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Formação do Patronato
Político Brasileiro.
“O funcionário é a sombra do rei, e o rei tudo pode: o Estado pré-liberal não admite a
fortaleza dos direitos individuais, armados contra o despotismo e o arbítrio.” (p. 172)
“A unidade do governo, traduzida e realizada numa camada social, será a rocha sobre a
qual se erguerá a unidade nacional, em luta contra a vocação regional e autonomista das
forças locais. No fundo do drama não estão apenas os funcionários leais ao rei pela
hierarquia, senão os funcionários que não sabem que atuam sob a vontade do rei, que o
doma, disciplina e lhes infunde o cunho de colaboradores submissos.” (p. 175)
“Os magistrados, na grande maioria, são leigos, com cargos herdados ou obtidos no
enxoval de noiva.” (p. 188)
“O ouro, o diamante, o tabaco, o açúcar suscitam, por sua vez, outros organismos, todos
zelosos dos quintos, monopólios, terças partes, emolumentos, contratos, tributos, em
interferência direta, miúda, desconfiada sobre a economia. Daí irradia uma multidão de
funcionários, atraindo os reinóis ociosos: deputados das juntas, intendentes, tesoureiros,
oficiais, escrivães, meirinhos. O leite ordenhado da colônia chegava diluído e aguado
aos reais beiços, com provável déficit antes de explosão açucareira e aurifica.” (p. 188-
189)
“A maior despesa publica da colônia, nessa época, flui dos ‘oficiais de guerra’.”(p. 191)
“O rei dotava as corporações religiosas, para o custeio de suas obras, com terras e
escravos, além de dedicar-lhes rendas especiais. O pagamento aos padres sofria as
mesmas dificuldades, retardamentos e incertezas que atingiam os demais funcionários
civis e militares.” (p. 198)
“os colonos, entretanto, não queriam cristãos, mas escravos [...]. ” (p. 200)
“O viço das casas senhoriais, a mesa esbanjadora, o luxo farto conduz a muitos enganos.
Estas exterioridades custavam, na verdade, muito, assentadas sobre o escravo e o
investimento do engenho.” (p. 206)
“No começo do século XVII, a presença do comerciante ocupa o centro do palco, ferido
embora pelo desprezo do fidalgo, o que o leva a afidalgar-se para conquistar posição
social, atacado, ainda, pela concepção velhamente portuguesa e europeia de considera-
lo o parasita por excelência, o ocioso e improdutivo sanguessuga do trabalho alheio.” (p.
207)
“A monocultura, apesar dos males que lhe aponto Gilberto Freyre, sobre tudo na dieta
das populações, foi o fator maior da integração das capitanias, com aquisição distante de
alimentos, trocados por produtos exportáveis, numa sociedade quase sem moeda,
integração servida também pelo trafico de escravos de costa a costa, ou da costa para o
interior.” (p. 211)
“A imagem do Brasil de Gandavo (1570) está morta: o português ocioso com meia
dúzia de escravos, um para pescar e um para caçar e os outros nas roças de
mantimentos. Em seu lugar, a devastação mercantil e o desejo de retornar ao reino, para
exibir as glorias da opulência.” (p. 212)
“O negro, para se qualificar, não lhe bastaria a liberdade, senão a posse de outro
escravo.” (p. 217)
“A economia, por uma ou outra forma, obedece à regência material do soberano e seu
estamento, em intensidade que ultrapassa os modos modernos de intervenção do Estado
ou as interferências limitadas da concepção liberal. Tudo parte das origens: o rei é
senhor das terras, das minas e do comercio, no círculo patrimonialista em que se
consolidou e se expandiu o reino. O pacto colonial não é mais do que a expressão global
do tipo de Estado dominante em Portugal. [...] A coroa delega a exploração do negocio
aos contratadores, que o gerem por conta do poder público. O preço será fixado pelo
senhor do comercio, bem como o quantitativo da utilização, cumprindo ao contratador
pagar o preço e redistribuir o produto na Europa, geralmente em conexão com os
mercadores internacionais” (p. 221)