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Proprietários de nós mesmos?

A lógica libertária prega que só seremos realmente livres a partir do momento


em que possamos auferir todos os benefícios financeiros provenientes da
atividade que exercemos, sem que sejamos obrigados a ceder uma parte
daquilo que ganhamos para o Estado, tendo em vista que este nada produz e
em nada auxilia na produção de riqueza.
Não aceita a ideia de que temos a obrigação de contribuir para a igualdade
social e que isso somente seria aceitável caso o indivíduo fizesse por livre e
espontânea vontade. Ou seja, a cobrança de impostos para que se financie os
serviços públicos, os quais os principais beneficiados seriam os que não têm
condições de pagar, seria uma extorsão do Estado tendo em vista as sanções
impostas aos que não pagam os impostos.
Os libertários alegam que pagar impostos é o equivalente a ser submetido à
trabalhos forçados, pois se você adquire dinheiro através do trabalho e o
Estado fica com parte desse dinheiro, logo você trabalhou gratuitamente
durante um período para que o Estado auferisse a quantia que foi produzida
pelo seu trabalho sem que você fosse remunerado pelo mesmo.
Essa teoria sofre algumas objeções de pessoas que se opõem à lógica
libertária, uma delas diz que a taxação não é tão ruim como o trabalho forçado
pois você pode trabalhar menos e pagar menos impostos, o que não seria
possível se estivesse submetido à trabalhos forçados.
Entretanto há argumentos que supostamente refutam essa alegação, um deles
é de que o Estado não tem o direito de obrigar o indivíduo a fazer essa
escolha, de que caso não concorde com a quantidade de impostos pagas é só
trabalhar menos e pagar menos impostos, pois ainda sim o indivíduo fica refém
das cobranças do Estado e teria que se privar de atividades de lazer pois
trabalhando mesmo, ganharia menos e consequentemente não teria condições
de custear essas atividades.
Outro argumento é de que o indivíduo não é taxado sem o seu consentimento,
pois é um cidadão inserido em uma democracia e que tem total liberdade para
interferir na legislação tributária de seu país através dos representantes que
elege e por isso subentende-se que ele deva concordar com as práticas atuais
ou eleger representantes que mudem a lei que estabelece a cobrança de
impostos.
Os libertários rechaçam esse argumento, pois segundo esta lógica deveríamos
aceitar qualquer lei, por mais injusta que seja. Viver numa democracia não
implica em aceitar as leis injustas, pois se for aceitável leis que tirem sua
liberdade confiscando bens que foram produzidos por você, seria também
aceitável leis que restrinjam sua liberdade de expressão ou liberdade religiosa,
tendo em vista que pelo simples fato de estar inserido em uma sociedade
democrática, você estaria consentindo com todas as regras que lhes são
impostas.
Entretanto, existem argumentos mais difíceis de serem rebatidos sob a ótica
libertária, um deles é de que alguns indivíduos produzem riqueza através por
pura sorte, talentos naturais cujos lucros gerados não são resultado única e
exclusivamente de seus esforços. Logo, ele não deveria ter a total posse da
riqueza gerada por esses talentos naturais, pois a existência ou não desses
talentos não dependeu do indivíduo e sim do acaso.
Os libertários questionam essa alegação através de uma reflexão. Ora, se o
indivíduo não pode ter direitos sobre os frutos do seu talento, ainda que este
tenha sido obra da sorte ou do acaso, logo não é o dono de seu talento. Então
quem o seria? Se o indivíduo não é dono dos próprios talentos, não é dono de
si mesmo. Se não é dono de si mesmo, quem o é? O Estado? Não se pode
enxergar os cidadãos como propriedade de um determinado Estado, pois ainda
que o indivíduo não tenha produzido ou criado seu talento, ainda que seu
talento não tenha sido obra de seu próprio esforço, muito menos teria sido obra
do Estado.

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