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FACULDADE DE FILOSOFIA
CURSO DE FILOSOFIA
DISCIPLINA: FILOSOFIA DA CIÊNCIA I
PROFESSORA: ELIZABETH DIAS
Hume interessava-se pela situação do conhecimento humano ou, como poderia ter dito, por
indagar se alguma de nossas crenças - e qual delas – poderia ser justificada por razões suficientes.
Levantou ele dois problemas: um problema lógico (HL) e um problema psicológico (HPS).
Um dos pontos importantes é que suas duas respostas a esses dois problemas de certo modo se
entrechocam.
O problema lógico de Hume é:
HL - Somos justificados em raciocinar partindo de exemplos (repetidos), dos quais temos
experiência, para outros exemplos (conclusões), dos quais não temos experiência?
A resposta de Hume a HL é: Não, por maior que seja o número de repetições.
Hume também mostrou que a situação lógica permanecia exatamente a mesma se em HL a
palavra prováveis fosse inserida depois de “conclusões", ou se ,as palavras "para exemplos" fossem
substituídas por "para a probabilidade de exemplos".
O problema psicológico de Hume é:
HPS - Por que, não obstante, todas as pessoas sensatas esperam, e crêem que exemplos de que
não têm experiências conformar-se-ão com aqueles de que têm experiência? Isto é:
Por que temos expectativas em que depositamos grande confiança?
A resposta de Hume a HPS é: Por causa do “costume ou hábito”; isto é porque somos
condicionados pelas repetições e pelo mecanismo de associação de idéias, mecanismo sem o qual,
diz Hume, dificilmente poderíamos sobreviver.
Kant compreendeu que a solução negativa dada por Hume ao problema da indução destruia a
racionalidade dos fundamentos da dinâmica de Newton. Como todos os seus contemporâneos
instruídos, Kant não duvidava da verdade da teoria de Newton. A análise de Hume reduziu-a a
"costume" ou “hábito" - posição de todo inaceitável.
Hume mostrara que a indução era ameaçada por um regresso infinito. Kant indicou que
Hume, com seu dogmatismo empirico, não considerara a possibilidade de haver um princípio de
causalidade (ou melhor um princípio de indução) que fosse válido a priori. Esta foi a posição que
Kant tomou (como expliquei na seção I de L.d.F.) e que Bertrand Russell adotou depois dele:
ambos tentaram salvar a racionalidade humana do irracionalismo de Hume.
Kant dividiu todas as sentenças, de acordo com sua forma lógica, em analíticas e sintéticas,
sendo analíticas as que são susceptíveis de decisão como verdadeiras ou falsas apenas com o
auxílio da lógica. Dividiu-as ainda mais, de acordo com sua validade a priori ou a posteriori:
segundo sua alegação de verdade ou falsidade não precisasse de apoio empírico (a priori), ou dele
precisasse (a posteriori).
Visto como, por definição, todas as sentenças analíticas eram a priori, chegamos assim ao
quadro seguinte:
DIVISÃO DE SENTENÇAS
Aqui Kant entrou com sua "Revolução de Copérnico": foi o intelecto humano que inventou, e
impôs suas leis sobre o pântano dos sentidos, criando assim a ordem da natureza.
Era uma teoria ousada. Mas ruiu logo que se verificou que a dinâmica de Newton não era
válida a priori, mas uma hipótese maravilhosa, uma conjectura.
Do ponto de vista do realismo de senso comum, um bom pedaço da idéia de Kant poderia
reter-se. As leis da natureza são invenção nossa, são de feitura animal e de feitura humana,
geneticamente a priori embora não válidas a priori.Tentamos impô-las sobre a natureza. Muitas
vezes falhamos e perecemos com as nossas conjecturas errôneas. Mas às vezes chegamos bastante
perto da verdade para sobreviver com nossas conjecturas. E no nível humano, quando está à nossa
disposição uma linguagem descritiva e argumentativa, podemos criticar sistematicamente nossas
conjecturas. É este o método da ciência.
É importante compreender a grande contribuição dada por Kant a esta solução, embora Kant
não rejeitasse plenamente o subjetivismo na teoria do conhecimento. Talvez o maior passo fosse
sua discussão constante de teorias, asserções, proposições e princípios científicos e dos argumentos
pró e contra eles, quando seus precursores ainda falavam principalmente de sensações, ou
impressões, ou crenças.