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Manaus, 2007
APRESENTAÇÃO
Este livro tem como principal objetivo oferecer aos professores de História do Ensino Médio e
àqueles que querem algo mais que os manuais de produção apressada, um esboço geral do
processo histórico da sociedade, da economia e da política administrativa do Amazonas e, em
parte, da Amazônia como um todo. Longe de pretender esgotar qualquer assunto nele abordado,
no entanto, procura contribuir para reflexões temáticas ou globais do referido processo histórico.
A forma intelectual e material dessa contribuição vem da minha experiência de mais de
duas décadas no exercício do magistério, como professor dos antigos 1.º e 2.º graus, nas redes
pública e privada, e do ensino superior na Universidade Federal do Amazonas. Ao longo desse
tempo, além do contato íntimo com as fontes primárias manuscritas ou já publicadas, procurei,
na medida do possível, reunir tudo o que foi produzido nas diferentes áreas de conhecimentos
sobre a Amazônia, seja na arqueologia, na antropologia, na etno-história, na demografia, na
geografia, na sociologia, na economia e, evidentemente, na história, com o objetivo de formar
um acervo bibliografia e documental que pudesse ajudar na elaboração desse material didático.
Portanto, este livro é o resultado do esforço e da dedicação que dispenso à História do
Amazonas e da Amazônia. O conhecimento que ora reúno, encontra-se disperso em algumas
centenas de obras publicadas ou não, que foram produzidas durante os últimos quatro séculos,
as quais compulsei, analisei, interpretei, e muitas vezes reinterpretei argumentos que já se
encontravam cristalizados.
Os primeiros bosquejos deste livro foram uma série de apostilas, que elaborei para ser
utilizada como material didático na disciplina Economia Política do Amazonas, ministrada na
rede pública de ensino no ano letivo de 2000. Com a extinção da referida disciplina, essas
apostilas sofreram alterações, tanto nas formas, quanto nos conteúdos, com a finalidade de
transformá-las numa apostila de História do Amazonas, dedicada ao 3.a série do Ensino Médio.
Agora, portadora de mais alterações, ganha o formato de livro propriamente dito, que foi
publicado, em 2002 com o título História e Geografia do Amazonas, sendo que o conteúdo de
geografia foi de responsabilidade do casal de professores Ricardo José e Amélia Regina Batista
Nogueira.
Depois de passado quatro anos, movido pelas críticas e sugestões dos colegas professores
do Ensino Médio, achei por bem lhes oferecer um texto revisto e ampliado, agora com um título
mais apropriado de História Geral da Amazônia.
O desafio de produzi-lo deve-se ao fato de que ao longo dos anos, como professor e como
pai de jovens estudantes, ter desenvolvido a consciência da necessidade de uma publicação
dessa natureza, e, sobretudo, a partir dos apelos e reclamos dos colegas professores que militam
nos ensinos fundamentais, médios e nos vestibulares com a disciplina História do Amazonas,
sob a alegação de carência endêmica de material didático sistematizado e de qualidade.
* * *
O livro está estruturado em de duas partes, na primeira, faço uma abordagem histórica da
Amazônia portuguesa, enquanto que na segunda parte, me concentro mais no Amazonas
brasileiro. Essas duas partes contém cinco unidades compostas por dezesseis capítulos. No final
de cada capítulo há um texto de especialista ou um documento histórico para ser utilizado como
material de leitura complementar. Há também, em cada final de capítulo, indicações para
leitura, onde relacionei autores e suas respectivas obras, as quais estão estreitamente vinculadas
ao conteúdo abordado no respectivo capítulo. No final do livro, no entanto, apresentamos uma
bibliografia geral, na qual inclui, livros, teses de doutorados e dissertações mestrados, ainda
inéditas, e artigos publicados em revistas especializadas nacionais e em língua estrangeira etc., e
fontes primárias publicadas que foram também utilizadas como referência na feitura do livro.
Como sugestão de atividades relacionei várias questões discursivas com base nos respectivos
capítulos e também sugestões para pesquisa bibliográfica ou documental.
* * *
Sou muito grato aos professores Auxiliomar Silva Ugarte e Daniele Brandão Clementino,
por terem participado da elaboração do texto original da então Unidade III desta publicação.
Oportunamente, agradeço ao professor James Roberto Silva pela reprodução das imagens para
presente publicação.
Agradeço também, aos arqueólogos Eduardo Góes Neves e Fernando Walter Silva pelo
exercício da crítica ao capítulo inicial do livro, na sua versão original. De igual modo, ao
antropólogo Fábio Vaz Ribeiro de Almeida pelas generosas sugestões, e aos professores da
disciplina Economia Política do Amazonas e História do Amazonas que fizeram críticas ao
conteúdo das apostilas.
Agradecimento especial à historiadora Patrícia Maria de Melo Sampaio que leu os
originais, fez críticas e deu sugestões, as quais me ajudaram a diminuir as imperfeições.
Finalmente, peço aos leitores em geral, sobretudo, aos meus colegas professores que
venham ter acesso a este trabalho – a exemplo dos agradecimentos acima – que me enviem
sugestões, críticas e correções, a fim de que possamos juntos aprimorá-lo, tornando, desse
modo, a dinâmica do processo ensino-aprendizagem da história da região mais atraente, mais
prazerosa e comprometida com o exercício da cidadania, tão cara aos jovens de hoje.
SUMÁRIO
UNIDADE I - DO PALEOINDÍGENA À CONQUISTA DA AMAZÔNIA
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 14
Capítulo 15
TEMPOS DE CRISE
Plano de Defesa da Borracha de 1912
Face Social e Política da Crise
Terras, Como Moeda de Troca
Leitura Complementar N.o 15: “A Rebelião de 1924, em Manaus”
Indicações para Leitura
Anexo 3: Governantes do Estado do Amazonas (1889 a ... )
Capítulo 16
BIBLIOGRAFIA GERAL
Quadros
Capítulo 1
Imagem 1.
AP = Antes do Presente: é uma expressão usada para datação de períodos arqueológicos, o ano
1950 é a data inicial do Presente. Doravante utilizaremos a expressão mais popular a.C. = antes
de Cristo.
Fase Paleoindígena
Em geral, a população da cultura paleoindígena era pouco numerosa, dispersas,
nômades e organizadas socialmente em bandos frouxos. Os bandos paleoindígenas da
América do Sul, apesar da sua contemporaneidade com os da América do Norte,
apresentavam características diferenciadas no padrão de subsistência.
As populações paleoindígenas norte-americanas davam ênfase à caça de
megafauna (mastodonte, bisontes, cervídeos e camelídeos; cavalos e elefantes antigos;
preguiças e tatus gigantes; antas, tigre-dente-de-sabre etc.), enquanto que às sul-
americanas, davam maior importância à coleta de moluscos, de plantas e a caça de
animais de pequeno porte. A caça de uma fauna de grandes animais entre os
paleoindígenas da América do Sul constituía-se em uma rara freqüência.
Desse modo, acredita-se que a ocupação paleoindígena da Amazônia, que teria
acontecido por volta de 9200 a.C., era baseada na coleta de frutas, na caça e na pesca;
que se desenvolveu para uma cultura de pescadores e coletores de moluscos. Isso pode
ser comprovado através dos restos alimentares que foram encontrados na caverna da
Pedra Pintada, em Monte Alegre, no Estado do Pará.
Apesar das pontas de lanças encontradas nesse sítio arqueológico, que sugerem
os seus usos em caça de grandes animais, especialmente de grandes peixes, não indicam
uma especialização na caça desse tipo, mas sim, na caça e coleta generalizada.
Imagem 2.
Fase Arcaica
OS ÍNDIOS ARCAICOS – “Em algum momento após cerca de 3000 a.C., surgiu, ao longo das
várzeas dos rios em diversas partes da Grande Amazônia, um modo de vida que parece ter sido
bastante similar àqueles dos atuais índios amazônicos”
ROOSEVELT, Anna C.. “Arqueologia Amazônica”. In: CUNHA, Manuela C. da (Org.). 1992,
p.65.
OLIVEIRA, Adélia Engrácia de. “Ocupação Humana” In: SALATI, Enéas et alii, 1983, p. 157.
A Fase Pré-história Tardia (1000 a.C. a 1000 d.C.) pode ser caracterizada pelo
surgimento, ao longo dos principais braços e deltas dos rios, de sociedades indígenas
com grau de complexidade bastante significativo na sua economia, na demografia e nas
suas organizações políticas e sociais. Tinham domínios culturais tão grandes ou até
mesmo maiores que os de muitos Estados pré-industriais do Velho Mundo, tais como as
civilizações minóica e micênica e os Estados africanos como Ashanti e Benim, ou as do
vale do Indo, na Índia. Essas sociedades indígenas são denominadas pelos antropólogos
de cacicados complexos.
Dados arqueológicos e etno-históricos revelam indícios da presença dessas
sociedades indígenas complexas ao longo das várzeas dos rios Amazonas e Orinoco;
nos contrafortes orientais dos Andes; e na região costeira do Caribe.
Especificamente na Amazônia, por volta de 1000 a.C., desenvolvem-se as culturas
dos construtores de tesos (mounds), as quais foram sucedidas por sociedades complexas
e hierarquizadas, associadas a uma indústria cerâmica muito refinada. Tais tipos de
sociedades seriam exemplificados pela Marajoara, na ilha do Marajó, e pela Tapajônica,
na região de Santarém.
Entretanto, existe discordância entre os pesquisadores acerca da existência de
cacicados complexos na Amazônia. Por exemplo, a arqueóloga Denise Maria C. Gomes,
afirma que: “devido ao estágio da investigação científica, não existem evidências
conclusivas quanto à ocorrência dos cacicados na Amazônia”.
OLIVEIRA, Adélia Engrácia de. “Ocupação Humana” In: SALATI, Enéas et alii, 1983, p. 159.
Dos Andes...
Imagem 3.
Da Amazônia...
FAUSTO, Carlos. Os Índios Antes do Brasil. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2000, p. 36.
Imagem 4.
Imagem 5.
Vasilha para Água - Índios Baniwa. Foto de Juan Pratiginestós (Coleção Johann Natterer /
SCA-MMA).
ALDEIA GIGANTE
Pesquisas encontram, na Amazônia, sinais de cidades indígenas com até 10.000
moradores.
“(...) pesquisadores da Universidade de São Paulo, USP, descobriram indícios de enormes
aldeias e excelente cerâmica nos arredores do rio Negro, acerca de 30 quilômetros de Manaus.
Até agora só foram escavados quatro dos 21 pontos localizados na região de Iranduba – e o que
se encontrou está virando do avesso o que se pensava dos índios da Amazônia. O maior sítio,
chamado Açutuba e que foi explorado em 1997, mostra sinais de uma aldeia de 3 quilômetros
de extensão, espremida entre as margens do rio Negro e a floresta. O arqueólogo Eduardo
Neves, do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP, responsável pela escavação, estima que
tenham vivido ali de 5.000 a 10.000 índios. Quando os europeus chegaram, o lugar já era
habitado havia mais de 1.000 anos. O cenário desenhado pelos arqueólogos impressiona. A
aldeia era cercada por valetas com 300 metros de extensão e 3 de profundidade, onde eram
colocadas estacas afiadas. Seria uma cidade de porte similar ao das do império inca, só que
inteiramente feita de terra. Na extremidade do que era a povoação, junto da floresta, localizou-
se uma praça retangular de 300 metros de comprimento cercada por aterros de 2 metros de
altura. Acredita-se que ali ficasse o cemitério da aldeia, provavelmente reservado à nobreza,
local de reuniões e até de sacrifícios.
Encontrou-se ainda cerâmica ornamentada, semelhante à vista na Ilha de Marajó. “É
impossível juntar tanta gente num único lugar, realizando obras como essas, sem que haja uma
estrutura social hierarquizada”, diz Neves. Há apenas dois meses, ele concluiu a escavação de
outro sítio numa fazenda chamada Hata Hara. Descobriu ossadas sepultadas em urnas funerárias
com cerca de 700 anos, um achado raríssimo, pequenas estátuas de cerâmicas e os restos de uma
roda de fiar.
Essas descobertas estão mudando a forma como os especialistas descrevem a civilização
que vivia na Amazônia antes do contato com os europeus. Até a primeira metade dos anos 90,
acreditava-se que se tratasse de uma região culturalmente primitiva e marginal do continente
americano. Que abrigasse um número pequeno de indígenas que viviam em condições
semelhantes às dos que estão lá hoje. Isso começou a mudar em 1996, quando a arqueóloga
americana Anna Roosevelt encontrou objetos de cerâmica datados de 8.000 anos no interior do
Pará. A hipótese mais impressionante é a de que os povos amazônicos foram os primeiros a
dominar essa tecnologia, 7.000 anos antes que os incas formassem seu império. Os achados da
arqueóloga americana empurraram os pesquisadores de volta para os livros dos primeiros
exploradores da região. A grande questão em aberto é como toda essa gente sumiu de uma hora
para outra. É possível que tenham abandonado as cidades para fugir dos europeus ou morrido
em epidemia. Mas isso são só palpites”.
FAUSTO, Carlos (2000). Os Índios Antes do Brasil. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.
NEVES, Eduardo G. (1995). “Os Índios Antes de Cabral: arqueologia e história indígena no
Brasil”. In: SILVA, Aracy L. & GRUPIONI, Luís Donizete (Orgs.). A Temática Indígena na
Escola. Brasília: MEC / MARI / UNESCO.
________ (1999). “Povoamento das Américas: panorama brasileiro”. In: TENÓRIO, Maria
Cristina (Org.). Pré-história da Terra Brasilis. Rio de Janeiro: Editora UFRJ.
SCHMITZ, Pedro Ignácio (1999). “A questão do paleoíndio” In: TENÓRIO, Maria Cristina
(Org.). Pré-história da Terra Brasilis. Rio de Janeiro: Editora UFRJ.
UNIDADE I
Capítulo 2
Capítulo 2
Província de Aparia
OS APARIAS ERAM OS OMÁGUAS – “Esse senhorio Aparia quinhentista não era outro
senão a tribos dos Omágua ou Cambeba, que ‘se governavam por principais nas aldeias e no
meio dessa província, que é dilatada, há um principal, ou rei deles’”.
Nessa região também foi identificada a tribo dos Aricanas, índios que vestiam
roupas de algodão pintadas a pincel, e que as suas mulheres costumam andar calçadas
com botinhas e usavam roupa de meias mangas habilmente confeccionadas com
algodão e empastada com piche negro.
Os índios Arimocoas, se encontravam no Solimões, num território entre as fozes
dos rios Iça e Tonantins. Eram índios que, “embora com muito asseio”, andavam nus.
* * *
Depois de meados do século XVI, parece ter havido mudanças na geografia
indígena do eixo Amazonas-Solimões, tanto pela presença dos conquistadores brancos
no litoral leste e norte da América portuguesa, quanto pela própria dinâmica das
populações indígenas, por exemplo: o território que até então era habitado pelas tribos
de Aparia e Aricana, no século XVII passou a ser ocupado pelos Omáguas.
A Província dos Omáguas foi considerada pelo frei Cristóbal de Acuña como “a
maior e mais dilatada província” de todas que foram encontradas no grande rio.
Povoação – Em ambas margens e nas ilhas, Pedro Teixeira, em 1639, teria contado
cerca de quatrocentas aldeias. São povoações muito grandes, e as casas são fortificadas
com estacas. No entanto, no final desse século o padre Samuel Fritz nomeou, apenas
trinta e oito aldeias e mapeou vinte duas delas somente nas ilhas; outras dezenas ainda
deviriam existir nas margens do rio. Acredita-se que essa drástica diminuição no
número de aldeias tenha sido uma conseqüência de mais ou menos quarenta anos de
epidemias que assolou o território Omágua.
Poder Político – As aldeias eram chefiadas por chefes locais, enquanto que a
chefia da Província estava nas mãos de uma espécie de rei, um chefe divino, como
afirma Maurício de Heriarte: “a que todos obedecem com sujeição, e lhe chamam de
Tururucari, que quer dizer o seu Deus; e ele por tal se têm”.
Costume – Os Omáguas chamaram a atenção dos primeiros exploradores e
missionários por duas particularidades suas: a deformação artificial do crânio, detalhe
que levou os colonizadores a chamá-los de Cambeba, que na língua geral quer dizer
“cabeça chata” (canga-peba); e o modo como se vestiam, pois usavam roupas de pano
de algodão em diversas cores.
Imagem 6.
Conforme Heriarte, os Omáguas eram valentes e muito inclinados à guerra, por isso
temidos pelos demais. Intitulavam-se senhores daquele rio, e senhoreavam outras
províncias. Tinham muitos escravos que eram utilizados como mão-de-obra nas
lavouras nas margens do rio, nas várzeas: “mandam-nos com grande império, e eles
conhecem o seu cativeiro, obedecem com grande humildade”.
* * *
O indígena Omágua nos tempos coloniais passou definitivamente ser conhecido
pelo etnônimo Cambeba. Benedito do E. S. Pena Maciel, diz que os Cambebas foram
“descritos pelos viajantes e cientistas dos séculos XVI, XVII e XVIII – com certa
“admiração” e “espanto” – não só pela cultura, mas, também, por sua densidade
populacional e organização sócio-espacial, os Cambebas integram a literatura regional
com gente de mais razão e melhor governo que há em todo o rio (...) ou como: os mais
civilizados e razoáveis, (porque) mesmo sua cor é mais alva e figura elegante (...)”.
Nesse ponto, Maciel faz uso da “admiração” e do “espanto” de Cristóbal de Acuña e do
naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira, que os registraram nos séculos XVII e XVIII,
respectivamente.
Imagem 7.
Índio Cambeba com suas Armas e Vestido. Reproduzido de Alexandre Rodrigues Ferreira,
obra citada, 1971 (Antropologia, prancha 118).
Província de Machifaro
CARVAJAL, Frei Gaspar de. Relatório do Novo Descobrimento... . São Paulo / Brasília:
Scritta / Embaixada da Espanha, 1992, p. 57.
* * *
No século seguinte, os habitantes da Província Machifaro passaram a ser conhecido
por Curuzirari, depois por Carapuna ou ainda por Aisuari. A mudança de etnônimo
deve-se aos registros dos cronistas do século XVII: Cristóbal de Acuña, em 1639;
Maurício de Heriarte, em 1662; Laureano de la Cruz, em 1651 e Samuel Fritz, entre
1686 e 1723, respectivamente. O etnônimo Aisuari foi que se fixou historicamente.
VARNHAGEN, Francisco Adolfo de. História Geral do Brasil. São Paulo: Edusp / Belo
Horizonte: Itatiaia, 1981, p.170.
Província de Aisuari
* * *
No final do século XVII, os Aisuaris contavam, entre outras, com cinco aldeias
principais; uma delas seria a chamada Aldeia do Ouro. Porém, no começo do século
seguinte, parte dos Aisuaris foi atraída pelos jesuítas espanhóis, junto com os Omáguas
e os Yorimans para as missões castelhanas. Os remanescentes Aisuaris integraram as
aldeias que os carmelitas portugueses herdaram dos jesuítas espanhóis.
“Havia nesse povoado, uma casa de diversões, dentro da qual encontramos louças das
mais variadas: havia vasos e cântaros enormes, de mais de vinte e cinco arrobas, e
outras vasilhas pequenas como pratos, tigelas e castiçais, de uma louça da melhor que já
se viu no mundo, mesmo a de Málaga não se iguala a ela, porque é toda vitrificada e
esmaltada com todas as cores, tão vivas que espantavam, apresentando, além disso,
desenhos e figuras tão compassadas que naturalmente eles trabalhavam e desenhavam
como os romanos” (CARVAJAL, 1992, p. 65).
Outros artefatos que chamaram a atenção dos viajantes foram os grandes ídolos
feitos de fibras vegetais trançadas: ostentavam braceletes, orelhas furadas de grande
tamanho e eram guardados numa cabana de fins rituais ou festivos, que Carvajal
chamou de Casa dos Prazeres.
Comércio – Segundo Carvajal, esses índios embora ribeirinhos e bons navegantes,
mantinham intensas relações com tribos da terra firme; das “ruas” principais das aldeias
saíam caminhos bons e largos que entravam pela terra adentro, e quanto mais se
afastavam do rio eram melhores e maiores.
* * *
Antonio Porro afirma que, embora falte, nas crônicas quinhentistas, elementos que
permitam relacionar a Província de Oníguayal (ou Omágua) com as populações
historicamente conhecidas, a localização geográfica permite admitir que se tratava dos
Yoriman, Juriman, Solimões ou Yurimágua.
No século seguinte, os habitantes da Província de Oníguayal (ou Omágua)
passaram a ser conhecido por Yoriman, Juriman, Solimões ou Yurimágua. A mudança
de etnônimo deve-se aos registros dos cronistas do século XVII: Cristóbal de Acuña, em
1639; Laureano de la Cruz, em 1651; Maurício de Heriarte, em 1662; Samuel Fritz,
entre 1686 e 1723, respectivamente. O etnônimo Solimões foi que se fixou
historicamente.
“Ainda no final do século XVII, com suas cerâmicas, cuias pintadas e contas de
caracóis, participavam do circuito comercial que lhes fazia chegar, através dos rios
Japurá, Negro e Branco, armar e ferramentas que os holandeses da Guiana forneciam
em troca de escravos” (PORRO, 1995, p. 54).
* * *
Os Solimões, segundo o padre Acuña, eram tidos como a mais conhecida e belicosa
nação do rio Amazonas que atemorizava a esquadra portuguesa em sua primeira
entrada. Porém, na segunda metade do século XVII tiveram contato com os sertanistas
portugueses e, conseqüentemente, com a primeira tropa de resgate; durante esse
episódio os Solimões se retiraram para o centro da mata, malogrando dessa forma, a
intenção lusitana.
Antonio Porro afirma que no final do século XVII, esses índios estavam 300
quilômetros rio acima, convivendo com os Aisuaris na periferia do território Omágua e
também espalhados pela terra firme da margem direita do rio Solimões.
SOLIMÕES, O “RIO DOS VENENOS” – “Solimões, significando para alguns autores rio
dos venenos, nada mais é que uma curiosidade lingüística: solimão, do latim sublimatum, era
nome popular do sublimato corrosivo (bicloreto de mercúrio), ou ‘qualquer poção venenosa ou
letífera’ que os eruditos do século XVIII associaram às flechas envenenadas de algumas tribos
do rio Amazonas”.
Províncias de Paguana
“Pela manhã, avistamos uma aldeia grande e populosa, com muitos bairros, em cada um
deles, havia um porto no rio. Em cada porto havia uma multidão de índios. Esta aldeia
se estendia por mais de duas léguas e meia” (CARVAJAL, 1992, p. 67 e 69).
Da “aldeia dos Bobos”, até “aldeia dos Viciosos”, a Expedição de Orellana navegou
apenas pela margem direita do rio, e sempre por um grande povoamento, e houve um
dia em passou por mais de vinte aldeias.
RIQUEZA NA ALDEIA DOS BOBOS – “O chefe desta terra tem muitas ovelhas [lhamas],
como as do Peru, e é muito rico em prata, como os índios diziam. A terra é muito alegre, bonita
e farta de comidas e frutas, tais como pinhas e pêras, e que na língua da Nova Espanha, se
chamam abacates, ameixas, guanas e muitas outra frutas deliciosas”.
CARVAJAL, Frei Gaspar de. Relatório do Novo Descobrimento... . São Paulo / Brasília: Scritta
/ Embaixada da Espanha, 1992, p. 67).
Antonio Porro, avalia que Carvajal quando chamou o povoado de “dos bobos”, foi
uma cínica apreciação da docilidade dos indígenas; enquanto que o segundo, ao
contrário, foi chamado de “dos viciosos”, pela aparência insidiosa e aguerrida daquela
população nativa.
***
Para esse trecho do rio Amazonas, as informações do século XVI são muito vagas.
Porém, sabe-se que entre os rios Negro e Urubu “havia uma série de aldeias fortificadas
com paliçadas de toras grossas e uma única entrada”. Mais adiante, sempre na margem
esquerda foi visto na praça de um povoado um altar de três metros de diâmetro feito de
uma só prancha de madeira esculpida.
Havia indícios de ofertas de bebidas fermentadas a uma divindade solar e, de
acordo com frei Carvajal, “muitos trajes feitos de plumas de diversas cores aplicadas e
tecidas sobre algodão, muitos gentis, os quais vestem os índios para celebrar suas
festas”.
Após a boca do rio Madeira, uma província foi denominada de Picotas (“dos
Pelourinhos”), pelo fato de em seus povoados haver muitas estacas ostentando cabeça
de mortos, as cabeças-troféu.
Em meados do século XVII, a margem esquerda do Amazonas, desde a barra do rio
Negro até o Urubu, era habitada pelos índios Tarumãs e outros grupos de língua
Aruaque. Quanto à ilha de Tupinambarana, estava toda habitada pelos Tupinambás
oriundos da costa leste do Brasil devido à presença dos portugueses.
A ilha de Tupinambarana estava “toda povoada pelos valentes Tupinambás, gentio que,
após a conquista do Brasil, em terra de Pernambuco, há anos, saíram derrotados,
fugindo do rigor com que os portugueses os sujeitavam. Saíram em tão grande número,
que despovoaram ao mesmo tempo oitenta e quatro aldeias onde viviam” (Cristóbal de
Acuña, em 1639. In: ACUÑA, Cristóbal. 1994, p. 148).
O trecho do rio Amazonas, que vai da boca do rio Nhamundá até o baixo curso
do rio Tapajós, foi concebida pelo frei Gaspar de Carvajal, no século XVI, como uma
única grande província, e a denominou de São João, pelo fato de tê-la atingida no dia 24
de junho. De acordo com o relato desse cronista, ambas as margens do rio Amazonas,
nessa província, estavam pontilhadas de aldeias, mas as maiores – que as definiu como
“grandes cidades” – estavam situadas na sua margem direita, recuadas umas duas léguas
para interior. Carvajal, não fornece nenhum nome tribal para essa província, no entanto,
tudo indica que região era habitada pelos índios Tapajós.
Na primeira metade do século XVII, a chamada Província de São João ou
Província dos Tapajós, foi percorrida pelo padre Cristóbal de Acuña, que visitou uma de
suas aldeias, e in loco, constatou a existência de mais de quinhentas famílias (cerca de
2.500 pessoas). Para Acuña, os Tapajós, eram “gente briosa, e temida pelas mais nações
vizinhas, porque usam em suas flechas um veneno que as faz, tirando o sangue, tirar
sem remédio também a vida”.
Maurício de Heriarte, em 1662, registrou que os Tapajós estavam organizados
em povoados de vinte ou trinta casas cada um, Cada povoado era governado por um
Principal, “e a todos governa um Principal grande sobre todos”. Em tempo de guerra
seriam capazes de colocar 60 mil homens em armas.
Ainda, no século XVII, na Província dos Tapajós, mais precisamente na bacia do
Nhamundá-Trombetas, foi registrada a presença dos índios Conduris. Curiosamente, a
chefe das “amazonas” descritas por Carvajal, chamava-se Coñori, nome muito próximo
ao etnônimo Conduri.
Imagem 8.
“Quero que saibam a razão porque os índios lutavam dessa maneira. Acontece que eles
são súditos e tributários das amazonas e sabendo na nossa vinda, pediram socorro a elas
que mandaram de dez a doze, pois nós as vimos. Elas estavam lutando como líderes na
frente dos índios e lutavam tão decididamente que os índios não ousavam nos dar as
costas, pois aqueles que fugissem de nós elas matavam a pauladas. Sendo essa razão por
que os índios se defendiam tanto. Estas mulheres são muito brancas e altas e têm
cabelos trançados e enrolados na cabeça, são musculosas e andam nuas em pelo,
cobrindo sua vergonha com os arcos e as flechas nas mãos lutando como dez índios. Na
verdade uma dessas mulheres meteu um palmo de flecha num dos nossos barcos e a
outra um pouco menos, ficando nosso barco parecendo porco-espinho” (CARVAJAL,
1992, p. 79-81).
No século XVI, a Província dos Negros ia da região de Monte Alegre até o rio
Xingu. Carvajal descreveu os índios dessa província como homens enormes, mais altos
que os maiores de seus companheiros de expedição, eram tosquiados e estavam pintados
de negros e por isso a chamaram de Província dos Negros. Tinham um grande chefe,
chamado de Arripuna (ou Caripuna ?), que era senhor de muitas terras.
Dos limites dessa província até a foz do Amazonas foi registrado pelos cronistas
espanhóis, mais uma grande quantidade de povoações indígenas.
* * *
Aqui neste ponto se pode fazer uma crucial indagação. Em que pese alguns dados
exagerados nos documentos etno-históricas; estes, mais os resultados das recentes
pesquisas arqueológicas dão conta de que as margens da calha do eixo Amazonas-
Solimões-Amazonas, estavam densamente povoadas nos século XVI e XVII, inclusive
sugerem a existência dos controvertidos Cacicados complexos. Portanto, onde estão ou
para onde foram estes povoadores primordiais?
Ainda não se tem uma resposta conclusiva para o fenômeno, no entanto, conforme
já foi dito no primeiro Capitulo deste livro, essas populosas sociedades foram
completamente desarticuladas pela ação da conquista européia, na medida em que se
praticou genocídios e etnocídios ao longo do período em questão. Enquanto que, os
sobreviventes dessa conquista, internaram-se na floresta, onde teriam formando
sociedades de aldeias independentes.
Hoje, não há nada mesmo remotamente parecido, que possa ser encontrado nas
atuais sociedades indígenas da Amazônia, que lembre as sociedades complexas do
período da Amazônia pré-colonial. A não ser alguns de seus vestígios materiais, e o
pouco que foi registrado na memória das crônicas dos séculos XVI e XVII que, aliás,
serviram de base para a confecção deste módico capítulo.
Imagem 9.
Demografia Indígena
O antropólogo Antonio Porro ensina que “saber quantos e quem eram os índios
que estavam no Brasil à chegada dos europeus é importante para uma justa avaliação do
seu passado e do presente”. Esse raciocínio particularmente serve para a Amazônia,
considerando que a sua história colonial não esteve, necessariamente, ligada à do Brasil.
Conforme J. R. Bessa Freire, o lingüista Cestmir Loukotka, em 1968, registrou e
classificou, para a América do Sul, cerca de 1.492 línguas indígenas, das quais 718 eram
faladas pelos habitantes do território que constitui, hoje, a Amazônia brasileira, e
estavam agrupadas em seis troncos lingüísticos: Tupi, Caribe, Aruaque, Pano, Gê e
Tucano, e outras línguas isoladas ou não classificadas (Quadro 2).
Até a década de 1960, a demografia indígena da Amazônia era interpretada por
uma antropologia norte-americana conservadora que desprezava as fontes etno-
históricas, e as evidências arqueológicas existentes, concorrendo para que a população
fosse subestimada e concluindo que o território amazônico seria um grande vazio
demográfico.
Esse quadro começou a mudar, segundo Antonio Porro, a partir da década seguinte,
sob a influência dos estudos de demografia histórica da chamada “escola de Berkeley”
(Califórnia, EUA), quando seus pesquisadores desenvolveram métodos sofisticados de
cálculos para determinar com maior precisão, quantitativos populacionais históricos da
América indígena.
Um desses métodos é “baseado no controle cruzado (cross checking) de notícias de
duas ou mais fontes sobre o mesmo assunto, fossem elas relatos de antigos cronistas ou
informantes indígenas (...); outro, é o da taxa de despovoamento de um determinado
grupo indígena entre dois momentos históricos”, por exemplo: “os Munduruku eram
cerca de 20.000, em 1915, e haviam caído para 1.200 em 1950. Portanto, uma taxa de
despovoamento de 16,6:1”.
Imagem 10.
Munduruku com Coifa emplumada. Reproduzido de Carlos Fausto. In: Manuela Carneiro da
Cunha (Org.), História dos Índios no Brasil. São Paulo: Cia. das Letras / Fapesp, 1992, p. 398-E.
Mawé com Coifa. Reproduzido de Carlos Fausto. In: Manuela Carneiro da Cunha (Org.), obra
citada, 1992, p. 398-E.
“(...) o Capitão interrogou o índio que capturou (...) /. / O Capitão perguntou que mulheres eram
aquelas que tinham lhes ajudado a nos atacar. O índio disse que eram mulheres que residiam a
sete jornadas da costa. O Capitão perguntou se essas mulheres eram casadas; o índio disse que
não. O Capitão perguntou de que modo vivem; o índio respondeu que como disse, viviam no
interior e que ele fora muitas vezes lá e viu seus costumes e moradias, o qual na condição de
vassalo ia levar tributos quando seu chefe mandava. O Capitão perguntou se havia muitas
mulheres; o índio disse que sim e que ele conhecia o nome de setenta aldeias e enumerou-as
diante dos que ali estavam e que em algumas havia estado. O Capitão lhe disse se estas aldeias
eram de palhas, o índio respondeu que não, mas eram de pedra e com portas, e que de uma
aldeia à outra havia estradas cercadas em certos pontos com guardas, porque ninguém podia
passar sem pagar impostos. O Capitão perguntou se as mulheres pariam; o índio respondeu que
sim. O Capitão perguntou, como não sendo casadas nem morando homem com elas podiam
engravidar; o índio disse que essas índias se encontravam ás vezes com índios. Quando tinham
vontade se reuniam para guerra contra um grande chefe que reside e tem sua Terra próxima à
dessas mulheres e os trazem à força para suas Terras ficando com eles o tempo que desejam.
Depois de ficarem grávidas os enviam de volta sem lhes fazer mal. Mais tarde quando chega o
tempo de parir se forem meninos, matam e enviam ao pai e se forem meninas as criam com
muito orgulho e ensinam a arte da guerra. Disse ainda que entre essas mulheres há uma da qual
as outras são súbitas ficando sob sua jurisdição e que ela se chama Conhori. Disse que possuem
grande riqueza em ouro e prata dos quais são constituídos os pertences das chefes principais,
enquanto as mulheres plebéias possuem vasilhas de madeira, a não ser as que vão ao fogo, que
são de barro. Contou que na capital e principal cidade na qual reside a chefe, há cinco casas
muito grandes que são templos dedicados ao sol, chamadas por elas de Coronais. No interior
desses templos existem assoalhos que vão até o meio enquanto os tetos expressos são repletos
de pinturas coloridas havendo também muitos ídolos de ouro e prata com figuras de mulheres
além de objetos de ouro e prata para servir o sol. Elas se vestem de roupa de lã fina, provindas
de ovelhas oriundas do Peru. Essa roupa é formada por mantas apertadas dos peitos para baixo,
com o busto descoberto, tendo ainda um pano na frente preso aos cordões. O cabelo é solto até o
chão e tem coroas de ouro na cabeça da largura de dois dedos. Disse ainda que nessa Terra,
segundo entendemos há camelos que as carregam, disse que há outros animais, mas não
conseguimos entender, eles são do tamanho de cavalos com pelos enormes e patas fendida,
ficam presos e são poucos. Contou que na Terra há duas lagoas de água salgada, da qual retiram
sal. Elas têm uma ordem que não permite índio macho ficar nas suas cidades e nas suas Terras
depois do por do sol. Elas dominam muitas províncias próximas obrigando-as a pagar tributos e
prestar serviços se estão em guerra com outras, em particular a que já descrevemos, da qual
trazem os índios para ter relações. Disse que esses índios são grandes e brancos e suas aldeias
populosas. Tudo o que contou ele viu muitas vezes em suas idas e vindas. O que esse índio nos
contou já tínhamos ouvido falar há seis léguas de Quito, pois todos sabiam da existência dessas
mulheres o os índios desciam 1.400 léguas rio abaixo só para vê-las. Eles falaram também que
os que resolvessem procurar a Terra dessas mulheres saiam moços e voltavam velhos. Contou
que a Terra era fria e que havia pouca lenha, mas muita comida, além de coisas as quais vão se
descobrindo a cada dia, porque é um índio sábio e inteligente, como são os outros daquela
Terra”.
CARVAJAL, Frei Gaspar de. Relatório do Novo Descobrimento do Famoso Rio Grande
Descoberto pelo capitão Francisco de Orellana. São Paulo / Brasília: Scritta / Embaixada da
Espanha, 1992, p. 85-89 (Introdução e Notas de Guilhermo Giucci).
ACUÑA, Cristóbal de (1994). Novo Descobrimento do Grande Rio das Amazonas. Rio de
Janeiro: Agir.
FREIRE, José Ribamar Bessa et alii (1994). A Amazônia Colonial (1616-1798). 5.ª Edição.
Manaus: Metro Cúbico.
_______ (1983). “Da Fala Boa ao Português na Amazônia Brasileira”. Ameríndia. N.º 8. Paris:
CNRS, p. 39-83.
CARVAJAL, Frei Gaspar de (1992) Relatório do Novo Descobrimento do Famoso Rio Grande
Descoberto pelo Capitão Francisco de Orellana. Edição bilíngüe. São Paulo / Brasília: Scritta /
Embaixada da Espanha (Introdução e Notas de Guilhermo Guicci).
HERIARTE, Maurício de (1975). “Descrição do Estado do Maranhão, Pará , Coropá e Rio das
Amazonas”. In: Varnhagen, Francisco Adolfo de. História Geral do Brasil. 8.ª edição. São
Paulo: Melhoramentos, Tomo 3, p.170-190.
MACIEL, Benedito do Espírito Santo Pena (2006). “Entre os rios da memória: história e
resistências dos Cambebas do Amazônia brasileira”. In: SAMPAIO, Patrícia Melo e ERTHAL,
Regina (Orgs.). Rastros da Memória – história e trajetórias das populações indígenas na
Amazônia. Manaus: Edua.
PORRO, Antonio (1996). O Povo das Águas: ensaios de etno-história amazônica. São Paulo:
Vozes / Edusp.
Capítulo 3
Império Português
Império Espanhol
Europa: Espanha, Áustria, Holanda, Bélgica, Alemanha, Itália (parte sul), Milão, Sardenha e
Sicília.
África: Tunis; Peñón de Vélez e Melilha, no Marrocos; Orã e Mostaganem, na Argélia.
Mediterrâneo: Ilhas Baleares.
Atlântico: Ilhas Canárias.
Ásia: Filipinas.
América: Califórnia, Arizona, Texas, Colorado, Utha, Geórgia, Flórida e Novo México nos
Estados Unidos América (EUA); México, Guatemala, Honduras, El Salvador, Nicarágua, Costa
Rica, Panamá, Cuba, Haiti, Porto Rico, São Domingos, Colômbia, Venezuela, Equador, Peru,;
Amazonas, Roraima, parte do Pará no Brasil; Bolívia, Chile, Paraguai, Argentina e Uruguai.
MUITOS INDIOS E MUITO OURO – (...). Achamos boa terra e bem povoada e rica de ouro
segundo o que vi e no que os índios o traziam, que parecia terra abundosa de ouro, porque os
índios traziam armas de ouro e braceletes nos braços. /. E estes índios seriam até cinco ou seis
mil./. Esta província onde eu cheguei se chama Machifalo (...)”.
Trechos da “Carta de Diogo Nunes a D. João III”, rei de Portugal. In: PORRO, 1993, p. 33.
Expedição de Orellana
Imagem 12.
Fragmento dos Manuscritos do frei Gaspar de Carvajal. Divulgada por Antonio Perez
(Org.) “Culturas Indígenas de la Amazonía”. Madrid, Bibl. Quinto Centenário,1986. Reproduzido
de Berta G. Ribeiro, Amazônia Urgente. 2.a edição. Belo Horizonte: Itatiaia, 1992, p.104.
A conquista da Amazônia inicia-se em 1616; isso significa que foi nesse tempo que
a região entrou na história de Portugal – mais de um século depois que os portugueses
chegaram ao Brasil. Entretanto, esse fato foi motivado por objetivos claramente
diferenciados dos que levaram à colonização da costa leste brasileira. Nesse tempo, a
Amazônia significava para os portugueses apenas um problema militar, pois o delta
amazônico vinha sendo ocupado por ingleses e holandeses, que iniciaram a montagem
de feitorias e de fortins para garantir a exploração econômica da região. Por seu turno,
os franceses já instalados em Caiena alcançaram o Maranhão, onde fundaram São Luís,
em 1612. Além de tudo isso, a região constituía-se num domínio ambíguo, uma vez que
Portugal fazia parte da União Ibérica (1580-1640).
Portanto, a ocupação lusitana da Amazônia só começou efetivamente no início do
século XVII, quando os portugueses foram autorizados a construir uma base militar para
que procedessem a expulsão dos “estrangeiros”, que infestavam a região do delta do
Amazonas até o Xingu.
O capitão Alexandre de Moura, comandante das tropas portuguesas sediadas em
São Luís, no Maranhão depois de vencer e expulsar os franceses ali estabelecidos, desde
1612, determinou o prosseguimento da conquista até o Amazonas. Para tal jornada,
entregou ao capitão-mor Francisco Caldeira Castelo Branco o comando de uma frota
composta por três navios tripulados por 150 soldados que, partindo no dia 25 de
dezembro de 1615, chegou ao local da futura cidade de Belém no dia 12 de janeiro do
ano seguinte.
O contingente militar português desembarcou em terras amazônicas em 1616 sem
encontrar a menor oposição dos nativos que ali viviam há milhares de anos. Porém,
Castelo Branco tratou logo de “construir uma pequena praça d’armas”. Essa edificação
em madeira recebeu o nome de Forte do Presépio, que tinha como principal objetivo
manter a possessão setentrional para Portugal; conclusão discutível à luz da
documentação da época.
Porém, o clima de tranqüilidade logo foi alterado devido a fatores de natureza
diversa: como os conflitos com os índios Tupinambás; incidentes internos no seio do
próprio núcleo colonial nascente; e, principalmente, pelas batalhas contra os outros
estrangeiros.
Nesse primeiro momento da sua história ocidental, a Amazônia foi transformada
em uma área predominantemente militar e geopolítica e, considerada pouco
aproveitável economicamente. Apesar disso, a Amazônia motivava, além da simples
ocupação militar, uma oportunidade de colonização por parte dos portugueses. Segundo
John Monteiro, a “sua imensa população nativa e seus recursos naturais ofereciam uma
boa perspectiva de desenvolvimento, bem como novas oportunidades para colonos que
achavam poucas chances nas capitanias açucareiras”.
Administração Colonial da Amazônia
Partida da Expedição
* * *
Quando a expedição ainda subia o Napo, Pedro Teixeira ordenou que Pedro da
Costa Favela ficasse com a maior parte da tropa no local, onde provavelmente o capitão
Juan de Palácio teria sido morto pelos Encabelados. Depois de um período amistoso,
índios e portugueses entraram em choque; a tropa de Favela assassinou todos os índios
que pôde pegar e incendiou os seus aldeamentos. O massacre dos Encabelados se
completou com a chegada de Pedro Teixeira ao local, quando voltava de Quito;
portanto, aprovando o procedimento violento do seu oficial subordinado.
“Mapa do rio Amazonas produzido durante a Viagem de Pedro Teixeira, 1639”.
Divulgada por Antonio Perez (Org.) “Culturas Indígenas de la Amazonía” . Madrid, Bibl. Quinto
Centenário, 1986. Reproduzido de Berta G. Ribeiro, obra citada, p. 106.
Tomada de Posse
No retorno da expedição, Pedro Teixeira na confluência dos rios Napo com o
Aguarico tomou posse solenemente, em 16 de agosto de 1639, daquelas terras em nome
do rei Filipe IV, da Espanha, pela Coroa portuguesa. Ali, fundou Franciscana, povoação
que serviria de marco dos limites dos domínios de Portugal e Espanha na América.
Desse modo, Pedro Teixeira dava cumprimento às ordens que trazia do governador do
Estado do Maranhão.
A expedição chegou a Belém, no dia 12 de dezembro de 1639. Foram dez meses de
descida. Os mercedários ficaram em Belém, enquanto que Pedro Teixeira e os jesuítas
seguiram para São Luís. Estava no governo do Estado o capitão-general Bento Maciel
Parente (1638-1641) e o seu antecessor, Jácome Raimundo de Noronha, tinha sido
mandado preso para Portugal.
De São Luís o padre Cristóbal de Acuña partiu para Madri, onde relatou ao
Conselho da Índia o que viu durante a viagem e enumerou as vantagens, como também,
a necessidade de se colonizar a Amazônia, “providências de que Filipe IV não devia
descurar-se para a glória de seus dilatados domínios”.
* * *
Imagem .
Leitura Complementar N.o 3
“A doze de outubro de mil seiscentos e trinta e nove, a armada portuguesa, de volta da, viagem,
encontrava-se na embocadura do rio Negro, quando, considerando-se já às portas de suas casas,
os soldados tinham os olhos voltados não para os acrescentamentos que traziam, que estes não
eram nada, mais sim para as perdas sofridas no espaço de mais de dois anos que levavam neste
descobrimento, e que não foram poucas. Por outro lado, cientes de que os serviços prestados a
Sua Majestade nestas conquistas não lhes haveriam de trazer nenhum benefício em terras, onde
aqueles que mais sangue derramaram em semelhantes ocasiões estão hoje aniquilados e
morrendo de fome, por ter-lhes sido impossível chegar até os que os pudessem recompensar,
decidiram chamar a atenção do capitão-mor para seus anseios, persuadindo-o de que a pobreza
os obrigava a buscar algum remédio para sua situação. E as notícia acerca dos muitos escravos
que possuíam os nativos no interior deste rio Negro lhes ofereciam ocasião mais propícia às
suas argumentações, a qual não deveriam deixar passar sem aproveitá-la. Assim, queriam que
lhes fosse dada a ordem para seguir esse caminho, pois com os muitos escravos que deste rio
levassem, já que outra coisa não levavam, seriam bem recebidos na volta pelos habitantes do
Pará; e sem tais escravos, certamente seriam considerados homens de pouca valia, pois, tendo
passado por tantas diferentes nações, e encontrado tantos escravos, voltavam de mãos vazias; e
mais, havendo homens nestas conquistas que, às portas de suas sacas, abem fazer escravos dos
quais se servem. O capitão-mor dava mostras de querer satisfazê-los, talvez por serem eles
muitos e ele um só, e destarte deu autorização para que pusessem velas nas embarcações, tendo
em vista que o vento em popa favorável àquela entrada assim o exigia. todos estavam
alvoroçados com essa determinações e nenhum deles se prometia menos do que um bom
número de escravos, e houve até quem não se contentasse com a idéia de lhe tocarem menos de
trezentos. Preocupação, e não pouca, poderia dar-me esta resolução, não conhecesse eu o nobre
espíritos de nosso caudilho, que, indiferente a semelhantes planos, confiava eu, cumpriria em
primeiro lugar o que fosse de maior serviços para ambas Majestades. Com esta confiança depois
de celebrar missa, recolhi-me à parte com meu companheiro e, ambos desejosos de impedir, por
todos os meios, tão descabidos propósitos, redigimos o seguinte papel. [ver “Requerimento
dirigido ao exército”. In: Acuña, 1994, p. 142-146]. (...) Redigido esse papel e entregue ao
capitão-mor, este alegrou-se muito de ter alguém que se pusesse a seu lado e, reconhecendo a
força dos nossos argumentos, mandou imediatamente recolher as velas, cessar os preparativos, e
dispor para que no dia seguinte, tornando a sair pela foz do rio Negro, prosseguíamos todos
nossa viagem pelo das Amazonas abaixo.
Trecho da Crônica do padre Cristóbal de Acuña sobre a Expedição de Pedro Teixeira. In:
ACUÑA, 1994, p.140, 141 e 146.
Indicações para Leitura
ACUÑA, Cristóbal (1994). Novo Descobrimento do Grande Rio das Amazonas. Rio de Janeiro:
Agir.
BETTENDORF, Padre João Felipe (1990). Crônica dos Padres da Companhia de Jesus no
Estado do Maranhão. 2ª. Edição. Belém: Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves /
Secretaria de Estado da Cultura.
FREIRE, José Ribamar Bessa et alii (1994). A Amazônia Colonial (1616-1798). 5.ª Edição.
Manaus: Metro Cúbico.
CARVAJAL, Frei Gaspar de (1992) Relatório do Novo Descobrimento do Famoso Rio Grande
Descoberto pelo Capitão Francisco de Orellana. Edição bilíngüe. São Paulo / Brasília: Scritta /
Embaixada da Espanha (Introdução e Notas de Guilhermo Guicci).
OLIVEIRA, Adélia Engrácia de (1983). “Ocupação Humana”. In: SALATI, Enéas et alii.
Amazônia: desenvolvimento, integração e ecologia. São Paulo: Brasiliense / CNPq.
PORRO, Antonio (1993). As Crônicas do Rio Amazonas: notas etno-históricas sobre as antigas
populações indígenas da Amazônia. Petrópolis: Vozes.
REIS, Arthur Cezar Ferreira (1997). A Conquista Espiritual da Amazônia. 2.ª edição. Manaus:
Edua.
______ (1993). A Política de Portugal no Valle Amazônico. Belém: Secult.
______ (1989). História do Amazonas. 2.ª edição. Manaus / Belo Horizonte: SCA / Itatiaia.
SANTOS, Francisco Jorge dos (2002). Além da Conquista: guerras e rebeliões indígenas na
Amazônia pombalina. 2.a edição. Manaus: Edua
UNIDADE I
Capítulo 4
1616 – Pedro Teixeira assalta uma embarcação holandesa que se avizinhava do Forte de
Presépio, a 40 léguas da costa do mar;
1623 – Luiz Aranha de Vasconcelos, Bento Maciel Parente, Pedro da Costa Favela e
outros destroem entrepostos holandeses, atacando os fortins de Orange (Maturu)
e Nassau, montados na foz do Xingu; o de Mariocai, em Gurupá, e as feitorias
na região dos Tucujus, entre a Jari e o Amapá;
1625 – Pedro Teixeira, Jerônimo de Albuquerque, Pedro da Costa Favela e Pedro Baião
de Abreu tomam o fortim de Mandiutuba, entre Gurupá e Carrazedo, no rio
Amazonas, vencendo holandeses e irlandeses;
1629 – Pedro da Costa Favela e Pedro Teixeira tomam o fortim de Tauregue (Torrêgo)
dos ingleses, na ilha de Tocuju, Hoje Santana, na foz de Mazagão;
1631 – Jácome Raimundo de Noronha vence os ingleses, tomando-lhes o Forte de
Philippe (Fort North), na costa de Macapá;
1632 – Feliciano Coelho de Carvalho, Aires de Souza Chichorro e Pedro Baião de
Abreu ocupam o forte inglês de Cumaú, nas proximidades da atual Macapá;
1639 – João Pereira de Cáceres vence holandeses na região de Gurupá, quando estes se
acercaram do Forte de Santo Antônio (antigo Mariocai);
1647 ou 1648 – Sebastião Lucena de Azevedo vence os holandeses na altura do
Cassiporé, no litoral do Amapá.
* * *
Expansão da Conquista
Conforme David G. Sweet, uma das principais motivações para a irradiação
lusitana rumo ao oeste da Amazônia ocorreu pelo esgotamento gradativo do estoque de
índios da costa do Maranhão, boca do Amazonas, ilha do Marajó e região do baixo
Amazonas, obrigando os portugueses a penetrar mais e mais no grande vale. João Lúcio
de Azevedo afirma que “no tempo do governador Rui Vaz de Siqueira (1662-67), pela
costa do Maranhão até Gurupá, no Amazonas, não havia mais índios; era necessário ir
buscá-los muitas léguas pelo rio acima, e nos afluentes”.
Assim, as expedições de guerra e as caçadas humanas, sob as formas de resgates ou
descimentos, até meados do século XVIII, fizeram com que os portugueses
empurrassem o marco de Tordesilhas até as fronteiras atuais. Concorrendo desse modo,
para o estabelecimento dos primeiros núcleos coloniais permanentes, tais como os
aldeamentos missionários e as fortalezas, embriões das vilas ou lugares do período
pombalino.
Partindo de São Luís, de Belém, de Cametá ou de Gurupá, a Amazônia foi
penetrada incessantemente, por sertanistas, colonos, religiosos, autoridades civis e
militares. O saldo territorial dessa aventura entrou em processo de legalização a partir
de 1750 com o Tratado de Madri e outros subseqüentes.
O início dos conflitos entre índios e portugueses na Amazônia pode ter como
marco o combate entre os “tapuias” do rio Caeté e os “poucos soldados” sob o comando
do então alferes Pedro Teixeira, em 1616, quando seguiam por terra, do local da
conquista para São Luís, levando notícias do sucesso da expedição de Castelo Branco,
“Onde reduziu todos à obediência da Coroa de Portugal”. Assim começou a história lusa
na região.
A obra de irradiação sertanista desencadeou entre os indígenas um verdadeiro
estado de guerra contra o domínio de suas terras e a escravização de sua força de
trabalho. Tal obra se completaria por volta do início do século XVIII quando o território
amazônico já se encontrava pontilhado de núcleos coloniais. Aproveitando a
superioridade de suas armas e a colaboração de outros índios, os portugueses travaram
combates com os nativos da região, inicialmente nas aldeias de Cumá, Caju, Mortigura
(Conde), Iguape, Guamá (1617), e massacraram populações nos rios Tocantins e Pacajá
(1627, 1673 e 1674). Mais tarde, combateram nos rios Tapajós, Madeira, Xingu, Urubu
e Negro (de 1626 a 1693), atingindo os confins do rio Branco no início do século XVIII.
Isso também ocorreu na calha do Amazonas-Solimões (de 1623 a 1673) e em quase
todos os rios da Amazônia.
Imagem 14.
Os Tupinambás
Antes da conquista, o litoral que vai da foz do Amazonas até a ilha de São Luís
achava-se povoado por um grande número de grupos indígenas, entre esses se
destacavam os Tupinambás, os quais povoavam 27 aldeias só na ilha. De acordo com os
cálculos que os frades capuchinhos fizeram durante a ocupação francesa de São Luís
(1612-1615), cada uma dessas aldeias contava com algo em torno de 200 e 600
habitantes, estimando-se uma população global de entre 10.000 e 12.000 índios. Além
da ilha de São Luís, os Tupinambás também ocupavam o trecho litorâneo que vai do
Guarajá ao Gurupi, assim como as margens dos rios que afluem nessa área.
Em 1612, a ilha de São Luís e as terras circunvizinhas foram ocupadas pelos
franceses sob o comando de Daniel de la Touche, senhor de la Ravardière, com o
objetivo de fundar ali a chamada França Equinocial. Ao desembarcarem em solo firme
depararam com os Tupinambás, esses, “encantados com as ferramentas, panos e outros
presentes dados pelos invasores, ajudaram ativamente a construir o forte de St. Louis, na
ilha que tomaria o mesmo nome da capital do Maranhão” Desse modo, os Tupinambás,
tornaram-se aliados dos franceses.
Imagem 15.
Bombarda – Antiga peça de artilharia, de cano curto e grosso calibre que atirava grandes balas
de ferro ou pedra.
Arcabuz – Antiga arma de fogo portátil, espécie de Bacamarte.
Os Nheengaíbas
Os Tapajós
“(...). Merece citar-se que o nome dessa nação não mais aparece entre as que atualmente
vivem às margens do Tapajós e às dos seus afluentes, e que também o uso de flechas
envenenadas não mais subsiste ali” (SPIX e MARTIUS. Vol. III, 1981, p. 108).
* * *
“Prosseguindo a nossa viagem, vimos uma boca de outro grande rio, à mão
esquerda, que entrava no que navegávamos, e de água negra como tinta, e que por isso
lhe pusemos o nome de rio Negro”. Este batismo foi feito pelo frei Gaspar de Carvajal,
em 1542. Foi a primeira impressão desse rio registrada por um europeu ibérico.
Os cronistas da expedição de Pedro Teixeira também descreveram em 1639, a
sua foz quando desciam o Amazonas rumo a Belém, vindo de Quito, mas já então como
um verdadeiro celeiro de mão-de-obra indígena a ser preado.
“Que as compravam dos nativos residentes na região mais próxima ao mar, os quais, por
sua vez, as recebem de homens brancos, como nós, que usam as mesmas armas nossas,
como espadas e arcabuzes, vivem no litoral e só se distinguem de nós pelo cabelo, que
todos têm amarelo, sinal suficiente para concluir-se que se trata de holandeses”
(ACUÑA, 1994, p.135-136).
“Escolheu o outeiro, entre dois igarapés, situados três léguas acima da confluência do
rio Negro com o Solimões e levantou, auxiliado na tarefa por seu filho Manoel da Mota
Siqueira, especialista em fortificações, um reduto de pedra e barro, de forma
quadrangular. Obra ligeira. O fortim, em que repousava a segurança da soberania
portuguesa naquelas paragens, bastante para manter em respeito a indiada, recebeu o
nome de São José do Rio Negro, sendo artilhado com quatro peças, duas de bronze, de
calibre um, e duas de ferro, de calibre três” (REIS, 1989, p. 69).
Imagem 16.
Fortaleza ou Entreposto?
Imagem 17.
“Manoel Teixeira, cônego da Sé de Elvas e vigário desta cidade de Belém do Grão-Pará e todas
as Capitanias, etc. Declaro, que me acho com os sacramentos recebidos, próximo à morte, para ir
dar contas a Deus, pelo estado em que estou e por descargo de minha consciência certifico, que
há muitos anos vivo neste Estado, e assim em razão do exercício do meu oficio, como pela
comunicação dos homens mais antigos e experimentados dele, e principalmente de meu irmão o
Capitão-Mor Pedro Teixeira que foi um dos primeiros conquistadores (...) sei que nas ditas
entradas, ou fossem em paz ou de guerra, se exercitaram sempre grandes injustiças, e crueldades
extraordinárias contra os índios; queimando-lhes suas povoações, matando-se muitos milhares
deles, sem piedade, nem causa, e trazendo muitos cativos, sem mais razão, nem justiça (...)
tratando-os com tanto rigor e excesso de trabalho que no espaço de trinta e dois anos, que há, que
se começou a conquistar este Estado, são extintos a trabalho e a ferro, segundo a conta dos que
ouviram mais de dois milhões de índios de mais de quatrocentas aldeias, ou para melhor dizer
cidades populosas (...)/./ Assim mais sei e certifico que os moradores deste Estado se tem servido
desde o princípio de grandíssimo número de índios com título de escravos, aos quais por sua
forte foram sucedendo outros de que ao presente se servem, tomando-os e vendendo-os pela
maior parte com a mesma injustiça acima dita; os quais índios, além e serem tratados
rigorosamente, trazendo-os despidos, assim homens como mulheres, com grande indecência e
dando-lhes muito mal de comer, chamando-lhes nomes muitos feio se afrontosos, de que eles
muito se sentem, são castigados com muito ásperos castigos (...). E os índios que vivem nas
aldeias com o nome de livre (...) padecem ainda muito mais (...) porque os governadores e
capitães-mores os tratam não só como escravo, mas como escravos que não lhes custaram
dinheiro (...)/./ Assim que em suma, Senhor fala com Vossa Majestade Manuel Teixeira, com
perto de 70 anos de idade, esperando cada hora a morte, e descarregando como pastor desta tão
mal governadas ovelhas, sua consciência sobre a Vossa Majestade e da dos seus ministros (...)/./
... e assim, peço ao padre meu confessor, que mandando fazer dois traslados autênticos deste
papel, o faça remeter logo ao reino, por via que possa chegar às reais mãos de Sua Majestade
(...). E para que tudo se tenha dito faça fé, o juro pelo juramento de minhas ordens. Belém do
Grão-Pará, 5 de janeiro de 1654. – Manuel Teixeira”
Trecho da Certidão Jurada do Padre Manuel Teixeira (1654). In: MORAES, Padre José. História
da Companhia de Jesus na Extinta Província do Maranhão e Pará. Rio de Janeiro: Alhambra
Editorial, 1987, p. 215 a 219.
ACUÑA, Cristóbal (1994). Novo Descobrimento do Grande Rio das Amazonas. Rio de Janeiro:
Agir.
BETTENDORFF. Padre João Felipe (1990). Crônica dos Padres da Companhia de Jesus no
Estado do Maranhão. 2.ª edição. Belém: FCPTV / Secult.
BERREDO, Bernardo Pereira de (1988). Anais Histórico do Estado do Maranhão. 4.ª edição.
São Luís: Alumar / Tipo.
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REIS, Arthur Cezar Ferreira (1982). A Amazônia e a Cobiça Internacional. 5.ª edição. Rio de
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SWEET, David G. (1974). A rich realm of nature destroyed: the Middle Amazon valley, 1640-
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Anexo 1.
Capítulo 5
Colonização Portuguesa da Amazônia nos Séculos XVII e
XVIII
Capítulo 5
Drogas do Sertão
Imagem 18.
Urucu (Bixa orellana). Reproduzida de Carl O. Sauer. In: Darcy Ribeiro (Editor), Suma
Etnológica Brasileira, 1 etnobiologia. Petrópolis: Vozes/ Finep, 1986, p. 88.
“Não é tão estimada a salsa hortense para o tempero das viandas, quanto a salsaparrilha para os
destemperos da vida, e falta de saúde” (DANIEL, 1976, p. 417.)
A salsaparrilha, colonial quase desapareceu, devido o modo violento como era arrancada e
desperdiçada as parte que poderia servir para a reprodução. “Os índios pela sua parte até
praticam a malícia de deixarem dependuradas as árvores, ou queimam as parte das plantas”
(FERREIRA, 1983, p. 126).
Extrativismo e Agricultura
Imagem 19.
Cacau (Theobroma cacao). Iconografia de Castro Silva. Divulgada por Frederico C. Hoehne A
flora do Brasil: recenseamento de 1920. 1922. Reproduzido de Berta G. Ribeiro, obra citada,
1992, p. 58.
“nenhum diz que se mais gente tivera, mais aumentada estaria a agricultura deste ou
daquele gênero, todos clamam a uma só voz que quanto mais houvesse toda era pouco
para a empregarem no serviço do sertão (...). Digo mais, pois, que as drogas do sertão
são para o Estado do Pará, o mesmo que as minas têm sido para Portugal” (FERREIRA,
1983, p. 117).
Incentivo a Agricultura
Imagem 20.
Além das espécies nativas, outras foram transplantadas para região. Tanto umas
quanto as outras receberam igual tratamento no sentido de seus cultivos, para isso a
Coroa portuguesa foi elaborando no tempo, uma profusa legislação de cunho econômico
com a finalidade de fomentar e, muitas vezes, disciplinar a prática agrícola desses
produtos que já haviam conquistado o mercado consumidor europeu.
“1671 – Recomenda a Câmara de Belém que promova meios para os colonos fazerem a cultura
do cacau e da baunilha”.
“30 de Março de 1680 – Isenta de todos impostos, por seis anos, o cacau e o anil e que só
paguem meio direito nos quatro seguintes”.
“7 de Março de 1693 – Renova a isenção de direitos por dez anos as especiarias que forem
descobrindo, exceto o cravo e o cacau”.
“20 de Novembro de 1699 – Determina que o capitão do Gurupá puna os religiosos que se
recusam a registrar suas canoas de drogas”.
“15 de Fevereiro de 1712 – Declara que o açúcar, o cacau cravo, o tabaco e o pano de algodão
deviam correr como moedas”
“30 de Julho de 1731 – Isenta de direitos, por doze anos, a canela, e o café cultivados no
Estado”.
“24 de Março de 1753 – Manda que paguem dízimos os gêneros como óleo de copaíba, azeite
de andiroba e de tartarugas, manteigas de peixes e castanha”.
REIS, Arthur C. Ferreira. A Política de Portugal no Valle Amazônico. Belém: Secult, 1993, p.
123-134.
“após uma certa euforia com os resultados obtidos, a experiência agrícola no Grão-
Pará redundou em um amplo fracasso, particularmente as tentativas de aclimatação de
espécies vegetais do Oriente. Sem dúvida, as condições ecológicas adversas para o
arsenal tecnológico do europeu, as grandes distâncias e as epidemias são os elementos
importantes para explicar o fracasso do empreendimento amazônico no final do século
XVIII” (SILVA, Francisco Carlos T. da In: LINHARES, Maria Yedda (Org), 1995, p.
67).
Riqueza ou Pobreza?
Imagem 21.
MOEDAS METÁLICAS – “As novas moedas eram: de cobre o vintém, de prata a pataca, de
ouro as de cinco ou de dez cruzados. Proibia-se levar para o reino esses dinheiro, chamado de
província, e os passageiros, que tinham algum, entregavam-no ao caixa do navio, para
receberem em Lisboa o equivalente em moeda da Europa”.
ECKART, Padre Anselmo. Apud AZEVEDO, João Lúcio de, 1999, p. 194.
Experiência Mal Sucedida
Contrastes Internos
“Ao chegar ao Pará, saindo das florestas do Amazonas, pensamos nos ver transportados
para a Europa. Encontramos uma grande cidade, ruas bem-alinhadas, casas alegres, a
maior parte construídas há 30 anos, em pedra e em alvenaria, além de igrejas magníficas
/./ O comércio direto do Pará com Lisboa, de onde chega todo ano uma frota mercante,
dá às pessoas abastadas a facilidade de prover a todas as suas comodidades. Recebem
mercadorias da Europa em troca de gêneros da região, que são, além de algum ouro em
pó trazido do interior das terras do Brasil, todas as diferentes produções úteis, tanto dos
rios que vêm desaguar no Amazonas quanto das próprias margens desse rio, tais como a
casca da madeira de cravo, a salsaparrilha, a baunilha, o açúcar, o café, sobretudo o
cacau, que é a moeda corrente na região e faz a riqueza dos habitantes”. (LA
CONDAMINIE, 1992, p. 107-108).
Imagem 22.
No passado essa Vila fora palco de uma vida efervescente: no seu porto eram
preparadas as expedições que partiam em viagens de exploração e dele saíam tropas de
resgates em busca da força de trabalho indígena e partiam canoadas para a coleta das
famosas drogas do sertão. Enquanto às missões, demonstravam nítidos sinais de
prosperidade, principalmente as administradas pelos padres da Companhia de Jesus,
que, usando dos mesmos expedientes dos colonos leigos — o cativeiro e o domínio dos
índios —, lograram acrescentar aos seus estabelecimentos um bom grau de
produtividade, ao passo que os dos simples colonos minguavam até a extrema
decadência .
ANTIGAS UNIDADES DE PESO E MEDIDA – Alqueire = 36,3 kg; Arroba = 14,7 kg;
Canada = 2,64 litros; Vara = 1,10 metros.
.
Núcleos Coloniais e População
Povoamento e Despovoamento
Ordens Religiosas
Os Franciscanos
Os Jesuítas
Os Mercedários
Imagem 23.
“Ciranda Legislativa”
Imagem 24.
O Regimento manteve-se a liberdade dos índios, mas foi emendado pelo Alvará
de 28 de abril de 1688, que novamente instituiu a escravidão indígena. Finalmente, a
Carta Régia de 1689 permitiu os aldeamentos de índios por particulares.
Índios Gentios ou Índios Tribais – eram os indígenas que na época não tinham qualquer
relação com os colonizadores, ou que ainda estavam travando os seus primeiros contatos com os
portugueses. Portanto, índios que estavam na periferia da chamada civilização ocidental. Para os
colonizadores e os dicionários antigos e modernos, “gentio” é aquele que professa a religião
pagã, idólatra, bárbaro, selvagem, gente baixa, e outros adjetivos similares.
Imagem 25.
Padre Antônio Vieira. Litografia idealizada (Arquivo Ultramarino Histórico, Lisboa).
Reproduzida de Joaquim Veríssimo Serrão. História de Portugal (1640-1750). Vol. V. 2.a edição.
Lisboa: Verbo, 1980, p.177-A.
“Estas, Senhor, são as minas certas deste Estado, que a fama das de ouro e prata sempre
foi pretexto com que de aqui se iam buscar as outras minas, que se acham nas veias dos
índios, e nunca as houve nas da terra”. O mesmo jesuíta, em outra ocasião, referindo-se
às misérias do Maranhão teria dito que “cativar índios e tirar de suas veias o ouro
vermelho foi sempre a mina daquele Estado” (VIEIRA, Antônio, 2003, p. 465).
Essa constatação também foi feita novamente cerca de um século depois, pelo
padre João Daniel. Disse o jesuíta: “Sabem todos os europeus moradores do Amazonas,
e o dizem publicamente que os nervos daqueles estados são as missões dos índios”.
Esses depoimentos evidenciam categoricamente que toda a produção da
Amazônia era realizada pelo trabalho indígena.
Loteamento Missionário
Imagem 26.
“(...) declaro os gentios das ditas partes do Brasil por livres, conforme a direito, e seu
nascimento natural, assim os que forem já batizados e reduzidos à nossa Santa Fé Católica,
como os que ainda viverem como gentios, conforme os seus ritos e cerimônias, e que todos
sejam tratados e havidos por pessoas livres, como são, sem poderem ser constrangidos a serviço,
nem a coisa alguma, contra sua livre vontade; e as pessoas, que deles se servirem, lhes pagarão
seu trabalho, assim e da maneira que são obrigados a pagar a todas as mais pessoas livres”.
“Porém, sucedendo caso, que os ditos gentios movam guerra, rebelião e levantamento,
fará o Governador do dito Estado, Junta, com o Bispo, sendo presente, e com o Chanceler e
Desembargadores da Relação, e todos os Prelados das Ordens, que forem presentes no lugar,
aonde se fizer a tal Junta, e nela se averiguará, se convém, e é necessário ao bem do Estado,
fazer-se guerra ao dito gentio, e se ela é justa; e do assento, que se tomar, e me dará conta, com
relação das causas, que para isso há, para eu as mandar ver; e aprovando que se deve fazer a
guerra, se fará; e serão cativos todos os Gentios, que nela se cativarem”.
“E porque poderá suceder, que na dilação de se esperar minha resposta e aprovação,
sobre se fazer a guerra, haja perigo: hei por bem, e mando, que, havendo-o na tardança, e sendo
tomado assento pela dita maneira, que se deve fazer guerra, se faça, e execute o que se assentar
(dando-se-me contudo conta do assento, como fica referido); e os gentios, que se cativarem, se
assentarão em livro, que para isso se fará, por seus próprios nomes, e lugares donde são, com
declaração de suas idades, sinais e circunstâncias que houver em seu cativeiro; e as pessoas que
os cativarem, e a que pertencerem, os terão como cativos, sendo feitas as ditas diligências;
porque não as fazendo, o não serão; e com elas os não poderão vender, até eu ter confirmado o
assento que se tomar, sobre se fazer a tal guerra; e confirmando-o eu, poderão fazer deles o que
lhes bem estiver, como seus cativos, que ficarão sendo livremente; e não o confirmando, se
cumprirá o que sobre isso mandar.
“E porque tenho entendido que os ditos gentios têm guerras uns com os outros, e
costumam matar e comer todos os que nelas se cativam, o que não fazem achando quem lhe os
compre; desejando prover com remédio ao bem deles, e salvação de suas almas, que se deve
antepor a tudo; e considerando, como é certo, que nenhuma pessoa quererá dar por eles coisa
alguma, não lhe havendo de ficar sujeitos: hei por bem, que sejam cativos todos os gentios, que,
estando presos e cativos de outros para os comerem, forem comprados, justificando os
compradores deles, pelas pessoas que, conforme a esta Lei, podem ir a sertão com ordem do
Governador, que os compraram, estando, como fica dito, presos de outros gentios para os
comerem; com declaração, que, não passando o preço, por que os tais gentios forem
comprados, da quantia que o Governador com os adjuntos declarar, serão cativos somente por
tempo de dez anos, que se contarão do dia da tal compra; passados eles, ficarão livres, e em sua
liberdade; e os que forem comprados por mais, ficarão cativos, como dito é”.
“E pelo muito que convém à conservação dos ditos gentios, e poderem com liberdade e
segurança morar, e comerciar com os moradores das capitanias, e para o mais, que convier a
meu serviço, e benefício das fazendas de todo aquele Estado do Brasil, e cessarem os enganos e
violências, com que muitos eram trazidos do sertão: hei por bem, e mando, que o Governador
do dito Estado, com parecer do chanceler da Relação dele, e provedor-mor dos defuntos, nela
façam eleição das pessoas seculares, casados, de boa vida e costumes, que lhes parecerem mais
convenientes para serem capitães das aldeias dos ditos gentios, e que, podendo ser, sejam de boa
geração e abastados de bens, e que de nenhum modo sejam de nação; os quais capitães serão
eleitos na quantidade de aldeia, que se houverem de fazer, e por tempo de três anos, e o mais
que eu houver por bem, enquanto não mandar o contrário – e sendo eleitos, lhes darão ordem
para irem ao sertão persuadir aos ditos gentios desçam abaixo, assim com boas palavras e
brandura, como com promessas, sem lhes fazer força nem moléstia alguma, em caso, que não
queiram vir; para o que levarão outro de qualquer outra religião ou clérigo, que saiba a língua,
para assim os poderem melhor persuadir (...)”.
Trecho da Lei de 10 de setembro de 1611. BEOZZO, José Oscar. Leis e Regimentos das
Missões, política indigenista no Brasil. São Paulo, Loyola, 1983. Ortografia atualizada.
BEOZZO, José Oscar (1983). Leis e Regimento das Missões: política indigenista no Brasil. São
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VIEIRA, Padre Antônio (2003). Cartas do Brasil. São Paulo: Hedra. (Organização e Introdução
de João Adolfo Hansen).
UNIDADE II – AMAZÔNIA PORTUGUESA
Capítulo 6
Capítulo 6
Imagem 27.
Dependência Econômica
PORTUGAL PARA OS INGLESES – “Portugal existia somente para a Inglaterra. Estava, por
assim dizer absorvido por ela. Foi para ela que o vinho floresceu no Porto, que a árvore das
hespérides carregou-se com seus frutos dourados, que a oliva difundiu suas ondas doces e ricas;
foi para ela que o sol do Brasil endureceu o diamante no seio da terra e foi para ela que Portugal
tornou suas margens e seu solo inóspito para indústria”.
Imagem 28.
Imagem 29.
Marquês de Pombal. Óleo de Louis Michael Van Loo, 1766 (Câmara Municipal de Oeiras).
Reproduzido de Kenneth Maxwell, Marquês de Pombal: o paradoxo de Iluminismo . Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1996.
Reformas Pombalinas
* * *
a). Alvará de Lei, de 4 de abril de 1755, que autorizou os brancos a se casarem com as
índias. Como prêmio seriam portadores de alguns privilégios;
b). Lei de 6 de junho de 1755, que restituiu aos índios a liberdade de suas pessoas, bens
e comércio;
c). Alvará com força de Lei de 7 de junho de 1755, que cassou o poder temporal dos
missionários sobre os índios da Amazônia e ordenou que os administradores das aldeias
fossem os seus próprios Principais, isto é, pelos próprios chefes indígenas. Dispôs,
também, para que fossem designados para juizes ordinários, vereadores e oficiais de
justiça das vilas, os índios naturais delas;
d). Diretório que se deve observar nas povoações dos índios do Pará e Maranhão,
enquanto Sua Majestade não mandar o contrário, de 3 de maio de 1757, que propunha
alterações na política indigenista, até então vigente na Amazônia;
e). Alvará de 17 de agosto de 1758, que confirmou o Diretório que se deve observar nas
povoações dos índios do Pará e Maranhão, enquanto Sua Majestade não mandar o
contrário, de 3 de maio de 1757. O referido Alvará determinava que o Diretório fosse
também aplicado nas povoações indígenas do Estado do Brasil.
f). Lei de 3 de setembro de 1759, que ordenou a expulsão dos religiosos da Companhia
de Jesus de todos os domínios do reino de Portugal, assim como o confisco de todos os
seus bens.
Política e Administração
Imagem 31.
A Longa Espera
A expedição chegou a Mariuá no início de 1755, lá ficando por quase dois anos
à espera da comissão espanhola, que não apareceu. Nesse tempo guarneceu
militarmente o Solimões; instalou os Pesqueiros Reais, no Solimões, na boca do rio
Branco e em outros locais. Seguiu para o rio Madeira, visitou a aldeia de Trocano, a
qual, em 1.° de janeiro de 1756, elevou à categoria de Vila com a denominação de
Borba, a Nova. Essa foi, portanto, a primeira vila da recém-criada Capitania do Rio
Negro. O administrador da aldeia, o jesuíta Anselmo Eckart, foi afastado do cargo e
substituído por um oficial militar.
Mendonça Furtado aplicou, em Borba pela primeira vez, a Lei de 7 de junho de
1755, que extinguia a administração temporal dos aldeamentos indígenas exercida pelos
missionários. Foi elaborado para essa Vila um Regulamento, em 6 de janeiro de 1756, o
qual foi extensivo às demais. Esse documento serviu de base para a elaboração do
Diretório que se deve observar nas povoações dos índios do Pará e Maranhão,
enquanto Sua Majestade não mandar o contrário, de 3 de maio de 1757.
Em fevereiro voltou a Mariuá, onde ainda aguardou a comissão espanhola que
acabou não chegando. Com a saúde abalada em novembro de 1756 Mendonça Furtado
retornou a Belém, deixando as instruções das demarcações com o sargento-mor Gabriel
de Sousa Filgueira, para o caso do plenipotenciário espanhol, D. José de Iturriaga,
aparecer. Outro motivo que reclamava a presença do governador na capital, seria o de
início ao processo de execução das leis que afastariam os missionários da direção dos
aldeamentos indígenas e a liberdade dos índios.
O governo de Francisco Xavier de Mendonça Furtado experimentou duas
importantes rebeliões indígenas no rio Negro: a Revolta do rio Marié, um conflito entre
índios e portugueses por ocasião de uma operação de descimento, em 1755; e a
Rebelião dos índios Manaus levante em três povoações da região, em 1757, que foi
sufocado por tropas militares. Esses acontecimentos foram documentados tanto pela
administração colonial quanto pelos viajantes da época.
Imagem 32.
Nas vilas, o governo temporal era exercido pelos juizes ordinários, vereadores e
oficiais de justiça e nos aldeamentos indígenas pelos Principais. Havendo, entretanto,
em cada povoação um diretor de índios “para dirigir com acerto os referidos índios
debaixo de ordens”, ao missionário seria confiado, apenas direção espiritual.
O uso da língua materna de cada nação indígena aldeada era proibido, bem como
da língua geral, o que obrigou ao uso da língua portuguesa; os índios passaram,
obrigatoriamente, a usar sobrenomes semelhantes aos das famílias de Portugal, a
construir moradias no estilo dos brancos; tornou obrigatório aos índios se vestirem
como os brancos, principalmente as mulheres; e instituiu escolas separadas para
meninos e meninas.
LÍNGUA GERAL / NHEENGATU “Nheengatu (“fala boa”), cuja normatização foi elaborada
pelos jesuítas a ponto de ser chamada também de “tupi jesuítico”, apesar de “sensivelmente
distanciado das línguas tupis naturais” (...) exerceu a função inicial de língua de comunicação
entre portugueses os diferentes povos Tupi que ocupavam a costa do Salgado e o baixo
Amazonas. Mas a esta função se foram acrescentando outras no processo histórico de sua
expansão. (...) como idioma oficial das missões da Amazônia, passou a ser ensinado com uma
certa sistematização aos índios de diferentes famílias lingüísticas estocadas nas aldeias de
repartição”.
FREIRE. José Ribamar Bessa, “Da Fala Boa ao Português na Amazônia Brasileira” Ameríndia,
Paris, 1983. p. 49 e 51.
WESTEPHALEN, Cecília Maria. In: SILVA, Maria B. Nizza da (Coord.), 1994, p. 264-265.
Administração das Povoações
* * *
Em suma, no parágrafo 95 do Diretório estão listados os seus verdadeiros
objetivos: a dilatação da fé; a extinção do gentilismo; a propagação do Evangelho; a
civilidade dos índios; o bem comum dos vassalos; o aumento da agricultura; a
introdução do comércio; e finalmente, o estabelecimento, a opulência e a total felicidade
do Estado.
* * *
A Carta Régia de 1798, estabeleceu o livre comércio dos brancos com os índios,
exceto o que introduzisse arma branca e de fogo e tudo mais que pudesse ser empregado
contra a vida dos seus “benfeitores”. Também tornou livre a exploração dos recursos
naturais em terras indígenas e sua ocupação por moradores brancos, e promoveu a
liquidação dos bens do comum das povoações indígenas o que, na avaliação de Carlos
de Araújo Moreira Neto, significou a condenação dos aldeamentos indígenas ao
desaparecimento. Todos os bens coletivos foram vendidos e o produto recolhido aos
cofres reais.
Essa Lei é ambígua na questão do trato com as populações indígenas não-
aldeadas, pois proibia expressamente a guerra ofensiva e os descimentos, mas garantia a
todo vassalo que colaborasse na “redução dos índios às luzes do Evangelho” ou que os
tivesse “aliciado” para viverem próximo às paróquias, teria uma série de benefícios
reais, tais como: declaração de habilidade e nobreza para quaisquer empregos; a
concessão das terras devolutas “que precisar” e recebimento dos dízimos e redízimos
por seis anos.
Conforme José Ribamar Bessa Freire, durante os últimos 20 anos de vigência do
colonialismo português, sobretudo a partir de 1808, com a instalação da sede da
monarquia portuguesa no Brasil, as sutilezas desapareceram do discurso oficial,
cedendo o lugar a uma linguagem dura, que correspondia às declarações abertas de
guerra aos índios do Brasil e da Amazônia.
João Lúcio de Azevedo de forma categórica afirma que “não se requer extrema
agudeza para compreender que semelhante organização não poderia favorecer a
liberdade. O diploma da rainha mudava o estatuto legal, mas não alterava a situação dos
índios”.
“Todos foram declarados e confirmados livres pela lei de 6 de junho de 1755 (...) havendo Sua
Majestade por bem de na dita lei de 6 de junho restituir aos índios do Grão-Pará e Maranhão a
liberdade das suas pessoas, bens, e comércio, pela forma que nela se declarou, que, nem os
moradores brancos, e outros deixassem de achar, quem lhes fizesse as suas obras, e lhes
cultivassem as suas terras; nem os mesmos índios deixassem de perceber as conveniências, que
de se aplicarem às referidas obras e serviços lhes poderiam resultar, em interesse recíproco de
uns e outros (...).
Outras muitas leis além destas, que são as fundamentais da nova forma do Estado, se
expandiram pelo tempo adiante; não menos que outros muitos alvarás, decretos, avisos,
provisões e ordens de Sua majestade, às quais se foram juntando as que em todos os tempos
expediram os governadores e capitães-generais do Estado e se acham compreendidas nos
bandos, editais, portarias, cartas circulares e particulares, que cada um deles fez publicar e
observar durante, o tempo de seu governo.
O bando de 30 de maio de 1773 [do governador e capitão-general João Pereira Caldas]
acabava de dar inteira execução aos dispostos na lei de 6 de julho, a respeito dos salários dos
índios; porque sendo presente a V. Ex.ª a desordem, com que em ambas as capitanias deste
Estado se estavam praticando a satisfação dos referidos salários; e vendo-se obrigado a
estabelecer a preços certos diferentes jornais que vencessem, segundo os mais, ou menos
pesados serviços em que empregassem; proporcionando os interesses dos moradores brancos,
com os dos índios, ordenou, que, enquanto Sua Majestade não ordenasse o contrário, se
regulasse os jornais, desde o 1.º de julho do dito ano de 1773 em diante, na maneira seguinte:
1.º Que os índios empregados em serviços pesados, como o de roças, engenhos, cortes de
madeira, transportes das mesmas, e de pedras, ou em navegações igualmente pesadas,
vencessem 1$200 por mês.
2.º Que pelo mesmo preço se regulassem os pagamentos dos índios empregados nos negócios
do sertão, sem embargo do diverso costume que até então se praticava.
3.º Que os outros índios empregados em serviços domésticos, e pescadores, caçadores em
outros quaisquer exercícios leves, vencessem a 800 réis por mês.
4.º Que as índias, que empregasse nos mesmos serviços pesados de roças, fazer farinhas, e em
amas-de-leite, vencessem também 800 réis por mês.
5.º Que as outras índias empregadas em serviços domésticos e leves, vencessem a 600 réis por
mês.
6.º Que os índios rapazes até a idade de 13 anos, vencessem na mesma forma a 600 réis por
mês.
7.º Que as índias raparigas até a idade de 12 anos, vencessem a 400 réis por mês. E que os
índios e índias, que estivessem dados a soldada pelo juízo dos órfãos, observassem a mesma
regulação; bem visto que todos os referidos ordenados se deveriam satisfazer além do ordinário
e preciso sustento. Que porém os índios artífices se reputassem nos pagamentos de seus jornais,
pelo que se praticasse com outros quaisquer artífices brancos, em conformidade de seus
merecimentos”.
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REIS, Arthur C. Ferreira (1989). História do Amazonas. 2.ª edição. Manaus / Belo Horizonte,
SCA / Itatiaia.
SANTOS, Francisco Jorge dos (2002). Além da Conquista: guerras e rebeliões indígenas na
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Capítulo 7
A Capitania de São José do Rio Negro foi criada pela Carta Régia de 03 de
março de 1755, com capital na aldeia de São José do Javari, no alto Solimões, por isso
passou a ser mencionada oficialmente como Capitania de São José do Javari. Porém,
quando a sua sede foi implantada de fato, na aldeia de Mariuá, no médio rio Negro,
voltou a ser chamada pela denominação original: Capitania de São José do Rio Negro.
Não obstante, a criação, a instalação do novo governo só ocorreu três anos mais tarde,
por ocasião da segunda viagem de Francisco Xavier de Mendonça Furtado ao rio Negro
(1758), quando nomeou o coronel-de-infantaria Joaquim de Melo e Póvoas, para
cumprir um mandato de três anos como governador da nova unidade administrativa
colonial do Estado do Grão-Pará e Maranhão.
Depois do governo de Melo e Póvoas (1758-1560), assumiu a administração da
Capitania do Rio Negro o tenente-coronel Gabriel de Souza Filgueiras (1760-1761),
que, por morte, foi substituído interinamente pelo coronel Nuno de Ataíde Verona
(1761), que entregou os destinos da Capitania ao coronel Valério Corrêa Botelho de
Andrade (1761-1763), sucedido pelo coronel Joaquim Tinoco Valente, que permaneceu
no cargo por 16 anos, até sua morte, em 1779. Tinoco Valente foi sucedido,
sucessivamente, por oito juntas governativas até o início do governo do coronel-
engenheiro Manuel da Gama Lobo d’Almada (1788-1799), que também deixou o
governo por morte.
Foi durante a administração de Melo e Póvoas que os antigos aldeamentos
missionários tornaram-se vilas ou lugares, com suas denominações portugalizadas. Por
exemplo: a missão de Nossa Senhora da Conceição de Mariuá, passou a ser Vila de
Barcelos; a missão de Santo Elias do Jaú, passou a ser denominado de Lugar de Airão.
Apenas a missão de Trocano foi elevada à categoria de Vila ainda em 1756,
quando passou a ser denominada de Vila de Borba, a Nova.
De Mariuá a Barcelos
Imagem 33.
Mariuá, por volta de 1757, já contava com uma população de cerca de 2.000
habitantes e apresentava um ar de prosperidade. Foi elevada à categoria de Vila pelo
próprio Mendonça Furtado, por ocasião da sua segunda viagem ao rio Negro, em 1758,
quando passou a ser chamada de Barcelos.
A Vila de Barcelos ficou como sede da Capitania do Rio Negro até 1791,
quando o então governador Manuel da Gama Lobo D’Almada a transferiu para a Barra
do Rio Negro, a 18 km da boca do rio Negro. Voltou a ser novamente sede em 1798,
mas em 1808 a sede da capitania mudou-se definitivamente para a Barra do Rio Negro.
Aliás, conforme foi dito anteriormente, em 1783 o general João Pereira Caldas
propôs ao ministro dos Negócios Ultramarinos, em Lisboa, a mudança da sede da
Capitania, de Barcelos para a boca do rio Negro. Nessa proposta estava incluída
também a mudança da Fortaleza da Barra do Rio Negro – fundada segundo a tradição,
em 1669 – para o local sugerido, pois já se tinha percebido a ineficácia, como
instrumento de defesa, desse estabelecimento militar no local onde estava edificado.
A localização sugerida por João Pereira Caldas corresponde atualmente às
adjacências da Refinaria de Manaus e o porto da Ceasa.
Economia e Sociedade
Imagem 34.
FERREIRA, Alexandre Rodrigues. Viagem Filosófica ao Rio Negro. 1983, Belém, MPEG, p.
665 e 666.
Imagem 35.
Em geral, a Capitania do Rio Negro era formada por brancos, índios e negros.
Os brancos europeus, em sua maioria, eram ex-soldados que vieram com as comissões
de demarcações de limites (1754 e 1780), que com o tempo deram suas baixas para se
casarem com as índias – aproveitando, dessa forma, os benefícios que o governo
português concedia aos homens brancos que assim procedessem – que, por conseguinte,
se estabeleceram em suas casas. Eram procedentes das seis províncias de Portugal, em
particular do Entre Douro, do Minho, de Trás os Montes, Alentejo, Algarves e alguns
ilhéus. Outros brancos eram comerciantes e sertanistas que vinham de capitanias do
Brasil, do Maranhão e do Pará.
Os índios eram a grande maioria da população. Eram índios aldeados, oriundos
de diversas etnias, que foram descidos de suas aldeias de origem para os aldeamentos
portugueses, os quais eram considerados livres pelas leis pombalinas. Esses índios, na
realidade, já constituíam uma grande massa de tapuios, diferentes dos índios tribais que
ainda viviam fora do alcance dos brancos.
Os negros eram os escravos africanos ou seus descendentes – os crioulos –,
trazidos da costa da África, de Angola e, em particular, da ilha do Cabo Verde, do Pará,
ou mesmo da Bahia. Soma-se a esses, segundo Alexandre Rodrigues Ferreira, as
diversas modalidades de miscigenados: mamelucos, mulatos, cafuzos e curibocas.
No início da década de 1760, a Capitania do Rio Negro contava com uma
população de um pouco mais de 5 mil habitantes. Brancos e índios aldeados, estes já
destribalizados e, segundo relatos da época, entregues ao vício da embriaguez, não
trabalhavam mais, abandonando, desta forma, o cultivo da terra. Os diretores de índios,
por sua vez, abusavam de sua autoridade em relação aos índios, e os núcleos coloniais
quase sem moradores brancos se arrastavam a uma vida miserável.
Pelo recenseamento feito pelo ouvidor e intendente, Francisco Xavier Ribeiro de
Sampaio, a Capitania do Rio Negro, em 1775, possuía uma população estimada em
11.749 habitantes, sendo 936 brancos, 193 negros e 10.620 índios aldeados. Nesse
somatório não entraram 1.019 índios distribuídos em cinco aldeamentos do rio Branco.
Em outro censo, datado de 1781, o número de brancos subiu para 1.475. Essa
alteração na cifra de brancos pode ser creditada à chegada (1780) na região do
contingente da segunda leva de pessoas que compunham as comissões de demarcações
de limites, sob as ordens do general João Pereira Caldas.
Com a regularidade dos censos, o crescimento da população da capitania do Rio
Negro pôde ser acompanhado com mais precisão, pelos menos até o final do século
XVIII (Quadro 5).
Imagem 36.
Vila de Tomar. Reproduzido de Alexandre Rodrigues Ferreira, obra citada, 1971 (Geografia,
prancha 82).
Imagem 37.
Povoação de Caldas, rio Cauaburis. Reproduzida de Alexandre Rodrigues, obra citada, 1971
(Geografia, prancha 86).
Tratado de Madri
Os Espanhóis
Para as demarcações dos limites constituíram-se quatro partidas para cada lado,
as quais operariam em conjunto nos seguintes trechos: do rio Chuí ao rio Iguaçu, a
primeira; do rio Iguarei ao rio Jauru, a segunda; do rio Jauru até o rio Japurá, a terceira;
e a quarta partida ficou responsável pelo trecho compreendido entre o rio Japurá e o rio
Branco. Para chefiar a quarta partida foi nomeado plenipotenciário o governador e
capitão-general do Estado do Grão-Pará e Rio Negro, João Pereira Caldas. Pela Espanha
a chefia recaiu sobre D. Francisco de Requeña y Errera.
Em 1780 chegou a Barcelos a expedição comandada por João Pereira Caldas,
composta por vinte e cinco embarcações com 516 pessoas: oficiais militares, praças, 05
engenheiros, 04 astrônomos, 02 capelães, 02 cirurgiões, 316 índios remeiros, 21 índios
pilotos, 05 mulheres, 06 criados e 35 escravos.
Diferente do que ocorreu na década de 1750, Portugal utilizou os próprios
portugueses em seu quadro técnico, prescindindo, portanto, dos estrangeiros. Entretanto,
na Amazônia, os trabalhos não avançaram, portugueses e espanhóis novamente se
estranharam. Entre os lusos parece que os desentendimentos ganharam uma conotação
mais pessoal e patriótica do que técnicas ou política. Por exemplo: pelo Tratado,
Tabatinga, no alto Solimões, ficaria sob o domínio espanhol, mas o tenente-coronel
Teodósio Constantino Chermont se recusou a entregá-la aos demarcadores espanhóis.
Além dos caprichos dos membros das comissões, uma epidemia de varíola
concorreu para o interrompimento dos serviços. Em 1788, o coronel Manuel da Gama
Lobo D’Almada – que substituíra João Pereira Caldas na chefia das demarcações –
intimou os espanhóis a deixarem o alto Solimões, onde estavam instalados como
senhores, de fato, da região. Como no processo anterior, os resultados foram mínimos
pois, nesse caso se resumiram à demarcação dos trechos entre o Chuí e Iguaçu; e entre
Javari e Japurá.
Não obstante, na Amazônia, Francisco José Lacerda e Almeida, Ricardo Franco
de Almeida Serra, Antônio Pires da Silva Pontes, José Pereira, Manuel da Gama Lobo
D’Almada, Eusébio Antônio de Ribeiro e José Simões de Carvalho exploraram os vales
do rio Negro e do rio Branco. Exploram também o rio Madeira e as ligações entre o rio
Negro e o Japurá.
Conforme afirma o historiador Arthur Cezar Ferreira Reis, essas explorações,
realizadas pelos membros das comissões de demarcações de limites na Amazônia,
foram intensas, e revelaram detalhes dos cursos daqueles rios e seus formadores. No
Mato Grosso, Lacerda e Almeida, Silva Pontes e Ricardo Franco procederam a
rigorosos inquéritos de ordem geográfica. Para a execução do Tratado, esses inquéritos
eram fundamentais para que fosse possível conhecer a verdade e fixar a fronteira
definitiva.
Em 1997, pela primeira vez, uma parte do acervo etnográfico coletado por
Alexandre Rodrigues Ferreira, durante a Viagem Filosófica, foi mostrada aos brasileiros
através da exposição Memórias da Amazônia: expressões de identidade e afirmação
étnica, realizada em Manaus, a partir de um convênio assinado entre a Universidade do
Amazonas, Universidade do Porto e Universidade de Coimbra.
Essa exposição foi visitada por cerca de 46.000 pessoas, além da presença de
representantes de vinte e três grupos étnicos: Apurinã, Arapaço, Baniwa, Baré, Cinta-
larga, Desana, Hiskaryana, Manchinery, Marubo, Matis, Makuxi, Sateré-Mawé, Suruí,
Tariana, Tikuna, Tukano, Tuyucam Katukina, Waimiri-Atroarí, Wai-Wai, Wapixana,
Wanana e Yanomami. Esses representantes desenvolveram diversas atividades da
cultura indígena, tais como: oficina de pinturas e desenhos; oficina de trançados; danças
e rituais; e cânticos e narrativas.
Imagem 38.
Imagem 39.
Maloca dos índios Curutus, rio Apoparis. Reproduzida de Alexandre Rodrigues, obra citada,
1971.
FERREIRA, Alexandre Rodrigues (1983). Viagem Filosófica ao Rio Negro. Belém: MPEG /
CNPq / Fundação Roberto Marinho.
MONTEIRO, Mário Ypiranga (2000). Capitania de São José do Rio Negro. 3.ª Edição.
Manaus: Valer.
PEREGALLI, Enrique (1982). Como o Brasil Ficou Assim. 5.ª Edição. São Paulo: (Col.
História Popular), Global.
REIS, Artur C. Ferreira (1989). História do Amazonas. 2.ª Edição. Manaus / Belo Horizonte:
Secretaria de Cultura do Amazonas / Itatiaia.
______ (1993). Limites e Demarcações na Amazônia Brasileira. 2.ª edição. Vols. I II. Belém:
Secult.
______ (1940). Lobo D'Almada: um estadista colonial. 2.ª edição. Manaus: Governo do Estado
do Amazonas.
Capítulo 8
Os Muras
Os índios Muras apareceram para os colonizadores portugueses da Amazônia no
inicio do século XVIII. Os primeiro registros são de 1714 numa carta escrita pelo padre
Bartolomeu Rodrigues, situando-os entre os rios Maeci e Manicoré, tributários do
Madeira pela margem direita. A sua expansão territorial teve início entre os anos de
1723 e 1725, e não foi causada pela ação dos homens brancos, mas sim por uma
situação decorrente das próprias características das populações indígenas. Nesse
movimento centrífugo, do Madeira para o Amazonas, Solimões e rio Negro, chocaram-
se com os colonizadores.
Nos anos de 1738 e 1739, foram vítimas de devassa, inquérito que tinha por fim
justificar a declaração de uma guerra justa, o que acabou não acontecendo, pois não
recebeu a aprovação da Coroa portuguesa. No entanto, ao longo do tempo, esses índios
foram sendo massacrados pelas Tropas Auxiliares da Capitania, assim como, foram
também sendo contaminados por epidemias de sarampo e varíola.
Na segunda metade do século XVIII, autoridades portuguesas chegaram pedir ao
governo colonial que declarasse guerra aos Muras, pois eles seriam os responsáveis pelo
não desenvolvimento da Capitania do Rio Negro.
Imagem 40.
Índio Mura. Reproduzida de Paul Marcoy, Viagem pelo rio Amazonas. Manaus: Edua, 2001, p.
130.
GENTIO DE CORSO – “Imagem náutica utilizada no período colonial para definir os povos
nômades que permaneciam afastados dos povoamentos, constituindo uma ameaça aos
empreendimentos coloniais, saqueando e roubando as vilas e aldeias dos índios domésticos. No
extremo-oeste da colônia a expressão “gentio de corço” foi aplicada aos Paiaguá e Guaicuru da
região do Chaco”.
AMOROSO, Marta Rosa. Guerra Mura no Século XVIII: versos e versões, representações dos
Mura no imaginário colonial. Campinas, Unicamp, 1991, p .5.
“A nação Mura também tem muita especialidade entre as mais. É gente sem
assento, nem persistência, e sempre anda a corso, ora aqui, ora ali; e tem muita
parte do rio Madeira até o rio Purus por habitação. Nem tem povoações algumas
com formalidades, mas como gente de campanha, sempre anda em levante, e
ordinariamente em guerras, já com as mais nações, e já com os brancos, aos quais
querem a matar, ou tem ódio mortal. E não só assaltam as mais nações, mas ainda
nas mesmas missões tem dado vários assaltos, e morto a muitos índios mansos, de
que não puderam livrar, por serem repentinas, e inesperadas as investidas: e para
as evitarem lhes é necessário fazerem cercas de pau-a-pique, e estar sempre alerta;
e tem essa contínua guerra, não porque coma gente, ou carne humana, mas por
ódio entranhável aos brancos, a que estes mesmos deram muita causa” (DANIEL,
1976, p. 264 e 265).
O padre conta que o “ódio entranhável aos brancos” viria de um logro por parte
dos brancos. Pois um missionário tinha entrado em acordo com os Muras do Madeira,
no sentido de eles descerem para a sua missão, quando aquele núcleo colonial
oferecesse condições adequadas para recebê-los, “prontos, e prevenidos os víveres,
panos, e ferramentas, para os vestir, e sustentar, enquanto eles não fizessem roças
próprias”. Estava tudo acertado. Entretanto, um português, sabendo do trato, adiantou-
se, dizendo estar a serviço do tal missionário, levou os índios para a coleta das drogas
do sertão e depois os vendeu como escravos.
Há outra memória sobre o início dos confrontos belicosos dos Muras com os
portugueses. Diz-se que um tal sargento-mor João de Souza, conduzindo um comboio
canoas pelo rio Madeira, do Pará ao Mato Grosso, teve um encontro sangrento os
Muras. Os índios não teriam se manifestaram belicosamente, no entanto, foram
massacrados, pelos bacamartes e arcabuzes dos viajantes. Depois desta época adotaram
novo sistema de combater, e atacar-nos por guerrilha: tática que pesou muitos anos
sobre os núcleos coloniais, matando-lhes os melhores índios pescadores, e brancos
lavradores, com tal destreza, e velocidade de raio, que obrigou aos governadores da
Capitania do Rio Negro, para lhes refrear a audácia, mandá-los atacar anualmente as
suas aldeias pelas Tropas Auxiliares.
Imagem 41.
Índio Mura com Arco e Flecha. Reproduzido de Alexandre Rodrigues Ferreira, Viagem
Filosófica pelas Capitanias do Grão-Pará Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá – 1783-1793, Rio de
Janeiro: Conselho Federal de Cultura, 1971 (Antropologia, prancha 120).
Imagem 42.
Índio Mura com Paricá. Reproduzido de Alexandre Rodrigues Ferreira, obra citada, 1971 (
Antropologia, prancha 121).
* * *
Os Muras, “de acordo com maioria dos lingüistas (...), falavam uma língua
isolada. Depois da pacificação, na década de 1780, os Muras começaram a adotar a
língua geral, embora no tempo da viagem de Martius (1817-1820) essa língua ainda
fosse pouco usada entre eles. Trinta anos depois, mesmo falando a língua geral, ainda
usavam entre si a língua materna. No final do século XIX, a maioria dos grupos
substituiu o língua geral pelo português. Alguns grupos ainda falam a língua geral entre
si; quanto à língua Mura, na década de 1940, apenas individual e ocasionalmente era
verbalizada. Em muitos grupos ela desapareceu completamente” (Cf. SANTOS, 2002,
p. 66 e 67).
Porém, as comunidades indígenas Muras, reunidas em Autazes, em 2006,
assumiram o Português como “língua materna”. Disseram os indígenas:
“Temos consciência que falar ou estudar uma língua indígena não nos faz “mais” ou
“menos” Mura e que a língua portuguesa é a nossa língua materna. Entretanto,
entendemos que o Nheengatu poderá servir como forma de defesa e valoriza’`ao da
nossa identidade junto a outros povos” (Documento Final do I Fórum de Política
Lingüística, realizado em Autazes, em 04 e 05 de maio de 2006).
Imagem 43.
“tinham feito uma aliança com os holandeses da Guiana, com os quais comerciava[m]
pelo rio Branco. A principal droga deste comércio eram escravos, a cuja condição
reduzia os índios das nossas aldeias, fazendo nelas poderosas invasões” (SAMPAIO,
1985, p. 114).
“A natureza o tinha dotado com ânimo valente, intrépido, e guerreiro. (...) Corria o rio
Negro com a maior liberdade, usando nas suas canoas da mesma bandeira holandesa de
sorte, que se fazia universalmente, e era o flagelo dos índios, e dos brancos”.
(SAMPAIO, 1985, p.114).
* * *
Imagem 44.
Imagem 45.
Índio Mundurucu com Troféu. Reproduzida de Spix e Martius, Viagem pelo Brasil - 1817-
1820. Belo Horizonte: Itatiaia, 1981. Vol. III p.273.
Os Mundurucus
Os Mundurucus, povo indígena de língua tupi, viviam originalmente, segundo a
tradição, na aldeia de Nicodemus, no alto curso do rio Cururu, um dos formadores do
Tapajós. Esse local proporcionava maior segurança contra os ataques inimigos. “Eram
gente alta (vários mediam seis pés e meio), peito largo, fortíssima musculatura,
freqüentemente de cor muito clara, de feições largas, bem pronunciadas e, embora
afáveis, rudes, cabelos pretos luzidios, cortados na testa, e todo o corpo tatuado com
linhas finas:
“Os Mundurucus tatuam todo o rosto ou pintam no meio da face malha meio elíptica, da
qual partem numerosas linhas paralelas sobre o queixo, mandíbula e pescoço, até o
peito. Do meio de uma espádua até a outra, correm sobre o peito duas ou três linhas,
separadas meia polegada uma da outra, e, abaixo destas, até ao fim do peito, se acham
desenhos romboidais verticais, ora cheios, ora vazios. O resto do tronco é riscado com
linhas paralelas ou formando redes. As costas são igualmente tatuadas, porém menos
completamente, e nas extremidades repete-se a série de linhas, com ou sem rombos.
Cada qual faz a seu gosto algumas variantes. Nas mulheres, é raro ver-se o rosto todo
enegrecido; a malha que elas trazem tem forma de lua crescente, de pontas voltadas para
cima" (SPIX & MARTIUS, 1981, p. 275-276)
Guerras e os Troféus
A fonte da fama dos Mundurucus e o foco dos seus interesses próprios era a
guerra. Os grupos guerreiros recrutavam voluntários de inúmeras aldeias, sempre
deixando, em cada uma delas, homens em número suficiente para fins de defesa e para
prover à subsistência dos que eram deixados para atrás. Dois chefes, de renome e
bravura, dirigiam o grupo guerreiro mas eram orientados ou aconselhados pelos outros
chefes da aldeia e pelos velhos. Dois guerreiros experimentados, pertencentes a uma
sociedade conhecida como a muchachá anyen, acompanhavam cada expedição e eram
os guardiões de uma trombeta de guerra conhecida como pem. O sinal de ataque era
dado nesse instrumento, pelos dois muchachás sob a direção dos líderes”.
Nas expedições de guerra, os Mundurucus levavam suas mulheres para, entre
outras atividades, preparar alimentos e carregar utensílios de uso diário. Normalmente
essas expedições tinham início no começo do verão e freqüentemente eram concluídas
antes do cair das primeiras chuvas. Entretanto, muitos grupos guerreiros não retornavam
aos domicílios de origem, senão após um ano ou um ano e meio.
Entre os Mundurucus era comum o uso da seguinte estratégia de guerra frente
aos seus inimigos indígenas: cercavam a aldeia inimiga e lançavam-se em ataques pela
madrugada, incendiavam as aldeias sitiadas, matavam todos os adultos inimigos e suas
cabeças eram seccionadas e, depois de mumificadas, eram conduzidas como troféus. As
crianças eram levadas para serem adotadas pelos captores e criadas como Mundurucus.
Eles faziam freqüentemente guerras a outros índios seus inimigos, com o fim
precisamente de aprisionar mulheres moças e crianças, e não de matá-las. Matam sim os
homens, cujas cabeças conservam como troféus.
“O efeito mágico das cabeças secas trazia abundância de animais silvestres aos
caçadores Mundurucus e, a par disso, simbolizava o orgulho dos mesmos no que dizia
respeito às suas façanhas guerreiras. O guerreiro que conduzia o troféu adquiria
prestígio e glória e tornava-se responsável pela organização das cerimônias relacionadas
com a cabeça-troféu, cerimônias que se realizavam num ciclo durante três estações
chuvosas consecutivas, depois da guerra” (MURPHY & MURPHY, 1954, p. 7 e 8).
Imagem 46.
Troféu dos Índios Mundurucus. Foto de Juan Pratiginestós (Coleção Johann Natterer /
SCA-MMA).
Entre as nações gentias, que aqui temos próximas a nós, são os Mundurucus aqueles que
se fazem presentemente mais terríveis, tanto em razão do seu grande número, como da
sua ilimitada barbaridade: estes homens habitantes no sertão do rio Tapajós, não só
descem repetidas vezes às suas margens a encontrar nossas canoas, mas adiantando-se
cada dia no seu curso, têm chegado por último a inquietar, e atacar os moradores
daqueles distritos dentro mesmo dos seus sítios, e roças, roubando e matando tudo
quanto encontram, sem reserva, nem piedade. (...) nas suas bárbaras expedições, fui
informado de haverem ultimamente causado bastante estrago no território da vila de
Alter do Chão (...), eles não atendem nem à idade, nem ao sexo, só sim ao maior número
de vítimas, para aumentarem com elas o seu triunfo, e executarem aquelas
desumanidade, que eu já fiz ver a V. Ex.ª nas cabeças, que lhe remeti de alguns
infelizes, por eles mortos, e que vinham preparadas e conservadas para ornato horroroso
das suas casas. (Apud SANTOS. 2002, p. 189-192).
Imagem 47.
Fortaleza der São Joaquim, rio Branco. Reproduzido de Alexandre Rodrigues Ferreira, obra
citada, 1971 (Geografia, prancha 67).
Rebeliões do Rio Banco
Imagem 48.
Povoação de Santa Maria, rio Branco. Reproduzido de Alexandre Rodrigues Ferreira, obra
citada, 1971( Geografia, prancha 63.
Imagem 49.
Povoação de São Felipe, rio Branco. Reproduzido de Alexandre Rodrigues Ferreira, obra
citada, 1971 (Geografia, prancha 64).
Imagem 50.
“A cidade de Manaus poderia ter várias datas de aniversários. Poderíamos contar a partir de
1669, ano da construção de um fortim que ficou conhecido pelo pomposo nome de Fortaleza de
São José da Barra do Rio Negro, ou de todas as vezes que se trocou de predicado ou de função o
referido sitio demográfico (...).
Em 1848, pela lei n.o 145 de 24 de outubro, da Assembléia Provincial Paraense a Vila de
Manaus foi elevada à categoria de Cidade com o nome Nossa Senhora da Conceição da Barra
do Rio Negro. Somente pela Lei n.o 68, de 4 de setembro de 1856, de autoria do deputado João
Ignácio Rodrigues do Carmo, é que a cidade passou a ser definitivamente denominada de
Manáos.
Não é idade da cidade que nos interessa neste momento, mas sim, as razões que
envolveram o seu apelido: Manáos (Manáus ou Manaus, uma questão de grafia), pois sabe-se
que tal denominação veio da nação dos índios Manaus que constituíam um dos grupos étnicos
mais importante da Amazônia no período colonial. Curiosamente, na época em que a cidade foi
registrada oficialmente com esse nome, estava sendo inaugurada a historiografia brasileira, esta
portadora de uma carga anti-índigena muito pesada, da qual fazia parte Francisco Adolfo
Varnhagen, que defendia a idéia de se empregar a força bélica contra os índios para “civilizá-
los”. Não menos curioso foi o fato da própria Assembléia Legislativa Provincial do Amazonas
decretar, em 1852, a escravidão indígena por dez anos a partir do seu recrutamento. Rezam os
primeiros artigos da eufêmica peça legislativa: “Art. 1.o Fica livre a todo morador poder ir
contratar a trocar de indígenas bravios com os principais nas nações selvagens; Art. 2. o Feita a
troca, o indivíduo apresentar-se-á com os índios perante o Juiz de Paz mais vizinho para assinar
um termo de educação por espaço de dez anos”.
Ora, quais razões levaram um deputado elaborar um projeto para homenagear uma nação
indígena em uma época em que intelectuais e autoridades ainda cultivavam as máximas
coloniais, por exemplo: “que a bestialidade dos índios ultrapassa a de qualquer animal”, ou que
os índios eram “declaradamente seres inferiores, naturalmente preguiçosos e dados aos vícios”
(Leonardi, 1996. p. 20 e 21). Mais tarde o nome da cidade foi condenado pelo deputado A. C.
Tavares Bastos. Dizia ele: “descobriram para a capital do Alto Amazonas o nome bárbaro de
uma tribo já esquecida”. No mesmo ritmo Euclides da Cunha emite a sua opinião: “há uma
onomatopéia complicada e sinistra nesta palavra, feita de sons melancólicos dos borés e da
tristeza invencível do bárbaro” (Jobim, 1957. p. 185-186).
Mais patético ainda, é constatar-se que: “não consta nos Anais da Assembléia Provincial,
uma só palavra para justificar a mudança de nome da capital da Província, para Manaus, e os
Relatórios dos Presidentes silenciam sobre o caso (...). o projeto desta mudança de
denominação, ao que parece, não despertou o menor interesse no seio da Assembléia, onde
passou sem destaque no curto espaço de sete dias e, ainda, sem a honra de um registro nos
respectivos Anais.” (Mello, 1967).
O autor do projeto para mudança de nome da jovem cidade, para Manáos, talvez tivesse
conhecimento de que nação dos Manaus habitou as duas margens do rio Negro, desde a foz do
rio Branco até a ilha de Timoni e constituíram uma verdadeira barreira humana, impedindo que
os portugueses penetrassem a região de seus domínios na primeira metade do século XVIII. Mas
foram derrotados pelas tropas militares lusas, ficando então livre o acesso às investidas
sertanistas portuguesas todo médio e alto rio Negro. O autor também deveria saber que os
Manaus, já reduzidos e convivendo em aldeamentos lusitanos, em 1757 promoveram uma série
de levantes no rio Negro, envolvendo os aldeamentos de Dari (Lamalonga), Bararoá (Thomar),
Caboquema (Moreira) e teriam como próximo alvo, agora em confederação, Mariuá (Barcelos).
Tal movimento de rebeldia estremeceu novamente o domínio lusitano na região. Porém, mais
uma vez, foram sufocados pelas tropas de guerra coloniais portuguesas.
“Os Manaó resistiram a invasão de seu território com armas na mão, até serem
completamente varridos do mapa (...). No início do século XIX, Martius (1819) ainda encontra
um pequeno núcleo dos Ore-Manaó ou Ere-Manaó na margem esquerda do rio Padauiri. Hoje,
não sobrou nenhum para contar a história, desconhecida pela população da cidade que herdou o
seu nome.” (Freire, 1993/4, p. 169).
Tudo indica que João Ignácio R. do Carmo também conhecia essa história, uma história
maldita para as autoridades constituídas, que a esconderam da população manauense por ocasião
do “batismo legal” da cidade, em 1856. Mas que devem tê-la aceito em nome da proposição
etnocentrista e etnocida, de que “índio bom é índio morto”.
AMOROSO, Marta Rosa & FARAGE, Nádia (Organização e Introdução) (1994). Relatos da
Fronteira Amazônica no Século XVIII – Documentos de Henrique João Wilckens e Alexandre
Rodrigues Ferreira. São Paulo: NIII-USP / Fapesp.
AMOROSO, Marta Rosa (1991). Guerra Mura no Século XVIII: versos e versões,
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_______ (1993/4). “Manáos, Barés e Tarumãs”. Amazônia Em Cadernos. N.o 2/3. Manaus:
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MURPHY, Robert F. e MURPHY, Yolanda (1954). As Condições Atuais dos Munduruku. N.o
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populações indígenas na Amazônia. Manaus: Edua / CNPq, p. 73-95.
_______ (1995). “Os Munduruku” Boletim Informativo do Museu Amazônico, N.o 8. Manaus:
Universidade do Amazonas, p. 5-25.
______ (1995) (Org). “Dossiê Munduruku : uma contribuição para a história da indígena da
Amazônia colonial”. Boletim Informativo do Museu Amazônico, N.o 8. Manaus: Universidade
do Amazonas, p. 27-108.
SPIX, Johann Baptist von e MARTIUS, Carl F. Philipp von (1881). Vol. III. Viagem Pelo
Brasil: 1817-1820. Belo Horizonte: Itatiaia.
REIS, Arthur C. Ferreira (1940). Lobo D'Almada: um Estadista Colonial. 2.a edição. Manaus:
Governo do Amazonas.
Parte II
Capítulo 9
“O BLEFE” – “Eis que, no dia 10 de agosto de 1823 chega a Belém o brigue de guerra
Maranhão, capitaneado pelo aventureiro John Pascoe Greenfell. À Junta, ele diz que o
Maranhão é a nau capitânea de uma esquadra comandada por Lord Cochrane alugado por D.
Pedro I para organizar o Império/./ (...) Greenfell, naturalmente blefava. Ele vinha só. Não tinha
esquadra nenhuma a apoiá-lo. Jogou com a sorte e com a estupidez dos portugueses que se
agarravam à província”.
CHIAVENATO, Júlio José. Cabanagem – povo no poder. São Paulo: Brasiliense, 1984, p. 24 e
26.
A região do Rio Negro (antiga Capitania do Rio Negro), por sua vez, recebeu um
status inferior, isto é, de Comarca da Província do Pará. Segundo o historiador Arthur
Cezar Ferreira Reis, embora tenha sido considerada uma injustiça, a nova condição
jurídica do Rio Negro foi reconhecida quando a Constituição Imperial foi jurada na
matriz de Nossa Senhora da Conceição, na Barra do Rio Negro, em 6 de fevereiro de
1825, pela Junta Governativa e pela Câmara de Serpa. Neste caso, a incorporação da
Amazônia portuguesa ao Brasil não alterou o caráter subalterno do Rio Negro em
relação ao Pará. Esse quadro veio modificar-se, pelo menos em nível político-
administrativo, somente em 1850, quando o Rio Negro, então Comarca do Alto
Amazonas, passou à categoria de Província do Amazonas.
REIS, Arthur C. Ferreira. Manáos e Outras Villas. 2.a edição. Manaus: Governo do Amazonas /
Edua, 199, p. 102.
Por conta dessa reforma, o Lugar da Barra do Rio Negro foi elevado à categoria de
Vila, com o nome de Manaus, pois se tornou sede da Comarca onde funcionaria um
juizado de direito, um de órfãos e uma promotoria pública, além da Câmara Municipal.
Consoante Arthur Reis, quando foi instalada a Comarca do Alto Amazonas, a
mesma contava com cinqüenta e uma povoações. A população não passava dos dezoito
mil, oitocentos e quarenta e três indivíduos.
Os gêneros de comércio continuavam, praticamente, os mesmos dos tempos da
Capitania, certamente muito diminuídos no volume da produção e no vulto dos
negócios. O grande centro de exportação e importação era a Barra Rio Negro, agora
Manaus, com seus três mil e oitocentos e nove moradores livres e trezentos e setenta e
nove escravos.
Tomada de Manaus
“Seis meses esteve Manaus sob o jugo dos Cabanos. Sena mete-se em todos assuntos e
afeta um escrúpulo excessivo pelos dinheiros públicos. Parece que não é crime fazer-
lhe esta justiça. Naturalmente, sua vontade não encontra obstáculo. Todos deviam
querer adivinhar os seus pensamentos e aplaudir com entusiasmo os seu discursos”
(MIRANDA, Bertino de 1994, p. 77). Ortografia atualizada.
Imagem 51.
Restabelecimento da Legalidade
* * *
Caio Prado Júnior ao analisar o fim da Cabanagem no Pará, disse que “É ela um
dos mais, senão o mais notável movimento popular do Brasil”.
Imagem 52.
Vila de Tefé (Ega) Reproduzida de Paul Marcoy, Viagem pelo Rio Amazonas. Manaus: Edua /
Governo do Amazonas, 2001, p. 108.
Alto Amazonas pós-Cabanagem
A Decadência
Imagem 53.
Posto Militar e Aldeia de Tabatinga. Reproduzido de Paul Marcoy, obra citada, 2001, p. 49.
* * *
Trecho 1:
“A antiga Vila da Barra do Rio Negro colocada na margem oriental, que também
ocupou o predicamento da extinta Capitania do Rio Negro com a assistência do
Governo, e com todas as repartições necessárias para a Administração Governativa;
desde o ano de 1808, até 1821, continha em si os Edifícios seguintes: Uma casa com a
denominação de palácio para a Residência dos Governadores; uma dita Fortaleza; uma
dita Armazém; uma dita Quartel da Tropa; duas ditas denominadas Ribeira: uma dita de
inspeção; uma dita de ferraria; uma dita Armazém de Pólvora; uma dita de Trem de
Guerra; uma dita de cordoaria de piaçabas; uma dita depósito de amarraras; uma dita
depósito de algodão; um dita da Fábrica de pano do mesmo em rolo; uma dita de
Hospital; uma dita construída para olaria de fazer louça, telhas, e tijolos com dois
fornos; e uma dita Fabrica de fazer anil. Hoje apenas existem os Edifícios seguintes – À
casa que servia de fabrico de pano de algodão serve hoje de aquartelamento da Tropa, e
da Guarda Policial; a que servia de Trem de Guerra, hoje de Hospital; a que servia de
Hospital, hoje de prisão; a que servia de Provedoria, hoje da Administração da
Recebedoria Nacional daquela Comarca; uma pequena parte que existe da Olaria com
os dois fornos tudo em total ruína, em breve todos estes Edifícios desaparecerão; e já
este pequeno resto de Olaria não trabalha, por não ter o Administrador da Recebedoria
com quem trabalhar tanto por falta de atividade no mesmo Administrador, como dos
pagamentos dos trabalhadores” (MATOS, 1979, p. 148).
Trecho 2:
“Os mais civilizados moradores de Barra dedicam-se ao comércio, podendo-se dizer que
não conhecem outras diversões a não ser beber e jogar, se bem que o façam em pequena
escala. A maior parte deles jamais abriu um livro e desconhece todo e qualquer tipo de
ocupação intelectual. Como era de se esperar nessas circunstâncias, a moda é uma de
suas maiores preocupações. Aos domingos, na missa, trajam-se todos em grande estilo.
As mulheres comparecem elegantíssimas, num multicolorido desfile de musselinas e
gazes francesas. Suas belas cabeleiras cuidadosamente arrumadas e adornadas de flores,
jamais se escondem sob toucas ou chapéus. A seu lado, os cavalheiros, que durante a
semana ficaram nos seus imundos armazéns em mangas de camisa e chinelos, agora
trajam finíssimos ternos pretos de feltro, gravatas de cetim e botinas de verniz de cano
bem curto. Depois da missa, é hora das visitas de cerimônia, quando todo o mundo vai à
casa de todo mundo, e lá ficam comentando os escândalos que se acumularam durante a
semana. Barra deve ser a comunidade civilizada que tem os costumes mais decadentes
possíveis. O que se escuta ali diariamente a respeito das mais respeitáveis famílias
locais, é sempre dito como se se tratasse de coisa normal e corriqueira (...)”
(WALLACE, 1979, p.110).
Manaus, em 1848
“Salve 24 de Outubro de 2005, data que Manaus completa 336 anos de fundação!”. É feriado no
município de Manaus; quase ninguém formalmente trabalha. No entanto, o cidadão comum mal
sabe que essa exclamação é oriunda de uma verdadeira mixórdia, pois se trata de uma mistura
de tempos, eventos e significados que rigorosamente nada têm a ver uns com os outros.
Começo pela “fundação” da cidade. Ainda não se conhece nenhuma evidência
documental ou qualquer outra, que autorize afirmar que o governador e capitão-general do
Maranhão e Grão-Pará, Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho (1667-1671), tenha
ordenado ao capitão Francisco da Mota Falcão a fundar a cidade de Manaus. No máximo, esse
militar teria ordens para edificar, em 1669, um estabelecimento militar que ganhou o ostentoso
nome de Fortaleza de São José da Barra do Rio Negro. Do mesmo modo, até agora nada
corrobora que essa edificação ocorreu mesmo nesse ano. Porém, se for verdadeiro, qual o mês,
qual o dia em que o ato da fundação teria ocorrido?
Normalmente atos dessa natureza são solenemente registrados por autoridades do poder
público. Por exemplo: a fundação do Forte do Presépio – núcleo remoto da cidade de Belém –
teve origem na ordem expressa no Regimento de Francisco Caldeira Castelo Branco, no qual se
ordenou que fosse erigida uma fortificação, cuja fundação data de 12 de janeiro de 1616; outro
exemplo, é o da Fortaleza de São Joaquim, edificado na confluência dos rios Tacutu e Branco,
cuja construção foi ordenada através da Provisão Régia de 4 de novembro de 1752, mas só
iniciada as obras em 1775, já no governo do capitão-general João Pereira Caldas.
A confusão continua. Em 1969 as autoridades constituídas do Município de Manaus e
do Estado do Amazonas festejaram o aniversário de 300 anos da cidade de Manaus. Porém, em
24 de outubro 1998 as mesmas autoridades comemoraram o “Sesquicentenário de Manaus”, isto
é, os 150 anos da cidade de Manaus. Pelo festejo anterior dever-se-ia estar celebrando pelo
menos os 329 anos da cidade.
Hoje, comemoram-se os 336 anos da cidade. Tentarei explicar essa confusa trajetória.
Os antigos cronistas e os autores mais recentes estão de acordo de que a Fortaleza da Barra do
Rio Negro foi fundada em 1669, mesmo sem uma documentação comprobatória. Em volta dessa
edificação militar se desenvolveu um verdadeiro “curral de índios”, local onde era amontoado o
produto das caçadas humanas, transformado em plantel de escravos à espera do momento
adequado para serem transportados para Belém.
Além do “curral de índios” que se compunha de uma população transitória, no entorno
da Fortaleza também se desenvolveu um aldeamento composto principalmente pelos índios
Baníuas, Barés e Passés oriundos dos rios Içana, Negro e Japurá, que passaram a viver na
condição de índios aldeados. O conjunto Fortaleza da Barra e o seu entorno em 1790 abrigou a
sede da Capitania do Rio Negro no governo de Lobo d’Almada (1788-1799) com a
denominação de Barra do Rio Negro. No entanto, oito anos mais tarde perdeu essa condição,
sendo dessa forma rebaixada à categoria de um simples Lugar, pois a sede do governo voltou a
ser a vila de Barcelos. Voltando, entretanto, à condição de sede do governo por volta de 1808, e
assim se manteve até o fim do período colonial.
Com a incorporação do Estado do Grão-Pará e Rio Negro ao Império brasileiro, em
1823, a Capitania do Rio Negro foi transformada numa simples Comarca da Província do Pará;
não obstante isso, a Barra do Rio Negro continuou sendo a sede dessa jurisdição. No inicio da
década de 1830, houve uma mudança no Império em termos político-administrativo; por conta
disso, a Comarca do Rio Negro mudou de denominação, passando a ser chamada de Comarca
do Alto Amazonas, cuja sede foi novamente, em 25 de julho de 1833, elevada a condição de
ViIa com a denominação de Manaus.
Em 1848, a Assembléia Provincial Paraense, através da lei N.o 145 de 24 de outubro
desse ano, elevou Manaus à categoria de Cidade com a denominação de Nossa Senhora da
Conceição da Barra do Rio Negro. Somente pela Lei N.o 68, de 4 de setembro de 1856, de
autoria do deputado João Ignácio Rodrigues do Carmo, foi que a cidade passou a ser
definitivamente denominada de Manaus.
Portanto, temos agora as chaves para as duas idades da cidade de Manaus. A da
fundação da Fortaleza da Barra do Rio Negro, 1669; e a elevação de Manaus à categoria de
cidade, em 24 de outubro de 1848. Na primeira, mesmo com a incerteza, tem-se o ano; na
segunda, tem-se o dia o mês e um ano; entretanto, ambas não correspondem à verdade histórica
que se procura acerca do nascimento da cidade.
Se se contar da fundação da Fortaleza, Manaus completaria, hoje, 336 anos de idade; se
se contar da elevação à categoria de cidade, Manaus teria, hoje, 157 anos. Para pôr fim a essa
situação desconfortável, alguns poucos preocupados com as festas solenes do evento
patrocinadas pelas verbas públicas resolveram “franksteinear” a data do aniversário natalício da
cidade, passando a ser contado, a partir de 24 de outubro de 1669. O dia e mês de um evento e
o ano de outro. Éis o imbróglio.
Na realidade inventaram um dia de feriado ao arrepio da História, quase característico
daquilo de o historiador inglês Eric Hobsbawm definiu como “tradição inventada”, que seriam
as práticas, muitas vezes tácitas, que visam a inculcar certos valores e normas de
comportamento através da repetição. Neste caso o subentendimento cedeu ao escancaramento.
Virou lei.
Não sei se esse tipo de questionamento leva a algum lugar. Em todo caso, já que as
elites que dominam o poder público manauense e amazonense necessitam tanto desses tipos de
eventos cívicos para exercitarem seus discursos carregados de nativismo piegas, deveriam criar
outros feriados, a exemplo da elite política nacional que festeja o Descobrimento do Brasil, em
22 de abril e a Independência, em 07 de setembro. No caso de Manaus, uma festa para a
Origem de Manaus (não para fundação), e outra para a Elevação de Manaus à categoria de
Cidade. Assim tudo fica “bonitinho dentro do vidrinho” (bordão de um comunicador local), e se
põe fim essa embrulhada. Contudo, o evento da Origem necessita de pesquisas, que o poder
público deveria incentivar.
Finalmente, ainda nessa linha de raciocínio “cívico”, não caberia ainda, a criação do
feriado comemorativo ao Descobrimento do Amazonas: o dia em que o bergantim do espanhol
Francisco de Orellana penetrou no rio Amazonas?”
SANTOS, Francisco Jorge dos. Artigo publicado em CD-ROM no Jornal do Commercio nos
dias 22, 23 e 24.10.2005, em Manaus.
MATOS, João Henrique de (1979). “Relatório do Estado de Decadência em que se acha o Alto
Amazonas”. Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. N.o 325, p. 140-180.
Documento publicado com Apresentação de Arthur Cezar Ferreira Reis, sob o título de O
Amazonas em 1845.
MIRANDA, Bertino de (1984). A Cidade de Manáos – sua história e seus motins políticos
(1700 – 1852). Edição Fac-similada. Manaus: Editora Calderaro.
MOREIRA NETO, Carlos de Araújo (1992). “Igreja e Cabanagem (1832-1849)”. In:
HOONAERT, Eduardo (Coord.). História da Igreja na Amazônia. Petrópolis: Vozes.
OLIVEIRA, Adélia Engrácia de (1983). “Ocupação Humana”. In: SALATTI, Enéas et alii.
Amazônia: desenvolvimento, integração e ecologia. São Paulo: Brasiliense; Brasília: CNPq, p.
145-325.
PRADO JÚNIOR, Caio (1953). Evolução Política do Brasil e Outros Estudos. São Paulo:
Brasiliense.
REIS, Arthur Cezar Ferreira (1999). Manáos e Outras Villas. 2.ª edição. Manaus, Governo do
Amazonas / Edua.
_______ (1989) 2.ª edição. História do Amazonas. Belo Horizonte / Manaus: Itatiaia /
Superintendência Cultural do Amazonas.
WALLACE, Alfred Russel (1979). Viagens pelos rios Negro e Amazonas. São Paulo / Belo
Horizonte: Edusp / Itatiaia.
Capítulo 10
Conforme Regina Márcia Lima e Arthur Reis, somente em 1839 o assunto voltou a
ser debatido na Câmara dos Deputados, quando um novo projeto foi apresentado por
outro deputado paraense, João Cândido de Deus e Silva. Por esse projeto a Comarca do
Alto Amazonas seria transformada em Província do Rio Negro, porém de segunda
ordem, isto é, associada à Província do Pará, com território e limites iguais ao da
Comarca do Alto Amazonas. Como se pode perceber, este projeto continha alguns
dispositivos que mantinham, dissimuladamente, certa subalternidade da futura província
em relação à do Pará.
É necessário lembrar que a Comarca do Alto Amazonas, neste período, ainda vivia
o desassossego da Cabanagem. O movimento cabano tornou visível a fragilidade do
governo paraense em administrar um território tão extenso quanto era o da Província do
Pará (formada pelos territórios dos atuais estados do Pará, Amapá, Amazonas e
Roraima).
No caso do Alto Amazonas, o governo provincial, mesmo contando com intensa
ajuda de membros da elite dessa região, necessitava enviar e manter tropas e autoridades
judiciais, o que representava um pesado ônus ao tesouro da Província. Desse modo, a
dominação política, tal qual as autoridades de Belém vinham praticando em relação à
Comarca do Alto Amazonas, não compensava mais as despesas com a sua manutenção.
Era necessário outro mecanismo para manter a dominação política, sem, entretanto,
arcar com os gastos para tê-la. O projeto de João Cândido de Deus viria, assim, ao
encontro das necessidades e dos interesses que o governo paraense apresentava naquele
contexto.
As Polêmicas
* * *
Arthur Reis, advoga que presidente Tenreiro Aranha, embora não tivesse
experiência em altos cargos administrativos, possuía um vasto trabalho no legislativo,
tanto no Parlamento Provincial, quanto no Imperial, destacando-se no último, onde
defendera veementemente a autonomia do Amazonas. Atributos que foram
reconhecidos pelo governo central que o nomeou par exercer o mais alto cargo da nova
Província.
Em verdade, a escolha de Tenreiro Aranha encaixava-se aos tradicionais ditames da
política imperial. Desse modo, a nova Província começava a servir aos interesses do
governo central, da elite paraense, bem como dos partidos Conservador e Liberal. Essas
diferentes estruturas de poder tinham, agora, um novo espaço político a utilizar.
Imagem 54.
E que “o sistema eleitoral foi um dos meios mais eficazes dos quais o governo
imperial pode se servir para exercer o controle político nas Províncias”. No caso do
Amazonas não foi diferente, “os ímpetos centralizadores da política imperial” foram
materializados, sobretudo, através do sistema eleitoral. Assim, antes de se completarem
três meses de sua instalação, a Província do Amazonas já se encontrava dividida em
paróquias, freguesias e colégios eleitorais, completando sua integração oficial ao
Império, instrumentos pelos quais a Monarquia pôde exercer o controle político da
Província.
Durante o Segundo Reinado a grande maioria dos representantes do Amazonas,
tanto na Câmara dos Deputados, quanto no Senado, eram agentes do poder central e de
interesses partidários, isto é, homens oriundos de outras regiões do Brasil, que passavam
pelo Amazonas apenas cumprindo um estágio que lhes permitiria avançar na carreira
política.
Imagem 55.
“Dom Pedro, por graça de Deus e Unanime aclamação dos Povos, Imperador Constitucional e
Defensor Perpétuo do Brasil, fazemos saber a todos os Nossos Súditos, que a Assembléia Geral
Decretou, e Nós Queremos a Lei seguinte”:
Artigo 2.º – A nova Província terá por Capital a Vila da Barra do Rio Negro, em quanto a
Assembléia respectiva não decretar a sua mudança.
Artigo 4.º – O Governo fica autorizado para criar na mesma Província as Estações Fiscais
indispensáveis para a arrecadação, e administração das rendas gerais, submetendo-as depois ao
conhecimento da Assembléia Geral para sua definitiva aprovação.
Lei N.º 582, de 5 de setembro de 1850, que elevou a Comarca do Alto Amazonas à categoria
de Província. (Ortografia parcialmente atualizada).
OLIVEIRA, Adélia Engrácia de (1983). “Ocupação Humana”. In: SALATTI, Enéas et alii.
Amazônia: desenvolvimento, integração e ecologia. São Paulo / Brasília: Brasiliense / CNPq, p.
145-325.
REIS, Arthur Cezar Ferreira (1999). Manáos e Outras Villas. 2.ª edição. Manaus: Governo do
Amazonas / Edua.
_______ (1989). História do Amazonas. 2.ª edição. Belo Horizonte / Manaus: Itatiaia /
Superintendência Cultural do Amazonas.
ANEXO 2
1.º) João Batista de Figueiredo Tenreiro Aranha (1852). Manuel Gomes Corrêa de Miranda, 1.º
vice (1852-1853);
2.º) Herculano Ferreira Pena (1853-1855). João Pedro Dias Vieira, 1.º vice (1855-1856);
3.º) João Pedro Dias Vieira (1856-1857). Manuel Gomes Corrêa de Miranda, 1.º vice (1857);
4.º) Ângelo Tomás do Amaral (1857). Afastado em maio de 1857, reassumiu em setembro do
mesmo ano. Joaquim Gonçalves de Azevedo, 2.º vice (1857);
5.º) Francisco José Furtado (1857-1858). Afastado em outubro de 1858, reassumiu em
novembro do mesmo ano. Joaquim Gonçalves de Azevedo, 2.º vice (1858). Manuel Gomes
Corrêa de Miranda, 1.º vice (1859-1860);
6.º) Manuel Clementino Corrêa da Cunha (1859-1859). Manuel Gomes Corrêa de Miranda, 1.º
vice (1863);
7.º) Sinval Odorico de Moura (1863-1864);
8.º) Adolpho Barros Cavalcanti de Albuquerque e Lacerda (1864-1865). Innocêncio Eustáquio
Ferreira de vice 4.º (1865). Manuel Gomes Corrêa de Miranda, 1.º vice (1865).
9.º) Antônio Epaminondas de Melo (1865-1867). Afastado em junho de 1866, reassumiu em
novembro do mesmo ano. Gustavo Adolpho Ramos Ferreira, vice do 9.º (1866). Sebastião José
Basílio Pyrro, vice (1867). João Ignácio Rodrigues do Carmo, 4.º vice (1867). José Bernardo
Michilles, 2.º vice (1867);
10.º) José Coelho da Gama e Abreu (1867-1868);
11.º) Jacinto Pereira do Rego (1868). Leonardo Ferreira Marques, 1.º vice (1868);
12.º) João Wilkens de Mattos (1868-1870). Clementino José Pereira Guimarães, 3.º vice (1870);
13.º) José de Miranda da Silva Reis (1870-1872);
14.º) Domingos Monteiro Peixoto (1872-1875). Nuno A. Pereira de Mello Cardoso, 1.º vice
(1875);
15.º) Antônio dos Passos Miranda (1876-1876). Gabriel Antônio Ribeiro Guimarães, 2.º vice
(1876). Nuno A. Pereira de Mello Cardoso, 1.º vice (1876);
16.º) Domingos Jacy Monteiro (1876-1877);
17.º) Agesiláo Pereira da Silva (1877-1878). Gabriel Antônio Ribeiro Guimarães, vice (1878).
Guilherme José Moreira, vice (1878);
18.º) Rufino Eneías Gustavo Galvão (Barão de Maracaju) (1878-1879). Romualdo de Souza
Paes de Andrade, 1.º vice (1879);
19.º) José Clarindo de Queiroz (1879-1880);
20.º) Satyro de Oliveira Dias (1880-1881);
21.º) Alarico José Furtado (1881-1882. Romualdo de Souza Paes de Andrade, 2.º vice (1882);
22.º) José Lustosa da Cunha Paranaguá (1882-1884). Guilherme José Moreira, 1.º vice (1884);
23.º) Theodoreto Carlos de Faria Souto (1884). Joaquim Paes da Silva Sarmento, 2.º vice (1884;
24.º) José Jansen Ferreira Júnior (1884-1885). Clementino José Pereira Guimarães, 1.º vice
(1885);
25.º) Ernesto Adolpho de Vasconcellos Chaves (1885-1887). Clementino José Pereira
Guimarães, 1.º vice (1887);
26.º) Conrado Jacob de Niemeyer (1887-1888);
27.º) Francisco Antônio Pimenta Bueno (1888). Antônio Lopes Braga, 2.º vice (1888).
Raimundo Amâncio de Miranda, 3.º vice (1888);
28.º) Joaquim Cardoso de Andrade (1888). Raimundo Amâncio de Miranda, 2.º vice (1888-
1889);
29.º) Joaquim de Oliveira Machado (1889);
30.º) Manuel Francisco Machado (1889).
Fonte: Arthur Cezar Ferreira Reis. História do Amazonas. 2.a edição. Belo Horizonte / Manaus:
Itatiaia / Governo do Amazonas, 1989, p. 256 - 262.
UNIDADE III – O AMAZONAS IMPERIAL BRASILEIRO
Capítulo 11
Capítulo 11
“O algodão, o anil, o café, a mandioca e o tabaco teve (sic) cultura tal que dava para
ouso e consumo,e sobrava para a exportação em grande quantidade (...) Agora o café, a
mandioca e o algodão mal chega (sic) para o consumo, e todos os outros gêneros e
artefatos, à falta de cultura têm desaparecido (...)” (In: Relatórios da Presidência. Vol.
I, p. 42 e 43. Apud LIMA, 1978).
“Procede a esse fenômeno de que todas as forças vivas da população dirigem-se quase
exclusivamente a extração dos produtos silvestres – a seringa, o cacau, os deferentes
óleos, o guaraná, a castanha, o cravo a salsa e outras muitas drogas cuja exportação
avulta à proporção que decresce a dos produtos da lavoura” (In: Relatórios da
Presidência. Vol. III, p. 143. Apud LIMA, 1978).
Atividades Agrícolas
Atividades Extrativistas
Imagem 56.
Atividades Comerciais
A Lei N.o 601, de 18 de setembro de 1850, conhecida como Lei de Terras, de 1850,
transformou a terra em mercadoria, estabelecendo que a terra devoluta só poderia ser
ocupada através de título de compra, portanto, instituiu-se oficialmente a propriedade da
terra no Brasil. Na Província do Amazonas essa questão assumiu configuração
diferenciada do restante do País, pois, deu-se pouca importância à propriedade de terras.
Esta realidade foi também objeto de preocupação dos presidentes da Província.
Patrícia Sampaio, cita o exemplo de 1857, quando o presidente Ângelo Thomas do
Amaral informou a Assembléia Legislativa Provincial que o segundo prazo para a
revalidação das posses de terras já tinha terminado sem que nenhum posseiro da capital
tivesse comparecido para requerer a medição de suas terras. No ano seguinte outro
presidente preocupado com as determinações do Ministério da Agricultura relativas à
regularização da posse de terras devolutas disse em seu Relatório:
“O pouco ou nenhum valor que aqui tem as terras, e as grandes despesas que demanda
sua medição fez com que na parochia da capital onde seiscentas posses se derão
registro, ninguém requeresse uma só medição” (In: Relatórios da Presidência, vol. II, p.
35 e 36. Apud LIMA, 1978).
“Os sistemas de usos da terra existentes na região requeriam para sua reprodução a
incorporação permanente de novas áreas de cultivo. Esse caráter é ainda mais
acentuado, quando tratamos das atividades de extração que também não passam pela
definição de propriedade proposta pela lei de 1850. Talvez seja essa uma boa
possibilidade para explicar o desinteresse dos proprietários das 2.661 posses registradas
na Província em regularizar sua situação, como também para ajudar a compreender o
baixo valor das propriedades” (SAMPAIO. 1997, p. 96).
Cf. Decreto Imperial N.o 426, de julho de 1945 – Regulamento a cerca das Missões de
catequese, e civilização dos Índios.
* * *
Nas quase quatro décadas de vida provincial, a sociedade amazonense passou por
sensíveis mudanças. Se no período de 1852 a 1870 ainda mantinha os resquícios do
período anterior à instalação do aparato provincial e se debatia, não somente com a
dependência política, mas também econômica em relação ao Pará, a partir de meados da
década de 1870 começou a experimentar um novo momento, com a ascensão da
borracha. Sua composição étnica e demográfica modificou-se com a imigração
nordestina, que se espraiou pelos mais diferentes rincões da Província. Testemunhou,
ainda, o início de uma clara diferenciação entre as demais localidades do Amazonas e
Manaus, tornando-se esta o símbolo de prosperidade do novo momento.
Portanto, entre 1850 e 1870, o salto demográfico foi de 27.636 habitantes. Porém, a
maior onda migratória de nordestinos que ocorreu para a Amazônia e,
conseqüentemente, para o Amazonas, deu-se nos anos de 1877-1879 e 1888-1889,
períodos de terrível seca que assolou o Nordeste. Nos dados fornecidos por Patrícia
Sampaio para a população do Amazonas, observa-se que em 1890, a população chegou
à cifra de 147.915 habitantes.
É necessário lembrar que, além da imigração nordestina, houve, ainda, as
imigrações estrangeiras, cujos maiores contingentes eram formados pelos portugueses.
Registra-se, ainda, a entrada de espanhóis, alemães, italianos, judeus sefarditas, sírio-
libaneses, mas todos esses estrangeiros imigraram em escala reduzida, se comparados
aos portugueses.
Comparando os dados populacionais de 1850 e 1890, para o período provincial
amazonense, o aumento demográfico foi significativo e, conforme os autores e citados,
tal crescimento demográfico no Amazonas deveu-se à expansão gomífera.
Segundo Antônio Loureiro, quando foi instalada a Província, a Barra do Rio Negro
contava com 5.081 habitantes. Ao findar o período provincial, a população de Manaus
era estimada em 38.720 habitantes. Seu crescimento demográfico foi de 33.319
habitantes, beneficiando-se, também, das ondas migratórias causadas pela demanda do
“ouro negro”.
A chegada desse imenso contingente de imigrantes nordestinos não alterou apenas
o quadro populacional. Em termos culturais, os nordestinos abrasileiraram o
Amazonas. Eles tornaram a língua portuguesa o instrumento de comunicação mais
largamente utilizado. Pela primeira vez, a língua portuguesa ganhava destaque oral ante
o Nheengatu (língua geral) e outras línguas indígenas. Uma parte desses contingentes
imigrantes, ao se miscigenar com a maior parcela da população nativa do Amazonas –
formada por mestiços e índios destribalizados –, fundiu-se hábitos alimentares, técnicas
de trabalho, modos de falar, valores religiosos, artesanato etc. Enfim, ao introduzirem
seus hábitos, não deixaram de assimilar os de origem nativa, adaptando-se às novas
condições em que foram inseridos.
Euforia e Transformação
Imagem 58.
Outro indicador da euforia dos governantes pode ser notado no período de 1880 a
1881, quando as concessões de terras, juntamente com a expedição de títulos de
propriedades, foram maiores do que as registradas nas primeiras décadas da Província.
O que demonstra a ansiedade de uma elite em defender interesses próprios frente à
política que envolvia a ascensão gomífera.
Um segundo e importante desdobramento da expansão do setor gomífero, refletiu-
se no imaginário da elite que criara fortes vínculos com o Amazonas. Tornava-se
imperioso criar um símbolo que manifestasse o novo momento que o Amazonas passava
a viver. Nesse contexto, Manaus, por ser a capital da província, apresentava condições
de transformar-se no almejado símbolo da euforia amazonense.
Segundo a historiadora Regina Márcia Lima, a necessidade de reformar Manaus
foi um dos temas mais debatidos na Assembléia Legislativa Provincial, pois somente
assim sua cidade poderia “parecer com as demais capitais do Império”, uma vez que,
para os parlamentares, tudo deveria estar “condigno com sua civilização e
desenvolvimento”. Essas observações eram extensivas a algumas vilas do interior, que,
por sua vez, irradiariam a “civilização da borracha” por todo o Amazonas.
Porém, antes mesmo que a borracha alcançasse a projeção que veio a ter em fins
da década de 1870, a elite que se arraigara no Amazonas, principalmente sua parcela
domiciliada em Manaus, começava a nutrir o desejo de expurgar do espaço urbano
todos os elementos que consideravam indesejáveis.
Começava a incomodar a elite branca o fato de Manaus parecer mais uma aldeia do
que uma cidade, uma vez que a esmagadora maioria de seus habitantes era formada de
índios e mestiços, que davam os tons culturais da capital da Província do Amazonas.
Assim, tornava-se imperioso para a minoria branca eliminar a fisionomia índia que
Manaus possuía. Nesse período reiniciou-se o processo gradativo de ocidentalização da
elite que, embora lento, entrava em choque com formas culturais nativas, de fortes
raízes indígenas.
Na ótica daquela minoria econômica e politicamente dominante, a situação se
agravava pela ausência de uma estrutura urbana que permitisse a separação física entre
os dois modos de vida. O espaço de Manaus – dividido em cinco bairros (Campinas,
São Vicente, Remédios, Espírito Santo e República) – era ocupado por índios,
mamelucos, portugueses, negros em número reduzido, imigrantes nacionais e
estrangeiros, sem distinção de classe, cor ou profissão.
Imagem 59.
Para essa elite, o aspecto físico da capital da Província deveria passar por
transformações radicais, que atendessem as suas aspirações ocidentalizantes. A partir
dos dados fornecidos pela historiadora Edinéa Mascarenhas Dias, sobre as condições
físicas que Manaus tinha no período de 1850-1880, é possível observar os motivos de
tanta preocupação: porto precário, trapiches de madeira, pontes de madeira no centro da
cidade, prédios públicos em ruínas ou construídos fora do estilo que a “modernidade”
exigia, ruas estreitas e desniveladas, iluminação a gás, calçamentos irregulares e de
madeira, sem rede de esgoto, sem saneamento, com um serviço de navegação
deficiente, etc. Enfim, tudo estava para ser feito, dentro da nova função que a cidade
assumia.
O aparelho de Estado, que se inseria e se identificava ao processo de
ocidentalização, foi o suporte institucional para implementar, racionalmente, as
transformações almejadas pelo setor economicamente dominante. As rendas oriundas do
negócio gomífero, que começaram a afluir mais abundantemente aos cofres do governo
provincial, possibilitaram os primeiros momentos da urbanização de Manaus.
Graças ao investimento governamental é que foi possível a realização do
calçamento de ruas, construção de pontes, aterros de áreas alagadiças, início dos
serviços de esgoto e de abastecimento de água encanada, melhoramento do serviço de
iluminação pública; construção do Hospital da Caridade (1880), do novo mercado
(1883), do novo quartel (1884), do Paço da Câmara (1885), do Liceu (1886), da Igreja
de São Sebastião (1889); e reforma do Palacete Provincial (1880 e 1884). Desse modo,
a capital da Província iniciava uma reorganização do espaço urbano e começava a
ganhar timidamente ares europeus. No fatal confronto de modus vivendi tão
diferenciados, a face indígena de Manaus recebia os primeiros golpes de um modelo
social que lhe negava o direito de expressão cultural.
Imagem 60.
Imagem 61.
A primeira ação nesse sentido foi em 1878, quando o governo amazonense, a fim
de atrair para Manaus investimentos de firmas que atuavam em Belém, estabeleceu um
imposto diferencial sobre as exportações de borracha. O que essa medida significava?
Significava que a borracha amazonense, embarcada para o exterior diretamente de
Manaus, pagaria uma taxa ligeiramente abaixo à daquela que fosse exportada de Belém.
Apesar da medida não alcançar o objetivo desejado, a administração amazonense
não desistiu de seus intentos. Desse modo, em 1885, criou uma nova tarifa que
proporcionava uma diferença considerável de 5% a todo aquele que exportasse borracha
diretamente de Manaus, além de conceder subsídios às companhias de navegação que
pusessem em operação barcos a vapor entre Manaus, Nova Iorque e Liverpool. Nesse
caso, as companhias de navegação Booth e Red Cross foram beneficiadas com tal
medida.
As novas medidas surtiram o efeito esperado, uma vez que, já em 1886, a
participação de Manaus no total das exportações da borracha subiu de 7% para 11%, e
tendia a se elevar ainda mais.
“A sorte do alto rio Negro e dos importantes afluentes Uaupés e Içana é da desolação se
não tomar-se de pronto, as mais enérgicas providências que protejam e favoreçam os
índios: esta riquíssima região da Amazônia será reduzida a um estéril e triste deserto”
(ARANHA. Apud SANTOS, 2000, p. 136).
Porém, é preciso lembrar que não basta comparar números para avaliar o
significado da presença de escravos na economia e na sociedade amazonense. Os
escravos foram utilizados nos trabalhos agrícolas, nos trabalhos domésticos (lavadeiras,
cozinheiras, engomadeiras, costureiras, amas de leite), como “negros de ganho”,
desempenhando seus ofícios para manutenção de seus senhores; foram alfaiates,
ourives, ferreiros, sapateiros, carpinteiros, pedreiros, calafates, vendedores de frutas e
guloseimas, trabalharam como carregadores, foram incorporados aos trabalhos de
construção de obras públicas em Manaus.
A essa altura do século XIX, a presença de escravos vindos diretamente da África
era pequena. A maior parte dos registros indica que eram procedentes de localidades da
Amazônia como Santarém, Óbidos, Belém e mesmo nascidos no Amazonas. Até o
momento, não existem estudos que analisem, as diferentes formas de vivências escravas
no Amazonas e, é por essa razão, que pouco sabemos de seu cotidiano e também de suas
estratégias de resistência à escravidão.
* * *
BASTOS, A. C. Tavares, O Vale do Amazonas. Belo Horizonte: Itatiaia, 2000, p. 106 e 110.
Indicações para Leitura
BASTOS, Aureliano Cândido Tavares (2000). O Vale do Amazonas. Belo Horizonte: Itatiaia.
DIAS, Edinea Mascarenhas (1999). A Ilusão do Fausto - Manaus (1890-1920), Manaus: Valer.
LOUREIRO, Antônio José Souto (1978). Síntese da História do Amazonas. Manaus: Imprensa
Oficial.
PINHEIRO, Luís Balkar S. P. (1999). “De Mocambeiro a Cabano: notas sobre a presença negra
na Amazônia na primeira metade do século XIX”. Terra da Águas. N.o 1. Brasília: UnB, p. 148-
172.
REIS, Arthur Cezar Ferreira (1999). Manáos e Outras Villas. 2.ª edição. Manaus, Governo do
Amazonas / Edua
_______ (1989). História do Amazonas. 2.a edição. Belo Horizonte / Manaus: Itatiaia / Governo
do Amazonas.
SAMPAIO, Patrícia Melo e SANTOS, Maycon Carmo dos (Organizadores) (2006). “Catálogo
de Legislação Indígena das Províncias do Pará e Amazonas: uma compilação (1838-1889)”. In:
SAMPAIO, P. M. e ERTHAL, R.C. (Orgs.). Rastros da Memória – história e trajetória das
populações indígenas na Amazônia. Manaus: Edua / CNPq.
SANTOS, Francisco Jorge dos (2000). “Profetas, Militares e Sacerdotes: resistência e Repressão
no Alto Rio Negro”. Amazonas Em Cadernos, N.o 6. Manaus: Museu Amazônico / UFAM, 127-
158.
SANTOS, Francisco Jorge dos e SAMPAIO, Patrícia Melo. (Orgs.) (2002). Estado do
Amazonas em Verbetes (Ensino Fundamental). Manaus: Editora Novo Tempo.
SANTOS, Roberto (1980). História Econômica da Amazônia (1800-1920). São Paulo: T.A.
Queiroz.
Capítulo 12
O Seringal
Imagem 63.
Leitura do Esquema
- As alças em formato de gotas, representam as “estradas” de um seringal;
- Os números no interior das gotas, indicam a quantidade de seringueiras em cada “estrada”;
- Das cabanas sai um seringueiro para cada duas ou três “estradas”.
Imagem 64.
Barracão Axioma, rio Purus. Reproduzido do álbum A Cidade de Manaus e o País das
Seringueiras (Recordação da Exposição Columbiana, Chicago, 1893). Manaus: Associação
Comercial do Amazonas / Fundo Editorial, 1988.
Personagens do Seringal
O Seringueiro
Entretanto, para atingir esse objetivo o nordestino fez, literalmente, uma longa
caminha, a qual define a priori a sua condição econômica e humana no seringal.
Euclides da Cunha em sua obra À Margem da História descreve uma trajetória, a qual
poderia muito bem, ser considerada como a regra geral dessa realidade:
“No próprio dia em que parte do Ceará, o seringueiro principia a dever: deve a
passagem de proa até ao Pará (35$000), e o dinheiro que recebeu para preparar-se
(150$000). Depois vem a importância do transporte, num gaiola qualquer de Belém ao
barracão longínquo a que se destina, e que é na média, de 150$000. Aditem-se cerca de
800$000 para os seguintes utensílios invariáveis: um boião de furo, uma bacia, mil
tijelinha, uma machadinha de ferro, um machado, um terçado, um rifle (carabina
Winchester) e duzentas balas, dois pratos, duas colheres, duas xícaras, duas panelas,
uma cafeteira, dois carretéis de linha e um agulheiro. Nada mais. Ai temos o nosso
homem no barracão senhorial, antes de seguir para a barraca, no centro, que o patrão
designará. Ainda é um brabo, isto é, ainda não aprendeu o corte da madeira e já deve
1:135$000. Segue para o posto solitário encalçado de um comboio levando-lhe a
bagagem e víveres, rigorosamente marcados, que lhe bastem para três meses: 3 paneiros
de farinha-d’água, 1 saco de feijão, outro, pequeno de sal, 20 quilos de arroz, 30 de
charque, 21 de café, 30 de açúcar, 6 latas de banha, 8 libras de fumo e 20 gramas de
quinino. Tudo isso lhe custa cerca de 750$000. Ainda não deu um talho de machadinha,
ainda é o brabo canhestro, de quem chasqueia o manso experimentado, e já tem o
compromisso sério de 2:090$000” (CUNHA, 1999, p. 13).
O seringueiro depois que recebia a estrada, escolhia o ponto mais conveniente para
erguer o seu tapirí, que podia ser de moradia ou apenas para a preparação da borracha.
Neste último caso:
“consiste numa cabana toda de palha, sobre a terra batida, sem janelas, apenas com a
porta de entrada. O teto é, porém, em forma cônica, terminando por uma abertura que
permita o escape da fumaça que levanta da operação a que é submetido o látex” (REIS,
1997, p. 186).
Imagem 65.
Cotidiano do Seringueiro
Do Látex a Borracha
Seringueiro em plena atividade num tapirí. Reproduzida de Arthur C. Ferreira Reis, obra
citada, 1997, p. 171.
O produto final desse processo era uma grande bola pesada e de cor preta pelo lado
externo e amarelada no interior, classificada como borracha fina ou Pará fina –
borracha de primeira qualidade. A entrefina, era um tipo de borracha que apresentava
imperfeição no processo de coagulação e com grau elevado de impureza. O sernambi
virgem tratava-se de resíduos de látex que caiam no solo e se misturavam com a terra; e
o sernambi rama era formado pelo leite que escorria das incisões feitas na casca da
madeira. Ambos eram classificados como borracha de má qualidade.
“Cada seringueiro, na execução da sua tarefa, podia trabalhar entre 100 a 200 dias. Na
generalidade, 120 a 180 (...). Em regra, num bom seringal a produção por homem atinge
entre 1.200 a 1.500 quilos de borracha”. (REIS, 1997, p. 189).
O Seringalista
Seringueiro e Seringalista
Endividamento Perpétuo
Imagem 67.
Lógica do Endividamento
Sistema de Aviamento
Imagem 68.
Itinerário da Borracha
Casas Aviadoras
Imagem 69.
Casas Exportadoras
A autora informa ainda que, depois de passar pelas mãos do aviador, a borracha
se transferia para uma das casas exportadoras. A transação entre o aviador e o
exportador – a primeira a ocorrer invariavelmente em moeda sonante – podia ser feita
em consignação, caso em que a firma aviadora detinha a propriedade da borracha,
pagando ao exportador na base de comissão. Contudo, o mais habitual era que o
exportador adquirisse de vez a borracha. Geralmente, a firma exportadora atuava como
representante de companhias compradoras de borracha de Nova Iorque ou Liverpool,
embora algumas delas funcionassem independentemente. As firmas exportadoras
poderiam também funcionar secundariamente como agências bancárias informais e, de
forma mais limitada, como importadora.
Ao chegar ao porto de uma nação industrializada, a borracha, segundo Weinstein,
tornava-se propriedade da firma estrangeira que a comprara – último elo da corrente. O
importador de borracha – que não deve ser confundido com os importadores de Belém,
que atuavam essencialmente como armazenadores de secos e molhados estrangeiros –
era em geral responsável pelo pagamento do custo do transporte marítimo e de outras
despesas que ocorressem depois de a borracha ter deixado o Brasil. Essa companhia
realizava, então, a venda final da borracha ao fabricante, com quem possuía em geral
algum acordo preestabelecido.
UMA TRAJETÓRIA – “Octávio Reis era um velho e sábio sertanejo, capixaba de Carataízes,
que durante mais de cinqüenta anos sofreu e enricou nos seringais dos rios Abunã, Guaporé e
Acre, vivendo todos os ciclos da borracha. Imigrante nas últimas décadas do século passado
[XIX], percorreu todo o caminho da vida, paixão e morte do sertanejo-seringueiro: flagelado,
retirante, brabo, barrigudo, manso, comboieiro, mateiro, seringalista, até chegar ao cume de sua
carreira: Coronel de Barranco”.
Rumo ao Acre
O território do atual Estado do Acre achava-se até então habitada apenas por índios
tribais. Era uma região de fronteiras indecisas, isto é, de limites ainda não fixados entre
o Brasil e a Bolívia. O avanço dos seringueiros do Brasil na região chocou-se, nesse
território rico em seringueiras, com os vizinhos bolivianos que o ocupavam
nominalmente com alguns postos militares.
Em 1867 os governos brasileiro e boliviano assinaram o Tratado e Yacucho, para
viabilizar as demarcações de suas fronteiras internacionais, que começou em 1870.
Porém, devido à deflagração da “Guerra do Pacífico” em que a Bolívia foi a principal
protagonista os serviços de demarcações foram suspensos. Somente a partir 1894,
haveria disposição para o seu prosseguimento.
Nessa altura dos acontecimentos os seringueiros brasileiros já estavam em franca
expansão pelos rios Madeira, Purus, Acre e Juruá, extraindo o látex naquela região, que
se tornara uma nova e dinâmica fronteira econômica. Essa nova conjuntura fez com que
o Governo boliviano passasse a questionar o traçado das fronteiras que fora definido
pelo Tratado de 1867, impondo dessa forma, um novo traçado, o qual o Governo
brasileiro não aceitou, e novamente as demarcações foram suspensas. Entretanto, o
Governo brasileiro, em 1898, concordou que os bolivianos instalassem uma Alfândega
no rio Acre, em Puerto Alonso (atual Porto Acre).
Em Manaus o protesto foi geral, principiado por um editorial do Comércio do
Amazonas, que segundo Leandro Tocantins o propósito do jornal seria:
“a defesa dos interesses gerais do Amazonas, sem estar ligado a qualquer agremiação
política. Por isso vinha manifestar sua opinião sobre a projetada cedência de territórios
nacionais à vizinha República da Bolívia. E lança o enredo de uma bem maquinada
história (...). O assunto estava, agora, entregue a discussão pública” (TOCANTINS,
1979, p. 225).
Essa onda de reação ao estabelecimento de uma repartição pública boliviana no
Acre, foi, segundo Tocantins “ao encontro dos desejos secretos de governador Ramalho
Júnior, que não via com bons olhos as parcelas financeiras recolhidas no território
acreano sendo desviadas para o tesouro de La Paz”. Além disso, foi inflamado pelo
clamor popular que o levou a formalização de um protesto ao Governo Federal.
Segundo Arthur Reis, o Governo do Amazonas, “em longa e objetiva exposição,
reclamou, perante a Presidência da República, contra o que considerava um grave erro
e, mais que isso, uma autêntica traição aos interesses do País, ao mesmo tempo em que
importava violenta sangria nas suas rendas tributárias”. O País inteiro se voltou contra a
política externa do Governo Federal.
Não obstante, a aduana foi instalada. Ramalho Júnior tinha todos os interesses
possíveis envoltos no caso do Acre, inclusive o de desviar a atenção dos escândalos
políticos e financeiros praticados em sua administração, diligentemente, agiu no sentido
de não deixar prosperar a façanha boliviana, para tanto preparou uma ardilosa expedição
de caráter “para militar”, sob o comando de um certo espanhol, Luiz Galvez Rodrigues
de Arias, que no comando da população acreana, revoltada com a instalação do posto
aduaneiro da Bolívia no seu território, expulsou todos os funcionários bolivianos da
região e proclamou a República do Acre, em 14 de julho de 1899.
A respeito da montagem da “Expedição de Galvez”, Leandro Tocantins elaborou a
seguinte descrição:
Imagem 70.
* * *
REIS, Arthur C. Ferreira. A Amazônia e a cobiça internacional. 5.ª edição. Manaus / Rio de
Janeiro: Suframa / Civilização Brasileira, 1982, p. 127.
Imagem 71.
BORRACHA E ECOLOGIA
“As circunstâncias que cercaram o lançamento da lendária “ferrovia dos trilhos de ouro”
constituem uma página mais pungentes da história da engenharia pesada no Mundo. Em 1872, a
Public Work Construction Company, contratada na Inglaterra pelo presidente da primitiva
Madeira-Mamoré Railway Co., Ltd. – o arrojado Coronel George Church – iniciara os trabalhos
em Santo Antônio. Menos de um ano após, entrava com uma ação na Justiça inglesa visando a
recisão de contrato, sob a alegação de que fora ludibriada quanto às condições da região e à
extensão da ferrovia; dizia que a zona “era um antro de podridão onde seus homens morriam
qual moscas” e que “mesmo dispondo-se de todo o dinheiro do mundo e de metade da
população, seria impossível construir a estrada”.11 Em 1879, a firma norte-americana que a
substituíra, P. & T. Collins, após um ano e pouco de terríveis sofrimentos, abandonou as
atividades completamente falida, deixando atrás de si um cemitério de centenas de indivíduos
das mais diversas nacionalidades – norte-americanos, italianos, irlandeses, brasileiros do
Nordeste; não teve condições seque de recolher as máquinas, equipamentos e materiais que
importara com enorme sacrifício dos Estados Unidos. A malária e outras enfermidades, os
ataques de índios e o isolamento na floresta corroeram por inteiro as energias dos dirigentes,
engenheiros e trabalhadores. Uns trezentos norte-americanos puderam ainda retornar à sua
pátria, mas empobrecidos, fracos e depois de mendigar socorro público nas ruas de Belém. Em
1881, o Governo brasileiro decretou a caducidade da concessão dada ao Coronel Church. Até
então, o resultado da trágica aventura eram 7 quilômetros de linha, apenas /./ Quando, pois, pelo
Tratado de Petrópolis de 1903 – através do qual se pôs fim à disputa sobre o Acre – o Governo
do Brasil se comprometeu com a Bolívia a construir a estrada de ferro, não o fez sem certa
temeridade. O vencedor brasileiro da concorrência para a construção, Eng. Joaquim Catramby,
transferiu o contrato para uma firma recém-fundada nos Estados Unidos, a Madeira-Mamoré
Railway Co., do grupo Percival Farquhar, o mesmo da Companhia Port of Pará e do consórcio
de ferrovias Brazil Railway Company. A Madeira-Mamoré Railway Co. convocou para a
execução do trabalho a empresa especializada, também norte-americana, May, Jekyll &
Randolph, a qual em 1907 desembarcou às margens do Rio Madeira seu primeiros homens e
materiais. Em 1912 foi finalmente colocado o último trilho, os trens viajando de Porto Velho e
Guajará-Mirim, num percurso de 364 quilômetros /./ Quantos homens terão atuado na
construção da ferrovia durante as várias tentativas? Do tempo da Public Works não há registro.
Do período da P. & T. Collins, Manoel Rodrigues Ferreira – no estudo talvez mais completo
que se fez sobre a Madeira-Mamoré – informa o seguinte:” Dos Estados Unidos, chegaram a
Santo Antônio 716 pessoas, inclusive seis mulheres. Durante os 18 meses que ali
permaneceram, faleceram 141. Neste número não estão computados os 80 que faleceram no
naufrágio do Metrópolis. Na construção trabalharam cerca de 200 índios bolivianos e 500
cearenses, num total de 700 trabalhadores. Não foi feito um registro dos que morreram entre
estes (...) Com base nessa informação [de Craig], podemos considerar que o número de
bolivianos e cearenses falecidos deve ter sido o dobro dos norte-americanos, ou seja,
provavelmente 300. O total de mortos entre o pessoal norte-americano e brasileiros, deve ter
chegado, pois, a cerca de 450 ou 500.”12 Na fase brasileira, empreitada com o grupo Faquhar,
foram contratados 21.883 indivíduos ao longo de seis anos, compreendendo brasileiros e
estrangeiros/:/ (...) A maioria de trabalhadores compunha-se de estrangeiros. Eram aliciados
pela companhia nos mais diversos países. Predominava os contingentes das Antilhas e
Barbados, seguindo-se os espanhóis. Portugueses, gregos, italianos, franceses, hindus, húngaros,
poloneses, dinamarqueses e homens de outras nacionalidades também estavam presentes/./ (...)
No início de 1908, 95% da população de Porto Velho estava atacada de malária. Os médicos e
engenheiros não esperavam dos trabalhadores mais que 90 dias de trabalho, pois a média do
trabalho de um homem “era de um semi-inválido”, diz o especialista. Osvaldo Cruz registrara
entre as moléstias a área o impaludismo, o beribéri, a febre hemoglobinúrica, a desinteira, a
ancilostomose e a pneumonia/./ Conta Manoel Rodrigues Ferreira: “seria necessário conseguir
novos trabalhadores todos os meses. Estas levas que chegassem mensalmente substituiriam os
mortos e inutilizados”. Era impossível contar com um número fixo de trabalhadores”.
11. Cf. Neville B. Craig, Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, história trágica de uma expedição, trad. Brasileira, Editora Nacional,
col. Brasiliana, São Paulo, 1947, p. 55.
12. Manoel Rodrigues Ferreira, A ferrovia do diabo, história de uma estrada de ferro na Amazônia, Edições Melhoramentos, São
Paulo, 1959 (?), p. 139.
SANTOS, Roberto. História Econômica da Amazônia (1800-1920). São Paulo, T.A. Queiroz,
1980, p. 93 a 96.
REIS, Arthur Cezar Ferreira. (1989). História do Amazonas. 2.ª edição. Belo Horizonte: Itatiaia,
Manaus: Superintendência Cultural do Amazonas.
________ (1982). A Amazônia e a Cobiça internacional. 5.ª edição. Manaus / Rio de Janeiro:
Suframa / Civilização Brasileira.
SANTOS, Roberto (1980). História Econômica da Amazônia (1800-1920). São Paulo: T.A.
Queiroz.
TOCANTINS, Leandro (1982). Amazônia – natureza, homem e tempo: uma planificação
ecológica. 2.ª edição.Rio de Janeiro: Civilização Brasileira / Biblioteca do Exército.
________ (1979) Formação Histórica do Acre. 3.a edição. Rio de Janeiro / Brasília / Rio
Branco: Civilização Brasileira / INL / Governo do Acre. Vols. I e II.
UNIDADE IV
Capítulo 13
As bicicletas
Os Automóveis
As Indústrias da Borracha
Os Números da Borracha
BOOM DA BORRACHA – O termo Boom, deve ser traduzido do inglês como “uma súbita
explosão de prosperidade”. Apesar da sua imprecisão, já se tornou corrente na história
econômica brasileira, levando os economistas a definirem como um “período de rápida e
elevada expansão das atividades econômicas, geralmente acompanhada de grande especulação,
especialmente de ações e títulos. Como o nível geral dos negócios apresenta uma tendência à
flutuação, variando segundo fatores econômicos e também políticos e sociais, os períodos de
prosperidade ou boom são geralmente seguidos de momentos de recessão ou, às vezes, de crise
profunda ou depressão”. O termo boom foi utilizado indiscriminadamente na literatura
econômica da borracha amazônica: para uns, o período do boom da borracha se estendeu por
cerca de três décadas; para outros, foi apenas o primeiro semestre de 1910. Há ainda aqueles que
utilizam o termo Boom como sinônimo de “ciclo da borracha”. Barbara Weinstein considera os
últimos anos da década de 1870 como os que assinalam o início da expansão da borracha (Cf.
WEINSTEIN, 1993, p. 89 e 323; Cf. SANDRONI, 1989, p. 28).
Imagem 72.
Henry Wickham. Reproduzido de Berta G. Ribeiro. Amazônia Urgente. 2.a edição. Belo
Horizonte: Itatiaia, 1992, p. 166.
“Nem só fatos negativos podem ser assinalados, entretanto, encarando com realismo o ciclo da
borracha, que é uma era em agonia. Há outros, de grande significação, que não podem ser
esquecidos:
1). No plano internacional, a borracha amazônica abriu uma grande frente industrial no mundo
de que o automóvel e os artefatos de cirurgia (luvas, sondas, etc.) são testemunho.
2). No plano nacional, contribuiu efetivamente para aumento da receita nacional (só a borracha
acreana pagava 23% ad valorem para os cofres federais), aumento que deve ter concorrido, no
período da República, para consolidação das finanças públicas (governo Campos Sales, tendo
como Ministro da Fazenda Joaquim Murtinho), e logo depois para o programa de obras que
imortalizou o governo Rodrigues Alves.
3). Também no plano nacional, resultou do ciclo da borracha a incorporação do atual Estado do
Acre, após um período revolucionário sangrento, estimulado pelos governos do Estado do
Amazonas (governadores Ramalho Júnior e Silvério Néri), contrariando a política então adotado
pelo governo central. A incorporação foi promovida, entretanto, fundamentalmente, pelos
próprios povoadores, tendo como líder o gaúcho Plácido de Castro, cujo centenário se
comemorou, com festas merecidas, a 12 de dezembro de 1973. Depois, a diplomacia brasileira,
já sob o comando do Barão do Rio Branco, celebrou o Tratado de Petrópolis, em 17 de
novembro de 1903, de que resultou a indenização de 2 milhões de libras esterlinas à Bolívia,
uma compensação em terras na fronteira de Mato Grosso e a construção da Estrada de Ferro
Madeira-Mamoré, abrindo uma saída da Amazônia Boliviana para o Atlântico. Essa ferrovia foi
construída a duras penas, sendo inaugurada em 1913, tendo sido, infelizmente, um grande
empreendimento que se frustrou em conseqüência da perda do valor econômico da borracha.
Ficaram porém as sementes de duas cidades nas pontas da linha: Porto Velho, que está se
tornando, na verdade, uma capital, e Guajará-Mirim, à margem do rio Guaporé, no limite
ocidental do Brasil.
4). Outro fato de grande significação, que deve ser creditado à borracha, foi o desenvolvimento
da cidade de Manaus, que possuía, em 1889, quando da proclamação da República, apenas
15.000 habitantes, e de que o governador Eduardo Ribeiro podia se orgulhar de dizer, no fim do
século, que tinha encontrado uma aldeia, deixando uma cidade (...). O presidente Afonso Pena
tinha razão, mesmo, ao dizer que Manaus era uma revelação /./ Em realidade, Belém se
beneficiou muito com a era da borracha, mas já tinha, então, condições de metrópole, que
assumira desde o tempo da colônia, consolidando-se enquanto Antônio Lemos foi intendente
(hoje prefeito), de 1900 a 1912, em pleno fastígio da goma. A posição primacial de Belém ainda
hoje se conserva, figurando entre as nove mais importantes capitais brasileiras.
5). Do ponto de vista pan-amazônico, ainda devemos assinalar o crescimento da cidade peruana
de Iquitos (...) até onde chegam os navios de longo curso, oriundos da Europa e da América do
Norte. Nas Amazônias extra-brasileiras, foi Iquitos que ficou, em última análise, do rush da
borracha: lá se encontra um prédio com estrutura de aço, mandado construir por um cauchero,
pelo mesmo engenheiro que fez a Torre Eiffel, de Paris, prédio que contemplei em 1951,
enfrentando o tempo e simbolizando uma época. Naquele tempo, entre as capitais amazônicas,
Iquitos me pareceu que estava na mesma proporção decrescente entre Manaus e Belém: cada
cidade representava metade da outra. Olhando as três, em conjunto, poderíamos pensar ter
havido, à época, uma cadeia civilizatória decorrente da borracha.
6). Houve atração para Belém e Manaus, de uma elite de intelectuais, artistas, profissionais
liberais e homens de negócio, que em parte se radicou na região, estimulando a vida artística, as
atividades intelectuais, a medicina, a advocacia, a engenharia civil, as demarcações de terras,
incorporando-se à magistratura ou entrando para o comando da economia da região /./ A essa
elite se deve a fundação da Faculdade de Direito, de Belém, no ano de 1902. Em Belém,
aconteceram coisas importantes: Carlos Gomes, doente e já condenado, foi convidado por Lauro
Sodré para dirigir o Conservatório de Música, onde a morte o encontrou; e Antônio Lemos, na
antiga “Província do Pará”, conseguiu formar um corpo redatorial de primeira categoria,
constituído de moços de várias procedências, que se tornaram afirmações nacionais (Humberto
de Campos, Eliseu César, Carlos Dias Fernandes, Romeu Mariz e outros), fazendo parelha com
os redatores da “Folha do Norte”, então baluarte das lutas cívicas e políticas do Estado /./ Em
1909, surgiu a Escola Universitária Livre de Manaus , mais tarde Universidade de Manaus, que
foi a primeira no Brasil, tendo à sua frente o engenheiro militar Joaquim Eulálio Gomes da Silva
Chaves e de que foi diretor geral (reitor) o médico Astrolábio Passos. Chegaram a funcionar os
cursos de direito, medicina, engenharia, agronomia, agrimensura, ciências e letras. Quando a
Universidade se dissolveu, por questões financeiras ligadas ao colapso da mesma borracha,
sobreviveram, isoladas, as Faculdades de Direito, Agronomia e Farmácia-Odontologia, sendo as
duas últimas fechadas na década de 40. Restou a Escola de Direito, que já tinha sido
incorporada pelo Estado, desde 1936, sendo federalizada em 1949.
7). O Brasil, com o produto da borracha, viu também surgirem cérebros privilegiados, nascidos
na Amazônia ou a ela ligados, que enriqueceram o patrimônio nacional, aparecendo como
ministros dos altos Tribunais, representantes no Parlamento ou titulares de altos postos da
administração pública, além de professores nas universidades ou figuras de destaque nas
ciências, nas artes e principalmente nas letras.
8). Acima de tudo, deve-se ao ciclo da borracha, a presença humana efetiva do Brasil na área
amazônica, especialmente na extensa faixa das fronteiras, muitas vezes isolado e sempre
inconsciente de seu papel, um soldado desconhecido porém vigilante da pátria.”
BATISTA, Djalma. O Complexo da Amazônia. Rio de Janeiro, Conquista, 1976, p.141 a 143.
PRADO, Maria Lígia C. & CAPELATO, Maria Helena Rolim (1977) “A borracha na
economia brasileira da Primeira República”. In: FAUSTO, Boris (direção). História
Geral da Civilização Brasileira, III – o Brasil Republicano (1889-1930). 2.ª edição. São
Paulo: Difel.
PRADO JÚNIOR, Caio (1981). História Economia do Brasil. 26.ª edição. São Paulo:
Brasiliense.
TOCANTINS, Leandro (1982). 2.ª edição. Amazônia – natureza, homem e tempo: uma
planificação ecológica. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira / Biblioteca do Exército.
UNIDADE IV
Capítulo 14
“Este período foi marcado por uma efervescência intelectual e cultural e uma
busca acelerada da chamada modernidade, refletindo-se em todos os setores da
atividade humana. Tal movimento irradia-se a partir da França, refletindo-se em quase
todos os países do Ocidente. A obsessão pelo novo, pelo moderno, pelo belo é a marca
predominante desta época. Muitos inventos que marcam a vida do homem surgiram
neste período: o cinema, o rádio, o avião, o automóvel, a luz elétrica, o telefone são
exemplos” (DIAS, 2002. In: SANTOS e SAMPAIO, p. 33).
Por volta de meados do século XIX, Manaus (na época Barra do Rio Negro), foi
considerado pelo naturalista inglês, Alfred Russel Wallace, com sendo a “comunidade
civilizada que tem os costumes mais decadentes possíveis”. Os mais civilizados
moradores dedicavam-se ao comércio, e como diversão, ainda que de forma moderada,
a bebedeira e ao jogo. “A maior parte deles jamais abriu um livro e desconhece todo e
qualquer tipo de ocupação intelectual”.
Em 1847, Paul Marcoy observou Manaus assim: situa-se a Leste da Fortaleza, “ela
esta construída numa superfície tão irregular que chega a ter morrinhos mais altos que
os telhados das casas, o que seria pitoresco se não fosse absurdo”.
Imagem 73.
Ruínas da Fortaleza da Barra do rio Negro. Reproduzida de Paul Marcoy, Viagem pelo rio
Amazonas, Manaus: Edua, 2001, 161.
Outro estrangeiro, de passagem por Manaus, em fins década de 1860, a descreveu
como uma insignificante vila com poucos habitantes. Ruas sem pavimentação,
pessimamente alinhadas, casas baixas, cabanas da mais primitiva construção, sem
qualquer noção arquitetônica, e numerosas vendas portuguesas. Não dando a menor
impressão de conjunto.
Em pouco tempo, porém, de acordo com E. Bradford Burns. a febre da economia
da borracha a transformou em uma cidade populosa, moderna e cosmopolita. Vejamos,
por exemplo, alguns registros da historiografia regional acerca dessas transformações de
natureza material e cultural:
Imagem 75.
O professor José Ribamar Bessa Freire, atesta que durante esse processo de
metamorfose, uma verdadeira febre de construção tomou conta da cidade, varrendo tudo
aquilo que poderia evocar os povos indígenas. Ergueram-se prédios públicos
monumentais, como o Teatro Amazonas e o Palácio da Justiça – hoje marcos de
referência da cidade – a Biblioteca Pública, a Alfândega, a Penitenciária do Estado, e as
instalações do porto flutuante. Surgiram estabelecimentos bancários e lojas com os
nomes “exóticos” de Louvre, Au bon marché, A la ville de Paris, além de algumas
residências majestosas, vilas, palacetes, bares, restaurantes, hotéis e cabarés, contendo
em seu interior móveis e tapetes europeus, pianos alemães, jarras de Sèvre e louças de
Limoge. Tudo para que a cidade servisse com eficiência aos seus novos donos, que se
encarregaram diretamente de promover essas transformações de acordo com seus
interesses, que nem sempre coincidiam com os interesses do conjunto da população.
Imagem 76.
Por outro lado, a historiadora Maria Luiza Ugarte Pinheiro nos informa que na
Manaus do início do século XX, praticamente todos os serviços urbanos estavam, por
concessão, nas mãos de firmas inglesas, que passaram a agenciar melhoramentos ou
mesmo criar serviços até então inexistentes na cidade. Empresas como a Manáos
Markets, Manáos Tramways and Light, Manáos Improvements, Amazon Engineering,
Amazon Telegrafh, Booth Line e Amazon River começaram a fazer parte do cotidiano da
população manauara.
O artista plástico Otoni Moreira de Mesquita, elaborou um interessante quadro para
a cidade nesse período. Para ele a nova Manaus pode ser interpretada como uma
imagem de vitrine instalada, resultado de uma série de transformações, as quais podem
ser simbolicamente compreendidas como um “rito de passagem” do processo de
branqueamento através do qual a cultura local despia-se das tradições de origem
indígenas e vestia-se com características ocidentais.
Uma boa descrição da cidade de Manaus, de 1910, foi feita pelo historiador norte-
americano E. Bradford Burns, a qual esquematizei aqui para o meu propósito, e
evidentemente, somado com as interpretações e dados de outros autores.
“Em 1910, Manaus reinava como a capital mundial da borracha. Mais de vinte anos de
produção crescente, exportação contínua e de preços em elevação, haviam criado a
prosperidade, da qual a cidade era a evidência mais ampla. Nesse ano, Manaus
progredia, com os preços atingindo novas alturas e toda a atmosfera da cidade altamente
próspera. (...) Manaus alardeava com orgulho todas as civilidades de qualquer cidade
européia de seu tamanho ou mesmo maior. Um excelente sistema portuário, um serviço
de coleta e disposição de lixo eficiente, eletricidade, serviços telefônicos, belos edifícios
públicos, residências confortáveis atestavam o estado de modernização da cidade”
(BURNS, 1966).
Imagem 77.
Teatro Amazonas
Imagem 78.
Imagem 79.
* * *
A capital do Pará também teve a sua “catedral de ópera”, o Teatro da Paz, cuja
concepção e funcionamento foram anteriores a dos manauenses.
Imagem 80.
Enclave Cosmopolita
EDUCAÇÃO NA ORDEM DO DIA – “Manaus, para o seu tamanho, possuía uma audiência
literária fora do comum. A cidade mantinha dois bons jornais diários, o Jornal do Comércio e o
Diário do Amazonas, bem como pelo menos mais uma dúzia de periódicos diferentes. As duas
maiores livrarias ofereciam as últimas publicações brasileiras e jornais, revistas e livros
estrangeiros. (...) O grande interesse por jornais e livros tanto estrangeiros como nacionais, pode
ser explicado parcialmente pela elevada percentagem de empresários estrangeiros na
comunidade, mas a melhor explicação reside no fato de que Manaus possuía um sistema
educacional excepcionalmente bem desenvolvido. Realmente, a maior soma sob uma única
rubrica do orçamento estadual de 1910 destinava-se à educação. E a maior parte dessa verba
permanecia em Manaus” (BURNS, 1966).
* * *
Talvez por esse modo cosmopolita de ser e preocupado com as fortes influências
inglesas e francesas, o Governo Federal brasileiro tratou de estreitar os contatos entre
o Rio de Janeiro e Manaus, através de comunicações telegráficas ligando as duas
capitais. Havia uma linha de vapores para passageiros e carga, com a freqüência de
cinco partidas mensais. O Rio de Janeiro acompanhava essa situação de perto, para
evitar o enfraquecimento dos laços políticos que o ligavam ao Norte. Entretanto, não
havia dúvidas de que politicamente Manaus estava ligada ao Rio, comercialmente
dependia de Londres, e culturalmente, em parte, de Paris.
Outro Lado da Cidade
A vida noturna de Manaus era animada pelo jogo e pela prostituição que atraíam
a clientela masculina para uma boa quantidade bordéis noturnos. As prostitutas atraídas
pela atmosfera da época afluíam de todas as partes do mundo, destruindo qualquer
monopólio que as beldades locais pudessem ter desejado. O mais famoso desses
lupanares o Hotel Cassina, ficava na Praça Pedro II, quase em frente do Palácio do
Governo Estadual. Não é muito difícil se adivinhar algumas das conseqüências das
visitas amorosas nesses locais, pois os jornais diários estampavam sempre anúncios para
a “cura rápida e definitiva da gonorréia”.
Imagem 81.
Hotel Cassina (c. 1899). Foto de Arturo Luciani. Reproduzido de Coleções de Trilhas
Perdidas, Manaus: Museu Amazônico.
As doenças sociais podem ter sido comuns, mas não constituíam a maior parte
dos males da cidade, pois grande pesadelo era gerado pela malária. Os registros do
Hospital Militar para 1910 acrescentam ainda o beribéri, distúrbios gástricos,
reumatismo articular, bronquite, e a astenia, nessa ordem, como as doenças de maior
incidências nessa área. Não obstante, Manaus era considerada uma cidade saudável.
Em 1910, os preços das mercadorias e dos serviços, no Amazonas, eram quatro
vezes superiores ao de Nova Iorque. Uma libra-peso de café custava o equivalente a
vinte US$ 0,20, o açúcar a US$ 0,15, o arroz e feijão a US$ 0,12. Esses artigos eram a
base da dieta alimentar de um trabalhador comum. A média dos seringueiros daquela
época ganhava aproximadamente US$ 0,97 por dia, três ou quatro vezes mais que o seu
colega asiático, mas ainda não o bastante para tirá-lo da pobreza.
Esses preços elevados dos gêneros alimentícios seria uma das conseqüências de
uma política econômica voltada para a extração da borracha, e negligente com a
atividade agrícola. A população do Amazonas importava quase tudo o que consumia.
Além do custo do transporte dos gêneros alimentícios para Manaus, o Governo Federal
impôs pesadas tarifas nas importações estrangeiras, e grande parte dela era de gêneros
de primeira necessidade. Essas despesas de importação, naturalmente, eram transferidas
para o consumidor.
Esses preços astronômicos pouco incomodavam os barões da borracha. Eles
continuavam indiferentemente a construir uma cidade agradável para si mesmo. É
verdade que a prosperidade era obscurecida pelo afloramento de cortiços na orla da
cidade. É verdade que a pobreza se espalhava pelos caminhos. É verdade que a
subnutrição campeava entre as classes mais pobres. Nisso Manaus diferia pouco das
outras cidades. Mas a evidência mostra que a capital do Amazonas, proporcionalmente,
possuía menos pobres e tinha mais belas casas que outras cidades.
Embelezamento e Exclusão
“Os moradores que não podiam obedecer aos Códigos de Posturas iam sendo
empurrados para as periferias mais próximas, como o bairro dos Tocos e Cachoeirinha;
e mais tarde para mais distante com Mocó, Girau, estrada do telégrafo, São Raimundo,
Flores, Educandos ou Constantinópolis e Colônia Oliveira Machado” (COSTA, 1997).
* * *
“Há doze dias que se acham em “greve” os estivadores aqui domiciliados. Criaturas pacíficas,
bondosas, que suam desde a madrugada até ao triste dilúculo, debaixo de um sol ardentíssimo,
sujeito à canícula e a chuva, e portanto às doença que decorrem desse labutar insano, esses
trabalhadores humildes, mas honrados, apenas pedem que os recompensem devidamente /./
Incansáveis no seu labor, probíssimos na sua conduta, respeitosos para com todos quantos lhes
proporcionam o cotidiano e minguados ganha-pão, os estivadores exigem somente do comércio
que os remunerem na proporção dos seus trabalhos inigualáveis, que grossas quantias
estipendiam, pelos riscos de saúde que se passam, quantos mais uns modestos quinze ou trinta
mil réis. A faina é grande e o salário, com a verba da botica, fica limitadíssima /./ Esses
setecentos obreiros hão-se mantido, apesar da rudeza de duas casa inglesas, que se imaginam
em terra conquistada, na mais perfeita paz, com a mais inteira calma – devido aos ofícios do seu
estudioso advogado, Sr. Dr. Alfredo Ferreira, por um lado, e aos seus sentimentos bons e
ordeiros, por outro. Nada os perturba na consciência do magno direito que lhes assiste, – nem as
perdas registradas, nem os insultos ouvidos /./ Casas tem havido, portuguesas e brasileiras, e
numerosas senão todas, que concordam com a justiça das reclamações e têm estipendiado os
grevistas pelo preço da razoável tabela que convencionaram. Para essas, embora apenas
cumpram o dever de sensatez, enorme é a gratidão dos estivadores, que vêem lesados no seu
físico e nos seus interesses e por isso acham justo levantar-se. A escravatura acabou-se em 13 de
maio de 1888 e nós estamos no ano das graças de 1899 /./ O rancor desses abnegados proletários
contende apenas com os citados estabelecimentos britânicos, que supõem Manaus, uma feitoria
de negros e querem acalcanhar as aspirações naturalíssimas de uma classe merecedora de todas
as atenções e concessões /./ Cremos, no entanto, que a reação dos comerciantes brasileiros e
portugueses surgirá, impondo a esses agiotas do suor alheio a satisfação dos pedidos feitos pela
“greve; que tem sido modelo no gênero /./ Que os ingleses se esbofem, na sua sanha de estolar o
pobre, chamando a polícia imprudentemente, sem razões plausíveis! O ativo chefe de segurança
se presta a executar os caprichos desses carrascos, porque os grevistas não têm alterado a ordem
e vivem no pleníssimo direito de trabalhar pelo preço que lhes convier, visto que os pulsos são
seus, absolutamente, e não das referidas companhias bretãs /./ Insistem, pois, os laboriosos
estivadores no seu protesto manso e altivo, sem desmando de qualquer natureza, repudiando as
provocações, porque têm a apoiá-los o comércio luso-brasileiro e a defendê-las os que ainda não
se deixaram vergar ao peso de um capitalismo ininteligente e malvado!”.
COSTA, Francisca Deusa Sena da (1997). Quando viver ameaça a ordem Urbana,
trabalhadores urbanos em Manaus (1890-1915). São Paulo: PUC-SP (Dissertação de
Mestrado).
DAOU, Ana Maria (2000). 2.a Edição. A Belle Époque Amazônica. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Editor.
Capitulo 15
Tempos de Crise
Capítulo 15
TEMPOS DE CRISE
Não obstante ser “o primeiro planejamento em grande estilo”, Maria Lígia Prado
e Maria Helena Capelato (1997) afirmam que esse projeto nunca foi posto em prática;
um ano depois, as poucas atividades que tinham sido iniciadas foram abandonadas.
Carlos de Meira Mattos concluiu que a política foi formulada, mas faltou ao
governo capacidade de implementá-la. Faltou-lhe a criação dos meios e dos mecanismos
destinados a dar-lhe operacionalidade. Salvou-se, no entanto, em termos históricos, a
herança de uma primeira tentativa de racionalizar o problema, através de um programa
de metas quantificáveis, o que constituiu um verdadeiro avanço as modernas técnica de
programação econômica.
A economia gomífera que durou cerca de vinte anos, não desapareceu sem
deixar a sua profunda marca na Amazônia. As atividades dos intrépidos seringueiros
tiraram o vale amazônico da letargia secular. Em três décadas, a população do
Amazonas triplicou. Um dos sinais mais visíveis da transformação da região, foi à
mudança de Manaus, de uma sonolenta vila em uma cidade cosmopolita, que, nos
áureos dias de 1910, “era pomposa, romântica, falaz, e sem destino”. Pode-se ainda
reconhecer nas suntuosas edificações que serviam de residências dos barões da
borracha a afluência de parte do capital. Exemplo típico é o prédio monumental, aonde
funciona, atualmente, o Centro Cultural Palácio Rio Negro, que foi a residência de um
dos mais prósperos comerciantes de borracha, Waldemar Scholz, e a edificação aonde
funcionaria a usina de tratamento de esgotos, o atual Centro de Arte Chaminé.
Imagem 82.
Mansão da família Scholtz, construída em 1903. Divulgada por Richard Collier, Jaque al
Baron: La historia Del caucho em la Amazônia, 1981. Reproduzida de Berta G. Ribeiro.
Amazônia Urgente. 2.a edição. Belo Horizonte: Itatiaia, 1992, p. 152.
Imagem 83.
Com o fim da pompa, regada a leite da seringa e pelo suor de seringueiro, muitas
casas comerciais pediram falência. A crise da economia da borracha, conforme
Francisca Deusa Sena Costa, se fez presente em todos os setores da vida urbana e da
rural: na cidade de Manaus, por exemplo, causou desemprego nos vários ramos de
serviços, gerando como uma de suas conseqüências, a inadimplência nos contratos de
aluguéis. Esse fato promoveu o deslocamento desse inquilinato, uma parte saiu do
centro da cidade para o subúrbio, enquanto que a outra retornou à sua terra de origem,
provocando um certo esvaziamento da cidade.
Na zona rural a crise provocou um movimento demográfico no sentido contrário
daquele que ocorreu nos momentos de rush da economia da borracha. Os anos de 1914
e 1915 assinalaram o ponto máximo desse êxodo, levando o Governo Federal a
conceder-lhes transporte gratuitos nos navios do Lloyd Brasileiro. A grande maioria
desse contingente humano era constituída por nordestino que procuravam regressar aos
seus Estados de origem, enquanto, os amazonenses e os imigrantes que ficaram no
interior foram esquecidos pelos governantes federais.
Outro contingente de trabalhadores dos seringais e de outros pontos do interior
do Estado, migrou para Manaus em busca de alternativas de melhores condições de
vida. Esses “retirantes”, a partir de 1920, aos poucos foram construíndo a chamada
Cidade Flutuante, a qual se consolidou na década de 1960. Esse aglomerado “urbano”,
formava uma verdadeira favela fluvial, no porto de Manaus.
Eloína Monteiro dos Santos, afirmou que no rastro da crise econômica vieram as
crises políticas, pois os membros da débil oligarquia amazonense começaram a se
desentender e a se repartirem em facções políticas no interior da mesma tendência
partidária. No período que vai de 1910 até 1924, digladiaram-se as facções políticas
lideradas por Silvério Nery, Antônio Bittencourt, Jonathas Pedrosa e Antônio Guerreiro
Antony. Era um embate entre a facção política que estava no poder contra a que estava
fora deste, na oposição. A manifestação de oposição, “resumia-se a um grupo a retrucar
as afirmações do outro e o que se denunciava era a inoperância do outro e a corrupção
de uma facção à outra. Tais reações eram mascaradas pela moralização política, sempre
se atacando a situação e como esta exercia o poder, era por tudo responsabilizada.“
Esses embates políticos redundaram na chamada Rebelião de 1924, em Manaus.
Imagem 84.
REIS, Arthur C. Ferreira, A Amazônia e Cobiça Internacional. 5.a Edição. Rio de Janeiro /
Manaus: Civilização Brasileira / Suframa. 1982, p. 142.
De acordo com Arthur Cezar Ferreira Reis, as cláusulas eram idênticas para as
três empresas, “constava que ficavam obrigadas a iniciar os trabalhos de pesquisa dentro
de um prazo de dois anos, realizar a construção de estradas de rodagem e de ferro,
montar refinarias e demais estabelecimentos industriais ligados à produção e
beneficiamento dos minérios. (...). O prazo das concessões era de 50 anos, podendo ser
prorrogados por mais outros cinqüenta, com preferências sobre quaisquer pretendentes”.
No entanto, essas concessões, que praticamente dividiam o Estado do Amazonas entre
essas três companhias, foram anuladas durante o governo do interventor federal Nélson
Melo (1933 -1934).
American Brazilian 1. Zonas entre os rios Japurá e Solimões até a fronteira com a Colômbia;
Exploration 2. Zona entre os rio Solimões e Juruá até a fronteira com o Peru.
Corporation,
Fonte: Arthur C. Ferreira Reis, 1982; Antônio Souto Loureiro, 1978.
REIS, Arthur C. Ferreira. A Amazônia e Cobiça Internacional. 5.a Edição. Rio de Janeiro /
Manaus: Civilização Brasileira / Suframa,1982, p. 145-146.
VIVA A FORD! – “Henry Ford foi um gigante, um braço forte da Amazônia, de quando o Pará
e o Amazonas enfrentavam a maior crise da Borracha. Nessa crise, as famílias vinham a pé dos
confins da selva, em busca da vida na FORD; (...). Era um horror, a gente vinha quase despido,
os homens só amarravam um pedaço de sarrapilha com barbante na cintura, descalços,
enfrentando todos os perigos da floresta, com fome e com frio, porque o inverno era brabo, as
criança, coitadas, eram as que mais morriam, mas quando a gente chegava na cidade esta salvo”.
Imagem 86.
BURNS, E. Bradford (1966). Manaus 1910: retrato de uma cidade em expansão. Manaus:
Governo do Amazonas.
COSTA, Francisca Deusa Sena da (1997). Quando viver ameaça a ordem Urbana,
trabalhadores urbanos em Manaus (1890-1915). São Paulo: PUC-SP (Dissertação de
Mestrado).
DEAN, Waren (1989). A Luta pela Borracha no Brasil. São Paulo: Nobel.
OLIVEIRA, Adélia Engrácia de (1983) “Ocupação Humana”. In: SALATTI, Enéas et alii.
Amazônia: desenvolvimento, integração e ecologia. São Paulo: Brasiliense.
PRADO, Maria Lígia C. & CAPELATO, Maria Helena R. (1977), “A Borracha na Economia
Brasileira da Primeira República”. In: FAUSTO, Boris (Direção). História geral da civilização
brasileira, III – o Brasil republicano (1889-1930). 2.ª edição. São Paulo: Difel.
REIS, Arthur C. Ferreira (1982). A Amazônia e Cobiça Internacional. 5.a Edição. Rio de Janeiro
/ Manaus: Civilização Brasileira / Suframa.
SANTOS, Eloína Monteiro dos (1995). A Rebelião de 1924 em Manaus. Manaus: Suframa.
SANTOS, F.J. & SAMPAIO, P.M. (Orgs.) (2002). Estado do Amazonas em Verbetes. Manaus:
Editora Novo Tempo.
Domingos Teófilo de Carvalho Leal, Manuel Lopes da Cruz, Antônio Florêncio Pereira do Lago
(de 21 de novembro 1889 a 4 de janeiro de 1890)
Pedro Henrique Cordeiro Júnior, Francisco Pereira a Silva e José Alves de Souza Brasil, Junta
governativa (1930)
Floriano da Silva Machado, Interventor Federal (1930)
Álvaro Botelho Maia, Interventor Federal (1930-1931)
Emanuel Morais, Interventor Federal (1931)
Antônio Rogério de Coimbra, Interventor Federal (1931-1932)
Waldemar Pedrosa, Interventor Federal (1932)
Antônio Rogério Coimbra, Interventor Federal (1932-1933)
Nelson de Melo, Interventor Federal (1933-1934)
Paulo Cordeiro de Melo Interventor Federal (1934)
Nelson de Melo, Interventor Federal (1934-1935)
14.º Álvaro Botelho Maia (1935-1937)
Álvaro Botelho Maia, Interventor Federal (1937-1945)
UNIDADE V
Capítulo 16
Imagem 87.
Imagem 88.
“Cartaz de Chabloz para divulgar o acordo entre o Brasil e EUA que deu início à
Batalha”. Reproduzido de Marcos Vinicius Neves. In: História Viva, n.o 8, 2004, p. 76.
“a) Banco de Crédito da Borracha (BCB), criado em agosto de 1942 com a finalidade
de fomentar a produção gumífera, realizando as operações finais de compra e venda da
borracha tanto para o exterior quanto para o mercado nacional, financiando a produção,
saneando e colonizando as regiões produtoras. Ele assumiu o lugar que antes competia
às casas aviadoras e exportadoras. Ao ser instalado possuía 40% de capital estrangeiro,
norte-americano. Posteriormente, em 1947, os Estados Unidos não consideram
apropriada sua representação nos interesses do Banco de Crédito da Borracha e o acordo
foi desfeito. Em agosto de 1950 o Banco foi transformado em Banco de Crédito da
Amazônia S.A. (BCA) e, atualmente é o Banco da Amazônia S.A. (BASA).
b) Serviço Especial de Saúde Pública (SESP), criado em 1942 e mantido pela Fundação
Rockefeller com o objetivo de dar assistência médica aos produtores de matérias-primas
estratégicas. Era encarregado do saneamento básico.
c) Rubber Reserve Company, posteriormente transformadas na Rubber Development
Corporation (RDC), agência norte-americana cuja finalidade era o transporte e
suprimento de bens para os seringais, além do transporte de passageiros no interior e da
borracha para os Estados Unidos.
h) Instituto Agronômico do Norte, em Belém, que foi instalado em 1941 para fazer
pesquisas sobre produção vegetal, aclimatação de espécies e identificação do solo e da
floresta.
Imagem 89.
A Batalha da Borracha
Imagem 90.
“Eu vim veranear na seringa. Quando chover, volto que nem ovelha à procura de pastos” (José
Lino de Araújo, de Campos Sales).
“Não sou fanático por dinheiro. Vim à procura de um cantinho para viver feliz com a minha
mulher e filhos” (José Florêncio, da Serra Meruoca).
“Trouxe milha família, mulher e meus treze filhos; não havia mais como sustentá-los. É a
primeira vez que tenho necessidade de deixar a minha terra. Mas não tenho medo do
sofrimento” (José Laurentino, de Cachoeira).
“Vou para a seringa mas o meu destino é criar gado. A seca matou as minhas reses. Fiquei na
miséria. Eu não queria pedir para quem já tinha dado” / “Eu não vou viver alugado. Gosto de
trabalhar para mim. Quem se freta é navio” (Antonio Ribeiro da Mota, Jaguaribe-Mirim).
Imagem 91.
Os Arigós
Imagem 92.
NEVES, Marcos Vinicius. “A heróica e desprezada Batalha da Borracha”. In: História Viva. N.o
8, 2004, p.74 a 80.
Imagem 93.
A DECADÊNCIA E O FIM – “Em 1958 Carlos de Araújo Moreira Neto, etnólogo do Museu
Paraense Emílio Goeldi, forneceu dados estarrecedores sobre o extermínio de grupos indígenas
Kayapó que habitavam o vale Xingu, e que haviam sido contatados pelo SPI. (...) /./ Em 1960,
José Maria da Gama Malcher mencionou as principais causas do fracasso do SPI, já
mencionado por Curt Nimuendaju em 1941 – as verbas insuficientes e irregulares, o exagero
burocrático, a falta de auxiliares apropriados, a falta de força para valer os seus princípios em
meio hostil – e acrescentou: se tudo isso não bastasse, a impunidade dos faltosos, a admissão de
incapazes e o empreguismo completam triste o quadro (...) /./ O Golpe de Estado ocorrido em
1964 aguçou ainda mais as contradições vividas pelo SPI. Do ponto de vista econômico, uma
das razões que motivou o golpe foi a criação de mecanismos institucionais ideais para acelerar a
acumulação do capital. Para a população indígena, este fato novo significou a intensificação da
expropriação de suas terras, mais doenças, mais massacres. (...). As informações sobre massacre
de grupos indígenas atraíram a atenção da imprensa internacional e motivaram uma situação
incômoda para o Governo Militar brasileiro. Para se livrar da situação delicada em que ficou,
em razão das denúncias, e visando atender a pressões de interesses econômicos, o Governo
simplesmente extinguiu o Serviço de Proteção aos Índios” em 1967.
GLAGLIARDI, José Mauro. O Indígena e a República. São Paulo: Hucitec / Edusp / SECSP,
1989, p. 283-284.
Amazônia Pós-1964
A partir do declínio da economia da borracha, na segunda década do século XX,
a Amazônia entrou num verdadeiro marasmo econômico, os períodos de prosperidades
subseqüentes foram poucos e curtos demais para poder gerar o dinamismo capaz de
proporcionar um crescimento econômico contínuo.
A população do interior do Estado do Amazonas, além das atividades de
subsistência, voltou a dedicava-se ao extrativismo vegetal, à agricultura e à pecuária de
pequeno porte, direcionada para o abastecimento da capital. A novidade ficaria por
conta da juticultura, introduzida nos municípios do Baixo e Médio Amazonas na década
de 1930 pelos imigrantes japoneses. O Amazonas vivia em função dessa débil economia
e de parcas transferências de recursos pelo Governo Federal.
Com o Golpe Militar de 1964, o marechal Humberto de Alencar Castelo Branco
assumiu a Presidência da República e deflagrou uma estratégia para o desenvolvimento
da Amazônica, as quais mudaram radicalmente a política vigente até aquele momento.
Para viabilizá-la o Governo Federal criou a SUDAM (Superintendência do
Desenvolvimento da Amazônia); e o BASA (Banco da Amazônia), que absorveu,
ampliou e dinamizou as funções do antigo Banco de Crédito da Amazônia (BCA).
Órgão vinculado ao Governo Federal, criado pela Lei n.o 5.173 de 27 de outubro de
1966, substituiu a SPVEA (Superintendência do Plano de Valorização Econômica da
Amazônia). Inserida no conjunto das políticas desenvolvimentistas, a SUDAM foi
criada com a função de coordenar as ações federais na Amazônia, sendo a principal
encarregada da elaboração e execução do Plano de Valorização Econômica da
Amazônia, diretamente ou através de convênios com entidades públicas e privadas,
utilizando como agente financeiro o Banco da Amazônia S.A – BASA.
Além das funções de coordenação, avaliação e supervisão do Plano de Valorização,
caberia a SUDAM a tarefa de fiscalizar o uso das verbas, a decisão sobre a distribuição
de recursos provenientes de incentivos fiscais entre os diferentes projetos privados
propostos para a região, a apresentação de sugestões quanto à criação e extinção de
órgãos que trabalhassem na Amazônia e a promoção de estudos e pesquisas que
possibilitasse um maior conhecimento das potencialidades regionais.
Operação Amazônia
Imagem 94.
Imagem 95.
MOURA, Edila Arnoud et alii. A Utilização do Trabalho Feminino nas Indústrias de Belém e
Manaus. Belém: UFPA / NAEA, 1986.
Imagem 96.
Os Waimiri-Atroaris
Os Waimiri-Atroaris, também chamados de Kinã, Kinja, Uaimiry ou Crichaná
pertencem ao tronco lingüístico Karib, e que até fins da década de 1960, dominavam a
região dos altos dos rios Urubu e Uatumã, até a atual cachoeira de Balbina. Inclui-se
também neste domínio rios Camanaú, Jauaperi, Alalaú e seus respectivos afluentes, nos
Estados do Amazonas e Roraima.
O primeiro contato desses índios com os brancos teria acontecido em 1663, na
região do rio Urubu, a partir daí muitos contatos aconteceram mas sempre belicosos.
Conta-se que o primeiro contato amistoso dos Waimiri-Atroaris com os brancos,
ocorreu em fins do século XIX, com os membros da expedição do etnólogo e botânico
João Barbosa Rodrigues. Os contatos com outros brancos continuaram, mas a história
da tragédia humana desses índios deve ser contada a partir de 1967, quando o governo
do Estado do Amazonas retomou a construção da rodovia Manaus-Boa Vista-Caracas
(BR-174).
No ano seguinte o Governo Federal assumiu o empreendimento, e encarregou o
6.0 BEC (6.0 Batalhão de Engenharia e Construção) da construção da rodovia, enquanto
à FUNAI (Fundação Nacional do Índio) se responsabilizaria pela atração dos indígenas,
que nas palavras do então governador do Amazonas, Danilo Matos Areosa, ocupavam
as “áreas das mais ricas do Estado, impedindo a sua exploração”.
Ao penetrarem nas terras dos Waimiri-Atroaris, os operários da construção
começaram a debandar do canteiro da obra. O DNER (Departamento Nacional de
Estradas de Rodagem) em face de esse acontecimento, que poderia interferir
negativamente na construção da estrada, solicitou a FUNAI um plano de aproximação
com os índios, pois as autoridades queriam evitar os erros e crimes cometidos contra as
populações indígenas durante a construção da Rodovia Belém-Brasília. Como
verbalizou o então presidente da FUNAI:
“(...) já mandei um telex ao Gilberto (Pinto), em Manaus, para que se uma a seus
esforços, no sentido de evitar que a abertura de uma estrada, concedida pelo DNER ao
DER, repita o desastre da Belém-Brasília, em cuja margem se vêem, hoje, a prostituição
das índias pelos motoristas de caminhão, a embriaguez do índio e a destruição das tribos
pelo contágio e pelo suicídio anônimo do índio” (CAMPOS, José de Queiros. Apud
SCHWADE, 1993, p. 377).
Para evitar um novo desastre, foi designada uma expedição de atração chefiada
pelo padre João Calleri, a qual era composta por oito homens e duas mulheres (João
Calleri; Álvaro Paulo da Silva, o Paulo Mineiro; João Geraldo de Oliveira, o Cara-de-
Onça; Aragão Rodrigues de Oliveira; Bezerra Ribeiro Mendes; Francisco Eduardo de
Oliveira; Manuel Mariano da Silva; Manuel Nascimentos; Maria Mercedes Sales e
Marina Pinto da Silva) que partiram em outubro de 1968, de Manaus para o
acampamento do DER-Am, no rio Abonari e de lá para as terras dos Waimiri-Atroaris,
onde foram barbaramente assassinados por brancos e índios, por tiros e flechadas. Desse
massacre, apenas um sobrevivente: Álvaro Paulo da Silva, o Paulo Mineiro.
Sobre o destino trágico da Expedição do Padre Calleri existem várias versões,
desde a época dos acontecimentos até mais recente com a publicação do livro Massacre,
do padre Silvano Sabatini, contemporâneo ao evento. Nesta obra o padre Calleri e seus
companheiros foram vítimas de uma conspiração que envolveu missionários norte-
americanos da Unevagelized Field Mission (Cruzada de Evangelização Mundial ou
Missão Evangélica da Amazônia – MEVA), brasileiros, índios Wai-Wai e Waimiri-
Atroari.
Imagem 97.
* * *
Estranhos Visitantes
“OS CIVILIZADOS” – “Mediante os desenhos e as letras eles [os índios] revelaram também
as armas que kamnã (= os civilizados) usaram para dizimá-los: aviões, helicópteros, bombas,
metralhadoras, estranhas doenças que apareceram depois que os helicópteros com soldados e
funcionários da Funai pousaram em suas aldeias, doenças que mataram aldeias inteiras. O terror.
A humilhação e o desprezo pelos velhos, sobretudo os chefes, e a exaltação da superioridade do
mundo dos kamnã ou civilizados”.
CLUBE DA MADRUGADA
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