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Introdução

à Bíblia
Pr. Kenneth Eagleton

Escola Teológica Batista Livre


(ETBL)
Campinas, SP

2012
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Primeira Aula

A Palavra de Deus (Bibliologia)

A revelação de Deus

A revelação, no seu sentido bíblico, é o ato pelo qual Deus se faz conhecer ao homem: Sua
pessoa, Sua natureza, Sua palavra, Sua vontade e Seus preceitos. O Deus de poder e de amor
deseja ser conhecido e amado por suas criaturas.

A) Revelação geral ou universal de Deus

1. A revelação de Deus na natureza (Rm 1:19-21; Sl 19:1-5; At 14:15-17). Esta revelação de


Deus, através da natureza, faz com que as pessoas cheguem a conclusão de que existe
um Criador, mas não revela quem ele é.

2. A voz de Deus dentro da consciência (Rm 2:14-16). Fomos criados com uma consciência
que nos acusa quando erramos. Com a entrada do pecado no mundo, no Jardim do
Édem, a corrupção atingiu também a consciência humana. Ela não foi eliminada, mas foi
distorcida e não é cem porcento fiável. A consciência pode sofrer um processo de
desgaste ou cauterização ao se desobedecer repetidamente a voz da consciência. Com o
tempo a consciência deixa de acusar.

A revelação geral é insuficiente, por si só, de conduzir a pessoa à salvação. A revelação geral só
nos diz que existe um deus, que ele é criador e todo-poderoso e que o homem é pecador, mas
o ser humano não consegue viver à luz desta revelação que tem. A sua consciência o acusa.
Somos todos indesculpáveis; os que ouviram o evangelho e os que nunca ouviram – Rm 1:20.

É por isso que todos os povos de toda a terra têm algum sistema de religião que busca
conhecer este ser superior e aplacar a sua ira. Muitos se voltam para a idolatria, a adoração dos
espíritos, deuses falsos, falsos profetas, as numerosas religiões desse mundo e até para si
mesmos, procurando a salvação (Rm 1:21-25).

A consciência que existe no ser humano não é perfeita; é falha e pode ser suprimida ou
atenuada por causa da queda do homem, a entrada do pecado no mundo e a distorção da
imagem de Deus no homem. A natureza também foi corrompida pelo pecado.

A revelação geral não é suficiente para nos conduzir à salvação. Crença em um deus e
sinceridade não são suficientes à salvação. Só o arrependimento, fé em Jesus Cristo e na sua
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obra de redenção (morte na cruz pelos nossos pecados) e entrega a ele pode nos proporcionar
a salvação (Rm. 3:23; 6:23; 10:14-17; At 4:12; Jo 14:6).

B) A revelação pessoal e especial de Deus

A palavra “revelação”, tanto no hebraico como no grego, dá a idéia de fazer conhecer o que
está encoberto. Deus nos deu uma revelação específica de Si mesmo através das Escrituras, a
Bíblia. A Bíblia não nos foi dada de uma só vez. Ela foi formada durante um período de cerca de
1.500 – 1.600 anos. Durante esse período, Deus usou várias maneiras para Se revelar. A
revelação foi progressiva, tanto no seu conteúdo como nos seus métodos.

A revelação tem como objetivo aprofundar o nosso relacionamento com Deus. Não é só para
aumentar os nossos conhecimentos. O pecado diminui a compreensão humana da revelação
geral.

A revelação de Deus é pessoal:

 Ele se apresenta a pessoas usando um nome pessoal – Ex 3:14;

 Ele firmou alianças pessoais com indivíduos (Noé, Abraão) e com a nação de Israel;

 Existem inúmeros relatos bíblicos de experiências pessoais com Deus;

 O objetivo da revelação é pessoal – para cada pessoa individualmente. A decisão de


desenvolver um relacionamento com Deus é pessoal;

 Deus se revela de forma que possa ser entendido por seres humanos limitados pelo
espaço, pelo tempo e pelos seus cinco sentidos;

 Ele se revelou dentro de um contexto histórico e cultural;

 A encarnação de Jesus também foi na forma de uma pessoa.

 A Revelação foi progressiva :

o aparições (teofanias) para comunicar alguma coisa (a Abraão – Gn 17:1; a Isaque


– Gn 26:2; a Jacó – Gn 32:30; a Moisés – Ex 3:2-6; a Gideão – Jz 6:12).
o sonhos e visões – Nm 12:6.
o milagres, sinais e prodígios – Exemplos: sinais, pragas e milagres na saída do
Egito.
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o eventos históricos:
 O dilúvio,
 O resgate dos hebreus do Egito para conduzi-los à Terra Prometida,
 A derrota dos inimigos de Israel,
 O cativeiro de Israel,
 A crucificação e ressurreição de Cristo,
 O naufrágio de Paulo.
o profecias – Deus, se revelando a profetas, indivíduos escolhidos para Seu serviço,
e depois enviando-os ao povo para dizer aquilo que tinham recebido. Deus não
fala ao profeta, mas pelo profeta. Em hebraico a palavra “profeta” significa
“chamado, arauto, anunciador”. Os profetas estavam, evidentemente, sob a
ação do Espírito de Deus (Ex 4:10-12; Dt 18:18; Am 3:7; 2 Pe 1:21). Na Bíblia, as
visões e as palavras (vindas de Deus) são geralmente confundidas. Esta é a
revelação através do discurso divino.
o a revelação de Deus em Jesus Cristo (a encarnação) – Jesus Cristo, que era Deus,
veio ao mundo e encarnou. Sua pessoa e ensinamentos eram uma revelação de
Deus, uma demonstração ao vivo (Jo 1:18; 14:9; Mt 11:27; Cl 2:9; Hb 1:1-2).
o a Bíblia – Todas as revelações enumeradas acima foram dadas a indivíduos ou a
gerações que hoje não mais existem. O que poderíamos saber dos
conhecimentos recebidos se eles não tivessem tomado uma forma definitiva
dentro de um livro inspirado? Foi necessário colocar a revelação de Deus em
forma durável e acessível a todos em todas as épocas. Por isso temos a Bíblia.
 Como a composição da Bíblia foi encerada (cânon bíblico), as novas
revelações de Deus destinadas a todos os homens cessaram. Não há mais
novas doutrinas dadas por revelação através de seja lá qual for o método
ou a quem quer que seja. Não existem mais novas revelações de Deus
quanto à Sua pessoa ou quanto à doutrina.
 A Bíblia é o único livro que é realmente a Palavra de Deus. Ela é a única
autêntica revelação de Deus.
 O próprio Senhor Jesus Cristo e os apóstolos nos preveniram contra os
falsos profetas – Mt 7:15-20; Mt 24:11, 24; At 13:6-8 ; 2 Pe 2:1 ; 1 Jo 4:1.
Todos aqueles que dizem possuir nova revelação de Deus são falsos
profetas, principalmente quando as supostas novas doutrinas contrariam
o que a Bíblia já ensina. A Bíblia nos diz para colocar à prova os profetas
para ver se eles são de Deus ou não – Dt 13:1-5; 18:20-22.
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Segunda Aula
C) A preservação da revelação: a Inspiração

Definição de inspiração da Bíblia: A inspiração é a influência exercida pelo Espírito Santo sobre
o espírito daqueles que escreveram a Bíblia, para que eles anunciassem e redigissem de
maneira exata e autorizada a mensagem recebida de Deus. A inspiração diz respeito ao registro
da verdade revelada por Deus.

“A revelação é a comunicação de Deus aos homens, transmitindo-lhes a verdade que precisam


conhecer para terem um relacionamento correto com ele”1. Isto bastava para os que
receberam a revelação diretamente de Deus. No entanto, Deus não repete a mesma revelação
para todos os homens, portanto, era necessário que houvesse uma maneira confiável de
registrar a revelação de Deus para que ela continuasse a ser fielmente a Palavra de Deus. A
transmissão oral não seria confiável.

A doutrina da inspiração nos assegura que os registros que temos da revelação de Deus são
realmente confiáveis e são a própria Palavra de Deus. A revelação tem um caráter mais vertical
(Deus para o homem), enquanto que a inspiração está mais relacionada com o registro para a
transmissão horizontal (homem a homem).

2 Pedro 1:20-21 – “as profecias do Antigo Testamento não foram produzidas por vontade ou
decisão de um ser humano, antes, as pessoas foram movidas pelo Espírito de Deus. O ímpeto
que as levou a escrever vinha do Espírito Santo”2.

2 Timóteo 3:16, 17 – “inspirada por Deus” significa “soprada por Deus, produzida pelo sopro
criador de Deus, dada por Ele, falada por Ele” (veja também Sl 33:6).

A inspiração é um milagre de Deus. As Escrituras afirmam constantemente o milagre, porém


nem Paulo, Pedro, ou nenhum outro, jamais nos revelaram como ele foi operado, nem qual a
maneira e a medida exata da influência divina exercida sobre os autores sagrados. No entanto,
o exame de alguns casos concretos da Bíblia nos ajuda a compreender certos aspectos da ação
divina.

1- A inspiração é dada por Deus de maneira absolutamente soberana. O Espírito fala e faz
escrever, quando e como Ele quiser. Os profetas, então, não falavam como ou quando
eles quisessem, nem em dias fixos. Eles esperavam que uma mensagem lhes fosse
comunicada do alto (Jr 1:2; Hc 2:1-2).

1
Erickson, Millard, Introdução à Teologia Sistemática, Edições Vida Nova, p. 67
2
Erickson, p. 69
5

2- Em geral, o autor sagrado mantinha sua lucidez plena (ele tinha o espírito acordado),
dialogando com o Senhor, fazendo perguntas, e comunicando suas reações (Is 6:11; Jr
14:13).

3- Frequentemente o escritor tinha dificuldade para entender a mensagem. Às vezes as


mensagens são surpreendentes, assustadoras ou incompreensíveis (Dn 8:15, 27), o que
demonstra que não tinha origem no escritor.

4- Os escritores têm completa certeza de transmitir as exatas palavras de Deus.

o Moisés – repete mais de cinqüenta vezes, apenas no livro de Levítico, uma frase
como esta : “Chamou o Senhor a Moisés... e lhe disse: Fala aos filhos de Israel, e
dize-lhes...”.

o Davi – 2 Sm 23:2.

o Jeremias – ele usa constantemente uma fórmula desse tipo: “A Palavra do


Senhor veio a mim, dizendo...”, “O Senhor me disse...”, “Assim fala o Senhor...”.

o No total, no Antigo Testamento, esses termos foram utilizados mais de 3.800


vezes!

o Paulo – 1 Ts 2:13.

o João – Ap 1:1-2, 2:18, 19:9.

5- Cremos na inspiração plena e verbal das Escrituras. Cremos que, na redação dos
manuscritos originais, o Espírito Santo guiou os autores até na escolha das expressões, em
todas as páginas das Escrituras, sem, portanto, anular suas personalidades. “Usou-os
precisamente como eram, com seu caráter e temperamento, com seus dons e talentos,
com sua instrução e cultura, com seu vocabulário, dicção, e estilo; iluminando-lhes a
mente, incitou-os a escrever; reprimiu a influência do pecado sobre sua atividade literária,
e guiou-os na escolha de suas palavras e nas expressões de seus sentimentos”3.

Dessa inspiração plena e verbal decorre necessariamente a infalibilidade da Bíblia. Essa


infalibilidade se refere aos autógrafos (escritos originais) da Bíblia. Esta é a posição
evangélica e um dos fatores que nos distingue de outras igrejas cristãs.

3
L. Berkhof, Manual de Doutrina Cristã, (Campinas: Luz Para o Caminho, 1985 [original: 1933]), p. 42
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a) Inspiração plena – significa que a inspiração abrange a Bíblia toda e sem nenhuma
restrição. É o que afirmam os autores sagrados: “toda Escritura é inspirada por Deus”
(2 Tm 3:16). Veja também 1 Ts 2:13; Ap 19:9; 21:5; 22:6, 18-19.

b) Inspiração verbal – uma inspiração plena deve ser até sobre as palavras. As palavras
são inseparáveis da mensagem. Seu conteúdo não pode ser expresso sem palavras.
Para expressar uma idéia sem erro, deve-se escolher muito cuidadosamente as
palavras correspondentes.

Isso não quer dizer que os autores foram utilizados para fazer um ditado mecânico.
Deus adaptava completamente Sua atividade inspiradora ao estado de espírito, à
perspectiva, ao temperamento, aos interesses, aos hábitos literários e às
particularidades de estilo de cada autor.

As Escrituras têm uma linguagem humana, mas seus ensinos são divinos. As Escrituras são ao
mesmo tempo divinas e humanas, da mesma forma que Jesus Cristo era ao mesmo tempo Deus
e homem. A inspiração faz com que a Bíblia tenha duas naturezas: por um lado, é a Palavra de
Deus, e ao mesmo tempo, tem um componente humano que reflete a linguagem humana, a
maneira de pensar humana, estilos literários e personalidades humanas. A sua natureza
humana não implica que contém erros.

D) A credibilidade da Palavra de Deus: a Inerrância

Por infalibilidade ou inerrância compreendemos que a Bíblia não é capaz de errar e não contém
erros em sua forma original. Ela é justa, verdadeira e exata. Uma das conseqüências lógicas da
inspiração das Escrituras é o fato de que ela não contém erros ou engano na sua escrita original
(infalibilidade) e não se pode provar que estão erradas (inerrância) quando interpretadas
dentro do seu contexto correto. Isto se baseia no próprio caráter de Deus e nos Seus atributos.
Ele é santo (portanto sem mancha ou erro), verdadeiro (portanto não procura nos enganar), e
fiel (portanto sempre cumprirá tudo que prometeu – Jo 10:35). Sendo as Escrituras a Palavra de
Deus (Hb 4:12), “soprado por Deus” (2 Tm 3:16) e supervisionado pelo Espírito Santo, não pode
haver erro.

O uso que Jesus fez do Antigo Testamento mostra a Sua alta estima por ele, a sua autoridade e
o fato de que o AT é a Palavra de Deus. Jesus prometeu aos Seus discípulos que enviaria o
Espírito Santo para guiá-los a toda verdade (Jo 16:13-15). Os apóstolos foram guiados pelo
Espírito Santo e receberam instruções inspiradas que passaram a ser as Escrituras do Novo
Testamento. Os apóstolos também entendiam que as Escrituras eram a Palavra de Deus. A
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doutrina dos apóstolos foi o fundamento da Igreja (Ef 2:19-22). Através da história a Igreja
sempre reconheceu as Escrituras como sendo a Palavra de Deus e sem erro.

Observações:

1- A inerrância não significa a uniformidade de todos os detalhes nos relatos análogos


escritos por diferentes autores. Os pontos de vista ou as perspectivas dos autores podem
ser diferentes. Os diferentes relatos se complementam e não se contradizem (exemplo: os
Evangelhos).

2- A inerrância bíblica não exclui o uso de imagens e de símbolos. Embora tudo dentro da
Bíblia seja inspirado, isso não significa que tudo deva ser entendido literalmente. Existem
muitas passagens onde a linguagem é evidentemente simbólica. Exemplos: certas
profecias (como Daniel, Apocalipse), poesias, parábolas.

3- A inerrância bíblica não exige o uso de uma linguagem técnica precisa, conforme o
vocabulário científico atual. A Bíblia não é um tratado de ciência. Exemplo: a utilização da
palavra “lepra”. A lepra na Bíblia é uma palavra genérica usada para qualquer doença de
pele contagiosa e não se limita a Hanseníase.

4- A mensagem bíblica deve ser colocada dentro do seu próprio contexto histórico, no
momento em que foi escrita (Js 4:9).

5- Como os autores bíblicos foram inspirados pelo Santo Espírito e Ele cuidou de tudo que
os autores escreveram, não pode haver erro na Bíblia. Se a Bíblia é a Palavra de Deus, ela
não pode estar errada ou conter erros.
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Terceira Aula
E) O poder da Palavra de Deus: a Autoridade

Por ser a Bíblia a Palavra de Deus e sem erros, entendemos que ela é a palavra final e
autoritária no que diz respeito a toda questão de doutrina e ética, seja moral ou espiritual. Sua
autoridade é uma conseqüência imediata da inspiração. Se Deus inspirou completamente as
Escrituras, elas estão revestidas de Sua autoridade.

1- Deus é a fonte de toda autoridade (Sl 10:16; Jr 10:10; 1 Tm1:17).

2- Cristo, sendo Deus encarnado, tem nesse mundo toda a autoridade de seu Pai.

o Ele ensina com autoridade – Mc 1:22.

o Ele dá ordens aos espíritos impuros com autoridade e poder – Lc 4:36.

o Ele tem a autoridade (poder) para perdoar os pecados – Lc 5:24.

o Ele tem autoridade sobre a doença (Lc 6:19), sobre a morte (Lc 8:53-55) e sobre
a natureza (Mt 8:23-26).

o Ele tem toda autoridade – Mt 28:18 ; Cl 2:10 ; Ap 12:10.

o Jesus Cristo reconheceu a autoridade das Escrituras – Mt 5:17-18; Lc 2 :27, 44;

o Mc 12:24; Jo 5:45-47.

3- As Escrituras têm mais autoridade do que a Igreja. Isto é contrário ao que crê a Igreja
Católica Romana. Ela crê que a Bíblia deve sua existência à Igreja, portanto a Igreja tem
autoridade sobre a Bíblia.

4- A necessidade da Bíblia. A Bíblia é e continuará a ser necessária até o retorno de Jesus


Cristo. Ela é nosso único guia de fé e de prática. Ela é mais importante do que a Igreja.
Muitos erram crendo que a Bíblia é boa, mas não necessária, preferindo confiar mais
numa “luz interior” que pode ser muito enganosa.

F) A Iluminação

Iluminação é a atividade do Santo Espírito na mente do crente, ajudando-o a entender a


verdade revelada que se encontra na Bíblia. Este processo é importante por causa da condição
da mente e do coração humano. Como criaturas caídas e pecadoras, parcialmente por causa do
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nosso pecado e parcialmente por causa da nossa natureza humana, temos várias barreiras que
nos impedem de compreender corretamente as Escrituras. As nossas mentes são finitas
(comparadas ao infinito Deus), o nosso entendimento afetado pelo pecado é débil e cego (Rm
1:24; 2 Co 4:3-4; Sl 119:18), a nossa tendência natural é à rebelião contra Deus (Rm 8:7), somos
limitados pelos nossos corpos físicos e os nossos sentidos (enquanto que Deus é espírito) e as
coisas espirituais só se discernem espiritualmente (1 Co 2:14). A iluminação é normalmente
permanente e aumenta gradativamente. Quando o crente se submete ao Espírito de Deus, este
o conduz a toda a verdade. (Jo 16:13).

 A iluminação torna a Bíblia acessível a toda pessoa que crê: inteligente ou não (Lc
10 :21), instruída ou não (Mt 5 :3).

 Os que não crêem e não são regenerados não possuem esta iluminação (1 Co 2:14; 2 Co
4:3-4).

 Certas coisas na Bíblia serão sempre de compreensão difícil.

 Certas coisas na Bíblia não são para o nosso tempo. Daniel não compreendia as
revelações que recebia, da mesma forma que vários outros profetas. Suas profecias
tornaram-se claras somente muito tempo depois.

 Os discípulos não compreendiam tudo que Jesus dizia (Lc 18:34). Eles só
compreenderam essas coisas após Sua morte e ressurreição (Lc 24:45).

 Existem coisas que ainda nos são ocultas, das quais não compreendemos o sentido
exato (muitas coisas em Apocalipse, por exemplo).

G) O Cânon

Cânon é o termo que usamos para designar o conjunto de livros que formam as Escrituras
sagradas, isto é, os livros que são a revelação de Deus aos homens, inspirados pelo Espírito de
Deus, a Bíblia. O cânon é fruto da inspiração divina e não de decisões humanas. O cânon existe
desde a sua redação, pois os escritos dos profetas e dos apóstolos têm valor canônico
intrínseco. O cânon não foi dado de uma só vez. Ele começou a se formar assim que as
primeiras escrituras inspiradas foram colocadas nas mãos do povo de Deus. Um livro é canônico
se a Sinagoga judaica ou a Igreja cristã o reconheceu como portador da revelação comunicada
pelo Espírito de Deus. Por definição, a Palavra de Deus deve conter apenas os textos inspirados
pelo Espírito Santo. Os escritos que não possuem essa qualidade não têm lugar no cânon.
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O Cânon do Antigo Testamento

Assim que Moisés deu a lei ao povo, ela foi autoridade. Ela foi colocada dentro do “santo dos
santos” ao lado da arca da aliança (Dt 31:24-26, 32:46-47).

De Moisés a Malaquias, ou seja, durante 1.000 anos, nenhum dos profetas, sempre tão prontos
a denunciar os pecados de Israel, jamais acusou o texto sagrado de ter sofrido qualquer
alteração, mutilação ou acréscimo.

Testemunho do historiador judeu Flávio Josefo, escrito em torno do ano 100 d.C.: “Nada pode
ser mais bem atestado do que os escritos autorizados entre nós. Aliás, eles não poderiam estar
sujeitos a nenhuma discrepância; pois apenas aprovamos entre nós aquilo que os profetas
escreveram há muitos séculos, ensinados que foram pela própria inspiração de Deus... Temos
apenas 22... Após tantos séculos... ninguém foi suficientemente audacioso para adicionar, ou
subtrair alguma coisa (dos textos sagrados), ou modificar seu conteúdo; pois se tornou natural
para todos os judeus... crer que esses livros contêm doutrinas divinas, de perseverar e, se for
necessário, de morrer voluntariamente por eles. Eles nos foram dados pela inspiração que vem
de Deus. Mas, quanto aos outros livros compostos desde os tempos de Artaxerxes (apócrifos),
eles não mais são considerados dignos de uma fé semelhante”.

Após o retorno dos judeus do exílio na Babilônia, por volta de 400 anos antes de Cristo, as
revelações proféticas cessaram. “Nosso Senhor delimitou a extensão dos livros canônicos do
Anatigo Testamento quando acusou os escribas de serem culpados da morte de todos os
profetas que Deus enviara a Israel, de Abel a Zacarias (Lc 11:51). O relato da morte de Abel
está, é claro, em Gênesis; o de Zacarias se acha em 2 Crônicas 24:20,21, que é o último livro na
disposição da Bíblia hebraica (em lugar de nosso Malaquias). Para nós, é como se Jesus tivesse
dito: “Sua culpa está registrada em toda a Bíblia - de Gênesis a Malaquias”. Ele não incluiu
qualquer dos livros apócrifos que já existiam em Seu tempo e que continham relatos das
mortes de outros mártires israelitas”.4

No tempo de Jesus, o cânon do Antigo Testamento estava firmemente estabelecido. Também já


existia nessa época uma tradução dele em grego (conhecida como a Septuaginta) feita por
judeus no Egito.

4
Extraído de “A Survey of Bible Doctrine, por Charles C. Ryrie, Transcrito de “A Bíblia Anotada” e afixada na
Internet no site: www.vivos.com.br
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O Cânon do Novo Testamento

Os livros do Novo Testamento foram escritos entre os anos 45 e 95 d.C. aproximadamente.


Com muita rapidez, os textos inspirados foram reconhecidos e apreciados pelas igrejas.

Pedro, em sua segunda epístola (2Pe 3:15-16), fala de “todas as cartas” de Paulo, colocando-as
ao mesmo nível das “outras Escrituras”.

Paulo, em 1Tm 5:18, introduz com “a Escritura declara...” uma citação de Deuteronômio (25:4)
e uma outra de Lucas (10:7), pondo-as em condição de igualdade.

Clemente de Roma, por volta de 96 d.C., cita por nome a primeira epístola aos Coríntios e
mostra que outras partes do Novo Testamento são de seu conhecimento.

Policárpio, no ano 115 (d.C.), chama os escritos apostólicos de “Escritura” e cita ao mesmo
tempo como tal os Salmos e a carta aos Efésios.

Papias, (por volta de 140), discípulo de João, relata como a palavra dos anciãos foi substituída
pela autoridade da Palavra escrita.

Márcio, um herético da mesma época, utiliza em seus escritos o Evangelho de Lucas e dez das
epístolas de Paulo. Ele também conhecia o Apocalipse.

Justo Mártir (por volta de 148) fala das assembléias dos cristãos: “Liam-se as Memórias dos
apóstolos ou os Evangelhos... com os livros dos profetas: e em cada assembléia, depois que elas
haviam sido lidas, o presidente fazia delas o assunto de suas exortações”.

É extraordinário que, cinqüenta anos após a morte do último apóstolo, encontramos, tanto nos
escritos dos defensores da fé como nos heréticos, as citações precisas de quase todos os livros
do Novo Testamento, tanto umas como as outras se referindo à sua autoridade.

A Igreja primitiva utilizava certos critérios para aceitar os livros como parte do cânon: a
inspiração, a origem apostólica (escrito por um apóstolo ou tendo o apoio ou a aprovação
dele5) e o acordo quase unânime das igrejas. No concílio ocorrido em Cartago no ano 397,
todos os livros do Novo Testamento atual eram reconhecidos como parte do cânon das
Escrituras. O concílio de Cartago simplesmente confirmou aquilo que as igrejas cristãs já
praticavam.

5
Lucas escreveu com a aprovação do apóstolo Paulo; Marcos (João Marcos) com a aprovação do apóstolo Pedro.
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Quarta Aula

Estrutura da Bíblia
A Bíblia é, na verdade, mais do que um só livro. Ela é uma coleção de 66 livros escritos por mais
de 40 autores. Os autores humanos do texto sagrado apresentavam uma grande variedade.
Encontramos entre eles pastores, reis, homens de estado, escribas, sacerdotes, sábios, poetas,
historiadores, homens da lei, um agente de impostos, um médico, pescadores sem instrução e
anônimos.

A Bíblia não caiu pronta do céu, como o dizem do Alcorão. A Bíblia foi escrita durante um
período de cerca de 1.600 anos, sendo terminada a quase 2.000 anos. Esse período
compreende aproximadamente 40 gerações.

A primeira grande divisão da Bíblia é a separação em dois testamentos: Antigo (as vezes
chamado de Velho) Testamento e Novo Testamento.

O Antigo Testamento é subdividido em:

Pentatêuco (primeiros 5 livros, escritos por Moisés: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e
Deuteronômio)

Livros históricos (Josué, Juízes, Rute, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis, 1 e 2 Crônicas, Esdras,


Neemias e Ester)

Livros poéticos e de sabedoria (Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cântico dos


Cânticos)

Livros proféticos:

o Profetas maiores (por serem livros mais extensos: Isaías, Jeremias, Lamentações
de Jeremias, Ezequiel e Daniel)
o Profetas menores (por serem livros mais curtos: Oséias, Joel, Amós, Obadias,
Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias)

O Novo Testamento é subdividido em:

Evangelhos (Mateus, Marcos, Lucas e João)

Livro histórico (Atos)

Cartas (epístolas):
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o Cartas de Paulo às igrejas (Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses,


Colossenses e 1 e 2 Tessalonicenses)
o Cartas pastorais (1 e 2 Timóteo, Tito e Filemon)
o Cartas Gerais (Hebreus, Tiago, 1 e 2 Pedro, 1, 2 e 3 João e Judas)

Livro profético ou apocalíptico (Apocalipse)

Capítulos e versículos

A divisão da Bíblia em capítulos e versículos não faz parte do texto original dos escritores das
Escrituras. Estas divisões foram feitas muito tempo depois como método de referência para
facilitar a localização de “citações” ou leitura do texto. A divisão em capítulos foi feita por
Stephen Langton em 1.227 d.C. e a divisão em versículos foi acrescentada em 1.553 d.C. por
Robert Estienne ou Stephanus.

A divisão do texto em parágrafos e os títulos que se encontram no começo de alguns deles na


maioria das Bíblias também não fazem parte do texto original. São divisões e títulos meramente
indicativos colocados ali pelos editores de Bíblias para facilitar a compreensão do assunto. Os
editores também colocam alguns rodapés em algumas Bíblias para indicar alternativas de
tradução, dar esclarecimento de algumas palavras ou então indicar outras passagens bíblicas
que tratam do mesmo assunto. As Bíblias de estudo também apresentam comentários e outros
recursos para o estudo da Bíblia que são de inteira responsabilidade dos editores e não fazem
parte do texto inspirado das Escrituras.

Os Livros Apócrifos (ou dêuterocanônicos)

São chamamos de apócrifos os livros religiosos judaicos de origem obscura e serôdia (fora do
tempo), os quais nunca foram incluídos no cânon hebraico. Os católicos romanos os chamam
de dêuterocanônicos: o que significa “ao lado dos canônicos”. São livros religiosos que eram
conhecidos e usados pelos judeus, mas que não foram reconhecidos como livros inspirados por
Deus. Eles não haviam sido incluídos nas primeiras edições da Septuaginta (tradução do AT
judaico em língua grega feita uns 200 anos antes de Cristo), mas apareceram em suas últimas
edições. Jerônimo, no quinto século d.C., incluiu os apócrifos em sua tradução da Bíblia em
latim, a Vulgata, em uma sessão separada com uma nota explicativa dizendo que esses livros
não eram inspirados.
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Existem vários livros e fragmentos considerados apócrifos. Alguns deles são reagrupados e em
certas Bíblias católicas encontra-se apenas 7 livros apócrifos distintos e trechos que são
acrescentados aos livros canônicos.

Os livros e fragmentos apócrifos (dêutero-canônicos) incluídos nas Bíblias católicas são:


Tobias;
Judite;
acréscimos ao livro de Ester (6 ½ capítulos);
1 e 2 livro dos Macabeus;
O Livro da Sabedoria;
O Eclesiástico;
Baruc (ou Baruque – o capítulo 6 inclui a Carta de Jeremias, anteriormente um apócrifo
separado);
acrésimos a Daniel (A oração de Azarias (cap. 3), Cântico de três jovens (cap. 3), História
de Suzana (cap. 13), A História de Bel e o Dragão (cap. 14).

Outros livros apócrifos: 3 Esdras (Neemias era também conhecido como 2 Esdras) e a Oração de
Manassés.

Existe também um grande número de livros “pseudo-epígrafos”, isto é, livros escritos de forma
anônima, usando os nomes de antigos profetas. O mais conhecido é o Evangelho de Tomé.

Com exceção de certos ensinamentos históricos interessantes e alguns bons pensamentos


morais, esses livros contêm lendas absurdas, erros históricos, geográficos e cronológicos, assim
como heresias doutrinais. Eles até mesmo recomendam alguns atos imorais.

Os cristãos dos primeiros séculos não os admitiram como parte das Escrituras inspiradas. Com a
contra-reforma, em reação a reforma protestante iniciada por Martinho Lutero, a Igreja
Católica Romana adotou oficialmente os apócrifos como parte da Bíblia no Concílio de Trento
em 1546.

Esta decisão foi tomada pela igreja romana porque ela não tinha argumentos bíblicos, diante
dos Reformadores, para justificar seus desvios doutrinários. Ela esperava, dentro dos livros
apócrifos, encontrar apoio para:
 a oração em favor dos mortos
 o sacrifício expiatório (a missa),
 a esmola que expia os pecados e livra da morte,
 a invocação e intercessão dos santos,
 o culto aos anjos,
 o purgatório e a redenção das almas após a morte, etc.
15

O pensamento central de cada livro da Bíblia6

Gênesis A fundação da nação hebraica


Êxodo A aliança da nação hebraica
Levítico As leis da nação hebraica
Números A viagem rumo à Terra Prometida
Deuteronômio As leis da nação hebraica
Josué A conquista de Canaã
Juízes Os primeiros 300 anos na Terra Prometida
Rute Os primórdios da famíia messiânica de Davi
1 Samuel A organização do reino
2 Samuel O reinado de Davi
1 Reis A divisão do reino
2 Reis A história do reino dividido
1 Crônicas O reinado de Davi
2 Crônicas A história do Reino do Sul
Esdras O retorno do cativeiro
Neemias A reconstrução de Jerusalém
Ester Israel escapa do extermínio
Jó O problema do sofrimento
Salmos O hinário nacional de Israel
Provérbios A sabedoria de Salomão
Eclesiastes A vaidade da vida terrena
Cântico dos Cânticos A exaltação do amor conjugal
Isaías O profeta messiânico
Jeremias O último esforço por salvar Jerusalém
Lamentações Canto fúnebre sobre a desolação de Jerusalém
Ezequiel “Saberão que eu sou Deus”
Daniel O profeta na Babilônia
Oséias A apostasia de Israel
Joel A predição da era do Espírito Santo
Amós O governo final e universal de Davi
Obadias A destruição de Edom
Jonas A mensagem de misericórdia para Nínive
Miquéias Belém será o berço do Messias
Naum A destruição de Nínive
Habacuque “o justo viverá pela fé”
Sofonias O advento da “linguagem pura”
Ageu A reconstrução do templo
Zacarias A reconstrução do templo
Malaquias Mensagem final ao povo desobediente
Mateus Jesus, o Messias
Marcos Jesus, o Maravilhoso

6
Manual Bíblico de Halley, Editora Vida, ed. revista e ampliada, trad. Gordon Chown, p. 38-39.
16

Lucas Jesus, o Filho do Homem


João Jesus, o Filho de Deus
Atos A formação da igreja
Romanos A natureza da obra de Cristo
1 Coríntios Diversas desordens na igreja
2 Coríntios Paulo vindica seu apostolado
Gálatas Pela graça, não pela lei
Efésios A unidade da igreja
Filipenses Uma epístola missionária
Colossenses A divindade de Jesus
1 Tessalonicenses A Segunda Vinda de Cristo
2 Tessalonicenses A Segunda Vinda de Cristo
1 Timóteo Cuidados com a igreja de Éfeso
2 Timóteo Conselhos finais de Paulo
Tito As igrejas de Creta
Filemon A conversão do escravo fugitivo
Hebreus Cristo, mediador da nova aliança
Tiago Boas obras
1 Pedro A uma igreja perseguida
2 Pedro Predição da apostasia
1 João O amor
2 João A preocupação contra os falsos mestres
3 João A refeição dos auxiliares de João
Judas A apostasia iminente
Apocalipse O triunfo final e definitivo de Cristo
17

Quinta Aula

Cronologia da história bíblica7


Cronologia do Antigo Testamento

É impossível estabelecer com exatidão todas as datas dos acontecimentos bíblicos. Quanto
mais distantes no tempo, maior é a imprecisão das datas. Só a partir da época da monarquia de
Israel é possível definir com um pouco mais de exatidão os acontecimentos. As maiores
divergências se dão quanto à datação da criação do universo, indo de vários mil anos a vários
bilhões de anos. Para o período dos patriarcas e a permanência do povo hebreu no Egito a
divergência é de cerca de duas centenas de anos.

1. O Princípio – pré-história: este período cobre os primeiros 11 capítulos do livro de


Gênesis. A datação deste período é bastante controversa, variando de alguns milhares
de anos a.C. (4-8 mil) a milhões, ou até bilhões, de anos. A divergência depende de
como se aceita a narração do livro de Gênesis, se literal ou figurada. Os acontecimentos
principais são:
a criação do universo por Deus onde tudo era perfeito;
os seres humanos são criados a imagem e semelhança de Deus;
a Queda com o pecado de Adão e Eva no Jardim do Édem traz separação de Deus e
deturpação da imagem divina no ser humano;
os irmãos Caim e Abel, o assassinato de Abel e maldição sobre Caim;
a generalização do mal leva Deus a decretar o dilúvio com a destruição da vida na
face da terra, incluindo o da humanidade, com excessão da família do justo Noé, que
foi salva;
a rebelião e arrogância da humanidade, levando-a a construir a torre de Babel. Deus
confunde as línguas, criando os diferentes idiomas.

2. Os Patriarcas – cerca de 2.200 a.C.


Em Gênesis 12 Deus escolhe um homem (Abrãao) para através dele formar uma
nação que serviria como instrumento para demonstrar a glória de Deus e trazer
salvação para toda a humanidade.
Nascimento de Abraão (2.160? 1.950?). Abraão foi homem de fé. Seu filho oriundo
da promessa de Deus foi Isaque (de quem descende o povo de Israel) e o filho que
teve fora do plano de Deus foi Ismael (de quem descendem os árabes).
Nascimento de Isaque, filho de Abraão – 2.060? 1.850?
7
Bíblia Shedd, 2ª edição, Edições Vida Nova e Sociedade Bíblica do Brasil, ajudas para o leitor, p. 1789-1791.
18

Nascimento de Jacó e Esaú, filhos de Isaque – 2.000? 1.790?


Nascimento de José, um dos 12 filhos de Jacó (1.900? 1.699?). Quando ainda jovem,
José é vendido ao Egito pelos próprios irmãos. Lá, depois de um longo período de
tribulação, passa a ser o segundo em comando (abaixo somente do faraó). Os doze
filhos de Jacó dão origem às doze tribos de Israel.

3. Israel no Egito e o Êxodo – cerca de 1.900 a.C.


Migração da família de Jacó para o Egito (1.870? 1.650?). A fome leva a família a
migrar e lá são reconciliados com José.
Os hebreus passam a ser escravos no Egito.
Nascimento de Moisés (1.520? 1.330?). Deus chama Moisés para uma tarefa
especial de libertar o povo Hebreu da escravidão e conduzi-lo para uma terra
prometida – Canaã. Antes que o faraó concorde em libertar os Hebreus, Deus manda
uma série de dez pragas sobre os egípcios.
O êxodo do Egito, data que marca o início da nação de Israel – 1.440? 1.230?
Permanência do povo no deserto por 40 anos antes de entrar na Terra Prometida.
No início desta peregrinação, Deus dá a Moisés a Lei e instrui o povo sobre adoração
ao único Deus, a conduta moral do povo e sobre o código civil que devem usar como
nação. Sob instruções divinas a construção do tabernáculo é realizada e o sistema
sacrificial é instituído.

4. A conquista de Canaã e o período dos juízes – cerca de 1.400 a.C.


Início da conquista da terra de Canaã sob o comando de Josué (1.400? 1.230?). Israel
ocupa partialmente a terra prometida, deixando ainda alguns dos povos cananeus, o
que é contrário às instruções de Deus para o povo.
Início do período dos juízes (1.370? 1.200?). Um período de algumas centenas de
anos em que houve muita desunião entre as tribos de Israel e um distanciamento
espiritual de Deus. Os israelitas adotam a idolatria dos povos cananeus. O cíclo da
apostasia se repete várias vezes com: distanciamento de Deus, sofrimento infligido
pelos povos vizinhos e permitido por Deus por causa da desobediência, clamor a
Deus, Deus levanta um juiz para libertar o povo, início de um período de paz e
prosperidade antes de cair novamente no ciclo da apostasia.

5. Início da monarquia – Reino Unido – 1.050 a.C. Período auge da nação de Israel.
Reinado de Saul: 1.050 – 1.010. Saul é escolhido por Deus, mas cai no seu desfavor
devido a desobediência.
19

Reinado de Davi: 1.010 – 970. Davi é escolhido por Deus para substituir Saul.
Conhecido como “homem segundo o coração de Deus”. Davi recebe uma promessa
de que o Messias, o Salvador, seria de sua linhagem.
Reinado de Salomão: 970 – 931. Filho de Davi, construiu o templo, símbolo da
adoração ao Senhor. Foi o homem mais sábio e rico da história de Israel.

6. O Reino Dividido – 931 a.C.


Divisão do reino em dois países separados, Israel (Reino do Norte) e Judá (Reino do
Sul);
Maioria dos profetas do Antigo Testamento viveram durante este período;
Queda de Israel e da capital Samaria nas mãos da Assíria – 722 a.C.;
Império da Assíria: 1.200 – 612 a.C.;
Queda de Assur (cidade importante do império assírio) em 614 a.C. e de Ninive
(capital) em 612 a.C.;
Primeira deportação de habitantes de Judá para a Babilônia (incluindo Daniel) com
início do cativeiro babilônico – 606 a.C. Os 70 anos preditos de cativeiro começam a
contar a partir daqui.

7. O cativeiro e a restauração – 586 a.C.


Daniel, Ezequiel e alguns dos profetas menores viveram durante este período;
Queda definitiva de Judá nas mãos dos babilônios com destruição de Jerusalém e do
templo; deportação da maioria do povo para a Babilônia – 586 a.C.;
Império da Babilônia: 626 – 538 a.C.;
Babilônia cai nas mãos dos Persas em 538 a.C. com início do império persa;
Retorno dos judeus para Jerusalém sob comando de Zorobabel e pelo decreto de
Ciro – 536 a.C.;
Início da reconstrução do templo em 520 a.C.;
Segunda remessa de judeus retorna para Judá com Esdras em 458 a.C.;
Neemias vai para Jerusalém e começa a reconstrução dos muros em 445 (até 443)
a.C.
20

Sexta Aula
Cronologia do período intertestamentário (entre o Antigo e o Novo Testamento) – 400 a.C.

1. Alexandre o Grande conquista a Palestina, iniciando um período de domínio grego – 333


– 323 a.C. Com a morte de Alexandre o Grande, o império grego é dividido em quatro
partes. Duas delas (ptolomeus e selêucidas) teriam influência sobre a Palestina.
2. Domínio dos ptolomeus sobre a Palestina: 323 – 198 a.C.
3. Domínio dos selêucidas sobre a Palestina: 198 – 166 a.C.
4. Antiocus IV (Epifanos) profana o Templo em 168 a.C.
5. Revolução de Judas Macabeus (judeu) e domínio da sua família e seus descendentes, os
asmoneus, sobre a Palestina: 166 – 63 a.C.
6. Conquista de Jerusalém pelo general romano Pompeu, passando a Palestina a fazer
parte do Império Romano – 63 a.C.
7. Reinado de Herodes o Grande sobre a Palestina por nomeação de Roma: 37 – 4 a.C.

Cronologia do Novo Testamento

1. Nascimento de Jesus: 5 ou 6 a.C. – Jesus, segunda pessoa da trindade, deixa sua glória
no céu para encarnar como ser humano, tendo duas naturezas: humana e divina. Jesus é
o Messias (Cristo) prometido por Deus através dos profetas do Antigo Testamento. Sua
concepção se dá de forma sobrenatural por atuação do Espírito Santo, sendo Maria
virgem.
2. João Batista é enviado como precursor do ministério de Jesus, anunciando-o como
“cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”.
3. Jesus exerce seu ministério terreno depois de sua maioridade, marcado pelo seu
batismo por João Batista. É um período de ensino e formação dos discípulos, futuros
líderes da Igreja: 27 – 30 d.C. Jesus anuncia a chegada do Reino de Deus e a sua missão
de ser o Salvador do Mundo.
4. Após ser preso e julgado injustamente, Jesus é morto numa cruz, ressurge dos mortos
no terceiro dia e sobe para os céus, para junto do Pai, 40 dias após a sua crucificação,
prometendo enviar um outro Consolador (paracleto). Dez dias depois, no dia de
Pentecostes, acontece o derramamento do Espírito Santo sobre os discípulos de Jesus e
o início da Era da Igreja – 30 d.C.
5. A igreja vivencia um período de crescimento explosivo em Jerusalém.
6. Martírio de Estevão (32 ou 33 d.C.) com início de um período de perseguição à Igreja.
Saulo (Paulo) lidera a perseguição. Muitos cristãos são obrigados a deixar Jerusalém e
saem evangelizando os povos por onde passam.
21

7. Samaritanos são evangelizados por Filipe, se convertem e recebem o Espírito Santo (os
samaritanos eram mestiços, parcialmente hebreus, odiados e desprezados pelos
judeus).
8. Conversão de Saulo a caminho de Damasco (33 d.C).
9. Conversão do centurião romano Cornélio e recebimento do Espírito Santo pela primeira
vez por um grupo de gentios (não judeus).
10. Primeira viagem missionária de Paulo, acompanhando Barnabé (47 – 48 d.C.), passando
pela Ilha de Chipre e o que é atualmente a Turquia.
11. Concílio de Jerusalém (49 d.C.) onde foi decidido que não era necessário que os gentios
que estavam se convertendo adotassem a cultura judáica, incluindo a circuncisão.
12. Segunda viagem missionária de Paulo (com Silas: 49 – 52 d.C.) atingindo a região atual
da Turquia e entrando na Europa (atual Grécia). Timóteo e Lucas se juntam a comitiva
missionária. Importantes cidades atingidas: Éfeso, Filipos, Tessalônica, Atenas e Corinto.
13. Terceira viagem missionária de Paulo (52 – 57 d.C.) voltando a visitar áreas atingidas na
segunda viagem.
14. Paulo é preso em Jerusalém (57 d.C.) e depois mantido em cárcere em Cesáreia durante
dois anos.
15. Viagem de transferência a Roma (59 – 60 d.C.) para ser julgado por César, imperador
romano.
16. Após dois anos Paulo é solto e passa algum tempo em liberdade, voltando a fazer
viagens missionárias.
17. Paulo é preso novamente antes de escrever sua última carta a Timóteo (2 Timóteo).
Martírio de Pedro e Paulo em Roma sob a perseguição do imperador Nero aos cristãos –
64? 67? d.C.
18. Queda e destruição de Jerusalém e do templo pelos romanos – 70 d.C.
19. Últimos livros da Bíblia escritos pelo apóstolo João – década de 90 d.C.
20. Morte do apóstolo João – 98 ou 100? d.C.
22

Sétima Aula

Geografia bíblica
O Crescente Fértil

Denomina-se Crescente Fértil uma faixa de terra em formato de arco, ou crescente, que vai da
Palestina, na sua extremidade ocidental, até o delta dos rios Tigre e Eufrates, na sua
extremidade oriental. Boa parte da história bíblica antiga relatada no livro de Gênesis se
desenrola nesta faixa. Esta faixa inclui os países atuais do Iraque, Iran, Síria, Líbano, Israel e
Jordânia. A humanidade teve origem no extremo oriental, onde se desenvolveram as primeiras
civilizações, como a Suméria. Abraão é originário desta região oriental. Sua família migrou para
a região mais ao norte do Crescente Fértil e de lá Deus o chamou para habitar a região de
Canaã, na extremidade ocidental.

Yohanan Aharoni, Michael Avi-Yonah, Anson F. Rainey e Ze’ev Safrai, ATLAS BÍBLICO (Rio de Janeiro: CPAD), 1999
23

Palestina

A Palestina tinha uma posição destacada no mundo antigo devido à sua situação entre os
continentes da Ásia e África e os mares Mediterrâneo e Índico. Sua extensão de norte a sul é de
no máximo 288 Km e leste a oeste de 40-80 Km. A Palestina já teve vários nomes durante sua
história.

Canaã: Nome original tomado do ancestral de seus primitivos habitantes, Cam (ou Cão),
filho de Noé. Mais tarde, esse nome foi dado a toda a região entre o Jordão e o
Mediterrâneo, que se encontra entre o Líbano ao norte e o Deserto da Arábia ao sul.

Terra dos Amorreus: É um dos nomes mais antigos (Nm 21:31).

Terra dos Hebreus: Os israelits são descendentes de Héber, da linhagem de Sem, filho de
Noé. A denominação Hebreus vem de Héber. O território onde viviam os hebreus foi
então conhecido como terra dos hebreus (Gn 40:15).

Terra Prometida: Uma referência ao território que Deus havia prometido a Abraão.

Canaã no Antigo Testamento Palestina no Novo Testamento


24

Israel: A conquista dos hebreus da terra de Canaã levou eventualmente a formação da


nação de Israel. Mais tarde a nação foi dividida em duas nações, tendo a região norte
continuado com a designação Israel enquanto que a região sul passou a ser conhecida
como Judá. Nos tempos de Jesus era conhecida como Judéia.

Terra Santa (Zc 2:12): Terra considerada santa pelos judeus, cristãos e muçulmanos.
Muitas guerras foram travadas por este território (incluindo as Cruzadas) em nome da
conquista da Terra Santa.

Palestina: É uma adaptação da palavra filistéia que significa terreno dos filisteus. O
império romano usou este termo para designar a sua província na região a partir do
segundo século d.C.

Regiões da Palestina

A Palestina pode ser dividida em regiões


que se estendem de norte a sul. A
medida que se avança de oeste a leste, a
topografia passa do nível do mar
subindo até ao nível elevado das
montanhas.

Planícies marítimas: a primeira


região é formada pelas planícies
que margeiam o Mar
Mediterâneo, sendo mais larga
na sua parte sul.

Sefela: Região em aclive de solo


muito apropriado para o cultivo
de oliveiras, uvas e grãos. É
formada pelas ramificações dos
contrafortes do planalto de Judá.

Cordilheira Central ou espinhaço do país: Cordilheira que se estende de norte a sul da


Palestina, desde o Líbano ao norte até o deserto da Arábia ao sul.
25

Vale do Jordão: É a grande fenda geológica, abaixo do nível do mar, que se estende
desde a Síria, através da Palestina até Eziom-Geber, no Golfo Acaba. Neste vale temos o
Mar da Galiléia, ao norte, e o Mar Morto, ao sul. O Rio Jordão liga os dois lagos.

Planalto Oriental: Os montes dessa região, em seu conjunto, são mais uniformes,
íngremes e de maior altitude que os da Palestina Ocidental, alcançando uma altura
média de 850 m numa grande extensão do terreno.

Principais lagos

Os dois principais lagos da Palestina levam o nome de “mar”.

Mar da Galiléia (também conhecido como Mar de Quinerete, Mar de Tiberíades ou Mar
de Genezaré): Este lago está a 210 metros abaixo do nível do mar, tem 24 Km de
comprimento por 14 Km de largura máxima e uma profundidade máxima de 50 metros.
A sua margem oriental é rodeada por altas montanhas. A margem ocidental tem
planíceis ferteis e cidades importantes com Genezaré, Betsaida, Tiberíades, Cafarnaum e
Corazim.

Mar Morto (também chamado Mar de Arabá ou Mar Salgado – Js 3:16): Este lago tem
um teor de sal extremamente elevado. Ele recebe água do Rio Jordão, mas não tem
saída. A evaporação nesta região seca e quente é muito alta. O lago se encontra a cerca
de 400 metros abaixo do nível do mar (é o lago de menor altitude no mundo). Sua
extensão máxima é de 80 Km de comprimento por 16 Km de largura e com
profundidade que chega a 390 metros. Sodoma e Gomorra provavelmente se
encontravam nas proximidades da margem sudeste do lago.

Povos de Canaã

Na época da conquista de Canaã pelo povo de Israel após sua saída do Egito, vários povos
viviam na região. Estes povos sempre foram um obstáculo para o povo de Deus. Os antigos
Cananeus eram descendentes de Cam (Cão), filho de Noé.

Heteus (Js 1:4)


Heveus (Js 9:7,17)
Ferezeus (Gn 34:30; Js 17:15)
Jebuseus (II Sm 5:6-9)
26

Amorreus (Js 7:7)


Filisteus (Js 13:2,3)
Moabitas (Dt 2:19-23; Rute era moabita) – Descendentes de Ló
Amonitas (Dt 2:19-23) – Descendentes de Ló
Amalequitas – Descendentes de Esaú (Gn 36:12)
Edomitas (Idumeus no NT) – descendentes de Esaú (Gn 32:3; 36:6-8)
Queneus (Jz 1:16; I Sm 15:6)

Terras das viagens de Paulo

No Novo Testamento, com a expansão da Igreja, novos territórios são mencionados, além da
Palestina. São terras onde hoje estão os países do Líbano, Síria, Turquia, Grécia, Chipre e Itália.
Nesta época estas regiões eram controladas pelo império romano. O império era dividido em
províncias. O livro de Atos nos relata as viagens missionárias do apóstolo Paulo por estas
regiões.

Império romano
27

Oitava Aula

Traduções da Bíblia
As línguas originais – O Antigo Testamento foi originalmente escrito na sua grande maioria na
língua hebraica, com alguns trechos em aramaico. O hebraico era a língua do povo hebreu até o
final da monarquia. Durante o exílio dos judeus na Babilônia, assimilaram a língua aramaica. De
volta à Palestina, os judeus passaram a usar mais esta língua. A segunda metade do livro de
Daniel foi escrita em aramaico, língua falada onde ele se encontrava. A ascensão do grego como
língua universal na região mediterânea também teve influência sobre os idiomas falados na
Palestina. Muitos judeus já não entendiam o hebraico na época de Jesus.

O Novo Testamento foi escrito no idioma grego koinê, um grego popular, diferente daquele
usado nas obras clássicas. Algumas palavras e frases em aramaico aparecem no texto do Novo
Testamento.

Os materiais da escrita – Os materiais mais antigos usados para gravar inscrições foram as
tábuas talhadas de pedra ou argila. As tábuas dos Dez Mandamentos são um exemplo deste
tipo de escrita (Ex 32:15-16).

O material mais utilizado para a escrita na época do Antigo Testamento era o papiro. Ele era
fabricado usando-se as cascas prensadas de uma planta aquática longa e fina que crescia às
margens do Rio Nilo, no Egito. Várias destas “folhas” eram emendadas para formar um rolo
comprido, pondendo chegar a 40 metros. A escrita era aplicada a apenas uma das superfícies
com um estilete molhado em tinta fabricada com pó de foligem, água e goma arábica. O papiro
era guardado em rolos com uma vara em cada ponta. O material era frágil e de manuseio difícil.
Fora do Egito o papiro era muito caro.

Em Pérgamo, na Ásia Menor (atual Turquia), desenvolveu-se o material para escrita conhecido
como pergaminho. Este era feito de couro, usando-se peles de ovelhas e cabras. O velino era
fabricado de pele de animais maiores (bezerros, bois e antílopes) e era mais caro. O couro
(pergaminho e velino) foi o material mais utilizado para a escrita do Novo Testamento,
podendo-se fazer a inscrição nas duas faces. Os pergaminhos também eram guardados em
rolos. Em 2 Tm 4:13 Paulo pede que seus pergaminhos lhe sejam trazidos. Um pergaminho
reutilizado é conhecido como palimpsesto. O pergaminho foi o material mais utilizado para
escrever o Novo Testamento.

Nos séculos II e III d.C. começou-se a usar páginas de papiro e posteriormente cascas de árvore
prensadas e misturadas à goma. Em vez de enroladas elas eram empilhadas e costuradas em
uma de suas laterais, como nos livros atuais. Este conjunto era conhecido como códice (codex).
28

Muitos dos manuscritos antigos da Bíblia ainda existentes estão neste formato (nem sempre
completos). Alguns dos mais importantes são:

Códice Sinaítico (a) – descoberto em 1.859 no Monte Sinai, datando do início do século
IV, 75% do Antigo Testamento e o Novo Testamento completo (e todos os livros
apócrifos do AT).
Códice Vaticano (B) – datando do século IV (325 – 350 d.C.), 90% do Antigo Testamento
e Novo Testamento incompleto (mais alguns livros apócrifos).
Códice Alexandrino (A) – datando do século V d.C., 90% do Antigo Testamento e Novo
Testamento (AT em grego).
Códice de efraimita (C), – datando do século V, possui 64 folhas com o Antigo
Testamento e 145 com o Novo Testamento.

Nenhum dos escritos originais sobrevive hoje, mas temos um grande número de cópias antigas
(mais de 5.000), com algumas de idade bem próximas aos originais. Existem também mais de
2.400 manuscritos que datam do IX ao XVI séculos d. C., “mais de 2.000 lecionários (livretos de
uso litúrgico que contêm porções das Escrituras) e mais de 86.000 citações do Novo
Testamento nos escritos dos Pais da Igreja.”8 Podemos afirmar com confiança que o texto
sagrado é exato.

A Bíblia sobreviveu:
a três séculos de perseguições do império romano, quando se jogava às feras os que
possuíam os livros santos;
o século X, quando poucos homens sabiam ler, mesmo entre os príncipes;
os séculos XII a XIV, quando o uso das Escrituras em língua vulgar (do povo) era punido
de morte. (Em 1.229, um concílio reunido em Toulouse proibiu na França “aos leigos de
possuírem os livros do Antigo e do Novo Testamento”. No concílio de Béziers, de 1.246,
essa medida é confirmada e a interdição passada ao clero. Em 1.526, o Parlamento de
Paris proclama um decreto proibindo a possessão ou a venda do Novo Testamento em
francês.)
a Idade Média, onde a Igreja Romana (Católica) proibiu a leitura dos santos livros e
substituiu a Palavra de Deus por suas tradições. O uso das Escrituras em língua vulgar
também era punido de morte.
muitas tentativas de destruir a Bíblia em suas diferentes versões e traduções,
especialmente nos séculos XV e XVI.

8
Extraído de “A Survey of Bible Doctrine, por Charles C. Ryrie, Transcrito de “A Bíblia Anotada” e afixada na Internet no
site: www.vivos.com.br
29

Traduções da Bíblia de importância histórica

A história da tradução da Bíblia para as diversas línguas é um estudo fascinante. Muitos servos
de Deus investiram sua vida na tradução das Escrituras para que todos os povos tivessem
acesso à Palavra de Deus. Algumas destas traduções têm um alto valor histórico. Citamos três:

Septuaginta (a versão dos Setenta ou LXX) – É uma tradução em grego de todo o Antigo
Testamento, feita por judeus de Alexandria entre 250 e 150 a.C. A tradição diz que
foram 70 sábios que fizeram a tradução, daí o nome de Septuaginta. Esta tradução fez
com que as Escrituras Sagradas ficassem muito mais acessíveis aos outros povos, pois a
língua grega na época era a língua mais universal da região do Mediterâneo. Além disto,
a Septuaginta foi importante para a preservação do conhecimento do Antigo
Testamento, mesmo entre o povo de Israel. Na época de Jesus a população judaica em
geral não compreendia mais o hebraico. Somente os eruditos judeus ainda podiam ler o
Antigo Testamento hebraico. Quando Jesus citou o Antigo Testamento durante seu
ministério terreno, era o texto da Septuaginta que citava.

Vulgata – A tradução para o latim feita por Jerônimo a pedido do Papa Dâmaso I no final
do século IV e começo do século V d. C. ficou sendo conhecida com Vulgata. Jerônimo
traduziu o Antigo Testamento diretamente do hebraico e o Novo Testamento do grego.
O latim utilizado por Jerônimo não foi o clássico, mas o latim utilizado pelo povo, para
que a Bíblia fosse mais facilmente entendida por um maior número de pessoas. A
Vulgata passou a ser a Bíblia official da Igreja Católica Romana e, com o tempo, a única
permitida em todo o mundo. Apesar da Igreja Romana permitir atualmente traduções
para outros idiomas, a Nova Vulgata de 1979 continua sendo a versão oficial desta
igreja. Todas as primeiras edições católicas da tradução da Bíblia em português foram
feitas a partir da Vulgata em vez de se partir das línguas originais (as Bíblias em
português eram uma tradução da tradução).

King James Version (KJV) – O Rei Tiago I (King James I) da Inglaterra encomendou uma
tradução da Bíblia em inglês para ser usada como tradução oficial da Igreja da
Inglaterra. Várias outras traduções em inglês já existiam. O Texto Recebido (Textus
Receptus) em grego serviu de base para a tradução do Novo Testamento. O trabalho de
tradução encomendado pelo rei ficou pronto em 1.611. Esta versão da Bíblia em inglês
foi a mais usada no mundo de fala inglesa até a segunda metade do século passado.
Existem atualmente alguns grupos radicais que defendem esta tradução como a única
inspirada e todas as outras como heréges. Existe uma tradução em português que leva
este nome, Bíblia King James Atualizada (KJA), que nada tem a ver com a versão em
inglês encomendada pelo rei Tiago. É uma tradução direta das línguas originais.
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A Bíblia em português

Os mais antigos registros de tradução de trechos da Bíblia para o português datam do final do
século XV. Porém, centenas de anos se passaram até que a primeira versão completa estivesse
disponível em três volumes, em 1.753. Trata-se da tradução de João Ferreira de Almeida.
Almeida nasceu em Portugal, mas ainda jovem foi morar na Malásia, seguido do Ceilão e
finalmente na Batávia (atual Ilha de Java, Indonésia). Foi aí que ele traduziu a maior parte da
Bíblia para o Português, terminando o Novo Testamento em 1.676, mas só foi publicado em
1.681 com muitos erros. Almeida morreu em 1.691 enquanto traduzia o Antigo Testamento
(tinha chegado a Ezequiel). A obra foi terminado em 1.694 por Jacobus op den Akker, pastor
holandês. A primeira impressão da Bíblia completa em português, em um único volume, se deu
em Londres, em 1.819, também na versão de Almeida9.

Principais traduções (protestantes) da Bíblia em português do Brasil usadas na atualidade

A Bíblia Sagrada – João Ferreira de Almeida, Edição Revista e Corrigida (COR) - Não é a
mesma traduzida por JFA e impressa em 1.753. É na realidade uma edição brasileira
onde foram tirados os lusitanismos e adaptado para o português do Brasil. Ela foi
publicada em 1.898 pela Sociedade Bíblica Britânica. A 2ª edição foi publicada pela
Sociedade Bíblica do Brasil em 1.969. A 3ª edição foi publicada em 1.995. A 4ª edição
data de 2.009 (ARC).

A Bíblia Sagrada – João Ferreira de Almeida, Edição Revista e Atualizada no Brasil (ATU)
- É uma revisão de Almeida, independente da Revista e Corrigida, que foi encomendada
a uma equipe de tradutores brasileiros e publicada pela SBB em 1.956. Ela conserva as
características principais da tradução à equivalência formal de Almeida. Sua revisão foi
feita à luz dos manuscritos mais antigos que não estavam à disposição de Almeida. Em
1.993 ela passou por uma 2ª revisão pela SBB (ARA). Publicada também pelas Edições
Vida Nova (edição de 1.976 com muitas referências e notas explicativas) e pela Imprensa
Batista Regular do Brasil (“Bíblia de Scofield” com referências e anotações lançada em
1.983).

A Bíblia Sagrada – Versão Revisada (VRe) - Publicada pela Imprensa Bíblica Brasileira
primeiramente em 1.967 e na sua 2ª edição em 1.986. É baseada na tradução de
Almeida. Ela segue mais a forma da COR, porém mais natural.

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Adaptação de “Almeida: A Obra de Uma Vida” no site www.vivos.com.br – fonte: A Bíblia no Brasil, n. 160, 1992, p. 14
e BOL- Bíblia on-line /SBB
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Em 2.005 foi lançada a Bíblia Almeida Século 21, baseada na Versão Revisada. É
publicada por um consórcio formado por Imprensa Bíblica Brasileira/JUERP, Edições
Vida Nova, Editora Hagnos e Editora Atos.

Edição Contemporânea Almeida (ECA ou AEC) - Publicada pela Editora Vida em 1.990, é
uma atualização da Almeida Revista e Corrigida, buscando eliminar arcaísmos e
ambiguidades dos texto original de Almeida.

Almeida Corrigida, Fiel (ACF) - O nome original é Almeida Corrigida e Revisada, Fiel ao
Texto Original. Publicada pela Sociedade Bíblica Trinitariana, baseada 100% no Textus
Receptus (TR). Pequena revisão em 1.995.

Nova Versão Internacional (NVI) - Publicada em 2.001 pela Sociedade Bíblica


Internacional. Ela segue um princípio intermediário entre o da equivalência dinâmica e o
da tradução literal.

A Bíblia na Linguagem de Hoje (BLH) - Publicada pela Sociedade Bíblica Brasileira no fim
de 1.988 com uma linguagem contemporânea e simples. Ela segue o princípio de
tradução da equivalência dinâmica. A tradução do Novo Testamento foi aprovada pela
Igreja Católica.

A Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH) - Uma revisão profunda da BLH


publicada em 2.000 pela Sociedade Bíblica Brasileira.

A Bíblia Viva (VIV) - Publicada em 1.981 pela Editora Mundo Cristão. A versão em inglês
foi concebida para ser entendida pelas crianças. Ela foi tão bem recebida que foi
traduzida para muitas outras línguas. Ela não é na realidade uma tradução, mas sim,
uma paráfrase; ou seja, ela toma muitas liberdades na tradução e insere algum
comentário. Em certos trechos ela foge um pouco das regras de tradução geralmente
aceitas.

Os diferentes conceitos de uma “boa” tradução

Existem duas concepções sobre o que seja uma “boa” tradução:

1- Tradução literal ou a equivalência formal – uma tradução que segue o mais perto possível
as palavras e estruturas da língua do texto original. As diferentes edições de João Ferreira
de Almeida se encaixam nesta categoria (COR, ATU e VRe). A COR segue mais de perto a
forma do original que as outras. As Bíblias Católicas Vozes e de Jerusalém também se
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encaixam nesta categoria. Estas versões são mais úteis para uma pessoa que já conheça
bem a Bíblia e quer um estudo detalhado.

2- Tradução a equivalência funcional ou dinâmica – uma tradução dirigida para o sentido,


que tenta transmitir, na segunda língua, o sentido exato da mensagem original de uma
maneira clara e natural. As versões NVI, BLH e NTLH se encaixam nesta categoria. Estas
versões são mais úteis para: os que ainda estão se familiarizando com a Bíblia, os que têm
nível escolar limitado, os que desejam ler um livro inteiro da Bíblia de uma só vez, para
leitura pública em voz alta e para esclarecimento de dúvidas de trechos difíceis.

Alguns princípios a serem seguidos para uma boa tradução

1- Os textos de base utilizados para a tradução devem ser os melhores textos.

2- A tradução deve ser exata. Uma tradução é exata ou fiel quando ela diz exatamente o
que o original dizia aos primeiros destinatários, sem adição nem subtração.

3- A tradução deve ser clara. Clara é o oposto de obscura e ambígua. Deus falou aos homens
para ser compreendido. Para isso é preciso evitar a tradução de palavras ou frases que não
façam sentido ou que possam ter mais de um sentido.

4- A tradução deve ser natural. Devemos evitar as traduções complicadas, pesadas ou


obscuras. Certas frases traduzidas literalmente soam de maneira estranha, afetando
imediatamente a tradução.

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