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FICHAMENTO III

ALENCASTRO, Luiz Felipe de. “O aprendizado da colonização”. In:


________. O trato dos viventes: formação do Brasil no Atlântico Sul, séculos
XVI e XVII. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, pp. 11-42.
O presente fichamento refere-se a um corte epistemológico do livro: “O
trato dos viventes: formação do Brasil no Atlântico Sul, séculos XVI e XVII”, do
historiador brasileiro Luiz Felipe Alencastro. Mais exatamente, neste trabalho
propõe-se fichar as ideias centrais do capítulo intitulado: “O aprendizado da
colonização”, que traça um paralelo entre o método de colonização praticado
no Brasil e nos outros países dominados pela coroa portuguesa.

Inicialmente, o autor ressalta a necessidade de pensar o espaço físico


brasileiro no período colonial para além do seu território físico (fronteiras
geográficas), mas como resultante de uma conexão com outros polos. Tanto
com o polo principal, a metrópole (Portugal), mas também e principalmente as
colônias portuguesas na África (a exemplo de Moçambique e Angola).

O elo de conexão entre o Brasil e estas colônias portuguesas na África


encontra-se exatamente no tráfico de escravos, e na consequente construção
do Brasil como um espaço escravista. Havia por exemplo, uma
retroalimentação entre Angola e Brasil, o que tornava as duas economias
coloniais dependentes uma da outra.

Mas, apesar dessa ligação entre os territórios colonizados pela coroa


lusitana como resultado do tráfico negreiro, os métodos de exploração de cada
território além-mar foram diferentes, configurando-se conforme a realidade
encontrada em cada território (organização política, social, econômica e etc.).

Em Moçambique por exemplo, o governo português precisou lidar com


forças internas que não concordavam com os projetos da coroa na região, a
exemplo dos comerciantes Indus e Muçulmanos que não foram receptivos a
introdução de portugueses no comercio local.

Já Angola, somente converteu-se em uma capitania hereditária aos


moldes das que se implantaram no Brasil, cem anos após a chegada dos
portugueses em seu território, como fruto das bem alicerçadas alianças
políticas já estabelecidas neste lugar.
A colonização brasileira é diferente no tocante a inexiste unificação
política das populações indígenas quando da chegada dos portugueses, o que
facilitou a introdução em um primeiro momento de um método somente
exploratório (extração de Pau-Brasil) e depois, a formação de uma organização
social mais complexa no ciclo da cana-de-açúcar, que teve a escravidão e o
tráfico negreiro como suas mais importantes instituições.

É exatamente no tráfico negreiro que reside a maior fonte de


acumulação primitiva do capital para a metrópole lusitana. Este comércio
tornou-se extremamente lucrativo para os portugueses, representando a cola
de sustentação no tripé: cultivo de cana-de-açúcar, pacto colonial e comércio
negreiro.

Alguns fatores são importantes para entender a eficiência do tráfico


negreiro como estrutura de acumulação de capital pelos lusitanos. O primeiro
deles é a existência de uma dupla tributação por parte da coroa portuguesa,
que recebia escravos como pagamento de tributos na África e fornecia esses
escravos para o Brasil, tributando-os novamente, efetivando grandes margens
de lucro.

A coroa portuguesa também era fornecedora de escravos para as


colônias espanholas, já que esta não tinha possessões na África, ampliando o
mercado consumidor dos seus escravos.

Um terceiro importante elemento é que houve uma diminuição dos


embates entre colonos e a Companhia de Jesus pelos índios brasileiros. Agora
com a possibilidade da mão de obra escrava para a lavoura, os jesuítas
puderam dedicar-se à função de “catequizar” os índios, tornando as relações
em solo brasileiro menos hostis.

A interiorização da exploração portuguesa também teve forte relação


com a vinda de escravos africanos para o Brasil. Com maior disponibilidade de
mão-de-obra pôde-se ampliar a fronteira agrícola e consequentemente as
fronteiras da colônia.

Além de todos os fatores já ditos é fundamental ressaltar que o comércio


escravista conferiu uma maior dinâmica econômica para o Brasil. Servindo de
crédito e investimento, os escravos facilmente poderiam ser moeda de troca
entre comerciantes lusitanos e brasileiros.

Frente a todo o exposto, é possível dizer que não se pode dissociar a


colonização brasileira do tráfico negreiro. Esse foi responsável pela
acumulação primitiva de capital portuguesa e serviu de “cola” ao ligar e integrar
todo o sistema de colonização praticado. Desse modo, pode-se considerar que
é o tráfico negreiro quem explica a escravidão e não a escravidão que explica o
tráfico negreiro.

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