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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

IFCH – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas


Departamento de Arqueologia
Avaliação de Arqueologia Histórica I
Resenha: Cenários Regionais em Arqueologia Brasileira

Michael Marques

Profa. Dra. Gláucia Malerba

SYMANSKI, L. C. P. Arqueolgia Histórica no Brasil: Uma revisão dos últimos vinte anos.
Cenários Regionais em Arqueologia Brasileira, n. 1, p. 279-310, Janeiro 2010. ISSN 978-
8539100217.

O artigo propõe a discursão sobre os últimos 20 anos do exercício da arqueologia


histórica no Brasil, demostrando suas contribuições e enfatizando os problemas gerados
nessa subdisciplina.
A primeira parte do texto, o autor analisa o momento ocorrido entre 1960 até 1980,
atribuindo como período de formação da disciplina. Nos anos 1960 é marcado pelo início
das pesquisas arqueológicas institucionalizadas através do Programa Nacional de
Pesquisas Arqueológicas (PRONAPA), coordenados por Betty Meggers e Clifford Evans.
Nesse período, pesquisadores brasileiros enfatizavam sítios no litoral do nordeste e
pesquisas em reduções jesuítas dos séculos XVI, XVII e XVIII no sul do território
brasileiro. No Paraná, foram realizados estudos comparativos em cerâmicas nas vilas
espanholas e sítios de missionários demostrando mudanças na cultura material,
caracterizando a tradição cerâmica Neobrasileira. Os estudos de aculturação
começaram a emergir no final dos anos 60, com o trabalho de Brochado, Lazzarotto e
Steinmetz (1969). A partir da aplicação dos métodos de seriação às cerâmicas dos sítios
missioneiros do sul do Brasil, esses autores estudaram o processo gradual de adoção das
técnicas da tradição europeia pelos indígenas guarani nos séculos XVII e XVIII (pág. 02).
Nos anos de 1970 foi caracterizado como uma década de continuação de pesquisas
realizadas nos anos 1960. Além do início de projetos de restauração de monumentos
históricos.
Na segunda parte do texto o autor descreve sobre o período de consolidação da
arqueologia histórica, ocorrida durante os anos de 1980 e 1990. Na década de 1980
como uma subdisciplina capaz de dar reconhecimento a grupos sociais muitas vezes
deixados à margem do registro historiográfico, dando a arqueologia uma percepção de
inclusão desses grupos na historiografia oficial. Durante esse período, foram realizadas
pesquisas na região nordeste com enfoque em sítios de contato euro-indígenas, fortes,
igrejas e palácios em projetos de restauração. Além de estudos realizados em Canudos
no estado da Bahia. No Sudeste foram realizados estudos em sítios domésticos de todas
as classes econômicas e quilombos em Minas Gerais. O autor destaca os estudos de
Zanetinni (1986) e Lima (1989), pois além da identificação, eles realizaram um estudo
comparativo para identificar as variações socioeconômicas das populações que
habitavam os locais do sítio.
O Autor faz um comparativo entre a Arqueologia Processual e a Arqueologia Histórica
processual, descrevendo que a primeira tinha como premissa o determinismo baseado
nas atividades de subsistência, e as segunda propõem que o comportamento humano é
padronizado de acordo com linhas culturais e sociais (pág. 4).
Na terceira parte o autor analisa os anos de 1990 até a primeira década dos anos 2000.
Nesse período novos tipos de sítios começaram a ser pesquisados, dentre eles lixeiras,
senzalas, estradas coloniais, quilombos entre outros. Além disso, outros materiais além
da cerâmica ganham destaque nas pesquisas como louças e vidros. A diversificação das
abordagens utilizadas na arqueologia nesse período, destaca-se o histórico-cultural e
arqueologia processual.
Em seguida o autor fala sobre os tipos de abordagens utilizadas nesse período com a
histórico-cultural (eficaz para a caracterização de regiões ainda pouco conhecidas em
termos de processos de ocupação pré-histórica / revelado descritiva), processual
(estudos quantitativos e comportamentais) e a contextual (muito popular entre os
arqueólogos históricos nos anos 90 / considera a cultura material um elemento ativo
nas relações culturais / mais ligada a história do que a Antropologia). O que essas
abordagens têm em comum é a preocupação em entender os contextos locais em
função de uma perspectiva macro, considerando as relações desses contextos com as
forças mais amplas que moldaram o mundo moderno. Essas abordagens podem ser
rotuladas como as arqueologias do capitalismo (pág. 9).
Na quarta parte do artigo o autor fala sobre temas envolvidos na disciplina, a começar
pela a arqueologia do “capitalismo”, termo proposto por Shuyler (1970) definindo-a
como estudo das manifestações materiais da expansão da cultura europeia sobre o
mundo não europeu (pág. 9). Estudando o impacto do processo de expansão europeia
em outras partes do mundo. Em seguida ele descreve as relações de consumo, práticas
e ideologias na sociedade atribuindo-as a evolução do capitalismo desde da revolução
industrial na Inglaterra aos dias atuais. Em seguida o autor relata o estudo de Lima
(1994) pelo qual analisou as mudanças de características de túmulos dentro da
sociedade civil brasileira durante o regime monárquico e o republicano, demostrando
mudanças de padrões. Além das pesquisas relacionadas a espacialidade realizadas por
Marcos Souza e Ana Sousa em um forte de Minas Gerais, demostrando aspectos de
poder da coroa portuguesa, expressados na organização espacial e arquitetura;
Symanski (2007) na Chapada dos Guimarães, defendendo uma abordagem de
arqueologia da paisagem que tenha por base não somente o ambiente edificado e as
feições naturais envolventes, comumente associados às estratégias de controle social
empregadas pelos segmentos dominantes, mas que inclua também os artefatos
portáteis recuperados nas escavações, os quais são representativos das práticas
cotidianas através das quais esses espaços foram diferencialmente reapropriados pelos
diversos grupos que os ocuparam (pág. 13).
Na Sexta parte o autor escreve sobre identidade e encontros culturais, revelando a
resistências cultural de grupos escravizados evidenciadas por exemplo em cachimbos ou
outros itens encontrados em sítios arqueológicos.

A resistência cultural foi também expressa na


continuidade das práticas rituais proibidas pelos
jesuítas, particularmente o uso ritual do fumo do
tabaco, evidenciada pelos cachimbos cerâmicos
encontrados nos contextos domésticos ocupados
por esse grupo. Agostini (1998a), seguindo uma
perspectiva similar, discutiu o papel dos
cachimbos cerâmicos usados pelos escravos do
Rio de Janeiro na construção de identidades
escravas e nas estratégias de resistência deste
grupo à cultura dominante (pág. 14).

Em seguida é relatado o conceito de crioulização, um processo envolvendo interações e


trocas multiculturais que resultaram em novas formas culturais (pág. 16). Esse
pensamento influenciou estudos realizados em sítios afro-brasileiros.
Na conclusão é registrado que o artigo pretendeu fazer um resumo da arqueologia
histórica da década de 1990 e 2000, baseando-se em dados coletados de pesquisas e
artigos científicos lançados no período. Além de discutir as diferentes abordagens
arqueológicas.

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