BIOÉTICA
INTRODUÇÃO À BIOÉTICA Origem do latim Morales – relativo aos
O conceito da Bioética foi criado por Van
Potter (1971), que sugeriu uma ponte entre a
cultura científica e a humanística. “Nem tudo
que é cientificamente possível, é
eticamente aceitável”.
A Bioética ela tem o objetivo de facilitar o
enfrentamento de questões éticas/bioéticas
que surgirão na vida profissional. Ela vai dar
subsídios para que o profissional reflita e
saiba agir diante de um conflito ou um dilema.
• O que é um dilema e um conflito? Dilema é uma
situação, normalmente problemática, constituída
por duas soluções que são contraditórias entre si,
mas ambas aceitáveis. Conflito pode ser definido
como “oposição de ideias, sentimentos ou
interesses”, ou seja, pluralismo.
• Polarização? Pode referir-se à divergência entre
atitudes políticas de extremos ideológicos
(população em geral ou dentro de certos grupos).
A Bioética pode ser entendida como a
reflexão sobre a adequação das ações que
envolvem a vida e o viver: política, história,
cultura, biologia, moral, ética, educação, ...
Conceitos:
• Valor: algo que confere uma qualidade às
pessoas, coisas e ações;
• Princípio: palavra de origem latina,
significa início, fundamento, ponto de
partida de uma ideia que orienta e
subordina outras e que não é objeto de
discussão;
• Os valores e princípios são
frequentemente definidos pela sociedade,
podendo ser de origem religiosa ou não.
MORAL
Pode ser definida como um conjunto de
regras, costumes e formas de pensar de um
grupo social. Se fundamenta na obediência a
normas, mandatos culturais, hierárquicos ou
religiosos. Remete ao agir humano, às
escolhas existenciais, aos comportamentos e
praticas cotidianas.
costumes.
Possui diversos significados:
• Envolve reflexão do que é bom e justo.
Favorável aos bons costumes;
• Sistema de normas, princípios e
valores, segundo o qual são
regulamentadas as relações mútuas entre
os indivíduos ou entre estes e a
comunidade.
• Diante das convergências entre moral e
direito:
 O direito impõe as suas normas,
independentemente da vontade dos
indivíduos;
 A moral se apoia naquilo que a
comunidade concebe como valor.
ÉTICA
Palavra derivada do grego éthos – caráter
É o conjunto de princípios e valores que
utilizamos para responder as 3 grandes
questões da vida: quero?; devo?; posso?
Nem tudo que eu quero eu posso; nem tudo
que eu posso eu devo; nem tudo o que eu
devo eu quero.
A ética é a área da filosofia dedicada às
ações e ao comportamento humano; estuda a
conduta dos seres humanos.
• Busca fundamento teórico para encontrar
o melhor modo de viver e agir no mundo;
• Estudo dos juízos de valores que se
referem à conduta humana suscetível de
qualificação do ponto de vista do bem e do
mal.
Ética e atualidade: é fruto de uma sociedade
secular e democrática; é pluralista, ou seja,
aceita a diversidade de posturas e valores; é
interdisciplinar; vê o homem em sua
globalidade.
BIOÉTICA

A ética vai além da moral: procura os • Nos hospitais, o padrão era utilizar os
princípios fundamentais do comportamento próprios pacientes como sujeitos das
Humano. Procura razões entre fazer e deixar pesquisas, buscando um tratamento
de fazer; aprovar ou desaprovar algo; melhor para eles...
seleciona o que é bom do que é ruim, do justo
e do injusto. • Muito do que foi feito ao longo dos séculos
teve como justificativa “o progresso da
O campo da ética trata de questões que nos ciência”.
colocam diante de problemas que aparecem
nas relações reais, como virtude, liberdade, • Diversas pesquisas violaram a
moral, caráter, responsabilidade. Ela busca dignidade das pessoas. Muitos pacientes
reflexão critica das ações humanas, a prática não foram informados sobre os
refletida da liberdade. procedimentos realizados muito menos
sobre os riscos que estavam correndo. Em
• Na ética, liberdade está relacionada com outros casos, voluntários foram
responsabilidade. Todos nós temos o enganados, nunca tratados, sendo
direito de sermos livres, agir segundo utilizados apenas para observação do
nosso livre arbítrio, desde que nossas desenvolvimento da doença. Em troca da
ações e comportamentos não prejudiquem participação, os voluntários recebiam
ou desrespeitem o outro. alimentação, remuneração, transporte e
até funeral gratuito.
Campo da ética profissional: assumir a
profissão com responsabilidade, resguardar ACONTECIMENTOS CRUCIAIS PARA
confidencialidade e privacidade, preservar a O NASCIMENTO DA BIOÉTICA
integridade da imagem; seguir códigos de
postura, ou condutas ou ética profissional. 1. Comitê de Seatle;
• Profissão: modalidade de trabalho 2. Caso Tuskegee
habitual e especializado de uma pessoa. É
necessário ter aptidão, capacidade e 3. 1º transplante de coração
habilidade técnico-funcional; é um estilo de
vida. 4. Tratado de Nuremberg
• Profissionalismo: procedimento técnico
segundo as exigências de excelência de PESQUISA EM ANIMAIS
uma profissão. Além das habilidades,
aptidões e capacidade, é necessário ter Questiona-se não apenas o sofrimento
compromisso e comprometimento social, desses animais, como também a
competência profissional, respeitar as leis, impossibilidade de benefício do procedimento
preservar a segurança. para o animal. Lei Auroca (2008).

HISTÓRIA DA BIOÉTICA BIOÉTICA E DIREITOS HUMANOS

Antigamente, as pesquisas realizadas em Os direitos humanos são uma importante

clínicas ou hospitais utilizam como cobaias as
pessoas consideradas irrelevantes para a
sociedade. Desta forma, o critério para
utilização de cobaias nas pesquisas
realizadas era o valor moral.
• Utilizavam idosos, negros, prisioneiros
como cobaias, pessoas sem capacidade
moral de se defenderem...
ferramenta de proteção a qualquer cidadão no
mundo.
• Promover esses direitos é imprescindível
para o pleno exercício de qualquer
democracia.
• Os direitos humanos são definidos como
normas que reconhecem e protegem a
dignidade de todos os seres humanos.
Os direitos devem ser universais (todos os
BIOÉTICA
povos, nações, etnias, gêneros,
nacionalidade e posicionamento político).
• Segundo a Organização das Nações
Unidas (ONU) os direitos humanos são
“garantias jurídicas universais que
protegem indivíduos e grupos contra
ações ou omissões dos governos que
atentem contra a dignidade humana”.
 São exemplos de direitos humanos o
direito à vida, à integridade física, à
dignidade, entre outros.
 Direitos humanos presentes nas
Constituições → direitos fundamentais.
 Dignidade humana: proteger a
pessoa contra todo tratamento
degradante e de ter assegurada
condições mínimas para sua
sobrevivência. É considerada a todo e
qualquer indivíduo.
HISTÓRIA DOS DIREITOS HUMANOS
• 1ª forma de declaração de direitos
humanos: Cilindro de Ciro – libertou os
escravos, declarou que todos deveriam ter
liberdade religiosa e declarou igualdade
racial;
• Petição de Direito: o parlamento inglês
(1628) elaborou um documento que tinha
como principal objetivo limitar as decisões
do rei/monarca sem autorização do
parlamento.
• 1776 (independência do USA):
declaração que acentuava os direitos
individuais (direito à liberdade, à vida,...);
• 1789 – Revolução Francesa:
considerada o berço da democracia
moderna; lema liberdade, fraternidade e
igualdade. Nesta época foi elaborada:
 Declaração dos Direitos do Homem
e do Cidadão: não incluía as mulheres
(não tinham direito de votar e nem ser
votadas); assegurava direitos como
liberdade, segurança, resistência à
opressão, propriedade.
DECLARAÇÃO DOS DIREITOS
HUMANOS
Após a 2ª Guerra Mundial, formou-se a
Organização Mundial das Nações Unidas
(ONU).
• Foi criada a Declaração Universal dos
Direitos Humanos, formada por 30
artigos que tratam dos direitos que devem
garantir a liberdade, a justiça e a paz
mundial. É uma declaração e não uma lei.
• Ex. de direitos: direito de ser tratado com
igualdade perante à lei; livre expressão
politica e religiosa; liberdade de
pensamento e de participação política.
• Direitos fundamentais: direito á
educação, à cultura; trabalho livre e
remunerado...
DIREITOS DE 1ª GERAÇÃO
Elemento principal era a LIBERDADE
INDIVIDUAL, expressa tanto nos direitos
civis quanto nos políticos:
• Direitos Civis: proteger a integridade
humana, como a liberdade de expressão,
proteção à vida privada, presunção de
inocência, liberdade de expressão
religiosa e política...
• Direitos políticos: assegurar a
participação popular – direito ao voto,
direito a ser votado, direito de ocupar
cargos públicos.
DIREITOS DE 2ª GERAÇÃO
O elemento principal é a IDEIA DE
IGUALDADE, expressa nos direitos sociais,
econômicos e culturais.
• Direitos sociais: assegurar a dignidade
da pessoa humana – direito a educação,
direito a alimentação, direito à previdência
social.
• Direitos econômicos: valorizar o trabalho
humano e a livre iniciativa – direito a
propriedade privada, direito do
BIOÉTICA

consumidos, princípios de livre ações diferentes para necessidades

concorrência. iguais.

• Direitos culturais: para proteger, 3 princípios básicos que orientavam as

valorizar e difundir a cultura nacional – regras para proteção dos humanos em
direito à preservação do patrimônio situação de pesquisa (proposto pela
histórico e cultural, direito ao acesso à comissão):
cultura, direito à diversidade cultural.
1. Respeito
DIREITOS DE 3ª GERAÇÃO 2. Beneficência
3. Justiça
Emergiram após 2ª Guerra; os elementos
principais são os valores de FRATERNIDADE Características do Principialismo:
e SOLIDARIEDADE.
• Baseado em princípios;
Expressos nos direitos difusos e coletivos:
são direitos que se estendem a toda • Reconhecimento mínimo de normas
sociedade centrais, que vai proceder o julgamento da
eticidade de uma ação.
• Ex.: direito ao progresso sustentado,
direito ao meio ambiente ecologicamente • Princípios morais que orientam ação
equilibrado, direito à autodeterminação
dos povos, direitos da pessoa idosa... • Normas morais (princípios e regras) que
especificam que determinadas ações são
BIOÉTICA E PRINCIPIALISMO proibidas, requeridas ou permitidas em
determinadas circunstâncias.
O principialismo foi a primeira corrente
• Os princípios são as diretrizes gerais e as
bioética a se estruturar.
regras são mais específicas;
A Comissão de Proteção dos Sujeitos
• A ação eticamente adequada é aquela
Humanos foi criada após a denuncia da
que se orienta por princípios morais
pesquisa com homens negros sifílicos em
universalmente aceitos.
Tuskegee.
TEORIA DO PRINCIPIALISMO
• Esta comissão publicou o Relatório de
Belmont, que definia os princípios que
4 princípios são considerados fundamentais e
deveriam orientar a realização desses
norteadores:
estudos.
1. BENEFICÊNCIA
Princípios para o campo da prática e pesquisa
2. NÃO MALEFICÊNCIA
em bioética, de acordo com o livro “Princípios
3. RESPEITO À AUTONOMIA
da Ética Biomédica”:
4. JUSTIÇA
• Respeito à autonomia: saber se a pessoa
Os princípios tem a mesma importância
quer ou não participar da pesquisa, por
hierárquica entre si. Desses princípios
meio de um tempo de consentimento, por
centrais podem ser derivadas regras
exemplo. Levar em consideração se a
específicas, tais como:
pessoa está ou não vulnerável.
• Dizer a verdade;
• Obrigação de fazer o bem: de não causar
danos à pessoa;
• Cumprir suas promessas;
• Dever de agir com justiça: para ser
• Proteger a privacidade do paciente;
pensada como ideia de equidade, ou seja,
BIOÉTICA
• Não passar adiante informações que
foram dadas em confiança;
• Obter consentimento sempre – no
cuidado e na pesquisa...
Conceitos de cada princípio:
• Autonomia: é o direito que assegura ao
paciente emitir sua opinião, aceitar ou não
o que o profissional de saúde propõe,
assim como assegura o mesmo ao
profissional.
 O indivíduo autônomo age livremente
de acordo com seu livre arbítrio.
Devemos no mínimo, respeitar e
reconhecer o direito dessa pessoa
de ter suas opiniões, fazer suas
escolhas e agir com bases em seus
valores e crenças.
 Respeitar através das ações e atitudes.
 Não devemos intervir nas decisões
das pessoas, mas nós temos nossa
autonomia como profissional, e temos
capacidade para avaliar a melhor
conduta. Desta forma, devemos
orientar, esclarecer e reconsiderar os
aspectos da situação, para que assim,
o paciente fique ciente e faça sua
escolha sem nenhuma dúvida.
• Beneficência: representa a preocupação
em praticar o bem ao outro, ou seja, ações
positivas.
 No cuidado ou na pesquisa, ou na
saúde pública tem se direcionado à
realização de um balanço entre riscos
e benefícios
 A questão é: Quais são os possíveis
riscos e benefícios? Devemos
analisar as ações possíveis, quem
serão os afetados e quais serão os
possíveis benefícios e riscos. Ao
analisar os benefícios e riscos, vamos
então determinar a ação que melhor
atender ao princípio da beneficência
(praticar o bem ao outro).
• Devemos lembrar que a análise
principialista envolve os quatro princípios
prima facie:
 Não basta que haja um balanço
positivo entre riscos e benefícios, mas
também que se evitem os danos, que
se respeite a autonomia e que a
decisão tomada seja justa.
• Não maleficência: afirma a obrigação de
não infligir dano a alguém
intencionalmente. Evita ações prejudiciais.
Lembrando Hipócrates: primeiro, não
cause dano.
 Este princípio estabelece que o
profissional deve tomar decisões que
causem o menor dano ao paciente.
 Implica na qualificação profissional,
comunicação, preocupação com
fatores objetivos e subjetivos, assim
como na realização apenas dos atos
para os quais é capacitado.
 Atuar para que outros não sofram
danos; eliminar as condições que
causarão danos a outrem; ajudar
pessoas inaptas e socorrer pessoas
que estão em perigo.
• Justiça: a referência é a justiça
distributiva. Decidir qual ação é mais justa.
 Devemos analisar a distribuição dos
benefícios e riscos de maneiras
diversas.
 É o princípio que estabelece como
condição fundamental a equidade
para o exercício da profissão, tendo a
obrigação ética de tratar cada indivíduo
conforme o que é moralmente correto e
adequado.
 Assegura atuação do profissional com
imparcialidade e o direito dos
profissionais de saúde e dos pacientes
na execução de suas condutas.
 Vai evitar que aspectos como religião,
cultura, social interfiram na relação com
o paciente.