O recurso de agravo no ordenamento jurídico brasileiro: da origem ao código de processo civil de 1939
()
About this ebook
Palavras-chave: Recurso de Agravo; Antigo Regime; Centralização; Transição; Modernidade; Conservadorismo; República; Federalismo.
Related to O recurso de agravo no ordenamento jurídico brasileiro
Related ebooks
Cognição e mérito na execução civil: técnicas e limites Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsJúri: além da clemência e do arbítrio: uma crítica retórica à presunção de vontade nos veredictos de absolvição genérica Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsPensão alimentícia internacional Rating: 5 out of 5 stars5/5A Mutatio Libelli aplicada ao processo civil: a incessante busca pela efetividade da tutela jurisdicional Rating: 5 out of 5 stars5/5Modulação dos efeitos das decisões proferidas em matéria tributária frente aos direitos fundamentais do contribuinte. Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsEncarceramento em massa x garantismo penal: o caminho para o estado social de direito Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsSistema Brasileiro de Pronunciamentos Judiciais Vinculantes: Justificativas, requisitos e instrumentos processuais Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsPROCONs e a defesa coletiva de consumidores Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsDesjudicialização de conflitos: novos contornos do acesso à Justiça: – Volume 1 Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsConciliação trabalhista: quando o "sim" ao acordo é o "não" à justiça Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsResponsabilidade Patrimonial pelo Inadimplemento das Obrigações: Introdução ao Estudo Sistemático da Responsabilização Patrimonial Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsO Princípio da Eficiência no Processo Civil: uma leitura do Código de Processo Civil à luz do princípio da eficiência Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsA sentença penal condenatória e sua qualidade de título executivo civil: reflexos no processo civil da sentença penal condenatória Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsO Princípio da Cooperação e o Jus Postulandi Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsEnsaios sobre Direito Processual das Famílias Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsComentários à Lei nº 9.099/95: uma visão de operadores do direito dos seguros no Brasil Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsA Ação Monitória no Código de Processo Civil de 2015 Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsArbitragem e Tutelas Provisórias Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsEmbates contemporâneos do Direito Processual Tributário Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsBoa-fé objetiva aplicada aos contratos empresariais Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsResenhas Jurídicas Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsAção Monitória, ante os títulos executivos prescritos Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsControle de constitucionalidade e a teoria do fato consumado Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsArbitragem Online Descomplicada: das premissas básicas às ODRs Rating: 0 out of 5 stars0 ratings
Law For You
Guia Técnico Pericial Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsPortuguês Para Concurso Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsRegistro de imóveis Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsDireito Civil: Direito das sucessões Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsBizu Do Direito Administrativo Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsLawfare: uma introdução Rating: 5 out of 5 stars5/5Psicopatas homicidas: um estudo à luz do Sistema Penal Brasileiro Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsContratos de prestação de serviços e mitigação de riscos Rating: 5 out of 5 stars5/5Manual de direito administrativo: Concursos públicos e Exame da OAB Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsCaminho Da Aprovação Técnico Do Inss Em 90 Dias Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsCOMUNICAÇÃO JURÍDICA: Linguagem, Argumentação e Gênero Discursivo Rating: 5 out of 5 stars5/5Manual de Gramática Aplicada ao Direito: aspectos práticos da norma culta da língua portuguesa Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsDireito constitucional Rating: 5 out of 5 stars5/5Direito Previdenciário em Resumo, 2 Ed. Rating: 5 out of 5 stars5/5Usucapião Judicial E Extrajudicial No Novo Cpc Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsTeoria Geral Do Processo Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsIntrodução ao Estudo do Direito Rating: 4 out of 5 stars4/5A Perícia Judicial Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsA Pronúncia Do Inglês Americano Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsDireito Tributário Objetivo e Descomplicado Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsDicionário de Hermenêutica Rating: 4 out of 5 stars4/5Como passar em concursos CESPE: direito penal: 287 questões de direito penal Rating: 5 out of 5 stars5/5Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD): Guia de implantação Rating: 5 out of 5 stars5/5350 Dicas de direito tributário Rating: 5 out of 5 stars5/5Como passar OAB 2ª fase: Prática civil Rating: 5 out of 5 stars5/5Como passar em concursos CESPE: direito constitucional: 339 questões de direito constitucional Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsComo passar em concursos CESPE: redação: 17 questões de redação Rating: 5 out of 5 stars5/5Psicanálise e Mitologia Grega: Ensaios Rating: 5 out of 5 stars5/5Investigação Criminal: Ensaios sobre a arte de investigar crimes Rating: 5 out of 5 stars5/5
Reviews for O recurso de agravo no ordenamento jurídico brasileiro
0 ratings0 reviews
Book preview
O recurso de agravo no ordenamento jurídico brasileiro - Fernando Ribeiro da Silva Carvalho
CAPÍTULO 1
1. 1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Neste capítulo, pretende-se traçar a trajetória do agravo desde sua criação até o Brasil Independente. Concebido nas terras dos conquistadores da América portuguesa, o instituto possui trajetória que se inicia no continente Europeu, no período em que duas culturas jurídicas distintas se confrontavam. A descentralização política marcava a Europa da Baixa Idade Média, em que os reinos dinásticos se encontravam em formação e buscavam o fortalecimento de seus monarcas. A cultura jurídica pluralista desafiava o projeto centralista de reinos como Portugal e Espanha¹⁰.
Como ensina Norbert Elias¹¹, a obra da centralização não frutificou de planos régios. As forças centrífugas representadas pelos senhorios perderam vigor com a criação de domínios territoriais ampliados na Europa, antes mesmo desses se constituírem em reinos independentes. A formação de unidades políticas cada vez maiores em extensão implicou na guerra de jurisdição entre os soberanos dos domínios e os antigos senhorios laicos e eclesiásticos.
Na luta pela jurisdição sobre o território reinol, os monarcas disponibilizaram de dois grandes instrumentos – as leis gerais e as cortes reais de justiça. Bernardo Souza afirma que em termos sintéticos, será este modelo – esta ideologia de origem régia – a autorizar e apoiar a consolidação e a extensão da autoridade e do poder do soberano
¹². Verificou-se o agravo como instituto do direito vinculado à história da centralização do Estado moderno, ainda que seu início possa remontar aos séculos XIII e XIV.
O estudo do agravo, considerado em seu longo percurso desde a Europa ao Brasil, talvez contribua para melhor conhecimento da cultura jurídica desenvolvida nesta parte da América. Consoante Ricardo Marcelo Fonseca, o Direito brasileiro tem um forte matiz pré-moderno. Isso quer dizer, em termos de direito, que nossa cultura, ao não conhecer o código, não valorizava tanto o advento legislativo, e que em contrapartida cultuava a doutrina antiga, o precedente e a força do costume
¹³.
O professor enfatiza a importância do estudo da cultura jurídica do passado, especialmente do período medieval, devido a sua influência sobre o Direito Brasileiro, já que antes do período moderno e do culto das legislações, vigiam os precedentes práticos, o costume enraizado e o estudo dos livros e doutrinas antigas¹⁴.
Para o desenvolvimento do tema do agravo, buscou-se conhecer sua criação ainda em Portugal, considerando amplamente o cenário europeu. Como metodologia, utilizou-se da história como problematização dos institutos jurídicos, assim como o conceito de cultura jurídica como as estruturas profundas que mobilizam os homens na condução de suas vidas¹⁵.
1. 2 O ANTIGO REGIME
O Medievo é caracterizado, por Paolo Grossi¹⁶, pela descentralização política após a derrocada do Império romano. É importante destacar que o sistema feudal tomou lugar em boa parte dos reinos europeus na chamada Idade Média, embora José Rogério Cruz e Tucci¹⁷ assevere que, em Portugal e Espanha, nada leva a crer que tal sistema tenha vigido.
Os territórios eram governados pelas regras e normas costumeiras que os senhores laicos e eclesiásticos admitiam e a população geral incorporava. Cada senhorio era inegavelmente poderoso e influente, de modo a governar e liderar todas as atividades e sistemas jurídico-legislativos da região onde se encontravam. Grossi¹⁸ chama essa coesão fática realista da Idade Média de experiência jurídica. Segundo o autor, trata-se de sociedade sem Estado
, embora reconheça que o conceito de Estado é apropriado apenas para a Modernidade. Ainda assim, na Europa, existia certa realidade jurídico-política com projeção efetiva de poder em toda a territorialidade¹⁹.
A nobreza, como um todo, era responsável pelos encargos da região que governava, na contrapartida de terem grande privilégios e direitos. Os senhores deviam participar de toda a organização estrutural e social das regiões que governavam, além de recolherem impostos e aproveitarem das riquezas que auferiam²⁰. Na Baixa Idade Média, muitos dos nobres eram servidores administrativos dos reis, haja vista ser comum àquele tempo que cargos públicos fossem comercializados. É o exemplo claro dos intendentes no reino francês, que passaram a formar nova classe enobrecida e a ocupar cargos por privilégios concedidos e/ou comprados da própria Coroa. Os corpos administrativos dos reinos desse período não tinham interdependência, encontravam-se quase completamente desligados de hierarquia mais rígida.²¹
Segundo Marc Bloch²², embora alguns reis tivessem perdido formalmente o status religioso, limitando-se na teoria a serem apenas chefes de Estado, não se poderia deixar de ponderar que na consciência do povo ainda existia, mesmo que de forma secreta ou escondida, a ideia dos reis como expressão divina na terra. Para Bloch, "a concepção de realeza entre os germânicos, como entre todos os povos no mesmo estágio de civilização, estava impregnada de caráter