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ESTRESSE OCUPACIONAL E SOFRIMENTO NO

TRABALHO: UM ESTUDO COM CAMINHONEIROS


OCCUPATIONAL STRESS ANO SUFFERING IN niE WORKPLACE:
Revista A SlUDY WITH TRUCK DRIVERS
de
Psicologia Magali Costa Guimarães 1 , Lucimara de Souza Landim e Hélia Rosa da Silva Aparecida2

RESUMO
A melhoria na qualidade de vida dos trabalhadores e a diminuição do estresse no ambiente de trabalho
têm sido ternas de inúmeras pesquisas no âmbito acadêmico e vêm tornando-se foco de atenção
por parte de algumas empresas. Visando contribuir para a compreensão do estresse,
o presente trabalho tem corno objetivo conhecer e analisar o estresse ocupacional vivenciado por
motoristas de caminhão. Busca-se compreender corno é organizado o trabalho dos motoristas
e corno esta organização afeta o bem-estar dos mesmos. Objetiva-se tanto a compreensão dos aspectos
relacionados com as condições de trabalho causadores de estresse, bem corno, aqueles relacionados
à organização do trabalho causadores de sofrimento psíquico. Trata-se de um estudo de caso realizado
em urna empresa de transportes de grãos localizada no Noroeste de Minas Gerais. O estudo revela
urna categoria profissional exposta a inúmeros e diversos fatores potenciais de estresse e sofrimento.

Palavras-Chave: estresse; sofrimento no trabalho; caminhoneiro.

ABSTRACT
lrnprovernent in the quality of life of workers and the reduction of stress in the workplace have been the
object of countless acadernic research papers, becorning the focus of attention on the part of some
cornpanies. Seeking to contribute towards the understanding of stress, the objective of this
study isto understand and analyze occupational stress faced by truck drivers. We seek to understand
how drivers' work is organized and how this organization affects their well-being. Research
focuses on understanding the aspects related to those working conditions that induce stress, as well
as those related to the organization of work that induce psychic suffering. This is a case study
conducted in a grain transportation cornpany located in the Northwest of Minas Gerais. The study
reveals several potential stress and suffering factors faced by this professional category.

Key-Words: stress; suffering in the workplace; truck drivers.

1
Doutoranda em Psicologia (UnB), Mestre em Administração e Psicóloga. E-mail: magali-guimaraes@uol.com.br
2
Acadêmicas do último período do Curso de Administração de Empresas do Instituto de Ensino Superior Cenecista (IN ESC).

m Revista de Psicologia, Fortaleza, v. 21 n.l/2, p. 54-63, janJdez. 2003


Revista de Psicologia Magali Costa, Lucimara de Souza e Hélia Rosa

o 1 - INTRODUÇÃO
A melhoria na qualidade de vida dos traba-
importante atividade estratégica. Figueiredo et al.
(2000), concordando com o autor acima, afirma que a
logística hoje é considerada como uma das principais
~os lhadores e a diminuição do estresse no ambiente de
armas competitivas das empresas.
trabalho têm sido temas de inúmeras pesquisas no
âmbito acadêmico e vêm tornando-se foco de aten- Para Nazário (2000, p. 126), além de ser uma
ção por parte de diversas organizações. Tais pesqui- das principais funções logísticas, o transporte repre-
sas apontam para a necessidade de humanização do senta a maior parcela dos custos logísticos, tendo tam-
trabalho e buscam revelar faces sutis do trabalho que bém papel fundamental no desempenho de diversas
la 2 dimensões do serviço ao cliente. Para ele, "mesmo com
geram sofrimento no trabalhador em todos os níveis
da organização. o avanço de tecnologias que permitam a troca de in-
formações em tempo real, o transporte continua sen-
Estudiosos enfatizam a importância de se am-
do fundamental para que seja atingido o objetivo
pliar o estudo do estresse para as diversas categori-
logístico, que é o produto certo, na quantidade certa,
as profissionais e não centralizar somente em funções
na hora certa, no lugar certo ao menor custo ".
executivas. Reforçam a idéia de que o estresse en-
contra-se presente em quase todos os contextos de Dentre os modais de transporte básicos, o mais
trabalho e nos diversos níveis hierárquicos dentro utilizado no Brasil é o rodoviário, conforme demons-
de uma organização (SANT' ANNA; COSTA; trado no QUADRO 1 (em anexo).
!ho
MOKAES, 2000) . Nazário (2000) diz que o modal rodoviário pre-
O caminhoneiro, categoria objeto de estudo domina na matriz de transportes de cargas do Brasil,
desta pesquisa, encontra-se exposto a diferentes situ- mesmo para produtos/trechos onde é menos compe-
ações que podem gerar estresse. Enfrentando proble- titivo. Ele prejudica a competitividade em termos de
mas e estando exposto às mais diversas dificuldades custos de diversos produtos, como das commoditties
ls para exportação.
-estradas em má conservação, perigo de vida em aci-
lo dentes e assaltos, problemas de saúde e perda do status Assim, apesar de revelar-se dispendioso de-
profissional (OLIVEIRA, 2002) - o caminhoneiro re- vido também as distâncias continentais existentes no
presenta uma categoria profissional ímpar e ainda Brasil, o transporte rodoviário é predominante no es-
pouco estudada. Entretanto, os problemas e dificul- coamento da soja e de outros tipos de grãos em di-
dades enfrentados por eles prejudicam, não somente versas regiões produtoras como, no Centro-oeste, no
sua saúde física e mental, mas também os ganhos das Norte, no Nordeste e em Minas Gerais. (GONÇAL-
empresas. VES, 2001).
Portanto, este estudo justifica-se, principalmen- Pode-se perceber a partir do exposto, a impor-
te, por ser o caminhoneiro uma importante categoria tância do transporte rodoviário no Brasil e, conseqüen-
profissional, na medida em que, grande parte dos pro- temente, daqueles que trabalham conduzindo
the caminhões e cargas pelo país afora. Os "caminhonei-
dutos brasileiros é transportada por estes, através do
transporte rodoviário. ros" e "carreteiros" , como são chamados os motoris-
Um outro aspecto importante que motivou esta tas de caminhões e de carretas, constituem-se,
pesquisa se refere à concentração desta categoria pro- portanto, em uma categoria profissional importante e
fissional na região estudada (Unaí/Noroeste de Mi- representativa. A frota de caminhões é estimada em
nas Gerais), sendo a cidade uma importante produtora 1,6 milhões em todo o Brasil (GERALDO; SIQUEIRA,
e escoadora de grãos (soja, feijão, milho) do País. 2001) e, conforme ressalta a União Brasil Caminho-
neiro (2002), "o país é dependente do transporte ro-
doviário de carga".
Apesar de sua importância, estes profissio-
2- FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
nais enfrentam normalmente uma carga de traba-
lho excessiva e sofrem com as péssimas condições
2.1 -A Importância do Transporte Rodoviário
e do Profissional "Caminhoneiro"
das estradas (GUIMARÃES, 2001). Outro problema
grave enfrentado pelos motoristas é o roubo de car-
Segundo Fleury (2000) o transporte se constitui gas. O medo de ser assaltado tem assombrado uma
em uma das três mais importantes funções logísticas. boa parte destes profissionais (SUBC, 2002). Tais di-
Para ele a logística é ao mesmo tempo uma das ativi- ficuldades reforçam a importância e a necessidade
dades econômicas mais antigas e um dos conceitos ad- do estudo do estresse e do sofrimento vivenciados
ministrativos mais modernos, sendo vista como uma pelos motoristas.

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F

2.2 - O Conceito de Estresse mais curto são poderosos estressares. Seus estudos c
Segundo Selye (1974) estresse é uma resposta confirmam uma relação positiva entre as emoções ti
não-específica do organismo a uma demanda feita a patológicas e estressantes com as doenças 1'
ele. É uma resposta natural do organismo e essencial coronarianas.
para sua sobrevivência. Ausência total de estresse se- Outros estudos como o de Malagris (1992) con-
ria a morte, pois todo organismo passa a todo mo- firmam a relação entre úlceras gastroduodenais e
mento por mudanças que exigem constantes estresse. House apud Pinheiro (1993) encontrou rela-
adaptações e reajustamentos. ções positivas entre estressares ocupacionais e pro-
Para Selye (1974) o estresse pode ser causado blemas de angina, úlcera péptica, sintomas neuróticos,
por diferentes fatores como a perda de um ente queri- alergia e hipertensão arterial.
do e as diferentes exigências no trabalho. Ele ressalta Limongi França e Rodrigues (1996) salientam
que os fatores produtores de estresse, tecnicamente que o estresse por si só não é suficiente para causar
chamados de estressares, são diferentes, contudo, to- enfermidades orgânicas e disfunções significativas
dos eles extraem essencialmente a mesma resposta de na vida de uma pessoa. A vulnerabilidade orgâni-
tensão biológica do organismo que busca adaptar-se ca, bem como, a forma de avaliar e enfrentar a situ-
a esta situação (retornando ao seu estado de equilí- ação estressante são condições para que isto ocorra.
brio anterior). Neste sentido, Lipp (1996) afirma que existem
Selye (1974) ressalta que, do ponto de vista da estressares externos e internos. Os externos se refe-
produção do estresse ou da atividade estressara, não rem a mudanças políticas no país, acidentes e qual-
importa se o agente ou situação que o sujeito enfrenta quer outra situação que independe da pessoa,
é agradável ou desagradável, pois o que conta é a in- enquanto que os internos são aqueles determina-
tensidade da demanda para reajustamento ou adap- dos pelo jeito de ser da pessoa, se ela é ansiosa, tí-
(
tação do mesmo à situação. Tanto uma situação de mida, depressiva etc.
E
alegria extrema quanto de tristeza pode ser geradora j
de estresse. Segundo ele os resultados específicos dos
dois eventos, tristeza e alegria, são completamente 2.2.1 - O Estresse Ocupacional
diferentes e mesmo opostos um ao outro, entretanto,
o seu efeito estressar pode ser o mesmo. Cooper; et al apud Sant'anna; Costa; Moraes,
(2000) definem estresse ocupacional como um proble-
Contudo, Selye (1974) ressalta que quando um
ma negativo, de natureza perceptiva, resultante da in-
estímulo estressar é respondido de forma negativa,
capacidade do indivíduo de enfrentar as fontes de
ou seja, com uma resposta adaptativa inadequada po-
estresse presentes no contexto de trabalho que prejudi-
dendo inclusive originar doenças, o sujeito estaria pas-
ca sua saúde física e mental e a "saúde" da organização.
sando por um estresse excessivo ou distress.
Ao conjunto de modificações não-específicas
Aubert (1993, p.165) define estresse ocupacional
que ocorrem no organismo, diante de uma situação
como:
de estresse, Selye (1974) deu o nome de Síndrome
Geral de Adaptação, que consiste em três fases: re- O processo de perturbação engendrado no
ação de alarme, fase de resistência e fase de indivíduo pela mobilização excessiva de sua
exaustão. Em cada uma destas fases o organismo energia de adaptação para o enfrentamento
passa por alterações psicofisiológicas que atingem das solicitações de seu meio ambiente pro-
todo o corpo produzindo taquicardia, sudorese, ten- fissional, solicitações estas que ultrapassam
são muscular, boca seca, entre outros sintomas. Se
as capacidades atuais, físicas ou psíquicas,
a reação ao agente estressar for muito intensa ou se
deste indivíduo.
o agente causador do estresse for muito potente e/
ou prolongado, pode haver, como conseqüência, o Segundo ele, a persistência do estresse pode
surgimento de doenças. desencadear desordens psíquicas dando origem ao
Vários estudos têm demonstrado a influên- que ele denominou "neurose profissional".
cia de estressares no desenvolvimento de doenças. Estudos têm comprovado que as excessivas
Córdova (1988) aponta em seus estudos que as im- demandas no ambiente de trabalho são fontes gera-
posições do mundo atual, as mudanças e progres- doras de estresse. A carga de trabalho, a insatisfação
sos tecnológicos exigindo constante adaptação e nos relacionamentos interpessoais, as exigências de
tomada de decisões importantes em tempo cada vez atualização constante, a falta de possibilidade de cres-

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BCH-PERIODICO~
f-Iélia Rosa Revista de Psicologia Magali Costa, Lucimara de Souza e Hélia Rosa

s estudos cimento e a baixa qualidade de vida no trabalho es- 2.3 - A Abordagem Psicopatológica e o
emoções tão positivamente relacionadas ao estresse (SANTOS; Sofrimento no Trabalho
doenças MORAES; KILIMNIK, 1999).
Além das pesquisas sobre o estresse ocupacional,
Baseando-se nos estudos de Coope., r et al, outros estudos têm buscado compreender aspectos re-
1992) con- Robins (2002) cita como fontes potenciais de estresse levantes do trabalho que geram problemas na saúde
odenais e no trabalho: os fatores ambientais - incertezas mental do trabalhador.
I
ttrou rela- ambientais que influenciam a estrutura organizacional
Os estudos da psicopatologia do trabalho têm
is e pro- que por sua vez influencia os níveis de estresse entre
demonstrado que
.euróticos, os empregados desta organização; os fatores
organizacionais- incluem-se aqui as exigências da ta- [... ] o que torna nocivo e perigoso não é o
salientam refa (dimensionamento do cargo, condições de traba- próprio trabalho, mas a forma como este é
Ira causar lho, grau de autonomia, ritmo, riscos potenciais), as organizado e gerenciado pelos próprios in-
Üicativas exigências do papel (ambigüidade, conflitos e expec- divíduos (MORAES; MARQUES; KILIMNIK,
le orgâni- tativas de papel), as exigências interpessoais (proble-
1996).
1 •
.tara sltu- mas de relacionamento, falta de apoio social dos
'to ocorra. colegas), a estrutura organizacional (regras excessi- Neste sentido, torna-se importante a compre-
~ existem vas, falta de participação nas decisões etc.), o estilo ensão do significado que o trabalhador confere ao seu
de liderança (principalmente líderes que criam um trabalho e a relação que estabelece com este.
os se refe-
clima de tensão, medo e ansiedade, que pressionam
tes e qual- Segundo Dejours (1994) o trabalho pode ser
por desempenho em curto prazo); os fatores indivi-
a pessoa, fonte de prazer ou de sofrimento isto dependerá se
~termina- duais -nestes incluem-se os eventos pessoais fora
ele permite ou não a diminuição da carga psíquica.
l . ' do trabalho, os problemas familiares, as dificulda-
nswsa, h- Ele define como carga psíquica os elementos qualita-
des de conciliação trabalho-família, os problemas
tivos, afetivos e relacionais existentes no trabalho. Para
econômicos pessoais e as características inerentes à
ele, um trabalho livremente escolhido ou livremente
personalidade.
organizado oferece vias de descargas mais adaptadas
Com relação à personalidade, os estudos rea- às necessidades e desejos do trabalhador, o que torna
lizados por Friedman e Rosenman apud Córdova o trabalho um fator de equilíbrio e satisfação. Entre-
a; Moraes, (1988) demonstram que pessoas com características tanto, a realidade da organização do trabalho muitas
nn proble- de personalidade, denominada como padrão de con- vezes entra em conflito com o desejo do trabalhador
ante da in- duta tipo A, estão mais sujeitas a estresse e a enfer- impondo um modo operatório prescrito, que pode ser
fontes de midades coronárias. Trata-se de pessoas com grande
claramente identificado em uma linha de montagem.
ue prejudi- necessidade de reconhecimento, que buscam cons-
tantemente superar a si mesmas, com forte tendên- Codo, Sampaio e Hitomi (1993, p. 161-162) re-
·ganização. tratam bem esta situação:
cia competitiva e desejos de vencer. Geralmente
envolve-se em várias atividades mesmo tendo pou- O trabalhador aparece na organização ocu-
cupacional co tempo.
pando um cargo e desempenhando uma fun-
Pesquisas no Brasil têm confirmado a ligação ção. Ele já encontra, à sua espera, uma série
endrado no deste padrão de conduta com o estresse. de tarefas que deve cumprir. Encontra, tam-
ssiva de sua Vários estudos têm sido realizados no Brasil bém, os objetivos e os meios com os quais
:rentamento objetivando avaliar os determinantes de estresse terá que produzir uma utilidade, um produ-
tbiente pro- ocupacional nas mais diversas profissões. Sant' Ana, to. Em outras palavras: o seu trabalho já está
1ltrapassam Costa e Moraes (2000) buscaram compreender o ní- determinado. A ele só resta trabalhar.
1 psíquicas, vel de propensão ao estresse ocupacional de profes-
sores da pré-escola, ensino fundamental, médio e Para Dejours (1994), quanto mais a empresa
pré-vestibular. Ayres, Brito e Feitosa (1999) impõe um modo operatório ao trabalhador, maior a
resse pode objetivaram identificar agentes estressares em docen- carga psíquica o os sentimentos de desprazer e ten-
origem ao tes universitários com cargos de chefia intermediá- são, gerando sofrimento e possibilitando a instalação
ria. Santos, Moraes e Kilimnik (1999) analisaram os de patologias psíquicas.
excessivas níveis de estresse e de Qualidade de Vida no Traba- A perda do significado do trabalho imposta pelo
mtes gera- lho em gerentes e operários de uma indústria modo de produção capitalista tem sido destacada
lsatisfação automotiva. O estresse entre policiais foi estudado como um dos fatores importantes de conflitos e de
gências de por Romano (1996) e Covolan (1996) buscou estudar insatisfação no ambiente de trabalho. Bouchard (1996),
dede cres- o estresse em psicólogos clínicos. utilizando como exemplo motoristas de ônibus fran-

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ceses, revela que a racionalização imposta pela em- fatores estão: ficar longe da família; longas viagens;
presa reduziu os motoristas à simples operadores, fa- medo de assalto; medo de que ocorra algum acidente
zendo com que estes perdessem o status profissional consigo; medo de que ocorra algum acidente com co·
construído ao longo de anos de trabalho, tornando-os legas; sobrecarga de trabalho; pressão por parte da
invisíveis e sem importância. Tal condição foi consi- empresa; responsabilidade com a carga; responsabili-
derada por ele como responsável por insatisfações e dade com o caminhão; multas; viajar à noite; condi-
desmotivações em relação ao trabalho, bem como, por ções da estrada e trânsito; salário; discriminação em
diversos conflitos entre patrões e empregados e por relação à profissão e espera de carga (fila).
dezenas de greves ocorridas na França. As perguntas restantes centralizaram em detec-
Segundo Dejours (1994) as condições de traba- tar outros fatores que também podem gerar estresse e
lho - pressões físicas, mecânicas, químicas e biológi- sofrimento no trabalho, conforme ressaltado na lite- 4
cas do posto de trabalho - atingem o corpo do ratura científica: horário de trabalho, dificuldades
trabalhador, podendo gerar desgaste, envelhecimen- enfrentadas durante o trabalho, sentimentos de valo-
to e doenças somáticas. Já a organização do trabalho- rização, apoio da família, controle por parte da em-
implica na divisão do trabalho: divisão de tarefas, repar- presa, condições de trabalho, satisfação em relação à
tição, cadências, ou seja, o modo operatório prescrito; profissão, nível de responsabilidade etc.
e a divisão de homens: repartição das responsabilida- Algumas entrevistas foram realizadas anterior-
des, hierarquia, comando, controle etc.- mobiliza as mente (pré-teste) com motoristas não pertencentes à
relações entre as pessoas e a afetividade, sendo, por- empresa estudada com o objetivo de verificar a ade-
tanto, causadoras de sofrimento psíquico. quação da mesma. Sendo que, os motoristas entrevis-
Dejours (1999) afirma que o medo da incompe- tados sugeriram incluir nos fatores que poderiam ser
tência, de não estar à altura das imposições da orga- fontes de estresse e de sofrimento a discriminação em
nização, a pressão para trabalhar mal (muitas vezes relação à profissão e a espera de carga (fila).
criada pela imposição dos colegas de trabalho ou pela A análise dos dados, apesar de revelar alguns
própria organização), a vivência de injustiça, bem aspectos quantitativos, privilegia uma abordagem
como, a falta de reconhecimento pelo trabalho são fa- qualitativa.
tores importantes que também geram sofrimento psí-
quico no trabalho.

3.1 -A Empresa Pesquisada

3 - METODOLOGIA Os caminhoneiros entrevistados são funcioná-


rios registrados de uma empresa transportadora de
Os dados foram colhidos através de entrevis- grãos, localizada em Unaí/MG. A empresa possui 16
tas semi-estruturadas, buscando conhecer aspectos do caminhoneiros que recebem um salário fixo mais co-
trabalho dos caminhoneiros que poderiam ser fontes missão. O proprietário considera que essa comissão
de estresse e de sofrimento no trabalho. acaba forçando-os a trabalharem mais, a buscarem um
Foram entrevistados 10 caminhoneiros dos 16 desempenho melhor.
de uma empresa de transportes, localizada em Unaí/ O proprietário também foi caminhoneiro e abriu
MG. Uma das dificuldades enfrentadas pelas pesqui- sua empresa em 1987. O roteiro de transporte é prin-
sadoras foi de encontrá-los disponíveis para serem en- cipalmente dentro do estado de Minas Gerais e às
trevistados, na medida em que viajam com bastante vezes São Paulo. Os motoristas percorrem uma dis-
freqüência. Além dos motoristas, o proprietário da tância de aproximadame~te 1000 Km por viagem.
empresa também foi entrevistado. As carretas são seguradas e possuem rastreadores
Foram colhidos alguns dados biográficos como: via satélite que podem cortar o ftmcionamento da car-
estado civil, número de filhos, tempo de trabalho como reta em caso de necessidade (assalto). A empresa está
motorista de caminhão. Os motoristas também foram sempre em contato com os motoristas através de celu-
solicitados a atribuir uma nota de 1 a 10 a alguns fato- lar ou rádio. Segundo o proprietário, somente as mul-
res específicos à sua profissão, conforme consideras- tas relativas às infrações são repassadas para os
sem como muito estressantes ou não. Dentre estes motoristas.

3 TEIXEIRA, R.[Compositor). Frete. In:_ _ _ . O essencial de Renato Teixeira. [S.I.]: BMG Brasil, 1999. 1 CD (ca. 60 min.). Faixa 18 (3 psíq
min. 10s). Remasterizado em digital. tud

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1e Hélia Rosa Revista de Psicologia Magali Costa, Lucimara de Souza e Hélia Rosa

gas viagens; Ele considera que os principais motivos de por gerar em alguns a expectativa e o intento de via-
;um acidente estresse para os motoristas de caminhão são ficar lon- jar mais para poder ganhar mais. Um dos entrevista-
ente com co- ge da família, a falta de segurança nas estradas e pro- dos assim revelou: "às vezes até não ter horário força",
Jor parte da blemas financeiros. Segundo ele, alguns de seus outro também destacou que "a empresa não exige, mas
responsabili- funcionários não conseguem fazer o controle eficaz a gente acaba forçando" [para trabalhar mais] .
noite; condi- de suas economias e estão constantemente envolvi- A produtividade acaba aparecendo como um
iminação em dos com dívidas. controle sutil sobre o desempenho dos caminhonei-
a). ros. Um deles, em relação à carga horária, expressa
~memdetec­ da seguinte forma "não exige, mas espera" . Sente que
rar estresse e não é exigido claramente pela empresa o cumprimento
ltado na lite- 4-ANÁLISE DOS RESULTADOS de determinada hora de trabalho, mas espera-se que
dificuldades Mas quando eu me lembro lá de casa ... ele cumpra os prazos de entrega e de retorno.
ntos de valo- A mulher e os filhos esperando. Quanto a esse excesso de carga de trabalho, um
parte da em- Sinto que me morde a boca da saudade ... 3 dos entrevistados percebendo a impossibilidade de
em relação à mudança, expressou da seguinte forma sua desilusão:
Todos os entrevistados são casados e a maioria "existe uma ilusão de que motorista ganha bem, mas
tdas anterior- está há bastante tempo na profissão: quatro caminho- na verdade trabalha muito mais ... o sistema acaba so-
ertencentes à n~iros estão exercendo a profissão há vinte anos ou brecarregando sempre o mais fraco". Outro, solicita-
!rificar a ade- mais, o restante está há mais de oito anos. Não foram do a responder o que seria necessário fazer para
lstas entrevis- identificadas correlações entre a idade ou o tempo de melhorar suas condições de trabalho, sente dificulda-
poderiam ser trabalho e as notas atribuídas pelos caminhoneiros às de de responder. Após um tempo pensando diz: "te-
riminação em diversas fontes potenciais de estresse. ria que ser a carga horária, mas não muda ... as
:ma). Os caminhoneiros entrevistados revelaram senti- empresas perdem se a gente trabalhar oito horas, não
evelar alguns mentos antagônicos em relação à sua profissão. Cinco tem jeito", sente-se sem saída para o problema .
a abordagem deles revelaram que sempre quiseram ser caminhonei- Apesar de relatarem insatisfação em relação à
ros, alguns disseram que "era sonho de criança" onde carga horária e o excesso de trabalho, a carga de tra-
ter um caminhão era percebido como algo importante e balho não obteve uma pontuação alta pelos caminho-
imponente. Entretanto, mesmo estes que sempre quise- neiros (Cf. TABELA 1}.
ram ser caminhoneiros, assim como os demais, demons- A carga psíquica parece ser atenuada pelo caráter
traram, em sua maioria, irlsatisfeitos com a profissão.
de liberdade próprio à organização do trabalho do cami-
são funcioná- Entre os motivos relatados estão: a desvalori- nhoneiro, mas isto não pode ser afirmado em relação à
;portadora de zação da profissão, o medo de assaltos, a carga de tra- carga física. A liberdade e a autonomia são fatores impor-
resa possui 16 balho, os problemas com a fiscalização devido ao tantes que geram satisfação em relação à profissão:
> fixo mais co- excesso de carga e falta de tempo para família.
essa comissão Apesar de gostarem de ser caminhoneiros res- tenho horário para dormir, comer, rodar, por-
.buscarem um sentem com tudo isto, o que parece gerar um desgosto tanto, viajo com tranqüilidade; porque faço
pela profissão. Alguns revelaram uma certa desespe- meu controle, não viajo tarde da noite, não
1oneiro e abriu rança dizendo que às vezes pensam em mudar de pro- passo à noite em lugares perigosos, não te-
tsporte é prin- fissão, mas "não sabem fazer outra coisa ... " . Outro nho hora marcada para levantar... ".
ts Gerais e às afirma que: "depois de 20 anos de profissão é continu-
Outro aspecto importante e gerador de
-rem uma dis- ar e não gostar... não tem mais jeito de mudar".
satisfação em relação à profissão é o fato de permitir
>or viagem. Costumam trabalhar mais de 11 horas por dia. conhecer novos lugares e pessoas. Nesse sentido, no
m rastreadores Alguns relataram 13, 16 ou até 18 horas diárias de tra- seu trabalho, diferentemente de uma linha de
tmento da car- balho. Sobre esse aspecto, também revelam posições montagem onde prevalece sempre a mesma coisa e a
,. empresa está antagônicas. A maioria diz que fazem seu próprio rotina, o caminhoneiro lida com situações, ambientes
través de celu- horário: param quando estão cansados, em lugares e pessoas novas e isto é relatado como um dos
mente as mul- perigosos param mais cedo para evitar o assalto etc. principais aspectos positivos da profissão. Na
;adas para os Esse fato parece ser um aspecto positivo da pro- expressão de um deles são "turistas forçados" . Além
fissão, pois conforme afirma Dejours (1994) a liberda- deste aspecto, um deles expressou que viajar permite
de e a autonomia auxiliam na diminuição da carga o alívio dos problemas: "do patrão nervoso, da esposa
min.). Faixa 18 (3
psíquica, e isto é sentido pelos caminhoneiros. Con- nervosa ... ". O trabalho acaba permitirldo um alívio
tudo a empresa paga por produtividade o que acaba temporário dos problemas familiares cotidianos .

Revista de Psicologia, Fortaleza, v. 21 n.l/2, p. 54·63, janldez. 2003 B


!...R~e~v~is~t~a~d~e~P:.._:s~i~c~o~l~o~gc::ia::...._________________ Maga/i Costa, Lucimara de Souza e Hélia Rosa

Este alívio, entretanto, não é conseguido ple- poder continuar trabalhando é necessário que o tra·
namente, pois ficar longe da família se constitui para balhador utilize estratégias defensivas, evitando a cri·
os caminhoneiros no principal gerador de estresse. As- se psíquica e a doença mental.
sim, não é somente na canção de Renato Teixeira, ci- Outro aspecto importante é o sentimento de
tada anteriormente, que a saudade da família "mexe" desvalorização em relação à profissão, examinado no
com o caminhoneiro. A saudade e a preocupação apa- item discriminação. Os caminhoneiros reforçam a afir·
recem na fala da maioria dos entrevistados, conforme mação de Oliveira (2002) em relação à perda do status
representado na TABELA 1. (em anexo) profissional. Alguns consideram que a profissão já foi
Alguns revelaram que a família dá apoio e valorizada, mas hoje não é mais. Em relação a esta
aceita o seu trabalho, mas mesmo os que têm apoio desvalorização um dos entrevistados afirma que "nem
da família se ressentem de ficar longe, de não poder chapa 4 respeita a gente" e continuou contando um
estar em casa nos finais de semana e participar dos caso em que se sentiu extremamente humilhado por
compromissos e atividades sociais com a família . um chapa. Um outro também comparou seu trabalho
Outros disseram que as esposas e filhos se preocu- com o do chapa, que para ele está num nível bem mais
pam muito e ligam para firma para saber notícias. baixo que o seu: "Os chapas pelos menos estão em
Aqueles que já foram assaltados, além de sentirem casa 5 horas, assistindo Sílvio Santos e eu não". Outro
grande medo, também sofrem com o receio da famí- acha que alguns motoristas têm comportamentos ina·
lia: "por eles eu já tinha largado, principalmente de- dequados [malandros], e as pessoas generalizam como
pois do assalto". se todos fossem do mesmo jeito. Para um deles, o sa-
O medo de acidentes aparece como o segundo lário é pouco pelo tanto que costuma trabalhar, consi-
fator mais estressante e logo a seguir as condições das derando-se mal remunerado pela empresa e, portanto,
estradas e trânsito. As estradas são consideradas pela desvalorizado.
maioria como "perigosas" e geram preocupação cons- Parece repetir com os caminhoneiros a mesma
tante e receio de acidentes. Além das estradas ruins perda de importância descrita por Bouchard (1996)
existe o receio em relação aos "motoristas irresponsá- em relação aos motoristas de ônibus na França. Tal
veis", que fazendo uso de estimulantes químicos e/ perda é sentida pelos motoristas como desvaloriza-
ou naturais acabam colocando em risco a vida dos ção e discriminação.
outros.
Outros fatores que podem contribuir para ge-
A responsabilidade com o caminhão e com a rar estresse nos motoristas e que apareceram em suas
carga também são fatores de tensão e de preocupação falas foram: o cansaço físico, o sono, o excesso de aten-
para boa parte dos caminhoneiros. Apesar dos cami- ção exigida pelas estradas e pelas viagens noturnas, o
nhões serem segurados eles expressam que se sentem barulho do motor, a postura e, para alguns, a espera
bastantes responsáveis pelos mesmos: "cuido doca- na "fila" é considerada como fator que gera "nervo-
minhão como se fosse meu", ressalta um deles, outro, sismo". Esta "espera" é percebida como uma depen-
em relação a essa responsabilidade, diz que "com a dência em relação aos outros: têm que esperar para
carga é mais, porque algumas não têm seguro, o ca- carregar, descarregar, esperar para "acertar" com o
minhão tem seguro, a vida não". Expressa aqui, sua patrão etc.
preocupação também com a própria vida, pois nunca
Percebe-se, através das análises anteriores, que
sabem se irão retornar.
são muitos os fatores- ambientais, organizacionais e
O medo de assalto é outro forte fator de estresse. individuais - que, conforme ressaltam Cooper et ai.
Os que já foram assaltados (dois deles) sentem-se apud Robins, (1999), podem se constituir em fontes
traumatizados com o ocorrido. Contam como foi o potenciais de estresse no trabalho. Além disto, perce-
assalto e demonstram sofrerem ainda com o fato. Via- be-se também diversos fatores que podem se consti-
jam com constante medo: "toda viagem fico pensan- tuir em fontes de sofrimento psíquico no trabalho
do e fico preocupado ... procuro viajar sempre com conforme relatado Dejours (1994).
movimento" [estradas movimentadas].
O medo, portanto, é uma constante na vida de
motoristas, seja ele de acidentes, de assaltos ou de não
chegar no prazo previsto etc. Para Dejours (1999) o 5- CONCLUSÃO
medo é uma vivência subjetiva e um sofrimento psi- A presente pesquisa, teve como objetivo iden-
cológico. Quando atinge um certo grau pode tornar- tificar fontes de estresse e de sofrimento presentes no
se incompatível com a continuação do trabalho. Para trabalho de caminhoneiros. Através desta, pôde-se

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que o tra- perceber estressares potenciais - tanto ambientais, de caminhoneiro e, mesmo daqueles que possuem seu
mdoa cri- ocupacionais, físicos e psicossociais - que contribu- próprio caminhão.
em para o aumento da tensão, da insatisfação e de Outros aspectos seriam relevantes em futuras
mento de sentimentos negativos vividos pelos caminhoneiros. pesquisas como, por exemplo, identificar quais ases-
ninado no A pesquisa revelou que os caminhoneiros, as- tratégias defensivas são utilizadas por estes profissi-
;ama afir- sim como outras categorias profissionais, estão expos- onais para lidar com todas essas dificuldades .
1 do status tos a muitos e diversos fatores estressantes ligados à Contudo, vai além do proposto por esta pesquisa .
lssão já foi sua atividade profissional.
;ão a esta A pesquisa detectou que entre as fontes potenci-
que"nem ais de estresse e de sofrimento estão: o fato de ficarem 6- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
:ando um longe da família; os medos e sentimentos de insegu-
ado por rança vivenciados pelos motoristas (principalmente de AYRES, K. V.; BRITO, S. M. 0.; FEITOSA, A. C. Stress
trabalho ocupacional no ambiente acadêmico universitário: um
acidentes e assaltos) que acabam ampliando a respon-
em mais estudo em professores universitários com cargos de
sabilidade que sentem em relação ao caminhão carga e
estão em chefia intermediária. In: ENANPAD, 23., 1999, Foz
a percepção de que são discriminados (desvalorização
o". Outro do Iguaçu. Anais ... Foz do Iguaçu: ANPAD, 1999. CO.
da profissão). Além destes, o sentimento de impotên-
ntos ina- cia e desesperança, bem como, a impossibilidade de A UBERT, N. A neurose profissional. In: CHANLAT, J.
lamcomo rever:er a situação atual, puderam ser percebidos. São F. (Org.). O indivíduo na organização: dimensões esque-
~les, o sa- sentimentos passíveis de aumentar tanto o estresse cidas. São Paulo: Atlas, 1993. p. 163-193. (v. 2).
l .
1ar, consi- quanto o sofrimento psíquico no trabalho. BOUCHARD, S. Simples símbolo: eficácia prática dos
Iportanto, É evidente que, conforme a enfatiza a literatu- sistemas simbólicos da organização. In: CHANLAT,
ra científica, a forma como cada um irá avaliar e en- J. F. (Org.). O indivíduo na organização: dimensões es-
a mesma frentar essas dificuldades será determinante no quecidas. São Paulo: Atlas, 1993. p. 253-275. (v. 3).
rd (1996) surgimento de patologias.
CODO, W. Um diagnóstico integrado do trabalho com
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chama a atenção para a necessidade de se repensar o Vozes, 2002. p.173-190.
para ge- trabalho desta importante categoria profissional. Leva
CODO, W.; SAMPAIO, J. J.; HITOMI, A. H. Indivíduo,
lem suas a uma reflexão sobre as condições de trabalho no qual
trabalho e sofrimento: uma abordagem interdisciplinar.
J de aten- se encontram.
Petrópolis: Vozes, 1993.
lturnas, o Algumas mudanças foram percebidas durante
a espera as entrevistas, principalmente no que se refere ao uso CÓRDOVA, A.; KARL, H. El problema del stress en la
t "nervo- da tecnologia: alguns possuem caminhões com ar con- medicina: aspectos teóricos, experimentales y clínicos.
a depen- dicionado, com sistema computadorizado que infor- Ciudad de La Habana: Editorial Científico-Técnica,
!rar para mam sobre problemas no veículo etc. Contudo, é 1985.
-"com o necessário repensar a carga de trabalho e a valoriza- COVOLAN, M. A. Stress ocupacional do psicólogo
ção da profissão. Dejours (1999) ressalta que todo tra- clínico: seus sintomas suas fontes e as estratégias uti-
:>res, que balho implica em dedicação, esforços, decepções, lizadas para controlá-lo. In: LIPP, M.E.N. (Org.). Pes-
cionais e angústias e sofrimento. Entretanto, quando o traba- quisas sobre stress no Brasil: saúde, ocupações e grupos
Jer et al. lho é reconhecido e valorizado, possibilita a realiza- de risco. Campinas: Papirus, 1996. p. 225-240.
n fontes ção do ego, ou seja, o fortalecimento da identidade e
DEJOURS, C. A banalização da injustiça social. Rio de
o, perce- a elevação da auto-estima. Quando isto não ocorre,
Janeiro: FGV, 1999.
e consti- afirma ele, resta somente o sofrimento ao trabalha-
trabalho dor. Portanto, é necessário reconhecer e resgatar a DEJOURS, C.; ABDOUCHELI, E.; JAYET, C.
auto-estima destes profissionais. Psicodinâmica do trabalho : contribuições da Escola
Dejouriana à análise da relação prazer, sofrimento e
Apesar de tratar-se de um grupo pequeno e da
trabalho. São Paulo: Atlas, 1994.
pesquisa constituir-se em um estudo de caso, algu-
mas dessas fontes potenciais de estresse e de sofri- FLEURY, P. F. Logística integrada. In: FLEURY, P.F.;
mento parecem estar presentes em qualquer trabalho WANKE, P.; FIGUEIRDO, K.F., (Orgs.). Logística em-
vo iden-
no
~ntes
4 Nome
pôde-se dado na região aos carregadores de mercadorias dos caminhões.

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_ _________________ Magali Costa, Lucimara de Souza e Hélia Rosa
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Hélia Rosa Revista de Psicologia Magali Costa, Lucimara de Souza e Hélia Rosa

~stratégia
JEIREDO,
~va brasi-
Quadro 1
ortância
Participação (%) dos modais .na Matriz d~ Transporte .
. Logística 94 95 96 97 - 98
- --
-·- ----- - -··-·--- -
lo: Atlas, Aéreo 0,3 0,3 0,3 0,3 0,3
Aquaviário 10,3 11,5 11,5 11,6 12,8
Dutoviário 4,0 4,0 3,8 4,5 4,4
DS. Revista
Ferroviário 23,3 22,3 20,7 20,7 19,9
isponível
soem: 11 I Rodoviário
Fonte:
·--·
62,1
Nazário (2000. p. 131)
61,9 63,7 62,9 62,6

,res
I
Brasília:
ília, 1993.

: <http:/
abr. 2002 . Tabela 1
. São Pau- I
Pontuações dadas pelos motoristas aos diversos fatores considerados como fontes
potenciais de estresse e de sofrimento .
• proposta
P, M.E.N.
e, ocupa- MOTORISTAS A B c D E F G H I J TOTAL
FATORES ESTRESSANTES
11996. p. I
Ficar longe da família 8 9 5 10 10 10 10 10 10 8 82
ORAES, Medo gue ocorra acidente consigo 10 10 8 6 10 10 10 10 5 6 79
a análise Condi~ões das estradas e trânsito 8 4 4 10 10 10 10 10 10 8 76
PAD,24 ., Reseonsabilidade com o caminhão 5 10 7 10 5 10 9 9 10 10 75
1 ANPAD, Medo de assalto 5 3 6 10 10 10 10 10 10 10 74
Medo gue ocorra acidente e/colegas 8 10 4 7 10 10 10 8 6 8 73
f'JIK, Z.M. Reseonsabilidade com a carga 1 10 9 10 5 10 10 7 10 6 72
acionai e o Discriminação em relação à
~tor auto- erofissão 1 6 5 9 10 10 10 10 10 6 71
99, Foz do Sobrecarga de trabalho 2 7 3 9 5 10 8 7 8 8 59
~.CD. Multas 9 2 1 10 5 10 2 10 9 6 58
-ippincott, Eseera de carga {fila~ 1 4 10 2 10 10 1 9 10 10 57
Longas viagens 7 1 10 2 8 5 5 6 9 6 53
mível em:
i
Viajar à noite 1 4 3 9 10 5 8 5 8 10 53
).gov.br> . I Salário
Pressão por parte da empresa
8
1
4
6
8
2
3
1
1
1
5
5
8
1
6
5
8
8
10
6
51
30

Revista de Psicologia, Fortaleza, v. 21 n.l/2, p.54-63, janldez.2003 m

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