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Universidade Federal de Minas Gerais

Faculdade de Ciências Econômicas


Departamento de Ciências Econômicas

Economia do Setor Público

Aluna: Maria Luiza Correa Loureiro

3ª Resenha: Análise de custo-benefício – Ciro Biderman e Paulo Arvate

Belo Horizonte
Setembro 2020
O capítulo do livro de Biderman e Arvate procurar apresentar de maneira
introdutória a análise do custo-benefício de projetos, centrada na perspectiva do setor
público. Pensando no conceito do primeiro teorema do Bem Estar, que nos diz que o
equilíbrio das utilidades dos agentes será eficiente de Pareto, é possível levar a conclusão
equívoca de que o custo-benefício eficiente seria, para o setor público, equivalente ao que
ele representa no setor privado. Os autores citam duas justificativas que podem explicar
esse equívoco: o fato de que a eficiência nem sempre é o melhor critério para decisão de
alternativas sociais e as condições para a eficiência no teorema do Bem Estar são irreais.
Apesar de intuitivamente o critério de eficiência parecer adequado para a definição por
uma decisão de impacto social, na prática sabemos que ele não pode nortear essa escolha
por si só. É necessário ainda que o setor público preze pelo alcance da equidade e da
justiça na sociedade, mesmo que uma escolha equitária numa sociedade implique em
perda de eficiência no sentido de Pareto, como, por exemplo, em políticas de distribuição
de renda. Há de se considerar, ainda, a presença de externalidades e distorções de mercado
que impedem a verificação da eficiência.

Outro conceito importante para a análise do custo-benefício é o de preço social,


ou sombra, dos bens. Além do preço de mercado de um bem, existe um preço que
representa seu benefício social marginal na sociedade e que deve ser levado em conta na
tomada de decisão de um projeto. Conhecer esse preço sombra também por regras práticas
foi objeto de atenção de alguns economistas. Para bens comercializados, seu preço-
sombra se iguala ao preço internacional, desconsiderando variações de balança comercial
ou regulações e taxas específicas de uma transação internacional. Para o salário, seu preço
social seria o preço de reserva daquela mão de obra. Para os demais bens, tais como taxas
de desconto, não há uma regra geral e o cálculo varia de item a item e, quando se trata de
bens não comercializáveis, normalmente esse preço costuma ser calculado a partir “da
média ponderada entre os custos marginais de retirar esse bem do consumo e da
produção”. Na prática, esse conceito fora utilizado como parte do cálculo de custo-
benefício de bens públicos ou ofertados publicamente por bancos mundiais e de
desenvolvimento na década de 1970, tendo seu uso reduzido na década seguinte por um
conjunto de fatores, dentre os quais podemos citar projetos fracassados que fizeram os
bancos repensarem na análise de viabilidade que faziam, o aumento do financiamento de
programas gerais e a liberalização de economias internas com o advento da globalização,
levando à adoção de outras metodologias.
Para valoração de um produto, independente do preço a ser empregado, é preciso
observar, no entanto, a diferença dos preços dos insumos e produtos do processo. Isso se
torna um problema quando é necessário determinar um valor de um bem que não possui
preço, ao exemplo utilizado pelo autor da redução das taxas de mortalidade, e a forma
sugerida pelo autor para atribuir um valor a esse bem consiste em determinar os valores
que os indivíduos afetados pelo projeto atribuem a ele e determinar a agregação desses
valores individuais.

Quanto à análise das preferências de bem-estar individuais, ela pode se dar pela a
variação compensatória ou equivalente. A primeira indica se um projeto é desejável –
caso seja positiva – ou não pelo indivíduo. Já o método da variação equivalente determina
o quanto a renda do indivíduo deve ser aumentada para que ele tenha o mesmo ganho de
bem estar que teria se o projeto fosse executado. Nota-se que ambos podem ser
mensurados pela valoração contingente (analisa a propensão a pagar ou receber dos
indivíduos) ou por métodos hedônicos (verifica como ele afeta o valor de mercado de
outro bem correlacionado) e, no caso do método contingente, deve-se sempre fazer a
pergunta concentrando na propensão a pagar do indivíduo, pois ele será mais verdadeiro
sobre suas preferências do que se a pergunta contrária for feita, por causa da existência
do problema do carona. Quanto à valoração hedônica, ainda que pareça mais adequada
ao evitar o problema enfrentado ao perguntar as preferências individuais, é falha ao não
analisar o lado da oferta na mensuração, de modo que, caso as condições de oferta não
sejam levadas em consideração, pode ser que a mensuração hedônica retorne somente a
disposição marginal de pagar do indivíduo. Há ainda outras formas procuradas para
mensurar a preferência de bem-estar na pesquisa acerca do custo-benefício dos projetos,
como o método da produtividade marginal, que determina o valor que um bem público
irá agregar na produção industrial correlacionada a ele, método mais adequado para a
análise de projetos do tipo de Custos Fixos Sociais.

Para agregar esses resultados e tomar a decisão de investimento de um projeto,


idealmente é calculada a soma da propensão a pagar de todos os indivíduos e, se ela for
maior que seu custo de implementação, ele é feito de maneira que todos os indivíduos
terão aumento na satisfação (afinal, pagaram menos do que estão dispostos para o projeto
existir), mas, assim como os autores pontuam, a realização desse cálculo e a possibilidade
de todos pagarem menos do que sua propensão é praticamente impossível, sendo
normalmente sugeridas para contornar esse problema aparentemente sem solução na
sociedade a imposição do projeto aos perdedores caso seu benefício seja superior ao
custo, ou mesmo a utilização de uma soma ponderada, considerando a renda dos
indivíduos.

Os autores trazem no capítulo uma seção dedicada às críticas que a análise de


custo-benefício recebe, sendo a principal delas o fato de que a teoria considera possível
analisar sob uma mesma métrica todos os tipos de custo-benefício em todos os tipos de
projetos. Biderman e Arvate parecem discordar das críticas recebidas, especialmente no
que tange ao comportamento dos indivíduos, muitas vezes dispostos a fazer determinados
tipos de sacrifícios no seu bem estar em prol da própria sobrevivência. Outro fator é a
necessidade inerente do mundo contemporâneo de se comparar alternativas de
investimento, considerando a escassez de recursos. Há ainda os céticos a respeito de
aspectos da teoria de custo-benefício, tais como a aplicabilidade e os critérios de
comparação, mas que não criticam os fundamentos da teoria.

A análise de custo-benefício de fato é uma ferramenta importante para validar um


projeto de investimento público, especialmente se tratando de setores ou segmentos no
qual não é possível analisar sua viabilidade numa perspectiva dos seus custos de mercado.
Até então, não parece haver na teoria econômica uma solução que, numa maneira global,
seria mais adequada para solucionar essa questão, afinal, é uma teoria em constante
evolução e que abre espaço para a criação de novos métodos de análise mais eficazes
dentro dos seus pressupostos. Não há, entretanto, nesse trecho do livro, uma análise dos
autores a respeito da regulamentação da análise de custo-benefício, nem se a coleta das
informações sobre as disposição dos indivíduos poderia ser afetada de alguma forma por
preferências políticas como, por exemplo, um governo que seja favorável à realização de
um projeto manipular os critérios de valoração do C-B por métodos hedônicos, ainda que
a propensão da sociedade a realizá-lo fosse menor.

Finalmente, os autores trazem o projeto de despoluição da Baía de Guanabara


como um exemplo prático da aplicação da análise de custo-benefício. O projeto de 1998
afeta 7,3 milhões de pessoas e tem custo médio de 793 milhões de dólares. O questionário
aplicado e as análises de custo marginal retornaram que o benefício gerado teria o valor
de 995 milhões de dólares, com os custos em contrapartida de 559 milhões, ou seja, o
projeto seria interessante na perspectiva do investimento público e seu retorno à sociedade
seria positivo.

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