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INTRODUÇÃO
BEINEKE, Viviane; LEAL, Cláudia. Criatividade e educação musical: por uma atitude perante as práticas musicais na
escola. Expressão, v. 5, Santa Maria, 2001, p. 157-163.
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muito pelo contrário: ela é inerente a qualquer ser humano, só dependendo dele e da
educação que usufrui, a possibilidade de desenvolver essa capacidade”. Neste sentido,
uma das dificuldades que cercam a compreensão do sentido da palavra criatividade é a
falta de diferenciação entre os conceitos de criatividade, inteligência, originalidade,
imaginação e espontaneidade.
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considerada nova, mas que acaba sendo aceita num determinado ambiente
cultural (Gardner, 1996, p. 30-31).
O autor destaca que esta definição aponta algumas características que menos
comumente são expostas nas pesquisas sobre a criatividade. A primeira dessas
características é que uma pessoa pode ser criativa em um domínio e em outros não, isto é, a
pessoa não é simplesmente criativa, e sim, criativa em uma certa atividade ou disciplina. A
segunda é que existe uma regularidade nas manifestações criativas, as quais não costumam
ser eventuais. Por fim, outra característica refere-se à afirmação de Gardner de que “nada é
ou deixa de ser criativo em si mesmo ou por si mesmo”1. Visto desta forma, o que é
criativo em um certo contexto pode não o ser em outro, de maneira que as atividades
criativas somente são reconhecidas como tal quando forem aceitas numa determinada
cultura. Assim, a criatividade é um julgamento inerentemente comunal ou cultural, onde
ser ou não ser criativo depende do contexto (Gardner, 1996, p. 31).
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Dentro desta perspectiva, nos cabe perguntar: O que é e onde está a criatividade nas
salas de aula de música?
No Brasil, o movimento da criatividade na educação eclodiu por volta dos anos 603,
sendo especialmente representativa desta tendência a proposta de ensino musical
denominada por “Oficina de Música” (Campos, 1988; Paz, 2000; Penna, 1990). Esta
proposta, influenciada por educadores do exterior, tais como Carl Orff, Murray Schafer e,
no Brasil, pelo Grupo Música Viva4 e por Koellreutter, enfatizava a criatividade e a
expressão pessoal através da música5. Segundo Campos (1988), a denominação “Oficina
de Música” abrangia uma série de práticas diversificadas, mas que tinham, como
característica comum da metodologia, aspectos como:
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Grifo do autor.
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Grifo do autor.
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As origens desse movimento e outros pontos de irradiação do mesmo no Brasil podem ser vistos em
Fonterrada (1993) e Fuks (1991).
4
Para detalhamento do movimento Música Viva, ver Kater (1992).
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Como principais representantes e precursores dessa proposta, Campos (1988) situa Emílio Terraza e
Nicolou Kokron que, em 1968, começaram a sistematizar os princípios que defendiam para o ensino de
música, no Departamento de Música da Universidade de Brasília.
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A música do século XX também foi muito valorizada neste período. Sobre isso, Paz
(2000, p. 236) chama a atenção para o fato de que a maioria destes movimentos, em todos
os lugares, partiram primeiramente de jovens compositores. Segundo a autora, “temos a
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impressão de que o alvo era a busca total de uma nova sonoridade, a música que
caracterizaria o nosso século e, em resposta, obtiveram também toda uma reformulação
das práticas até então existentes no ensino elementar de música”.
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Sherman (1991a, p. 12) também salienta que, embora as mudanças possam ser
feitas em qualquer ponto do currículo, o ponto mais efetivo para provocar alguma
transformação nas práticas vigentes é através dos programas de formação universitária.
Sem se apoiar somente nas questões teóricas, de performance, de literatura ou de métodos,
os programas deveriam se concentrar em como são ensinados e ao que estão servindo todos
esses conteúdos nas aulas de música. Nesta perspectiva, as atividades criativas nas aulas de
música deveriam aplicar-se, de maneira equilibrada, a todos os parâmetros da experiência
musical e não, como ocorre comumente, priorizando as atividades de composição. Assim,
é possível construir uma prática educacional criativa, na qual os professores e os alunos
incorporem na rotina escolar atitudes criativas presentes na prática do executante, do
ouvinte e do compositor.
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A orientação que vem sendo dada à criatividade atualmente está muito mais
relacionada com a própria concepção de música e de educação que fundamenta o ensino,
do que em uma idéia de atividades criativas específicas. Desta maneira, o foco se desloca
das atividades criativas para uma atitude criativa perante as práticas musicais, permeando
toda a prática pedagógica. Nestas bases, as atividades desenvolvidas no ensino de música
seriam desenhadas a partir de um quadro teórico mais amplo que orienta todo o projeto
educacional.
Quais as atividades que deveriam ser conduzidas em sala de aula e de que forma
elas poderiam ser desenvolvidas para que esta orientação criativa fosse contemplada? Para
Elliott (1995, p. 234), isso envolve alguns princípios, sendo o principal deles o
engajamento dos estudantes em problemas e projetos musicais autênticos, isto é,
musicalmente significativos. De acordo com o autor,
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isto significa que “a música na escola não pode ser vista como um museu musical ou uma
janela cultural, mas um lugar e um espaço onde nós facilitamos conversações musicais e
conversações sobre música”.
A idéia da atitude criativa que orienta todo o processo de ensino pode dar a falsa
impressão de que tudo é criativo. Sobre isto, Elliott (1995, p. 222) adverte que “quando um
professor decide que tudo é criativo, o conceito de musicalidade, desafio e resultado
criativo evaporam” ou seja, se o professor aceita tudo o que os alunos fazem como
criativo, então não há mais o que ensinar.
Vale ressaltar também que, em acordo com as concepções aqui discutidas, a idéia
de um processo criativo que subjaz ao ensino de música é mais relevante do que a busca
por produtos criativos. Seguindo o mesmo raciocínio, parece ser um equívoco chamar as
atividades de composição de atividades de criação musical, visto que se pode ser criativo
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C ONCLUSÃO
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cantando, apreciando música – é este o caminho que ousamos apontar para a educação
musical.
R EFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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escola. Expressão, v. 5, Santa Maria, 2001, p. 157-163.
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RAPAZOTE, Pedro. Criatividade no meio escolar. In: PATRÍCIO, Manuel Ferreira (org.).
Escola, aprendizagem e criatividade. Porto, Porto Editora, 2001, pp. 211-220.
SCHAFER, Murray. O ouvido pensante. São Paulo, Editora da Unesp, 1991.
SHERMAN, Robert W. Creativity and the condition of knowing in music, part 2. In:
HAMANN, Donald (ed). Creativity in the music classroom. Reston, MENC, 1991a,
pp. 7-10.
SHERMAN, Robert W. Creativity and the condition of knowing in music. In: HAMANN,
Donald (ed). Creativity in the music classroom. Reston, MENC, 1991b, pp. 11-15.
SWANWICK, Keith. A basis for music education. London, Routledge, 1979.
SWANWICK, Keith. Music education liberated from new praxis. International Journal of
Music Education, nº 28, 1996, pp. 16-24.
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Este artigo foi iniciado como um trabalho para a disciplina de Psicologia da Música, ministrada no
Programa de Pós-Graduação em Música - Mestrado e Doutorado da Universidade Federal do Rio Grande do
Sul (UFRGS), no primeiro semestre de 1998, pela Profª Drª Liane Hentschke, a quem agradecemos pela
leitura e crítica às primeiras versões do texto.
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Professora do Departamento de Música da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Mestre em
Educação Musical pelo Programa de Pós-Graduação em Música - Mestrado e Doutorado da UFRGS.
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Professora do Curso de Extensão do Departamento de Música - Instituto de Artes da UFRGS. Professora
de música no Colégio Farroupilha - Porto Alegre/RS. Mestre em Educação Musical pelo Programa de Pós-
Graduação em Música - Mestrado e Doutorado da UFRGS.
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