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1.

RISCO E RETORNO

Risco é a chance de perda financeira. Activos que apresentam maior chance de perda são
considerados mais arriscados do que os que trazem uma chance menor; de acordo com o mesmo
autor, o risco é a probabilidade de perda financeira ou, mais formalmente, é a variabilidade dos
retornos associados a um dado activo (Gitman, 2010, p.203).
Para Weston e Brigham (2000, p.155), o risco é a possibilidade de que algum acontecimento
desfavorável venha a ocorrer.

1.1. Distribuição de probabilidades

A probabilidade de um acontecimento é definida como a possibilidade de que o acontecimento


venha a ocorrer. Por exemplo um meteorologista pode afirmar que há 40% de possibilidades de
chuvas hoje e 60% de possibilidade de que não chova. Se todos os acontecimentos ou resultados
possíveis são classificados e se uma probabilidade é atribuída a cada acontecimento, a lista ‘e
chamada de distribuição de probabilidades. Assim, entende-se por distribuição de
probabilidades a lista de todos os resultados ou acontecimentos possíveis, com uma
probabilidade (possibilidade de ocorrência) atribuída a cada resultado.
Segundo Gitman, 2010,p.209, uma distribuição de probabilidade é um modelo que relaciona
probabilidades com os resultados a elas associados.

1.2. Retorno esperado (valor esperado) /Taxa de retorno esperada

Retorno é o ganho ou prejuízo total que se tem com um investimento ao longo de um


determinado período de tempo.
Se multiplicarmos cada resultado possível pela probabilidade de ocorrência do evento e por fim
somamos esses produtos, temos uma média ponderada dos resultados. As ponderações são as
probabilidades, e a média ponderada é a taxa de retorno esperada.

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Exemplo1: São nos dados dois projectos A e B, com um volume de investimento de 1000 U.M.
Determine o valor esperado e taxa de retorno esperada.
    n    
  R = ∑ ( Ri*pi )
    i=1    
Ou
    ^
  R = K *I

Projecto A Projecto B
Estado da economia Fluxos de caixa Fluxos de caixa
Probalilidade Valor esperado Probalilidade Valor esperado
(Ri) (Ri)
Recessão 400 0.2 80 0 0.2 0
Normal 500 0.6 300 500 0.6 300
"Boom" 600 0.2 120 1000 0.2 200
Valor esperado (Ṝ) 1 500 1 500

Valor esperado  
Taxa de retorno esperada (K^) =
Investimento  
Ou

^ n
K = ∑ ( Ki*pi )
i=1
Projecto A Projecto B
Estado da economia Taxa de retorno Taxa de retorno
Retorno (Ki) Probalilidade Retorno (Ki) Probalilidade
esperada esperada
Recessão 0.4 0.2 0.08 0 0.2 0
Normal 0.5 0.6 0.3 0.5 0.6 0.3
"Boom" 0.6 0.2 0.12 1 0.2 0.2
Taxa de retorno esperada (K^) 1 50.00% 1 50.00%

1.2.1. Medição do Risco

Além da sua amplitude, o risco de um activo pode ser medido quantitativamente por meio de
estatísticas. Aqui havemos de debruçar-se sobre o desvio padrão (σ) e o coeficiente de variação
(CV), que podem ser usadas para medir a variabilidade dos retornos dos activos.
a) Desvio-padrão (σ): Este indicador estatístico mais comum de risco de um activo, mede a
dispersão em torno do valor esperado. Também pode-se dizer que, trata-se de uma

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medida estatística da variabilidade de uma série de observações, portanto, quanto mais
concentrados são os retornos futuros esperados menor é o risco (quanto menor for o
desvio padrão, menor é o risco e, quanto maior for o desvio padrão, maior é o risco).
σ =√ ∑(Ki−K ¿ )2 xPi
ou
2

σ=

∑ ( Ki−K ¿ )
n−1

b) Coeficiente de variação (CV): Este indicador consiste em uma medida de dispersão


relativa que é útil na comparação dos riscos de activos com diferentes retornos esperados.
Quanto mais alto o coeficiente de variação, maior o risco e, portanto, maior o retorno
esperado, (Gitman, 2010, p.212).

De acordo com Weston e Brigham, 2000, p.163, o coeficiente de variação é a medida


padronizada do risco por unidade de retorno e proporciona uma base mais significativa
para comparação quando as taxas esperadas sobre duas alternativas não são as mesmas.

No exemplo 1, como os dois projectos têm o mesmo retorno esperado, o coeficiente


de variação não é realmente necessário nesse caso.

1.3. Risco de uma carteira

Na vida real, o risco de qualquer investimento específico não seria encarado independentemente
de outros activos. Novos investimentos devem ser analisados à luz do seu impacto sobre o risco e
o retorno da carteira de activos. O objectivo de um gestor financeiro é criar uma carteira eficiente
que maximize o retorno para um dado nível de risco, ou minimize o risco para um dado nível de
retorno. Assim, precisamos de uma maneira para medir o retorno e o desvio-padrão de uma
carteira de activos.

1.3.1. Retorno de uma carteira e desvio-padrão

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O retorno de uma carteira é dado pela média ponderada dos retornos dos activos individuais que
a compõem.
Se por exemplo, estivermos a falar de acções, podemos dizer que o retorno esperado de uma
carteira é o retorno esperado da média ponderada sobre as acções mantidas na carteira.

Assim, o retorno de uma carteira seria:


  ^ n    
  Kc = ∑ ( Wi*Ki )
    i=1    
Onde:
∑ Wi =1, o que significa que 100% dos activos da carteira devem ser incluídos no cálculo
Wi=proporção do valor total em unidades monetárias da carteira representada por cada activo;
Ki=Retorno para cada activo

Exemplo 2: Em 2020 um analista de títulos estimou que os seguintes retornos poderiam ser
esperados para quatro grandes empresas moçambicanas:
RETORNO
EMPRESAS
RSPERADO K^
Empresa A 14%
Empresa B 13%
Empresa C 20%
Empresa D 18%

Se formássemos uma carteira de $100.000, investindo $25.000 em cada acção, o retorno


esperado da carteira seria de 16,25%.

K^=0.25x14%+0.25x13%+0.25x20%+0.25x18%
=16,25%

O desvio-padrão dos retornos de uma carteira é encontrado aplicando-se a fórmula de desvio-


padrão de um só activo.

1.4. Correlação

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A correlação é uma medida estatística da relação entre duas séries de números quaisquer. Se as
duas séries se movem na mesma direcção, elas são positivamente correlacionadas e quando se
movem em direcções opostas, são negativamente correlacionadas.

O coeficiente de correlação determina-se da seguinte forma:

COV (AB)
ΥAB =
σA*σB ; COV (AB) = Covariância de A+B

    n   ^ ^  

COV (AB) = ∑ ( KAi - KA) (KBi - KB)*pi


    i        

Onde:
 Υ = Coeficiente de correlação
 Υ AB = Coeficiente de correlação de A+B

O grau de correlação é dado pelo coeficiente de correlação, que varia entre -1 para séries perfeita
e negativamente correlacionadas e +1para séries perfeita e positivamente correlacionadas.

Quando o coeficiente de correlação γ=1, o retorno de suas acções perfeita positivamente


correlacionadas iriam para cima e para baixo, juntos, e uma carteira consistente em duas dessas
acções apresentariam o mesmo grau de risco quanto as acções individualmente.

Quando as acções são perfeita e negativamente correlacionadas (γ=-1), todo o risco pode ser
diversificado, mas quando as acções são perfeita e positivamente correlacionadas (γ=+1), a
diversificação não faz diferença alguma.

1.4.1. Diversificação (portfólio)

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O conceito de diversificação é essencial para o desenvolvimento de uma carteira eficiente. Para
reduzir o risco geral, é melhor diversificar por meio da combinação, ou acréscimo à carteira, de
activos com correlação negativa (ou positiva fraca). Combinar activos negativamente
correlacionados pode reduzir a variabilidade geral dos retornos.

Como se referiu anteriormente, o grau de correlação é dado pelo coeficiente de correlação, que
varia entre -1 para séries perfeita e negativamente correlacionadas e +1para séries perfeita e
positivamente correlacionadas, outrossim, o coeficiente de correlação pode ser nulo, o que
significa que alguns activos são não correlacionados, ou seja, não há interacção entre os seus
retornos.

Em suma, combinar activos não correlacionados pode reduzir o risco de maneira não tão
eficaz quanto combinar activos negativamente correlacionados, porem mais eficaz do que
combinar activos positivamente correlacionados. O coeficiente de correlação de activos não
correlacionados é próximo de zero e age como o ponto intermediário entre a correlação
positiva perfeita e a negativa perfeita.

1.5. O modelo de formação de preços de activos (CAPM – Capital Asset Pricing Model)

A teoria fundamental que relaciona o risco e o retorno de qualquer activo é o modelo CAPM.
Este modelo será usado para entender as relações entre o risco e retorno envolvidas em todos os
tipos de decisão financeira.

1.5.1. Tipos de risco


 Risco diversificável (às vezes denominado de risco não sistemático) – representa a
parcela do risco de um activo que está associada a causas aleatórias que podem ser
eliminadas por meio de diversificação. Pode ser atribuído a eventos específicos da
empresa, como greves, processos judiciais, regulamentação, etc.
 Risco não diversificável (também conhecido como risco sistemático) – é atribuído a
factores de mercado que afectam todas as empresas, não pode ser eliminado por meio de

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diversificação. Factores como guerras, inflação, incidentes internacionais e eventos
políticos criam o risco diversificável.
 Risco Global – Combinação do risco não diversificável com o risco diversificável de um
título, portanto, Risco total=Risco não diversificável + Risco diversificável

Como qualquer investidor pode criar uma carteira de activos que elimine praticamente todo o
risco diversificável, o único risco relevante é o não diversificável.

1.6. O modelo CAPM

O modelo CAPM desenvolveu-se para analisar as relações existentes entre o risco e as taxas de
retorno existentes quando agrupados num portfólio bem diversificado e a taxa de retorno
requerida. Este modelo é utilizado em finanças para determinar a taxa de retorno teórica
apropriada de um determinado activo em relação a uma carteira de mercado perfeitamente
diversificada. O modelo leva em consideração a sensibilidade do activo ao risco não-
diversificável (risco de mercado), representado pela variável conhecida como índice beta ou
coeficiente beta (β), assim como o retorno esperado do mercado e o retorno esperado de um
activo teoricamente livre de riscos.

Em suma, o modelo CAPM relaciona o risco não diversificável ao retorno para qualquer activo;
portanto, trata-se de um modelo baseado na proposição de que a taxa de retorno requerida de
qualquer acção é igual a taxa de retorno isenta de risco mais um prémio de risco, em que o risco
reflecte a diversificação.

1.6.1. Pressupostos básicos do modelo


 Todos os investidores têm o mesmo período esperado para maximização ao adoptar o
portfólio com alternativa ao investimento individualizado, isto é, de cada projecto;
 Todos os investidores podem vender ou comprar um número ilimitado de activos a uma
dada taxa livre de risco (KRF), isto é, não há restrições no mercado;
 As expectativas dos investidores são homogéneas.

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 Todos os activos são perfeitamente divisíveis e perfeitamente líquidos por conseguinte
não há custos na sua transacção;
 Não há impostos;
 Os investidores assumem que a compra e venda não afectará o preço dos títulos;
 A quantidade de todos os activos é dada e é fixa.

1.6.1. O coeficiente Beta

De acordo com Gitman (2010, pp. 222), o coeficiente beta (b), consiste em uma medida relativa
do risco não diversificável. É um indicador do grau de variabilidade do retorno de um activo em
resposta a uma variação do retorno do mercado. Para tal usa-se os retornos históricos de um
activo para encontrar o seu coeficiente beta. O retorno do mercado é o retorno da carteira de
mercado composta por todos os títulos negociados.

Para Weston e Brigham (2000, p.175), o coeficiente beta (b), é a medida da volatilidade da
acção em relação a uma acção média. O beta é um elemento-chave do modelo CAPM; portanto,
pode-se afirmar que o coeficiente beta (b) é uma medida da extensão pela qual os retornos de
uma determinada acção se movem com o mercado de acções.

Um beta mais elevado de um activo x (maior inclinação da recta) indica que o seu retorno é mais
sensível a variações dos retornos de mercado (quanto maior for mais arriscado é).

Coeficientes beta seleccionados e sua interpretação


Beta Comentário Interpretação
2 Sensibilidade duas vezes maior que a do mercado
Move-se na mesma direcção que o
1 Sensibilidade igual à do mercado
mercado
0.5 Sensibilidade igual à metade da do mercado
0 Não é afectado pelas variações do mercado
-0.5 Sensibilidade igual à metade da do mercado
Move-se na direcção oposta que o
-1 Sensibilidade igual à do mercado
mercado
-2 Sensibilidade duas vezes maior que a do mercado

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Exemplos de coeficientes beta de acções seleccionadas (10 de Julho de 2007)1:
Acção Beta
Amazon.com 1.2
Disney 1.3
Exxon Mobil Corp. 0.9
General Electric 1.1
Intel 1.15
Microsoft 0.95
Nike, Inc 0.85
PepsiCo. Inc 0.75
Xerox 1.4
Yahoo. Inc 1.4

1.6.1.1. Betas de carteira

O beta de uma carteira pode ser facilmente estimado usando os betas dos activos que a
compõem. Seja Wi, a parcela do valor total da carteira representado pelo activo i e seja bi o beta
do activo i; o beta da carteira (bc) seria:

    n    
  bc = ∑ ( Wi*bi )
    i=1    

Exemplo: O Sr. Vicente é um investidor individual e quer avaliar o risco de duas pequenas
carteiras, com as proporções e os respectivos betas.
Carteira X Carteira Y
Activo
Proporção Beta Proporção Beta
1 0.10 1.65 0.10 0.80
2 0.30 1.00 0.10 1.00
3 0.20 1.30 0.20 0.65
4 0.20 1.10 0.10 0.75
5 0.20 1.25 0.50 1.05
Total 1.00   1.00  
Beta da carteira 1.20 0.91
O beta da carteira X é de 1.2 e o da carteira Y é 0,91. Os cálculos do Sr. Vicente revelam que os
retornos da carteira X são mais sensíveis a variações do retorno do mercado e, portanto, mais
1
Fonte: Adaptado de Value Line Investment Survey (Nova York: Value Line Publishing, 20 de Julho de 2007),
citado por Gitman (2010, pp.224)

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arriscados do que os da carteira Y. Ele agora precisa de decidir com qual carteira se sentirá à
vontade para acrescentar a seus investimentos existentes (se é que quererá acrescentar alguma
delas).

A equação
Usando o coeficiente beta para medir o risco não diversificável, o modelo CAPM é dado pela
seguinte equação: ri=Rf + (rm-Rf) *bi

Onde:
ri –Retorno exigido doa activo i
Rf – Taxa de retorno livre de risco
bi – coeficiente beta ou índice de risco não diversificável do activo i
Rm – retorno do mercado; retorno sobre a carteira de mercado de activos

1.7. A recta do mercado de títulos (SML)

A SML é na verdade uma recta que reflecte o retorno exigido no mercado para cada nível de
risco não diversificável (beta), portanto, a SML mostra o comportamento dos investidores
mediante a combinação risco-taxa de retorno, dai que também se chama curva ou função dos
dilemas risco-retorno; A medida que o risco aumenta são exigidos maiores retornos sobre os
investimentos.

De acordo com Weston e Brigham (2000, p.181), a SML também é designada linha de mercado
de títulos (LMT), é a linha que demonstra a relação entre o risco, conforme medido por beta, e a
taxa de retorno requerida para os títulos individuais. A linha de mercado de títulos é determinada
pela seguinte equação: SML=ri=Rf+(rm-Rf)*bi

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