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Cardiopatia Associada à Cocaína

Definição: A cocaína promove toxicidade cardiovascular por qualquer via de uso (nasal,
intravenosa ou quando fumada), tanto no usuário crônico quanto no usuário primário ou ocasional,
independente de doses maciças. O uso agudo ou crônico pode levar a complicações
cardiovasculares graves e até fatais, como infarto agudo do miocárdio, arritmias ventriculares,
edema agudo de pulmão, AVC, dissecção aórtica, endocardite, miocardite e cardiomiopatia
dilatada.

Fisiopatologia

O principal mecanismo fisiopatológico da cocaína, na gênese das doenças cardiovasculares,


parece ser a inibição da recaptação da norepinefrina na fenda sináptica dos neurônios
simpáticos, apesar do bloqueio dos canais de sódio poder também estar envolvido. A
estimulação dos receptores alfa e beta-adrenérgicos aumenta a demanda cardíaca de O2 e
reduz sua perfusão.


Apresentação Clínica

O uso da cocaína favorece a vasoconstricção, leva ao aumento da demanda de O2 pelo


miocárdio, eleva a pressão arterial e a frequência cardíaca, estimula a agregação plaquetária
e aumenta a resistência vascular periférica.

Quadro clínico:
Habitualmente, os sintomas de dor torácica ocorrem dentro dos primeiros minutos à
primeira hora do uso (independente da via utilizada). A maioria ocorre dentro das três
primeiras horas;

Taquicardia;

Elevação da pressão arterial;

Agitação psicomotora;

Convulsão;

Rebaixamento do sensório;

Insuficiência respiratória;

Arritmias ventriculares;

AVC.

Fator de risco: Uso concomitante com bebida alcoólica e tabagismo.


O uso da cocaína pode levar a uma série de condições cardiovasculares:
Isquemia e infarto do miocárdio; * INFO
Miocardite levando à cardiomiopatia; * INFO
Arritmias; * INFO
AVC; * INFO
Dissecção de aorta. * INFO

Abordagem Diagnóstica

O consumo pode ser referido pelo próprio paciente, informação que nem sempre é fácil de se
obter. Também pode ser feita a pesquisa de metabólitos da cocaína (benzoilecgonina) na
urina (exame positivo até 48 horas após o uso). Pode ser detectada a droga no sangue ou no
cabelo.

ECG: Pode ser anormal em mais da metade dos usuários com dor torácica. Lembrando que,
na população jovem, as alterações podem se tratar apenas de repolarização precoce, sendo
necessários exames seriados. O ECG pode ainda mostrar uma gama de arritmias.

Dosagem de troponina: Avaliar presença de isquemia miocárdica, a dosagem de troponina


e, principalmente, a curva da troponina em ascensão, componentes fundamentais no
diagnóstico de infarto agudo do miocárdio.

Angiotomografia de tórax e coronárias: Pacientes jovens e previamente saudáveis são


grandes elegíveis para angiotomografia de coronárias para confirmação ou exclusão de dor
torácica por lesão coronariana. Em paralelo, a angiotomografia de tórax pode confirmar ou
afastar uma dissecção aguda de aorta.


Diagnóstico Diferencial

Intoxicação por outras drogas;

Infarto agudo do miocárdio; * INFO


Edema agudo de pulmão hipertensivo; * INFO
Emergência hipertensiva. * INFO

Abordagem Terapêutica

Dor torácica associada à cocaína: * INFO


AAS, benzodiazepínicos;
Nitrato EV, nitroprussiato de sódio EV, com hipertensão persistente;

Terapia antitrombótica e antiplaquetária;

Evitar betabloqueadores na fase aguda.

IAM com supra de ST: * INFO


ACTP primária;

Aconselhamento para interrupção do uso da droga;

Alta hospitalar: AAS, clopidogrel, estatina. Considerar betabloqueador.

Angina instável/IAM sem supra de ST: * INFO


Observação em unidade coronariana;

Se alto risco, coronariografia: aconselhamento para interrupção do uso da droga; alta


hospitalar: AAS, clopidogrel, estatina; considerar betabloqueador;

Se moderado a baixo risco: Estratificação não invasiva:

Se positiva para isquemia, coronariografia: aconselhamento para interrupção do


uso da droga; alta hospitalar: AAS, clopidogrel, estatina; considerar betabloqueador;

Se negativa para isquemia: aconselhamento para interrupção do uso da droga; alta


hospitalar: AAS, clopidogrel, estatina; considerar betabloqueador.

Caso dissecção de aorta: * INFO


Manter duplo produto equilibrado;

Encaminhar paciente para cirurgia cardíaca.

Para as demais patologias, ver terapia específica:

AVC hemorrágico; * INFO


AVC isquêmico; * INFO
Miocardite; * INFO
Arritmias. * INFO
Para o tratamento direto da agitação por cocaína, recomenda-se o uso de benzodiazepínicos.


Autoria

Autor(a) principal: Pamela Santos Borges Araujo (Clínica Médica e Cardiologia).

Revisor(a): Gabriel Quintino Lopes (Clínica Médica e Cardiologia).


Equipe adjunta:

Gustavo Guimarães Moreira Balbi (Clínica Médica e Reumatologia);

Lívia Pessôa de Sant'Anna (Clínica Médica e Hematologia);

Maikel Ramthun (Clínica Médica, Nefrologia e Medicina Intensiva).


Referências Bibliográficas

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2a ed. Barueri, SP: Manole; 2015. 1099-1107.

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