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METODOLOGIA DO ENSINO DE HISTÓRIA II

(EDM0418) Prof. Dr. Nelson Schapochnik

PROVA

Escolha ao menos 2 excertos e escreva um texto argumentativo que explicite as relações entre Literatura,
ao do semestre.
História e Ensino de História, de acordo com as leituras e discussões promovidas longo
O historiador é um agente responsável por elucidar o passado, mas de qualquer
forma, não está isento de viver as mudanças que sua época exige.
A partir do século XX as novas formas de comunicação mudam como nos relacionamos
com as informações, com os documentos e com o conhecimento. Com o mundo inserido
em um contexto do capitalismo industrial, a imprensa, a intelectualidade, a literatura e a
historiografia sofrem mudanças estruturais: com os novos produtos da vida urbana, os
grandes meios de produção para consumos duráveis, Lukács aponta para uma nova
percepção nas formas de temporalidade, se de escrever sobre e de transmitir informações
no século XX1. Walter Benjamin, um pouco mais tarde em ‘’a obra de arte na era de sua
reprodutividade técnica'' vai relatar as mudanças feitas dentro da arte, através da
aproximação entre a indústria e a própria arte no sistema capitalista. Ainda neste período,
outras formas de se trabalhar a história são colocadas em questão, e de forma mais
contemporânea a nós, no entanto, nascido dessa efervescência, o debate sobre história e
literatura como conexão criam raízes com o estudo da história da cultura.
Intelectuais como Chartier, Sevcenko, Peter Burke, Emília Viotti, assim como
escritores como Machado de Assis e Olavo Bilac endossam a necessidade de se
estabelecer o debate sobre a importância (ou não) da literatura como um meio de se
estudar aspectos históricos e sociais. Por um lado, para os historiadores mais ortodoxos,
o uso de fontes como livros e crônicas para analisarmos um momento econômico ou
social seria impensável. Bastaria levarmos em consideração que, para estes o papel do
historiador é elucidar o passado através da verdade, dos fatos, e para isso o uso das
fontes deve ser estudado com rigor: documentos oficiais, fotos, objetos da época, estes
sim poderiam passar a verdade necessária ao público, ao olhar deste historiador. Não
obstante, ao longo dos anos e das gerações, historiadores menos ortodoxos têm se
aproveitado de recursos que vão entre crônicas, livros, filmes e documentários como
forma de contar essa mesma história. As crônicas, os livros, o cinema são baseados em
vivências, em acontecimentos e em momentos históricos, vividos certamente por um

personagem muitas vezes ficcional, mas criado por homens que vivem a sua própria
história e em seu próprio tempo . Por usar personagens ficcionais, sua relevância como

1 Visão destoante a apresentada por Dominique Kalifa no excerto.


fonte histórica estaria abalada? O historiador está fadado, como cita Machado de Assis
‘’a passar os dias no fundo de um gabinete escuro e solitário’’, revirando documentos
oficiais, fadado somente aos meios intelectuais e não ao povo, ou o estudo desta história
poderia ser mais dinâmico?
Sem dúvida, história e literatura ocupam espaços diferentes: de um lado, a história
representa o processo social, a disciplina, a aproximação mais precisa com o passado, o
rigor. De outro, a literatura é a forma de expressão artística de uma sociedade, segundo
Sevcenko2, de acontecimentos de questões ligadas ao imaginário de sua época, a
expressão desta sociedade, do autor e de seus leitores, consequentemente de sua própria
historicidade, com a função de comover e agradar o leitor. Cabe a cada um o papel
diferente na transmissão do saber: a história comprova, aproxima da verdade enquanto a
literatura experimenta a história, está a vivê-la em uma gama gigantesca de facetas.
Desta forma, a literatura e suas vertentes podem se aproximar da história, ou
ainda, servir como uma conexão para a mesma de diversas formas. Vejamos os escritos
do escritor francês Victor Hugo: em ‘’Os miseráveis'' o autor retrata o cenário histórico
da França pós-revolução de 1789. Atraves de seus personagens ficticios, consegue
capitar temas comuns a epoca como: pobreza e o furto de alimentos, prostituição,
tristeza… mesmo que os personagens retratados tenham tido origem no mundo das
ideias, ainda assim conseguem retratar o periodo em questão com maestria, periodo este
que ja passou pelo crivo do historiador, que ja foi comprovado atraves de diversas
fontes. Jorge Amado ao escrever Gabriela cravo e canela não teria convivido na época
dos coronéis do cacau no nordeste, mas aborda em sua obra o cotidiano e as dinâmicas
desse momento. Muitas pessoas que viveram no período em questão, passaram por
situações semelhantes às retratadas na obra ficcional. A literatura retrata perfis, que
retratam as sensibilidades.
Um cronista, ao publicar em um jornal ou uma revista um assunto cotidiano, de
forma efêmera está escrevendo a história, retratando costumes, pensamentos e a vida
comum. Em ‘’Ciao’’ Drummond caracteriza o cronista como alguém que ‘’não obriga
ao paletó-e-gravata do editorialista, forçado a definir uma posição correta diante dos
grandes problema’’, pois não cabe a ele este papel. Faz parte da história comprovar ou
não estes fatos, assim como, faz parte da literatura retratá-los. A literatura tem o poder de

Ancorar o historiador, como suporte para os estudos historiográficos, sendo testemunha


de uma época, e de um produto sócio cultural, a fim de elucidar a mentalidade de seu
tempo. Segundo Sevcenko3 a literatura trabalha as possibilidades e a história a realidade.

2 Em ‘’Literatura como missão’’, Sevcenko elucida as relações entre história e literatura. (cf.
SEVCENKO,2003, p. 29).

3 em SEVCENKO, Nicolau. Literatura como missão: tensões sociais e criação cultural


na Primeira República. São Paulo: Brasiliense, 2003, 2 ed.
Elucidado alguns aspectos deste debate, como devemos unir as possibilidades existentes
entre literatura e história no ensino desta última modalidade?

De acordo com a literatura, a dinâmica fílmica no contexto escolar é uma estratégia

pedagógica na construção do conhecimento crítico.

Apesar de o cinema estar engajado nos meios culturais há pouco mais de uma centena

de anos, o mesmo começou a ser usado como recurso didático na escola tempos depois.

Contudo, houve um aproveitamento ideológico e de valores sociais, sendo respaldados

mediante dinâmica de cultura transformadora desenvolvida (NAPOLITANO, 2010).

Ademais, vale destacar que a utilização de filmes no âmbito acadêmico permite

estabelecer um diálogo variado, complexo, multidisciplinar, fora dos moldes e limitações

impostos pela teoria, ou seja, há a promoção do debate em sala de aula, estimulando a

reflexão e o raciocínio crítico, bem como a autonomia intelectual (NAPOLITANO,


2010).

Tais diálogos geram discussões capazes de externar as experiências pessoais dos

alunos, propiciando um novo olhar do educando para o objeto de estudo. Destacamos,


porém,
que a prática “cinema em sala de aula” necessita de coordenação e planejamento do

profissional docente para ser efetiva (NAPOLITANO, 2010).

Para tanto utilizamos como referencial teórico e metodológico Walter Benjamin e

Marc Ferro, respectivamente, para reconhecer o cinema como agente de transformação

cultural e a narrativa cinematográfica como produto cultural. Nesse processo, temos

como objetivo geral expor o cinema, identificando ou não seus elementos verossímeis

representados em determinados períodos históricos, de forma a motivar o público alvo


(os

alunos) na apreensão da realidade concreta.

Além disso, os objetivos específicos são os seguintes: motivar o estudante de

Enfermagem à participação, aliar cinema/teoria, bem como desenvolver o perfil crítico e

inovador do mesmo. Desta forma, o objeto deste estudo foi a utilização da produção
fílmica

como estratégia de ensino-aprendizagem para o estudante de Enfermagem.


BURKE, Peter. A história dos acontecimentos e o renascimento da narrativa. In:
BURKE, Peter (org.) A escrita da História: novas perspectivas. São Paulo: Unesp,
1992
CHARTIER, Roger. A ordem dos livros: Leitores, autores e bibliotecas na Europa
entre os séculos XIV e XVIII. Trad. Mary Del Priore. Brasília: Editora da UnB, 1994,
2ª Ed.
SEVCENKO, Nicolau. Literatura como missão: tensões sociais e criação cultural
na Primeira República. São Paulo: Brasiliense, 2003, 2 ed.

Em Mayombe, percebemos claramente quão tênues são os


limites entre discurso histórico e ficcional, entre verdade e invenção. A realidade que
se
constrói à medida que a narrativa avança será sempre uma realidade plural. O
romance é
o registro consciente de variados e, muitas vezes, antagônicos pontos de vista. A
verdade nunca terá, portanto, valor absoluto, será sempre resultado do entendimento
do
mundo inerente a cada indivíduo.
As longas discussões ideológicas sobre métodos e concepções
acerca da guerrilha que se travam entre Sem Medo e o Comissário, por exemplo,
explicitam a inquietação do autor que enxerga com lucidez, apesar do calor do
momento
histórico de que faz parte, sua crença nas múltiplas verdades que estão contidas em
uma
mesma história

PEPETELA. Mayombe: São Paulo, Ed. Ática, 1982

A literatura pode ser considerada um documento histórico, passível de interpretação e análise, vista
como uma versão de determinado fato ou momento, que depende da visão do autor que a produziu.
Entende-se que a literatura constitui uma espécie de consciência social do contexto no qual se origina
e com o qual mantém intensas e complexas ligações, que serão únicas em cada obra e constituirão a
feição particular de todas elas. É exatamente por dar forma a questões que provêm da conjuntura
maior na qual se insere que a obra literária hoje tem uma ligação direta com a História. Assim,
analisar-se-ão algumas crônicas de Machado de Assis, a fim de destacar a atuação do escritor/cronista
como observador dos usos que se faziam – a seu tempo, século XIX – da Língua Portuguesa, tanto na
vida cotidiana das pessoas comuns, quanto nos textos literários, nas escolas e nas academias. As
citações que Machado faz nos seus escritos sobre a língua empregada no Brasil equivalem a estudos
de usos linguísticos; assim, as crônicas publicadas por ele ressaltam a visão linguística em voga na
segunda metade daquele século.

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