Razões para a não prática desportiva em adultos:
Estudo comparativo entre a realidade rural e urbana.
Fernandes HM1, Lázaro JP1, Vasconcelos-Raposo J1.
1
Centro de Estudos em Educação e Psicologia da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.
Fernandes HM, Lázaro JP, Vasconcelos-Raposo J
(2005). Razões para a não prática desportiva em
adultos: Estudo comparativo entre a realidade
rural e urbana. Motricidade1 (2): pp-pp. 106-114
RESUMO
Considerandoaausênciadeestudoscentradosna
análise dos motivos para a não participação
desportiva,pretendemosconhecerosfactoresde
influênciaànãopráticadesportiva,assimcomo,
procederàcomparaçãoentreomeioruraleourbano,
dadooacessoàpráticadesportivaocorrerdeforma
diferenciadaparaestescontextos.
Umaamostrade321indivíduos(159dosexofeminino
e162dosexomasculino),comidadescompreendidas
entreos20eos67anos(M=35.67eSD=11.82)
respondeuaoIMAAD(Inquéritodemotivaçõespara
a ausência de actividade desportiva). Para a
comparaçãourbano/ruralrecorreu-seàtipologiade
emMonteiro(2000),peloque28.1%daamostra
afirmouviveremáreaspredominantementerurais,
25.5%emáreasmedianamenteurbanase46.4%
dos indivíduos referiram residir em áreas
predominantementeurbanas.
Obteve-se uma estrutura de 5 factores que
justificavam42.75%davariânciatotal,apresentando
estesíndicessatisfatóriosdeconsistênciainterna.
Asmulheresvalorizarammaisafaltadetempo,
enquantooshabitantesdezonasruraisevidenciaram
afaltadeapoios/condições,comoprincipaisfactores
motivacionaisqueorientamaausênciadeactividade
desportiva.
Palavras-chave:  rural/urbano, motivação e
sedentarismo.
data de submissão: 01-03-2005
data de aceitação: 07-04-2005
INVESTIGAÇÃO
ABSTRACT
Reasons for non sports participation among adults:
comparative study between rural and urban areas.
Consideringtheinexistenceofstudiescenteredin
theanalysisofthereasonsfornoninvolvementin
sportactivities,weintendedtoidentifytherespective
influencefactors,aswellas,toproceedtocompare
individualsaccordingtotheirresidentialareas:rural
andtheurbanasitishypothesizedthatadherence
to sport practice is mediated by this variable..
Asampleof321individuals(159femaleand162
male),withagesrangingbetween20andthe67
yearsold(M=35.67andSD=11.82)completedthe
IMAAD questionnaire. For the urban/rural
comparison it was used the Monteiro’s (2000)
typology.Thus,28.1%ofthesampleaffirmedto
liveinareaspredominantlyrural,25.5%inareas
mainlyurbanand46.4%oftheindividualsreferred
toliveinareaspredominantlyurban.
Astructureof5factorsemergedjustifying42.75%
ofthetotalvarianceand,presentingreasonable
valuesofinternalreliability.Thewomenvaluedmore
thelackoftime,whiletheruralhabitantsevidenced
the lack of supports/conditions, as the main
motivational factors that explain the lack of
involvementinsportactivity.
Key-words:rural/urban,motivationandsedentary
behavior.
INTRODUÇÃO
Acompreensãodosdiversosmotivosefactores
motivacionais que orientam e regulam um
determinadocomportamentonosdemaiscontextos
desportivos,temsidoumadasprincipaislinhasde
investigaçãotomadaqueranívelinternacional,bem
como, a nível nacional. Os inúmeros trabalhos
publicadostêmreveladoimportantesconsiderações,
permitindoumconhecimentomaisabrangentee
diversificadodomodocomoosindivíduosquando
detentores de determinadas características, as
perspectivamnaconcretizaçãodeumdeterminado
objectivo(perspectivacentradanoparticipante).
Igualmente,aconsideraçãodosfactoressituacionais
definequeamotivaçãoédeterminadapelasituação
ou contexto envolvente, atendendo a diversos
elementoscausais(perspectivacentradanocontexto).
Amotivaçãotemsidoentendidacomoumfactor
fulcral na influência dos resultados da
aprendizagem8,peloqueaomesmotempo,nãoé
possívelignoraroseucaráctermultidimensionalao
níveldasuaestrutura,definiçãoecomplexidade
subjacente.5,9,23,26ParaCratty9ePintricheSchunk26
otermomotivaçãotemorigemnapalavramovere
(dolatim),queéalgoquenosfazmexer,iraalgum
sítio(mover)ouincentiva-nosarealizarumatarefa.
Umadasdificuldadesnadefiniçãodamotivação,é
queesteconceitonãoédirectamenteobservável,
sendoapenasverificadoatravésdedeterminantes
comportamentais que o indivíduo demonstra,
possuindo assim um elevado grau de
subjectividade.24Emsuma,amotivaçãopodeser
descritacomoumprocessointernoqueregulae
orientaumdadocomportamento.Esteprocessoé
frequentementeafectadoporfactorespessoaise
contextuaisqueestãoassociadoscomaadesãoa
uma actividade e as recompensas/punições
provenientesdesseenvolvimento.
Amaioriadosestudostem-secingidoàutilização
de questionários que citam diversos motivos,
conducentesàparticipaçãodesportiva.Convêm,no
entanto,consideraradefiniçãodeBrito4queafirma
que o motivo é um factor dinâmico que age
influenciandoocomportamentooucondutadeum
indivíduonadirecçãodeumobjectivo,fimoumeta,
conscienteouinconscientementeapreendido.Este
factor manifesta-se ao nível interno, podendo
contudoserdesencadeadoporelementosexternos
quevãoaoencontrodeimpulsos,necessidadesou
forçaspotenciaisinternas.Omotivooscilaentre
umimpulso(processointernoqueincitaàacção)e
umdeterminadoobjectivo(metaoufim,queaoser
atingido, reduz ou anula temporariamente o
impulso).Esteciclo,atravésdasuarenovaçãoou
repetiçãoqueconduzaumconjuntodesatisfações
e gratificações, provoca uma apetência e
predisposição mais intensas para a sua prática
renovadaeconcretiza-secommaiorfrequênciae
facilidade, atingindo mesmo as esferas da
necessidadeedoprazer-satisfação.
Dentrodastemáticasdeestudodamotivaçãono
âmbitodaPsicologiadoDesporto,têm-sedestacado
asquebuscamasrazõesemotivosquedeterminam
oenvolvimentonapráticadeactividadesfísico-
desportivas,quersejaporpartedejovensemidade
escolar,comoporindivíduosadultos.Paraalémdo
estudodacontinuidade,outralinhadeinvestigação
tem-se cingido à análise dos factores que
determinam o abandono desportivo (desporto
escolar,desportojuveniledesportodecompetição),
considerando igualmente de modo ocorre essa
transição.Autilizaçãodeummodelodemotivação
interaccionista,temreveladodiversasrazões:(i)o
reforçonegativoecríticasconstantesporpartedos
treinadores;(ii)nãojogartemposuficiente(ser
suficiente);(iii)stresscompetitivo;(iv)faltade
sucesso;(v)incidênciadelesões;e,(vi)percepção
deincompetênciasfísicas.Assim,claramentese
demonstraocaráctermultidimensionaldamotivação
paraapráticadesportiva.Contudoedeacordocom
ataxadeparticipaçãodesportivadasociedadeem
geral, existem muitos adultos que ora são
sedentários,oranãorealizamactividadesfísicasa
níveisdeintensidadequeinduzamosbenefícios
desejados.3,12
Dadaaausênciadeestudoscentradosnaanálise
dosmotivosparaanãoparticipaçãodesportiva,
PereiraeVasconcelos-Raposodesenvolveramum
instrumento de avaliação que permitisse o
conhecimentodasrazõespelasquaisaspessoas
nãopraticamqualqueractividadedesportiva.23A
análise factorial inicial ao IMAAD (Inquérito de
motivaçõesparaaausênciadeactividadedesportiva)
em757alunosdeduasescolasdoconcelhodeBaião,
identificou11factorescomarespectivapercentagem
devariância:vergonha/faltadejeito(17.8%),falta
de apoios (6.8%), falta de tempo (4.2%),
desinteressepróprio(3.8%),desinteressedeoutrem
(3.7%),insatisfação(3.3%),saúde(3.0%),faltade
condições materiais/humanas (2.9%), estética
(2.7%),esforçofísico/medo(2.7%)econtextual
(2.6%).Emsuma,foramdefinidoscomomotivos
maisimportantesparaaabstinênciadesportiva,a
faltadeinstalaçõesdesportivas,afaltadeiniciativas
desportivasporpartedaautarquia,afaltadeapoios
e  s u b s í d i o s ,  a s s i m  c o m o ,  a  fa l t a  d e
treinadores/professores.
107
Posteriormenteecombasenomesmoquestionário,
LázaroeSantos18 propuseram-seadeterminaros
motivos que levam os jovens à não prática de
Desporto Escolar. Com base nestes objectivos,
aplicaramoIMAADaumaamostrade176alunosde
escolasdoInteriorNortedePortugal.Osprincipais
resultadosrevelaramumamaiorpreocupaçãodos
rapazespormotivosintrínsecos(medodelesão,a
idadedepráticaefaltadecompetências),enquanto
asraparigasvalorizarammais,motivosdeordem
extrínseca(razõeseconómicas,inadequaçãodos
horáriosdisponíveisnasinstalaçõeseaausênciade
suporte/incentivo parental). Numa análise
generalista,apenasseverificouaconstataçãode
ummotivocomosendoconsideradomaisimportante
(valormédiosuperiora3,numaescaladeLikertde
5 pontos), sendo este por razões de saúde.
Contrariamente,osmotivosevidenciadoscomo
menosimportantes(valormédioinferiora2)para
aausênciadepráticadesportivaforam:odesporto
éaborrecido,odesportonãotrazbenefícios,não
saberjogar,porvergonhadosoutroseporquenão
gostamdostreinadores/professores.
Destemodo,eseguindoumalinhadeorientação
escassa, a questão central do nosso problema
coloca-senumaperspectivaalgoantagónicaaoaté
agora primordialmente estudado, ou seja, não
queremos averiguar quais os motivos para o
envolvimentoouabandonodapráticadesportiva,
massim,determinarosfactoresporqueosadultos
nãoaderemàpráticadesportiva.Estaquestãotorna-
semaispertinente,quandoexisteaconstataçãode
quePortugalédetentordeumíndicedeparticipação
desportiva,bemabaixodamédiadosoutrospaíses
daComunidadeEuropeia.19Outrodadodeextremo
interesseéoquemostraquePortugaléopaísmais
sedentáriodaUniãoEuropeia17,emquecercade
82%dapopulaçãonãocumpreasrecomendações
mínimas diárias (30 minutos consecutivos ou
fraccionadosportrêsperíodosaolongododia).
Alémdestesfactos,claramentedenotamosqueeste
fenómenodeabstinênciadesportivaédeterminado
porrealidadesespecíficas,decorrentesdocontexto
culturalesócio-económico.Assimeparaalémde
pretendermosconhecerosfactoresdeinfluênciaà
nãopráticadesportiva,tambémnosiremoscingirà
comparaçãoentreomeioruraleourbano,dadoo
acesso à prática desportiva ocorrer de forma
diferenciadadeacordoasdiferentesrealidades.
Paratal,foiutilizadaumatipologia20queclassifica
as diferentes áreas em função de parâmetros
demográficos e geográficos: áreas
predominantemente urbanas (APU), áreas
medianamente urbanas (AMU) e áreas
INVESTIGAÇÃO
predominantementerurais(APR).
Considerandoestadistinçãoverifica-seummenor
desenvolvimento desportivo no meio rural,
consubstanciadonumamenortaxadeparticipação
desportiva,oquecomoconsequênciaoriginaum
menor número de instalações, possibilidade de
escolhasepioracessibilidadeàsinstalações.Contudo,
convêmigualmentedenotarqueomeiourbanoe
decorrentedamaiorofertadeactividadesdecarácter
nãodesportivo,originaumconflitodeinteresses
traduzidonodispêndiodetempoedinheiroemoutras
actividades,quenãoasdesportivas.22
METODOLOGIA
Amostra
Aamostradopresenteestudofoiconstituídapor
321indivíduos(159dosexofemininoe162dosexo
masculino,comidadescompreendidasentreos20
eos67anos(M=35.67eSD=11.82).Nenhumdestes
indivíduos na altura do preenchimento do
questionáriorealizavaqualquertipodeactividade
desportiva de forma sistemática. Quando
diferenciadosemtermosderesidência,90(28.1%)
indivíduos afirmaram viver em áreas
predominantementerurais(APR),82(25.5%)em
áreasmedianamenteurbanas(AMU)eosrestantes
149(46.4%)indivíduosreferiramresidiremáreas
predominantemente urbanas (APU). Foram
consideradas como variáveis independentes, o
género e o local de residência. As variáveis
dependentesmensuradasreferem-seaositensdo
instrumentoutilizado.Aamostragemédotipo
probabilístico, dado a selecção dos elementos
constituintes da amostra ter sido realizada
aleatoriamente.6
Procedimentos
Paraospropósitosdopresenteestudo,foiaplicado
oIMAAD23(Inquéritodemotivaçõesparaaausência
deactividadedesportiva)queéumquestionárioque
pretende determinar quais os motivos que
contribuemparaaausênciadepráticadesportiva.
C o m o  r e fe r i d o  a n t e r i o r m e n t e ,  o  s e u
desenvolvimento surgiu da necessidade de
colmataçãodeinvestigaçãonestaárea.Écomposto
por39itensderespostafechada,respondidosnuma
escala de tipo Likert de 5 pontos (1=discordo e
5=concordocompletamente)eemquecadaitem
temumaeumasópossibilidadederesposta.Todos
ositensestavamprecedidospelaafirmação“Eunão
praticoactividadedesportivaporque...”,demodo
Razão para a não prática desportiva.
Fernandes HM, Lázaro JP, Vasconcelos-Raposo J.

Quadro 1 : Estrutura factorial e respectivas percentagens de

adeterminarexactamenteosmotivosdosindivíduos variância e eigenvalues.
constituintes da amostra. Fernandes, Lázaro e
Vasconcelos-Raposo (in press) efectuaram
recentemente,umaanálisedassuascaracterísticas
psicométricas,demodoarealizarumavalidação
inicialdestequestionário.Osresultadosrevelaram
uma estrutura factorial bastante satisfatória,
evidenciandoíndicesdeconsistênciainternados
factoresobtidosquevariaramentre0.69e0.85.

Estatística

Apósarecolhaeinserçãodosdadosnoaplicativo
específico de estatística SPSS 10.0 (Statistical
ProductsandServiceSolutions©,1999),procedeu-
seaumaanáliseinicialdosdados,noqueserefere
amedidasdetendênciacentralededispersão(média
edesviopadrão,respectivamente).Posteriormente,
foiefectuadaumaAnáliseFactorialExploratória
(método Principal Axis Factoring) com rotação
Varimax,sendorealizadaaanálisedeconsistência
interna(•'5fdeCronbach)paracadaumdosfactores
obtidos.Oscritériosparadeterminaçãodosfactores
foram:(i)saturaçãoigualousuperiora0.30decada
itemnohipotéticofactor2;(ii)cadafactorpossuir
ummínimode3itens16;e,(iii)aretiradadoitemnão
deveriadiminuirafidelidadedosupostofactor.10
Porfimecomvistaàanálisecomparativaentreas
variáveisindependentesestudadas,recorreu-seao
testetdeStudentparaamostrasindependentes
(análise da variável género) e à ANOVA com o
respectivotestepost-hocScheffé(análisedavariável
localderesidência).Oníveldesignificânciafoi
mantidoem5%(*p<0.05,**p<0.01,***p<0.001).
RESULTADOS

Análise factorial

Noquadro1sãoapresentadososfactoresobtidos
a partir da análise factorial exploratória, a
percentagemdevariânciacomquecadaumdos
factorescontribuiparaavariânciafinalassimcomo
ovalordoeigenvalue.

109
Foramobtidos5factoresquejustificam42.75%da Análise comparativa em função do género
variânciatotal.Oprimeirofactoréconstituídopor
8 itens tendo sido denominado por Aversão Paraverificarmosseavariávelgéneropossuíapoder
desportiva/Incompetência,justificandoamaior diferenciador em relação ao factores de não
percentagemdevariância(19.7%).Ofactordois,ao motivaçãoparaapráticadesportiva,realizámosuma
qual atribuímos a denominação de Falta de análise comparativa podendo os dados ser
apoios/condições,justifica9.0%davariânciaeé observadosnoquadro3.
constituídoporumtotalde9itens.Desinteresse
peloesforçofísicoéoterceirofactorejustifica Quadro 3 : Análise comparativa dos factores por género.
5.54%davariância.Estefactorécompostopor8
itens.Aoquartofactor,Estética/insatisfação,estão
associados6itensjustificando,porsisó,4.51%da
variância. O último factor por nós encontrado
justifica4.0%davariânciaefoidenominadopor
faltadetempo,sendoconstituídopor3itens.Todos
oscritériosreferidosparaobtençãodaestrutura
factorialforammantidos.

Análise descritiva e correlacional

Atravésdoquadro2podemosanalisarquaisos
factoresapontadoscomomaisemenosimportantes,
pelosindivíduosqueconstituíamanossaamostra,
paraanãopráticadeactividadefísica,assimcomo,
osvaloresdascorrelaçõesentrefactores.
Quadro 2 : Análise descritiva e correlacional dos factores
Quandocomparadososresultadosemfunçãodo
género, verificámos que existem diferenças
estatisticamentesignificativasentreosindivíduos
dosexomasculinoefemininosomentenofactorFalta
detempo(p=0.009),sendoosindivíduosdosexo
femininoosqueapontamestefactorcomomais
determinanteparaabstinênciadaactividadefísica.

Analise comparativa em função dos local de

residência

Dacomparaçãoentrelocaisderesidênciaouseja,
áreas predominantemente rurais (APR), áreas
medianamente urbanas (AMU) e áreas
predominantementeurbanas(APU),obtiveram-se
os resultados apresentados no quadro 4.

Nota: na intersecção da linha com a coluna do mesmo factor é apresentado o •'5f Quadro 4 : Análise comparativa dos factores por local de residência
de Cronbach

Osresultadosencontradosdemonstramaexistência
decorrelaçõesestatisticamentesignificativasentre
todos os factores obtidos. De salientar que a
magnitudedascorrelaçõesémoderadaemtodos
oscasos.Constatamosainda,apartirdosvalores
apresentadospelo•'5fdeCronbach(sempreacima
de0.69)que,etendoemcontaquesetratadeuma
análisefactorialexploratória,osfactoresapresentam
índices de consistência interna satisfatória.

INVESTIGAÇÃO
Razão para a não prática desportiva.
Fernandes HM, Lázaro JP, Vasconcelos-Raposo J.
Noquedizrespeitoàcomparaçãoentrelocalde
residência, constamos que existem diferenças
estatisticamentesignificativasnosfactoresFalta
deapoios/condições(p=0.004)eDesinteressepelo
esforçofísico(p=0.002).Relativamenteaofactor
Falta de tempo, o teste de Scheffé evidencia
diferençasestatisticamentesignificativasentreas
áreaspredominantementeruraiseosdoisrestantes
grupos(p=0.032ep=0.008,respectivamente).Pela
análisedasmédias,verificamosquesãoosindivíduos
das áreas predominantemente rurais que mais
valorizamestefactor,seguidospelosindivíduos
residentes nas áreas medianamente urbanas e
finalmente, os indivíduos moradores nas áreas
predominantementeurbanas.
NoquedizrespeitoaofactorDesinteressepelo
esforçofísico,asdiferençasverificaram-seentreos
indivíduos residentes nas áreas medianamente
urbanas e os indivíduos moradores nas áreas
predominantementeurbanas(p=0.002).Pelaanálise
dasmédias,épossívelconstatarqueogrupoque
valorizamaisestefactorparajustificaranãoadesão
à prática desportiva é o das áreas
predominantementeurbanas.
DISCUSSÃO
Osresultadosobtidosnopresenteestudo,levam-
nosasugerirqueanãomotivaçãoparaapráticada
actividade física deve ser entendida de forma
multidimensional. Parece-nos claro que o
abstencionismodaspessoasquantoàpráticada
actividade física, não decorre somente pela
influênciadeumúnicofactor,massimdarelação
de diversos factores, que embora mantenham
relaçãoentresi,seconstituemcomorelativamente
distintosunsdosoutros.
De salientar, a partir dos dados da estatística
descritiva,queosfactoresmaisvalorizadosparaa
nãopráticadesportivasãoofactorFaltadetempo,
DesinteressepeloesforçofísicoeofactorFaltade
apoios/condições.Estesresultadoscorroboram
anterioresestudos19,25epodem-sedeveraofacto
de em Portugal, os hábitos desportivos das
populações,especialmentedasmaisavançadasna
idade,seremmuitoreduzidos19oquefazdenóso
paísmaissedentáriodaUniãoEuropeia,emque
cerca de 82% da população não cumpre as
recomendações mínimas diárias de 30 minutos
consecutivosoufraccionadosportrêsperíodosao
longododia.17Talseagravamaisaindaperanteos
valores apresentados por Varo et al. 28  que
novamente colocam Portugal como o país mais
sedentáriodaUniãoEuropeia(15países)comum
valorde87.8%detaxadesedentarismo,sendoas
mulheresmaissedentárias(90.0%)queoshomens
(85.2%).
Emnossoentender,estesresultadospodemestar
igualmenterelacionadoscomaideiaestandardizada
depráticadesportivaaliadaaomodelodedesporto
decompetição.Sefizermosumaanálisedoquetem
sidoosprocessosdedivulgaçãoepromoçãoda
práticadodesporto,nomeadamenteporparteda
tutela,constatámosqueestetemestadosempre
associadoàsgrandescompetições,aosgrandes
atletaseàsgrandesmarcas,ouseja,oênfaseda
divulgaçãoepromoçãotemsidodado,nanossa
opiniãoerradamente,aoespectáculoenãotantoà
importânciadaprática.
Termosaindaqueteremconsideraçãoaexistência
deumaofertadesportiva,muitavezes,deficitária,
maisumaveznalógicadodesportodecompetição,
quenãoseadequaàsnecessidadeseambiçõesdas
pessoasdafaixaetáriaemquestãonesteestudo.
Para constatar esta realidade, basta fazer uma
análise dos estudos realizados no âmbito da
motivaçãoparaapráticadesportivaepoder-se-á
constatar que os motivos apresentados para a
prática da actividade física se prendem
maioritariamentecomquestõesacercademelhorar
eaprendernovashabilidades,divertimento,estar
com os amigos, afiliação, excitação e desafio
competitivo.15,27,29,30
Escarti13édeopiniãodeque,noquedizrespeitoà
faltadeinteressepelaactividadefísica,estapode
dever-seafactorespsicológicostaiscomovariáveis
depersonalidade,valoresecrençasdosujeito,seu
desconhecimento sobre saúde e benefícios da
actividadefísicaepercepçãodecapacidade.Estas
questões,aliadasaoritmodevidadassociedades
de hoje em dia, fazem com que a prática da
actividade física passe a ser vista como não
prioritária,sendoafaltadetempoumargumento
fácilparajustificarasuaadesãoàpráticadesportiva.
Neste ponto, salienta-se que a falta de tempo
assume-secadavezmaiscomoumadesculpa,em
vezdebarreira/motivoparaanãopráticadesportiva,
namedidaemqueosindivíduosgeremotempode
modoafazerascoisasquepretendem,peloque
casoquisessemrealizarexercíciofísico,iriamarranjar
tempoparatal.7
Quandoanalisadososfactoresmenosimportantes
salienta-seaAversãodesportiva/Incompetênciae
Estética/Insatisfação. Estes resultados são
concordantescomosresultadosencontradosnos
estudosdamotivação,emqueestesfactoresou
motivos nele integrados, como por exemplo a
procura,aaquisiçãooumanutençãodeelevados
111
índicesdeformafísica,aparecemcitadoscomoos
mais importantes para a adesão à prática da
actividadefísica.15Poderáaindasignificarqueestas
pessoas apresentam índices satisfatórios de
percepçãodecompetência,assimcomo,umaboa
imagem corporal que poderá estar associada a
elevadosvaloresdeauto-estima.
Parece-nosaindaimportantesalientarqueíndices
da percepção de competência poderão estar
relacionadoscompercepçõespositivasdeauto-
eficácia,oquenoentenderdosdefensoresdas
teoriassócio-cognitivasébenéfico,poisaspessoas
com elevados índices de auto-eficácia mais
facilmentesuperamastarefasdifíceis,imprimindo
toda a sua energia na realização das tarefas e
encontrando mais facilmente soluções para as
adversidades. Na mesma linha de raciocínio
afirmamqueaauto-eficáciapercebidatambém
afectaospadrõesdepensamento,assimcomoas
reacçõesemocionais.
Quandoconsiderandososresultadosdaanálise
comparativaporgénero,estesvãodeencontroa
outrosjápublicados19,25quandoreferemaexistência
de discursos preconceituosos imanados pela
sociedadesobreoidealdefeminilidade,acomeçar
pelafamília,passandopelosparesepelaescola,
assim como, sobre as funções sociais a que as
mulheresdeveriamestarexpostas.Nestalinhade
comportamentos,asmulheresnãodeveriamser
encorajadasparaapráticadaactividadefísica.Na
nossaopinião,ofactodeasmulheresafirmarem
nãoteremtempoparaapráticadesportivaprendem-
se antes de mais com valores sócio-culturais.
Duranteasuainfânciaeadolescêncianãoforam
“educadas”paradesenvolverogostopelaactividade
física,assimcomo,entenderasuaimportância.A
escolaeosprogramasdeEducaçãoFísica,frutoda
filosofiabehaviorista,queaindacondicionaosseus
desempenhos,preocupam-semaiscomoensino
dosdiferentesskillsdasdiferentesmodalidades,do
quecomodesenvolvimentodecompetênciaspara
aquisiçãodeestilosdevidaactivos,deentreos
quaissalientamosaactividadefísicaregular.Tal
constataçãopodeadvirdasescolhasdesportivas
feitaspelaescola(atravésdadisciplinadeEducação
Física), terem um “cunho primordialmente
masculino”apardaplanificaçãodaaulaparaum
suposto aluno médio. Como consequência, as
raparigastendemadesenvolverauto-percepções
negativas,oquequerdizerquepoderãocolocarem
causaassuascompetências,logoaevitarsituações
deinsucesso,conduzindoaoabandonoouànão
prática de actividade física em idades adultas.
Outromotivoencontradonabibliografiaprende-se
INVESTIGAÇÃO
comofactodequeemPortugal,nosúltimosanos,
ter-sedesenvolvidoessencialmenteomodelode
desportofederadobaseadonacompetição19oque
se torna numa dificuldade acrescida para as
mulheres,namedidaemqueamulhernasociedade
actualparaalémdedesempenharopapeldedona
decasaedemãe,temtambémqueterumaprofissão
eumacarreira.
Relativamenteaumdospropósitoscentraisdeste
estudo, os resultados encontrados reforçam a
opiniãoqueofactodanossasociedadesermarcada
pela imagem desportiva, a carência de infra-
estruturapúblicas,aexistênciadeinvestimentos
poucoarticuladoseadequadosàprocuraexistente
eàescassezdemeiosfinanceiro,dificultaoacesso
àpráticadesportivaeaconsequenteaquisiçãode
hábitosdesportivos.21Araújo1acrescentaainda,
queoquadrodecentralismoquesevivenonosso
país tem agravado os desequilíbrios regionais
mesmo quando os recursos financeiros são
reforçados.Nanossaopinião,estesdesequilíbrios
fazem-se sentir mais fortemente ao nível da
quantidadeequalidadedosserviçosprestado,
nomeadamente os de índole desportiva.
A este factor poderemos acumular os políticas
municipaispouco,ounadadireccionadas,parao
desenvolvimento de projectos desportivos,
especialmente nas regiões do interior. A não
existênciaouexistênciadeficitáriadeinstalações
desportivas,querformais,querinformais,associada
àfaltadetécnicoscredenciados,aumassociativismo
emcriseeàinexistênciadeumplanomunicipalde
desenvolvimentodesportivopoderãojustificaros
resultados por nós encontrados em relação ao
primeiro factor (falta de apoios/condições).
Noqueconcerneàsdiferençasencontradasnofactor
Desinteresse pelo esforço físico, em que os
indivíduos, que habitam nas áreas
predominantementeurbanasvalorizammaisdoque
osrestantes,podeestarrelacionadocomomaior
lequedeofertas,querdeíndolecultural,querde
índoledesportivo,queestescentrosproporcionam.
Poderáaindaserfrutodeumavisãonegativada
actividadefísicaconsiderando-apoucoatractiva.
Estaperspectivanegativapodeadvirdasofertas
desportivas que são oferecidas, já que, na sua
maioriaessaofertaéfeitapelosclubeseassociações,
que estão imbuídos do espírito do rendimento
desportivo,ecomotal,conduzemassuasactividades
de forma a favorecer os mais aptos física e
tecnicamente.1
Setivermosemconsideraçãoaperspectivateórica
deDecieRyan11segundooqualocomportamento
dos seres humanos está motivado pelas
Razão para a não prática desportiva.
Fernandes HM, Lázaro JP, Vasconcelos-Raposo J.

necessidadesdeestessesentiremcompetentese CORRESPONDÊNCIA:
autodeterminadosnassuasrelaçõescomomeio,
qualquercircunstânciaqueafecteumaououtra JoséVasconcelos-Raposo
destas necessidades fundamentais, afectará a CentrodeEstudosemEducaçãoePsicologia
motivação.Nonossocaso,anãocapacidadede UniversidadedeTrás-os-MonteseAltoDouro
execução correcta dos skills técnicos ou a QuintadePrados,Apartado202,5000VilaReal,Portugal
inexistênciadecontingênciasentreosobjectivos E-mail:jraposo@utad.pt
definidoseoresultadoobtido,poder-se-átraduzir
emindivíduos“amotivados”.
Com o nosso estudo tínhamos como principais
objectivos,conhecerosfactoresdeinfluênciaànão
práticadesportivaeprocederàcomparaçãoentre
o meio rural e o urbano, para que a partir do
conhecimentodestarealidadepudéssemossugerir
estratégias para alterar os comportamentos de
abstinênciadeactividadefísicadestatipologiade
populações.
Pelosresultadosobtidospodemosconcluirque:
•anãomotivaçãoparaapráticaactividadefísica
deveserentendidacomoumconceito
multidimensional;
•osindivíduosqueconstituíamanossaamostranão
praticamactividadefísicaessencialmentedevidoa
5factoresvalorizandoprincipalmenteosdenatureza
extrínseca,quepassamosaapresentarporordem
deimportância:Faltadetempo,Desinteressepelo
esforçofísico,Faltadeapoio/condições;Aversão
desportiva/incompetência,Estética/insatisfação.
Contudo,existealgumaprevalênciade
comportamentosassociadosarazõesdecausalidade
interna,denotandoaimportânciadeexperiências
anteriores,quepossamterindiciadopensamentos
negativosacercadoauto-conceitoepercepçõesde
competênciadesportiva(Fernandes,Lázaroe
Vasconcelos-Raposo,inpress);
•quandodiferenciadosporgénero,constatamos
queoúnicofactorqueosdiferenciaéafaltade
tempo,sendoestemaisimportanteparaanão
práticadasmulheres;
em relação à comparação entre áreas
predominantementerurais,áreasmedianamente
urbanas e áreas predominantemente urbanas,
verificaram-se diferenças estatisticamente
significativasnosfactoresFaltadeapoios/condições
e no factor Desinteresse pelo esforço físico,
denotando-se um menor desenvolvimento
desportivonosmeiosrurais.

113
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