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Cardiopatia na Doença de Lyme

Definição: Consiste em uma doença infecciosa causada pela espiroqueta borrelia burgdorferi, em
que o acometimento cardíaco ocorre na fase inicial de disseminação da doença, normalmente de
semanas a poucos meses do início da infecção. A principal manifestação cardíaca da doença é o
bloqueio atrioventricular, porém também pode ocorrer miopericardite com déficit da contratilidade
miocárdica.

Fisiopatologia

Como a biópsia em humanos é raramente necessária, pouco se sabe sobre a fisiopatologia da


doença cardíaca, porém estudos em animais mostram que pode ocorrer inflamação em
qualquer parte do coração, envolvendo principalmente macrófagos e linfócitos.


Apresentação Clínica

Anamnese

Os pacientes devem ser questionados em relação a viagens recentes, possibilidade de


mordedura por carrapatos, e devem ser buscadas lesões de pele como eritema migrans,
envolvimento de articulações e possibilidade de acometimento neurológico.

A doença cardíaca se manifesta cerca de 1 a 2 meses após a infecção. As principais


manifestações são vertigem, síncope, dor torácica, dispneia ou palpitação. Essas
manifestações podem vir de maneira isolada, ou em conjunto com outras manifestações na
doença.

A principal alteração cardíaca da doença de Lyme é o bloqueio de condução. Os pacientes


com a doença podem apresentar qualquer tipo de bloqueio e podem migrar de um para outro,
quando o paciente assume bloqueio de maior grau (BAV 2 grau Mobitz II ou BAVT) pode
ocorrer lipotimia, síncope, dor torácica e dispneia. Pode ocorrer também bloqueios de ramo.

A miopericardite pela doença, em sua maioria, é autolimitada e assintomática, mostrando


derrame pericárdico leve e alterações inespecíficas da repolarização. Raramente o paciente
evoluiu com miopericardite importante e sinais de disfunção ventricular


Abordagem Diagnóstica

O diagnóstico da doença de Lyme é realizado através de sorologia com o ELISA, inicialmente,


necessitando confirmação com Western Blot. As sorologias devem ser interpretadas com
cautela. Deve-se atentar para falsos-positivos, e o quadro clínico deve ser levado em
consideração para a probabilidade pré-teste.
Pacientes com manifestações clínicas apenas cardiológicas têm difícil diagnóstico, pois o grau
de suspeição deve ser alto; do contrário, o paciente acaba recebendo diagnóstico por outra
etiologia. É pouco provável que um paciente com cardiopatia por Lyme tenha as sorologias
negativas.


Diagnóstico Diferencial

Síncope; * INFO
BAVT; * INFO
Insuficiência cardíaca. * INFO

Acompanhamento

A cardiopatia de Lyme responde bem ao tratamento tendo completa resolução do quadro em 3


a 42 dias. Quadros de BAVT costumam se resolver em até no máximo uma semana.


Abordagem Terapêutica

Devido à potencial ameaça a vida, pacientes com doença de Lyme que apresentem PR muito
prolongado (> 300 ms), BAVT ou BAV do segundo grau devem ser hospitalizados e
monitorados. Caso seja necessário e o paciente apresente sintomas de baixo débito pelo
bloqueio atrioventricular, um marca-passo provisório deve ser providenciado.

O tratamento antibiótico não difere da doença de Lyme sem cardiopatia e se baseia no uso de
doxiciclina, penicilinas ou cefalosporinas.

Não há estudos que comprovem uma superioridade da via intravenosa para o tratamento,
porém ela é recomendada em quadros mais complicados.

Guia de Prescrição 

Autoria

Autor(a) principal: Gabriel Quintino Lopes (Clínica Médica e Cardiologia).

Equipe adjunta:
Gustavo Guimarães Moreira Balbi (Clínica Médica e Reumatologia);

Lívia Pessôa de Sant'Anna (Clínica Médica e Hematologia);

Luiza Ruschel Siffert (Clínica Médica, Endocrinologia e Nutrologia);

Maikel Ramthun (Nefrologia e Medicina Intensiva).



Referências Bibliográficas

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