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POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA I

 GOES, Synésio Sampaio – Navegantes, bandeirantes e diplomatas

 CAPÍTULO 7 – O TRATADO DE MADRI

Um Acordo Favorável a Portugal?

- O século XVI, o primeiro século da colonização portuguesa na América, basicamente


dedicado à ocupação de pontos isolados no litoral leste, viu as primeiras entradas.
- O século XVII foi o período das grandes bandeiras paulistas, trilhando o Sul, o Oeste e
fazendo as primeiras incursões pela Amazônia.
 Foi também a época da fundação de Belém, das “tropas de resgate” e das
primeiras missões de religiosos portugueses no Amazonas e seus afluentes.
- O século seguinte foi o tempo das minas, das monções cuiabanas e da ocupação do
Mato Grosso no movimento sertanista que vinha de São Paulo.
 Tempo da consolidação da presença portuguesa na Amazônia setentrional e
das monções do Norte no movimento de expansão originário de Belém.
- Individualizar 1750: torna-se então nítida a compreensão de que estava no fim a
produção aurífera do Brasil, morre D. João V e sobe ao trono D. José I com o futuro
Marquês do Pombal, inaugurando a época portuguesa do despotismo esclarecido,
inaugura-se a época das bandeiras paulistas e assina-se o Tratado de Madri.
 Assinado em 1750, em 1761 era anulado pelo Tratado de El Pardo.
 Retomando quase integralmente a Amazônia pelo Tratado de Santo Ildefonso
de 1777, que foi anulado em 1801 pelo Tratado de Badajoz que restabeleceu a paz.
- Foi o Tratado de Madri que legalizou a posse do Sul e do Oeste brasileiros e da imensa
área amazônica, regiões situadas à esquerda da linha de Tordesilhas.
 No Tratado de Madri se encontram as qualidades de equilíbrio e de
moderação que caracterizam os bons acordos.
 Teria havido uma compensação global. Portugal alega que a Espanha violou a
linha de Tordesilhas na Ásia; e a Espanha, que Portugal violou na América.
- A superioridade relativa das posições portuguesas nas zonas litigiosas. Superioridade
esta que é consequência da ocupação.
 Por que motivo foram os lusos e não os hispânicos que ocuparam a
Amazônia? Há muitas respostas possíveis.
- O império colonial espanhol na América do Sul estava fortemente centralizado em
Lima; situada no litoral, ao pé dos Andes. Fundada por Pizarro, a cidade era o porto de
onde safam as riquezas minerais.
 A famosa mina de Potosí. Diferente do que ocorreu com os portugueses, que
durante dois séculos percorreram em vão os sertões para achar “um outro Peru” no
Brasil, isto só viria acontecer nos trinta primeiros anos do século XVIII, com a
revelação sucessiva de ouro em Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás.
- Certamente mais importante para explicar porque foram os portugueses e não os
espanhóis que ocuparam a Amazônia são as razões geográficas. Desde o começo do
século XVII, os portugueses haviam-se apossado das melhores portas de entrada da
planície amazônica.
- Junto com as vantagens no terreno, Portugal possuía, ao assinar o Tratado de Madri,
outros trunfos.
 Outro documento favorável a Portugal é o Tratado de Utrecht de 1713, do
qual a Espanha também foi parte, que assegurou à nação lusa a posse das terras à
margem esquerda do Amazonas até o “Japoc ou Vicente Pinzón”.
 Além disso houve a sorte histórica de os ingleses se aliarem nas negociações
aos portugueses, por não quererem ver os franceses na foz do Amazonas.
- Algumas vantagens de Portugal ao assinar o Tratado de Madri, tais como:
1. A prosperidade econômica relativa de Portugal, propiciada pelo famoso “ouro
do Brasil”, cujo auge da produção foi a década de 1740;
2. A estabilidade política do longo reinado de D. João V;
3. A conjuntura de alianças pessoais na cúpula dos dois países, favorável a
Portugal;
4. Além disso, o governo português contou com um servidor público dotado de
conhecimentos específicos e habilidade diplomática excepcionais (Alexandre de
Gusmão).

A Obra de Alexandre de Gusmão

- Capistrano de Abreu: “A rápida expansão do Brasil pelo Amazonas até o Javari, no


Mato Grosso até o Guaporé e agora no Sul, urgiu a necessidade de atacar de frente a
questão dos limites entre as possessões portuguesas e espanholas sempre adiada, sempre
renascente”.
“Ambas as partes reconheceram [no acordo a que chegaram] ter violado a linha
de Tordesilhas, uma na Ásia, outra na América... [a qual] seria substituída por limites
naturais”.
 Aproveitamento dos rios.
- As ideias inspiradoras do tratado:
I. Portugal ocupou terras na América, mas a Espanha se beneficiou no Oriente;
II. As fronteiras não seriam mais abstratas linhas geodésicas, como a de
Tordesilhas, mas sim acidentes geográficos facilmente identificáveis;
III. Os rios, quando não fossem limites, seriam exclusivamente navegados pela
nação que possuísse suas duas margens – assim o Prata seria da Espanha e o
Amazonas do Brasil;
IV. A origem do “direito” de propriedade seria o “fato” da ocupação efetiva do
território, o princípio do “uti possidetis”.
- Alexandre de Gusman, um dos maiores vultos da História Diplomática luso-brasileira.
- Particularmente vinculado à existência do Tratado de Madri está o problema da posse
da Colônia do Sacramento, tema fundamental na história da formação territorial do
Brasil.
 Alexandre de Gusmão tinha nítida consciência de que a Espanha valorizava
extremamente a posse das duas margens do Prata e que a Colônia do Sacramento teria
um imenso valor de troca, numa eventual negociação, que deveria se realizar assim que
a conjuntura bilateral o permitisse.
- O que queria o Governo português era ter ideia clara do território ocupado, em relação
à linha de Tordesilhas, em especial depois dos recentes avanços no centro-oeste (Mato
Grosso).
- O que fez a Espanha, interessada em provar que seu território americano fora
invadido? Nada. E esse desnível cultural [cartográfico] vai pesar na balança de
negociações do Tratado de Madri a favor de Portugal.
- O novo “El Dorado”, onde em 1748 foi criada a Capitania do Mato Grosso, ação
privada dos bandeirantes.
 Fixação luso-brasileira na região
 A essa altura Portugal já tinha perdido seu império asiático, e embora
possuísse terras na África (Angola e Moçambique), o que tinha de realmente valioso era
o Brasil.
- A ideia de que o Tratado de Tordesilhas deve ser abandonado por ser indemarcável; de
que, mesmo que se prove que os portugueses violaram esse tratado na América, os
espanhóis certamente o violaram no Oriente; e de que a solução deveria
necessariamente ser encontrada em negociações globais, com concessões mútuas.
Tais negociações, ademais, só se poderiam basear nas duas regras do “uti
possidetis” e das “fronteiras naturais”.
- Mito da Ilha Brasil: tendeu a dar ao país uma conformação orgânica, com fronteiras
basicamente fluviais, liga-se às fronteiras naturais.

As Negociações de Madri
- O que Portugal buscava era negociar um tratado equilibrado, que, à custa de ceder no
Prata se necessário, conservasse a Amazônia e o Centro-oeste e criasse, no Sul, uma
fronteira estratégica que vedasse qualquer tentativa espanhola nessa região.
 Para Alexandre de Gusmão, a finalidade era “dar fundo grande e
competente”, “arredondar e segurar o país”.
 Já para a Espanha, o objetivo primeiro era parar de vez a expansão
portuguesa, que comia gradativamente pedaços de seu império na América do Sul;
depois, reservar a exclusividade do estuário platense, e, finalmente, impedir que a
rivalidade peninsular na América fosse aproveitada por nações inimigas de Madri.
- Com o correr das negociações, foi-se caracterizando o território das reduções jesuíticas
dos Sete Povos como moeda de troca da Colônia do Sacramento.
- O “Mapa das Cortes” foi a base tanto para as negociações, quanto para as posteriores
campanhas de demarcação.
- O Tratado de Madri foi assinado em 13 de janeiro de 1750.
 Ficou perto de dar ao Brasil limites naturais.
- “Guerra Guaranítica” (1755-1756).
- Tratado de El Pardo (1761).

Os Tratados de El Pardo, Santo Ildefonso e Badajoz

- Vários são os motivos que levaram à anulação do Tratado de Madri. É certo que, no
Sul, houve a Guerra Guaranítica e, no Norte, as dificuldades de demarcação revelaram-
se insuperáveis.
- Pombal era contra o Tratado de Madri, porque não concordava com a cessão da
Colônia do Sacramento.
- O fato é que, em 1761, os dois países assinaram o Tratado de El Pardo, pelo qual o
Tratado de Madri e os atos decorrentes, ficavam “cancelados, cassados e anulados”.
Voltava-se, assim, pelo menos em teoria, às incertezas da divisão de Tordesilhas.
 Na prática, nenhuma nação pretendia renunciar a suas conquistas territoriais
ou a seus títulos jurídicos. O Tratado de El Pardo apenas criava uma pausa durante a
qual se esperaria o momento propício para novo ajuste de limites.
- 1777: D. Maria I e a política de reação ao pombalismo.
 Modificou o equilíbrio de forças “para pior quanto aos interesses
portugueses”.
 Tratado Preliminar de Limites ou Tratado de San Ildefonso: por esse tratado,
Portugal conservava para o brasil as fronteiras Oeste e Norte obtidas pelo Tratado de
Madri, mas deslocava a divisória Sul para Leste, com a passagem dos Sete Povos das
Missões à soberania espanhola.
- Pelo Tratado de San Ildefonso, Portugal perdia com relação ao que havia ganhado no
Tratado de Madri, pois confirmava a inclusão no território nacional dos famosos 2/3 do
Brasil extra Tordesilhas.
- O Tratado de San Ildefonso foi concebido principalmente para regular os limites no
Sul, já que conservou “basicamente” as mesmas fronteiras do Tratado de Madri no
restante do território brasileiro.
- Ao encerrar-se o século XVIII ainda não haviam sido demarcadas as fronteiras da
Amazônia.
- Em 1801, a situação agravou-se com a nova guerra entre as nações peninsulares
(Guerra de las Naranjas). Na Europa, Portugal teve seu território amputado com a
conquista espanhola de Olivença, mas, na América, os luso-brasileiros retomaram, desta
vez para sempre, o território dos Sete Povos (o oeste do RS). Tratado de Paz de
Badajoz.

A Amazônia no Final da Colônia

- O episódio da expulsão dos jesuítas, concretizado em 1759, abalou fortemente a


região, onde, do ponto de vista da ocupação portuguesa, eram as ordens religiosas.
- O período pombalino foi aquele que a metrópole mais interesse demonstrou pela
região.
- A comunicação entre todos fazia-se exclusivamente por via fluvial.

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