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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2019.0000729394

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Remessa Necessária Cível nº


1024065-19.2019.8.26.0053, da Comarca de São Paulo, em que é recorrente JUÍZO EX
OFFICIO, é recorrida SILVANA APARECIDA DE LIMA (JUSTIÇA GRATUITA).

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 8ª Câmara de Direito Público do


Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Não acolheram o reexame
necessário. V.U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores ANTONIO CELSO


FARIA (Presidente), JOSÉ MARIA CÂMARA JUNIOR E PERCIVAL NOGUEIRA.

São Paulo, 6 de setembro de 2019.

ANTONIO CELSO FARIA


Relator
Assinatura Eletrônica
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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

ACF nº 9.724/2019
8ª Câmara de Direito Público
Reexame Necessário nº 1024065-19.2019.8.26.0053
Comarca de São Paulo
Recorrente: Juízo Ex Officio
Recorrido: Silvana Aparecida de Lima

REEXAME NECESSÁRIO Mandado de Segurança Multas de


trânsito Indicação do condutor infrator na esfera judicial –
Possibilidade Documentos juntados à impetração que
demonstram a veracidade do quanto alegado pelo impetrante
Condutor autuado em flagrante Concessão da segurança que se
impõe Manutenção da r. sentença Reexame necessário não
acolhido.

Trata-se de mandado de segurança impetrado por Silvana


Aparecida de Lima, contra ato do Diretor de Habilitação do
Departamento Estadual de Transito de São Paulo - Detran/SP, em que
alega ter sido instaurado contra si o processo administrativo de suspensão do
direito de dirigir n° 3426/2019, em 27/04/19, em decorrência do AIT n°
3C2919206, lavrado em 26/12/18. Afirma que em 16/12/18 vendeu o veículo
a Tiago Willian de Campos, que o conduzia no momento da infração, e foi
devidamente identificado na ocasião em que foram lavradas diversas
autuações, entre elas a que deu ensejo ao processo administrativo de
suspensão. Sustenta que o pagamento pela venda do veículo foi parcelado em
5 (cinco) vezes e acordado entre as partes que o documento de transferência
seria preenchido e assinado, porém, o reconhecimento de firma só seria feito
depois do pagamento da última parcela, em 10/5/19, como de fato foi feito.
Aduz, ademais, que o novo proprietário e condutor do veículo apresentou
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declaração de próprio punho reconhecendo a responsabilidade pelas infrações


cometidas no dia 26/12/18.Requer, assim, a concessão da segurança, para
exclusão de seu prontuário de todos os pontos dos autos relativos aos AIT n°
3C2919204, 3C2919205, 3C2919206, 3C2919207 e 3C2919208.
A r. sentença de fls. 60/62, cujo relatório se adota,
concedeu a segurança, confirmando a tutela antecipada, para reconhecer a
nulidade e determinar o cancelamento do Processo Administrativo de
Suspensão do Direito de Dirigir n° 3426/2019 e dos pontos inseridos no
prontuário da impetrante, relativos às infrações cometidas na condução do
veículo de placa CKM0131, no dia 26/12/18, os quais devem ser transferidos
ao prontuário do condutor e proprietário indicado (Tiago Willian de Campos).
Sem interposição de recursos voluntários pelas partes, os
autos subiram a esta Instância por força do reexame necessário (art. 14, § 1º,
da lei nº 12.016/09).
É o relatório.
A r. sentença deve ser mantida.
Alega a Impetrante que foi autuada por infrações de
trânsito cometidas na direção do seu veículo, com a pontuação atribuída em
seu prontuário. Referidas infrações, entretanto, seriam de responsabilidade de
terceira pessoa.
Ensina Hely Lopes Meirelles, na obra Mandado de
Segurança e Ação Popular, ed. RT, 3ª edição, pág.16:

“Direito líquido e certo é o que se apresenta manifesto na sua


existência, delimitado na sua extensão e apto a ser exercitado no
momento da impetração. Por outras palavras, o direito invocado,
para ser amparável por mandado de segurança, há de vir expresso
em norma legal e trazer em si todos os requisitos e condições de sua

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aplicação ao impetrante. Se a sua existência for duvidosa; se a sua


extensão ainda não estiver determinada; se o seu exercício
depender de situações e fatos não esclarecidos nos autos, não
rende ensejo à segurança, embora possa ser defendido por outros
meios judiciais”. (Grifamos)

Conforme se observa do caso concreto, a documentação


apresentada na inicial é suficiente para embasar o pleito da impetrante, não
havendo prova em sentido contrário apta a afastar seu direito líquido e certo.
Com efeito, observa-se dos autos que o veículo descrito na
inicial foi autuado por cinco infrações de trânsito diferentes, quando Tiago
Willian de Campos, o adquirente do veículo, estava em sua direção.
Esse fato, por si, já se configura suficiente para afastar
qualquer responsabilização da anterior proprietária do veículo, ainda que a
venda não estivesse totalmente concretizada à época.
Nesse passo, ademais, entende-se não haver nos autos
elementos que enfraquecem os elementos de convicção exauridos na r.
sentença sob análise, cujos fundamentos ficam ratificados, nos termos do art.
252 do Regimento Interno deste Egrégio Tribunal, que possibilita ao Relator,
nos recursos em geral, “limitar-se a ratificar os fundamentos da decisão
recorrida, quando suficientemente motivada, houver de mantê-la”.
Importante ressaltar que a aplicabilidade do mencionado
artigo encontra respaldo em jurisprudência do Egrégio Superior Tribunal de
Justiça.
Como bem decidiu o d. magistrado sentenciante:
Da análise dos documentos que instruem a ação,
notadamente os de fls. 25 e 26, verifica-se que o condutor do veículo de placa
CKM0131, no dia 26/12/18, foi identificado como Tiago Willian de Campos.

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Verifica-se ainda que, além do AIT n° 3C2919206, lavrado


em decorrência de o condutor transpor bloqueio viário policial e que
culminou na instauração do procedimento de suspensão n° 3426/2019, foram
cometidas mais 4 infrações, na mesma hora e local, no dia 26/12/18, por volta
das 18 horas e 20 minutos, na Rua Rodolfo Mantovani, 384, na cidade de
Ribeirão Preto.
Ocorre que a identificação do condutor, Tiago Willian, foi
realizada em decorrência do AIT n° 3C2919205, lavrado na mesma ocasião, e
que culminou na remoção do veículo (fl. 25). Além disso, há declaração do
condutor, na qual assume a responsabilidade pelas infrações cometidas no dia
26/12/18 (fl. 28).
A situação descrita, somada ao registro da transferência de
propriedade (fl. 27), permite concluir que a impetrante de fato alienou o
veículo ao Sr. Tiago em data anterior à data das infrações e, portanto, não
conduzia o veículo de placa CKM0131, e, deste modo, não foi de sua autoria
as infrações de trânsito e respectivos pontos inseridos no seu prontuário, o que
culmina com o reconhecimento da nulidade do processo administrativo de
suspensão n° 3426/2019 e dos pontos inseridos no prontuário da impetrante,
relativos ao veículo de placa CKM0131.
Consequentemente, os pontos decorrentes das referidas
infrações devem ser transferidos ao atual proprietário do veículo
mencionado.”
Vale aduzir em reforço que nada obsta que a indicação
seja feita na esfera judicial, considerando-se a evidente boa-fé da impetrante e
em especial o documento de fls. 28, com firma reconhecida em cartório,
atestando que o Sr. Tiago Willian era o condutor do veículo na ocasião da
autuação.

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Sobre a possibilidade da indicação em juízo, já decidiu


esta C. 8ª Câmara de Direito Público:
"APELAÇÃO Mandado de segurança. CNH. Infração de
trânsito. Indicação de condutor indeferida pelo órgão viário em
função da divergência das assinaturas constantes na
declaração e na CNH da pessoa indicada. Presunção legal de
que o proprietário do veículo é o autor da infração.
Possibilidade que a parte interessada tem, contudo, de vir a
juízo a fim de demonstrar a veracidade da indicação efetuada.
Precedentes. Declaração do condutor com firma reconhecida
por autenticidade. Coincidência das assinaturas que elide
todas as dúvidas concernentes à identidade do condutor.
Sentença reformada. Recurso provido." (Apelação n.
1057777-05.2016.8.26.0053, Relator Desembargador Bandeira
Lins, 8ª Câmara de Direito Público, j. 12/04/2018).

Assim, era mesmo o caso de concessão da segurança, nos


termos pleiteados, devendo ser mantida a r. sentença por seus próprios
fundamentos.
Ante o exposto, não se acolhe o reexame necessário,
mantendo-se a r. sentença.

ANTONIO CELSO FARIA


Relator

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