, coloridas nao devem set exibidas.. Estas criticas nfo so novidade, mas hé um ponto que niio se aponta tanto e me parece decisivo. O paciente no é matéria-prima passiva, disposta a0 cinzel de um escultor, o analista. O rigor aconselha que o talento, do ponto de vista artistico, no caso, fique mais por conta do paciente. Mesmo quando é este que é concebido como o ator principal, ébom embrar que 0 drama da sua existéncia nao deveria se apresentar a0 analista ‘como um espeticulo a ser apreciado. Hi ainda o quarto modelo, o religioso, sempre involuntirio e indevido, porém menos raro do que parece. Neste, a psicanilise e cada uma das suas “Jinhas” sio implicitamente tratadas como visGes de mundo concorrentes com, outras. Eo comum entendimento dogmitico ¢ doutrindrio da psicandlise. “Apesar de ninguém o admirar, infelizmente tem largo curso em politicas de formagao coxporativas que ensinam “doutrinas”, saberes prontos, implicadoras de teansferéncias traigoeiras (incompativeis com o pouco saber no nosso campo), nfio verdadeiras, que acima de tudo distorcem a forma de prodlugio de conhecimento em psicandlise, encarando os resultados de pesquisas dos diversos autores como se fossem verdades reveladas. Ninguém o defende, nem sequer o admite, mas tenho a certeza de que isso é realmente muito comum € 0 pior é 0 desconhecimento disso. A perspectiva religiosa tem como principal contra indicagio 0 seu cunho de impostura, Inverte as trevas em que a nossa pritica se debruga numa artificial luz de néon, oferecendo garantias impossiveis, como se alguém tivesse o dominio claro dos pordes da alma humana. A meu ver isso torna perigoso o ensino da psicanslise em funcio de linhas, douttinas, pregagBes. Teri o discfpulo de escother no mercado das adesbes aquela “opeo” que mais o seduzisse? Fica parecendo quea busca da verdadee © confronto de argumentos nfo tém nenhum peso. Em vez disso haveria um mercado livre deidéias (mercado “livre” e livre deidéias!) onde se vio comparar vvantagens, precos, etc. Assim a psicandlise acaba, Seria possivel forjar uma quinta perspectiva, mais coerente com as teses que nos guiam? Praticamente desconhecida, pretendo comenti-la tal como se sugete nna obra lacaniana, mas sem presumir que fosse uma sua “escolha”, pois em ‘momentos diferentes o autor apresentou subsidios para a discussio do estatuto da psicanilise e do psicanalista em diversas diregdes. Corretamente, na sua fungio de formador, deixou o problema em aberto. Independentemente de ser mais uma “opgio” (0 que pouco importa), essa perspectiva me é particularmente cara por fazer eco as teses que si0 0 nosso ponto de partida. Favorece um mergulho vertical € radical nas conseqiiéncias légicas deste, propiciando que se extraiam € Bol, form. psicanal,, Sio Paulo, V 9, n. 2, p:7-22, jul/dez. 2000 detalhem as suas nuances, facilitando o seu cotejamento com a experiéncia deanilise. S6.a.apresento, mal a defendo ea tiltima coisa que pretendo é que se constitua em tesposta que obture a questio aqui refletida, a qual sobejamente sublinhei ser conveniente que permaneca em aberto. O que adendo é uma outra perspectiva para a pensar. Retomo o ponto de que partira anteriormente. Para Lacan a psicanilise serve para mudar o destino e transformaro ser. Nem visa primordialmente a produgio de um conhecimento, nem se restringe & mente, nem captura uma cesséncia ou ausente substincia do ser humano. Diz diretamente respeito 20 ‘medular do humano, “feitor” de atos (responsive e fazedor), irredutivelmente sujeito e essencialmente tempo. Nio pode portanto abreviat-se ou encolher-se numa proposta de estudo da mente, ou do psiquico, pois nao se presta a0 equacionamento de um ‘objeto.a conhecer: visa 20 sujeito enquanto tal, como ser temporal a transformar. Para refletit esta condigio, 0 paralelo mais proximo que se pode estabelecer é com aética. Note-se, nfo se trata de pensar uma ética da psicandlise ou para a psicanslise, mas de refletira psicanélise como uma forma, nova, de ética. Ao remunciar A objetividade cientificista, nfo se precisa desistir do tigot: a psicaniilise setia como que uma ética “empirica”, em que os juizos, as intetpretagdes, em dltima andlise seriam validadas pelo sujeito enquanto acontecimento temporal (niio dependeriam de uma concordincia falada, mas do demonstrado em destino). © fatual €0 testemanho. O acontecimento sensfvel é a palavra. Esta no se reduz. ao aspecto formal de nartativas descritoras e ou comunicadoras de cocorténcias que Ihe sejam extrinsecas.Feita carne, a base empitica da psicanilise €enunciado, quaisquer que sejam os sentidos (tanto na acepgio de significados como na de sensagSes) envolvidos na sua producio. © que validaria essa ética nfio seriam decisdes provenientes de um tribunal da razio, mas uma ligica intrinseca a0 testemunho. Lacan aptesenta uma definigao de ética sob medida para englobar a psicanilise, conceituando-a como um julgamento de agSes que em si mesmas ‘comportam (ou se thes presuma) um valor de julgamento: “A ética consiste essencialmente — sempre € necessitio distribuir definigdes —em um julgamento sobre nossa agio, salvo que s6 tem aleance na ‘medida em que a a¢io implicada comporte também ou se presuma comportar tum julgamento, mesmo implicito. A presenga do julgamento dos dois lados é cessencial estrutura” (Lacan, 1986, p.359). ‘A ética julga 0 sentido de agdes que comportem em si mesmas um juizo (¢ portanto sentido). Nao se trata de julgar por critérios extrinsecos a0 ato, mas de escutat 0 sentido do ato do sujeito. Bol. form. psicanal, Sio Paulo, V 9, n. 2, p.7-22, jul/dez. 2000 Clinica © Sociedade: © que serdi um Psicanalista? ) BoLETM [Nao é esta uma tarefa vital pata o analista? Nio ¢ esta a dimensio especificamente analitica do trabalho do psicanalista? Nio satisfeito, Lacan ainda critica as tentativas de conhecer cientificamente a psique, as psicologias (e portanto a psicandlise concebida como céncia), Seriam canhestras tentativas, nem sempre bem intencionadas, de penetrar o enigma da agio humana: a questio ética de nossa praxis ¢ estreitamente atinente a isto que podemos entrever desde ha algum tempo, a saber, que a insatisfacio profunda ‘quennos deixa toda a psicologia, af compreendida aquela que fundamos pragas anilise, prende-se talvez a que ela uma mascara, €4s vezes um Alibi, da tentativa de penetrar 0 problema da nossa prépria acto, que é a esséncia,o fundamento mesmo, de todaa reflexio ética” (idem, p.27). ‘© desconhecimento de que 0 que efetivamente esti em jogo so atos de sujeitos e nfo um objeto de conhecimento (o psiquismo, ou a mente, ou comportamento...) s6 pode levar a resultados pobres ¢ insatisfatérios. Em verdade inobjetivavel, o sujeito precisa ser tratado eticamente, e nto epistemicamente. Em consonincia, Lacan nfo se furta a asseverar que o estatuto do inconsciente nfo € dntico, nem epistémico, mas sim ético (Lacan, 1973).O que significa que o trabalho do psicanalista, sem a sobreposicio dos seus jutzos ‘morais, consiste em escutar os julgamentos implicitamente expressos em atos (werbais, hidicos, etc). Explicitando: haveria que repisar bem o abismo entre 0 ato enquanto produgio de um sujeito, com sentido, e 0 comportamento como objeto de estudo a que se pode atribuir algum significado. O sitimo seria uma maneita canhestra de tentar lidar com o espitito como se de uma coisa objetiva se tratasse. “Ainda que aidentificacio da pritica psicanalitica com um procedimento ético pareca convir unicamente a uma desctigio fenomenoligica do que se passa na ncurose (confltos entre sentidos), isso nfo é verdad. Basta nfo pretender aprisionar (8 sentidos ao mbito das representagdes verbais (equivoco que é fonte de muitos ataques mal informados 20 intelectualismo oulogocentrismo lacanianos e no qual jgualmenteincorrem adeptos mal formados, auténtias ilustragdes de caticaturas do seu pensamento). Vozes escutadas ¢ impulsos incontroliveis, por exemplo, psicanaliticamente sfo atos eticamente tio imputiveis quanto idéias obs Sera insignificant eabsurdo “tiraro corpo fora” do sentido (dem para o afte). ‘Além deste modelo propiciar, de uma maneita simples, a concessio de cidadania a esferas do sujeito nfo exclusiva nem principalmente psfquicas, no requer nenhum esforco de adaptago para descrevera fenomenologia da situagio efetiva da clinica psicanalitica. Ou nfo é verdade que o psicanalista “ve” © sujeito com os ouvidos? ‘Mesmo que outros érgios sejam usados, o modelo é sempre o da escuta do sentido, o testemunho do que 0 outro, por palavras, pensamentos Bol. form. psicanal, Sio Paulo, V 9, n. 2, p:7-22, jul/dez. 2000 ou obras, efetivamente diga (ou niio), Para qué, portanto, supor aos enunciados que nos atingem um objeto falante, para depois restauri-lo como “objeto sujeito” que tenha o comportamento de ser enunciante? Nao é melhor pura e simplesmente admitirum “x” enunciante, originaria e intrinsecamente sujeito? ‘Mas assim sendo o psicanalista obriga-se a desistir de quaisquer veleidades cognoscitivas (j4 que conhecer sempre pressupse algum modo de objetivasio). Agindo rente a0 sujeito, testemunhando a sua revelacio € constituindo parte nelainteressada — o que leva sua pritica antveis de sutileza « sofisticacio inalcangiveis nos termos do conhecimento —, precisatia continuat 4 tentat competi com a psicologia cognitivo-comportamental bem feita? Ha sentido em tentar tratar 0 seu sujeito (muitas vezesjé tio entrevado por outras objetivagdes) como objeto (de conhecimento)? ‘Valea pena adotar modelos cognitivos quando, & medida que o trabalho de anilise se aprofunda, cada vez mais se tem de avancar 4 revelia do conhecimento? O efetivo, mesmo o terapeuticamente efetivo, € fungio do conhecimento sobre os pacientes, ou depende do seu reconhecimento como sujeitos? ‘Ao aceitaro desafio de pensar o estatuto da psicandlise nesta perspectiva impée-se a correlato exame do “ser analista” neste contexto. Muitas teses lacanianas. esse respeito — que podem soar abitririas no quadro da intexpretagio “formalista” do lacanismo, atualmente ptedominante— iluminam-se de uma maneira inesperada, sendo resgativeis para um entiquecimento da reflexiio psicanalitica contemporinea. Passa.a ser inteligivel que ser analista, mais e menos que uma profissio, seja um lugar que nfo se confunde com a pessoa que 0 ocupa. Destinatirio do, sentido do ato, lugar em que o sentido inconsciente se desvela, 0 analista (aio 11 pessoa) é uma funco logicamente indissocivel do inconscient “08 psicanalistas fazem parte do conceito de inconsciente... 1966, p.834) Oiinconsciente pressupde que se o escute. Naturalmente alguém precisa exercer essa funcio, mas no se confunde com ela. O lugar do analista no é uma profissio, E uma posicao simbdlica que eventualmente pode ser ocupada num. instante, numa sesso, ou no! Ficaaliés em aberto se esse lugar sempre se confunde com o enquadre analitico fisicamente restrito & clinica liberal, ou se podetia ser pensado com outro e maior alcance: movimentos sociais, contextos comunitarios,situagbes ‘grupais e mesmo probleméticas s6cio-culturais. Em qualquer caso sempre se tratatia de dar ouvidos a sujeitos (que também nfo se confundem com pessoas) ce nunca de atsibuir significado a produgdes simbélicas (quem decide se houve escuta 60 paciente, que o demonstra em atos evidenciadotes de altetagdes de rumo). ” (Lacan, Bol. form. psicanal., So Paulo, V 9, n. 2, p\7-22, jul/dez. 2000 (© que serd um Psicanalista? BOLETIM Igualmente valetia a pena examinar se 0 ato analitico teria que se subsumir a intervengdes concebidas segundo 0 modelo de tratamento médico € psicoldgico de individuos ou pequenos grupos, ou poderia ser alargado a intervengdes mais ou menos pontuais, “escutadoras” de sentidos coletivamente dados, que se esgotem em si mesmas (por exemplo, a anilise de uma anedota racist) ou se ampliem & escala de geracdes (a escuta acurada de marcas de origem nacional, por exemplo).. Jdenticamente fica em aberto se quem encama o lugar tem de ser uma pessoa ou por vezes a funcao pode ser exercida por uma instituigo ou por um micleo critico atuante numa comunidade; ¢ se a posi¢ao que fisicamente 0 consubstancia sempre €a do consultério ou equivalente ou poderia acontecer numa redagio jomnalistica, aparecer num departamento de recursos humanos, efetivar-serna forma de uma ONG ou coexistic com as fungées de uma instituigio escolar, por exemplo. Confirma-se 0 potencial germinal desta concepeio, Enquanto esses possfveis desenvolvimentos permanecem embriontios, pelo menos uma coisa jf € segura: uma vez-que a pessoa que o analista € ndo se confunde com o lugar que ocupa, ni importa fazer tipo (de analista). Algo na formagio de alguém petmite-Ihe encarnar esse lugar, a certo tempo, em certos momentos de sess6es (nunca em tempo ctonolégico permanente), mas, em iiltima anilise, 0 que 0 decide e “liga” a fungio é algo que se passa a partir do sujito analisante, Afinal fio pode haver escuta se primeito nao houver “fala” e esta préviaelogicamente constitu’ o lugar a que se confia. Fora disso (Fora da transferéncia) o que pode haver é abuso de poder (mal) disfargado em ciéncia objetiva do outro. B cada paciente que, vez por ver, em tempo de anilise eem momentos de sessio, institui e constitui o analista em seu lugar. que faz.a pessoa do analista no resto do tempo? Nada, porque no resto do tempo € um cidadldo que socialmente exerce uma profiss4o: psiquiatra, conselhciro, psicdlogo clinico, parceiro empatico... Precisarfamos chamar de psicanilise o exercicio de todos estes e de ‘outros papéis e confundi-la com uma profissio? Sealguma coisa caracteriza radicalmente a possibilidade de encarnar 0 analista, ou sej, de resgatar para um sujeito a sua existéncia em niveis a todos os titalos imprevisiveis, é 0 desejo do analista. Conceito que, a meu ver, resume operadores ténicos noutros referenciais tedricos apresentados de outro modo, ‘eque deve ser ouvido de dupla maneira: é 0 desejo do paciente em ser escutado, © €0 desejo da pessoa em posicio de analista de testemunhar outro sendo sujeito, Ou seja, 0 desejo do sujeito de se analisat e 0 desejo do operador de fazer aparecer 0 sujeito, Entendido este vinculo como desejo, ha ainda a vantagem de se preservaro enigma da relacio do posto em posigio de analista, como desejante, com 0 inconsciente préprio ealheio. Bol. form. psicanal., Sio Paulo, V 9, n. 2, p.7-22, jul/dez. 2000 ‘Diga-se 0 posto em posicio de analista com isso querendo significar «que nio se trata obrigatoriamente de uma pessoa, embora as possibilidades abertas pelo lacaniano entendimento do analista como parte do conceito de inconsciente sejam ainda muito incipientes ¢ nelas se tenha pouco refletido. Entrementes também continuamos mercé da precipitada atribuicio ' mnogo de desejo de um valor psicolégico (embora contra e quanto a isso ja esteja tudo escrito na obra lacaniana). Mal entendido terrivel, degradado em esejo de um sujeito (inconsciente ou nao), nao ha como deixar de fazer (ironias do destino!) uma espécie de psicologia do ego em terminologia lacaniana... Mas autor é explicto: 0 desejo é sempre desejo do outro (Outro!) ¢ éo sujeito. Nao 6 um conceito psicolégico e sim ontoldgico (vide Baittio, 1996), Em contrapartida, mesmo que se insista em que set psicanalista no é uma profissio, as possibilidades que se gestam de conceber esse lugar consubstanciado aquém ou além de uma pessoa estiio por se eserever. Sao ainda suficientemente incipientes para, por enquanto, nos obrigarem a restringit a reflexio a0 mbito de alguém que encarne a fungi. Este, embora se ofereea enquanto analista,¢ vigilante & escuta, no € sempre que esta nessa funcio com quem o procura. Outras coisas podem acontecer ¢ devem set pensadas, nenhuma incompativel com 0 ato analitico, sso jé foi dito, mas é preciso acrescentar que bom que assim seja. Muitas vezes € nesses atos, mais fora da padronizagio de enquadres, que s0 mesmo tempo se exefce, em ato, uma escuta, As vezes os relatos de casos mais criativos soam anedticos ow obscenos porque nio se tem Co contexto da intervengiio analitica, B por isso que garantias de formagio analitica sao praticamente impossiveis. Freqtientemente vai ser preciso agir 4 revelia do que didaticamente se aprendeu, sob pena de nao ter aprendido nada. Hi uma relagio entre esta capacidade de ser incapaz de aplicar 0 conhecimento sabido e a condugio bem sucedida de uma cura. O final de anilise ideal implicaria um desencantamento com o saber do analista, que proveitosamente deve ser suplantado pela coragem de o perceber um guia que leva o sujeito a precipitar-se no sem garantias de um advir insubstantivo e s6 porisso eticamente livre, ainda que objetivamente parcialmente determinado. Mas na pratica o que acontece é que esse desencantamento no mais das vezes sucede em fungio da indisponibilidade da pessoa em fancio de analista para acompanhar o paciente a esse lugar de desconhecimento de garantias. Desta maneira, 0 pulsional do sujeito raramente chega a desfazer-se do lastro de imaginaria substincia para “livremente” brilhat nas trevas, sem gatantias (ou melhor, coma sinica garantie risco do desejo). ‘Desta maneira o analisante, que em verdade vive a experiéncia de nfo saber, esti dramaticamente condenado a petmanecer crédulo no saber suposto 0 outro. Como a anilise mal sucedeu, acaba permanecendo em transferéncia Bol. form. psicanal,, Sio Paulo, V 9, n. 2, p.7-22, jul/dez. 2000 Clinica © Sociedade: © que serd um Psiconalista? 19

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