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Triangularização Aguda Própria de Superfícies

Poliédricas

Amanda Lopes Barreto

Universidade Federal de Mato Grosso do Sul


Campus de Ponta Porã

Ponta Porã
2020
Amanda Lopes Barreto

Triangularização Aguda Própria de Superfícies


Poliédricas

Relatório final de iniciação científica do


Programa Institucional Voluntário de Ini-
ciação Científica (PIVIC), da Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul realizado no
Campus de Ponta Porã no âmbito do Curso
de Licenciatura em Matemática.

Área de concentração: Ciências Exatas.

Orientador: Wellington Carlos de Jesus.

Ponta Porã
2020
Resumo

Modelagem matemática e simulações numéricas são fundamentais para predizer o


comportamento e melhorar a compreensão de diversos fenômenos físicos, tais como a
dinâmica de fluídos e dinâmica estrutural. As simulações numéricas são baseadas na
discretização e representação da geometria associada do problema, na qual os domínios
e objetos de interesse são discretizados por malhas de elementos simples. O estudo de
propriedades, construção e manutenção dessas malhas modeladoras é abrangido pela área
de estudo de geração de malhas. O presente trabalho se preocupou do problema da
geração de malha triangular com triângulos agudos, bem como das etapas construtivas
que levam ao resultado de maior interesse que enuncia que toda superfície poliédrica
pode ser representada por uma triangularização aguda própria com um número máximo
de triângulos determinado pela geometria da superfície poliédrica original, além disso
se preocupou da implementação de um algoritmo de geração de malha que satisfaça as
condições dessa triangulação.

Palavras-chave: Triangulação aguda, Geração de malhas, Algoritmo.


Abstract

Mathematical modeling and numerical simulations are key to predicting behavior and
improving understanding of various physical phenomena such as fluid dynamics and struc-
tural dynamics. Numerical simulations are based on the discretization and representation
of the associated geometry of the problem, in which domains and objects of interest are
discretized by simple element meshes. The study of properties, construction, and main-
tenance of these modeling meshes is covered by the study area of mesh generation. The
present work was concerned with the problem of triangular mesh generation with acute
triangles, as well as the constructive steps that lead to the most interesting result that
states that every polygon can be triangulated, in its acute triangularization and deter-
mines the maximum number of triangles in this one triangularization, moreover, it was
concerned with building an algorithm that satisfies this triangulation.

Keywords: Acute Triangularization, Mesh generation, Algorithm.


Lista de ilustrações

Figura 1 – Fonte: (ALEXANDROV, 2005). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16


Figura 2 – Imagem Esférica do vértice A. Fonte: (ALEXANDROV, 2005). . . . . 16
Figura 3 – Fonte: (ALEXANDROV, 2005). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
Figura 4 – Fonte: (ALEXANDROV, 2005) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
Figura 5 – Fonte: (ALEXANDROV, 2005) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
Figura 6 – Cubra as arestas por círculos de raio 1 e t. Retirada de (MAEHARA,
2011). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
Figura 7 – Uma parte de 𝑇 (e 𝑇1 ) em uma face de Σ. Retirada de (MAEHARA,
2011). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
Figura 8 – 𝜀 = círculos de cobertura de borda. Retirada de (MAEHARA, 2011). 35
Figura 9 – 𝐷𝑎𝑏𝑐 =círculos dos tipos 𝑎, 𝑏, 𝑐. Retirada de (MAEHARA, 2011). . . . 35
Figura 10 – Uma parte de 𝑇 (e 𝑇1 ) em uma face de Σ. Retirada de (MAEHARA,
2011). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
Figura 11 – Uma parte de 𝑇 (e 𝑇1 ) em uma face de Σ. Retirada de (MAEHARA,
2011). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
Figura 12 – Exemplo de triangulação do tipo Saraf. . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
Figura 13 – Tetraedro entrada do algoritmo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
Figura 14 – Triangulação da face 1. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
Figura 15 – Triangulação da face 2. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
Figura 16 – Triangulação da face 3. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
Figura 17 – Triangulação da face 4. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
Figura 18 – Triangulação do tipo Saraf no tetraedro. . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
Sumário

1 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

2 PRELIMINARES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2.1 A imagem esférica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2.2 A área da imagem esférica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.3 Poliedros polares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2.4 Análogo ao Teorema Discreto de Gauss-Bonnet . . . . . . . . . . 20
2.5 Aritmética de Ponto Flutuante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.6 Operações aritméticas em ponto flutuante . . . . . . . . . . . . . 24

3 TRIANGULAÇÃO DO TIPO SARAF . . . . . . . . . . . . . . 27

4 UM CICLO DE CÍRCULOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

5 TRIANGULAÇÃO DO TIPO SARAF INDUZIDA POR UM


CICLO DE CÍRCULOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

6 TRIANGULAÇÃO AGUDA PRÓPRIA DE SUPERFÍCIES


POLIÉDRICAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

7 ESTIMATIVA APRIMORADA DO NÚMERO MÁXIMO DE


TRIÂNGULOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41

8 ALGORITMO DE GERAÇÃO DE MALHA . . . . . . . . . . 43

9 CONSIDERAÇÕES FINAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
9.1 Trabalhos Futuros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47

REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
11

Capítulo 1
Introdução

Uma triangulação de um polígono (ou uma superfície) é uma dissecção do polígono


(ou da superfície) em triângulos nos quais qualquer dois triângulos são ou separados, têm
um único vértice em comum ou têm uma borda inteira em comum. Uma triangulação
aguda (ou não-obtusa) é uma triangulação em que todos os triângulos são agudos (ou não
obtusos). Sabe-se que qualquer polígono tem uma triangulação (BURAGO; ZALGAL-
LER, 1960). Muitos autores interessam-se pelo número mínimo de triângulos em uma
triangulação aguda de um polígono de 𝑛 lados. Vamos mostrar alguns resultados sobre o
número de triângulos:

o Um triângulo obtuso pode ser triangulado em sete triângulos agudos, mas não em
menos (MANHEIMER, 1960).

o Um quadrado pode ser triangulado em oito triângulos agudos, mas não em menos
(CASSIDY; LORD, 1980).

o Cada quadrilátero pode ser triangulado em no máximo dez triângulos agudos e existe
um quadrilátero (côncavo) que requer dez triângulos agudos para triangulação aguda
(MAEHARA, 2000).

o Todo trapézio que não seja um retângulo pode ser triangulado em no máximo sete
triângulos agudos (YUAN, 2010).

o Cada polígono de n lados pode ser triangulado em 𝑂(𝑛) triângulos agudos (MA-
EHARA, 2002) e (YUAN, 2005).

Uma triangulação aguda de uma superfície bidimensional significa uma triangulação


em triângulos agudos geodésicos. Segue de (VERDIÈRE; MARIN et al., 1990) que toda
superfície Riemanniana compacta 𝑋 em 𝑅3 admite uma triangulação aguda. Mais preci-
samente, se 𝑋 é homeomorfo a uma esfera, então 𝑋 admite uma triangulação com todos
os ângulos em [3𝜋/10 − 𝜖, 2𝜋/5 + 𝜖], se 𝑋 for homeomorfo para um toro, então ele admite
uma triangulação com todos os ângulos em [𝜋/3 − 𝜖, 𝜋/3 + 𝜖], e se 𝑋 tem gênero ≥ 2,
12 Capítulo 1. Introdução

então 𝑋 admite uma triangulação com todos os ângulos em [2𝜋/7 − 𝜖, 5𝜋/14 + 𝜖]. Alguns
resultados sobre o número mínimo de triângulos em triangulações de superfícies são as
seguintes.

o Uma esfera pode ser triangulada em 20 triângulos agudos geodésicos, mas não em
menos (ITOH, 2001).

o A superfície de um icosaedro regular pode ser triangulada em 12 triângulos geodé-


sicos agudos, mas não em poucos triângulos (ITOH; ZAMFIRESCU, 2004).

o A superfície de um dodecaedro regular pode ser triangulada em 14 triângulos geo-


désicos agudos, mas não em menos de 12 (ITOH; ZAMFIRESCU, 2007).

o Cada toróide plano pode ser triangulado em no máximo 16 triângulos geodésicos


agudos (ITOH; YUAN, 2009).

Veja também (ZAMFIRESCU, 2002), para um breve levantamento sobre triangula-


ções agudas.

Por uma superfície poliédrica, queremos dizer uma variedade bidimensional em R3 ,


com ou sem limite, consistindo de um número de polígonos presos ao longo de suas bordas
de forma que nenhum vértice chegue ao interior de uma aresta. Por exemplo, a superfí-
cie de um cubo é uma superfície poliédrica (fechada). Cada polígono de uma superfície
poliédrica é chamado de face da superfície poliédrica e as arestas dos polígonos são chama-
das arestas originais da superfície poliédrica. Sabe-se (BURAGO; ZALGALLER, 1960)
que toda superfície poliédrica pode ser triangulado em triângulos agudos geodésicos (igno-
rando as bordas originais). No entanto, em uma superfície poliédrica, é natural considerar
uma triangulação na qual todas as arestas originais da superfície poliédrica são usadas,
possivelmente em seções subdivididas.
Vamos chamar tal triangulação de uma superfície poliédrica de uma triangulação pró-
pria de Σ. Assim, em uma triangulação própria de Σ, nenhum triângulo pode se deparar
com uma borda original de Σ, e cada triângulo está em uma face de Σ. Portanto, uma
triangulação própria utiliza apenas triângulos planares e retilíneos. Uma triangulação
aguda própria de uma superfície poliédrica é uma triangulação própria em que todos os
triângulos são agudos. Para obter uma triangulação aguda própria de uma superfície po-
liédrica, temos que triangular todas as faces poligonais em triângulos agudos de tal forma
que eles se encaixam uns nos outros e nas bordas originais. Então, não é óbvio se todas
as superfícies poliédricas admitem uma triangulação aguda própria.
A superfície de um cubo tem uma triangulação aguda própria em 56 triângulos, 56
é o número mínimo e tal triangulação é combinatoriamente única (ITOH; MAEHARA,
2008). Saraf (SARAF, 2009) apresentou uma maneira inteligente de dar uma triangulação
13

própria de uma superfície poliédrica em que todos os triângulos são não obtusos. Essas
triangulações agudas próprias de superfícies poliédricas são importantes na investigação
e discretização de algumas equações diferenciais, por exemplo, sendo necessárias para o
princípio do máximo discreto em malhas triangulares (KOVÁCS, 2019).
Porém as triangulações geradas pelos algoritmos computacionais atuais (por exemplo
DistMesh, o gerador de malha DUNE, etc) não satisfazem necessariamente essa condição
de ângulo (KOVÁCS, 2019), mesmo aqueles algoritmos que se dedicam exclusivamente
a esse fim relatam dificuldade ou impossibilidade de obter uma malha com triangulação
aguda em determinadas situações (VANDERZEE et al., 2010).

Este trabalho teve como principal objetivo o estudo do Teorema de existência de


Maehara (MAEHARA, 2011) enunciado da seguinte maneira: Uma superfície poliédrica
𝐿
Σ tem uma triangulação aguda própria com no máximo 𝐶( 𝛿Θ )𝑛 triângulos, onde 𝐶 é uma
constante absoluta, 𝑛 é o número de arestas em Σ, 𝐿 é o comprimento da borda mais
longa em Σ, 𝛿 é o valor mínimo da distância geodésica de um vértice a uma aresta que
não é incidente ao vértice e Θ é o menor ângulo de face de Σ, bem como analisar e buscar
melhorar a estimativa de número máximo de triângulos nessa triangulação, para isso foi
estudado toda a biografia necessária para a demonstração desse teorema.
Porém devido a dificuldade de construção computacional dessa triangulação, a mo-
tivação desse trabalho é buscar responder a seguinte questão: porque na teoria existe
o teorema de existência de triangulações agudas de superfícies poliédricas bidimensio-
nais arbitrárias desenvolvido em (MAEHARA, 2011), porém na prática há dificuldade ou
impossibilidade de construí-la?
Mais especificamente pretende-se fazer a utilização das etapas construtivas da demons-
tração desse Teorema de Maehara para criação de um algoritmo computacional de uma
triangulação do tipo Saraf de superfícies poliédricas, definida em (MAEHARA, 2011) e
dar suporte para a criação de um algoritmo computacional de uma triangulação aguda
própria de superfícies poliédricas em trabalhos futuros.

O Capítulo 2 deste trabalho apresenta alguns resultados preliminares, que foram ne-
cessários para entender e prosseguir com os estudos do trabalho. O Teorema de existência
de uma triangulação própria não obtusa construído por (SARAF, 2009), denominada
triangulação do tipo Saraf é apresentado no Capítulo 3. O Capítulo 4 mostra uma trian-
gulação aguda induzida por um ciclo de círculos e estima o número de triângulos nesse
tipo de triangulação baseada em (BERN; MICHELL; RUPPERT, 1995). O Capítulo 5
faz uma combinação entre a triangulação não obtusa construída por Saraf com as ideias
de triangulação induzida por um ciclo de discos de Bern para construção de uma trian-
gulação do tipo Saraf e estimar o número máximo de triângulos nessa triangulação. A
construção da triangulação aguda própria de superfícies poliédricas através da triangu-
14 Capítulo 1. Introdução

lação do tipo Saraf está apresentada no Capítulo 6. O Capítulo 7 apresenta o resultado


alcançado por esse trabalho de melhoria na estimativa do número máximo de triângulos
na triangulação aguda de polígonos construída por (MAEHARA, 2002). A descrição do
algoritmo computacional de uma triangulação do tipo Saraf de uma superfície poliédrica,
criado por esse trabalho, bem como a ilustração dessa triangulação de superfícies polié-
dricas e das faces dessas superfícies geradas pelo algoritmo são apresentados no Capítulo
8. O Capítulo 9 dispõe das considerações finais do trabalho e os trabalhos futuros que
podem ser construídos a partir deste.
15

Capítulo 2
Preliminares

Neste Capítulo, há resultados necessários para o andamento do estudo, tais como


imagem esférica, poliedros polares, um análogo ao teorema discreto de Gauss-Bonnet e
aritmética de ponto flutuante.

2.1 A imagem esférica


Seja 𝐹 uma superfície convexa e 𝐸, uma unidade esférica, isto é, uma esfera de raio
1. Pegue um conjunto 𝑀 de pontos em 𝐹 e desenhe todos os planos suportes para 𝐹
em cada ponto do conjunto. Se desenharmos os vetores normais desses planos do centro
da esfera 𝐸, então seus pontos finais cobrirá algum conjunto na esfera. Este conjunto é
chamado de imagem esférica de 𝑀 .
Em particular, essa definição faz sentido para os poliedros convexos. Além disso, se
um poliedro tiver um limite, os planos suporte dos pontos no limite são excluídos. Se 𝑀
é o interior de uma face de um poliedro 𝑃 , então a imagem esférica de 𝑀 consiste em um
único ponto. Se 𝑀 é uma aresta com pontos finais deletados, então sua imagem esférica
é o arco de um grande círculo cujo os pontos finais são as imagens esféricas das faces
tocando ao longo de 𝑀 , como se pode ver pelo fato de que cada plano "entre"os planos
tocando ao longo de um vértice é um plano suporte.
Se o conjunto 𝑀 consiste em um único vértice 𝐴, sua imagem esférica é a parte da
esfera que é cortada pelo ângulo sólido formado pelas normais a todos os planos de apoio
no vértice 𝐴. É fácil ver que esse ângulo sólido 𝑊 representa um ângulo poliédrico convexo
cujas bordas são perpendiculares as faces de 𝑃 tocando em 𝐴. Veja a Figura 1.
Se 𝑄1 e 𝑄2 são planos suportes em 𝐴, o poliedro está contido no ângulo diédrico
entre eles. Portanto, cada plano "intermediário"𝑄 é também um plano suporte em 𝐴. As
normais 𝑁 para esses planos cobrem o ângulo entre as normais 𝑁1 e 𝑁2 aos planos 𝑄1 e
𝑄2 (Figura 2). Isto significa que, juntamente com os raios 𝑁1 e 𝑁2 , o ângulo 𝑊 inclui o
ângulo plano entre eles. Portanto, o ângulo 𝑊 é convexo.
16 Capítulo 2. Preliminares

Figura 1 – Fonte: (ALEXANDROV, 2005).

Figura 2 – Imagem Esférica do vértice A. Fonte: (ALEXANDROV, 2005).

As faces de 𝑊 são formadas pelas normais dos planos que tocam o poliedro ao longo
das arestas adjacentes a 𝐴. Portanto, são ângulos planares perpendiculares a essas arestas.
Consequentemente, cada ângulo diédrico 𝛽𝑖 do ângulo sólido 𝑊 é o complemento do ângulo
entre as duas arestas correspondentes do poliedro, isto é, o ângulo plano 𝛼𝑖 da face em 𝐴:

𝛼 𝑖 = 𝜋 − 𝛽𝑖 (1)

A imagem esférica de um vértice é, portanto, um polígono esférico convexo com ângulos


𝛽𝑖 . Os vértices dos polígonos correspondentes às arestas do ângulo 𝑊 são as imagens
esféricas dos interiores das faces de 𝑃 e os lados do polígono correspondentes às faces de
𝑊 são as imagens esféricas das bordas de 𝑃 , com os pontos finais excluídos.
A imagem esférica de um vértice é certamente a mesma que a imagem esférica do
ângulo poliédrico formado pelas faces tocando no vértice. Todas as nossas conclusões são
verdadeiras para todos os ângulos poliédricos convexos.
Agora, se 𝑀 é uma parte arbitrária de um dado poliedro 𝑃 convexo, então sua imagem
esférica é composta pelas imagens esféricas dos vértices, segmentos de arestas e partes do
interior das faces em 𝑀 . Como as imagens esféricas de arestas e faces estão contidas nas
imagens esféricas dos vértices em que tocam, a imagem esférica do poliedro é composta
2.2. A área da imagem esférica. 17

pelas imagens esféricas de seus vértices e arestas com os dois pontos finais do limite. Aqui
os vértices e arestas de contorno são excluídos por suposição.
Por exemplo, a superfície lateral de um prisma não possui vértices no interior, e sua
imagem esférica é um grande círculo. Um plano suporte tocando o poliedro em um vértice
não contém outros vértices, a menos que toque o poliedro ao longo de uma aresta ou face.
Portanto, os polígonos que representam as imagens esféricas dos vértices não tem
pontos interiores comuns e podem se tocar apenas ao longo das bordas e nos vértices
correspondentes às arestas e faces do poliedro para que os vértices em questão pertençam.
Daqui resulta que a imagem esférica de todo poliedro é o polígono esférico que
consiste nas imagens esférica dos vértices do poliedro.
Se um poliedro é fechado, sua imagem esférica cobre toda a esfera e representa uma
partição da esfera em polígonos esféricos convexos correspondentes aos vértices do polie-
dro. Resumimos nossas conclusões do seguinte modo:

Teorema 1. A imagem esférica de um poliedro convexo é composta por polígonos esféricos


convexos 𝑆1 , . . . , 𝑆𝑚 que são as imagens esféricas dos vértices do poliedro. Esses polígonos
não têm pontos interiores comuns. Cada lado comum de dois polígonos 𝑆𝑘 e 𝑆𝑙 é a imagem
esférica do interior da aresta entre os vértices correspondentes. Cada vértice comum dos
polígonos 𝑆𝑘 , . . . , 𝑆𝑞 é a imagem esférica do interior da face que contém os vértices do
poliedro correspondentes a esses polígonos. Cada ângulo dos polígonos 𝑆𝑙 é o complemento
do ângulo plano do vértice correspondente do poliedro.

2.2 A área da imagem esférica.


Seja 𝑉 um ângulo convexo de um poliedro com 𝑛 faces e ângulos planos 𝛼1 , . . . , 𝛼𝑛 .
Sua imagem esférica é um polígono esférico de 𝑛 lados com ângulos 𝛽𝑖 = 𝜋 − 𝛼𝑖 . No
entanto, a área 𝜔 de um polígono esférico de 𝑛 lados pode ser expresso em termos de seus
ângulos pela fórmula

𝑛
∑︁
𝜔= 𝛽𝑖 − (𝑛 − 2)𝜋 (2)
𝑖=1

i.e., 𝜔 é igual ao excesso da soma dos seus ângulos sobre a soma dos ângulos de um
polígono plano com o mesmo número 𝑛 de vértices.

Demonstração. Primeiro, provaremos esta fórmula para um triângulo esférico 𝐵1 𝐵2 𝐵3


com ângulos 𝛽1 , 𝛽2 e 𝛽3 (Figura 3). Estendendo os lados do triângulo, obtemos três
grandes círculos cuja interseção forma mais um triângulo 𝐵1′ 𝐵2′ 𝐵3′ simétrico a 𝐵1 𝐵2 𝐵3
sobre o centro da esfera.
Cada par de grandes círculos limita dois digons com os vértices 𝐵1 𝐵1′ , 𝐵2 𝐵2′ e 3 𝐵3′ .
Os ângulos desses digons são 𝛽1 , 𝛽2 e 𝛽3 . A proporção da área de cada digon para a área
18 Capítulo 2. Preliminares

de toda a esfera é obviamente a razão de seu ângulo para 2𝜋. Portanto, a soma das áreas
dos seis digons é igual a

2(𝛽1 + 𝛽2 + 𝛽3 )
4𝜋 = 4(𝛽1 + 𝛽2 + 𝛽3 ) (3)
2𝜋

Figura 3 – Fonte: (ALEXANDROV, 2005).

Ao mesmo tempo, é imediatamente óbvio que nossos digons cobrem o esfera inteira,
onde os triângulos 𝐵1 𝐵2 𝐵3 e 𝐵1′ 𝐵2′ 𝐵3′ são cobertos três vezes. Portanto, a soma de suas
áreas é igual a 4𝜋 + 4𝜔, onde 𝜔 é a área do triângulo 𝐵1 𝐵2 𝐵3 . Portanto, 4(𝛽1 + 𝛽2 + 𝛽3 ) =
4𝜋 + 4𝜔, ou seja, 𝜔 = 𝛽1 + 𝛽2 + 𝛽3 − 𝜋.
Agora, dado um polígono de 𝑛 lados, nós o dividimos por diagonais em 𝑛−2 triângulos.
Somando as áreas e os ângulos desses triângulos, simultaneamente, obtenha facilmente a
equação 2 para o nosso polígono de 𝑛 lados.

Então 𝛽𝑖 = 𝜋 − 𝛼𝑖 , temos
𝑛
∑︁
𝜔 = 2𝜋 − 𝛼𝑖 (4)
𝑖=1
Como a área 𝜔 é positiva, a fórmula anterior implica em particular o fato bem conhe-
cido de que a soma dos ângulos planares de um ângulo poliedro convexo é sempre menor
que 2𝜋.
Chamamos a soma dos ângulos 𝛼𝑖 de ângulo completo do vértice, denotando por 𝜃.
A diferença 2𝜋 − 𝜃 é chamada de curvatura no vértice. Consequentemente, a fórmula (4)
significa que a curvatura em um vértice de um ângulo poliédrico convexo é igual à área
da imagem esférica do vértice.
A curvatura de uma parte de um poliedro é definida como a soma da curvatura nos
vértices situados nesta parte, mas não no seu contorno. Ao mesmo tempo, de acordo
com o Teorema 1, a imagem esférica de qualquer parte de um poliedro é composto pelas
imagens esféricas dos vértices desta parte. Portanto, a área da imagem esférica de uma
parte de um poliedro é igual à curvatura dessa parte.
Os resultados acima podem ser resumidos da seguinte forma:
2.3. Poliedros polares 19

Teorema 2. A área da imagem esférica de uma parte de um poliedro convexo é igual à


curvatura dessa parte. Uma vez que a curvatura depende apenas da métrica intrínseca do
poliedro, o mesmo acontece com a área da imagem esférica. Portanto, sob toda deformação
do poliedro que preserva sua convexidade e os comprimentos de todas as curvas nela (isto
é, que não altera sua métrica) a área da imagem esférica permanece a mesma.

O teorema é um análogo elementar do famoso teorema de Gauss que reivindica que a


área da imagem esférica de uma superfície permanece inalterada a deformações contínuas
da superfície, preservando os comprimentos de todas as curvas.

2.3 Poliedros polares


A correspondência acima entre os ângulos poliedros 𝑉 e 𝑊 está curiosamente conec-
tado com a existência de polígonos polares e poliedros.
Se 𝑃 é um poliedro convexo e 𝑂 é um ponto dentro de 𝑃 , então podemos construir um
poliedro 𝑃 ′ convexo cujas faces são perpendiculares aos raios emitidos de 𝑂 através dos
vértices de 𝑃 e cujos vértices se encontram nos raios emitido de 𝑂 e perpendicular às faces
de 𝑃 . A correspondência entre as faces e os vértices dos poliedros 𝑃 e 𝑃 ′ é reversível. As
arestas de um deles correspondem às arestas do outro. Ou seja, a borda entre dois vértices
𝐶1 e 𝐶2 de 𝑃 corresponde à aresta de 𝑃 ′ ao longo de cada face de 𝑃 ′ correspondentes aos
vértices 𝐶1 e 𝐶2 .
Diz-se que os poliedros que mantêm essa relação são polares entre si. Um dos exemplos
mais simples é um cubo e o octaedro com vértices nos centros das faces do cubo (Figura
4). Em geral, para cada poliedro 𝑃 circunscrito em torno de uma bola corresponde ao
poliedro polar 𝑃1 inscrito na bola e tendo vértices nos pontos de tangência da bola e nas
faces do poliedro 𝑃 .

Figura 4 – Fonte: (ALE- Figura 5 – Fonte: (ALE-


XANDROV, XANDROV,
2005) 2005)
20 Capítulo 2. Preliminares

Por analogia, definimos polígonos polares: os vértices de um deles repousam sobre os


raios perpendiculares aos lados do outro e vice-versa (Figura 5).

2.4 Análogo ao Teorema Discreto de Gauss-Bonnet


Considerando uma superfície poliédrica 𝑃 do tipo topológico de um círculo, delimi-
tada por um polígono 𝑅 (inclinado) fechado (borda) sem pontos duplos. Definiremos
apropriadamente 𝑆, a área da imagem esférica de 𝑃 e 𝑇 , a mudança total de direção de
𝑅 em 𝑃 e provaremos que

𝑆 + 𝑇 = 2𝜋

Este é um análogo elementar ou um caso limitante elementar do teorema de Gauss-


Bonnet, que por si só pode ser considerado um caso limitador de nosso teorema elementar
(quando as faces se tornam infinitamente pequenas e seu número infinitamente grande).
Seja 𝐹 , 𝐸 e 𝑉 o número de faces, arestas e vértices de 𝑃 , respectivamente. Como 𝑃 é
uma superfície poliédrica aberta (simplesmente conectada), o conhecido teorema de Euler
assume aqui a forma

𝐹 −𝐸+𝑉 =1

O teorema de Euler está intimamente ligado ao nosso análogo do teorema de Gauss-


Bonnet. De fato, mataremos dois coelhos com uma cajadada e derivaremos os dois juntos.
Nossa prova precisa de dois lemas bem conhecidos e a introdução de notação apropri-
ada.

Lema 1. A soma dos ângulos em um polígono plano com 𝑛 lados é (𝑛 − 2)𝜋.

Lema 2. Consideramos o ângulo poliédrico 𝐻 e seu ângulo polar poliédrico 𝐻 ′ . Chama-


mos 𝐿 a soma dos ângulos faciais de 𝐻 e 𝐴′ a medida do ângulo sólido incluído por 𝐻 ′ .
Então
𝐴′ = 2𝜋 − 𝐿.

De acordo com a definição bem conhecida dos ângulos poliedros polares, cada aresta
de 𝐻 ′ corresponde e é perpendicular a uma face de 𝐻. Se assumirmos por um momento
que a mão 𝐻 ′ tem o mesmo vértice e descreve uma esfera unitária sobre esse vértice
comum como centro, cada ângulo poliédrico intercepta a esfera em um polígono esférico:
o polígono esférico associado a 𝐻 tem o perímetro 𝐿 e aquele associado a 𝐻 ′ a área 𝐴′ .
Seja 𝐹3 , 𝐹4 , 𝐹5 ,. . . o número das faces triangulares, quadrilaterais, pentagonais, . . . de
𝑃 , respectivamente. Obviamente

𝐹3 + 𝐹4 + 𝐹5 + . . . = 𝐹. (5)
2.4. Análogo ao Teorema Discreto de Gauss-Bonnet 21

Algumas das arestas de 𝑃 não pertencem, e outras pertencem, ao limite 𝑅 de 𝑃 .


Deixe 𝐸𝑖 denotar o número das arestas anteriores (internas) e 𝐸𝑏 , o número das arestas
posteriores (limite). Obviamente

𝐸𝑖 + 𝐸𝑏 = 𝐸. (6)
Alguns dos vértices de 𝑃 não pertencem, e outros pertencem, ao limite 𝑅. Seja 𝑉𝑖 o
número do primeiro, 𝑉𝑏 o seguinte. Obviamente

𝑉𝑖 + 𝑉𝑏 = 𝑉. (7)
∑︀
Seja 𝛼 um ângulo de qualquer das faces 𝐹 de 𝑃 , e o 𝛼 a soma de todos esses ângulos,
∑︀ ∑︀
𝑖 𝛼 para a soma dos ângulos cujo vértice não pertence a 𝑅 e 𝑏 𝛼 para a soma daqueles
cujo vértice pertence a 𝑅. Obviamente

∑︁ ∑︁ ∑︁
𝛼+ 𝛼= 𝛼. (8)
𝑖 𝑏

É visto casualmente que

3𝐹𝑠 + 4𝐹4 + 5𝐹5 + . . . = 2𝐸𝑖 + 𝐸𝑏 . (9)

𝐸𝑏 = 𝑉𝑏 . (10)

∑︁
𝛼 = 𝜋𝐹3 + 2𝜋𝐹4 + 3𝜋𝐹5 + . . . (11)
Na derivação 11, usamos o Lema 1.
A mudança total da direção 𝑇 do limite 𝑅 de 𝑃 é a soma das mudanças de direção
de 𝑅 em seus vários vértices. Se um desses vértices estiver no limite de apenas uma
das faces 𝐹 de 𝑃 , e o ângulo dessa face nesse vértice for 𝛼, a mudança de direção será
𝜋 − 𝛼. Se, no entanto, um dos vértices de 𝑅 pertence a várias faces contíguas de 𝑃 e essas
faces têm nesse vértice os ângulos 𝛼′ , 𝛼′′ , 𝛼′′′ , respectivamente, a mudança de direção é
𝜋 − 𝛼′ − 𝛼′′ − 𝛼′′′ − . . . Portanto, a mudança total de direção é

∑︁
𝑇 = 𝜋𝑉𝑏 − 𝛼. (12)
𝑏
Ao dar o próximo passo, nos restringimos ao caso mais intuitivo. Partimos de um
poliedro 𝐶 convexo, desenhamos a linha poligonal fechada 𝑅 na face e obtivemos 𝑃 como
uma das duas partes nas quais 𝑅 divide a superfície de 𝐶. Desenhamos para cada uma
das faces de 𝑃 a normal (uma normal externa a 𝐶). Então pegamos uma esfera unitária
em torno de um ponto fixo 𝑂 do espaço e desenhamos para cada normal um raio paralelo.
Esses raios cruzam a superfície da esfera unitária em pontos 𝐹 ; usaremos esses pontos
𝐹 na construção da imagem esférica de 𝑃 . De fato, 𝐻 seja o ângulo poliédrico (interior
22 Capítulo 2. Preliminares

de 𝐶) incluído pelas faces de 𝑃 que se encontram em um dos cinco vértices interiores


de 𝑃 . Vamos desenhar 𝐻 ′ , o ângulo poliédrico polar para 𝐻, com 𝑂 como vértice. Os
vértices do polígono esférico associados a 𝐻 ′ estão entre os pontos 𝐹 que acabamos de
construir. A imagem esférica completa de 𝑃 consiste nesses polígonos esféricos, cada um
correspondendo a um vértice interior de 𝑃 . Compondo a área de cada um desses polígonos
𝑉𝑖 com base no Lema 2, descobrimos que a área total da imagem esférica é

∑︁
𝑆 = 2𝜋𝑉𝑖 − 𝛼. (13)
𝑖
Usamos primeiro as equações 13, 12 e 8 e passamos para as seguintes linhas usando
11, depois 9 e 5 e finalmente 10:

∑︁
𝑆 + 𝑇 = 2𝜋𝑉𝑖 + 𝜋𝑉𝑏 − 𝛼

= 𝜋[2𝑉𝑖 + 𝑉𝑏 − (𝐹3 + 2𝐹4 + 3𝐹5 + . . .)]

= 𝜋[2𝑉𝑖 + 𝑉𝑏 − (2𝐸𝑖 + 𝐸𝑏 − 2𝐹 )]

= 𝜋[2𝐹 − 2𝐸𝑖 − 2𝐸𝑏 + 2𝑉𝑖 + 2𝑉𝑏 ]


Usando 6 e 7 obtemos:

𝑆 + 𝑇 = 2𝜋[𝐹 − 𝐸 + 𝑉 ]. (14)
Agora vamos observar um ponto importante. Existe uma superfície poliédrica "plana"𝑃𝑓 ,
que possui exatamente 𝐹 faces, 𝐸 arestas e 𝑉 vértices, todos contidos no mesmo plano.
(Se obtivemos 𝑃 de um poliedro convexo 𝐶 dividindo a superfície de 𝐶 em duas partes
pela linha fechada 𝑅, vamos escolher qualquer ponto 𝑝 no "outro lado"de 𝑅; ou seja, 𝑝
pertence a superfície de 𝐶, mas não pertence a 𝑃 ou 𝑅.
Agora, 𝑃 é "totalmente visível"a partir de 𝑝; ou seja, podemos projetar 𝑃 a partir de
𝑝 como centro de projeção em um plano de uma maneira: a projeção assim obtida pode
ser tomado como 𝑃𝑓 , que é, de fato, a divisão de um polígono plano com 𝐸𝑏 lados em 𝐹
polígonos. Obviamente, poderíamos achatar 𝑃 em 𝑃𝑓 , passo a passo, ou seja, passar de
um para o outro por uma deformação contínua.) Nossa derivação anterior e seu resultado
14 são válidos não apenas para 𝑃 , mas também para 𝑃𝑓 . No entanto, obviamente, a
imagem esférica de 𝑃𝑓 reduz a um ponto, sua área 𝑆𝑓 é nula e 𝑇𝑓 o total da mudança de
direção do limite de 𝑃𝑓 é 2𝜋 (pelo Lema 1) e, portanto, o lado esquerdo de 14 reduz para
0 + 2𝜋: ainda o lado direito é o mesmo para 𝑃𝑓 , como para 𝑃 . Portanto, obtemos de uma
só vez

𝑆 + 𝑇 = 2𝜋 e 𝐹 − 𝐸 + 𝑉 = 1
2.5. Aritmética de Ponto Flutuante 23

Para aplicar a variante que acabamos de provar do teorema de Gauss-Bonnet, consi-


deremos cada uma das faces 𝐹 de 𝑃 como uma placa rígida; essas placas são unidas ao
longo do 𝐸𝑖 , bordas internas, como nas dobradiças. Se alguns dos vértices internos de
𝑉𝑖 tiverem mais de três arestas, a superfície poliédrica 𝑃 , embora consistindo em placas
rígidas, pode ser flexível, de formato variável. Quando 𝑃 varia, também o formato de sua
imagem esférica pode variar. No entanto, 𝑇 , a mudança total de direção ao longo da borda
de 𝑃 , permanece inalterada e, portanto, deve permanecer também a área 𝑆 = 2𝜋 − 𝑇 da
imagem esférica. Esta é a contraparte elementar do teorema egregium de Gauss, segundo
a qual a curvatura (gaussiana) de uma superfície permanece inalterada quando a superfí-
cie é dobrada. O escopo do teorema provado seria consideravelmente ampliado por uma
discussão clara da validade do Lema 2 para ângulos poliédricos não convexos.

2.5 Aritmética de Ponto Flutuante


A representação usual dos números é feita utilizando um sistema de posicionamento
na base 10, isto é, o número 327, 302 significa

3 · 102 + 2 · 101 + 7 · 100 + 3 · 10−1 + 0 · 10−2 + 2 · 10−3

Em geral utilizamos a base 10, porém qualquer número natural B ≥ 2 pode ser utilizado
como base. Se B é a base escolhida o número

𝑎𝑛 𝑎𝑛−1 . . . 𝑎2 𝑎1 𝑎0 , 𝑎−1 𝑎−2 . . .

Representa na base 10 o número

𝑎𝑛 · 𝐵 𝑛 + 𝑎𝑛−1 · 𝐵 𝑛−1 + . . . + 𝑎2 · 𝐵 2 + 𝑎1 · 𝐵 1 + 𝑎0 · 𝐵 0 + 𝑎−1 · 𝐵 −1 + 𝑎−2 · 𝐵 −2 . . .

onde os coeficientes 𝑎𝑖 são algarismos tais que 0 ≤ 𝑎𝑖 < 𝐵.

Os computadores por simplificação de funcionamento, operam normalmente na base


2, chamada base binária. Por exemplo, o número 1001, 101 representa o número

1 · 103 + 0 · 102 + 0 · 102 + 1 · 100 + 1 · 10−1 + 0 · 10−2 + 1 · 10−3 = 9, 625

na base decimal.

Os computadores utilizam também a seguinte normalização para representação dos


números

±0, 𝑑1 𝑑2 . . . 𝑑𝑡 · 𝐵 𝑒
24 Capítulo 2. Preliminares

onde 𝑑1 ̸= 0, 0 ≤ 𝑑𝑖 < 𝐵, 𝑖 = 1, 2, . . . , 𝑡 e 𝑚 ≤ 𝑒 ≤ 𝑀 .

O número

0, 𝑑1 𝑑2 . . . 𝑑𝑡

é chamado de Mantissa, 𝐵 é a base, 𝑒 é o expoente, 𝑚 o limite inferior e 𝑀 o li-


mite superior do expoente e 𝑡 o número de algarismos significativos. Esta representação
é chamada de representação em ponto flutuante na base 𝐵 com 𝑡 algarismos significativos.

Vejamos dois exemplos de números binários normalizados usando 𝑡 = 8.

𝑛1 = 0, 11100110 · 22 cujo correspondente na base 10 é 3, 59375

𝑛1 = 0, 11100111 · 22 cujo correspondente na base 10 é 3, 609375

Note que, no sistema de representação utilizado, 𝑛1 e 𝑛2 são dois números consecutivos,


isto é, não podemos representar nenhum outro número que tenha valor intermediário. Por
exemplo o número decimal 3,6 por exemplo, não tem representação exata. Além disso, os
computadores tem uma quantidade fixa de algarismos significativos, ou seja, o valor de t,
as vezes menores que o apresentado nos exemplos. Esses fatos, ilustram erros nos dados,
devido ao arredondamento ou truncamento.

2.6 Operações aritméticas em ponto flutuante


Ao contrário do que é válido para os números reais, as operações de adição e multi-
plicação em aritmética de ponto flutuante não são associativas, nem distributivas. Isto
se deve ao fato de, numa série de operações aritméticas, o arredondamento ser feito após
cada operação.

Por exemplo, para 𝐵 = 10 e 𝑡 = 3 temos:


𝑎1 )

(4, 26 + 9, 24) + 5, 04 = 13, 5 + 5, 04 = 18, 5


enquanto
4, 26 + (9, 24 + 5, 04) = 4, 26 + 14, 3 = 18, 6
2.6. Operações aritméticas em ponto flutuante 25

𝑎2 )

(4210 − 4, 99) − 0, 02 = 4210 − 0, 02 = 4210


enquanto
4210 + (4, 99 + 0, 02) = 4210 − 5, 01 = 4200

𝑎3 )
0, 123
( ) · 84, 9 = 0, 0154 · 84, 9 = 1, 31
7, 97
enquanto
0, 123 · 84, 9 10, 4
( ) = = 1, 30
7, 97 7, 97

𝑎4 )

15, 9 · (4, 99 + 0, 02) = 15, 9 · 5, 01 = 19, 7


enquanto
(15, 9 · 4, 99) + (15, 9 · 0, 02) = 79, 3 + 0, 318 = 79, 6

Note que, pelo arredondamento, operar números muito grandes com números muito
pequenos, será entendido pelo computador, como se não tivesse feito nenhuma opera-
ção. Assim, os erros de arredondamento introduzidos a cada operação efetuada influirão
na solução obtida através do método numérico utilizado. Como consequência, métodos
numéricos matematicamente equivalentes podem fornecer resultados diferentes.
26 Capítulo 2. Preliminares
27

Capítulo 3
Triangulação do tipo Saraf

Seja Σ uma superfície poliédrica. Como cada face de Σ é um polígono, cada face pode
ser triangulada usando apenas triângulos não obtusos, mas não é óbvio se Σ admite uma
triangulação não obtusa própria. Saraf provou em (SARAF, 2009) o seguinte teorema.

Teorema 3. Toda superfície poliédrica Σ tem uma triangulação própria não obtusa.

Demonstração. Vamos esboçar a prova de Saraf. Para um ponto 𝑃 de uma superfície


poliédrica Σ, um círculo de raio 𝜌 centrado em 𝑃 significa um conjunto de pontos em Σ
dentro da distância geodésica 𝜌 de 𝑃 . Suponha que cada face de Σ seja um triângulo,
e o comprimento da aresta mínima seja 10. Seja Θ o mínimo dos ângulos internos dos
triângulos, e seja 𝑡 = sin Θ/2. Em cada vértice de Σ, coloque um círculo de raio 1 e cubra
a parte restante das bordas por círculos de raios aproximadamente 𝑡 como na Figura 6 de
tal maneira que as distâncias dos centros dos círculos de raios mutuamente sobrepostos

sejam aproximadamente 𝑡 encontram-se entre 𝑡 e 2𝑡.
Para cada face 𝜎 (triângulo) de Σ, deixe 𝑄𝜎 denotar a parte descoberta de 𝜎. Então,
é possível tomar um conjunto 𝑉 de pontos no limite de 𝑄𝜎 com pontos pretos incluídos
∙ mostrados na Figura 6 de modo que (1) o polígono 𝑃𝑣 obtido por conectar os vértices
em 𝑉 consecutivamente ao longo do limite de 𝑄𝜎 tem uma triangulação não obtusa sem

Figura 6 – Cubra as arestas por círculos de raio 1 e t. Retirada de (MAEHARA, 2011).


28 Capítulo 3. Triangulação do tipo Saraf

outros vértices na fronteira de 𝑃𝑣 , e (2) 𝜎 𝑖𝑛𝑡(𝑃𝑣 ) tem uma triangulação aguda usando
apenas os centros ∘ e 𝑉 como o vértice conjunto. (Para provar (1), Saraf usou uma grade
retangular suficientemente fina imposta em 𝑄𝜎 .) Assim, todas as faces de Σ possuem
triangulações não obtusas, que se encaixam umas nas outras nas bordas originais de Σ e
constituem uma triangulação não obtusa de Σ.

A prova de Saraf mostra ainda que Σ tem uma triangulação própria não obtusa,
satisfazendo a seguinte condição:

o Cada triângulo que tenha pelo menos um vértice no limite de uma face de Σ é um
triângulo agudo.

Vamos chamar uma triangulação não obtusa própria de Σ que satisfaça essa condição
de uma triangulação do tipo Saraf de Σ.
Infelizmente, a triangulação não-obtusa de (SARAF, 2009) não é adequada para esti-
mar o número de triângulos na triangulação. Então, modificamos o método de empacota-
mento de círculo em (BERN; MICHELL; RUPPERT, 1995) para obter uma triangulação
própria do tipo Saraf nos próximos capítulos.
29

Capítulo 4
Um ciclo de círculos

Uma sequencia cíclica de 𝑘 círculos 𝐷0 , 𝐷1 , ..., 𝐷𝑘−1 , (𝑘 ≥ 3) em um plano é chamado


de ciclo de 𝑘 círculos se os 𝑘 círculos estiverem mutuamente não sobrepostos, e cada 𝐷𝑖
é tangente a apenas 𝐷𝑖−1 e 𝐷𝑖+1 (onde os subscritos são obtidos no módulo 𝑘). Para
um ciclo de 𝑘 círculos, um polígono de 𝑘 lados é obtido conectando os centros de círcu-
los mutuamente tangentes, o que é chamado de 𝑘-polígono determinado pelo ciclo de 𝑘
círculos. Cada borda desse 𝑘-polígono contém o ponto de contato de dois círculos com
centros nos pontos finais da aresta. Todas as bordas desse 𝑘-polígono são cobertas pelos 𝑘
círculos, e a parte descoberta dentro do 𝑘-polígono (o restante no 𝑘-polígono) é chamado
de polígono de arco lateral. Será determinado o número de triângulos em uma triangula-
ção não obtusa de um 𝑘-polígono determinado por um ciclo de 𝑘 círculos, os resultados
desse capítulo podem ser encontrados em (MAEHARA, 2011) e foram motivados pela
triangulação não obtusa de polígonos induzida por um ciclo de círculos apresentada em
(BERN; MICHELL; RUPPERT, 1995).

Lema 3. Cada triângulo determinado por um ciclo de três círculos tem uma triangulação
aguda com no máximo 10 triângulos, nos quais os vértices introduzidos no limite do triân-
gulo são apenas os três pontos de contato nas bordas e todos os outros recém-introduzidos
vértices estão dentro do triângulo.

Figura 7 – Uma parte de 𝑇 (e 𝑇1 ) em uma face de Σ. Retirada de (MAEHARA, 2011).


30 Capítulo 4. Um ciclo de círculos

Demonstração. Seja 𝐷1 , 𝐷2 , 𝐷3 um ciclo de três círculos com os centros 𝐴1 , 𝐴2 , 𝐴3 . Faça


a inscrição de um círculo 𝐷0 no polígono de arco de 3 lados determinados por 𝐷1 , 𝐷2 ,
𝐷3 como mostrado na Figura 7, e seja 𝐴0 o centro de 𝐷0 . Seja 𝑃𝑖𝑗 (0 ≤ 𝑖 < 𝑗 ≤ 3) o
ponto de contato de 𝐷𝑖 e 𝐷𝑗 . Nós mostraremos que os 10 triângulos seguintes são todos
triângulos agudos:

Δ𝑃01 𝑃02 𝑃03 , Δ𝑃12 𝑃01 𝑃02 , Δ𝑃23 𝑃02 𝑃03 , Δ𝑃13 𝑃01 𝑃03
Δ𝐴1 𝑃01 𝑃12 , Δ𝐴1 𝑃01 𝑃13 , Δ𝐴2 𝑃02 𝑃12 , Δ𝐴2 𝑃02 𝑃23 , Δ𝐴3 𝑃03 𝑃23 , Δ𝐴3 𝑃03 𝑃13

(1) 𝑃01 encontra-se na 𝐴0 𝐴𝑖 , 𝑖 = 1, 2, 3, o segmento de linha 𝑃0𝑖 𝑃0𝑗 encontra-se em


Δ𝐴𝑖 𝐴0 𝐴𝑗 e, portanto, 𝐴0 fica dentro de Δ𝑃01 𝑃02 𝑃03 . Então, o circuncentro de Δ𝑃01 𝑃02 𝑃03
fica dentro de Δ𝑃01 𝑃02 𝑃03 e, portanto, é um triângulo agudo.

(2) Seja 𝑥 = 𝐴0 𝑃02 𝑃03 , 𝑦 = 𝐴2 𝑃23 𝑃02 , 𝑧 = 𝐴3 𝑃03 𝑃23 . Então, em Δ𝐴0 𝐴2 𝐴3 ,

𝜋 = 𝐴0 + 𝐴2 + 𝐴3 = 𝜋 − 2𝑥 + 𝜋 − 2𝑦 + 𝜋 − 2𝑧 = 3𝜋 − 2(𝑥 + 𝑦 + 𝑧)

Portanto 𝑥 + 𝑦 + 𝑧 = 𝜋, e em Δ𝑃02 𝑃23 𝑃03

𝑃02 = 𝜋 − (𝑥 + 𝑦) = 𝑧, 𝑃23 = 𝜋 − (𝑦 + 𝑧) = 𝑥, 𝑃03 = 𝜋 − (𝑥 + 𝑧) = 𝑦.

Então, 𝑥, 𝑦, 𝑧 < 𝜋/2, o triângulo Δ𝑃02 𝑃23 𝑃03 é um triângulo agudo. Similarmente,
Δ𝑃01 𝑃12 𝑃02 , Δ𝑃03 𝑃13 𝑃01 são triângulos agudos.

(3) Seja 𝑟𝑖 o raio de 𝐷𝑖 (𝑖 = 0, 1, 2, 3). Então 𝑟0 < 𝑚𝑖𝑛{𝑟1 , 𝑟2 , 𝑟3 }. Deixe |𝐴𝑖 𝐴𝑗 | = 𝑟𝑖 + 𝑟𝑗 ,


a borda 𝐴𝑖 𝐴𝑗 é a borda mais longa em Δ𝐴0 𝐴𝑖 𝐴𝑗 , o que implica que Δ𝐴𝑖 𝐴0 𝐴𝑗 é o maior
ângulo em Δ𝐴0 𝐴𝑖 𝐴𝑗 . Isto implica que Δ𝐴0 𝐴𝑖 𝐴𝑗 < 𝜋/2 e Δ𝐴0 𝐴𝑗 𝐴𝑖 < 𝜋/2. Consequente-
mente,

Δ𝐴1 𝑃01 𝑃12 , Δ𝐴1 𝑃01 𝑃13 , Δ𝐴2 𝑃02 𝑃12 , Δ𝐴2 𝑃02 𝑃23 , Δ𝐴3 𝑃03 𝑃23 , Δ𝐴3 𝑃03 𝑃13

são triângulos agudos.

O próximo lema é uma consequência dos Lemas em (BERN; MICHELL; RUPPERT,


1995).

Lema 4. Cada quadrilátero determinado por um ciclo de quatro círculos tem uma trian-
gulação não obtusa com no máximo 56(= 28 + 28) triângulos, nos quais os novos vértices
adicionados no limite do quadrilátero são apenas os quatro pontos de contato nas bordas,
e todos os outros novos vértices estão dentro do quadrilátero.
31

O próximo lema também é provado em (BERN; MICHELL; RUPPERT, 1995).

Lema 5. Em cada polígono do arco do lado 𝑘, 𝑘 > 4, é possível empacotar no máximo


𝑘 − 4 círculos de modo que a parte restante no lado 𝑘 polígono de arco divide-se em no
máximo 2𝑘 − 7 polígonos de arco, cada um com três ou quatro lados.

Dos Lemas 3 a 5, temos o seguinte.

Corolário 1. Um 𝑘-polígono (𝑘 ≥ 4) determinado por um ciclo de 𝑘 círculos tem uma


triangulação não obtusa com no máximo 56(2𝑘 − 7) triângulos, nos quais os vértices
recém-introduzidos nas bordas do 𝑘-polígono são apenas os 𝑘 pontos de contato.
32 Capítulo 4. Um ciclo de círculos
33

Capítulo 5
Triangulação do tipo Saraf induzida por
um ciclo de círculos

Neste capítulo será apresentada a construção de (MAEHARA, 2011) no qual ele com-
bina o método de empacotamento de círculos de (BERN; MICHELL; RUPPERT, 1995),
com a ideia de (SARAF, 2009) e (MAEHARA, 2002) para a construção de uma triangu-
lação do tipo Saraf e apresenta uma quantidade máxima de triângulos.

Seja Σ uma superfície poliédrica e 𝑉 , 𝐸, 𝐹 denotam o conjunto de vértices, o conjunto


de arestas e o conjunto de faces de Σ, respectivamente. Então, |𝑉 | − |𝐸| + |𝐹 | = 𝜒, a
característica de Euler de Σ. Para um vértice 𝑣 ∈ 𝑉 , seja Θ(𝑣) a soma dos ângulos das
faces em 𝑣. Por exemplo, se Σ é a superfície de um cubo, então Θ(𝑣) = 3𝜋/2 para cada
𝑣 ∈ 𝑉 . Lembre-se que um círculo em Σ centrado em um vértice 𝑣, com raio 𝜌 significa
um conjunto de pontos em Σ dentro da distância geodésica 𝜌 de 𝑣. Assim, o perímetro
de um círculo de raio 𝜌 < 𝛿 centrado em um vértice 𝑣 ∈ 𝑉 é igual a 𝜌 · Θ(𝑣).
Defina 𝐾(𝑣) da seguinte maneira:

⎨𝜋 − Θ(𝑣) se 𝑣 está no limite 𝜕Σ de Σ
𝐾(𝑣) = ⎩
2𝜋 − Θ(𝑣) caso contrário.
Então, o seguinte Teorema Poliédrico de Gauss-Bonnet é válido. Para uma prova, veja
(PÓLYA, 1954) explorado na Seção 2.4.

Lema 6.
∑︀
𝑣∈𝑉 𝐾(𝑣) = 2𝜋𝜒

Corolário 2. Θ(𝑣) ≤ 2𝜋(|𝐸| − |𝐹 |) < 2𝜋|𝐸|


∑︀
𝑣∈𝑉

Lema 7. Sejam Γ e ϒ círculos externamente tangentes; Γ tem centro 𝑂 e raio 𝑅; ϒ tem


centro 𝑃 e raio 𝑟. Seja 𝑂𝐴, 𝑂𝐵 duas linhas tangentes de ϒ em 𝐴 e 𝐵, respectivamente,
2𝑟
e seja 𝜙 = ∠𝐴𝑂𝐵. Então, 𝑅+𝑟 < 𝜙 < 2𝑟
𝑅
𝑟 𝜙 𝑟 𝑟
Demonstração. Como sin 𝜙/2 < 𝜙/2 < tan 𝜙/2, temos 𝑅+𝑟
< 2
< |𝑂𝐴|
< 𝑅
. Multipli-
cando por 2, temos o lema.
34 Capítulo 5. Triangulação do tipo Saraf induzida por um ciclo de círculos

Proposição 1. Toda superfície poliédrica Σ tem uma triangulação do tipo Saraf com no
máximo 𝐶𝐿𝑛/(𝛿Θ) triângulos, onde 𝐶 é uma constante, 𝑛 é o número de arestas em Σ,
𝐿 é o comprimento da borda mais longa em Σ, 𝛿 é o valor mínimo da distância geodésica
de um vértice a uma aresta que não é incidente ao vértice e Θ é o menor ângulo de face
de Σ.

O fator 𝐿/𝛿Θ no limite superior é necessário em nossa prova. No entanto, (MA-


EHARA, 2011) explica que não sabe se esse fator é essencial ou não.

Demonstração. Podemos considerar o caso Θ ≤ 1. Seja 𝑅 = 𝛿/3 e 𝑟 = 𝑅Θ/5. Denote


o comprimento de uma aresta 𝑒 de Σ por 𝑙(𝑒). Primeiro cubra todas as bordas de Σ
por círculos mutuamente não sobrepostos de raios 𝑅 e aproximadamente 𝑟 da seguinte
maneira.

(1) Para cada vértice de Σ, coloque um círculo de raio 𝑅 com centro no vértice.

(2) Para cada aresta 𝑒, cubra sua parte não coberta colocando [(𝑙(𝑒)/2 − 𝑅)/𝑟] círcu-
𝑙(𝑒)/2−𝑅
los de raio [(𝑙(𝑒)/2−𝑅)/𝑟] (≈ 𝑟) com centros em 𝑎 aresta 𝑒.

Esses círculos são chamados de círculos de cobertura de borda.Denote o conjunto de


círculos de borda por 𝜀, veja a Figura 8. Os tamanhos 𝑅 e 𝑟 são escolhidos de forma que
os círculos de borda nunca se sobreponham.
Então a parte descoberta de cada face de Σ torna-se um polígono de arco. Em seguida,
em cada polígono de arco, empacotamento de círculos (círculos de tipos 𝑎, 𝑏, 𝑐, denotado
por 𝐷𝑎𝑏𝑐 ) da seguinte maneira:

(a) Primeiro, para cada par de arcos adjacentes do mesmo raio, ≈ 𝑟, coloque um cír-
culo do mesmo raio tangente a ambos os arcos. Estes tipos de círculos são chamados de
tipo 𝑎, veja a Figura 9.

(b) Em seguida, para cada par de arcos adjacentes de raio 𝑅 e raio,≈ 𝑟, coloque um
círculo tangente a ambos os arcos e também tangente para um círculo do tipo 𝑎. Esse
tipo de círculo é chamado de tipo 𝑏, veja a Figura 9. O diâmetro de um círculo do tipo
𝑏 é obviamente maior que 𝑟, e é inferior a 1, 221𝑟 (se 𝑟 = 𝑅/5, então o diâmetro é de
aproximadamente 1, 2207𝑟). Como 𝑟 = 𝑅Θ/5, quaisquer dois círculos do tipo 𝑏 é disjunto
pelo Lema 7.
(c) Por fim, círculos de pacote (círculos do tipo 𝑐) de raios no máximo tangentes aos
arcos de raio 𝑅 de modo que todos os círculos dos tipos 𝑎, 𝑏, 𝑐 façam um ciclo de círculos.
(Faça o número de círculos do tipo 𝑐 o menor número possível. Então os raios dos círculos
35

Figura 8 – 𝜀 = círculos de cobertura de borda. Retirada de (MAEHARA, 2011).

Figura 9 – 𝐷𝑎𝑏𝑐 =círculos dos tipos 𝑎, 𝑏, 𝑐. Retirada de (MAEHARA, 2011).

do tipo 𝑐 são tangentes a um arco de 𝑅 são todos 𝑟 exceto o último cujo raio é ajustado
para ser inscrito no pequeno espaço restante.
É claramente possível empacotar círculos em cada polígono de arco da maneira acima.
Vamos estimar aqui |𝐷𝑎𝑏𝑐 |, o número de círculos dos tipos 𝑎, 𝑏, 𝑐. O número de círculos
do tipo 𝑎 é no máximo 2 · 𝐿−2𝑅−2𝑟
2𝑟
· 𝑛. Tangente para um círculo de raio 𝑅 centrado em
𝑅+𝑟
𝑣 ∈ 𝑉 , há no máximo Θ(𝑣) · 2𝑟 círculos de raio ≈ 𝑟 pelo por Lema 7 (entre eles, círculos
𝑑𝑒𝑔(𝑣) são círculos de cobertura de borda), no máximo 2𝑑𝑒𝑔(𝑣) do tipo 𝑏 e, no máximo,
círculos 𝑑𝑒𝑔(𝑣) círculos do tipo 𝑐 embalados em pequenos intervalos. Assim, em torno de
um círculo de raio 𝑅 centrado em 𝑣, há no máximo 2𝑑𝑒𝑔(𝑣) + Θ(𝑣) · 𝑅+𝑟 2𝑟
círculos dos tipos
𝑏 e 𝑐. Portanto, |𝐷𝑎𝑏𝑐 | é no máximo

(𝐿 − 2𝑅 − 2𝑟)𝑛 ∑︁ ∑︁ 𝑅+𝑟
+2 𝑑𝑒𝑔(𝑣) + Θ(𝑣) ·
𝑟 𝑣∈𝑉 𝑣∈𝑉 2𝑟

∑︀ ∑︀
Então Θ(𝑣) < 2𝜋𝑛 pelo Corolário 2 e 𝑑𝑒𝑔(𝑣) = 2𝑛 nós temos

𝐿𝑛 (𝜋 − 2)𝑅𝑛
|𝐷𝑎𝑏𝑐 | < + + (𝜋 + 2)𝑛
𝑟 𝑟

𝛿 𝐿 𝑅𝜃 𝑅 𝐿
Como 𝛿 < 𝐿, temos que 𝑅 = 3
< 3
e como 𝜃 ≤ 1, temos 𝑟 = 5
≤ 5
≤ 15
. Agora,
36 Capítulo 5. Triangulação do tipo Saraf induzida por um ciclo de círculos

𝐿𝑛 (𝜋 − 2)𝑅𝑛 1
+ + (𝜋 + 2)𝑛 = (𝐿 + (𝜋 − 2)𝑅 + (𝜋 + 2)𝑟)𝑛
𝑟 𝑟 𝑟
1 𝐿 𝐿
< (𝐿 + (𝜋 − 2) + (𝜋 + 2) )𝑛
𝑟 3 15
1
= (1 + (𝜋 − 2)/3 + (𝜋 + 2)/15)𝐿𝑛
𝑟
1 1
= (1 + 0, 38 + 0, 343)𝐿𝑛 = (1, 7226)𝐿𝑛
𝑟 𝑟
𝛿𝜃
Como 𝑟 = 15
temos

1 𝐿𝑛 𝐿𝑛 𝐿𝑛
(1, 7226)𝐿𝑛 = 15(1, 7226) = 25, 839 < 26
𝑟 (𝛿𝜃) (𝛿𝜃) (𝛿𝜃)
Agora, cada ciclo de círculos dos tipos 𝑎, 𝑏, 𝑐 determina um polígono. Seja 𝑚 = |𝐹 |, o
número de faces de Σ e deixe 𝑘1 , ..., 𝑘𝑚 ser o número de lados de 𝑚 polígonos determinados
por 𝑚 ciclos de círculos dos tipos 𝑎, 𝑏, 𝑐. Então, os segmentos de linha conectando os
centros de círculos mutuamente tangentes em 𝜀 ∪ 𝐷𝑎𝑏𝑐 dividem Σ em triângulos planares
e 𝑘𝑖 − 𝑝𝑜𝑙í𝑔𝑜𝑛𝑜, 𝑖 = 1, 2, .., 𝑚. Pelo Lema 3, cada triângulo tem uma triangulação aguda
com no máximo 10 triângulos agudos, nos quais vértices recém-adicionados no limite do
triângulo são apenas pontos de contato. E pelo Corolário 1, cada 𝑘𝑖 −𝑝𝑜𝑙í𝑔𝑜𝑛𝑜 (𝑘 ≥ 4) tem
uma triangulação não obtusa com no máximo 56(2𝑘𝑖 − 7) triângulos, nos quais os novos
vértices nas bordas do 𝑘𝑖 − 𝑝𝑜𝑙í𝑔𝑜𝑛𝑜 são apenas pontos de contato. Assim, observando
que (2𝑘𝑖 − 7) < |𝐷𝑎𝑏𝑐 |, há uma triangulação própria do tipo Saraf de Σ com no máximo
∑︀

𝐿
10 · 4|𝐷𝑎𝑏𝑐 | + 56 · 2|𝐷𝑎𝑏𝑐 | < 152 · 26( )𝑛
𝛿Θ
triângulos.
37

Capítulo 6
Triangulação aguda própria de
superfícies poliédricas

Neste Capítulo há uma prova da existência de uma triangulação aguda própria para
uma superfície poliédrica geral a partir de uma triangulação do tipo Saraf, resultado
encontrado em (MAEHARA, 2011).

Teorema 4. Uma superfície poliédrica Σ tem uma triangulação aguda própria com no
𝐿
máximo 𝐶( 𝛿Θ )𝑛 triângulos, onde 𝐶 é uma constante absoluta.

Esse Teorema segue da Proposição 1 e do seguinte resultado.

Proposição 2. Se Σ tem uma triangulação do tipo Saraf com 𝑣 triângulos não obtusos,
então Σ tem uma triangulação aguda própria com no máximo 12𝑣 triângulos.

Corolário 3. Toda superfície poliédrica admite uma triangulação aguda própria.

Prova da Proposição 2. Seja 𝑇 uma triangulação tipo Saraf de Σ com 𝑣 triângulos. Todo
vértice de 𝑇 que está dentro de uma face de Σ é chamado de vértice preto e denotado
por ∙, enquanto todos os vértices situados no limite de uma face são denotados por ∘,
veja a Figura 10 á esquerda, que mostra uma parte de 𝑇 em uma face de Σ. Então, pela
condição acima, todo triângulo retângulo em 𝑇 tem três vértices negros.
Para cada aresta de 𝑇 , pegue seu ponto médio (denotado por) 𝑒, em seguida, divida
cada triângulo de 𝑇 da seguinte maneira:
Para um triângulo não-obtuso 𝐴𝐵𝐶 de 𝑇 , seja 𝐿, 𝑀 , 𝑁 os pontos médios das arestas
opostas a 𝐴, 𝐵, 𝐶, respectivamente. Se 𝐴𝐵𝐶 é um triângulo agudo, então divida 𝐴𝐵𝐶
adicionando as arestas 𝐿𝑀 , 𝑀 𝑁 , 𝑁 𝐿. Se 𝐴𝐵𝐶 é um triângulo retângulo com ângulo
𝐴 = 𝜋/2, então divida 𝐴𝐵𝐶 adicionando bordas 𝐴𝐿, 𝐿𝑀 , 𝐿𝑁 .
Então nós obtemos uma subdivisão 𝑇1 de 𝑇 , veja a Figura 10 á direita. Note que em
relação ao 𝑇1 , o seguinte é válido:
38 Capítulo 6. Triangulação aguda própria de superfícies poliédricas

Figura 10 – Uma parte de 𝑇 (e 𝑇1 ) em uma face de Σ. Retirada de (MAEHARA, 2011).

Figura 11 – Uma parte de 𝑇 (e 𝑇1 ) em uma face de Σ. Retirada de (MAEHARA, 2011).

(1) 𝑇1 é uma triangulação tipo Saraf de Σ com 4𝑣 triângulos.

(2) Triângulos em 𝑇1 que não têm vértice preto são triângulos agudos.

(3) Cada triângulo em 𝑇1 tem no máximo um vértice preto.

(4) Se um triângulo em 𝑇1 tem um vértice preto, então seu ângulo interior no vértice
preto é menor que 𝜋2 .

Agora, pegue um vértice preto 𝑃 em 𝑇1 e seja 𝑘 seu grau, 𝑃 𝑀𝑖 (𝑖 = 1, 2, ...𝑘), as


arestas que emanam de 𝑃 . Tome um pequeno círculo centrado em 𝑃 e circunscrevendo
um polígono de 𝑘 lados 𝐴1 𝐴2 ...𝐴𝑘 para este círculo de tal forma que 𝑘 arestas do polígono
cortem perpendicularmente as 𝑘 arestas que emanam de 𝑃 , veja a Figura 11. E então,
substitua cada aresta que emana de 𝑃 em 𝑇1 (linhas tracejadas na Figura 11) como
mostrado na Figura 11.
Então, como o 𝑃 𝐴1 divide o 𝑀1 𝑃 𝑀2 e o 𝑃 𝐴2 divide o 𝑀2 𝑃 𝑀3 , segue que os ângulos
𝐴1 𝑃 𝐴2 = (𝑀1 𝑃 𝑀2 + 𝑀2 𝑃 𝑀3 )/2 < 𝜋/2 por (4). Por isso, o triângulo 𝐴1 𝑃 𝐴2 é um
triângulo agudo. Da mesma forma 𝑘 triângulos ao redor de 𝑃 são todos triângulos agudos.
Será óbvio a partir de (1),(3) e (4) que se o círculo centrado em 𝑃 é muito pequeno (e
39

daqui opolígono de 𝑘 lados circunscrito é muito pequeno), então os triângulos que cercam
o polígono de 𝑘 lados 𝐴1 𝐴2 ...𝐴𝑘 tornam-se triângulos agudos por tal substituição. Como
não há dois vértices negros adjacentes, podemos aplicar essa operação de substituição
independentemente para cada vértice preto e, em seguida, obter uma nova triangulação
𝑇2 de Σ. Segue-se agora de (2) que todos os triângulos em 𝑇2 são triângulos agudos.
Observe que, como nenhum vértice preto está no limite de uma face de Σ, todas as
bordas originais de Σ ainda permanecem em 𝑇2 em subdivisões formados. Assim, 𝑇2 é
uma triangulação aguda própria de Σ. Claramente, o número de triângulos em 𝑇2 é no
máximo 3(4𝑣) = 12𝑣.
40 Capítulo 6. Triangulação aguda própria de superfícies poliédricas
41

Capítulo 7
Estimativa aprimorada do número
máximo de triângulos

Através do estudo da construção de triangulação aguda própria de polígonos em (MA-


EHARA, 2002), foi possível melhorar a estimativa de número máximo de triângulos dada
por Maehara nesse caso. Esse resultado obtido por esse trabalho é apresentado no seguinte
Teorema.

Teorema 5. Se um polígono pode ser triangulado em 𝑁 triângulos não obtusos, então


ele pode ser triangulado em no máximo 8 · 64 𝑁 triângulos agudos.

Demonstração. Pela construção do Teorema de triangulação aguda própria de polígonos


apresentada em (MAEHARA, 2002) tem-se que |(𝑠𝑑)2 𝐷| ≤ 4 · 6|𝐷| ≤ 8 · 63 𝑁
Assim,

(arestas de 𝐴𝑖 ) ≤ |(𝑠𝑑)2 𝐷| ≤ 4 · 6|𝐷| ≤ 8 · 63 𝑁


∑︁

𝑖∈𝑙

e portanto,

(arestas de 𝐴𝑖 ) ≤ 8 · 64 𝑁
∑︁
6
𝑖∈𝑙

Essa nova estimativa de número máximo de triângulos para uma triangulação aguda
de polígonos pode melhorar a estimativa na triangulação aguda de superfícies poliédricas.
42 Capítulo 7. Estimativa aprimorada do número máximo de triângulos
43

Capítulo 8
Algoritmo de geração de malha

Após analisar os resultados apresentados nos capítulos anteriores, foram utilizadas


as etapas construtivas da demonstração do teorema de existência de Maehara para a
construção computacional de um algoritmo através do software GNU Octave para uma
triangulação do tipo Saraf.
O algoritmo aqui apresentado recebe uma superfície poliédrica Σ e faz em cada uma
de suas faces a triangulação do tipo Saraf, que não é uma triangulação aguda, mas uma
triangulação não obtusa cujos triângulos que tem um vértice nas bordas das faces são
triângulos agudos, apresentada por (MAEHARA, 2011).

Figura 12 – Exemplo de triangulação do tipo Saraf.

A Figura 12 mostra a face de uma superfície poliédrica triangulada com a triangulação


do tipo Saraf pelo algoritmo construído.
A baixo há uma representação dos passos do algoritmo que triangulariza cada face de
uma superfície poliédrica.
44 Capítulo 8. Algoritmo de geração de malha

Algoritmo 1 Triangulação do tipo Saraf


Dados de entrada: Σ – superfície poliédrica em R3 com 𝑛𝑎 arestas, 𝑛𝑣 vértices e 𝑛𝑓
faces.
Dados de saída : Σ–^ superfície poliédrica subdividida com uma triangulação do tipo
Saraf.
1 F ← [1, 2, 3, . . . , 𝑛𝑓 ] /* índices de 1 até 𝑛𝑓 , o número de faces */
2 J ← [1, 2, 3, . . . , 𝑛𝑎𝑓 ] /* índices de 1 até 𝑛𝑎𝑓 , o número de arestas na face 𝑓 */
3 I ← [1, 2, 3, . . . , 𝑛𝑣𝑓 ] /* índices de 1 até 𝑛𝑣𝑓 , o número de vértices na face 𝑓 */
4 for f ← F do
5 𝛿 ← [menor distância geodésica(Σ(𝑓 ))] /* calcula a menor distância geodésica de um
vértice a uma aresta não incidente a ele */
6 𝜃 ← [menor ângulo da face(Σ(𝑓 ))] /* calcula o menor ângulo interno de uma face */

7 for f ← F do
8 for i ← I do
9 𝑐(𝑣𝑖 ) ← [círculo (𝑣(𝑖))] /* acrescenta círculos em cada um dos vértices */

10 for j ← J do
11 𝑑𝑗 ← [tamanho da aresta (𝑎(𝑗))] /* calcula o tamanho das arestas 𝑎(𝑗) */

12 for j ← J do
13 𝑐(𝑣𝑗 ) ← [círculo (𝑣(𝑗))] /* acrescenta círculos nas arestas */

14 for j ← J do
15 𝑎(𝑣𝑗 ) ← [círculo (𝑣(𝑗))] /* acrescenta os círculos A tangentes aos círculos das arestas e
de mesmo raio */
16 for j ← J do
17 𝑏(𝑣𝑗 ) ← [círculo (𝑣(𝑗))] /* acrescenta os círculos B tangentes a um círculo da aresta, um
círculo do vértice e um círculo A */
18 for j ← J do
19 𝑐(𝑣𝑗 ) ← [círculo (𝑣(𝑗))] /* acrescenta os círculos C fechando os espaços restantes nas
bordas dos círculos das arestas e dos vértices */
20 for f ← F do
21 for j ← J do
22 𝑡(𝑣𝑗 ) ← [triângulo (𝑣(𝑗))] /* triangulariza cada ciclo de três círculos construídos
até o momento pelos passos do Lema 3 */

23 for f ← F do
24 Σ(𝑓 ) ← [triangulação de Bern (𝑡(𝑓 ))] /* triangulariza o centro da face restante
utilizando o algoritmo de Bern (BERN; MICHELL; RUPPERT, 1995) */

No próximo exemplo o algoritmo recebe um tetraedro, Figura 13, depois triangulariza


cada uma das faces dessa superfície poliédrica utilizando o algoritmo descrito a cima,
Figuras 14, 15, 16 e 17 e por último retorna as faces do polígono trianguladas à superfície,
tendo como resultado final a triangulação do tipo Saraf no tetraedro, Figura 18.
45

Figura 13 – Tetraedro entrada do algoritmo.

Figura 14 – Triangulação da face 1. Figura 15 – Triangulação da face 2.


46 Capítulo 8. Algoritmo de geração de malha

Figura 16 – Triangulação da face 3. Figura 17 – Triangulação da face 4.

Figura 18 – Triangulação do tipo Saraf no tetraedro.


47

Capítulo 9
Considerações finais

O presente trabalho preocupou-se das demonstrações de existência e estimativa do nú-


mero máximo de triângulos necessários para a triangulação aguda própria de superfícies
poliédricas. As etapas construtivas, em cada demonstração, foram estudadas e cuidado-
samente reportadas no presente trabalho. Esse estudo deixa claro que a estimativa do
número máximo de triângulos necessários, relatada na literatura estudada, foi superesti-
mada em algumas das etapas das demonstrações. Aplicações dos resultados da existência
de triangulação aguda própria para qualquer superfície poliédrica não foram encontradas,
até o momento, na literatura de geração computacional de malhas. O presente estudo
pode construir um algoritmo de geração de triangulação do tipo Saraf e pode guiar traba-
lhos futuros que pretendam otimizar as estimativas de número de triângulos necessários
e a construção de algoritmos para geração de malhas triangular com elementos agudos.

9.1 Trabalhos Futuros


A partir dessa triangulação do tipo Saraf pode-se acrescentar os últimos passos da
construção do teorema de Maehara para obter uma triangulação aguda de superfícies
poliédricas, porém não há a certeza de que é possível conseguir essa condição pra todas
as superfícies devido a algumas barreiras numéricas, como tamanho de arestas e ângulos.
48 Capítulo 9. Considerações finais
49

Referências

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2005.
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KOVÁCS, B. Computing arbitrary lagrangian eulerian maps for evolving surfaces.
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50 Referências

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PÓLYA, G. An elementary analogue to the gauss-bonnet theorem. The American


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VANDERZEE, E. et al. Well-centered triangulation. SIAM Journal on Scientific


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VERDIÈRE, Y. C. D.; MARIN, A. et al. Triangulations presque équilatérales des


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