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ACIDENTE POR MATERIAL BIOLÓGICO

Antônio Magela Tavares

“Eu mesmo solicitei às autoridades administrativas que baixassem uma lei


proibindo cada pessoa empregada na unidade de internação hospitalar de ter
contato com coisas que pudessem contaminar suas mãos”.
Ignaz Phillip Semmelweis (1861)

INTRODUÇÃO

Os acidentes em que profissionais de saúde se expõem a sangue e outros fluidos


biológicos devem ser considerados emergência médica, havendo, portanto,
necessidade de se priorizar o atendimento no mais curto espaço de tempo possível.

As condutas específicas a serem tomadas visam evitar a disseminação do VIH, VHB


e VHC no ambiente de trabalho.

O mais importante é ressaltar sempre as medidas de precaução padrão que


deverão ser adotadas quando houver a possibilidade de contato com sangue,
secreções, excreções, fluidos corporais, pele não-íntegra e mucosas.

Lavagem das mãos (sempre que estiverem sujas) antes e após:

»Contato direto com o paciente;


»Efetuar procedimentos terapêuticos e diagnósticos, mesmo ao usar luvas;
»Entre procedimentos no mesmo paciente;
»Realizar trabalhos hospitalares, atos ou funções fisiológicas;
»Manipular materiais e equipamentos;
»Contato direto acidental com sangue e fluidos;
»Término da jornada de trabalho;
»Retirada de luvas.

Uso de luvas:

»Usar as não-estéreis;
»Contato com sangue, mucosa e fluidos;
»Manuseio de superfícies sujas;
»Punção venosa e outros acessos vasculares;
»Trocá-las após contato com cada paciente;
»Retirar para entrar em contato com telefones ou maçanetas.

Uso de avental:

»Utilizar avental limpo, não-estéril;


»Proteção da roupa;
»Proteção contra respingos de sangue e fluidos;
»Retirar o mais rápido possível.

Uso de máscaras e óculos:

»Proteção de mucosas;
»Possibilidade de respingos de sangue, secreções, fluidos corpóreos e excreções.

Outras medidas:
»Não re-encapar as agulhas;
»Os materiais pérfuro-cortantes devem ser desprezados em recipientes próprios;
»Não desconectar as agulhas das seringas;
»Não utilizar agulhas para fixar papéis;
»Ao utilizar material pérfuro-cortante, garantir a imobilização do paciente;
»Jamais utilizar os próprios dedos como anteparo;
»Utilizar sempre material de apoio;
»Não utilizar as lâminas de bisturi desmontadas;
»Vacinação contra hepatite B (três doses) em todos profissionais de saúde.

O risco de infecção pelo VIH foi avaliado em situações de exposição ao sangue.


Quanto aos outros fluidos biológicos, o risco existe, ainda que não tenha sido bem
definido. O risco estimado de infecção pelo VIH é de 0,3% para exposição
percutânea e 0,09% para exposição mucocutânea.

O uso do AZT como profilaxia, imediatamente após o acidente, reduz em até 81% o
risco de soroconversão pós-exposição. O uso combinado dos demais anti-retrovirais
(ARV) visa ampliar a proteção para o profissional acidentado.

A probabilidade de infecção pós-exposição ao vírus da hepatite B (com paciente-


fonte HB e Ag positivo) pode atingir até 40%. Para o vírus da hepatite C o risco
varia entre 1 e 10%.

É imprescindível a imunização contra hepatite B para todos os profissionais de


saúde. Após exposição, deve ser administrada em profissionais não-imunizados,
associada ou não à gamaglobulina hiper-imune.

Para o vírus da hepatite C, não há, até o momento, intervenção específica capaz de
prevenir a infecção pós-exposição.

Nosso objetivo é, portanto, descrever de forma prática os procedimentos a serem


observados e cumpridos rigorosamente após exposição ocupacional ao material
biológico potencialmente contaminado.

CARACTERIZAÇÃO DO ACIDENTE

• Acidente leve: contato com secreções, urina ou sangue em pele íntegra;


• Acidente moderado: contato com secreções ou urina em mucosas; sem
sangue visível;
• Acidente grave: contato de líquido orgânico contendo sangue visível com
mucosas ou exposição percutânea com material pérfuro-cortante.

PROFILAXIA

Logo após o acidente, deverá se proceder à descontaminação do sítio exposto,


limpando a ferida com água e sabão ou irrigando as membranas mucosas com água
limpa.

A seguir, a CCIH ou a enfermeira de plantão deve ser comunicada imediatamente,


independente do horário do acidente, para notificação do caso (em formulário
especial) e definição da profilaxia medicamentosa, juntamente com o médico
atendente.
• Acidente leve: solicitar sorologias de VIH e hepatites virais do profissional
acidentado e sorologia de VIH do paciente-fonte. Não prescrever ARV.
Encaminhar à Coordenadoria de DST/AIDS para acompanhamento.
• Acidente moderado: comunicar a enfermeira para proceder à notificação
do caso. Solicitar sorologias de VIH e hepatites virais do acidentado e
sorologia de HIV do paciente-fonte. Prescrever: AZT (zidovudina) 100mg
02cps. VO 12/12h e Epivir® (lamivudina) 150mg 01cp. VO 12/12h.
• Acidente grave: seguir as mesmas recomendações do acidente moderado
e prescrever: AZT (zidovudina) 100mg 02cps. VO 12/12h; Epivir®
(lamivudina) 150mg 01cp. VO 12/12h e Viracept® (nelfinavir) 250mg
03cps. VO 8/8h.

* Na falta do nelfinavir, pode-se prescrever o Crixivan® (indinavir) 400mg 2 cps.


Vo. 8/8h.

Os ARV só deverão ser indicados se o acidente tiver ocorrido em espaço de tempo


inferior a três horas; profissionais acidentados que apresentarem intolerância
gástrica aos esquemas citados anteriormente poderão fazer uso de Biovir®
(zidovudina + lamivudina) 01cp. VO 12/12h; profissionais gestantes acidentadas
devem utilizar apenas o AZT; profissionais acidentadas em aleitamento materno
devem ser orientadas a suspender o aleitamento durante o uso dos ARV; a
medicação deverá ser prescrita, em caráter de emergência, para os primeiros sete
dias, ficando os demais dias sob responsabilidade da Coordenação de DST/AIDS; o
profissional deve ser devidamente orientado quanto aos efeitos colaterais dos ARV.
(Encaminhar ao Ambulatório de Acidentes Ocupacionais).

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