Você está na página 1de 3

Correio do Patriota

O Sector eléctrico em Angola


17-Mar-2010

Especialistas do Espírito Santo Research apresentam-nos hoje um diagnóstico sobre o estado do Sector Eléctrico em
Angola, suas potencialidades e limitações.

O desenvolvimento do sector eléctrico é uma das prioridades da política energética de Angola, estando projectados
avultados investimentos neste sector nos próximos anos. O sistema eléctrico angolano tem ainda um longo caminho a
percorrer, pois apresenta grandes fragilidades.

A maior parte das infra-estruturas energéticas foi construída muito antes da independência (1975) e a situação de guerra
vivida no país, as dificuldades financeiras, a insuficiente manutenção dos equipamentos e as acções de sabotagem foram
provocando a degradação das infra-estruturas de produção, de transporte e de distribuição de energia eléctrica.

Organização do sector eléctrico

Os principais intervenientes no sector eléctrico angolano são os que a seguir são referidos.

Ministério da Energia (MINERG) - é o órgão do Governo que tutela os sectores da Energia, sendo responsável pelo
desenvolvimento das respectivas políticas, planificação, coordenação, supervisão e controlo das actividades relativas ao
aproveitamento e utilização racional dos recursos energéticos nacionais. A Direcção Nacional de Energia (DNE) é o seu
órgão executivo para a área da energia.
Empresa Nacional de Electricidade (ENE, EP) - é o principal operador do sector eléctrico angolano, presente em 15
das 18 províncias de Angola, e é responsável por grande parte dos equipamentos de produção de energia no país. Tem
como missão a produção, o transporte, a distribuição e a comercialização da energia eléctrica, em regime de exclusividade,
nas áreas concedidas pelo Governo.
Empresa de Distribuição de Electricidade (EDEL) - é a empresa responsável pelo fornecimento de electricidade (que é
adquirida à ENE) na província de Luanda podendo, a título subsidiário ou excepcional, dedicar-se à produção de energia
eléctrica.

Instituto Regulador do Sector Eléctrico (IRSE) - é a entidade reguladora do sector da energia eléctrica. Tem por
atribuições, nomeadamente, regular as actividades de produção, de transporte, de distribuição e de comercialização da
energia eléctrica no sistema eléctrico público, regular o relacionamento comercial entre este sistema e os agentes que
não lhe estejam vinculados, proteger os interesses dos consumidores em relação aos preços da electricidade, serviços e
qualidade do abastecimento, fomentar a concorrência onde exista potencial para a melhoria da eficiência no
desempenho das actividades do sector, prevenir as práticas anti-competitivas, preparar a proposta do regulamento
tarifário, e suas actualizações, preparar propostas para a fixação de tarifas e preços e submetê-las ao Conselho Tarifário
para parecer (para serem fixadas pelo Ministério das Finanças), fiscalizar o cumprimento do regulamento do acesso às
redes e às interligações, garantir a todos os agentes, operadores e investidores do sector a existência de condições que
lhes permitam, no âmbito de uma gestão eficiente, a obtenção de um equilíbrio económico-financeiro necessário ao
cumprimento das obrigações previstas nos respectivos contratos de concessão e licenças.
Gabinete de Aproveitamento do Médio Kwanza (GAMEK) - é um gabinete, criado em 1987 pelo então Ministério de
Energia e Petróleos, com a missão de coordenar e supervisionar todos os aproveitamentos hídricos do Médio Kwanza, e
que tem por objecto principal coordenar e controlar a execução dos trabalhos a serem realizados nas barragens de
Cambambe e de Capanda (ambas localizadas na província de Malange).

Hidrochicapa - é o principal produtor independente de energia. A empresa mineira russa Airosa criou a Hidrochicapa,
em conjunto com a ENE, com vista à construção e exploração de um aproveitamento hidroeléctrico de 16 MW, localizado,
na Lunda Sul. O objectivo é fornecer energia às minas de diamantes que a Airosa explora na província da Lunda Sul.
Hidroluapasso - é um sistema hidroeléctrico independente, participado pela ENE e pela Escom Energy (Grupo Escom),
localizado na província da Lunda Norte, que visa fornecer energia à indústria mineira existente na zona e às populações das
zonas centro e sul da Lunda Norte e da zona norte de Lunda Sul.

Recursos energéticos e capacidade de produção de energia eléctrica

Angola é um país que possui vários recursos energéticos, tais como o petróleo (15.º do ranking mundial de reservas em
2008), o gás natural, bem como recursos renováveis resultantes do elevado potencial hídrico e solar. Estes recursos,
explorados de forma sustentada, podem satisfazer as necessidades energéticas do país, permitindo que Angola se
transforme num exportador de electricidade.

http://www.correiodopatriota.com Criado em: 19 de Abril de 2011 às 22:59


Correio do Patriota

Na realidade, Angola possuiu um grande potencial hídrico para produção de energia eléctrica, que se estima estar a ser
utilizado em apenas cerca de 2% (levantamentos efectuados no tempo colonial indicam um potencial hídrico de produção
de energia hidroeléctrica de 150 mil GWh/ano, tendo em 2008 sido gerados cerca de 3,1 mil GWh).

É notório o crescimento da exploração da energia hídrica a partir do ano 2000, sendo mais acentuado a partir do ano de
2004. A produção de energia hidroeléctrica apresenta uma TCMA3 de 0,3%, entre 1995 e 2000, ascendendo a 16,9%
entre 2000 e 2008. Em 2008, 77,7% da electricidade produzida em Angola foi proveniente das centrais hídricas e cerca
de 22,3% das centrais térmicas alimentadas a diesel.

Existem três grandes sistemas eléctricos em Angola (que não se encontram interligados em termos de rede eléctrica)
e ainda alguns sistemas isolados, como segue.

O Sistema Norte fornece as províncias de Luanda, do Bengo, do Kwanza-Norte, do Kwanza-Sul e de Malange. Do total
da capacidade instalada, apenas 86% se encontra disponível (percentagem que piora nas centrais térmicas onde
apenas 64% das centrais se encontram operacionais).

Esta zona é responsável por cerca de 83% da energia produzida em Angola, com forte preponderância na energia
hídrica, já que é aqui que se localizam as barragens de Capanda e de Cambambe, responsáveis por cerca de 55% e
de 18%, respectivamente, da electricidade produzida em Angola, em 2008.

A capacidade de produção do Sistema Norte é muito superior à actual procura de energia eléctrica desta zona, porém, a
falta de interligação de redes tem impedido a partilha desta electricidade com outras regiões.

O Sistema Central abastece as províncias de Benguela, Huambo e Bié, cuja produção representou, em 2008, cerca 4,9%
da electricidade produzida em Angola. Aqui, encontra-se operativa apenas 47% da capacidade instalada, pois esta foi a
zona do país que sofreu maior destruição durante a guerra (encontram-se muitos sistemas isolados a operar nesta zona
do país).

É no Sistema Central que se localizam as barragens de Biópio e de Lomaum. O Sistema Sul fornece as províncias de Huila
e de Nanube. Nesta zona existe um pequeno sistema isolado ao longo da fronteira, entre a província do Cunene e a
Namíbia, que é formalmente considerado como parte do Sistema Sul embora não esteja ligado a este (não possui
capacidade produtiva própria e importa toda a sua energia da Namíbia). O Sistema Sul contribui apenas com 5,7% da
electricidade produzida em Angola, destacando-se a barragem de Matala.

Os Sistemas Isolados – a Empresa Nacional de Electricidade de Angola possui vários sistemas isolados nas seguintes
províncias: Bié, Bengo, Cabinda (o mais importante), Huambo, Malange, Monco e Uíje. A capacidade instalada destas
redes isoladas era, em 2008, de 159 MW (84% centrais térmicas), encontrando-se cerca de 72% operacional.

No que concerne às indústrias, quase todas têm a sua produção própria de energia para compensar o fornecimento
irregular da rede. A capacidade total da autoprodução não é conhecida. Estima-se que represente cerca de 20% da
capacidade total do país, em torno de 225 MW (a capacidade de geração própria é alimentada a diesel).

Embora não se saiba quantos consumidores domésticos possuem geradores de energia, as estimativas informais das
autoridades, indicam que poderão chegar até cerca de 75% dos consumidores em algumas zonas Urbanas. A produção
de electricidade é efectuada mediante concessão ou licença, sendo a ENE o principal player.

Transporte de electricidade

A Rede Nacional de Transporte (RNT) de electricidade de Angola é explorada em regime de concessão de serviço
público pela ENE. Esta rede é de reduzida dimensão face às necessidades do país (compreende cerca de 2.588 Km),
parte desta não se encontra operativa (apenas 71% da rede eléctrica existente funciona) e os três sistemas de produção
(Norte, Centro e Sul) não se encontram interligados, pelo que a electricidade não pode ser transportada entre estas
zonas (verificando-se excesso de produção de electricidade num dos sistemas, essa electricidade não pode ser
transferida).

A rede de transporte de electricidade em funcionamento ascende a cerca de 1.841 Km de linhas, cerca de 34% de 60
KW de capacidade e 47% de 220 KW de capacidade. A primeira linha de transporte de Alta Tensão de 400 KW encontra-
se a ser construída em Lucala (província do Kwanza-Norte), o que permitirá interligar a barragem de Capanda até às
subestações de Viana (na Província de Luanda) e de Maquela (na Província do Uíge).

Estão a ser promovidos investimentos que pretendem interligar estes três sistemas eléctricos, com o objectivo de
alcançar:
• Melhorias no fornecimento de electricidade;
http://www.correiodopatriota.com Criado em: 19 de Abril de 2011 às 22:59
Correio do Patriota

• Ganhos em termos de economia de escala e de reserva no sistema,


• Maior utilização do potencial hidroeléctrico existente;
• Redução de custos de produção, reduzindo da componente térmica, e menor poluição ambiental;

Para a interligação entre o Sistema do Norte e do Centro (Gabela a Quileva) está em construção uma linha de 220 KW,
numa extensão de 180 km, cuja conclusão está prevista para Dezembro de 2009. A interligação do Sistema Central ao
Sistema Sul encontra-se em fase de estudo.

Também a nível internacional as interligações são inexistentes, existindo apenas uma ligação a Namíbia, que fornece uma
pequena zona rural na província do Cunene. No entanto, o objectivo é unificar os três sistemas de modo a criar uma
rede eléctrica global em todo o território, que será ligada às redes eléctricas dos países vizinhos, o que possibilitará
fluxos de energia eléctrica (exportação) no âmbito da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC).

A Escom realizou estudos de viabilidade para o projecto de ligação de redes de transporte de energia eléctrica entre
Angola, a RD do Congo, a Namíbia e a África do Sul, Projecto Westcor (Western Comdor Project) destinado a transportar
energia eléctrica através da construção de uma linha de alta tensão, numa extensão de três mil quilómetros, que partirá
da Barragem do Inga (República Democrática do Congo), onde será construída uma central de produção de energia
(de 3.300 MW), até à África do Sul, passando por Angola, Namíbia e Botswana.

Esta é uma iniciativa conjunta da SADC e dos Governos e empresas dos países pertencentes a Westcor, estando
avaliada em pelo menos USD 4 mil milhões.

Fonte: Novo Jornal, 17 de Março de 2010

http://www.correiodopatriota.com Criado em: 19 de Abril de 2011 às 22:59

Você também pode gostar