A hiperprodução de serotonina pelo tumor carcinoide é postulada como o principal fator para o
acometimento cardíaco. Acredita-se que a serotonina elevada na circulação estimule a
formação de placas compostas por matriz extracelular, miofibroblastos e células musculares
lisas espumosas, e sua consequente deposição nas estruturas cardíacas.
O coração direito é o mais acometido, principalmente pela drenagem da veia cava, quando o
fígado não consegue neutralizar toda a serotonina produzida.
Apresentação Clínica
Anamnese
Fatores de risco:
Níveis elevados de serotonina (5-HIAA);
Exame Físico
Abordagem Diagnóstica
Pacientes com suspeita de cardiopatia carcinoide ou com síndrome carcinoide, ainda sem
evidencia de lesão cardíaca, devem ser avaliados quanto a um possível acometimento do
coração.
Mais especificamente para avaliação diagnóstica da doença devem ser solicitados NT-
proBNP, que se maior que 260 pg/dL tanto sugere a doença quanto indica prognóstico e
avaliação da gravidade da doença. É usada também no diagnóstico e acompanhamento da
dosagem de serotonina urinária (5-HIAA) em 24 horas.
Valores acima de 300 micromol/24 horas sugerem o diagnóstico da doença e, caso os valores
persistam em medidas seriadas, há forte correlação com desenvolvimento e gravidade da
doença cardíaca. Ambos os marcadores são sensíveis e específicos para a doença.
Ecocardiograma: Um exame rápido, facilmente acessível e que não envolve radiação, sendo
capaz de avaliar as lesões cardíacas causadas pela doença.
Ressonância nuclear magnética (RNM) do coração: É um exame com maior acurácia que
o ecocardiograma para avaliar as câmaras cardíacas direitas. A RNM consegue trazer
informações mais precisas quando o ECO falha em sua avaliação e ainda é capaz de detectar
as placas carcinoides quando usada a técnica do realce tardio.
É um exame pouco disponível e de alto custo, e o contraste gadolíneo não pode ser utilizado
em pacientes com insuficiência renal avançada.
Critérios Diagnósticos
Como o ecocardiograma não é um exame tão acurado para a avaliação das câmaras direitas,
alguns protocolos de avaliação específicos para a doença são recomendados, dentre os mais
usados podemos citar o protocolo de Westberg pela sua fácil execução.
Protocolo de Westberg:
Avaliação estrutural das válvulas tricúspide e pulmonar:
0: normal;
1: espessamento discreto;
2: espessamento moderado;
Regurgitação tricúspide:
0: ausente;
1: mínima;
2: leve;
3: moderada;
4: importante;
Regurgitação pulmonar:
0: ausente;
1: mínima;
2: leve;
3: moderada;
4: importante.
Diagnóstico Diferencial
A despeito do tratamento clínico, a cardiopatia carcinoide quando muito avançada tem baixa
expectativa de vida.
Pacientes com cardiopatia grave devem ser pesados quanto ao risco elevado da cirurgia. O
acompanhamento deve ser feito com equipe multidisciplinar (oncologista, endocrinologista,
cardiologista e cirurgiões cardíaco e oncológico).
Abordagem Terapêutica
Pacientes com síndrome carcinoide sem cardiopatia devem proceder para a retirada do tumor
a fim de prevenir o surgimento da doença cardíaca.
O tratamento específico para a cardiopatia carcinoide é a cirurgia de troca valvar, que deve
ser bem pesada devido a uma maior taxa de mortalidade em relação a outras valvulopatias.
As principais indicações são:
Alguns cuidados devem ser tomados antes da cirurgia cardíaca. A troca valvar é preferível à
plastia da válvula, principalmente quando há dupla lesão.
As válvulas biológicas são preferíveis para evitar a anticoagulação por longo tempo. Elas
apresentam boa durabilidade e sem evidência de recidiva da doença carcinoide.
Trocas multivalvares devem ser bem avaliadas por aumentar o tempo cirúrgico e reduzir a
taxa de sucesso.
Atentar para o risco de crise carcinoide e hipotensão que podem ser prevenidas com infusão
de octreotide 50-100 nanogramas/hora (iniciar 2 horas antes e interromper 48 horas após o
término da cirurgia).
Equipe adjunta:
Referências Bibliográficas
Davar J, Connolly HM, Caplin ME, et al. Diagnosing and Managing Carcinoid Heart Disease in
Patients With Neuroendocrine Tumors: An Expert Statement. J Am Coll Cardiol.
2017;69(10):1288-1304.
Hajjar LA, Filho RK, Hoff PMG. Manual de condutas em cardio-oncologia. 1. ed. Rio de
Janeiro: Atheneu; 2018.
Nguyen A, Schaff HV, Abel MD, et al. Improving outcome of valve replacement for carcinoid
heart disease. J Thorac Cardiovasc Surg. 2019;158(1):99-107.e2.