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DEVILS DRAGONS
Inalcançável
Harin Andreo
Copyright © Harin Andreo, 2021
Capa: Thatyanne Tennório - @designerttenorio
Revisão: Ana Karolina Araújo – @anakarolina6530
Diagramação: 318 Serviços Editoriais & Design -
@tresumoito
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e
acontecimentos descritos são produtos da imaginação da
autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e
acontecimentos reais é mera coincidência.
— Eu preciso ir…
— Eu vou te buscar mais tarde.
— Você não está bem para sair. E esse braço? Eu
venho de Uber, sem problemas.
— Não gosto do seu chefe babaca. Você não iria
tocar só um dia por fim de semana?
— Sim, mas Robert sempre me chama quando fica
na mão.
— Claro que ele chama. — Disse mais para si
mesmo e eu mordi um sorriso. Ciumento. — Eu vou te
buscar, Tara. E Jace agora fica dentro do bar. Não é só por
mim… As coisas estão complicadas.
Eu não queria perguntar. Preferia fingir que nunca fui
sequestrada e quase vendida. Preferia continuar vivendo
nessa bolha pensando que tudo estava certo e que não
havia um perigo à espreita. Eu só queria viver o agora.
Sorri como se ele não estivesse falando sobre algo sério.
— Então nos vemos mais tarde.
Dei-lhe um beijo rápido e me virei para sair, quando
senti minha mão ser puxada e eu me virar contra seu corpo
duro. Mesmo com uma mão, Benjamin era… poderoso.
Sua mão foi para minha cabeça e ele me beijou com
dureza. Após um segundo me recuperando do susto eu
passei a corresponder seu beijo, sentindo uma ansiedade
tomar conta de mim. Seu beijo era bruto e eu deveria me
sentir mal, mas era Benjamin, ele representava segurança
para mim. Então ao invés de medo, senti novamente
vontade de ficar nua e que suas mãos me acariciassem por
todo o corpo.
Quando me soltou, sua boca estava vermelha, e eu
imaginava que pelo formigamento que sentia, a minha
também estivesse. Talvez mais. Ele me soltou e eu quase
me senti desnorteada. Ainda me segurando perto, agora
com a mão em minha cintura, ele disse quase rosnando:
— É assim que você beija o seu homem antes de
sair, Tara.
Ele era um idiota usando esse tom mandão comigo,
mas eu gostava. Meu corpo reagia, e mesmo me odiando
por gostar, eu gostava. Definitivamente, estava me saindo
uma depravada. Só imaginava minha mãe vendo algo
assim, com todo aquele puritanismo hipócrita.
— Você é muito mandão, Shield. — Eu disse rindo e
vi o fogo se acender em seus olhos.
— Você está se saindo uma provocadora, perfeita
Tara. Essa carinha boazinha nunca me enganou… —
Terminou beijando meu pescoço.
Eu senti meu rosto queimar e Benjamin começou a
rir. Agora eu era uma piada, ótimo. Tentei sair, mas ele
continuou me segurando e rindo, pressionando o rosto em
meu cabelo. Eu acabei por abraçá-lo também, porque ele
era quente e gostoso demais para resistir.
— Vai lá, Princesa. Eu te busco mais tarde.
Enquanto Jace me levava para o Operrá, que aliás,
estava me fazendo faturar muito mais do que o mês inteiro
no café, eu tinha uma leveza que nunca em minha vida
tinha sentido.
Robert me recebeu na porta, olhando atentamente
atrás de mim. Às vezes ele era desagradável, mas eu
sempre soube como me sair de situações assim. As
pessoas com quem eu convivia eram amargas em um
bonito embrulho e eu tive que aprender cedo a me
defender, sem levantar a voz ou dar algum vexame. A
imagem sempre foi tudo.
— Chegou cedo, querida. — Olhou sobre o meu
ombro. — Sempre com um cão de guarda.
— Meu namorado é protetor. — Tudo bem, eu
estava um pouco metida sobre isso, mas era a verdade.
Ele tinha dito que estávamos em um relacionamento. Eu vi
o desgosto passear pelo rosto de Robert, mas ainda entrei
educadamente. Saudei os funcionários que já conhecia e
fui para o piano.
Tocar valia a pena suportar Robert. Ele fazia
comentários sempre ácidos sobre eu sempre ter alguém
comigo, e depois ficava estranhamente encantador. Antes
de começar de fato a tocar, comecei a pegar alguns
acordes, distraidamente. Não senti a presença de ninguém,
até ouvir atrás de mim.
— Que você tocava bem eu já sabia… Mas
compositora?
O susto foi tão grande que esbarrei em algumas teclas fora
do acorde, fazendo um barulho estridente.
— Me desculpe, eu não queria assustá-la. — Um
homem de uns trinta e poucos anos estava em pé ao meu
lado. Ele era moreno, olhos castanhos, forte e tinha um
sorriso que deveria ser encantador. Me estendeu a mão. —
Sou Rick Avelar, prazer.
— Tara Mad… Tara, prazer.
— Você é muito talentosa, Tara. É a terceira vez que
venho a esse restaurante e volto, porque minha esposa ali
está encantada com você. — Olhei para a mesa que
apontou e lá estava uma mulher muito grávida, seu cabelo
escuro e olhos de mesmo tom. Ela me acenou de longe
com um sorriso tímido.
— É muito gentil de sua parte, obrigada.
— Esse é o meu número. — Eu arregalei os olhos,
porque sim, eu pensei que ele estava me cantando com
sua mulher gestante não muito longe de nós. — Não, não.
Não é nada assim. Nós trabalhamos em um estúdio de
música e precisamos de alguém para nos ajudar na
harmonização. Seria muito bom se você fosse lá em algum
momento, para conversarmos.
Eu fiquei de queixo caído. Meu Deus. Eu amava
música. Não era nem um trabalho, era parte de mim.
— Nossa, muito, muito obrigada. E-eu, eu vou te
ligar, pode esperar.
— Não vou mais te atrapalhar, vamos ali aproveitar
o show.
Com um último sorriso, ele foi para onde sua esposa
estava. A emoção formou um nó em minha garganta. Eu
estava feliz, construindo uma vida, finalmente. Longe do
vazio que era a mansão em que eu vivi a vida inteira, longe
do luxo ostentoso, longe da angústia que me consumia a
cada dia que eu precisava sorrir, mesmo que quisesse
chorar.
Depois do melhor show da minha vida inteirinha,
saltitando de felicidade, fui para o escritório de Robert
receber pela noite de trabalho. Assim que entrei, ele me
deu um sorriso e se levantou. Eu fiquei próxima à porta,
embora retribuísse o sorriso.
— Querida, Tara. Foi maravilhosa essa noite. —
Parou em minha frente e pegou uma mecha do meu cabelo
longo. — Quantos anos você disse que tinha mesmo?
— Dezenove. — Respondi me afastando do seu
toque.
— Sua família é daqui mesmo? Não me lembro qual
é o seu sobrenome…
— Você poderia me pagar? — Disse enrubescendo.
— Eu tenho um lugar para ir.
— Tara, vou ser sincero. Você é uma garota linda é,
bem, eu tenho uma proposta para você. Uma proposta que
pode render um bom dinheiro para nós dois.
— Não estou entendendo.
— Eu preciso que você tenha a mente aberta, afinal,
você me disse em sua entrevista que está por conta
própria. Depois disse que não tinha namorado… Hoje já
disse que tinha.
— Eu não vejo como isso pode ser relevante,
Robert.
Ele sorriu, mesmo que eu tivesse acabado de
responder rispidamente. Ele tinha uma expressão de quem
não me levava a sério. Eu não gostaria de reclamar sobre
Robert para Benjamin, gostava de trabalhar e tocar aqui,
mas estava exaustivo essas tentativas de me encurralar
em seu escritório. Eu deveria colocar minha calcinha de
menina grande e me posicionar.
— Aqui está o dinheiro…
Eu peguei o dinheiro de sua mão e saí sem dar uma
resposta. Todo meu interior tremia porque eu poderia fazer
uma ideia da espécie de proposta que ele gostaria de me
fazer. Me sentindo enojada, saí do restaurante chocando-
me com Benjamin. Olhei para ele e instantaneamente o
abracei. Ele me amparou em seu braço e eu dei vazão a
um choro que nem sabia que segurava. Eu chorava por
tudo. Por todas as vezes que me levantei sozinha. Chorei
porque não era mais solitária. Eu tinha Hanna. Eu tinha
Benjamin.
— Princesa, o que aconteceu? — Ele me afastou e
passou a apalpar meu corpo à procura de algum
machucado. Mal sabia ele que a minha dor sempre foi
interna, algo que aprendi a administrar.
— Eu estou bem. — Respondi, enterrando meu
rosto em seu peito. — Só me abraça.
Quebrei em outra onda de lágrimas. De repente eu
já não me sentia sozinha, já não era apenas algo e sim
alguém. Benjamin me abraçou com força enquanto eu me
desmanchava em seus braços, na calçada ao lado do
carro. Os ensinamentos da minha mãe estavam cada vez
mais distantes. Nunca faça uma cena, sorria e deixe para
chorar quando sua cabeça estiver em seu travesseiro. Com
Benjamin senti-me livre. Eu só queria me derramar.
O tempo passou enquanto ele me acalentava como
se eu fosse uma criança. Pouco me importei com o local ou
o que as pessoas que passavam pensavam. Tão fora do
que eu sempre fui e ao mesmo tempo… Tão eu.
— O que aconteceu, Princesa? Alguém fez algo? —
Mesmo preocupado, a voz de Benjamin tinha uma nota
letal e perigosa.
— Não, eu só preciso… Que você não se afaste de
mim. — Falei em um fio de voz.
Senti seus dedos em meu rosto, levantando-o em
sua direção. Seus olhos tinham todas as emoções juntas.
Seus olhos me dizia que ele jamais me deixaria. Ele limpou
meus olhos com uma ternura quase impossível para um
homem do seu tamanho e estrutura. Beijou meus lábios
calidamente e eu fui tomada pela sensação de segurança
novamente. Segurança que eu descobri com ele.
Chegando em casa, eu estava totalmente inerte,
cansada, mas ao mesmo tempo aliviada. Coloquei meu
pijama enquanto Benjamin me trouxe um chá. Deitei, ele
me deu um beijo e se levantou, antes que ele saísse, eu
segurei sua mão, me afastei para o outro lado da cama e
fiz sinal para que se sentasse ao meu lado. Ele pareceu
surpreso, mas não perdeu tempo. Tirou a camisa e a calça,
com certa dificuldade, pois um braço estava machucado,
ficando somente de boxer. Tomei meu tempo apreciando a
vista, sentindo meu rosto arder, mas eu não os afastaria
nem se quisesse, ele era lindo demais. Lindo de doer os
olhos. Seu corpo era atlético, forte, seu cabelo escuro caía
na testa e os olhos quase oceânicos de tão azuis. E
depois, tinha aquelas tatuagens…
Quando meus olhos subiram para os dele, ele sorria
e eu quase morri. Deitei e tampei o rosto com a coberta,
dividida entre o riso e a mortificação. Escutei sua risada
leve enquanto apagava as luzes, sentindo quando ele se
deitou ao meu lado e, sem reservas, trouxe meu corpo de
encontro ao seu, quente e duro. O encaixe foi perfeito, que
nem mesmo o constrangimento de estar com um homem
seminu ao meu lado me impediu de relaxar. Eu precisava
de conforto, o conforto que agora eu sabia, encontrava em
Benjamin.
— Eu ainda quero saber o que aconteceu.
— Outro dia.
— E você sabe. — Ele disse após um tempo.
— Eu sei? — Perguntei, entrelaçando nossos dedos
em meu abdome.
— Que eu nunca vou te deixar. Não sem lutar.
Não eram palavras ao vento.
Era uma promessa.
Capítulo 17
Shield
FIM
[1]
Centro John F. Kennedy de Artes Cênicas é o Centro Cultural Nacional dos Estados Unidos.
[2]
Os pianos Bösendorfer Kuhn vêm com 10 cristais de vidro com chumbo Swarovski inseridos
ao longo da estrutura de aço. O Kuhn de um milhão de dólares tem 72 cristais instalados sob
as cordas.
[3]
Termo musical que se refere a uma nota utilizada para ornamentar a melodia principal da
música, esta nota secundária pode estar abaixo ou acima da nota principal mas deve ser uma
nota vizinha,
[4]
Gatinha.
[5]
Idiota
[6]
Senhores da Morte
[7]
Pessoa que obtém prazer ao observar atos sexuais ou práticas íntimas de outras pessoas.
[8]
Sensação de que um já viveu a situação presente antes