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Universidade Estadual de Londrina Anelise Otaviano da Silva

Sociologia – Daniela Vieira dos Santos Carolina Horschutz Dorizzotto


DIREITO – Turma 85 / 3000 Débora Souza Queiroz
Vespertino – 1º ano Henrique Cremonez Marcassi

1. O que é Sociologia? – Anthony Giddens

Mudanças. Novas tecnologias. Novos mundos. Novas pessoas. Novas sociedades.


Anthony Giddens toma para si tais substantivos para descrever o que a Sociologia estuda e por
que ela se fez necessária. Com a complexação social – frente às Revoluções Industriais,
principalmente –, o autor aborda a necessidade de se adotar visões mais amplas dos fatos,
analisar as relações sociais e diferentes culturas com mais consciência, de maneira alternativa
e desconexa com a realidade individual, além de observar e perceber minucias nos costumes
comunitários que aparentemente são tidos como triviais. Para tanto, Giddens se vale do exemplo
(simples, ou não) de tomar um café; muitas vezes o ato de tomar o café em si é o que menos
deve ser levado em consideração, por vezes a intenção central é uma reunião social, uma
interação entre grupo de amigos, um encontro casual, etc.

Por conseguinte, o escritor frisa a interdependência e correlação direta entre as


características pública e privada das ações pessoais, ao explicar que estas até podem ter, a curto
prazo, uma finalidade e/ou consequência mais individualizada, porém, é inevitável que, com o
passar do tempo, tomem proporções públicas (como o divórcio e o desemprego, Giddens cita).
Com isso, e uma vez que as sociedades estão em contínuo processo de estruturação, o autor
defende que a Sociologia toma como objeto de estudo justamente essa influência e
interferência: “o que a sociedade faz de nós e o que nós fazemos de nós próprios”, corrobora.

Pela criação do termo “Sociologia” em si, ficou responsável o francês Auguste Comte
(1798 – 1857), o qual procurou estabelecê-la como uma ciência que estuda as sociedades da
mesma maneira que as ciências exatas estudavam o físico e o concreto. O autor estabeleceu a
Sociologia no último estágio de abordagem de estudo, uma abordagem científica e empírica, o
positivismo – antecedido por dois outros, o teológico (dogmas religiosos) e o metafísico
(naturalização), ditos por Comte como mais “primitivos”.

Com maior impacto na sociedade, o também francês Emile Durkheim (1858–1917) cria
o primeiro princípio da sociologia, que consiste, segundo ele, no estudo de fatos sociais como
coisas. Conforme o sociólogo, os fatos sociais apresentam características fundamentais, sendo
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elas exterioridade, coercitividade e generalidade. Ademais, ao observar as mudanças sociais,
contrasta duas solidariedades, as quais relacionam-se com a divisão do trabalho. A primeira
delas é a solidariedade mecânica, marcada por baixa divisão do trabalho, característica de
culturas tradicionais. Já a segunda, chamada de orgânica, têm como característica maior
especialização, portanto, maiores diferenças sociais, que resultam na interdependência dos
indivíduos. Durkheim também realizou estudos importantes a respeito do suicídio, que foi
especificado em quatro casos (egoísta, anômico, altruísta e fatalista).

Em contraste com as ideias anteriormente apresentadas, surgem as teorias de Karl Marx


(1818-1883), que assim como os outros, observou as mudanças provocadas pela Revolução
Industrial. No entanto, focou nas questões econômicas atreladas as questões sociais. Desse
modo, tratou o desenvolvimento do capitalismo e a divisão desiquilibrada entre burguesia e
proletariado. Marx notou o que chamou de materialismo histórico e conclui que, através do
conflito entre as classes, a sociedade deixaria o capitalismo e entraria em uma nova fase,
chamada socialismo, onde as desigualdades não seriam mais as mesmas e o sistema de produção
se mostraria mais eficiente.

Divergindo das ideias de Marx, o alemão Max Weber (1864-1920) faz oposição à visão
materialista da história e alega interferências dos valores e ideias para o desenvolvimento do
capitalismo. Desse modo, mostrou a intervenção de valores religiosos, no caso o
protestantismo, nas relações entre os indivíduos e o capital. Além disso, Weber criou o conceito
de “tipo ideal”, que consiste em um modelo analítico ou conceitual usado como ferramenta para
compreender a sociedade. O pensador também concluiu ser a racionalização uma mudança
social de extrema relevância e salientou o lado negativo dessa nova visão, que pode ter efeitos
desumanizantes e assim sendo, podem impactar no futuro da democracia.

Conclui-se, portanto, que apesar de discutirem mesmos temas, os sociólogos apresentam


diferentes abordagens teóricas. A primeira citada é o “funcionalismo”, corrente seguida por
Comte e Durkheim, que é representada frequentemente com uma analogia com o corpo humano
e prega o equilíbrio e a ordem como “estado normal”. Com base nas ideias de Durkheim, Robert
K. Merton (1910-2003) realizou uma distinção entre funções latentes e funções manifestas,
sendo a primeira consequência da segunda.

A segunda vertente citada é conhecida como “teorias de conflito”, que consiste na


consideração de desigualdades, lutas e poder. Essa teoria tem como principal exemplo o
marxismo e entende as diferenças de interesses como ponto central de conflitos. Por fim, a
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terceira linha teórica abordada é o “interacionismo simbólico”, com influência nos trabalhos de
Weber, tem como foco de sua teoria a língua e o significado, apresentando o “símbolo” como
elemento central.

Em suma, apesar de divergências teóricas, existe consenso entre sociólogos sobre a


importância do olhar externo, da compreensão da diferença e da investigação, tanto do comum
como da diversidade.

2. Falando da Sociedade – Howard Becker

Inicialmente, Becker exemplifica modos cotidianos de descrições, utilizando diferentes


maneiras de explicar endereços, os imbróglios que se passam quando os mapas utilizados por
turistas, pedestres, são vendidos em postos de gasolina, com o público alvo os motoristas, sendo
então uma mudança de relevo não retratada no mapa irrelevante para motoristas, mas
essencialmente importante para pedestres.

O autor prossegue o texto citando diferentes representações sociais, que são todas
apenas parciais, palavra chave para o entendimento do objetivo da obra. Nesse contexto, é
abordado o impacto de diferentes áreas do conhecimento e, de certa forma, elementos que
compõe o estudo e organização social. A sociologia promove representações etnográficas,
teóricas, estatísticas e históricas. O cinema, em suas múltiplas vertentes, reproduz anseios
sociais, seu funcionamento, gostos gerais, ilustrando como a sétima arte é menos fantasiosa que
o previsto.

Ademais, um dos pontos principais da obra é a investigação de qual a similaridade de


problemas de diferentes meios e como as soluções podem se entrelaçar. Dessa forma, os
romances, estatísticas, etnografias, fotografias são relatos de seres que tentam transmitir seu
conhecimento social a outros, de forma que gere interesse.

Há uma reflexão na obra de como a existência de um problema na produção do relato


modifica seu produto. Nesse aspecto, devem ser consideradas diversas maneiras na resolução
de um imbróglio em relatar a sociedade, visto que o problema pode parecer insolúvel para um
ser pertencente ao meio e completamente solúvel e comum para outros que possam estar
envolvidos acadêmica e socialmente em outras formas de conhecimento e vivência.

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Além disso, é exposto como todos são curiosos em relação a sociedade. Tal como, seu
funcionamento, as regras governamentais para que assim, haja a formulação comportamental.
Isso é absorvido pela experiência, interações, comunicação, mesmo com ressalvas de limitações
estruturais. A experiência social é a forma principal para conhecer o meio habitado, assim, todos
procuram constantemente “representações da sociedade”, e isso consiste em o que é contado
por alguém sobre algum aspecto da vida.

Essa busca envolve também os meios dos relatos sociais e as intenções postas por quem
a produz. Portanto, é notável a relevância de uma comunidade interpretativa, que mescle o
conhecimento com a finalidade de tornar os produtos mais acessíveis e amplos.

Dentre os produtos que descrevem a sociedade, na via artística se encontram obras de


ficção, a arte dramática, os filmes- principalmente os documentários- e a fotografia. Essas
manifestações geralmente não têm como caráter único a análise social, apesar de historicamente
desempenharem esse papel. Além disso, também pode-se descrever a sociedade através da
ciência, com os mapas- conforme observado pelo próprio autor no início do capítulo-, as
tabelas, os modelos matemáticos e a etnografia.

As análises proferidas pelas produções listadas são carregadas de fatos, que nunca são
fatos por si só, mas estão carregados de possíveis interpretações. De acordo com Thomas Kuhn,
as descrições factuais são “carregadas de teoria”, visto que é impossível haver imparcialidade
total do autor. Além disso, a própria comunidade científica reconhece que o público a quem se
destina o produto é também responsável por sua interpretação.

Entretanto, os fatos não estão à mercê dos interessados em interpretá-lo, até porque isso
levaria a falácias feitas por leigos- nem toda interpretação é um fato-, para que sejam
qualificados como tais, eles devem estar em concordância com o objeto de estudo. A fim de
exemplificar sua afirmação, Becker elucida que não é porque um sujeito considera a Lua queijo
verde, que ela assim será, demonstrando que o fato deve estar em consonância com o objeto
descrito.

Por fim, o autor conclui que as interpretações dos fatos geram mais discussão do que
eles mesmos, pois são carregadas de conteúdo subjetivo, capaz de gerar mais especulação. Com
isso, ele afirma que um relato sobre a sociedade é carregado de fatos, os quais devem,
obrigatoriamente, serem baseados em evidências e gerarem interpretações aceitáveis ao
público.

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3. Conclusão

Em suma, a partir da leitura de ambos os textos é possível concluir que pensar


sociologicamente é interpretar a sociedade a partir de fatos, exercendo análises críticas. Como
demonstrado, há diversos métodos para fazê-lo, baseados em diferentes escolas de pensamento
e autores, entretanto, em todos, o pensamento crítico acerca dos fatos é fundamental. Para isso,
é preciso exercer primeiramente o autoesclarecimento, seguido da análise de diferenças sociais
e, por fim, exigir mudanças de políticas públicas.

BIBLIOGRAFIA

GIDDENS, Anthony. Capítulo 1: O que é Sociologia?. In GIDDENS, Anthony. Sociologia.


Trad. R. C. Costa. Rev. Técn. F.C. Cotanda. Porto Alegre: Penso, 2012.

BECKER, Howard. Ponto 1: Falando da sociedade. In BECKER, Howard. Falando da


Sociedade. Rio de Janeiro: Ed. Jorge Zahar, 2009.

PODCAST. Blog Café com Sociologia por Cristiano Bonart e Roniel Sampaio Silva. Episódio
001 – O que é sociologia. Agosto 6, 2012. [https://www.cafecomsociologia.com/ep001-cafe-
com-sociologia-o-que-e-sociologia/]

PODCAST. Blog Café com Sociologia por Cristiano Bonart e Roniel Sampaio Silva. Episódio
005 – Origem da Sociologia. Setembro 15, 2013.
[https://www.cafecomsociologia.com/ep005-cafe-com-sociologia-origem-da/]

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