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CISTOS RENAIS

O que é?

O nefron é a unidade funcional do rim. O nefron, anatomicamente, é constituído de um


filtro, o glomérulo e de túbulos que levam a urina até a pelve renal. Desta, através do
ureter, a urina chega até a bexiga. Os cistos renais são dilatações de alguma porção do
nefron.

Eles se desenvolvem e crescem em razão:


 

Do aumento da pressão dentro do rim,


Do aumento do gradiente das soluções salinas que banham o nefron e
Das obstruções de graus variados, que ocorrem em qualquer lugar do nefron.

Estas condições favorecem a passagem dos líquidos para os locais frágeis do nefron,
possibilitando a formação de cistos. Durante a formação dos cistos, há sempre
crescimento de células, forrando todas as suas paredes. Também há aumento do
intercâmbio de líquidos, semelhantes ao plasma, que acabam preenchendo o cisto.
Dessa maneira, os cistos têm paredes celulares finas e estão cheios de um líquido
semelhante ao plasma que pode conter algumas substâncias semi-sólidas.

Os cistos podem ocorrer em um ou nos dois rins e são, quase sempre, em pequeno
número e de tamanho menor que 3 cm. Quando todo o rim é tomado por incontáveis
cistos, de tamanhos variáveis, chama-se rim policístico. As causas responsáveis pela
formação dos cistos podem ser hereditárias ou adquiridas.

Cistos adquiridos

Os responsáveis por 70% dos cistos adquiridos são cistos simples. Eles ocorrem
freqüentemente após os 50 anos e aumentam de freqüência com o avançar da idade e
estão presentes em mais de 50% das pessoas, após os 60 anos. Podem ser solitários,
múltiplos, uni ou bilaterais e, eventualmente, podem apresentar sintomas clínicos de dor
lombar, sangue na urina (14%), infecção urinária e hipertensão arterial (35%).
Dificilmente os cistos se infectam e formam abscessos. Pode ocorrer eventualmente
ruptura e surgir sangramento interno ou aparecer no exame de urina.

Poucas vezes, são palpáveis no exame físico, porque dificilmente crescem muito, por
isso, quase sempre são encontrados de maneira ocasional nos exames de rotina. Nos
exames laboratoriais, podem ser encontrados sinais de infecção urinária, hematúria e
dificuldades para concentrar a urina.

A maneira mais eficiente de encontrar os cistos renais é na ecografia abdominal e renal.


Na ecografia, eles se apresentam arredondados, nitidamente marcados por uma parede
fina e contêm, no seu interior, um líquido homogêneo, mais ou menos denso, sem
massas (ou nódulos) e com uma superfície regular. Estas características os diferenciam
dos tumores ou nódulos sólidos, de superfície irregular que são sugestivos de tumores
benignos ou malignos.
Cistos simples adquiridos também são aqueles que ocorrem nos pacientes com
insuficiência renal crônica. A freqüência de aparecimento aumenta com o número de
anos de insuficiência. Na insuficiência renal, quando a creatinina é de 3 mg%, 20% dos
pacientes têm cistos renais; quando é superior a 3mg%, 30% dos pacientes estão
atingidos.

O mesmo ocorre na hemodiálise. Quando o paciente tem:


 

até 2 anos de diálise-35%,


2 a 4 anos-50%,
4 a 8 anos-70% e
mais de 8 anos de diálise-85% dos pacientes têm um ou mais cistos simples.

Tratamento

Não existe tratamento específico, depende dos sinais e sintomas que o paciente
apresenta. O portador de cisto deve ser acompanhado anualmente para prevenir
eventuais complicações (hematúria, cálculo, infecção) e evitar que alguns cistos com
crescimento exagerado possam provocar obstrução e sofrimento ao parênquima renal. A
maioria deles acompanha a pessoa por toda a vida, sem causar nenhum problema
médico.

Cistos hereditários

Entre muitas doenças hereditárias, existem algumas que têm como característica cistos
renais de vários tipos.

Entre as principais doenças císticas renais hereditárias encontramos:


 

Rim policístico autossômico dominante, que ocorre em 1 para 1.000 nascimentos


vivos;
Rim policístico autossômico recessivo, que ocorre em 1:50.000 nascimentos vivos;
Rim esponja medular, que ocorre em 1: 2.000 nascimentos vivos;
Doença cística medular, que ocorre em 1: 50.000 nascimentos vivos e
Rim multicístico congênito, que ocorre em 1:100.000 nascimentos vivos.

A doença autossômica pode ser dominante, quando basta um gen do pai ou da mãe para
transmiti-la, ou recessiva, quando são necessários os gens do pai e da mãe.

O rim policístico autossômico dominante é o mais comum, conhecido como rim


policístico. Os cistos são difusos, incontáveis e atingem os dois rins. Em 1985,
descobriu-se que o gen responsável por 90% dos rins policísticos da população branca
está localizado no cromossomo 16 e os restantes 10%, no cromossomo 4.

No diagnóstico do rim policístico encontra-se sempre uma história familiar.


Pode-se diagnosticar o rim policísto já no feto, mas 80-90% dos casos são descobertos a
partir dos 40 anos. Antes dos 40 anos, os cistos ainda são tão pequenos que não são
vistos pelos métodos de imagem comuns.

O exame ecográfico permite ver o tamanho dos rins e dos cistos e as complicações
obstrutivas. O rim policístico pode crescer muito, já foram vistos casos com 40 cm de
comprimento, pesando até 8kg; o normal é de 12-14cm e 200g de peso.

A evolução do rim policístico até a insuficiência renal crônica pode ser muito lenta,
geralmente começando a apresentar sintomas após os 50 anos.

Os pacientes com rim policístico são ótimos candidatos ao transplante renal, porque não
têm doenças imunológicas que possam reproduzir a doença anterior no rim
transplantado.

As principais complicações da doença cística são a hipertensão, poliglobulia (muito


sangue), litíase, infecção urinária, obstruções renais pelo crescimento exagerado,
fraturas do rim e insuficiência renal.

Vários fatores de risco têm sido encontrados nos pacientes portadores de rins
policísticos. Assim quanto mais jovem for o paciente com rins policísticos, mais rápida
e grave é a evolução da doença cística. Na raça negra, a doença cística evolui mais
rapidamente do que na branca. Ainda não se tem certeza que seja mais grave nos
homens.

Muitas vezes, o prognóstico depende de outras alterações genéticas que acompanham os


pacientes com RP como:
 

Divertículos de cólon-80%,
Cistos hepáticos e pancreáticos-50%,
Prolapso da válvula mitral-25%,
Hérnias inguinais-15% e
Aneurismas cerebrais em 5% dos casos.

Tratamento

Os pacientes são acompanhados periodicamente com ecografia e exames laboratoriais


para evitar complicações. Procura-se evitar a evolução para a insuficiência renal
crônica, tratando a hipertensão, complicações vasculares e obstrutivas.

Procura-se manter o paciente sem infecções urinárias e tenta-se diminuir o acúmulo de


líquidos dentro dos cistos, com o uso de expoliadores de sódio. Quando os cístos
crescem muito, podem-se realizar punções renais de drenagem para esvaziamento.

Outras doenças císticas renais


A esclerose tuberosa apresenta rins grandes cheios de cistos renais, múltiplos e
bilaterais. Os cistos são compostos de uma massa de vasos, músculos e gordura, os
chamados angiomiolipomas. Os sintomas e sinais são iguais aos do rim policístico.

Doença de Von Hippel Lindau é uma doença rara, autossômica dominante, que ocorre
em 1:36.000 dos nascimentos vivos. Apresenta-se com inúmeros cistos renais e
pancreáticos que são descobertos, geralmente, após os 30 anos. Quase sempre são
acompanhados de múltiplas neoplasias, tais como angiomas, carcinoma renal,
feocromocitona e outras.

Outras doenças hereditárias apresentam cistos na zona medular renal e não na zona
cortical como de costume. Dois exemplos são a nefroptiasis juvenil familial e a doença
cística medular.

Descobertas em 1951 como doenças raras, hoje representam 4% das doenças renais
hereditárias, que surgem na 2ª ou 3ª década da vida, apresentando vários defeitos físicos
como anormalidades esqueléticas, fibrose hepática e lesões do sistema nervoso central.
Clinicamente, 80% dos pacientes queixam-se de ingesta abundante de água (polidipsia),
diurese abundante (poliúria), anemia, fraqueza, retardo de crescimento corporal e
mental, hipertensão e insuficiência renal crônica de grau variado.

Diagnostica-se ecograficamente por pequenos cistos, a maioria de 2 a 3 mm na zona


medular e com uma zona cortical renal muito fina e esclerosada.

O rim esponja medular foi descrito pela primeira vez em 1948 e caracteriza-se por
dilatação dos túbulos coletores renais, que dão o aspecto de uma esponja quando o rim é
examinado anatomicamente. É considerada uma doença congênita esporádica que pode
ocorrer tanto no homem como na mulher e aparece em 1:2000 nascimentos .

Nos pacientes portadores de rim esponja medular, pode ocorrer com freqüência litíase
renal, pela perda exagerada de cálcio, facilitando a formação de cálculos de cálcio.
Hematúria e litíase são as duas manifestações clínicas dessa nefropatia. O diagnóstico é
feito pela urografia excretora, que mostra a dilatação dos túbulos coletores da medula
renal, muitas vezes cheios de pequenos cálculos renais.

O rim congênito multicístico é uma forma de alteração cística do rim quase sempre
unilateral, ao contrário do policístico que é sempre bilateral. Apresenta-se clinicamente
com grandes massas abdominais pelo enorme crescimento dos cistos renais.

Perguntas que você pode fazer ao seu médico

O que é cisto renal?

O cisto renal pode lesar o rim?

Um cisto renal pode causar insuficiência renal?

O meu caso é de rim policístico?

Um cisto renal pode ser confundido com câncer?

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