Você está na página 1de 17

REVISTA GALEGO-PORTUGUESA DE

PSICOLOXÍA E EDUCACIÓN
N° 2 (Vol. 2) Ano 2°-1998 ISSN: 1138-1663

APRENDIZAGEM MOTORA: TENDÉNCIAS, PERSPECTIVAS


E PROBLEMAS DE INVESTIGA9AO.
MOTOR LEARNING: TENDENCES, PROSPECTS
AND RESEARCH PROBLEMS

Go TANI
Universidade de sao Paulo

1. CONSIDERA90ES INICIAIS. eficiente na execuc;ao de movimentos para


alcanc;ar urna meta desejada, com a prática e
Para urna melhor compreensao da experiencia.
Aprendizagem Motora (Motor Learning)
como um campo de estudo, é importante con- Entretanto, é preciso ter-se sempre em
siderar a sua relac;ao com Controle Motor mente que, embora sej a possível caracterizar
(Motor Control) e Desenvolvimento Motor Aprendizagem Motora, Controle Motor e
(Motor Development) que, juntos, constituem Desenvolvimento Motor como campos espe-
urna área integrada de estudos denominada de cíficos de estudo, é muito dificil separá-los
Comportamento Motor (Motor Behavior). em termos de fenomeno, pois estao intima-
mente relacionados. Por esse motivo, é muito
Como sabemos, o campo de estudos deno- importante ter-se urna visao integrada destes
minado de Controle Motor procura estudar tres fenomenos.
como os movimentos sao produzidos e con-
trolados, ou seja, como o sistema nervoso Existem fundamentalmente dois tipos de
central é organizado de maneira que músculos pesquisa em Aprendizagem Motora: (a) a
e articulac;6es tornam-se coordenados em investigac;ao dos mecanismos e processos
movimentos, e como informac;6es sensoriais subj acentes a aquisic;ao de habilidades moto-
do meio ambiente externo e do próprio corpo ras e (b) a investigac;ao dos fatores que afetam
sao usadas na coordenac;ao e controle de a aquisic;ao de habilidades motoras. Em dife-
movimentos. rentes períodos de sua história, maior ou
menor enfase tem sido dada a um desses dais
o campo de Desenvolvimento Motor, por tipos de pesquisa, cada qual com suas meto-
sua vez, procura estudar as mudanc;as que dologias características de investigac;ao, mas
ocorrem no movimento do ser humano ao a sua implementac;ao tem estado subordinada
longo do seu ciclo de vida. E, finalmente, a a viabilidade operacional em func;ao do
Aprendizagem Motora procura estudar pro- avanc;o teórico e técnico de cada momento.
cessos e mecanismos envolvidos na aquisic;ao
de habilidades motoras e os fatores que a É importante também ressaltar que pes-
influenciam, ou seja, como a pessoa se toma quisas em Aprendizagem Motora podem ser

199
desenvolvidas eIn diferentes níveis de análise, Física e Esporte em todo o Inundo, nao apenas
desde o mais microscópico, como o bioquími- COIno urna disciplina do currículo de prepa-
co, até o mais macroscópico, por exemplo, o rac;ao profissional, mas principalmente COIno
sociológico. No nível bioquímico de análise, um laboratório de pesquisa, já se constituindo
os estudos focalizam a natureza das interac;oes num dos mais tradicionais na área, provavel-
bioquímicas que ocorrem dentro das células mente, ao lado dos laboratórios de Fisiologia
quando o indivíduo executa movimentos ou do Exercício e Biomecanica. É expressiva a
adquire habilidades motoras. No nível neuro- participac;ao e contribuic;ao dos pesquisadores
fisiológico de análise, por sua vez, focalizam- da área de Cinesiologia, Educac;ao Física e
se as ac;oes elétricas e mecanicas que ocorrem Esporte na produc;ao de conhecimentos, o que
no grupo de células que participam na organi- é facilmente verificado nos principais periódi-
zac;ao e controle de movimentos. 1sto envolve cos em que as pesquisas desse can1po de estu-
o estudo das estruturas neurais e suas inte- dos sao publicadas (por exeInplo, Human
rac;oes funcionais que possibilitam o surgi- Movement Science, -Joumal of Experünental
mento do comportalnento motor. Psychology: HUInan Perception and
Performance, Joun1al of Human Movement
No nível comportamental de análise, no Studies, Journal of Motor Behavior,
qual se realiza a lnaioria das pesquisas em Perceptual and Motor Skills e Research
Aprendizagem Motora, os estudos focalizam Quarterly for Exercise and Sport).
o movimento observável e os fatores que afe-
tam a qualidade de sua execuc;ao, o que envol- o obj etivo desta apresentac;ao nao é o de
ve a identificac;ao dos fatores que detenninam se fazer urna extensa revisao dos estudos rea-
a precisao do movimento ou o padrao de ac;ao. lizados, mas apenas descrever sucintamente as
Finalmente, no nível sociológico de análise, principais fases do seu processo evolutivo e
focalizam-se as atividades motoras num con- enHio trac;ar algumas perspectivas de pesquisa,
texto mais global, estudando a sua func;ao na procurando identificar problemas de investi-
sociedade, a escolha de certas atividades por gac;ao que, no nosso entender, merecem UIn
determinadas cOInunidades, e as ac;oes moto- estudo mais profundo e sistemático. A análise
ras de indivíduos em times e grupos. será feita com a atenc;ao voltada para o campo
de estudo da Aprendizageln Motora na sua
Embora nas áreas de Cinesiologia, relac;ao com as áreas de Cinesiologia,
Educac;ao Física e Esporte as pesquisas em Educac;ao Física e Esporte.
Aprendizagem Motora tenham sido iniciadas,
basicaInente, na década de 60, este campo
específico de estudos tem urna história relati- 2. UMA REVISAD SUCINTA
vamente longa de vida. Na realidade, nao há DOS ESTUDOS.
um consenso sobre urna data precisa de início
de suas pesquisas, Inas sabe-se que elas A evoluc;ao das pesquisas eIn
comec;aram na Psicologia e o estudo de Bryan Aprendizagem Motora tem sido lnarcada por
& Harter (1897) sobre a aquisic;ao de habili- fases bastante características (vej a, por exem-
dades no envio e recepC;ao de código Morse e plo, Manoel, 1995; Tani, 1992). Até a década
o de Woodworth (1899) sobre a velocidade e de 70, a preocupac;ao central dos estudos foi a
precisao de movimentos manuais sao vistos investigac;ao das variáveis que afetam o pro-
como estudos pioneiros. cesso de aprendizagem motora eln tarefas
específicas, com enfase no produto. Em razao
Nao seria exagerado afinnar que, hoje, a disso, esta fase inicial foi denominada de fase
Aprendizagem Motora está presente na maio- de abordagem orientada ao produto ou el tare-
ria das facuIdades de Cinesiologia, Educac;ao fa (AOT). Algumas das variáveis estudadas

200
neste período foram a prática das partes e do considerado um sistema auto-regulatório
todo, a prática lllassificada e distribuída, a capaz de receber, processar, arlnazenar, trans-
prática física e mental, o conhecimento de mitir e utilizar informa<;oes, e isto tem possi-
resultados, a motiva<;ao, entre outras. bilitado especular-se sobre os processos e
mecanismos envolvidos na organiza<;ao e
Neste período, o estudo do comportamen- controle de movimentos como a sele<;ao de
to motor e, consequentemente, da aprendiza- resposta, a programa<;ao motora, a detec<;ao e
gem motora, sofreu forte influencia de duas corre<;ao de erros, e assim por diante (Adams,
correntes teóricas da Psicologia: (a) a 1971; Keele, 1968).
Behaviorista na qual o comportamento motor
era entendido como hábitos, ou seja, probabi- Entretanto, apesar dessa importante
lidades de respostas desenvolvidas com o mudan<;a paradigmática de estudos, urna das
aumento e for<;a de associa<;oes estÍlllulo-res- conseqüencias desta llludan<;a da AOT para
posta e (b) a Cognitivista na qual o comporta- AOP foi urna certa estagna<;ao das pesquisas
mento motor era visto como um resultado tri- em Aprendizagem Motora, pois o fen6meno
vial de processos básicos como percep<;ao, de controle motor tornou-se o foco das
cogni<;ao e memória. aten<;oes, concentrando interesses e esfor<;os
da maioria dos pesquisadores. Esta tendencia,
A década de 70 foi um período muito cuja lógica de pensamento pautava-se na
especial na história da área de assun<;ao reducionista de que conhecer o que
Comportamento Motor como um todo, com o muda (controle) é premissa para se conhecer
surgimento da abordagem de processamento o como muda (aprendizagem e desenvolvi-
de informa<;oes. Em Aprendizagem Motora, mento), continuou até o final da década de 80.
especificamente, ela provocou urna mudan<;a
de enfoque do estudo das variáveis que afe- No início da década de 80 surgiu a abor-
tam a aprendizagen1 para a investiga<;ao dos dagem dos sistemas dinamicos (Kelso, Holt,
mecanismos e processos subjacentes a aqui- Kugler & Turvey, 1980; Kugler, Kelso &
si<;ao de habilidades motoras. Por esta razao, Turvey, 1980; Kugler, Kelso & Turvey, 1982),
esta fase foi denominada de fase de aborda- também conhecida como abordagem ecológi-
gem orientada ao processo (AOP) (Pew, ca, do sistema de a<;ao ou bottom-up, que que-
1970). Em Desenvolvimento Motor, por sua brou a hegemonia da abordagem de processa-
vez, ela possibilitou urna mudan<;a do estudo mento de informa<;oes, tambélll denominada
descritivo da seqüencia de desenvolvimento, de representacional, do sistema motor ou top-
ou seja, da investiga<;ao do que muda e quan- down, dando início a urna fase de turbulencia
do muda para a investiga<;ao do como muda o teórica em toda área de Comportamento
movimento ao langa do ciclo de vida Motor. Na literatura, este período é conhecido
(Connolly, 1970), em que o enfoque passou a como o de "controvérsia" entre as teorias
ser o estudo do desenvolvimento na capacida- motora e da a<;ao (Meijer & Roth, 1988) e o
de de controlar movimentos (Keogh, 1977). conteúdo das discussoes, muitas vezes caloro-
sas, ocorridas particularmente no início do
A abordagelll de processamento de infor- embate teórico, foi amplamente divulgado na
ma<;oes, que continua até os dias de hoje, com literatura especializada.
constantes avan<;os teóricos e metodológicos,
procura dar enfase as opera<;oes mentais que A abordagem dos sistemas dinamicos sur-
acontecem entre o estímulo e a resposta, ou giu como urna crítica, em primeiro lugar, a
sej a, as atividades cognitivas que precedem a enfase excessiva aos aspectos cognitivos na
a<;ao motora propriamente dita (Stelmach, organiza<;ao de movimentos dada pela abor-
1976; 1978). Nela, o organismo humano é dagem de processamento de informa<;oes,

201
relegando para um segundo plano as caracte- Independentelnente dos avan90s da abor-
rísticas e propriedades inerentes do sistema dagem dos sistemas dinalnicos, observou-se,
efetor, e, eln segundo lugar, ao fato dela nao a partir do final da década de 80, Ulna reto-
ter fornecido urna resposta satisfatória ao pro- mada dos estudos em Aprendizagem Motora,
blema da coordena9ao ou do controle dos sem que isto enfraquecesse ou reduzisse o
graus de liberdade na execu9ao de movimen- ímpeto das pesquisas em Controle Motor.
tos, levantado por Bernstein (1967). Houve, de fato, urna mudan9a de postura,
daquela que via o progresso em
Urna das características da abordagem dos Aprendizagem Motora dependente do apro-
sistemas dinamicos é urna forte enfase ecoló- fundamento dos conhecimentos em Controle
gica, enfase na n09ao de que o nosso sistema Motor, para urna postura que via este campo
efetor foi organizado através da evolu9ao, de estudo possuidor de temas de investiga9ao
numa intera9ao dinamica do organismo com genuinamente intrínsecos que poderiam ser
as características físicas do meio ambiente, e atacados livres da "amarra" dos conhecÍlnen-
que devemos, portanto, tentar compreender a tos de controle (Públio, Tani & Manoel,
estrutura e fun9ao do sistema motor usando 1995).
situa90es naturais de pesquisa. Acoplada a
essa visao, há a proposi9aO de que perceP9aO Estudos sobre as variáveis que inf1uen-
e a9aO sao funcionalmente inseparáveis e a ciam a aquisi9ao de habilidades motoras
assun9ao de que a compreensao do sistema foram retomados e intensificados, agora com
motor depende da COlnpreensao dos princí- urna "roupagem teórica" muito mais sofistica-
pios físicos de nossas a90es e de como esses da se comparada el época da AOT, incorporan-
princípios interagem com fun90es biológicas. do os conheciInentos adquiridos e acumula-
Além disso, essa abordagem é relutante em dos sobre o controle motor durante o período
usar abordagem cognitiva-psicológica em que denominado de AOP. Esses conhecimentos
estruturas cerebrais hipoteticamente definidas foram utilizados nao só na formula9ao de
como memória, programa motor e esquema novos problemas de aprendizagem, mas prin-
sao propostas e defendidas (Kugler, Kelso & cipalmente para a interpreta9ao do efeito de
Turvey, 1982; Reed, 1982). Mais recentemen- diferentes variáveis na aquisi9ao de habilida-
te, as características nao-lineares e auto-orga- des motoras.
nizacionais do sistema motor tem sido enfati-
zadas (Kelso, 1995). De acordo com essa Esta retomada nao se tem caracterizado,
visao, o sistelna motor pode funcionar auto- portanto, numa simples volta no tempo para
nomamente e sem recurso a estruturas cogni- reiniciar velhos estudos e atacar velhos pro-
tivas, de modo que urna liga9ao direta entre blemas com velhas metodologias. Temas
inten9ao e sistema motor é assumida, sem a como conhecimento de resultados, interferen-
necessidade de nenhuma media9ao por urna cia contextual e imagem mental teln colocado
estrutura representacional interna. o problema da aprendizagem nUlna nova pers-
pectiva e tem sido objeto de intensas pesqui-
Essa abordagem teve e tem tido maior sas, resultando em inúmeras publica90es de
repercussao e, consequentemente, um maior artigos em periódicos especializados e de
número de adeptos e seguidores em Controle teses de doutorado (veja, por exemplo,
Motor. Especificamente em Aprendizagem Barreiros, 1991; Godinho, 1992). Por exem-
Motora, o seu desenrolar tem sido ainda plo, urna série de estudos sobre conhecimento
muito tímido, exatamente porque explicar de resultados realizada por Schmidt e colabo-
mudan9as é sempre mais complexo do que radores (por exempl0, Schmidt, Young,
explicar estados alcan9ados (Sheridan, 1988; Swinnen & Shapiro, 1989; Schmidt, Lange &
van Wieringen, 1988). Young, 1990; Winstein & Schmidt, 1990;

202
Wulf, Lee & Schmidt, 1989) na Universidade Assim, após 15 anos de controvérsia, tem
da Califónlia e, no Brasil, os próprios estudos surgido neste final da década de 90, os pri-
por nós realizados no LACOM - Laboratório meiros sinais, ainda que thnidos, de inte-
de Comportamento Motor da Escola de grayao das abordagens de processamento de
Educayao Física e Esporte da Universidade de informayoes e sistemas dinamicos (por exeln-
Sao Paulo (por exemplo, Chiviacowsky & plo, van Ingen Schenau, van Soest, Gabreels
Tani, 1993; Teixeira, 1993; Chiviacowsky & & Horstink, 1995; Latash, 1993), em que,
Tani, 1997) ilustram e reforyam esta consta- curiosamente, a problemática da aprendiza-
tayao. gem, juntamente com os avanyos em neuro-
ciencia cognitiva, teln desempenhado um
Pesquisas sobre o efeito da interferencia papel catalisador. Na realidade, nao se trata de
contextual continuam em alta (veja Magill & urna reconciliayao das duas abordagens, algo
Hall, 1990 para Ulna revisao) e tem merecido muito dificil de acontecer em razao das dife-
também a nossa atenyao (Correa & Pellegrini, renyas filosóficas subjacentes. Trata-se lnuito
1996; Freudenheim & Tani, 1995; Teixeira, mais de urna aprendizagem pela experiencia.
1993; Ugrinowitsch & Manoel, 1996). O Urna dura constatayao a que se chegou, pelas
enfoque de investigayao tem mudado da aná- repetidas observayoes cuidadosas do fencnne-
lise dos efeitos de diferentes tipos de prática no em si, de que a complexidade do objeto
variada para o estudo da estrutura da variabi- sob investigayao nao comporta urna aborda-
lidade em si, especialmente a questao do que gem única e hegemónica. Parece que tem pre-
é variado - programa ou parametro. Urna valecido a velha mensagem da ciencia: quan-
tendencia clara para o futuro é estudar o efei- do se estabelece um conflito conceitual inso-
to da interferencia contextual quando ela é lúvel, volte ao fenómeno e o observe carinho-
combinada a outras variáveis como, por samente! Tudo indica que é isto que muitos
exemplo, conhecimento de resultados (veja, pesquisadores estao comeyando a fazer, sem
por exemplo, Wulf, 1992a, 1992b). se prender delnasiadalnente ao lnodelo con-
ceitual das diferentes abordagens.
Em relayao él controvérsia entre as aborda-
gens já mencionadas, tem-se tomado dificil
sustentar, de urna forma geral, que urna única 3. ABORDAGEM MULTIDISCIPLINAR.
teoria abrangente seja capaz de englobar e
explicar todos os tipos de habilidade que Esse observar cuidadoso do fenómeno tem
fazem parte da repertório motor humano. De levado os pesquisadores a criar e utilizar
fato, a especificidade da tarefa motora tem métodos de observayao cada vez mais sofisti-
sido apontada como um fator crucial que cados e precisos. Neste particular, urna forte
influencia enormemente o poder de expla- interayao com a área de Biomecanica tem sido
nayao das diferentes abordagens teóricas observada, pois a aplicayao de métodos con-
(Abbs & Winstein, 1990; Colley, 1989; sagrados de análise de moviInentos por ela
Newell, 1991), aléln do nível de organizayao desenvolvidos tem se constituído um procedi-
em que a observayao é feita (van Wieringen, mento útil e eficaz de se estudar detalhada-
1988). Se coordenayao e controle de movi- mente as mudanyas qualitativas no padrao de
mentas chamados filogenéticos, de caracterís- movimento que emergem em decorrencia da
ticas cíclicas e rítmicas como a locomoyao, aprendizagem.
sao melhor explicados pela abordagem de sis-
temas dinamicos, parece ser dificil explicar Na realidade, o que se observa na área de
movimentos com forte envolvimento cogniti- Comportamento Motor em geral é a adoyao
vo como datilografar, caligrafar, tocar instru- de urna abordagem muitidisciplinar (veja, por
mentos musicais ou danyar sem recorrer-se a exemplo, Swinnen, Heuer, Massion & Casaer,
alguma forma de representayao central. 1994; Requin & Stelmach, 1991; Stelmach &
203
Requin, 1992; Zelaznik, 1996). Essa mudanc;a urna detalhada análise CinelTIática da trajetória
de orientac;ao nas pesquisas tem sido estimu- de movimentos, utilizando-se de técnicas bio-
lada pela visao de que para se compreender o mecanicas como o registro contínuo de sinais
complexo processo envolvido na organizac;ao, de posic;ao, velocidade e acelerac;ao dos seg-
controle e aprendizagem de movimentos, a mentos corporais numa variedade de tarefas
análise apenas de seus efeitos produzidos no motoras. No caso de ac;oes motoras simples
meio ambiente externo é bastante limitada. ou discretas como alcanc;ar, agarrar, transpor-
Em outras palavras, as abordagens recentes tar ou arremessar obj etos, o foco de investi-
partem do princípio de que é necessário inves- gac;ao tem sido a COlTIpreensao do processo
tigar-se a organizac;ao e controle de movi- que controla a acurácia final do movimento.
mentos nao só a partir da análise dos resulta- Por outro lado, no caso de ac;oes motoras
dos produzidos no meio ambiente, mas tam- complexas, o foco de investigac;ao telTI sido a
bém a partir da cuidadosa descric;ao da dina- descric;ao detalhada do padrao de movimento
mica do próprio padrao de movimentos e das em si com o objetivo de inferir meCaniSlTIOS
estruturas neurais responsáveis pela sua pro- de coordenac;ao e controle subjacentes, COlTIO,
duc;ao. por exemplo, a questao da ordem seriada
(Lashley, 1951).
Isso tem sido possível, em parte, pela dis-
ponibilidade de tecnologia avanc;ada de regis- A formac;ao de trajetória refere-se a plane-
tro de movimentos em Biomecanica que per- jamento e controle da cinemática do movi-
mitem análises cinemáticas cada vez mais mento. A proposic;ao básica é de que se o per-
precisas e sofisticadas. Além disso, os fil de trajetória de urna determinada tarefa
avanc;os tecnológicos na Neurofisiologia e motora executada sob diferentes demandas
sua aplicac;ao na Neurociencia Cognitiva tem permanece invariável, a idéia de um mecanis-
possibilitado o estudo integrado de aspectos mo de organizac;ao e controle de movimentos
cognitivos de ac;oes motoras e os eventos neu- baseado numa estrutura genérica e abstrata é
rais que precedem e acompanham a execuc;ao sustentada (Marteniuk, MacKenzie & Leavitt,
de movimentos, através de medidas eletrofi- 1988). Em outras palavras, lTIovimentos de
siológicas precisas (Jeannerod, 1997; Requin, diferentes velocidades, amplitudes e sobrecar-
1992). Por exemplo, o desenvolvimento de gas, cujas trajetórias podem ser escaladas ao
técnicas de medic;ao sofisticadas como o longo de urna base comum pertenceriam a
registro de atividades de um neuronio isolado urna mesma categoria de movitnentos elTI ter-
tem permitido vasculhar o sistema nervoso mos de coordenac;ao e controle.
central in loco para descobrir mecanismos
subj acentes a coordenac;ao e controle de A decomposic;ao e análise da traj etória em
movimentos. As recentes evidencias aponta- fases de acelerac;ao (do início do movimento
das por Jeannerod (1994) de que a formac;ao até a velocidade de pico) e desacelerac;ao (da
de imagem motora e a preparac;ao motora tem velocidade de pico até o término do movi-
o mesmo substrato neural sao demonstrac;oes mento) tem possibilitado a identificac;ao, elTI
concretas da potencialidade dessa integrac;ao termos de perfil de velocidade, de urna for-
de áreas. Em suma, urna abordagem integrada mac;ao de trajetória em forma de um sino que
multidisciplinar envolvendo Comportamento pode ser escalada tanto no domínio da ampli-
Motor, Biomecanica e Neurofisiologia tem tude como no de tempo (Atkeson &
sido cada vez mais freqüente e tem se mostra- Hollerbach, 1985; Flash & Hogan, 1985). lsso
do extremamente promissora no estudo do tem dado sustentac;ao a teoria de organizac;ao
comportamento motor de urna forma geral. e controle de movimentos através de progra-
ma motor generalizado e paralTIetrizac;ao
Urna das "avenidas" de pesquisa muito (Schmidt, 1980; 1985; 1988).
exploradas dentro dessa perspectiva tem sido
204
Basicamente, o programa motor generali- to mudem de acordo com a posi<;ao teórica
zado é uma representa<;ao abstrata de uma adotada, como o fizeram Sclllllidt (1985) e
classe de movimentos que possui um padrao Zanone & Kelso (1992) em rela<;ao ao timing
comum de movimento. As varia<;oes dentro relativo, a existencia desses aspectos na orga-
da classe de lllovimentos sao produzidas pela nizac;ao de ac;oes habilidosas telll sido forte-
aplica<;ao de certos parámetros ao programa mente sustentada por evidencias empíricas
motor generalizado antes da sua execuc;ao, (por exemplo, Kelso, Southard & Goodman,
dando urna configura<;ao única a cada padrao 1979; Schmidt, 1980; 1985). lsto mostra que
de movimento elll conformidade conl as tem havido uma primazia na identifica<;ao de
demandas específicas da situa<;ao. estabilidades, de padroes, de estruturas, e na
compreensao de sua natureza e características
Entretanto, outros estudos tem mostrado do que a discussao e definic;ao prévia do nOllle
que os perfis de trajetória podem ser escala- a ser-lhes atribuído. No futuro, esta é urna
dos em tomo de um perfil comum, quando postura que tende a ser adotada por um núme-
movimentos de diferentes amplitudes sao ro cada vez maior de pesquisadores. Procurar
executados para um mesmo tamanho de alvo. diferen<;as entre posic;oes teóricas nao se
Para alvos de tamanhos diferentes, a pro- constitui mais urna fonte de motiva<;ao acade-
por<;ao de tempo gasto antes e depois da velo- mica.
cidade de pico varia no sentido de que para
alvos pequenos o perfil de velocidade é envie- A ado<;ao desta postura mais realista e por-
sado, com longa cauda a direita (fase de desa- que nao mais pragmática do ponto de vista
celera<;ao) (MacKenzie, Marteniuk, Dugas, operacional, abre perspectivas de uma nova
Liske & Eickmeier, 1987). Além disso, dinámica de discussoes e também de novas
evidencia de que a formac;ao de trajetória é maneiras de atacar os problemas. Quais
influenciada pela experiencia passada e seriam, entao, os problemas centrais que, no
inten<;ao do movimento (Marteniuk, nosso entender, desafiam os pesquisadores em
MacKenzie, J eannerod, Athenes & Dugas, Aprendizagem Motora?
1987; Marteniuk & MacKenzie, 1990;
Marteniuk, MacKenzie & Leavitt, 1988) tem
colocado questoes importantes que mostram 4. ALGUNS PROBLEMAS CENTRAIS
que o assunto requer nao só um maior núme- DE INVESTIGArAO.
ro de estudos experimentais, como também
reformula<;oes teóricas significativas. De Em primeiro lugar existe o problema da
todas as maneiras, as análises cinemáticas das explica<;ao da coexistencia de consistencia e
trajetórias de movimento tem se mostrado um variabilidade em a<;oes habilidosas. Bartlett
método eficaz na compreensao dos mecanis- (1932) cunhou uma das frases que melhor
mos envolvidos na organiza<;ao, controle e expressam essa característica singular.
aprendizagem de movimentos. Referindo-se ao movimento de rebatida em
tenis, ele afirmou: "quando executo a rebati-
Os estados de estabilidade na coordena<;ao da, na realidade, eu nao produzo algo absolu-
e controle de movimentos tem sido interpreta- tamente novo nem repito meramente algo
dos, de Ulll lado, COIllO sendo urna conseqüen- velho" (p. 202). De fato, quando se observa
cia da aquisic;ao de programas motores gene- movimentos de pessoas habilidosas, seja no
ralizados (Schmidt, 1988) ou, de outro, como esporte, na arte, na dan<;a ou no trabalho, tem-
uma forma<;ao de atratores (Turvey, 1990), se a impressao de que elas executam repetida-
dependendo do referencial teórico adotado. mente, com muita precisao e consistencia,
Por exemplo, embora a interpreta<;ao de movimentos identicos. Contudo, urna obser-
aspectos variantes e invariantes do movimen- va<;ao mais detalhada desses movimentos, por

205
exemplo, via análise cinematográfica ou com A consistencia do movimento é alcanc;ada
a utilizac;ao de tecnologias mais modernas, através da reduC;ao de variabilidade ou contro-
como a análise triditnensional de imagens via le dos graus de liberdade. Seln a reduc;ao de
. computador, revela que elas nao executam variabilidade é dificil de se obter performan-
dois movinlentos iguais. ces bem sucedidas. Entretanto, quando Uln
excesso de enfase é dado na reduc;ao de varia-
Há, de um lado, Ulna variabilidade ineren- bilidade, duas conseqüencias podeln ser espe-
te ao sistema motor que resulta numa variac;ao radas. Em primeiro lugar, a produc;ao de
sutil de tentativa a tentativa na micro-estrutu- padroes de movimentos rígidos e estereotipa-
ra do movimento, mas, por outro lado, há dos, isto é, de baixa adaptabilidade (Tani,
também um padrao próprio na macro-estrutu- 1982). Em segundo lugar, a inviabilizaC;ao do
ra que pennite identificar até estilos indivi- próprio movimento, em funC;ao da tentativa de
duais. É o que acontece com as nossas pró- se eliminar a variabilidade inerente ao sistenla
prias assinaturas. Nunca conseguimos fazer motor, o que acarreta a perda do grau mínimo
duas iguais, mas pode-se perfeitamente iden- de liberdade necessário a produc;ao do movi-
tificar a sua autoria. Em síntese, esses movi- mento (Choshi, 1980).
mentos executados com habilidade caracteri-
zam-se por um padrao com urna integrac;ao de COlno essas duas características aparente-
macro-ordem e micro-desordem, isto é, con- mente contraditórias - consistencia e variabi-
sistencia e variabilidade ao mesmo tempo lidade ou macro-ordeln e micro-desordem -
(Choshi, 1980, 1983, 1984; Manoel, 1993; podem ser conciliadas dentro de urna nleSlna
Manoel & Connolly, 1995, 1997; Tani, 1982, estrutura, e mais ainda, quais sao os mecanis-
1995). mos subj acentes responsáveis por essa inte-
grac;ao e como estas estruturas sao adquiridas
Na realidade, o ser humano é incapaz de com a prática constituem, certamente, itnpor-
executar dois movimentos identicos. Há tantes problemas de investigac;ao (Tani,
várias razoes para isso. Em primeiro lugar, 1995).
existe o problema de controle dos inúmeros
graus de liberdade que estao presentes na exe- Um segundo problema, central no nosso
CUC;ao do lnovimento (Benlstein, 1967). O entender, continua sendo a questao da equi-
problema dos graus de liberdade pode ser valencia motora, ou sej a aquela capacidade do
visto de várias formas, como, por exemplo, o ser humano de alcanc;ar urna mesma meta ou
número de graus de liberdade nas diferentes realizar urna mesma ac;ao via diferentes movi-
articulac;oes que participam do movimento, o mentos (Glencross, 1980; Hebb, 1949;
número de músculos que agem sobre elas, e Turvey, 1977), fruto da plasticidade do seu
até mesmo o número de unidades motoras que sistema motor. Imagine urna pessoa escreven-
devem ser ativadas para produzir um detenni- do o seu nome com urna caneta, primeiro com
nado movimento. Quanto mais microscópico a sua mao preferida, depois com a mao nao
o nível de análise, maior o número de graus de preferida, com a caneta presa entre os dedos
liberdade. Em segundo lugar, há o problema do pé ou mesmo entre os dentes, e assim por
da imprevisibilidade das variac;oes ambientais diante. Embora em cada um destes movÍlnen-
que exigeln adaptac;oes do padrao de movi- tos a pessoa demonstre um diferente nível de
mento as circunstancias particulares daquele habilidade, é inegável que urna mesma aC;ao
momento. E existe também o problema da esteja sendo realizada através de diferentes
característica nao-linear dos próprios múscu- movimentos, ou seja, utilizando-se de dife-
los que implica um mesmo comando motor rentes grupos musculares. Além disso, apesar
produzindo diferentes efeitos, dependendo de da variac;ao no nível de habilidade, é possível
suas condic;oes iniciais (Bernstein, 1967; identificar o produto da escrita COlno sendo de
Turvey, Fitch & Tuller, 1982). autoria de urna mesma pessoa.
206
Essa equivalencia motora presente no (desordem, variabilidade). As estruturas flexí-
movimento humano suscita a seguinte per- veis implicam a existencia de Ulua tolerancia
gunta: se o ser humano é capaz de alcanc;ar na definic;ao de parametros permitida pelas
urna mesma meta via diferentes movimentos, regras fixas. E, para se adquirir padroes flexí-
que sentido tem aprender urna determinada veis de movimento, que melhor se adaptenl as
técnica de luovimento, se pela própria defi- novas situac;oes ou tarefas motoras, é possível
nic;ao, técnica é o (um) meio mais eficiente inferir que, durante o processo de aprendiza-
para alcanc;ar UIU determinado objetivo? gem, urna certa liberdade na escolha das res-
Embora a repetic;ao de urna técnica que espe- postas seja necessária. Isto porque, quando se
cifica os micro-detalhes do movimento possa elimina essa liberdade, tomando a aprendiza-
conduzir mais rapidamente a padronizac;ao do gem totalmente dirigida, a enfase está sendo
movimento (ordem), tomando a aprendiza- dada apenas ao aspecto invariável da habili-
gem aparentemente mais eficiente, esta dade, contribuindo para a formac;ao de
padronizac;ao corresponde também a urna padroes de movimento estereotipados. Por
perda proporcional de flexibilidade no movi- outro lado, se um excesso de liberdade for
mento. Em outras palavras, pode resultar na tolerado, toma-se dificil adquirir a consisten-
aquisic;ao de um padrao de movimento rígido cia necessária para a realizac;ao da meta COIU
e estereotipado, de baixa adaptabilidade eficiencia (Tani, 1982, 1989; Tani, Bastos,
(Tani, 1991). Castro, Jesus, Sacay & Passos, 1992).

A adaptac;ao a novas situac;oes ou tarefas A técnica é claramente urna forma de res-


motoras requer altenlativas de soluc;ao de pro- tric;ao (constraint), mas ela nao se constitui
blemas (Tani, 1982). Imagine urna pessoa um real problema, como muitos preconizam.
abrindo a porta de seu apartamento. Como Afinal, a técnica existe como urna informac;ao
vimos anteriormente, ela poderá realizar essa sobre a maneira mais eficiente de alcanc;ar um
ac;ao via diferentes movimentos. Em situac;oes objetivo. Qual seria entao urna possível
normais, lanc;ará mao sempre de um mesmo soluc;ao? Ternos explorado a seguinte idéia
movimento, provavelmente aquele que se (Tani, no prelo): proporcionar liberdade na
manifestou mais eficiente em experiencias escolha de alternativas e encorajar os sujeitos
passadas. Imagine agora essa pessoa voltando a explorar suas potencialidades de movüuen-
ao seu apartamento, com as maos ocupadas to, tendo informac;oes sobre a macro-estrutura
com pacotes de compras de supermercado. do movimento apenas como um referencial
Ela só conseguirá abrir a porta se tiver "dis- orientador desta explorac;ao. No início da
ponível" no seu repertório de movimentos aprendizagem, os movimentos serao inconsis-
alternativas motoras que permitam urna tentes e desordenados. Mas, elU func;ao da
soluc;ao criativa. De que forma surgem essas orientac;ao recebida e do feedback intrínseco,
soluc;oes criativas? Certamente isto envolve a sua macro-estrutura tornar-se-á gradativa-
um processo de gerac;ao e nao apenas de mente ordenada, até que eles encontrem um
selec;ao de respostas motoras (Tani, 1995). padrao correspondente a urna técnica, ou
semelhante a ela. Ao final, um padrao de
A adaptac;ao as mudanc;as exige também movimento consistente na sua macro-estrutu-
padroes flexíveis de movimento. Existem ra e ao mesmo tempo variável na micro-estru-
várias maneiras de se definir padroes flexíveis tura poderá resultar, de forma que estilos e
de movimento. De acordo com Koestler características individuais serao incorporados
(1967), sao aqueles padroes que possuem um a técnica de movimento. Em vez do sujeito se
aspecto invariável governado por regras fixas ajustar a técnica, a técnica seria "construída"
(ordem, consistencia), além de um aspecto de forma a se ajustar as suas características
variável dirigido por estruturas flexíveis individuais (Tani, no prelo). A verificac;ao

207
experimental destas idéias, utilizando-se de movimentos padronizados e precisos. Neste
diferentes tarefas e sujeitos, tem-se constituí- processo, o elelTIento fundalTIental é o
do um desafio merecedor de nossa atenc;ao. feedback negativo.

Em terceiro lugar, há o problema funda- O segundo é aquele em que se procura


mental da limitac;ao do modelo de equilíbrio adaptac;oes as novas situac;oes ou tarefas
para explicar sistemas com aumento contínuo motoras (perturbac;ao), através da aplicac;ao
de complexidade. A aquisic;ao de habilidades das habilidades já adquiridas. Neste processo
motoras caracteriza um processo dinamico e exige-se modificac;oes na estrutura da habili-
complexo. Entretanto, teorias correntes de dade já adquirida, e urna posterior reorgani-
aprendizagem motora explicam apenas o pro- zac;ao dessa estrutura num nível superior de
cesso de estabilizac;ao da performance, ou complexidade. Existem perturbac;oes para as
sej a, um processo homeostático (equilíbrio) quais a adaptac;ao se faz pela flexibilidade
alcanc;ado via feedback negativo' (Adams, inerente a estrutura adquirida, ou sej a, pela
1971; Schmidt, 1975). Processos baseados em mudanc;a de parametros do movimento.
feedback negativo, ou mecanismo de neutrali- Entretanto, existem perturbac;oes de tal enver-
zac;ao do desvio sao capazes de manter a gadura que por mais que haja disponibilidade
estrutura ou ordem, mas sao incapazes de na estrutura nao há condic;oes de adaptar-se.
conduzir a urna nova estrutura, visto que para Neste caso, exige-se urna reorganizac;ao da
tanto é necessário desestabiliza<;ao, ou seja, própria estrutura que, quando concluída,
feedback positivo ou mecanismo de amplifi- reflete numa mudanc;a qualitativa do sistema
cac;ao do desvio (Maruyama, 1963). A auto- (Tani, 1982). Investigar a formac;ao de novas
matizac;ao, vista como a fase final do proces- estruturas a partir de estruturas existentes, ou
so de aprendizagem motora pelas teorias seja, a aprendizagem motora como um pro.-
correntes, é um exemplo típico de estabili- cesso contínuo e dinamico em direc;ao a esta-
zac;ao. dos crescentemente complexos de organi-
zac;ao, exige urna agenda de investigac;ao de
Recentes meta-teorias da cIencia tem longo termo, mas certamente recheada de pro-
enfatizado que, em sistemas abertos, a for- blemas intelectualmente desafiadores e esti-
mac;ao de novas estruturas pressupoe instabi- mulantes (Tani, no prelo).
lidade ou quebra de estabilidade. Nesta pers-
pectiva, a aquisic;ao de habilidades motoras Um quarto problema, decorrente do ante-
melhor caracteriza um processo cíclico e rior, diz respeito a necessidade de reestudo
dinamico de estabilidade-instabilidade-estabi- dos fatores de instabilidade na aquisic;ao de
lidade, resultando em crescente complexida- habilidades motoras. O quadro a seguir (figu-
de. Com esse background teórico, Choshi ra 1) mostra a relac;ao entre informa<;ao e
(1978, 1981, 1982), Choshi & Tani (1983), entropia elaborada por Miller (1978). Os pro-
Tani (1982, 1989) e Tani et alii (1992) tem cessos de mudanc;a em direc;ao a estados mais
proposto um modelo de nao-equilíbrio em complexos de organizac;ao, ,como evoluc;ao,
aprendizagem motora em que dois processos aprendizagem e desenvolvimento, sao proces-
fundamentais sao considerados: estabilizac;ao sos em que a incerteza é transformada enl
e adaptac;ao. O primeiro é aquele em que se informac;ao, a entropia em entropia negativa,
busca, como a própria palavra indica, a esta- o ruído em sinal, a desordem elTI OrdelTI e
bilidade funcional que resulta na padroni- assim por diante. E, para que todas estas
zac;ao espacial e temporal do movimento (for- transformac;oes sejam realizadas, há a neces-
mac;ao de estrutura). Movimentos inicialmen- sidade do dispendio de energia.
te inconsistentes e descoordenados van sendo
gradativamente refinados até se alcanc;ar

208
Entretanto, por longo período, os fatores na disputa de posi90es dicotómicas, o esfor90
relacionados a desordem, que estao colocados de síntese foi inibido. Sao bem conhecidos os
a direita no esquema elaborado por Miller, resultados dessa dicotomia nos diferentes
foram considerados elementos negativos que campos da atividade humana. Todavia, após
necessitavam ser eliminados para que a ordem um longo período de predomínio dessa visao
prevalecesse. Como é bem conhecido, esta dicotómica, o quadro come9a a se alterar em
visao negativa de fatores relacionados com a fun9ao das recentes proposi90es das meta-
entropia positiva advinha de urna concep9ao teorias da ciencia.
de ciencia em que o determinismo e a lineari-
dade eram os seus postulados fundamentais. o panorama que se apresenta ainda suge-
re muita prudencia, mas há lugar para um oti-
mismo, pois recentes avan90s na ciencia tem
H -S
fomecido elementos animadores. Prigogine
infonna9ao incerteza (1967) mostrou, por exemplo, como ordem
poderia ser criada a partir da desordem, atra-
entropia negativa entropia vés de processos estocásticos que transfor-
mam flutua90es locais de matéria-energia em
sinal roído estados dinamicos altamente ordenados cha-
mados de estruturas dissipativas. Maruyatna
precisan erro
(1960), por sua vez, formulou o conceito de
fonna caos rela90es causais multilaterais, mútuas e
simultaneas. Ele distinguiu rela90es morfoló-
regularidade aleatoriedade gicas (criadoras de desvios) dirigidas por
feedback positivo e rela90es morfostáticas
padrao ou fonna falta de padrao ou fonna (combatedoras do desvio) dirigidas por
feedback negativo no desenvolvimento de
ordeln desordeln
nova ordem, estrutura e organiza9ao.
organiza9ao desorganiza9ao
Princípios de auto-organiza9ao e de tran-
cOlnplexidade regular silnplicidade irregular si9 ao de fase come9am a ser desvendados nao
apenas no mundo fisico, como também no
heterogeneidade hOlnogeneidade mundo biológico e sociológico (Haken, 1977;
Jantsch, 1980). Explicar descontinuidade e
ilnprobabilidade probabilidade
emergencia num ciclo de estabilidade e insta-
previsibilidade ilnprevisibilidade bilidade tem se constituído urna das preocu-
p a90es centrais em vários campos da ciencia.
(H = infonna9ao S = entropia) A teoria da complexidade revela que descon-
tinuidades ocorrem quando sistemas dinami-
Figura 1: Infonna~ao versus entropia (adaptado de cos se colocam no limite do caos, permitindo
Miller, 1978). um salto qualitativo (Lewin, 1993). Parece
existir princípios de ~rganiza9ao universais
(Laszlo, 1994) que se aplicam a todos os sis-
Urna das conseqüencias dessa visao que temas dinamicos, conforme previa
apenas considera e valoriza a ordem foi o sur- Bertalanffy (1968). A ciencia dirige a sua
gimento de sua irma gemea de sinal trocado, aten9ao as semelhan9as, a essencia, procuran-
ou seja, a apologia da desordem. Com isso do vencer velhas dicotomias como mente x
implantou-se a filosofia dos extremos, ou corpo, natureza x cria9ao, matura9ao x expe-
como diz o ditado popular, oito ou oitenta, e riencia, inato x aprendido e assim por diante.

209
De fato, um novo panorama se desenha, profissional da Educac;ao Física e Esporte
urna nova atmosfera se cria. Na visao (Christina, 1989; Hoffman, 1990; Petersen,
Kuhniana, um novo paradigma emerge Santos & Reghelin, 1991; SchlTIidt, 1989;
(Kuhn, 1970) e com ele urna reconsiderac;ao Stelmach, 1989; Tani, 1992).
do significado da aleatoriedade, variabilidade,
incerteza, ruído e outros fatores relacionados A maioria das pesquisas sobre os mecanis-
a desordem em vários campos da ciencia mos e processos subj acentes a aquisiyao de
(Prigogine & Stengers, 1984). Quando a habilidades motoras continua a ser realizada
aprendizagelTI motora é vista apenas como um sob forte influencia do paradiglTIa das ciencias
processo de estabilizayao de performance, naturais, cuja lTIetodologia implica, como é
esses fatores relacionados com entropia posi- bem conhecido, na simplificac;ao do objeto de
tiva sao elementos que necessitam ser reduzi- estudo e no controle rigoroso de variáveis,
dos ou eliminados via feedback negativo para vi.sando assegurar a fidedignidade dos resulta-
que a estabilizac;ao ocorra. Entretanto, quando dos. Todavia, é também bem conhecido que
a aprendizagem motora é vista como um pro- esse procedimento cria situayoes artificiais
cesso além da estabilizac;ao, isto é, como pro- que podem levar a falta de correspondencia
cesso adaptativo, os fatores de desordem entre. as condiyoes de pesquisa e a situac;ao
necessitam sér reconsiderados (Manoel, 1993; real e, assim, comprometer a validade ecoló-
Manoel & Connolly, 1995, 1997; Tani, 1995; gica dos resultados (Tani, 1992). Além disso,
Tani et alii, 1992). essa metodologia pode resultar num acúlTIulo
de informac;oes desconexas, dificeis de serem
o estudo dos fatores que afetam a aqui- integradas em princípios gerais de aprendiza-
sic;ao de habilidades motoras tem sido condu- gem capazes de fornecer subsídios para a
zido tendo como background teórico um tomada de decisoes práticas mais seguras.
modelo de equilíbrio de aprendizagem moto-
ra. Nesta perspectiva, variabilidade de respos- Essa distancia existente entre pesquisas
ta, freqüencia relativa de CR, imprecisao de básicas e a situayao real de prática é, de certa
CR, atividades interpoladas durante o interva- forma, inevitável, e constitui-se um problema
lo pós-CR e outros elementos relacionados a sem soluc;ao em diferentes áreas do conheci-
desordem tem sido considerados prejudiciais mento. Além disso, nao é algo passível de
a obtenyao da estabilidade no processo de soluc;ao pela simples dinamizac;ao de pesqui-
aquisic;ao de habilidades motoras. Na pers- sas aplicadas. Pesquisa básica, elTI
pectiva do processo adaptativo cabe indagar: Aprendizagem Motora, procura, em últÍlna
seriam estes fatores relacionados a desordem análise, desenvolver um corpo de conheci-
fonte de ordem também em aprendizagem mentos orientado a teoria que possibilite
motora? explicar como ocorre a aquisic;ao de habilida-
des motoras e prever acerca desse fenomeno.
Finalmente, existe o problema da reali- Ela nao se orienta para a soluyao de proble-
zac;ao de pesquisas em Aprendizagem Motora mas. Isto é papel da pesquisa aplicada, cuja
e a aplicayao prática dos conhecimentos pro- meta é produzir conhecimentos de aplicac;ao
duzidos. Refiexoes sobre o conjunto de pes- prática para soluc;ao de problemas do mundo
quisas realizadas sobre aprendizagem motora real. Entretanto, é preciso considerar as limi-
ao longo do tempo, especialmente aquelas de tac;oes da pesquisa aplicada. Muitas vezes, os
natureza básica direcionadas para a eluci- conhecimentos por ela produzidos sao dema-
dac;ao dos mecanismos e processos subjacen- siadamente específicos e, portanto, de dificil
tes, tem levado a conclusao de que elas pouco generalizac;ao. Em outras palavras, eles
contribuíram para a busca de soluc;oes para os podem ser aplicáveis as situa'c;oes muito pecu-
problemas práticos encontrados no exercício liares, provavelmente somente a soluc;ao de

210
problemas que se assemelham aqueles de pes- reconhecimento social e profissional da
quisa onde foram originalmente testados e Cinesiologia, Educac;ao Física e Esporte e a
aplicados (Tani, 1992). Apesar dessas limi- sua consolidac;ao como áreas de conhecimen-
tac;oes, é mais do que notório a necessidade de to (Tani, 1996).
fomentar-se, com muito maior vigor, pesqui-
sas aplicadas em Aprendizagem Motora.
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS.
Claramente, a integrac;ao entre teoria e
prática é muito mais complexa do que faz ABBS, lH. & WINSTEIN, C.l (1990). Functional
contributions of rapid and autolnatic sensory-
deduzir aqueles discursos inflamados dos
based adjustments to lnotor output. In M.
auto-proclamados guardioes do retomo social
Jeannerod (Ed.), Attention and Perfonnance
das pesquisas científicas. Urna alternativa que XIII. .Hillsdale, New Jersey: Lawrence
se propoe é a realizac;ao de pesquisas de Erlbaum.
características de integrac;ao e síntese de con-
hecimentos em que a preocupac;ao central seja ADAMS, J.A. (1971). A closed-Ioop theory of
a verificac;ao experimental da aplicabilidade motor leaming. Joumal of Motor Behavior, 3,
111-150.
dos conhecimentos, princípios e hipóteses
derivados da pesquisa básica, numa situac;ao ATKESON, C.G. & HOLLERBACH, J.M. (1985).
real. Ternos denominado o campo de estudos Kinematic features ofunrestrained vertical arm
responsável por essas pesquisas de Ensino- movements. Joumal of Neuroscience, 5, 2318-
Aprendizagem de Habilidades Motoras (Tani, 2330.
1992). Pesquisas em Ensino-Aprendizagem BARREIROS, J.M.P. (1991). Desenvolvünento e
envolvem urna participac;ao integrada de pes- aprendizagem: A variabilidade das condivoes
quisadores e profissionais e caracterizam um de prática em crianvas e adultos. Dissertavao
tipo de pesquisa em que é preciso conciliar de Doutorado. Lisboa: Faculdade de
ganho em validade ecológica com perda em Motricidade Humana da Universidade Técnica
fidedignidade. Verificar a aplicabilidade dos de Lisboa.
conhecimentos adquiridos numa situac;ao real BARTLETT, F.C. (1932). Relnembering.
ainda nao caracteriza urna pesquisa aplicada Cambridge: Cambridge University Press.
no sentido clássico da palavra. É um passo
BERNSTEIN, N. (1967). The co-ordination and
intermediário, ainda orientado a teoria, parti-
regulation of movements. Oxford: Pergamon
cularmente no que se refere a checagem da Press.
sua validade ecológica, lnas já com a preocu-
pac;ao de integrar teoria e prática (veja, por BERTALANFFY, L.von. (1968). General systems
theory. New York: George Braziller.
exemplo, Públio & Tani, 1993; Públio, Tani &
Manoel, 1995). BRYAN, W.L. & HARTER, N. (1897). Studies in
the physiology and psychology of telegraphic
Se variáveis que afetam a aqulslc;ao de language. Psychological Review, 4, 27-53.
habilidades motoras sao, em últim~ análise, CHIVIACOWSKY, S. & TANI, G. (1993). Efeitos
os fatores que sao manipulados pelos profis- da frequencia de conhecimento de resultados
sionais que lidam com o ensino de habilidades na aprendizagem de urna habilidade lnotora eln
motoras numa situac;ao real de prática (veja, crianvas. Revista Paulista de Educavao Física,
por exemplo, Tani, Manoel, Kokubun & 7,45-57.
Proenc;a, 1988), a realizac;ao de pesquisas em CHIVIACOWSKY, S. & TANI, G. (1997). Efeitos
Ensino-Aprendizagem acerca dessas variá- da frequencia de conhecimento de resultados
veis, mais do que urna necessidade para dimi- na aprendizagem de diferentes progralnas
nuir a distancia entre teoria e prática, seria motores generalizados. Revista Paulista de
urna grande contribuic;ao para a promoc;ao do Educavao Física, 11, 15-26.

211
CHOSHI, K. (1978). The organization of percep- FLASH, T. & HOGAN, N. (1985). The coordina-
tual-motor behavior. In H. Hagiwara & K. tion of arm movements: An experimentally
Choshi (Eds.), The organization of perceptual- confirmed mathematical tnodel. Journal of
motor behavior. Tokyo: Fumaido. (in Japanese) Neuroscience, 5, 1688-1703.
CHOSHI, K. (1980). Freedom and constraint of FREUDENHEIM, A.M. & TAN1, G. (1995).
children's movements. Memoirs of the Child Efeitos da estrutura de prática variada na
Education Research, Hiroshima University, 55, aprendizagem de urna tarefa de titning coinci-
29-37. (in Japanese) , dente em crian9as. Revista Paulista de
Educa9ao Física, 9, 87-98.
CHOSHI, K. (1981). The significance of error res-
ponse in adaptive systems. Sport Psychology GLENCROSS, D.1. (1980). Levels and strategies
Research, 7, 60-64. (in Japanese) of response organization. In G.E. Stehnach &
J. Requin (Eds.), Tutorials in motor behavior.
CHOSHI, K. (1982). An analytical study of the
Amsterdam: North-Holland.
adaptive process in motor leaming. Memoirs
of the Faculty of Integrated Arts and Sciences GODINHO, M.A.B. (1992). Informa9ao de retor-
111, Hiroshima University, volume 6, 75-82. (in no e a aprendizagem: Influencia da frequencia
Japanese) relativa, da precisan e do tempo após conheci-
mento de resultados sobre o nivel de aquisi9ao,
CHOSHI, K. (1983). Introduction to the study of
reten9ao e transfer de aprendizagem.
pre-school education that leads one to like
Disserta9ao de Doutorado. Lisboa: Faculdade
movement. Taikukakyoiku, 31, 25-28. (in
de Motricidade Humana da Universidade
Japanese)
Técnica de Lisboa.
CHOSHI, K. (1984). Movement adaptation. In A.
HAKEN, H. (1977). Synergetics. Heidelberg:
Akatsuka & K. Choshi (Eds.), Thinkings on
Springer-Verlag.
movement health education. Tokyo: Meiji
Tosho. (in Japanese) HEBB, D.O. (1949). The organization ofbehavior.
New York: Wiley.
CHOSHI, K. & TANI, G. (1983). Stable system
and adaptive system in motor leaming. In HOFFMAN, S.1. (1990). Relevance, application,
Japanese Association of Biomechanics (Ed.), and the development of an unlikely theory.
The science of movement V. Tokyo: Kyorin. Quest, 42, 143-160.
(in Japanese)
JANTSCH, E. (1980). The self-organizing univer-
CHRISTINA, R.W. (1989). Whatever happened to se: Scientific and human itnplications of an
applied research in motor leaming? In 1.S. emerging paradigm of evolution. Oxford:
Skinner, C. Corbin, D. Landers, P. Martin & C. Pergamon Press.
Wells (Eds.), Future directions in exercise and
JEANNEROD, M. (1994). The representing brain:
sport science research. Champaign, Illinois:
Neural correlates of motor intention and itna-
Human Kinetics.
gery. Behavioral and Brain Sciences, 17, 187-
CONNOLLY, K.J. (Ed.)(1970). Mechanisms of 202.
motor skill development. London: Academic
JEANNEROD, M. (1997). The cognitive neuros-
Press. cience of action. Oxford: Blackwell Publishers.
COOLEY, A.M. (1989). Leaming motor skills:
KEELE, S.W. (1968). Movement control in skilled
Integrating cognition and action. In A.M.
motor performance. Psychological Bulletin,
Cooley & 1.R. Beech (Eds.), Acquisition and
70, 387-403.
perfonnance of cognitive skills. Chichester:
Wiley. KELSO, J.A.S. (1995). Dynamic pattems: The
self-organization of brain and behavior.
coRREA, U.C. & PELLEGRINI, A.M. (1996). A
Cambridge, Massachusetts: The MIT Press.
interferencia contextual em fun9ao do número
de variáveis. Revista Paulista de Educa9ao KELSO, J.A.S., HOLT, K.J., KUGLER, P.N. &
Física, 10, 21-33. TURVEY, M.T. (1980). On the concept of
coordinative structures as dissipative structu-
res: n. Empiricallines of convergence. In G.E.

212
Stehnach & l Requin (Eds.), Tutorials in MANOEL, E.J. (1993). Adaptive control and
motor behavior. AInsterdaIn: North-Holland. variability in the developlnent of skilled
actions. Unpublished Doctoral Dissertation.
KELSO, lA.S., SOUTHARD, D.L. & GOOD- Sheffield: University of Sheffield, Departtnent
MAN, D. (1979). On the coordination oftwo-
of Psychology.
handed n10velnents. Joumal of Experimental
Psychology: Human Perception and MANOEL, EJ. (1995). Aprendizagem lnotora: °
processo de aquisiyao de ayoes habilidosas. In
Performance, 2, 229-238.
A.F. Neto, S.V. Goellner & V. Bracht (Orgs.),
KEOGH, J.f. (1977). The study ofmovement skill As ciencias do esporte no Brasil. CaInpinas:
deve10pment. Quest, 28, 76-88. Editora Autores Associados.
KOESTLER, A. (1967). The ghost in the Inachine. MANOEL, EJ. & CONNOLLY, K.l (1995).
London: Hutchinson. Variability and the developlnent of skilled
KUGLER, P.N., KELSO, lA.S. & TURVEY, M.T. actions. International Journa! of
(1980). On the concept of coordinative structu- Psychophysiology, 19, 129-147.
res as dissipative structures: 1. Theoreticallines
MANOEL, E.l & CONNOLLY, K.J. (1997).
of convergence. In G.E. Stelmach & J. Requin
Variability and stability in the developlnent of
(Eds.), Tutorials in lnotor behavior.
skilled actions. In K.J. Connolly & H.
Amsterdam: North-Holland.
Forssberg (Eds.), Neurophysiology and neu-
KUGLER, P.N., KELSO, lA.S. & TURVEY, M.T. ropsychology of motor developlnent. London:
(1982). On coordination and control in natu- Mac Keith Press.
rally developing systems. In lA.S. Kelso &
MARTENIUK, R.G. & MacKENZIE, C.L. (1990).
lE. Clark (Eds.), The development of Inove-
Invariance and variability in hUInan prehen-
ment control and coordination. New York:
sion: Implications for theory development. In
Wiley.
M.A. Goodale (Ed.), Vision and action: The
KUHN, T.S. (1970). The structure of scientific control of grasping. Norwood, New Jersey:
revolutions (2nd. ed.). Chicago: University of Ablex.
Chicago Press.
MARTENIUK, R.G., MacKENZIE, C.L., JEAN-
LASHLEY, K.S. (1951). The problem of serial NEROD, JM., ATHENES, S. & DUGAS, C.
order in behavior. In L.A. Jeffress (Ed.), (1987). Constraints on hUInan ann Inovelnent
Cerebral mechanisms in behavior: The Nixon trajectories. Canadian Joumal of Psychology,
symposiuln. New York: Wiley. 41, 365-378.

LASZLO, E. (1994). Evoluyao: A grande síntese. MARTENIUK, R.G., MacKENZIE, C.L. & LEA-
Lisboa: Instituto Piaget. VITT, lL. (1988). Representational and physi-
cal accounts of motor control and leaming:
LATASH, M. (1993). Control of human move-
Can they account for the data? In M.A. Colley
Inent. ChaInpaign, Illinois: HUInan Kinetics.
& IR. Beech (Eds.), Cognition and action in
LEWIN, R. (1993). Complexity: Life on the edge skilled behavior. AInsterdaIn: North-Holland.
of chaos. London: Phoenix.
MARUYAMA, M. (1960). Morphogenesis and
MacKENZIE, C.L., MARTENIUK, R.G., morphostasis. Methodos, 12, 251-296.
DUGAS, C., LISKE, D. & BICKMEIER, B.
MARUYAMA, M. (1963). The second cyben1e-
(1987). Three-dimensional movement trajecto-
tics: Deviation-amplifying mutual causal pro-
ries in Fitts task: Implications for control.
cesses. AInerican Scientist, 51, 164-179.
Quarterly Joumal of Experimental Psychology,
39A, 629-647. MEIJER, O.G. & ROTH, K. (1988). COInplex
movement behaviour: The Inotor-action con-
MAGILL, R.A. & HALL, K.G. (1990). A review
troversy. AInsterdaIn: North-Holland.
of the contextual interference effect in motor
skill acquisition. Human Movement Science, MILLER, G.A. (1978). Living systelns. New York:
9,241-289. McGraw-Hill.

213
NEWELL, K.M. (1991). Motor skill acquisition. SCHMIDT, R.A. (1988). Motor and action pers-
Annual Review of Psychology, 42, 213-237. pectives on lnotor behaviour. In O.G. Meijer &
K. Roth (Eds.), Comp1ex InOvetnent beha-
PETERSEN, R., SANTOS, L. & REGHELIN, C.
viour: The motor-action controversy.
(1991). A contribui9ao das pesquisas em apren-
Atnsterdam: North-Holland.
dizageln motora para o ensino da educa9ao
fisica. In 1. Bento & A. Marques (Eds.), As SCHMIDT, R.A. (1989). Toward a better unders-
ciencias do desporto e a prática desportiva. tanding of the acquisition of skill: Theoretical
Porto: Faculdade de Ciencias do Desporto e de and practical contributions of the task appro-
Educa9ao Física. ach. In 1.S. Skinner, C. Corbin, D. Landers, P.
Martin & C. Wells (Eds.), Future directions in
PEW, R.W. (1970). Toward a process-oriented the-
exercise and sport science research.
ory of human skilled performance. Joumal of
Champaign, Illinois: Human Kinetics.
Motor Behavior, 2, 8-24.
SCHMIDT, R.A., LANGE, C. & YOUNG, D.E.
PRIGOGINE, 1. (1967). Introduction to the ther-
(1990). Optimizing summary know1edge of
modynamics of irreversible processes. N ew
results for skill leaming. Hutnan Movetnent
York: Wiley.
Science, 9, 325-348.
PRIGOGINE,1. & Stengers, 1. (1984). Order out of
SCHMIDT, R.A., YOUNG, D.E., SWINNEN, S.
chaos: Man's new dialog with nature. New
& SHAPIRO, D.C. (1989). SUlnmary know-
York: Bantam Books.
ledge of results for skill acquisition: Support
PÚBLIO, N.S. & TANI, G. (1993). Aprendizagem for the guidance hypothesis. Journal of
de habilidades lnotoras seriadas da ginástica Experimental Psychology: Leaming, Memory
olímpica. Revista Paulista de Educa9ao Física, and Cognition, 15,352-359.
7,58-68.
SHERIDAN, M.R. (1988). Movetnent metaphors.
PÚBLIO, N.S., TAN1, G. & MANOEL, E.J. In A.m. Colley & 1.R. Beech (Eds.), Cognition
(1995). Efeitos da delnonstra9ao e instru9ao and action in skilled behaviour. Amsterdatn:
verbal na aprendizageln de habilidades moto- N orth-Holland.
ras da ginástica olímpica. Revista Paulista de
STELMACH, G.E. (Ed.)(1976). Motor control:
Educa9ao Física, 9, 111-124.
Issues and trends. New York: Acadetnic Press.
REED, E.S. (1982). An outline of a theory of
STELMACH, G.E. (Ed.)(1978). Information pro-
action systems. Joumal of Motor Behavior, 14,
cessing in motor control and leaming. New
98-134.
York: Academic Press.
REQUIN, 1. (1992). From action representation to
STELMACH, G.E. & REQUIN, 1. (Eds.)(1992).
movement control. In G.E. Stelmach & 1.
Tutorials in motor behavior 11. Atnsterdam:
Requin (Eds.), Tutorials in motor behavior 11.
N orth-Holland.
Amsterdam: N orth-Holland.
SWINNEN, S.P., HEUER, H., MASSION, J. &
REQUIN, 1. & STELMACH, G.E. (Eds.)(1991).
CASAER, P. (Eds.). InterIimb coordination:
Tutorials in lnotor neuroscience. Dordrecht:
Neural, dynamica1, and cognitive constraints.
Kluwer.
San Diego: Academic Press.
SCHMIDT, R.A. (1975). A schelna theory of dis-
TAN1, G. (1982). Adaptive process in perceptual-
crete motor skill learning. Psychological
motor skill leaming. Unpublished Doctoral
Review, 82, 225-260.
Dissertation. Hiroshima: Hiroshima
SCHMIDT, R.A. (1980). Past and future issues in University, Faculty ofEducation. (in Japanese)
motor programlning. Research QuarterIy for
TAN1, G. (1989). Variabilidade de resposta e pro-
Exercise and Sport, 51, 122-140.
cesso adaptativo etn aprendizagem motora.
SCHMIDT, R.A. (1985). The search of invariance Tese de Livre Docencia. Sao Paulo: Escola de
in skilled movelnent behavior. Research Educa9ao Física e Esporte da Universidade de
QuarterIy for Exercise and Sport, 56, 188-200. Sao Paulo.

214
TANI, G. (1991). Perspectivas para a educac;ao RUlnan lnotor behavior: An introduction.
física escolar. RevistaPaulista de Educac;ao Hillsdale, New Jersey: Lawrence Erlbauln.
Física, 5, 61-69.
UGRINOWITSCR, R. & MANOEL, E.J. (1996).
TANI, G. (1992). Contribuic;5es da aprendizagem Interferencia contextual: Manipulac;ao de
motora él educac;ao física: Ulna análise crítica. aspecto variável e invariáve1. Revista Paulista
Revista Paulista de Educac;ao Física, 6, 65-72. de Educac;ao Física, 10, 48-58.

TANI, G. (1995). Rierarchical organization of an van INGEN SCRENAU, G.J., van SOEST, A.1.,
action programme and the development of ski- GABREELS, F.J.M. & RORSTINK,
lled actions. Unpublished Technical Report. M.W.1.M. (1995). The control of multi-joint
Sheffield: University of Sheffield, Department movement relies on detailed internal represen-
of Psychology. tations. RUlnan Movement Science, 14, 511-
538.
TAN1, G. (1996). Cinesiologia, educac;ao física e
esporte: Ordeln elnanente do caos na estrutura van WIERINGEN, P.C.W. (1988). Kinds and
academica. Motus Corporis, 3, 9-49. levels of explanation: Itnplications to the lnotor
systems versus action systems controversy. In
TAN1, G. (no prelo). Liberdade e restric;ao do
O.G. Meijer & K. Roth (Eds.), Complex move-
movimento no desenvolvimento motor da
ment behaviour: The motor-action controversy.
crianc;a. Livro do Ano da Sociedade
Amsterdam: North-Rolland.
Internacional para Estudos da Crianc;a. Santa
Maria, Rio Grande do Su1. WINSTEIN, C.J. & SCHMIDT, R.A. (1990).
Reduced frequency of knowledge of results
TANI, G., BASTOS, F.C., CASTRO, 1.1., JESUS,
enhances motor skill learning. Journal of
J.F., SACAY, R.C. & PASSOS, S.C.E.
Experimental Psychology: Learning, Memory
(1992).Variabilidade de resposta e processo
and Cognition, 16, 677-691.
adaptativo em aprendizagem motora. Revista
Paulista de Educac;ao Física, 6, 16-25. WOODWORTR, R.S. (1899). The accuracy of
voluntary lnovement. Psychological Review, 3
TAN1, G., MANOEL, E.1., KOKUBUN, E. &
(Supp1. 2).
PROEN<;A, J.E. (1988). Educac;ao física esco-
lar: Fundamentos de ·Ulna abordagem desenvol- WULF, G. (1992a). The learning of generalized
vimentista. Sao Paulo: EPU/EDUSP. motor programs and lnotor schemata: Effects
of KR relative frequency and contextual inter-
TEIXEIRA, L.A. (1993). Frequencia de conheci-
mento de resultados na aquisic;ao de habilida- ference. Journal ofHuman Movelnent Studies,
23,53-76.
des motoras: Efeitos transitórios e de aprendi-
zagem. Revista Paulista de Educac;ao Física, 7, WULF, G. (1992b). Reducing knowledge of results
8-16. can produce context effects in movements of
TEIXEIRA, L.A. (1993). Interferencia do contexto the same class? Journal of RUlnan Movelnent
Studies, 22, 71-84.
no desempenho de tarefas motoras sincroniza-
tórias. Revista Paulista de Educac;ao Física, 7, WULF, G., LEE, T.D. & SCHMIDT, R.A. (1989).
8-16. Reducing knowledge of results about relative
TURVEY, M.T. (1977). Preliminaries to theory of versus absolute timing: Differential effects on
action with reference to visiono In R. Shaw & learning. Journal of Motor behavior, 26, 362-
369.
J. Brandford (Eds.), Perceiving, acting and
knowing: Toward an ecological psychology. ZANONE, P. & KELSO, J.A.S. (1992). Learning
Hillsdale, N ew Jersey: Lawrence Erlbaum. and transfer as dynalnic paradigms for beha-
TURVEY, M.T. (1990). Coordination. American vioral change. In G.E. Stelmach & J. Requin
Psychologist, 45, 938-953. (Eds.), Tutorials in motor behavior 11.
Amsterdam: North-Rolland.
TURVEY, M.T., FITCR, R.L. & TULLER, B.
(1982). The Bernstein perspective I: The pro- ZELAZNIK, R.N. (Ed.)(1996). Advances in lnotor
blelns of degrees of freedom, and context-con- learning and control. Champaign, Illinois:
ditioned variability. In J.A.S. Kelso (Ed.), RUlnan Kinetics.

215

Você também pode gostar