2012/2013
ÍNDICE
13. Hiperuricémia 91
15. Regulação do metabolismo mediada por insulina, glucagina, adrenalina 97
Objetivos:
Analisar e interpretar as modificações estruturais de proteínas
Os exemplos do prião e da β-amilóide
Proteínas
o Como são definidas?
Pelas características das cadeias laterais dos AA como por exemplo
polaridade e o conteúdo em enxofre. (influenciam a sua função)
Tipos de ligações entre grupos das cadeias laterais. (influenciam a sua
estrutura)
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Chaperons
São proteínas responsáveis pelos mecanismos de manutenção da conformação,
nomeadamente as Hsp 70 e Hsp 60, que mantêm a proteína no estado unfolded, impedindo a
sua maturação antes do tempo.
Sequência sinalizadora
Indica o destino definitivo da proteína.
Fibrilas de amilóide
São depósitos patológicos que têm tendência a agregar-se formando agregados de
amilóide que se depositam no espaço extracelular causando doenças como Alzheimer, caso
ocorra no cérebro, ou disfunções pancreáticas, caso a acumulação se dê nas células
pancreáticas.
Doença de Alzheimer
É uma doença neurodegenerativa crónica do SNC, não curável, progressiva e fatal. É a
forma de demência mais comum no idoso.
A sua prevalência aumenta exponencialmente com a idade.
o Duas formas clínicas:
Familiar: - Minoria dos casos
- Mutações genéticas
- Autossómica dominante
- Início precoce (<65 anos)
Esporádica: - Maioria dos casos
- A idade é o principal factor de risco
- Início tardio (>65 anos)
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Perdas neuronais e sinápticas selectivas (os neurotransmissores não
são captados, ou são em pouca quantidade, pelo neurónio pós-
sináptico e, desta forma, não ocorre a transmissão do impulso
nervoso)
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para a produção de peroxinitrito (ONOO*). As espécies reativas de oxigénio danificam a
membrana que pode gerar produtos da peroxidação lipídica. Estes podem alterar a função de
transportadores de glicose e glutamato. Modificações oxidativas da tau podem promover a sua
agregação e induzir a formação de agregados. Interação de H2O2 com Fe2+ ou Cu+ gera o radical
hidroxilo (OH*), um potente radical que contribui para a disfunção do retículo endoplasmático.
Prião
É composto por proteínas que têm a capacidade de modificar outras proteínas
tornando-as cópias das proteínas do prião. Não possui ácidos nucleicos.
o Doenças do prião:
Esporádica: -Doença de Creutzfeldt-Jakob (CJD) (de todas as doenças
do prião é a mais comum)
Adquirida (infecciosa): -Kuru
-Nova variante da CJD
Familiar: -fCJD
-Insónia Fatal Familiar (FFI)
-GSS
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Existe nas células musculares
Existe nas células sanguíneas e linfáticas
o PrPc
Forma normal da proteína
Sensível a protéases
Predomínio de conformação α-hélice
Estrutura primária semelhante às PrPsc
Funções pouco claras
Sabe-se que liga e transporta Cu+ (importante nos terminais nervosos)
Sabe-se que é um antioxidante (importante para evitar o stress
oxidativo)
Sabe-se que é um recetor
o PrPsc
Forma defeituosa da proteína
Resistente a protéases
Predomínio de conformação folha-β
Estrutura primária semelhante às PrPc
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ALTERAÇÕES ESTRUTURAIS DA HEMOGLOBINA E DO ERITRÓCITO
AULA TEÓRICA 2
INÊS ALMEIDA | MARIANA FERREIRA
INTRODUÇÃO
Existem dois mecanismos que fornecem às células um fluxo contínuo e adequado de
oxigénio: o aparelho circulatório e os transportadores de O2 (hemoglobina e mioglobina).
A oxigenação de qualquer órgão ou tecido depende de três factores: fluxo sanguíneo
(diretamente determinado pelo fluxo cardíaco), capacidade de transporte de O2 pelo
sangue (dependente da hemoglobina, que se relaciona com a eritropoetina – proteína
produzida nos rins, fulcral na regulação da eritropoiese) e afinidade da hemoglobina pelo
O2 (um aumento da concentração de 2,3-BPG, de H+ ou de CO2, traduz-se numa diminuição
desta afinidade).
Hemoglobina (Hb)
o É um tetrâmero constituído por 2 pares de cadeias polipeptídicas (α, β, ϒ, δ), ligadas
por meio de ligações não covalentes.
o As cadeias β designam-se por β-verdadeiras, enquanto que as cadeias ϒ e δ se designam
por cadeias β-like.
o Cada cadeia α contacta com as cadeias β, ϒ ou δ, mas não entre si.
o As cadeias α têm 141 resíduos de AA, sendo que são codificadas pelo cromossoma 16.
Por outro lado, as cadeias β, ϒ e δ têm 146 resíduos, sendo codificadas pelo cromossoma
11.
o No indivíduo normal, cada cadeia α é codificada por 4 genes e cada cadeia β é codificada
por 2 genes. Assim, a probabilidade de surgirem alterações nas cadeias α é menor,
estando as cadeias β mais susceptíveis a serem modificadas por mutações.
o Cada cadeia encontra-se covalentemente ligada a um grupo heme.
o Por sua vez, cada grupo heme pode ser dividido em 2 partes: uma parte orgânica
(protoporfirina IX) e outra inorgânica (átomo de ferro que pode estar no estado férrico
– Fe3+ – ou no estado ferroso – Fe2+, liga O2).
o A síntese de Hb compreende a síntese do heme (ocorre na mitocôndria e no citosol,
sendo que culmina com a junção da protoporfirina ao ferro endocitado) e a síntese das
globinas (ocorre nos ribossomas, através da adição de AA, formando-se várias cadeias
polipeptídicas).
o A síntese das cadeias de Hb humana varia ao longo do desenvolvimento do ser humano:
Hb Gower1, Hb Gower2 e Hb Portland surgem no embrião, enquanto que Hb Fetal
surge no feto e no adulto e Hb A2 e Hb A são específicas do adulto.
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o As mutações que provocam alterações estruturais na hemoglobina estão associadas a
diferentes patologias:
Alterações qualitativas (mais frequentes; associadas a síndromes falciformes)
1. Anemia de células falciformes ou Drepanocitose (alteração do exterior)
2. Metahemoglobinémia (alteração do local ativo)
Alterações quantitativas
3. Talassémias (deleção de uma ou mais cadeias)
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o pI HbS > pI HbA
RFLP:
o As enzimas endonucleases reconhecem e clivam o DNA em sítios específicos,
determinados por uma curta sequência de nucleótidos. Assim sendo, o DNA clivado por
uma determinada endonuclease vai sempre originar os mesmos fragmentos.
o Os fragmentos resultantes são separados através de eletroforese em gel e transferidos
para uma membrana através do processo Southern blot. Se aparecerem 2 fragmentos, o
indivíduo é normal, se aparecer apenas 1 fragmento, o indivíduo possui anemia de
células falciformes.
TERAPÊUTICA
↑ Produção de HbF, recorrendo a hidroxiureia: se existe uma alteração nas cadeias β,
devemos ↑ as cadeias β-like, neste caso as cadeias ϒ.
Inibição da polimerização da HbS, recorrendo a cianeto de Na⁺ - reage irreversivelmente
com o resíduo amino-terminal de valina na hemoglobina, aumentando a sua afinidade com o
O2 e evita o afoiçamento e posterior polimerização.
Inibição dos canais de K⁺, recorrendo a clotrimazol – evita-se grande perda de K+ e,
consequentemente, o afoiçamento irreversível.
Terapia génica (ainda não é utilizada).
METAHEMOGLOBINÉMIAS (HbM)
Há alteração do local ativo (alteração do interior).
Devido a uma alteração génica, a histidina F8 é substituída pela tirosina F8. Esta alteração
leva a que o ferro do heme passe do estado ferroso, Fe2⁺, ao estado férrico, Fe3⁺.
A metahemoglobinémia hereditária pode surgir devido:
o HbM (Boston, Milvaukee, Saskatoon…).
o Deficiência na enzima citocromo b5 redutase: normalmente, a HbM formada pode ser
reduzida pela cit. b5 redutase, passando então o ferro ao estado ferroso, Fe2+, capaz de
ligar O2. No entanto, se existir uma deficiência nesta enzima, o ferro não é reduzido e o
resultado é uma Hb com dificuldade em ligar O2.
Tratamento: azul metileno ou ácido ascórbico (para reduzir o ferro).
TALASSÉMIAS
GV menos corados e mais pequenos → Anemia hipocrómica e microcítica
β-Talassémia: deficiência nas cadeias β (deve-se ↑ HbF e ↑ HbA2, ou seja, ↑ as cadeias β-
like).
α-Talassémia: deficiência nas cadeias α (↑ tetrâmeros β4 e ϒ4).
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o As cadeias α são codificadas por 4 genes. Se ocorrer deleção dos 4 genes, a talassémia é
incompatível com a vida (forma fatal).
Hb Lepore: fusão das cadeias δ e β (presentes cadeias α).
Podem existir:
o Formas minor: deleção de 1 cadeia.
o Formas major: deleção de várias cadeias.
Existe uma fácies característica, em que os ossos malares e frontal estão mais salientes.
Diagnóstico: Esfregaço de sangue periférico, …
PROTEÍNAS DA MEMBRANA DO GV
Proteínas intrínsecas: glicoforina e proteína banda 3.
Proteínas do citoesqueleto: espectrina, anquirina, actina e proteína banda 4.1.
ANOMALIAS DA MEMBRANA DO GV
ESFEROCITOSE HEREDITÁRIA
GV esféricos.
Hereditariedade: autossómica dominante; expressão variável, raramente recessiva.
Anemia hemolítica hereditária mais comum na Europa do Norte.
Clínica: anemia, icterícia e esplenomegália.
GV não passam na
microcirculação Alteração da forma
Células esféricas
esplénica e são das células
eliminados
ANEMIA
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ELIPTOCITOSE HEREDITÁRIA
GV elípticos.
Patogenia: defeito na espectrina.
Clínica: anemia, icterícia e esplenomegália.
DIAGNÓSTICO – TESTES
Teste da fragilidade osmótica:
o Na esferocitose as células são
excessivamente permeáveis ao influxo
de sódio logo, observa-se o desvio da curva da hemólise para a direita (GV mais
susceptíveis a hemólise).
Autohemólise aumentada, corrigida na presença de glicose.
Teste de Coombs (antiglobina directa) negativo.
Análise com 51Cr para estudar a severidade do atingimento do baço.
Esfregaço de sangue periférico – microesferócitos.
TRATAMENTO
Remoção do baço.
Ácido fólico (forma activa da vit. B9) – promove a produção de GVs normais. O seu défice
leva a anemias megaloblásticas.
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O METABOLISMO DO FERRO – IMPLICAÇÕES EM PATOLOGIA
AULA TEÓRICA 3
AS BITCHES DIREITO | AQUINO
Objectivos:
-Descrever os processos de captação, transporte e armazenamento do ferro no organismo humano
-Analisar as repercussões patológicas relacionadas com alterações no metabolismo do ferro (défice ou excesso).
O ferro no organismo
O ferro é um metal de transição, que possui electrões desemparelhados na última
camada. Possui, por isso, a capacidade de ceder ou captar electrões, alternando entre estados
oxidados ou reduzidos. Participa em reacções de oxidação-redução.
Para o organismo humano, o ferro é um oligoelemento: é essencial, mas requerido em
pequenas concentrações, inferiores a 100mg/dia. A absorção média diária é de 1 a 2 mg, e faz-
se pela ingestão de carne vermelha, ovos, fígado, ou por cozinhados feitos em panelas de ferro.
É componente do grupo heme e co-factor de várias enzimas que não têm heme.
É essencial para várias reacções do organismo, entre as quais:
Transporte de Oxigénio e armazenamento – pela hemoglobina e mioglobina,
respectivamente, ambas com grupo heme:
Gerar energia - é responsável pela ligações Fe-S (ferro-enxofre) que são necessárias ao
funcionamento dos complexos da cadeia respiratória; o citocromo C, com grupo
hémico, actua também como transportador de electrões nesta cadeia;
Destoxificação – os citocromos (ex. Citocromos P450) têm grupo heme;
Síntese de DNA – componente da ribonucleótido redutase; helicases possuem ferro na
sua constituição;
Síntese de NO;
Síntese de hormonas – triptofano oxigenase;
Proliferação celular – cinases dependentes de ciclinas;
Actividade anti-oxidante – SOD (superóxido dismutase), catalase, peroxidase;
Inflamação – oxigenase ciclase, adenilato ciclase;
O ferro é necessário para o crescimento dos agentes patogénicos, e por isso na
infecção. Infecção pode causar anemia.
13
Metabolismo do Ferro
A quantidade de ferro absorvida compensa, em situação normal, as perdas. A perda de
ferro, 1 a 2 mg/dia, faz-se por descamação dos epitélios (pele, cabelo e unhas), por
descamação da mucosa gastrointestinal ou dos tractos urogenitais, pelas fezes, urina e suor
(em pouca quantidade); na mulher, é eliminado na menstruação.
O heme entra no enterócito através da HCP-1. Note-se que a absorção do ferro é mais
eficaz quando é absorvido do heme dos alimentos, como no caso da digestão de carnes
vermelhas, do que quando é absorvido na forma inorgânica – porque o heme é absorvido
como um todo, sem necessidade de redução. É a heme oxigenase (HO-1) que destrói o heme,
libertanto o ferro no estado férrico. Isto explica porque têm os vegetarianos mais défices em
ferro, mesmo quando se suplementam com ele. Além disso, as fibras vegetais, os fitatos, farelo
14
e antiácidos diminuem a absorção do ferro (ligam-se a este). A vitamina C pode aumentar a
absorção do ferro porque permite a sua redução (Fe3+ -> Fe2+).
Em caso de excesso, o ferro pode ser agrupado e ligar-se à apoferritina,
transformando-se em FERRITINA para armazenamento nas células.
Por acção da FERROPORTINA, na membrana apical do enterócito, o ferro é
transportado para o exterior da célula; e para poder circular, tem de ser oxidado a ferro
férrico (Fe3+), por acção da FERROXIDASE (=ceruloplasmina, hefastina).
O Fe3+ liga-se então à apotransferrina, convertendo-a em TRANSFERRINA, que
transporta 2 iões de ferro férrico; o ferro pode assim circular pelo plasma até aos locais onde
será usado.
Ferro é transportado ligado à transferrina e pode ser:
Armazenado como ferritina ou
hemosiderina, principalmente no fígado;
a frataxina é a responsável pelo
transporte do ferro para a mitocôndria;
Ser incorporado no heme;
Ser usado como co-factor - mas tendo
em conta que o ferro livre contribui para
o stress oxidativo, é importante o seu
armazenamento na célula e a existência
de quelantes de ferro.
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Quando os níveis de hepcidina estão dentro dos valores normais, também o ferro se
mantém dentro de valores normais.
Quando há um aumento da expressão de hepcidina ocorre uma diminuição da
concentração de ferro sérico, conduzindo a quadros de anemia.
Contrariamente, quando ocorre uma diminuição da expressão de hepcidina ocorre
um aumento da concentração de ferro sérico, que tende a depositar-se causando falência dos
órgãos. Isto acontece, por exemplo, em doentes com hemocromatose.
A regulação da hepcidina, como se pode ver na imagem abaixo, permite explicar
quadros de anemia em doenças inflamatórias.
Toxicidade do Ferro
O ferro livre pode reagir com peróxido
de hidrogénio, levando à formação de
espécies radicais muito lesivas – radicais
hidroxilo (segundo as reacções de Fenton e
Haber-Weiss).
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Para minimizar os efeitos destes
radicais livres, o organismo possui defesas
antioxidantes, nomeadamente através da
acção da superóxido dismutase, catalase,
ferritina ou GSH peroxidase.
Quando ocorre um diminuição
destas defesas antioxidantes ocorre,
consequentemente, um aumento dos ROS
(reactive oxygen species).
Este desequilíbrio pode conduzir à lesão de macromoléculas como lípidos, proteínas e
ácidos nucleicos.
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Hemocromatose
Patologia associada à acumulação excessiva de ferro no organismo e
consequentemente em órgãos e tecidos, principalmente no fígado.
Deve-se a um progressivo aumento da absorção de ferro a nível intestinal.
O metabolismo do ferro pode ser resumido através do esquema que se segue:
Entrada no enterócito
Ferri-redutase pela DMT-1
Ferro no estado Ferro no estado Armazenado no
férrico ferroso enterócito
(Fe3+) (Fe2+) (ferritina)
Exportado para a
Passa a Fe3+ para corrente
se ligar à sanguínea pela
transferrina Ferroportina
Ferri-oxidase
-
Hepcidina
Notas adicionais:
Indivíduos politransfundidos -> Aumenta ferro de origem exógena -> necessitam de receber
quelantes de ferro (ex. Desferroxiamina).
Quelantes de ferro – ligam o ferro e permitem que seja eliminado na urina, mais facilmente.
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DOENÇAS ASSOCIADAS AO METABOLISMO DOS AMINOÁCIDOS
AULA TEÓRICA 4
THE DEDUCTIONIST | PEDRO CRUZ
Fenilcetunúria
- Defeito na conversão de fenilalanina em tirosina -
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Tipo I – défice de fenilalanina hidroxilase:
Clássica ou Grave – atividade da enzima < 1%
Atípica ou Leve – 1% < atividade da enzima < 3%
Tipo II – défice de dihidrobiopterina redutase
Tipo III – défice de 6-piruvol-tetrahidrobiopterina sintetase, envolvida na síntese da
Tetrahidrobiopterina (afeta também outras vias metabólicas)
Tipo IV – défice na síntese de Dihidrobiopterina
Tipo V – défice de Dihidrobiopterina sintetase
Se a atividade da fenilalanina hidroxilase estiver reduzida mas > 3% trata-se de Hiperfenilalaninémia Benigna,
que não apresenta as manifestações clínicas da Fenilcetunúria.
Em situações normais, a Fenilalanina é metabolisada principalmente em Tirosina e esta em proteínas,
melanina, catecolaminas, fumarato ou Acetoacetil-Co A. Porém, na Fenilcetunúria, devido ao bloqueio da via
ao nível da fenilalanina hidroxilase, a Fenilalanina vai ser metabolisada por outra via, cujos produtos finais
são eliminados na urina:
1. Desaminação de Fenilalanina em Fenilpiruvato
Catalisada por uma transaminase, requer Piridoxal Fosfato (PLP, Vit. B6) e transforma um
Piruvato em Alanina ou um α-Cetoglutarato em Glutamato
2. Redução de Fenilpiruvato em Fenilactato
Catalisada por uma desidrogenase
2. Descarboxilação, Hidratação e Oxidação de Fenilpiruvato em Fenilacetato (par conjugado ácido-
base do Ácido Fenilacético)
Catalisada pela fenilpiruvato descarboxilase e três desidrogenases, libertando CO2 e 1 NADH
O Fenilacetato poderá ser conjugado com Glutamina em Fenilacetilglutamina.
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Causas:
défice na Fenilalanina hidroxilase – Fenilcetunúria clássica (cromossoma 12)
défice de 5,6,7,8-Tetrahidrobiopterina ou de Dihidrobiopterina redutase (cromossoma 12)
Sintomas:
Assintomática no recém-nascido uma vez que a Fenilalanina e a Tirosina, recebidas da mãe, ainda têm
concentrações normais. À medida que o indivíduo começa a comer, a digerir proteínas e a metabolizar
aminoácidos por ele próprio a doença manifesta-se:
défice de Tirosina
acumulação de Fenilalanina
acumulação de Fenilpiruvato (neurotóxico, difunde-se até ao SNC), Fenilactato e Fenilacetato
(confere um odor a “mofo” ou a “rato” à urina, pele e cabelo)
atrasos no desenvolvimento psicomotor, tremores, microcefalia
tonalidade da pele e do cabelo mais clara, eczema (inflamação da pele)
esperança média de vida diminuída
Diagnóstico:
Deve ser realizado o mais cedo possível, preferencialmente até um mês depois do nascimento(mas não nos
primeiros dias) para que o tratamento seja mais eficaz.
Teste de Guthrie (Teste do pézinho) 48h depois do nascimento – retira-se uma gota de sangue do
calcanhar para um papel de filtro que é depois analisada para rastreio de várias doenças. No caso da
Fenilcetunúria, coloca-se o papel de filtro sobre uma colónia de bactérias com inibidor do
desenvolvimento (níveis elevados de Fenilalanina irão superar este inibidor e a colónia vai-se
desenvolver proporcionalmente à concentração de Fenilalanina)
HPLC ou Cromatografia de aminoácidos para medir os seus níveis
Testes à urina, como Teste do FeCl3 – na presença de fenilpiruvato, a urina torna-se verde azeitona
(ineficazes pois as alterações desta surgem quando a doença se começa a manifestar)
Pré-natal – análise genética dos genes envolvidos na Fenilcetunúria e da história familiar
Caso se detetem níveis elevados de Fenilalanina é necessário realizar outros exames (análise da cinética
enzimática e do DNA) para determinar a sua causa e o tipo de tratamento.
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Tratamento:
Sequelas neurológicas irreversíveis são quase inevitáveis, visto que a Fenilalanina inibe o transporte de
aminoácidos para o cérebro (essenciais para a síntese de proteínas), aumenta a degradação da Mielina e
provoca alterações na síntese de neurotransmissores (dos quais é precursora). O tratamento procura assim
diminuir a gravidade dos défices mentais.
para défices de Fenilalanina hidroxilase, dieta pobre em Fenilalanina e proteínas (evitar produtos de
origem animal, leite materno, milho, trigo, feijão, pão, massas, bolachas e Aspartame) e rica em
Tirosina, pão, massas e bolachas hipoproteicas, suplementada nalguns casos com óleo de peixe, ferro
ou carnitina e ajustada com o crescimento do doente – não se deve excluir a Fenilalanina totalmente
da alimentação por ser precursora de catecolaminas (neurotransmissores) e melanina
para défices em 5,6,7,8-Tetrahidrobiopterina, adiministração desse composto, 5-hidroxitriptofano,
Dopa, carbidopa ou inibidores da Dopa descarboxilase (envolvidos na síntese de neurotransmissores
monoaminérgicos)
monitorizar regularmente e manter os níveis sanguíneos de Fenilalanina entre 3 e 12 mg/L durante
os primeiros 5 a 10 anos para evitar danos neurológicos graves durante o desenvolvimento (os efeitos
adversos da hiperfenilalaninémia parecem desaparecer a partir dessa idade)
Transplante de Fígado (onde se localiza a Fenilalanina hidroxilase).
O controlo dos níveis de Fenilalanina em mulheres grávidas com Fenilcetunúria permite evitar danos
neurológicos severos e irreversíveis na criança se esta tiver a doença.
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ACUMULA-SE
Esquema da Degradação do aminoácido Tirosina
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Sinais e Sintomas:
1. A urina torna-se escura após várias horas de exposição ao ar devido à acumulação de ácido
homogentísico, que se oxida;
2. O cerume ou cera de ouvido pode também apresentar-se escurecido ou uma cor vermelha depois
de estar exposto ao ar, dependendo da dieta, igualmente devido à acumulação de ácido
homogentísico;
3. A acumulação de homogentisato danifica as articulações pela sua toxicidade e leva a artrite tardia
devido a danos nas cartilagens. As mais afetadas são as da coluna vertebral, a da anca e do ombro.
4. Pigmentação ocular (numa idade tardia);
5. A pele pode ficar igualmente escurecida em áreas expostas ao sol e o suor pode apresentar-se
acastanhado;
6. Em mais de 25% dos casos aparecem pedras no rim e pedras na próstata (nos homens);
7. A doença cardíaca valvular pode também estar presente, principalmente regurgitação das válvulas
mitral e aórtica e calcificação;
8. As doenças cardíacas coronárias podem piorar na presença de Alcaptonúria.
Diagnóstico:
- Cromatografia em camada fina (TLC)
- Exames ao plasma e à urina para detetar a presença de Ácido homogentísico
Tratamento:
- Não há cura para a Alcaptonúria. Podem apenas controlar-se os sintomas
- Dieta pobre em fenilalanina e tirosina é aconselhada
- Vitamina C (ácido ascórbico) tem demonstrado melhorias no tratamento da artrite e da
pigmentação da pele e ocular
- O herbicida nitisinona inibe a enzima hidoxifenilpiruvato-dioxigenase e deste modo reduz a
produção de ácido homogentísico. O problema é que faz com que se acumule tirosina em última
instância e, por isso, têm sido realizados mais estudos
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1. Albinismo ocular -----> afeta apenas os olhos; os indivíduos apresentam os olhos de um tom
azul muito claro
2. Albinismo oculocutâneo -------> afeta os olhos, a pele e o cabelo
Pode ser autossómica recessiva (mais comum), autossómica dominante ou ligada ao X
(apenas o albinismo ocular)
Caracteriza-se por hipopigmentação – ausência completa ou parcial de pigmento na pele,
cabelos e olhos
Enzima com atividade deficiente: tirosinase – enzima que contém cobre (Cu2+) e que converte
a tirosina em dihidroxifenilalanina (Dopa) e esta em dopaquinona através de uma oxidação (com
recurso a oxigénio)
O Albinismo pode também ser devido ao excesso de fenilalanina e diminuição dos níveis da
tirosina característicos da fenilcetonúria. O excesso de fenilalanina (que não é convertida em
tirosina por hidroxilação) inibe a tirosinase e, assim, diminui a síntese de melanina
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3. Várias reações até originar Melanina polimérica preta (ciclização da Dopaquinona) ou vermelha
(condensação com Cisteína)
A Tirosina é ainda precursora de várias catecolaminas como Dopa, Dopamina, Norepinefrina e Epinefrina e
de várias hormonas da tiróide.
Sinais e Sintomas:
1. Defeitos na visão como fotofobia (sensibilidade à luz), nistagmo (movimentos oculares
involuntários), astigmatismo, estrabismo, hipoplasia do nervo ótico (nervo ótico pouco
da presença de melanina!
2. Falta de pigmento na pele (pele rosada), cabelo (cabelo branco) e/ou nos olhos, conforme o
tipo de albinismo
3. Essa falta de pigmento torna os doentes mais suscetíveis de desenvolverem hiperplasias na
pele (cancro da pele) e queimaduras solares visto que a melanina protege a pele da radiação
ultravioleta
Diagnóstico
Realizado através de um teste genético
Tratamento
Não tem cura contudo é possível tratar os sintomas.
- Cirurgia nos músculos oculares para reduzir o estrabismo, o nistagmo e o astigmatismo
- Uso de lentes e óculos para correção
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Produto que se acumula: Esta enzima, quando ausente, leva a um aumento dos aminoácidos
de cadeia ramificada (leucina, isoleucina e valina) e dos seus α-cetoácidos tóxicos (α-
cetoisocaproico, α-ceto-β-metilvalerato e α-cetoisovalerato, respetivamente)
O complexo enzimático está localizado na mitocôndria e é formado por quatro subunidades E1α,
E1β, E2, e E3, sendo a E3 igual à do complexo da Piruvato Desidrogenase. Mutações em genes que
codifiquem qualquer uma destas subunidades podem levar ao aparecimento da doença!
os cofatores necessários ao bom funcionamento da desidrogenase dos α-cetoácidos de
cadeia ramificada são os mesmos que têm participação no complexo da Piruvato
Desidrogenase:
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Transaminação
Descarboxilação
Oxidativa (perda
de CO2)
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Sinais e Sintomas:
1. A acumulação de α-cetoisocaproico e a produção de um composto chamado sotolone é
responsável pelo cheiro a caramelo característico da urina dos doentes (“A fralda cheira a
caramelo”; “A fralda cheira a panquecas”). O cheiro pode também estar presente no cerume do
ouvido
2. Gap aniónico aumentado (gasto de bicarbonato HCO3-) e taquipneia (respiração rápida com
vasta eliminação de CO2) como forma de compensar a acidose metabólica
3. Vómitos, desidratação, letargia, hipotonia, cetose (presença de corpos cetónicos no plasma)
e cetonúria (presença de corpos cetónicos na urina), hipoglicémia, etc.
4. Ocorre a intoxicação aguda do Sistema Nervoso Central (encéfalo e medula espinhal) que se
manifesta como atraso mental, mau desenvolvimento cerebral, coma e se a doença não for
tratada pode levar à morte da criança
5. Toxicidade hematopoiética origina leucotrombocitopenia e anemia
Diagnóstico
- Cromatograma HPLC (High Performance Liquid Chromatography) para detetar o excesso de
Leucina, Isoleucina e Valina – Separam-se os aminoácidos a nível plasmático!
Tratamento
A doença é FATAL se não se administrar uma dieta pobre em aminoácidos de cadeia ramificada.
Alguns doentes melhoram com a administração de tiamina (TPP).
Porquê administrar tiamina pirofosfato?
Porque este é um dos cofatores necessários às desidrogenases.
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Homocistinúria
- Defeito na degradação da metionina -
Doença genética, autossómica recessiva
O que pode correr mal?
1. Deficiência da cistationina β-sintetase (forma mais frequente)
2. Deficiência de metileno-tetrahidrofolato redutase (2.ª forma mais frequente) - pode
estar associada a anemia megaloblástica
3. Deficiência da metionina sintetase
Défices vitamínicos:
1. Vitamina B6 (piridoxina) – Forma ativa: piridoxal fosfato - cofator da cistationina β-
sintetase
2. Vitamina B9 (ácido fólico) – Forma ativa: ácido tetrahidrofólico (THF ou
tetrahidrofolato) – cofator da metionina sintetase
3. Vitamina B12 (cobalamina) – cofator da metionina sintetase
Metionina:
armadilha de folatos
metileno-tetrahidrofolato NAD(P)+
redutase Serina
NAD(P)H
Vit. B6 Cistationina β-sintetase
beta sintetase
N5, N10-Metilenotetrahidrofolato Cistationina
30
Síntese da homocisteína
1. A metionina (aminoácido essencial e apolar) é convertida em S-adenosilmetionina (SAM)
– Esta reação é catalisada pela metionina Adenosil-transferase (MAT) e necessita de ATP –
2. Perda de grupos metil por parte da SAM formando-se S-adenosilhomocisteína
– Esta reação é catalisada por várias metil-transferases –
3. A S-adenosilhomocisteína é hidrolisada, perde o grupo adenosina e forma-se a homocisteína.
Destinos da homocisteína
HOMOCISTEÍNA
1. Pode ser usada para 2. Pode ser usada para regenerar 3. Em caso de défice enzimático e
formar cistationina e a metionina e o tetrahidrofolato acumulação da homocisteína,
cisteína. (TFH - forma ativa da vitamina B9) esta segue uma via alternativa e
forma-se homocistina (2
- Reação catalisada pela - Esta reação é catalisada pela
homocisteínas ligadas S-S) que é
metionina sintetase que tem
cistationina β-sintetase que excretada na urina.
como cofator a vitamina B12 e
tem como cofator o piridoxal
aqui a homocisteína recebe
fosfato -
grupos metil do 5-Metil-THF que,
Nota: A cistationina origina após perder o grupo metil se
regenera em THF. Por sua vez a
cisteína, NH4+ e α-
homocisteína ao receber os
cetobutirato que por sua vez
grupos metil regenera-se em
vai dar origem ao Propionil-
metionina -
CoA e este ao Succinil-CoA,
que é um intermediário do
ciclo de Krebs.
31
Sinais e Sintomas:
– O excesso de homocisteína leva à inibição do cross-linking de colagénio ao nível da lisina oxidase.
Esta enzima favorece a ligação do colagénio e da elastina (a lisina-oxidase influencia então a solidez
dos ossos, dos tendões e a elasticidade das paredes das artérias).
- O excesso de homocisteína faz aumentar os níveis de homocisteína tiolactona, verifica-se a tiolação
(adição de grupos SH) dos grupos amina das LDL que se vão agregar e ser endocitadas pelos
macrófagos, criando assim placas de ateromas que vão causar a oxidação lipídica e a agregação das
plaquetas. As paredes das artérias sofrem, desta forma, de fibrose e calcificação das placas
ateroscleróticas, o que leva à doença vascular.
1. Musculoesqueléticos
- Estatura elevada, membros longos e delgados, pes cavus (pés com grande curvatura no
bordo interno)
- Constelação de sintomas semelhantes ao Síndrome de Marfan
- Osteoporose infantil
- Aumento do tónus muscular
2. Anomalias oculares
- Ectopia lentis (deslocamento do cristalino), miopia, glaucoma, atrofia do nervo ótico
3. Doenças Vasculares
- Tromboses intravasculares e formação de ateromas extensivos na infância
4. Do Sistema Nervoso Central
- Atraso mental
- Convulsões e distúrbios psicóticos
Diagnóstico
Deteção da presença excessiva de homocisteína no plasma e homocistina na urina
Teste de resposta à Piridoxina.
Tratamento
Dieta pobre em metionina e proteínas, administração de vit. B6, vit. B9, vit. B12 e incluir cisteína na
dieta (responsável pela capacidade redutora do Glutatião e formação de ligações S-S).
32
Acidémia Metilmalónica
- Defeito na conversão de metilmalonil-CoA em Succinil-CoA -
Afeta a degradação de aminoácidos não polares e de lípidos com número ímpar de carbonos.
Ciclo de Krebs
Sintomas:
assintomática no recém-nascido
aversão às proteínas
vómitos, desidratação
hepatomegália, insuficiência renal, pancreatite
hipoglicémia, hiperglicinémia (degradada em Propionil-Co A)
aumento do ácido metilmalónico (metilmalonato reduzido) e toda a sintomatologia associada
às acidémias:
diminuição do pH sanguíneo
hiperamoniémia
aumento da frequência respiratória
encefaleias
inércia (letargia) e hipotonia
alterações ou atrasos neuronais,
atrasos no desenvolvimento
anemia megaloblástica ou até coma
Diagnóstico:
Teste de Guthrie (medição dos níveis de ácido metilmalónico)
gasometria, medição dos níveis de aminoácidos ou de ácido metilmalónico
análise genética
33
Tratamento:
dieta hipoproteica pobre em Valina, Isoleucina, Metionina e Treonina (degradados em
Propionil-Co A), rica em glicose e ácidos gordos com número par de carbonos (para promover
um estado anabólico e inibir o catabolismo) e com suplementos de Vit. B12 e de carnitina
(conjuga-se com e destoxifica Propionil-Co A e Metilmalonil-Co A)
aumento da frequência respiratória, administração gradual de HCO3- (para acidémias graves)
transplante de fígado
hidratação
hemodiálise (remoção de metabolitos tóxicos)
antibióticos (bactérias intestinais produzem propionato)
34
PATOLOGIAS ASSOCIADAS A DISFUNÇÕES DO CICLO DA UREIA
AULA TEÓRICA 5
CLÁUDIA COSTA | EL-DANI
OBJECTIVOS: Analisar alterações bioquímicas nas doenças hereditárias do ciclo da ureia, nomeadamente:
1.1. Hiperamoniémia tipo 1
1.2. Hiperamoniémia tipo 2
1.3. Citrulémia
1.4. Acidúria Argininosuccínica
1.5. Hiperargininémia
Tal como já foi referido, a glutamato desidrogenase catalisa esta reação. Esta enzima é
altamente regulada, daí que uma mínima alteração na sua regulação pode afetar, embora que
indiretamente, o ciclo da ureia.
36
Concluindo, o fígado é o órgão que centraliza o metabolismo dos aminoácidos, tendo o
glutamato um papel central nos processos de transaminação, com eliminação de NH4+
formando-se ureia. O transporte da amónia para o fígado faz-se predominantemente pela
glutamina (glutamato + amónia) e pela alanina (no músculo).
Falta-nos rever o último passo para a remoção final da amónia do nosso organismo, processo
esse que ocorre conjuntamente na mitocôndria e no citosol dos hepatócitos. Assim, e como já
foi referido, este processo ocorre no fígado. Estamos, pois, a falar do CICLO DA UREIA.
Ciclo da ureia
37
Explicação do ciclo: O Ciclo da Ureia tem início na mitocôndria (matriz), onde a amónia reage
com HCO3-, com a intervenção da enzima Carbamoil fosfato Sintetase I (CPS-I), formando-se
Carbamoil fosfato (CP), que é o iniciador do ciclo. Esta enzima tem como cofator o N-Acetil
glutamato e precisa de energia. De seguida, dá-se a condensação do CP com a Ornitina (enzima:
Ornitina transcarbomoilase), formando Citrulina, que sai da mitocôndria para o citosol. Aí, reage
com o Aspartado (enzima: Arginino succinato sintetase), que provem do Ciclo de Krebs,
formando Argininosuccinato, reação que também precisa de energia. Este, por sua vez, vai se
transformar em Arginina (enzima: Arginino succinase ou arginino sucinato liase) que vai reagir
com água formando a ureia e regenerando a ornitina, que vai regressar à mitocôndria voltar a
reagir com o CP e assim sucessivamente.
Deste processo destaca-se o N-Acetil glutamato (NAG) que corresponde ao cofator da
primeira enzima do ciclo. Ora, o NAG é um regulador alostérico da CPS-I que resulta da
combinação do grupo acetil, proveniente de Acetil-CoA, com o glutamato, pela NAG-sintetase.
Desde já, percebe-se que um défice neste cofator ou mesmo na sua formação, podem originar
patologias.
38
___________________Doenças do Ciclo da Ureia_________________
São um grupo de doenças que resultam de uma deficiência enzimática específica que afecta este
ciclo. A gravidade destas é variável, podendo ser detectada em várias etapas do
desenvolvimento, desde o recém-nascido ao adulto.
O que provocam? Levam ao aumento da amónia sanguínea (hiperamoniémia), que pode ser
mais grave ou mais ligeira. Consequentemente, ocorre uma alteração da função e lesão cerebral.
Como se manifestam? Manifestam-se através de alterações no estado de consciência, vómitos,
agressividade, discurso por vezes incoerente, desequilíbrio na marcha, hepatomegália e
convulsões.
O diagnóstico é baseado na detecção da deficiência na enzima hepática, na clínica e história
familiar, uma vez que são doenças genéticas.
39
Patologia Descrição da doença Tratamento
Disfunção familiar rara, autossómica recessiva.
40
Relação da enzima Carbamoil-Fosfato Sintetase II com a síntese de Pirimidinas
Legenda
ASA – ácido arginino-succínico; THAN – hiperamoniémia transeunte do recém-nascido; LPI – “lysinuric protein intolerance”;
HHH – síndrome de hiperamoniémia-hiperornitinémia-homocitrulinuria; OTC – ornitina transcarbamoilase; CPS – carbamoil-
fosfato sintetase; NAGS – N-acetilglutamato sintetase
NOTA: O ácido orótico na urina tende a estar elevado na LPI e HHH, mas a concentração de citrulina é normal.
41
Outros métodos de investigação…
- Níveis de ácido orótico baixos ou normais: biópsia hepática (para avaliar a actividade
enzimática)
- Níveis de ácido orótico elevados: biópsia hepática (para avaliar alterações moleculares)
- Ensaio enzimático em fibroblastos
- Ensaio enzimático a nível sanguíneo, quando os níveis de arginina são elevados (devido ao
défice da enzima arginase)
42
Hiperamoniémia em consequência da disfunção hepática
Uma das causas da hiperamoniémia relaciona-se com problemas no fígado, que podem ser
agudos (provocados por toxinas ou inflamações) ou crónicos (causados por inflamações, álcool,
congestão venosa ou por doenças hereditárias associadas), nos quais se destaca a cirrose. Isto
leva à disfunção do fígado, cujas consequências são: hipoalbuminémia, hipertensão portal,
colestasia, …
43
Pergunta do final da aula
5 crianças com diferentes valores de ácido orótico, citrulina, arginina e NH4+ a nível sanguíneo.
Qual a enzima em falta?
Ornitina
IV Elevado Baixo Baixo Elevado
Transcarbamoilase
Arginina sucinato
V - Elevado Baixo Elevado
liase
Tratamento
Dieta pobre em proteínas.
Suplemento de arginina (menos eficaz se ainda houver formação de arginina-sucinato), se o
défice enzimático for posterior, para regeneração da ornitina e continuação do ciclo;
excreção de nitrogénio ocorre na via arginina sucinato.
Utilização de compostos que conjugam aa e permitem a sua excreção:
o Benzoato Benzoil-CoA Reage com glicina ácido hipúrico/hipurato
eliminado na urina.
o Fenil butirato Fenil acetato reage com Glutamina Fenil Acetil-Glutamina
pode ser eliminada.
44
INTOLERÂNCIA À FRUTOSE E GALACTOSÉMIA
AULA TEÓRICA 6
Os nomes estão maiores devido a complexos de inferioridade.
Metabolismo da Frutose
A frutose é um monossacarídeo que pode ser obtido quer através da sacarose (glucose +
frutose), quer pela desidrogenase do sorbitol ou até mesmo ingerida como açúcar livre na dieta
(mel).
A metabolização da frutose ocorre principalmente no fígado, na mucosa do intestino
delgado e no córtex renal.
O primeiro passo na metabolização da frutose, tal como acontece na glicólise é a
fosforilação da mesma. Tanto pode ser fosforilada pela hexocinase em frutose 6-P, intervindo
diretamente na via glicolítica, ou pela frutocinase (maior Vmáx), sendo convertida em frutose
1-P (com consumo de ATP).
O segundo passo é clivar, através de uma aldolase (essencialmente a do tipo B*), a frutose
1-P formada em gliceraldeído e dihidroxiacetona-P. Estes dois produtos integram a glicólise
quando convertidos a gliceraldeído 3-P (através da triose cinase e da isomerase,
respetivamente).
*Existem vários
tipos de aldolases,
tipo A (músculo), tipo
B (fígado), tipo C
(cérebro) e existe
também uma
aldolase fetal.
45
Intolerância Hereditária à Frutose, IHF
46
Hiperuricémia: consequência da estimulação do metabolismo das purinas.
Os sintomas são mais evidentes nos lactentes (desde os 28 dias até aos 2 anos). Nos adultos
é menos frequente, pois estes são mais “tolerantes” à IHF, apresentando, por norma, vómitos e
mal-estar.
O diagnóstico é feito com base nos exames bioquímicos ao plasma e à urina, pela pesquisa
de açúcares redutores na urina, testes de tolerância à frutose, estudos moleculares e estudo das
aldolases quer por biopsia hepática quer no intestino delgado.
A terapia assenta na suspensão de frutose e quaisquer outros glúcidos convergentes, como
a sacarose ou o sorbitol e através de intervenções medicamentosas. Se detetada precocemente,
o prognóstico é bom e espera-se um crescimento e desenvolvimento normais.
Frutosúria Essencial
Metabolismo da Galactose
47
De seguida, a Glucose-1-P é transformada em Glucose-6-P, pela Fosfoglucomutase. Assim,
a Glucose-6-P formada vai entrar na glicólise ou na neoglicogénese.
Existe ainda uma associação entre o Metabolismo da Galactose e a síntese de glicogénio,
pois a UDP-Glucose, intermediário na formação do glicogénio, “participa” também no
metabolismo da Galactose.
Galactosémia
48
Falhas Renais – devido à acumulação de Galactose ou dos seus metabolitos nos rins.
Letargia – como a produção de Glucose-1-P proveniente da Galactose diminui, não há
tanta produção de ATP através da via glicolítica, o que leva a situações de cansaço.
Catabolismo de Purinas – é realizado para tentar compensar a falta de ATP.
Hiperuricémia – é resultante do aumento dos níveis de fosfato, provenientes da
degradação das purinas.
Vómito e Diarreia – a ingestão de produtos ricos em Galactose (ou até Lactose, que se
“desdobra” em Galactose e Glicose) leva a Vómitos ou Diarreias, uma vez que o organismo é
incapaz de metabolizar a Galactose ingerida.
(Falhas Ováricas – causas ainda são desconhecidas)
Outro dos tipos de Galactosémia, a não clássica, consiste no defeito na Galactocinase, que
fosforila a Galactose em Galactose-1-P. Assim, neste tipo de doença, em vez da acumulação de
Galactose-1-P há uma acumulação de Galactose no organismo.
Por fim, o último tipo de Galactosémia resulta na falta da enzima UDP-Galactose-4-
epimerase. Nesta situação, não há interconversão entre UDP-Galactose e UDP-Glucose, o que
resulta, tal como na Galactosémia clássica numa acumuação de Galactose-1-P no ser afectado.
Uma das características das Galactosémias (do 1º e 3º tipos mencionados) é que os adultos
são menos afectados por estas doenças do que as crianças. Este facto está directamente
relacionado com a enzima Pirofosforilase, que se encontra mais expressa nos adultos do que
nas crianças. Assim, em indivíduos mais velhos, a acumulação de Galactose-1-P é menor, uma
vez que esta pode ser metabolizada em UDP-Galactose através da Pirofosforilase (assim a
sintomatologia é mais atenuada nos adultos).
49
50
DÉFICE DA PIRUVATO DESIDROGENASE (PDH)
AULA TEÓRICA 7
Mafalda Moreira |Marta Campos
Piruvato
O piruvato ou ácido pirúvico (C3H4O3) é um composto orgânico que corresponde ao
produto final da glicólise.
De uma forma geral, em condições
anaeróbicas o piruvato pode sofrer uma
descarboxilação pela ação da enzima
piruvato descarboxilase, formando etanol
ou pode ser reduzido pela enzima lactato
desidrogenase, formando-se lactato. Em
condições aeróbias, o piruvato sofre uma
descarboxilação oxidativa pela enzima
piruvato desidrogenase (PDH), formando-
se acetil-CoA, que vai ser utilizada no ciclo
de Krebs.
Existem várias vias metabólicas do piruvato, algumas das quais já referias. Salienta-se
ainda a formação de oxaloacetato, pela piruvato carboxilase que carboxila o piruvato.
Além disso o piruvato também pode ser transaminado pela transimanase glutâmico-
pirúvica, permitindo a formação de alanina. É de extrema importância perceber estas
diversas vias metabólicas, uma vez que, os produtos formados a partir do piruvato
podem servir como biomarcadores de uma determinada patologia, dado que, quando
há acumulação piruvato (nomeadamente quando há défice de PDH), este pode seguir
outras vias.
Nota: A conversão de piruvato em oxaloacetato é ativada pela acetil-CoA pelo que, quando há défice da PDH e
consequente acumulação de piruvato, a conversão deste em oxaloacetato é pouco provável.
51
Piruvato Desidrogenase (PDH)
Corresponde a um complexo enzimático (E1, E2, E3) que catalisa os passos entre a
formação do piruvato, no citoplasma (pela glicólise) e a formação da acetil-CoA
(essencial no ciclo de Krebs) dentro da matriz mitocondrial.
+ + + - -
52
Regulação da atividade da PDH
Inibição pelo produto: Acetil-CoA e NADH
o A CoA-SH e NAD+ revertem a inibição;
o O aumento da quantidade de piruvato ativa a PDH.
Regulação por nucleótidos:
o GTP: Inativa;
o AMP: Ativa.
Regulação por fosforilação reversível:
o Inativação por fosforilação num resíduo de serina.
Nota: A atividade de PDH decresce quando a célula possui carga energética elevada.
53
o Polipneia (frequência respiratória 60 c/min - anormal);
o Taquicardia (frequência cardíaca 150 c/min – acima do normal);
o Pálido;
o Atraso de desenvolvimento moderado.
Nota: As doenças hereditárias do metabolismo são, normalmente, caracterizadas por atraso no desenvolvimento e
no crescimento, recusa alimentar e vómitos.
Radiografia do tórax;
Gasimetria – acidose metabólica, com compensação respiratória
o pH: 7,33 (N: 7,35-7,45);
o pCO2: 16 mmHg (N: 35-45 mmHg);
o pO2: 110 mmHg (N: 88-108 mmHg);
Piruvato sérico: 3,9 mmol/L (N <0,2); essencial para distinguir défice de PDH do défice da
fosforilação oxidativa.
Lactato/Piruvato: 1,8 (N <20);
54
Western Blotting (estudos moleculares): ↓ fração E2.
Nota: Para o diagnóstico definitivo avalia-se se a atividade da enzima está reduzida. Basta recolha de células do
sangue (linfócitos) ou dos fibroblastos (estes permitem propagar muitas células sem ter que fazer muitas recolhas).
Além disso também se faz a análise genética (analisar o gene da PDH para ver se tem alguma mutação),
correspondendo a um passo muito importante para o aconselhamento genético.
Tratamento:
Corrigir acidose: HCO3Na i.v. - fase aguda e CitratoNa oral – manutenção;
Restrição de glucose (Para reduzir a acumulação de piruvato – mas não retirar
totalmente (GV) devido à sua importância na via das pentoses);
Dieta cetogénica (pobre em glúcidos, teor elevado em lípidos – AcetilcoA mas, vai levar
à produção de corpo cetónicos).
Questões
Porquê a dieta cetogénica?
o Os lípidos vão ser a fonte de acetil-CoA, que era o que estava em falta (há
bloqueio pelo piruvato, faz-se o bypass para chegar à produção de ATP).
Défice em vitamina B1 afeta a atividade da PDH?
o Sim. Pois a vitamina B1 é um cofator da PDH. É de salientar que o álcool impede
a absorção de vitamina B1 a nível intestinal.
Défice em vitamina B5 afeta a atividade da PDH?
o Sim. Pois a vitamina B5 (ácido pantoténico) é um cofator da coenzima A,
importante para a atividade da PDH.
A ingestão de uma substância tóxica que aumente a concentração de NADH interfere
com actividade da PDH. Porquê?
o Sim, dado que o metabolismo cerebral é afetado, havendo inibição da atividade
da enzima pelos produtos. Ou seja, substâncias tóxicas como o álcool
aumentam a quantidade de NADH que inibe a atividade da PDH.
Prevê-se que haja alguma alteração da actividade da PDH durante o exercício físico.
Porquê?
o Com elevada quantidade de oxigénio, há estimulação da atividade da PDH uma
vez que ajuda a drenar a acetil-CoA para o ciclo de Krebs. Assim, é bom fazer
exercício físico como forma de tratamento desta patologia, mas
moderadamente. Nesta situação não há aumento do lactato, se houver uma
boa oxigenação.
55
Explicar o papel do dicloroacetato na terapêutica da deficiência em PDH:
o O dicloroacetato vai ser responsável por inibir a cinase da PDH e, desse modo,
mantém-se a forma desfosforilada da PDH, que corresponde à sua forma mais
ativa. Desta forma, a PDH vai funcionando. É de salientar que nem todas as
mutações levam à alteração na proteína. Só existe alteração na enzima quando
o RNAm é afetado.
56
ESTUDO BIOQUÍMICO DE UMA DOENÇA DA CADEIA RESPIRATÓRIA MITOCONDRIAL
AULA TEÓRICA 8
RITA ANDRADE | PEDRO RIBEIRO
Citopatias Mitocondriais
Doenças da CRM Afectam processo OXPHOS
57
Mitocôndria: dupla regulação genética.
Genoma nuclear
Genoma mitocondrial
O mtDNA humano codifica
13 peptídeos da CRM (7
subunidades do complexo I, o
citocromo b, que faz parte do
complexo III, 3 peptídeos do
complexo IV e 2 subunidades
do complexo V), para além de
22 tRNAs e 2 rRNAs,
necessários à síntese proteica mitocondrial. Possui o seu próprio código genético, diferente do
genoma nuclear, sendo regulado por um sistema semi-autónomo, em que a replicação e a
transcrição dependem de factores de origem nuclear (Figura 2).
O mtDNA tem também outras características particulares, que têm constituído um desafio
à genética clássica: 1) A hereditariedade do mtDNA ocorre por via materna. De facto, apesar de
algumas mitocôndrias do espermatozóide penetrarem no óvulo durante o processo de
fecundação, elas são depois selectivamente destruídas, por razões ainda desconhecidas. 2)
A sequência do mtDNA é codificante quase na sua totalidade, com os genes que codificam
os tRNAs e rRNAs distribuídos ao longo de todo o genoma, intercalados nas sequências
que codificam os peptídeos da CRM, verificando-se a ausência de intrões, o que pode ser
uma vantagem, tendo em conta o “empacotamento económico” deste genoma. Por outro lado,
pode constituir uma desvantagem, quando se tem em conta a 3) elevada taxa de mutações,
relativamente ao nDNA (10-20 vezes superior), uma vez que possui maioritariamente
sequências codificantes, a probabilidade de uma alteração ser mais lesiva é muito superior. O
facto do mtDNA se encontrar bastante próximo da MIM, onde está localizada a CRM, que é a
principal fonte celular e radicais livres, assim como várias enzimas envolvidas no metabolismo
de drogas associadas à membrana mitocondrial, podem contribuir para uma taxa de mutações
mais elevada, contribuindo também para esse facto a 4) ausência de histonas protectoras. Por
outro lado, os 5) mecanismos de reparação do mtDNA existentes são também pouco eficientes.
58
Uma das características mais
importantes do mtDNA é
designada por 6) heteroplasmia
que é a ocorrência, em simultâneo,
de moléculas de mtDNA mutante e
normal na mesma mitocôndria.
Deste modo, quando há divisão
celular ocorre 7) segregação
mitótica (a replicação de mtDNA e
a divisão mitocondrial são
processos estocásticos,
independentes do ciclo celular e da replicação do genoma nuclear) e dá-se uma distribuição
aleatória das cópias mutadas de mtDNA nas mitocôndrias, nas células e nos tecidos, formando-
se 8) “mosaicos” de células com diversas percentagens de cópias mutadas em relação ao
número de moléculas de mtDNA normais, podendo encontrar-se desde células com todas
as cópias normais (homoplasmia normal) a células com todas as moléculas mutadas
(homoplasmia mutante), passando por vários graus de heteroplasmia. O facto da distribuição
nas células e nos tecidos ocorrer, aparentemente, ao acaso, torna imprevisível o grau de
transmissão duma alteração para a geração seguinte. Em consequência destes factos, a
percentagem de mtDNA mutado pode mudar de tecido para tecido e mesmo ao longo da vida.
É de notar que a expressão das alterações do mtDNA depende do tipo de mutação e da função
codificada pela sequência mutada, do grau de heteroplasmia e da necessidade energética de
cada tecido (cérebro e músculo mais afectados). Assim, existe um 9) limiar crítico a partir do
qual surge um fenótipo associado às alterações do mtDNA. Este efeito não é bem conhecido
ainda, sabendo-se que é variável consoante o tecido e de indivíduo para indivíduo (Figura 3).
As alterações patogénicas do mtDNA incluem mutações pontuais, rearranjos (deleções/
inserções) e redução drástica do número de cópias (depleção).
59
Que factores são necessários para estarmos perante uma CRM funcional e ocorrer a
OXPHOS?
É importante que não haja erros nos genomas de modo a não comprometer a síntese e
funcionamento dos complexos proteicos.
Uma vez que a grande maioria das proteínas mitocondriais é codificada por genes nucleares e
sintetizadas no citosol, a sua importação para o interior da mitocôndria e o seu
encaminhamento correcto para a
matriz, para o espaço
intermembranar ou para as
membranas interna ou externa,
torna-se essencial para o
funcionamento da CRM. Depois de
bem localizadas, as subunidades
agrupam-se de forma a dar origem
aos cinco complexos enzimáticos.
A OXPHOS ocorre na mitocôndria, Figura 4 – A cadeia respiratória mitocondrial (CRM) e o processo de
fosforilação oxidativa (OXPHOS)
envolvendo a redução de O2 a H2O
pelos electrões cedidos por NADH e FADH2 provenientes do metabolismo intermediário.
O ATP desempenha um papel central na troca de energia em sistemas biológicos. É rico em energia,
porque a unidade de trifosfato contém 2 ligações fosfo-anídricas. A energia (energia livre) é
libertada quando o ATP é hidrolisado, formando ADP. A energia contida no ATP e ligada ao fosfato
é libertada, p.e. durante a contracção muscular. Uma vez que o ATP representa uma reserva de
energia de ligações fosfato, que fornece energia a todos os sistemas biológicos, é compreensível
que defeitos genéticos dos componentes da CRM se manifestem, em primeiro lugar, como doenças
que afectam a força muscular e outros sinais degenerativos, principalmente ao nível do SNC, por
serem sistemas que requerem grandes quantidades de energia para funcionarem adequadamente.
AS DCRM surgem devido a alterações no mtDNA e/ ou no nDNA, que causam alterações estruturais
e bioquímicas, que podem traduzir-se na modificação da interacção entre os dois genomas, em
60
défice na importação e/ ou montagem das subunidades proteicas da CRM, em défice na
formação ou função dos transportadores de substratos ou na disfunção dos complexos enzimáticos
da CRM. Em geral, os defeitos genéticos da CRM levam a uma disfunção energética
mitocondrial, que pode ter como consequências o decréscimo das reservas de ATP celular e
o aumento da produção de radicais livres de oxigénio. Por sua vez, nesta situação, a disfunção
energética pode ser mais acentuada e pode também levar ao aumento da ocorrência de
mutações no mtDNA, resultando em disfunção tecidular e culminando na morte celular. Para
além do sistema da OXPHOS, são também de considerar as implicações que podem surgir
noutras vias metabólicas , nomeadamente, na alteração do estado redox mitocondrial e
citosólico, podendo observar-se um aumento na concentração dos corpos cetónicos (beta-OH-
butirato e acetoacetato), de lactato e piruvato (principalmente do primeiro), do aminoácido
alanina, ocorrendo também a cetonémia paradoxal, pois há aumento dos corpos cetónicos,
principalmente no período pós-prandeal. O ciclo de Krebs é também, em geral, afectado, assim
como a beta-oxidação dos ácidos gordos, podendo ocorrer o aumento da concentração dos
ácidos orgânicos.
Tratamento: O tratamento de uma DCRM é sintomático na maioria dos casos, sendo no entanto
extremamente importante para a melhoria da qualidade de vida dos doentes. Implica uma
vigilância clínica regular, de modo a detectar e tratar precocemente possíveis complicações, como
diabetes, surdez, cataratas e envolvimento cardíaco, entre outros. A fisioterapia e as terapias
ocupacional, respiratória e da fala podem ser úteis em muitos casos. Muitas DCRM cursam com
convulsões, que de um modo geral respondem aos Anticonvulsivantes.
Na DCRM a dieta deve ser equilibrada e normocalórica. O excesso de calorias aumenta a
acumulação de substratos a montante dos défices enzimáticos, com agravamento da
hiperlactacidémia e da produção de ROS, entre outras consequências.
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62
DOENÇAS DA OXIDAÇÃO DOS ÁCIDOS GORDOS
AULA TEÓRICA 9
LUÍS BERNARDES | MESTRE HENRIQUES
Os ácidos gordos são a reserva energética mais importante em humanos, devido ao elevado
rendimento energético da sua metabolização e ao seu baixo peso relativamente ao glicogénio.
Em jejum, são utilizados como fonte predominante de Acetil-CoA em quase todos as células.
As grandes exceções são os neurónios, que requerem um aporte constante de glícidos para a
sua sobrevivência.
Em situações de glicémia normal, são uma fonte de energia muito importante para o coração,
fígado e músculo esquelético em repouso. Consequentemente, défices enzimáticos na
catabolização de lípidos vão afetar sobretudo estes três órgãos.
A metabolização de ácidos gordos para produção de energia pode ser dividida em 5 ou 6 fases:
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Vários ciclos destas reações vão dividir os ácidos gordos em várias moléculas de Acetil-CoA. Se
o número de carbonos for ímpar, é necessário uma via metabólica que carboxile o composto
de 3 carbonos residual (Propionil CoA) a um intermediário do ciclo de Krebs (Succinil CoA)
O Acetil-CoA pode depois ser catabolizado para produção de ATP através do ciclo de Krebs, ou,
mais predominantemente nos hepatócitos, transformado em corpos cetónicos (para
transporte no sangue) ou em aminoácidos cetogénicos. Note-se que quando falamos em usar
lípidos como fonte de energia, incluímos nestes os corpos cetónicos, importantíssimas fontes
de energia no miocárdio.
Note-se que, em ácidos gordos pares, não há nenhuma via que permita a formação de hidratos
de carbono a partir de lípidos.
Apesar de apresentarem características diferentes entre si, estas doenças têm denominadores
comuns ao nível bioquímico e sintomático, devidos à interrupção do metabolismo de ácidos
gordos.
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Diminuição dos níveis de corpos cetónicos;
Cardiomiopatia hipertrófica; Os órgãos mais afetados na forma crónica da doença,
Miopatia; pois são os que usam normalmente ácidos gordos
como fonte energética
Função hepática prejudicada.
As doenças relacionadas com a oxidação dos AG devem ser excluídas no contexto das
síndromes de morte súbita do lactente e de Reye, isto é, deve ser realizado diagnóstico
diferencial para excluir estas patologias.
Síndrome de Reye (afeta crianças e adolescentes) – esta síndrome é fatal em cerca de 30% dos
casos, podendo levar a sequelas graves a nível cerebral e hepático em caso de sobrevivência.
As suas causas são desconhecidas. No entanto, considera-se que infeções virais e aspirina
podem potenciá-la. Os sinais particularmente característicos desta síndrome são:
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As doenças decorrentes de erros hereditários do metabolismo dos ácidos gordos podem
mesmo apresentar sintomatologia bastante semelhante à da síndrome de Reye, designando-se
este conjunto de sinais como síndrome de Reye-like. Esta síndrome apontará então para
problemas na β-oxidação.
Hipoglicémia no jejum
Hipocetonémia
Hiperamoniémia (devido a um aumento do catabolismo dos a.a. e a danos no fígado
que interrompem o ciclo da ureia).
Acidúria orgânica
As doenças da β-oxidação dos AG podem ter manifestação aguda que pode evoluir para
crónica, dependendo do défice e do jejum a que o doente é submetido. Adicionalmente,
apresentam-se pela primeira vez sobretudo no primeiro ano de vida e têm como
manifestações clínicas:
No entanto, dependendo da doença poderemos ter outros sintomas. Dentro destes podemos
destacar:
LCHAD – morte súbita, letargia, cardiomiopatia, disfunção hepática com colestase e cirrose,
vómitos, neuropatia, retinopatia, convulsões, coma,…
Achados laboratoriais:
Hipoglicémia hipocetótica (que pode ser assintomática se o doente tiver cuidado com
a alimentação) – especialmente no jejum e processos infeciosos pois gasta-se ATP para
desencadear processo imunitário.
Acidose metabólica
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Hiperuricémia
Transaminases - provenientes da lise celular nos órgãos afetados. No caso da
síndrome de Reye não se encontram elevadas.
Biomarcadores
Quando não ocorre a degradação completa dos AG, a acumulação de intermediários leva à
formação de conjugados que podem posteriormente ser detetados no plasma (acilcarnitina) e
na urina (acilglicina). Desta forma, para se obterem valores fidedignos as colheitas não devem
ser feitas depois da administração de glicose ou após recuperação de crise metabólica. Devem
então ser feitas provas de sobrecarga nas quais são administradas substâncias como MCT,
Carnitina ou outos ácidos gordos que levam a alterações significativas nos níveis dos
biomarcadores.
Diagnóstico
Doseamento de carnitina
Estudo de perfil da acilcarnitina, estudo da acidúria orgânica e da acilglicina
Estudos genéticos e enzimáticos para confirmar diagnóstico ou, em alternativa,
diagnóstico pré-natal
Tratamento
Grande parte dos défices permitem ao doente levar uma vida normal. Especial atenção e
cuidado devem ser dados aos períodos de jejum e à alimentação.
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MECANISMOS DE DESTOXIFICAÇÃO HEPÁTICA
AULA TEÓRICA 10
MARIA JOÃO BRITO | CAROLINA BARBOSA | MARGARIDA CARMO
O fígado é o órgão central de destoxificação – para além de dar aos órgãos o que eles precisam, ele recebe
o que estes deitam fora. Nesta aula serão abordados os mecanismos mais importantes de destoxificação
hepática, destacando o sistema microssomal, que não sendo o único mecanismo é o mais preponderante.
Existem várias substâncias que se acumulam no organismo e que necessitam de ser eliminadas devido
aos seus efeitos tóxicos, nomeadamente:
Substâncias Endógenas, exs:
o Amónia – eliminada através do ciclo da ureia
o Bilirrubina – eliminada através da urina, após sofrer conjugação com o ácido glicorónico
no fígado para se tornar hidrossolúvel. Caso isto não aconteça, pode dar origem a icterícia
e efeitos neurotóxicos pela sua acumulação na forma não-conjugada (indirecta)
(lipossolúvel).
o Hormonas Esteróides – são lipossolúveis e entram na célula ligando-se aos seus
receptores formando complexos que actuam como factores de transcrição, alterando
portanto a expressão genética. No entanto, a sua acção tem de ser de curta duração, ou
seja, necessitam de ser eliminadas.
Substâncias Exógenas
o Álcool:
Efeitos - má absorção da vitamina B1 e consequências na via das pentoses
(trancetolases e PDH), excesso de NADH resultante da sua metabolização,
excesso de Acetoacetato ( Acetil CoA -> Síntese de AG)
o Xenobióticos: Os xenobióticos são compostos químicos estranhos a um organismo ou
sistema biológico. Podem ser encontrados num organismo mas não são naturalmente
produzidos nem se esperaria que estivessem presentes, não sendo integrados nas suas
vias metabólicas e que por essa razão têm de ser eliminados.
Exs:
Componentes alimentares (corantes, conservantes)
Toxinas ambientais (dioxinas, pesticidas, fumos)
Fármacos/Drogas de abuso
o A heroína, por exemplo, é metabolizada no fígado originando
metabolitos ainda mais activos.
o PROFÁRMACOS – fármacos cujos metabolitos são a forma activa, ou
seja, necessitam de ser metabolizados para exercerem os seus efeitos
no organismo.
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Factores que Influenciam o Funcionamento dos Mecanismos de
Destoxificação
É importante notar que a metabolização destas toxinas está dependente de vários factores como:
Variabilidade individual – os sistemas de destoxificação estão dependentes de enzimas, enzimas
essas que são codificadas por genes. Um dado indivíduo pode ser portador de polimorfismos
neste genes, o que afectará a actividade das enzimas.
o Imaginemos que temos 3 indivíduos: um metabolizador ultrarrápido, um normal, e um
ultralento. Administramos aos 3 o mesmo fármaco, numa dose standart aprovada num
ensaio clínico.
Ultrarrápido: metaboliza-o tão rápido que não chega a ter efeito. Se o metabolito
tiver toxicidade, sentirá os efeitos secundários deste.
Normal: terá os efeitos esperados, sem efeitos secundários.
Ultralento: tem dificuldades em metaboliza-lo, sendo a dose standart excessiva,
o que resulta em níveis elevados da concentração do fármaco durante mais
tempo. Isto pode resultar em mau estar caso o medicamento tenha efeitos
secundários.
NOTA: No caso dos prófarmacos, a situação inverte-se no que toca aos metabolizadores
ultrarrápidos e ultralentos, uma vez que a forma activa é resultante da sua
metabolização.
Factores ambientais – a exposição a diversas toxinas induz uma expressão mais acentuada dos
citocromos específicos para essas toxinas. Como tal, pessoas que nunca foram expostas a esses
xenobióticos não terão uma metabolização tão rápida destes. Por outro lado, ao prescrevermos
um medicamento a alguém que reside numa zona altamente poluída, temos os sistemas de
destoxificação sobrecarregados com outros xenobióticos e estes podem competir com o fármaco
pela metabolização, diminuindo a sua eficácia.
Estilo de vida – Dieta, exercicio... Uma pessoa que faça mais exercício tem uma maior taxa de
mitocôndrias e por isso vai metabolizar mais rapidamente certas substâncias. Uma que coma
menos comida processada terá menos sobrecarga de xenobióticos a competirem pela
destoxificação.
Género – Homens e mulheres têm diferente número de sistemas de destoxificação. Podem
também transportar diferentes variantes genéticas (associadas ao sexo)
Idade – Nos jovens, estes sistemas estarão mais activos. No entanto, numa criança poderão estar
imaturos.
70
É importante notar que estes factores estão não só associados com diferentes taxas de metabolização de
fármacos e outras toxinas como também tem sido provado que se relacionam com diferentes
susceptibilidades a várias doenças como cancro, Parkinson, fadiga crónica e alterações no sistema
imunitário. Por exemplo, se expostos a uma substancia pró-carcinogénica, os metabolizadores lentos
terão mais probabilidade de desenvolver cancro devido à sua acumulação no organismo.
Este conhecimento é fundamental pois uma disfunção hepática vai então comprometer estes
mecanismos de destoxificação. (maior risco de cancro)
Destoxificação Hepática
O propósito principal destes mecanismos é transformar estas substâncias para que se tornem mais
hidrossolúveis e assim poderem ser eliminadas através da bílis (que segue pelo intestino, saindo pelas
fezes) e da urina. Estes sistemas não são exclusivos do fígado, de facto, existem em quase todas as células,
porém existem em maior quantidade no fígado, motivo pelo qual o consideramos um órgão especializado
na destoxificação.
Ocorre em duas fases:
Fase I – Funcionalização: Aumento da polaridade e adição de um grupo funcional que permita a
posterior conjugação. É mediada por citocromos P450.
Fase II – Conjugação: adição de outra substância a um grupo funcional.
Embora o mais comum seja passarem primeiro na Fase I e depois na Fase II, existem substâncias que já
têm o tal grupo funcional e por isso não necessitam de passar pela fase I (ex. bilirrubina). Outras passam
pela fase II e depois podem passar na fase I e sofrer metabolizações sucessivas.
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Citocromos P450
Proteínas hémicas – possuem um grupo heme.
Em grande quantidade no fígado, especialmente no Retículo Endoplasmático, mas também na
mitocôndria.
Existem dezenas de citocromos P450 com características ligeiramente diferentes e específicos
para determinados grupos de substâncias.
Famílias CYP1, CYP2 e CYP3 são as que estão mais envolvidas na metabolização de fármacos.
São codificadas por genes polimórficos, ou seja, podem ter variações que influenciam a sua
capacidade catalítica.
Catalizam sobretudo reacções de oxidação e hidroxilação, para as quais necessitam de NADPH
(proveniente da via das pentoses) como cofactor e oxigénio.
Uma vez que apenas um dos átomos de oxigénio é incorporado, podemos considerar os CYP450
mono-oxigenases.
A maior parte indutíveis, ou seja, estão mais activos e a sua produção é aumentada nos indivíduos
que consomem esses determinados xenobióticos. Excepção: CYP2D6 é constitutiva (não
indutível)
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Fase I
Requer:
1. Vitaminas do complexo B, 4. Antioxidantes,
2. Ácido fólico (folato), 5. Carotenóides,
3. Glutationa, 6. Vitaminas C e E.
Esta fase inclui reacções de oxidação, redução, hidratação, hidrólise, hidroxilação e outros. (Por
exemplo, as reacções de hidroxilação aumentam a solubilidade mas permitem também a
conjugação na fase II, pois adicionam à molécula um grupo funcional que poderá reagir);
Há produção de moléculas reactivas;
Deste modo, o défice ou ausência de alguns destes produtos poderá comprometer a
destoxificação eficiente.
INDUÇÃO: por indutores mono-funcionais – afectam apenas uma enzima ou fase de
destoxificação- (etanol, acetona, componentes do fumo do cigarro, glucocorticóides, anti-
convulsionantes…); Isto leva ao desacoplamento das duas fases, o que pode causar danos no
DNA,RNA e proteínas devido à não metabolização das espécies reactivas geradas pela fase I na
fase II e sua consequente acumulação;
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Sistema de transporte de electrões
Apesar de o citocromo P450 necessitar de 2 electrões para
concretizar a redução do ferro, a ligação do oxigénio e a
sua clivagem, surge um problema: a transferência de
electrões do NADPH é directa – os dois electrões são
libertados simultaneamente. No entanto, o CYP450, com
o seu único grupo heme, só consegue receber um electrão
de cada vez. Este problema é resolvido pela citocromo
P450 redutase que é uma flavoproteína: contém FAD e
FMN. Assim, ela consegue aceitar simultaneamente 2 e- (através do FAD) mas libertar apenas um (através
do FMN).
Fase II
Consiste essencialmente em conjugar o fármaco com substâncias endógenas, a fim de facilitar a
sua excreção. Deste modo, as principais vias de conjugação são:
Glucoronidação por UDP-glucoronato -> Glucoronoconjugação;
Sulfonação (conjugação com sulfato);
Acetilação;
Metilação;
Conjugação com a glutationa;
Conjugação com aminoácidos;
Requer:
1) Glutamina 4) Cisteína
2) Glicina 5) Antioxidantes
3) Taurina 6) Vitaminas
Glucoronoconjugação
Via usada na destoxificação não só da bilirrubina, mas também de estrogénios, progesterona,
triiodotironina (hormona da tiroide), meprobamato, morfina…
INDUÇÃO: por indutores muti-funcionais – estimulam várias enzimas da fase II -> balanço
saudável entre fase I e II - susceptibilidade a cancros. Presentes em várias frutas e vegetais.
INIBIÇÃO em ambas as fases: por competição
FASE II: depleção dos cofactores de algumas enzimas (por ex., através da dieta)
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Destoxificação hepática de Fármacos
A mesma substância pode ser metabolizada em várias CYP’s e o mesmo CYP pode metabolizar
vários tipos de xenobióticos, o que poderá explicar as interacções medicamentosas. Logo, há
medicamentos que não podem ser tomados enquanto se faz a administração de outros.
Metabolização do Paracetamol (acetaminofeno)
O paracetamol é um fármaco que actua por inibição da cascata do ácido araquidónico,
impedindo a síntese das prostaglandinas. Esta é uma via de metabolização por conjugação por
glucoronidação ou sulfonação, sendo excretado pelos rins. Porém, também pode sofrer a acção
do CP450 e conjugação com a glutationa. Neste ultimo processo, há a formação de um
composto intermediário, o NABQI (N-acetyl benzoquinoneimina), que é tóxico. Por esta razão
é que há a conjugação com a glutationa, de modo a tornar-se não tóxico e ser excretado pelos
rins.
Em excesso, é hepatotóxico!
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Metabolização e destoxificação do Álcool - 5 Vias
H2O2 2H2O
NADPH + H2o + O2 NADP+ + H2O2 + 2H+
Fe
Aldeído oxidase
Etanol Acetaldeído
c Acetato
Álcool Desidrogenase Aldeído desidrogenase
desidrogenase
Acetato-CoA ligase
NADPH + O2 + H+ NADP+ + 2H2O
Gem-diol Proteínas,
Lípidos,
CYP2E1 Nucleótidos
Ésteres
AG
Etílicos
Sintetase de ésteres
etílicos e AG Colesterol
Nota: - A metabolização é feita preferencialmente pela álcool desidrogenase e pelo CYP2E1, sendo a
actividade deste bastante menor do que a da desidrogenase quando em concentrações mais baixas
devido a ter um Km mais elevado que a desidrogenase.
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- aducto é um complexo que se forma quando um composto químico se une a uma molécula biológica,
como o DNA ou as proteínas.. No caso dos das proteínas não têm efeitos biológicos e quantificam a
exposição a xenobióticos., No caso dos de DNA, quando não há reparação, ocorre uma mutação.
- Para encorajar doentes de alcoolismo a deixarem de beber é-lhes administrado dissulfiram juntamente
com o álcool. O dissulfiram inibe irreversivelmente a enzima aldeído desidrogenase (ALDH). Esta
acumulação provoca sintomas desagradáveis como rubor, náuseas, vómitos, palpitações, hipotensão,
taquicardia e convulsões levando o paciente a rejeitar o álcool por associação a estes efeitos.
Resumindo
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2. Síntese de Lípidos
O NADH pode ser usado como agente redutor tanto na síntese de glicerol como na de ácidos
gordos.
3. Cadeia Respiratória
O NADH pode ser usado directamente na oxidação fosforilativa, o que inibirá a normal oxidação
dos AG e o TCA. Assim há uma acumulação de:
Ácidos Gordos: acumulam-se no fígado, que se livra deles despejando-os na corrente sanguínea
-> Hiperlipidémia -> Aumento do risco cardiovascular
Acetil CoA: A acumulação deste contribui tanto para a síntese de gorduras como para a síntese
de corpos cetónicos, que ficam em excesso no sangue.
A metabolização do álcool, em ingestão exacerbada, pode ser realizada pelos CYP indutíveis
(CYP2E1), que aumentam a sua expressão na presença do álcool. Por isso, há uma competição da
metabolização do álcool com outros xenobióticos, podendo haver interacção medicamentosa (exemplo
da interacção do paracetamol e do etanol). (Ver também a parte álcool e medicação dos slides)
Risco de
Se a forma activa
toxicidade por
for o fármaco
sobredosagem
Competição ↓Metabolismo do
Consumidor agudo
álcool/fármaco fármaco
Se a forma activa Menor efeito -
for o metabolito maior dosagem
Se a forma
↑ Actividade Menor efeito -
Ausência de ↑Metabolização activa for o
dos CYP's por maior dosagem
álcool do fármaco fármaco
indução
Se a forma Risco de
activa for o toxicidade por
Consumidor metabolito sobredosagem
crónico Se a forma Risco de
activa for o toxicidade por
fármaco sobredosagem
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FARMACOGENÓMICA
Tendo em conta o que se tem vindo a abordar, aquando da prescrição de um fármaco, deve-se
ter em conta o seguinte:
79
80
DISFUNÇÃO HEPÁTICA
AULA TEÓRICA 11
MARIA JOSÉ TEMIDO | SOFIA PICÃO
Objectivos:
Analisar o fígado como orgão central do metabolismo e regulador da composição química do organismo;
Avaliar as causas e consequências da disfunção hepática ao nível bioquímico.
No fígado ocorrem uma série de vias metabólicas comuns e não comuns a outros
orgãos/tecidos. As vias que ocorrem quase exclusivamente no hepatócito são:
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Crónica - toxinas (nutrientes orgânicos,...), inflamações (hepatite, colangite,...), álcool,
congestão venosa (ex: no coração), doenças hereditárias;
ENCEFALOPATIA
Degradação de AA entéricos
Hiperventilação
Hiperamoinémia
ALCALOSE
α-cetoglutarato
GABA
glutamato
Hepatite B e C
Hepatite auto-imune - inflamação de causa desconhecida em que os anticorpos
atacam as células do fígado como se fossem organismos patogénicos
Doença de Wilson - acumulação anormal de cobre no fígado
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Doença de Gaucher – doença lisossomal (défice na enzima que devia degradar o
glucocerebrosídeo)
Hemocromatose – acumulação anormal de ferro no fígado
Síndrome de Budd-Chiari – trombose das veias hepáticas e supra-hepáticas
Carcinoma Hepático
Colangite esclerosante primária – inflamação das vias biliares
Disfunção Hepática alcoólica
Hipertensão portal
Síndrome de Zellweger – diminuição da quantidade de peroxissomas nas células do
fígado, rim e cérebro
COLESTASE - bloqueio, obstrução do fluxo biliar, presença de secreção biliar nas
células hepáticas e acumulação de substâncias que normalmente são excretadas para
a bílis/duodeno tais como a bilirrubina e o colesterol, nos tecidos extra-hepáticos.
Causas:
Índices importantes:
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CIRROSE: Processo difuso de fibrose e formação de nódulos, frequentemente com
necrose hepatocelular. O consumo crónico de álcool é a causa mais frequente desta
patologia em Portugal.
As células começam a acumular uma fibra de forma anormal – A cirrose ainda é reversível
Necrose celular
Inflamação
Causas
1. Hemólise: anemia hemolítica adquirida, esferocitose congénita
2. Hepatocelular: toxinas, infeções
3. Colestase: cirrose, tumor, pedras na vesícula
Tipos de Icterícia:
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Parâmetros Bioquímicas Breve explicação
Hipercolesterolemia Se o recetor de LDL não estiver funcional,
este não vai ser degradado e a concentração
aumenta no plasma
Hipertrigliceridémia Aumento da sua síntese
Hiperlacticidémia Células em estado redox, aumenta o NADH
que é utilizado para reduzir o piruvato a
lactato
Hipoglicémia Esta é uma doença de armazenamento,
inibição da neoglicogénese
Hiperuricémia Aumento da degradação de purinas
provenientes das bebidas alcoólicas e das
células que entram em necrose
Hiperamoniémia Défice do ciclo da ureia
Hiperbilirrubinémia Aumento da bilirrubina não conjugada
Hipermetoniémia Aumento da síntese de metionina
-GlutamilTranspeptidase Níveis elevados indicam colestase,
influenciada pelo consumo de álcool
GGT-Gama-glutamiltransferase Envolvida na transferência de AA através da
metionina e no metabolismo do glutatião
Transaminases Indicam morte celular, no entanto, não
garantem que seja no fígado, é necessário
analisar os restantes parâmetros
Factores de coagulação Diminuição da síntese de proteínas
necessárias à coagulação
Ureia Défice no ciclo da ureia
FA- Fosfatase Alcalina Hidrolase responsável por hidrolisar
nucleótidos e proteínas, aumenta em casos
de colestase, cirrose e tumores (morte
celular)
A1AT- α-1-antitripsina Glicoproteína produzida essencialmente
pelos hepatócitos que inibe a protease de
serina que hidrolisa as fibras de elastina no
pulmão, protege, assim, os tecidos de serem
danificados pela elastase, presente nos
neutrófilos, monócitos e eosinófilo que
entra em ação em caso de inflamação.
Mutações nesta glicoproteína, sobretudo no
fígado (icterícia e doenças hepáticas)e o
pulmão, alteram a sua estrutura, verifica-se
a perda da capacidade inibitória e agregam-
se em forma de corpúsculo de inclusão nos
hepatócitos e por isso decrecem os seus
níveis séricos.
85
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STRESS OXIDATIVO, DISFUNÇÃO MITOCONDRIAL E NEURODEGENERESCÊNCIA
AULA TEÓRICA 12
DUARTE FLOR | PROF. CR7 (APOIO MORAL DE JOANA DIREITO E CAROLINA AQUINO)
Radicais Livres são espécies químicas que possuem electrões de valência desemparelhados,
isto é, existem orbitais ocupadas por apenas 1 electrão de valência, e que têm tendência a
“roubar” um electrão a outras moléculas, daí se dizer que são muito reactivas. Depois essa
molécula a quem o radical livre “roubou” o electrão, fica ela própria um radical, pois perdeu um
dos seus electrões de valência. Este fenómeno progressivo chama-se cascata oxidativa. No
nosso organismo isto constitui um grande perigo, pois ao roubar um electrão a certas
biomoléculas podem danificar estruturas importantes, como biomembranas e DNA.
Felizmente, possuímos outras espécies químicas que os neutralizam: os antioxidantes. Estes vão
fornecer o electrão ao radical e possuem mecanismos para voltar ao seu estado reduzido sem
se tornarem espécies oxidantes como acontece na cascata oxidativa.
Diz-se que existe stresse oxidativo quando a nível celular os antioxidantes não são suficientes
para neutralizar os oxidantes. Esta situação ocorre se houver excesso de radicais ou défice de
antioxidantes, obviamente.
É importante ressalvar que os radicais livres não são maus. São sinalizadores em diversos
sistemas celulares (basta ver o caso do NO), tudo depende da quantidade existente. Se a
concentração for pequena, funcionam como sinalizadores por exemplo. Activam mecanismos
de sinalização como o p53 (em baixas concentrações). Se estiverem numa concentração
moderada podem promover o crescimento, proliferação e migração celular. Níveis altos é que
são nocivos para a célula. Hipótese REDOX do Stress Oxidativo.
Das espécies reativas de oxigénio – ROS - destacam-se o HO˙ (hidroxilo), o mais nocivo e que
reage rápida e localmente, o H2O2 (caracterizado por conseguir atravessar membranas e formar
HO˙ facilmente; NÃO É RADICAL) e o O2-˙. Estes dois últimos originam-se normalmente em
diversos processos biológicos (abordados a seguir), mas são neutralizados por antioxidantes. Em
caso de stress oxidativo dão origem ao hidroxilo pelas reacções de Fenton (nesta é utilizado um
metal de transição que pode ser, por exemplo, ferro ou cobre) e de Haber-Weiss.
As espécies reativas de azoto (nitrogénio) – RNS – originam-se a partir da reacção de formação
de NO˙ pela NOS (óxido nítrico sintetase), em que arginina vai originar citrulina (Ver BQI). O NO˙
vai reagir com o anião superóxido e dar peroxinitrito – ONOO- (analogamente ao hidroxilo este
radical também é muito lesivo). Este pode dar o radical hidroxilo e outros como o NO2+.
87
As fontes biológicas, isto é, de origem natural, de radicais livres são:
Mitocôndria – durante o processo de fosforilação oxidativa, muitas vezes originado o
anião superóxido.
Durante a oxidação de ácido araquidónico (ver BQ I) origina-se também o superóxido.
NOS – já explicado.
Xantina Oxidase (BQI – catalisa a reacção de hipoxantina a xantina e de xantina a ác.
Úrico) – também origina anião superóxido.
NADPH oxidase – forma superóxido a partir de NADPH e oxigénio.
Monoamina Oxidase (MAO) - Ver degradação de catecolaminas em BQI – origina H2O2.
Glucose Oxidase – nunca ouvi falar dela na vida, foi só referida.
Cyt P450 – superfamília que catalisa várias reacções que envolvem oxigénio.
AGEs – produtos da oxidação da glucose. Como na diabetes a glicose sanguínea está
aumentada, são produzidos mais radicais e por isso pensa-se que existe uma relação
entre o aparecimento de Parkinson e Alzheimer com a Diabetes.
88
Defesas Antioxidantes não enzimáticas (todos possuem um estado oxidado e um
reduzido):
Vitamina C – Vit. C (Fe2+) passa a Vit.C (Fe3+)
Vitamina E (através do tocOH que passa a tocO˙; toc=tocoferol), importante a nível da
membrana, pois é lipofílica.
Glutatião – GSH passa a GSSG
Ácido úrico (ácido úrico + O2 + H2O → 5-hidroxisourato + H2O2 → alantoína + CO2)
Tiorredoxina – proteína que reduz outras proteínas, mantendo os seus grupos tiol na
forma reduzida. É regenerada a forma reduzida através do ácido lipóico, com gasto de
NAD(P)H, pela Tiorredoxina redutase.
Defesas Antioxidantes enzimáticas
Cu/Zn SOD – citosólica; Fe, Mn SOD –mitocondrial e existe outra forma extracelular;
(SOD=superóxido dismutase) – As SOD transformam o anião superóxido em peróxido de
hidrogénio ou oxigénio.
Catalase – transformam peróxido de hidrogénio em água.
Glutatião peroxidase – passa GSH a GSSG, reduzindo o radical.
Glutatião Reutase – passa GSSG a GSH, com uso de NADPH
Um desequilíbrio REDOX muito acentuado leva à morte celular, pois são desencadeados
mecanismos de apoptose, nomeadamente pela saída dos citocromos das mitocôndrias, pelo
influxo de cálcio, pelo ativar do p53, activação de genes apoptóticos (FAS) e danos na membrana
lisossomal, que levam à saída de protéases lisossomais; e necrose, principalmente pela quebra
de energia na célula e pelo influxo de cálcio.
A mitocôndria, para além de ser um local onde se originam muitos radicais, é um alvo fácil para
estes, pois é um organelo que tem todas as biomoléculas que podem ser oxidadas. O seu DNA
é mais susceptível à oxidação por não ter histonas e por não ter mecanismos de reparação, o
que faz do alvo fácil, também um alvo frágil . Ao longo dos anos vão-se acumulando mutações
no DNAmit, acumulando bases oxidadas e progressivamente havendo uma disfunção
mitocondrial, devido à oxidação das suas várias biomoléculas, o que leva a que em certos tecidos
mais vulneráveis como o cérebro (usa bastante O2, os neurónios serem células pós-mitóticas,
abundância de Ferro, grandes variações da concentração de cálcio durante o impulso nervoso,
o facto das mitocôndrias serem “velhas” e como foi explicado, por isso mais frágeis, e baixa
89
quando quantidade de antioxidantes) ocorra neurodegenerescência, que está associada a
doenças como o Parkinson e o Alzheimer. Teoria Mitocondrial do Envelhecimento
O Parkinson é abordado nos slides (na aula nem 1 minuto foi falada), por isso passo a explicar
uma teoria que associa o Parkinson aos radicais. Como sabemos uma das fontes biológicas de
radicais livres é a MAO (produz peróxido de hidrogénio), que está nos neurónios
dopaminérgicos, pois degrada dopamina. O aumento ao longo dos anos de radicais nestes
neurónios provoca a sua degenerescência e assim a doença de Parkinson.
90
HIPERURICÉMIA
AULA TEÓRICA 13
GUILHERME OLIVEIRA | PAULA CERQUEIRA
Hiperuricémia - Introdução
Aumento da concentração plasmática de ácido úrico devido a uma variada gama de
causas (acima de 6-7 g/dl; os valores variam com a idade e com o género).
Frequência:
10-20% homens
2-31% mulheres
2-18% da população adulta: desta percentagem a fracção
correspondente à gota é de 0,1-0,3%.
Sendo que é uma condição resultante de um défice numa via de reciclagem, é menos
frequente antes dos 30 anos, com a incidência a aumentar com a idade, sendo uma doença
inflamatória das articulações mais frequentes nos homens com idades superiores a 40 anos.
O sexo masculino é o mais afectado (19:1), mas as mulheres pós-menopausa tendem a
ser mais susceptíveis.
91
Pode ser assintomática, sendo apenas detectada por análises aos níveis plasmáticos
de ácido úrico.
Hiperuricémia – Causas
O ácido úrico é o produto final da degradação das purinas, nucleótidos obtidos através de
três vias: síntese de novo, metabolismo de moléculas endógenas (moléculas que possuam A e
G como bases) e pelo consumo de alimentos com alto teor de ácidos nucleicos (consumidas
pela dieta, sobretudo através do consumo de carnes jovens). Em indivíduos mais jovens, as
purinas são reutilizadas pela HGPRT ou APRT (hipoxantina-guanina ou adenina
fosforibosiltransferase). Porém, à medida que se envelhece, o catabolismo torna-se a via
preferencial, conduzindo à degradação dos nucleótidos purínicos em ácido úrico.
Normalmente, o organismo saudável elimina cerca de 700 mg de ácido úrico por dia,
recorrendo a duas vias diferentes:
- Excreção renal (2/3 → 0,3 – 2,0 g), com um alto grau de reabsorção: de todo o ácido
úrico filtrado, apenas 6-12% é eliminado a cada turnover. Regista-se uma competição com o
lactato.
- Uricólise intestinal: acção de bactérias que o degradam em compostos menos agressivos
para o organismo (exemplo: CO2, NH3, etc…).
Assim o aumento dos níveis de ácido úrico pode ter duas origens distintas:
92
plasmáticos forem elevados mas a urina não mostrar nenhuma alteração significativa, o
problema reside na excreção.
Nota: a hiperuricémia secundária pode ainda ter como causas hemopatias mieloproliferativas,
anemia hemolítica, psoríase, sarcoidose, disfunção renal, intoxicação alcoólica, cetoacidose diabética,
acidose láctica, doença por depósito de glicogênio tipo I, hipo e hiperparatireoidismo, hipotireoidismo,
sedentarismo, jejum prolongado ou ainda utilização de drogas como salicilatos em baixas doses, diuréticos
tiazíclicos, penicilina e corticosteróides.
Hiperuricémia – Consequências
Em meio aquoso, o ácido úrico é muito influenciado pelo pH e em parte pela
temperatura, pelo que predomina na sua forma não dissociada quando o pH é inferior (menor
solubilidade) e a sua forma ionizada quando o pH é superior ao seu pK, 5,75 (maior
solubilidade). O ião combina-se normalmente com o catião sódio, formando urato de sódio e
se a concentração plasmática de urato se encontrar acima dos 7,0 mg/dL, esta excede a
solubilidade do urato monossódico e ocorre precipitação do sal, podendo conduzir a uma
litíase renal.
Por outro lado, a alta concentração da forma não dissociada (valores plasmáticos
superiores a 7,0 mg/dl) aliada a baixas temperaturas leva à precipitação de cristais, registando-
se uma agravação dos ataques à noite nas articulações do pé, nomeadamente na 1ª
metatárso-falângica.
93
Gota ou Artrite Gotosa
Doença consequente de uma hiperuricémia severa (5% dos doentes com
hiperuricémia);
Resulta da deposição de cristais de ácido úrico em locais vulneráveis, como
articulações;
90% dos indivíduos com gota também sofrem de disfunção renal, contudo esta não é
severa. Por vezes esta não resulta da hiperuricemia mas sim de outras doenças como diabetes,
hipertensão arterial…
A longo prazo, pode comprometer tanto articulações como os rins.
O ácido úrico precipita facilmente na sinovial das articulações das extremidades do corpo
pois o pH e a temperatura são mais baixos (a gravidade também auxilia a deposição, daí ser
comum a deposição no dedo do pé).
O sistema imunitário responde, onde o processo de quimiotaxia dos neutrófilos é
activado por libertação de citocinas (fagocitose por monócitos) e libertação de leucotrieno B4,
prostaglandinas e radicais livres (estes factores estimulam também a lesão tecidular ao serem
libertados no processo de fagocitose pelos neutrófilos). Assim, há uma fagocitose dos cristais
pelos neutrófilos, que ao sofrerem lise por efeitos lesivos decorrentes dos cristais, libertam
mediadores de lesão tecidular e inflamação, nomeadamente, enzimas lisosómicas. Este
processo repete-se e provoca dores em locais como as articulações dos dedos.
O tratamento resume-se ao seguinte:
Dieta: diminuição da ingestão de alimentos ricos em purinas, com reforço da
hidratação oral, havendo preferência pela ingestão de águas bicarbonatadas ou bicarbonato
de sódio em solução (favorecem a solubilização do ácido úrico, facilitando a sua eliminação).
Repouso
Fármacos: tanto para aumentar a excreção como para inibir (alopurinol: inibidor
selectivo das etapas terminais da biossíntese de ácido úrico) a formação.
Anti-inflamatórios não-esteróides e analgésicos para diminuir a dor;
Colchicina: e diminui a motilidade leucocitária, a fagocitose e a produção de ácido
láctico, diminuindo, deste modo o depósito de cristais de urato e a resposta inflamatória
resultante.
Cirurgia para extracção de tofos gotosos muito exuberantes.
94
concentração plasmática de lactato (compete com o ácido úrico na excreção renal). Há uma
saturação dos receptores URAT-1 no rim, com uma eliminação de aniões orgânicos,
conduzindo a um aumento da concentração de ácido úrico.
Notas:
- O excesso de frutose pode causar hiperuricémia?
A transformação da frutose a frutose-1-fosfato implica a activação da enzima
frutoquinase pelo ATP. Um excesso de frutose implica uma depleção acelerada de ATP, o que
conduz a um aumento do AMP. Este estimula a AMP deaminase, que de forma
irreversível promove a desaminação da adenosina para inosina, que depois é convertida a
hipoxantina por uma PNP (purine nucleoside phosphorylase), convertendo-a a hipoxantina. A
xantina oxidase tem assim a sua acção, ao reduzir o O2 a H2O2 e oxidar a hipoxantina a xantina
e, posteriormente, a xantina a ácido úrico.
- Fármacos anticancerígenos podem causar hiperuricémia. Porquê?
Os fármacos anticancerígenos promovem a morte celular, ao se revelarem anti-
mitóticos. Com tal lise celular ocorrerá libertação dos cristais de ácido úrico para o meio
envolvente, levando a um aumento da sua concentração plasmática e a um consequente
desenvolver de hiperuricémia.
- Um défice da Glucose-6-fosfatase pode causar hiperuricémia?
Sim, pois sem a actividade normal desta enzima, teremos acumulação de Glucose-6-
fosfato. Para diminuir os mesmos haverá activação da via das pentoses, e sendo que um dos
produtos desta via é a Ribose-5-fosfato, um componente básico do PRPP, o substrato inicial na
síntese de nucleótidos, teremos um aumento da concentração destas biomoléculas. Para
contrabalançar este efeito, a via de degradação gerará níveis igualmente altos de ácido úrico,
contribuindo para uma hiperuricémia.
95
96
REGULAÇÃO DO METABOLISMO MEDIADA POR INSULINA, GLUCAGINA, ADRENALINA
AULA TEÓRICA 15
“O MATOS” COM OS MEGA-APONTAMENTOS DE VÁRIAS FOCAS XD
Hormonas pancreáticas
As hormonas pancreáticas (insulina, glucagina e
somatostatina) são hormonas produzidas nas
“ilhotas de Langerhans”, sendo depois lançadas
na corrente sanguínea através da função
endócrina do pâncreas. As diferentes hormonas
são produzidas em diferentes tipos de célula
dentro da mesma ilhota. Assim, glucagina
insulina, e somatostatina são produzidas
respectivamente nas células alfa, beta e delta.
97
preferencialmente no fígado, fazendo com que este liberte a glicose resultante do
conjunto de processos supra mencionados. Assim, os níveis de glicose no sangue sobem
até retomarem o valor normal.
(Nota: As situações de hipoglicémia são corrigidas mais rapidamente que as de hiperglicémia)
Formação da insulina
A insulina é libertada pelas células β-pancreáticas na sua forma activa. Para tal, teve de
passar por um processo de maturação, uma vez que é produzida na forma de
pré-proinsulina (pela tradução do mRNA) e é transformada em proinsulina (remoção
do peptídeo sinal) e por fim em insulina madura através da acção de proteases (que
removem o peptídeo C). Estes
processos de maturação ocorrem no
aparelho de golgi, ficando a insulina
contida em vesículas de onde se liberta
para actuar nos receptores celulares
para que esteja rapidamente
disponível.
(Para além disso, pode-se libertar
peptídeo C e também alguma
proinsulina, que não irão ter actividade
nos receptores)
98
(o cortisol cria grandes reservas de aminoácidos, e, na fase final de recuperação da hipoglicemia, é responsável
pela diminuição do consumo de glicose e aumento da sua produção)
99
No tecido adiposo e no fígado a insulina vai estimular a entrada de glicose, o aumento de
glicerol-3-P e a consequente síntese de triglicerídeos e AG, de forma a armazenar a energia em
excesso, consumindo dessa forma Ac-coA. No tecido adiposo, será também estimulada a
actividade da lipoproteína lipase, para que os TG aí possam ser armazenados. Para além disso,
a insulina estimula a biossíntese da hexocinase-IV (semelhante à glucocinase) a nível hepático e
a hexocinase-II, formação de creatina fosfato e piruvato cinase a nível muscular.
A insulina não tem efeitos directos no cérebro, uma vez que os transportadores GLUT-3
associados aos neurónios são independentes de insulina, ao contrário dos GLUT-4 encontrados
nos músculos.
A glucagina, por sua vez, fará aumentar a neoglicogénese e a degradação de glicogénio através
da activação de uma fosforilase que activa a glicogenólise. Ambos os processos acontecem
apenas no fígado, já que o músculo não tem receptores para a glucagina, pois nesse caso seria
privado de glucose necessária à sobrevivência. Os principais efeitos metabólicos no músculo são
mediados pela epinefrina, que estimula a entrada de glicose e a glicólise. O cérebro também não
sofre influência da glucagina, uma vez que é necessário um aporte constante de glicose para a
sobrevivência do mesmo.
Nota: Em situação de jejum pode até haver um aumento do ATP porque a degradação de
AG e de corpos cetónicos dão mais energia que a degradação de glucose.
100
Amplificação dos sinais
A insulina tem vários efeitos simultâneos numa célula apesar de ocorrerem em zonas muito
distintas. Isso só é possível porque há activação da sinalização intra-celular mediada por
receptores catalíticos. O estímulo liga-se ao receptor, os receptores dimerizam e auto-
fosforilam-se. Quando isto acontece faz com que outras proteínas sejam replicadas para o
receptor e sejam activadas vias de amplificação nas quais várias proteínas são activadas por
cascatas de fosforilação. Assim, uma proteína depois de activada pode activar muitas outras.
A glucagina, por sua vez, liga-se a receptores associados a proteínas G. Estes, quando ligam
GTP activam a adenilato ciclase que promove a conversão de ATP em AMPc. Este 2º
mensageiro irá activar a proteína cinase A (PKA) que irá fosforilar outros efectores na célula,
nomeadamente a glicogénio sintetase (inibindo-a). Desta forma, permite a degradação de
glicogénio sem que haja a sua formação simultânea.
Os processos de amplificação são importantes para a actuação quer da insulina quer da
glucagina.
Por outro lado, os processos reversíveis de fosforilação são um importante mecanismo de
regulação. Por exemplo, quando o receptor de insulina é activado em células com
transportadores de glucose dependentes de insulina (tipo GLUT-4), é activado o receptor
tirosina cinase que provoca a activação de várias moléculas por fosforilação.
Receptores α e β adrenérgicos
A epinefrina tem vários tipos de receptores que são diferentes no músculo e no fígado. A nível
muscular, existem receptores β-adrenérgicos, que quando estimulados provocam a degradação
de glicogénio através da formação de AMPc e actividade da PKA. A nível hepático funcionam os
receptores α-adrenérgicos, que em vez da PKA utilizam fosfolipase C, sendo activada a via do
IP3, com consequente libertação de cálcio do RE, o que também se revela importante para a
glicogenólise hepática.
101
102
REGULAÇÃO DO METABOLISMO MEDIADA POR ESTROGÉNIOS E GLUCOCORTICÓIDES
AULA TEÓRICA 16
DANIELA S. OLIVEIRA E JOANA PIRES
103
Não nos podemos esquecer que a principal
característica da maioria dos sistemas
endócrinos é a retroalimentação negativa. Isso
significa que a resposta induzida pela ação de
um hormônio retroalimenta a inibição do nível de
sua produção.
104
Cortisol
É um corticosteróide (hormona esteróide derivada do colesterol) produzido pela glândula
supra-renal
Biossíntese do cortisol
A partir do colesterol (27C), é sintetizada pregnenolona que é precursora de
glucocorticóides, mineralocorticóides e de androgénios.
Para a síntese de cortisol, a pregnenolona primeiro, sob acção do citocromo P450,
transforma-se em progesterona e, depois então, é transformada em cortisol, por acção de
outros citocromos P450. O cortisol é uma hormona lipofílica, mas mais solúvel que a
pregnenolona, favorecendo a sua circulação até aos tecidos alvo.
105
no osso, inibe os osteoblastos e estimula os osteoclastos
Atraso no
diminui a concentração plasmática de cálcio: pela diminuição da absorção pelos
crescimento
intestinos e pela inibição da produção de calcitriol nos rins
Resposta anti-inflamatória
O cortisol tem efeitos no sistema imune e anti-inflamatório, pois impede a formação de
ácido araquidónico (por inibição da fosfolipase A2) ao nível dos macrófagos. Sendo o
ácido araquidónico o precursor de tromboxanos, prostaglandinas, prostociclinas e
leucotrienos, o processo inflamatório vai estar comprometido.
Assim, a cortisona, um glucocorticóide sintético, é utilizado como anti-inflamatório e anti-
alérgico, nas alterações dermatológicas.
Normalização da glicémia
O cortisol tem a sua maior influência no controlo homeostático da glucose, sendo o seu
efeito semelhante ao efeito da glucagina, mas com uma acção mais lenta.
O cortisol actua no núcleo das células, aumentando a expressão genética das enzimas
gluconeogénicas. Assim, ele vai estimular a degradação de proteínas e de lípidos e a
neoglucogénese, para aumentar a produção de glucose. Tem portanto o efeito oposto da
insulina, mas promove a reabsorção de sódio e a perda de potássio, função específica dos
mineralocorticóides.
106
Tendo em conta os efeitos do cortisol e da ACTH, os seus níveis estão aumentados de
manhã, durante os períodos de jejum, que é necessário haver degradação proteica e lipídica.
No entanto, à noite os seus níveis já são mais baixos, sendo cerca de 10 vezes maior às 8
horas do que às 24 horas.
Resposta ao stress
Em situações de stress e de emergência, a síntese de cortisol é estimulada pela
estimulação da glândula pituitária anterior que liberta ACTH, que por sua vez estimula a
produção do cortisol pelo córtex das glândulas supra-renais. Por outro lado, o sistema nervoso
autónomo estimula a medula adrenal a produzir adrenalina. Estas duas hormonas combinadas
vão fazer uma rápida conversão de fuels em glucose pronta a ser utilizada. É este mecanismo
que permite a fuga descontrolada e incansável.
107
Hormonas Sexuais
Também conhecidas como hormonas esteróides, são hormonas lipídicas produzidas nas
gónadas a partir do colesterol. Deste grupo fazem parte o estrogénio, a progesterona e a
testosterona.
Os estrogénios são sintetizados a partir da pregnenolona que forma progesterona e esta,
por sua vez, forma testosterona e só depois, então, estrogénio (estradiol).
108
nas mulheres resulta num aumento da actividade dos osteoclastos – isto é, ocorre, reabsorção
do osso e consequente osteoporose.
A deficiência de testosterona nos homens resulta em reduzida massa óssea.
Consequências:
Diabetes do tipo 2, por resistência à insulina
Níveis elevados de “mau colesterol” (LDL), ou baixos níveis do “bom colesterol” (HDL)
Tensão arterial elevada
Níveis aumentados de glucose no sangue
Celulite (especialmente à volta da cintura e no abdómen)
Níveis aumentados de gorduras do sangue (triglicerídeos)
Níveis elevados da proteína reactiva C (indicador de inflamação)
Níveis elevados de coagulação no sangue
Cancro do endométrio (se não for tratada faz com que o revestimento interno do útero
não seja descamado e substituído regularmente)
Infertilidade
109
As mulheres com este síndrome e que têm elevada libertação de GnRH têm
consequentemente níveis mais elevados de LH e níveis mais baixos de FSH, na maioria dos
indivíduos.
Altos níveis de LH (e insulina) parecem causar aumento da produção de andrógenios
pelas células da teca folicular, o que provoca hirsutismo (crescimento excessivo de pêlos
terminais na mulher, em áreas anatômicas características de distribuição masculina). Os
andrógenios também parecem inibir os efeitos de feedback negativo dos estrogênios e
progesterona o que leva a uma desregulação hormonal.
Já os os níveis mais baixos de FSH levam à anovulação.
A obesidade e a resistência à insulina, parecem amplificar os efeitos da patologia.
110
HORMONAS DA TIROIDE
AULA TEÓRICA 17
CAROLINA DIAS | JOANA DOMINGUES | CAROLINA MATIAS
HORMONAS TIROIDEIAS
As hormonas tiroideias (iodotironinas) são as únicas moléculas orgânicas com iodo no organismo animal. A
sua principal ação é aumentar a taxa de metabolismo basal, através da regulação da síntese de ATP
mitocondrial e também promovem o desenvolvimento embrionário.
O HIPOTÁLAMO tem uma grande importância na libertação/regulação das hormonas tiroideias, através da
libertação de TRH (thyrotrofin-releasing hormone) que estimula a HIPÓFISE ANTERIOR (Glândula pituitária).
Esta por sua vez liberta TIROTROPINA (TSH - thyroid stimulating hormone) que estimula as células foliculares
da TIROIDE a produzir as hormonas tiroideias: T3 (triiodotironina - forma ativa) e T4 (tiroxina, forma inativa,
mas produzida em maiores quantidades). Estas hormonas regulam o Complexo Hipotálamo-Hipófise por
feedback negativo. (A tiroide também pode ser estimulada por imunoglobulinas.)
TRH TSH
Hipotálamo Hipófise Anterior Tiroide
(-) (-) T3 e T4
As hormonas tiroideias são lipofílicas pelo que têm baixa solubilidade, deste modo têm que ser associadas a
proteínas/transportadores para poderem circular no plasma:
Albumina
TGB (thyroxin binding protein) – glicoproteína sintetizada no fígado
Transtirretina – sintetizada no fígado (mutação no seu gene pode causar a Doença do Pezinho)
SÍNTESE
1º: TSH estimula as células foliculares a captarem iodo (I-), que será oxidado e é necessário à síntese de
tiroglobulina. Síntese de percursor da tiroglobulina, empacotamento em vesiculas e passagem destas para a
zona coloidal/lúmen (da glândula).
111
Em suma: TSH é responsável pela síntese e libertação de T4. Esta hormona (que é produzida em maior
quantidade que a T3) não tem ação biológica quando captada pelas células alvo, podendo ser convertida por
elas em T3 (forma ativa), através da remoção de um iodo! DIODINASES
As DIODINASES são enzimas peroxidases responsáveis pela ativação ou desativação das hormonas tiroideias,
principalmente pela conversão
de T4 em T3. São três: D1, D2 e
D3.
A molécula de T4 é formada
por dois anéis fenólicos aos
quais estão ligados 4 átomos
de iodo.
NOTA: T4 – hormona mais comum, sem atividade; T3 – forma ativa; rT3 – forma inativa,
bloqueia recetores de T3, bloqueando a sua ação (sintomas semelhantes ao hipotiroidismo);
T2 – praticamente inativa.
AÇÃO
Atividade genómica: é a principal ação. Ocorre inteiramente no núcleo. A T3 entra no núcleo da célula alvo
(liga-se a recetores intracelulares) → liga-se a partes especificas do DNA e promove a transcrição.
Ao nível da mitocôndria:
112
T3 liga-se a proteinas desacopladoras e aumenta processos de termogénese → ↑CRM e ↑consumo
de O2;
T3 induz NRF-1 (nuclear respiratory factor-1) → ↑atividade dos complexos da CRM, ↑passagem de
H+ e ↑atividade do gliceraldeido desidrogenase, NADH desidrogenase e succinato desidrogenase;
T3 regula a expressão/transcrição do DNA mitocondrial (p28/p43).
Ao nível do citosol:
T3 ativa PI3K → PIP3 e PIP2 “chamam” à membrana a PDK-1 (cinase) que ativa a PKB. A PKB é
responsável por:
Ativação da S6K (cinase) → ↑translação e sintese proteica, que resulta num crescimento e
maturação celular;
Ativação da PKC;
Inibição de p21 (células saem da fase G1);
T4 ativa cinase MAPK que promove angiogenese → crescimento celular.
Em suma:
Hormona da Tiroide
↑ Consumo de O2 e ↑ Metabolismo
Bócio
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Hipotiroidismo e Hipertiroidismo
HIPOTIROIDISMO HIPERTIROIDISMO
Alterações no Sistema Nervoso:
Tremor, fraqueza muscular
- Adulto: ↓ reflexos, discurso lento, depressão,
CÉREBRO ↑ Excitabilidade neuromuscular (hiperreflexia)
↓ excitabilidade neuromuscular (hiporreflexia)
Insónia, irritabilidade
- Crianças: decréscimo da capacidade mental
↓ Funçãorenal (retenção) RIM ↑ Reabsorção renal
↓ Sintese proteica ↑ Proteólise: perda de peso e massa muscular
↓ Glicogenolise, gluconeogénese (hipoglicémia) ↑ Glicogenolise, gluconeogénese (hiperglicémia)
FÍGADO
↓ Destoxificação hepática ↑ Destoxificação hepática
↓ Lipólise (ganho de peso) ↑ Lipólise
Obstipação, reflexo esofágico (↓ mobilidade
INTESTINO Diarreia (↑ contração intestinal)
intestinal)
Taquicardia: ↑ frequência cardiaca (estimula os
Braquicardia: ↓ frequência cardiaca CORAÇÃO
recetores β-adrenérgicos no músculo cardiaco)
↓ Secreção de ácidos biliares: ↑ colesterol ↑ Secreção de ácidos biliares: ↓ colesterol
↓ Catabolismo de VLDL: ↑ VLDL ↑ Catabolismo de VLDL: ↓ VLDL
↓ Eritropoiese ↑ Eritropoiese
↓ Consumo de O2 ↑ Consumo de O2
↓ Termogénese (˃ sensação de frio) ↑ Termogénese (sudorese elevada)
↑ TSH: ↓T3 e T4 ↓ TSH: ↑T3 e T4 (↑ feedback negativo do
Diminuição do apetite hipotálamo e hipófise anterior)
↑ Risco de aterosclerose
↑ Volume da glândula tiroideia
Atraso de desenvolvimento e pequena estatura Crescimento elevado: ↑ metabolismo ósseo
NOTA: A tiroide possui células intersticiais (células c) que produzem calcitonina, uma hormona
que leva à diminuição da concentração de cálcio no sangue → estimula a formação óssea.
114
ALTERAÇÕES METABÓLICAS NO JEJUM
AULA TEÓRICA 18
GUILHERME CAMÕES | FERNANDO DIAS (WOLVERINE)
Insulina – responde à glucose e permite que esta entre nas células para fornecer
a estas uma fonte de energia
Glucagina – quando não há glucose suficiente para activar as vias metabólicas
115
A glicose hepática é a mais importante na manutenção da glicémia, pois
encontra-se armazenada no fígado sob a forma de glicogénio para esse fim. Assim
sendo, a concentração do glucose no sangue mantém-se praticamente constante ao
longo do tempo enquanto que a concentração de glicogénio no fígado vai variando.
Glicogénio hepático
Glicémia
116
No fígado é estimulada:
Síntese de glicogénio
Glicólise
Síntese de ácidos gordos
Síntese de VLDL a partir de triacilglicerol
Absorção de aminoácidos e síntese proteica
No músculo é estimulada:
Síntese de glicogénio
Absorção de aminoácidos e síntese proteica
Metabolismo no jejum
O organismo tende a reagir de formas diferentes perante o número de horas
de jejum a que está sujeito.
Ao fim de 8h de jejum: há um aumento bastante acentuado da quantidade de
corpos cetónicos no organismo.
Até 12h de jejum: o músculo liberta alanina como precursor de piruvato por
transaminação e, portanto, irá permitir a obtenção de glicose por neoglicogénese.
117
Após 12h de jejum: os níveis de glicose tendem a estabilizar:
- Há consumo de glicogénio (pelo que este encontrar-se-á muito diminuído) para
formação de glicose;
- Há beta-oxidação de ácidos gordos que se torna bastante importante como
fonte de energia nestas condições;
- Há estimulação da neoglicogénese (para fins óbvios);
- A glicose passa a ser usada apenas em tecidos prioritários e cuja principal fonte
de energia é a própria glicose (tecidos como o cérebro, portanto).
118
Mais de 24 dias (fase avançada):
- Há uma diminuição da velocidade de degradação proteica (caso esta
degradação continuasse, iria conduzir à destruição dos tecidos, uma vez que as células
são mantidas por estruturas proteicas);
- Dá-se um aumento do catabolismo de triglicerídeos para formação de corpos
cetónicos no fígado, para que estes possam ser usados no cérebro;
- Surgem deficiências vitamínicas (C,B);
- Há diminuição da temperatura corporal, do batimento cardíaco, da pressão
arterial e do metabolismo basal.
Fase final:
- diminuição acentuada das reservas lipídicas;
- o catabolismo de proteínas passa de 30-55 g/dia para centenas g/dia;
- atrofia muscular, redução da actividade cerebral;
- MORTE!
119
Refeeding
Deve ser feito de forma bastante regulada, pois, caso contrário, leva à disfunção
dos órgãos.
Após “refeeding”, há um aumento de insulina como resposta ao aumento de
glicose (aumenta, portanto, o “ratio” insulina/glucose). Isto leva a:
- Estimulação de vias de síntese;
- Transporte de aminoácidos para os tecidos;
- Entrada de iões nas células (iões potássio, magnésio, fósforo), diminuindo,
assim, no sangue. Por consequência, há entrada de água nas células, conduzindo a
tumescência e, portanto, edemas.
120
ALTERAÇÕES METABÓLICAS NA OBESIDADE E NA DIABETES
AULA TEÓRICA 19
ARNALDO FIGUEIREDO | FÁBIO GOMES
Obesidade
Obesidade é o estado patológico caracterizado pela acumulação excessiva de gordura
no organismo e pelo aumento de peso. Um dos métodos mais importantes para o seu
diagnóstico é o cálculo do IMC (Índice de Massa Corporal), que é um biomarcador da
distribuição da gordura no tecido adiposo. Este pode ser calculado pela equação:
Diabetes Mellitus
121
Tipo I Tipo II
Insulina
A insulina é uma hormona produzida nas células β dos ilhéus pancreáticos (ou de
Langerhans). É responsável pela regulação do aporte celular de glicose no tecido
muscular e adiposo, pela inibição da lipase, pela desfosforilação da glicogénio sintetase
(por activação da fosfatase-1), activando-a, estimula a síntese de ácidos gordos e a sua
entrada nos adipócitos, entre outras funções. Interage com receptores celulares,
promovendo a mobilização, para a membrana, dos transportadores GLUT-4 (cuja função
é o transporte da glicose para o meio intracelular).
Oxidação dos lípidos para produzir energia por não existir o efeito
inibidor da insulina sobre a lipase, resultando em cetoacidoses;
Degradação de glicogénio e transporte da glicose produzida para o meio
extra-celular, o que, aliado a uma redução do aporte de glicose para a
célula, leva a um aumento do teor sanguíneo de glicose (hiperglicémia).
122
Devido a esta hiperglicémia, as pessoas podem incorrer em glicosúria
(presença de glícidos na urina) o que pode levar a desidratação.
Esta falta de glicose na célula leva a uma maior degradação de proteínas
para compensação energética, o que leva a uma diminuição da massa
muscular e de peso e a fadiga crónica.
Obesidade
Genéticos – é sobretudo uma doença poligénica (90% dos casos) mas existem
também formas monogénicas que são hereditárias e autossómicas
dominantes
É uma doença de causa multifactorial uma vez que apenas factores genéticos
(existência de genes de susceptibilidade para a obesidade) não são suficientes ou
necessários para o aumento de gordura. Estes factores têm então de estar combinados
com factores ambientais para que uma pessoa se torne obesa.
123
Leptina
Para além disso, a insulina, tal como a leptina, está também associada à sensação de
saciedade quando actua no hipotálamo. Assim, se houver resistência aos seus efeitos,
irá ocorrer um aumento do apetite.
124
DISLIPIDÉMIAS
AULA TEÓRICA 20
ANA CARREIRA | CARLOS CODEÇO
Lipoproteínas:
São macroestruturas compostas por lípidos e proteínas que permitem o transporte dos lípidos
(não hidrossolúveis) no sangue. Já os ácidos gordos circulam ligados à albumina.
Assim temos:
Definição:
Dislipidémias – desregulação dos níveis plasmáticos de lípidos (por falta ou excesso), relacionada
com o seu transporte (alterações do metabolismo da lipoproteínas, que também se encontram
em níveis anormais). Geralmente são assintomáticas e são detectadas em análises de rotina ao
sangue. É importante compreender que não só o excesso de colesterol ou TG (os lípidos mais
importantes), mas também a falta pode levar a patologia, dado que o colesterol é necessário
para as membranas celulares e para a síntese de hormonas esteróides, sais biliares e vitamina
D.
Classificação:
Mas não nos podemos basear apenas no aspecto! É necessário também fazer o doseamento
plasmático dos TG e colesterol, podendo relacioná-lo com o aspecto. Podemos ainda fazer uma
electroforese para ver o tipo de lipoproteínas e correlacionar isso com o conteúdo em colesterol
e TG.
125
Causas:
1. Dieta – graças a um consumo excessivo, o que por sua vez pode dever-se a uma
desregulação neuroquímica do hipotálamo (por excesso de grelina ou falta de leptina);
2. Apoproteínas – mutações relacionadas com o transporte (p.e. na Apo-B100, que é
reconhecida pelo receptor de LDL e assim deixaria de o ser, não entrando o colesterol
para a célula e aumentando a sua concentração no plasma);
3. Receptores das lipoproteínas: mutações nos genes que codificam os receptores de LDL,
p.e. (hipercolesterolémia);
4. Enzimas associadas a lipoproteínas – transferases, lípases.. Uma mutação na
lipoproteína lípase (LPL) leva a uma incapacidade de digerir as gorduras, que acumulam.
Classificação etiológica
É importante determinar se a causa é primária ou secundária porque queremos tratar a causa e
não só os sintomas.
A. Síndrome da quilomicronémia
Causa
o Gene que codifica os receptores hepáticos de LDL, gene LDLR, cr19p13.3,
maioritariamente autossómica dominante;
o Gene ApoB;
o Gene PSCK9.
Alterações Bioquímicas
o Acumulação de LDL e, consequentemente, de colesterol no plasma.
Sintomas
o Xantomas e xantelismas.
126
Terapêutica
o É diferente consoante se trate de homozigóticos ou heterozigóticos (simples ou
combinados), já que se verificam fenótipos mais “bravos” com duas cópias
mutadas do gene (dosagem génica).
Heterozigóticos: administrar colestiramina, que diminui a reabsorção
de ácidos biliares o que leva o organismo a aumentar a síntese de sais
biliares (consumindo colesterol). A diminuição de sais biliares leva
também a um aumento compensatório do numero de receptores
hepáticos de LDL, o que vai também aumentar a reabsorção de
colesterol. Podemos também administrar estatinas, que inibem a HMG-
CoA reductase, enzima chave na síntese do colesterol.
Homozigóticos: é necessário definir a capacidade residual dos LDL-R,
sendo que para valores >2%, administra-se colestiraminas, estatinas e
ácido nicotínico (inibe síntese hepática de TG). No entanto, é preciso ter
cuidado, pois a diminuição de síntese TG leva a um aumento de AG
livres (FFA), o que vai estimular a neoglicogénese, aumentando os níveis
de glucose plasmática e consequentemente a resistência à insulina,
potenciando a diabetes. É também importante reduzir a ingestão de
colesterol.
Risco
o Aterosclerose (foam cells)
Causa:
o Défice de apo-E, autossómica recessiva;
o Secundária a obesidade, diabetes, alcoolismo, hipertiroidismo.
Alterações bioquímicas:
o Acumulação de quilomicrons remanescentes (precursor de VLDL), VLDL, IDL
(têm apo-E) e LDL (os receptores de LDL no fígado reconhecem sobretudo a apo-
E).
Terapêutica:
o Dieta pobre em colesterol;
o Controlo dos níveis de colesterol.
Risco:
o Aterosclerose.
D. Hipertrigliceridémia familiar
Causa
o Mutação no gene da ApoB (autossómica dominante – mais grave quando os 2
genes estão mutados), que leva a um aumento de síntese da Apo-B100 (o que
leva a um aumento de VLDL) e da Apo-B48 (o que leva a um aumento dos
Quilomicron), que vai levar à incapacidade de utilizar TG (como fonte de
energia).
127
Alterações
o Aumento de TG plasmáticos;
o Colesterol normal.
Risco
o Doença coronária precoce
E. Abetalipoproteinémia
Causa
o Défice na síntese de apo-B
Alterações
o Não sintetiza apo-B100 nem apo-B48 logo não se formam VLDL nem
quilomicron;
o Incapacidade de absorção lipídica intestinal, o que leva a um défice de vitaminas
lipossolúveis.
Sintomas
o Eritrócitos espiculados irregulares (acantócitos);
o Perturbações neurológicas.
Risco
o Angina de peito;
o Enfarte do miocárdio;
o Acidente vascular cerebral;
o Insuficiência vascular periférica.
Causa
o Défice na síntese de apo-A-I (HDL e quilomicron)
Alterações
o Aumento de TG devido aos quilomicron sem apo-A-I
o Diminuição de HDL-C, o que vai obrigar à captação do colesterol por
macrófagos.
Risco
o Aterosclerose (foam cells)
o Neuropatia – défice neurológico
G. Hipercolesterolémia poligénica
128
Causas Secundárias
Alcoolismo
Aumento de TG
Insuficiência renal crónica
Fármacos (doses altas de diuréticos, beta-
bloqueadores, corticoesteroides,
anabolizantes)
Hipotiroidismo
Aumento de colesterol
Síndrome nefrótica
129
3. Fibráceos
Activam a lipoproteína lípase (LPL), promovendo a lipólise de TG sérico, podem
aumentar HDL e reduzem a produção hepática de VLDL (logo diminui TG, col-
Total e LDL).
4. Ácido nicotínico
Inibem a produção hepática de VLDL (diminui TG), inibem a lipólise nos
adipócitos e podem aumentar a HDL;
É necessário ter cuidado pois também causam hiperglicémia e resistência à
insulina.
Nota:
A CETP (cholesterol ester transfer protein) é uma glicoproteína plasmática que transfere ésteres
de colesterol das HDL para as lipoproteínas que contêm apo-B. Ao inibirmos a CEPT (p.e. através
de Torcetrapib), podemos aumentar os níveis de HDL (devido ao aumento de apo-A-I) e diminuir
o LDL-C devido à diminuição dos níveis de apo-B. No entanto, não altera significativamente os
níveis de colesterol e de TG séricos.
Bom estudo!
130
SÍNDROME METABÓLICA
AULA TEÓRICA 21
TÂNIA CARVALHO
Síndrome Metabólica
1 - Definição
Conjunto de alterações metabólicas que incluem resistência à insulina,
hipertriglieridémia, decréscimo de colesterol-HDL (este sintoma nem sempre está
presente no início da patologia), obesidade com hipertensão.
Os doentes apresentam risco aumentado para doenças crónicas como
hipertensão, doença coronária e diabetes.
2 - Principais Características
Obesidade abdominal (excesso de tecido adiposo em redor da zona abdominal);
Dislipidémia aterogénica (capaz de induzir aterosclerose): aumento TG,
diminuição HDL e aumento LDL plasmático que contribuem para a formação de
ateroma nos vasos periféricos;
Tensão arterial elevada;
Resistência à insulina ou intolerância à glucose;
Estado pro-trombocítico (e.g. níveis sanguíneos elevados de fibrinogénio ou de
inibidor da ativação do plasminogénio-1);
Estado pró-inflamatório (e.g. níveis elevados de proteína C reativa no sangue).
3 - Causas possíveis:
1. Stress: uma disfunção no eixo HPA induz um aumento dos níveis plasmáticos de
cortisol; este promove um aumento de glicose e de insulina que promove
adiposidade visceral, resistência à insulina e dislipidémia.
131
2. Estilo de vida sedentário, excesso de peso e obesidade que geram aumento do
tecido adiposo, razão LDL/HDL (hipercolesterolémia) e tendência para aumento
da trigliceridémia e glicémia.
3. Envelhecimento: o síndrome metabólico afeta metade da população acima dos
65 anos de idade devido à diminuição da adaptabilidade da célula-beta ao
excesso de ácidos gordos livres, acompanhado de deficiente sinalização mediada
pelo sistema nervoso simpático.
4. Doenças reumáticas: a comorbidade pode estar ass.ociada às doenças
reumáticas. A psoríase (com rico cardiovascular) e a artrite psoriática
(inflamatória) têm sido relacionadas com a Síndrome Metabólica.
4 - Etiologia
Associado ao desenvolvimento de gordura visceral, os adipócitos promovem um
aumento dos níveis plasmáticos de TNFα e modificam os níveis de libertação de
adiponectina (diminuição) e resistina (aumento).
TNFα causa a produção de citocinas pró-inflamatórias e ativa a sinalização celular
através da interação com o recetor para o TNFα, podendo conduzir à resistência à
insulina.
6- Riscos
- Diabetes
- Problemas cardíacos
5 – Tratamento
Dieta saudável
Exercício físico
Diuréticos e inibidores ACE podem ser usados para tratar hipertensão.
Medicamentos para o colesterol podem ser usados para baixar os níveis de LDL
e triglicerídeos e aumentar os níveis de HDL (ex: Estatinas)
Usar medicamentos para diminuir a resistência à insulina ainda é controverso
(e.g. metaformina ou
thiazolidineadiones)
132
CASO CLÍNICO
133
134
ALTERAÇÃO DA HOMEOSTASE DO CÁLCIO E MECANISMOS DE MORTE CELULAR
Aula Teórica 22
CAROLINA BAPTISTA | CAROLINA SIMÕES | CAROLINA PRATAS
Objetivos:
1. Rever os papéis fisiológicos do Cálcio
2. Descrever os mecanismos de controlo da homeostase do cálcio a nível
plasmático (calcémia) intracelular
3. Avaliar a importância da desregulação intracelular de cálcio na génese dos
processos de morte celular: apoptose, necrose e autofagia.
Homeostase do Cálcio:
O metabolismo do cálcio é equilibrado em adultos saudáveis. Uma vez que
excretamos cálcio, quer a nível renal quer a nível intestinal, tem que haver sempre um
aporte adicional do mesmo, sendo que o consumo diário deste componente é
aproximadamente 20mmol. De facto, produtos que ingerimos quotidianamente como
lacticínios, nomeadamente o queijo, são particularmente ricos em cálcio. São captados
cerca de 3mmol de Ca2+ por dia pelo osso, sendo que o mesmo liberta 1mmol/dia.
Quanto à excreção de cálcio são expulsos por dia cerca de 2mmol de Ca2+ pela urina e
cerca de 18mmol pelas fezes.
135
sangue. O calcitriol aumenta a reabsorção de cálcio nos intestinos e nos rins por indução
de transportadores. A hormona paratiroideia assegura que estes processos ocorram ao
estimular a biossíntese de calcitriol nos rins e a libertação de cálcio do osso. A
antagonista da PTH, a calcitonina (32AA), contraria estes processos.
O cálcio entra nas células, através da membrana plasmática, por dois processos
diferentes: por canais sensíveis à voltagem que respondem à despolarização e por
recetores ionotrópicos, como é o exemplo do receptor do glutamato. Já dentro da
célula, podemos encontrar cálcio armazenado no retículo endoplasmático liso e nas
mitocôndrias.
Em condições normais, a mitocôndria capta cálcio por uniporte. A entrada do
cálcio deve-se ao potencial eletronegativo da mitocôndria, que se gera através da saída
de protões. Assim, quanto maior for a eletronegatividade da mitocôndria, maior é a
entrada de cálcio para dentro desta.
A expulsão do cálcio da mitocôndria dá-se através de trocadores Na+/Ca2+
(transportadores reversíveis que realizam antiporte) em situações normais. No caso de
136
uma situação patológica, esta expulsão ocorre através da abertura de poros, o que leva
a ocorrência da morte celular.
O armazenamento de cálcio no REL permite manter uma baixa concentração de
cálcio citoplasmático. Esta função é particularmente exercida no retículo
sarcoplasmático, que é uma forma especializada do REL presente nas células
musculares.
Para que o cálcio possa ser utilizado pela célula como substância sinalizadora, é
necessário que saia do retículo endoplasmático. Esta saída pode ser feita através de
recetores de rianodina (RYRs) que funcionam como canais de cálcio intracelulares, ou
então provocada por recetores acoplados a proteínas G, que ativam a fosfolipase C. Esta
enzima é responsável pela formação de dois segundos mensageiros a partir de
fosfolípidos da membrana, o IP3 (inositol 3-fosfato) e o DAG (diacilglicerol). O IP3 migra
para o RE, onde vai provocar a abertura de canais de Ca2+, permitindo a passagem deste
ião para o citoplasma. O DAG, por outro lado, permanece na membrana celular, onde
ativa proteínas cinases C, que vão por sua vez fosforilar outras proteínas na presença de
Ca2+, permitindo assim a transmissão do sinal.
A concentração de cálcio no meio intracelular é sempre inferior ao meio
extracelular e deve ser muito bem regulada, uma vez que altas concentrações de Ca 2+
têm efeitos citotóxicos sobre as células. Isto porque o Ca2+ ativa inúmeras enzimas e,
portanto, quando em excesso, pode levar à sobreativação das mesmas, como por
exemplo das calpaínas, uma família de enzimas que ativa caspases que provocam a
ruptura dos lisossomas. Esta sobreativação de enzimas pode ainda conduzir a uma
produção elevada de radicais livres e degradação celular. A concentração de Ca2+
citoplasmático tem de ser então mantida através de trocadores Na+/Ca2+, que
transportam o Na+ e o Ca2+ para dentro e para fora da célula, respetivamente, e de
bombas dependentes de ATP, as cálcio ATPases, responsáveis pela exocitose de Ca2+ por
transporte ativo.
Morte Celular:
A morte celular pode ser causada pelo aumento da [Ca2+].
137
A célula está muitas vezes exposta a condições que podem levar à lesão celular.
Essa lesão pode ser reversível até certo ponto, depois do qual a célula morre. A morte
celular pode seguir a via da necrose ou da apoptose, sendo a primeira sempre
patológica, enquanto que a segunda pode ocorrer também durante processos
fisiológicos normais do organismo.
O cálcio activa muitas enzimas que levam não só à degradação celular (como as
endonucleases e as proteases) como também ao aumento da produção de espécies
reativas de oxigénio (radicais livres, como o O2, H2O2, OH), conduzindo à proteólise e
dano do DNA.
-Apoptose;
Morte
-Necrose;
Celular
-Autofagia.
138
Apoptose:
A apoptose pode ser desencadeada por uma série de sinais diferentes que
utilizam várias vias de transmissão. No centro do processo de apoptose encontra-se um
139
grupo de proteases aspartato contendo cisteína, conhecidas como caspases. Estas
ativam-se umas às outras, criando uma cascata enzimática semelhante à cascata da
coagulação sanguínea. As últimas a serem ativadas serão então as caspases efetoras,
que decompõem componentes celulares ou ativam DNases específicas que fragmentam
o DNA nuclear.
140
seus ligandos Fas ao recetor Fas da célula-alvo, que se encontra associado a uma
proteína mediadora, a FADD, responsável pela ativação da caspase-8. O sistema TNF
baseia-se na ligação do fator TNF-α (tumor necrosis factor-α) ao recetor TNF na
membrana da célula-alvo, que se encontra associado à proteína mediadora TRADD,
responsável pela ativação da caspase-8. A Caspase-8, uma vez ativa, pode ativar direta
ou indiretamente as caspases efetoras (3 e 7). A via indireta tem início com a clivagem
da proteína Bid, o que tem como produto a proteína tBID, necessária para a ativação
das proteínas BAK e BAX, resultando no processo descrito anteriormente.
141
Necrose:
- Intumescência celular;
- Intumescência e lesão dos organelos;
- Depleção de ATP celular;
- Perda de homeostase iónica;
- Ruptura membranar;
- Lise nuclear;
- Inibição da síntese proteica;
- Processo irreversível (não é preciso reverte-lo, ao contrário da apoptose);
- Promove morte de células vizinhas.
Pode-se definir necrose como as alterações morfológicas que acontecem após a morte
celular de um tecido vivo, devido à acção progressiva de enzimas nas células que
sofreram uma lesão letal. A necrose é o correspondente macroscópico e histológico da
morte celular causada por uma lesão exógena irreversível. Assim que a célula morre, ela
ainda não é necrótica, pois esse é um processo progressivo de degeneração. As células
necróticas não conseguem manter a integridade da membrana plasmática,
extravasando o seu conteúdo e podendo causar inflamação no tecido adjacente.
Autofagia:
Autofagolisossoma
MORTE CELULAR
142
O cálcio pode ser importante, como sinalizador celular, para a activação do processo
autofágico.
Conclusões:
A homeostasia intracelular do cálcio deve ser mantida de modo a evitar a
indução da morte celular.
A indução da morte celular por apoptose ou necrose depende da variação da
concentração iónica (ex. cálcio) e dos níveis intracelulares de ATP.
A necrose implica a perda de integridade membranar e a diminuição dos níveis
de ATP; a morte celular por apoptose pode conduzir à necrose.
A autofagia permite a eliminação de organelos lesados, proteínas com
conformação alterada e agregados proteicos; se este processo falhar ocorre
morte celular.
A manutenção da homeostasia iónica e metabólica permite manter a
sobrevivência celular.
143
144
O ADIPÓCITO (V1)
AULA TEÓRICA 23
CATARINA SILVA (COM APONTAMENTOS DE DANIELA HENRIQUES E DA BÁRBARA MARQUES)
Tecido adiposo:
Os adipócitos são a unidade estrutural do tecido adiposo. Existe dois tipos de tecido
adiposo: tecido adiposo branco e castanho. Cada um é constituído por diferentes tipos de
células. Enquanto que o tecido adiposo branco contém as “adipokines”: resistina, adiponectina,
leptina e apelina, o tecido adiposo castanho contém células responsáveis pela produção de
calor.
O tecido adiposo está presente:
debaixo da pele;
cavidade abdominal;
músculo esquelético;
vasos sanguíneos ;
glândulas mamárias.
Adipócito:
Os adipócitos são células gordas do tecido conjuntivo que se diferenciaram e se
especializaram (adipogénese) na síntese e no armazenamento de lípidos (TG e Colesterol).
Função do adipócito:
manter o equilíbrio energético adequado do organismo (homeostasia);
através do armazenamento de lípidos, estão a armazenar compostos que podem
ser recrutados e utilizados como Acetil-CoA, para obtenção de energia. Os
triglicerídeos constituem metade da energia oxidativa do fígado, rim, músculo
cardíaco e músculo esquelético em repouso.
armazenar energia, sob a forma de lípidos;
mobilizar fontes de energia em resposta ao estímulo hormonal;
secretar moléculas sinalizadoras como hormonas:
leptina:
atua no hipotálamo
inibe o apetite
145
inibe a via NPY (neuropeptídeo Y: potente estimulante do apetite
secretado por células no intestino e hipotálamo)
estimula a via MSH (melanocyte stimulating hormone: supressor
do apetite)
adiponectina:
actua no pâncreas
regula os níveis de glucose e a degradação de ácidos gordos
resistina (relacionada com obesidade e diabetes tio II)
1
Lipodistrofia: anormal distribuição de gordura corporal. Os doentes tendem a desenvolver
resistência à insulina, diabetes e altos níveis de triglicerídeos.
146
vi. Aqui, os adipócitos irão adicionar os AG ao glicerol-3-P para formar
triglicerídeos.
vii. Os adipócitos não possuem glicerol cinase, não conseguem transformar
gicerol em glicerol-3-P. Têm de recorrer à degradação de glicose em
Glicose-3-P. Desta forma os adipócitos necessitam de ter glicose para
ser oxidada de forma a obter glicerol -3-P.
b. Jejum
i. Células α pancreáticas libertam glucagina.
ii. Glucagina vai atuar nos adipócitos, ativando a lipoproteína lípase (LPL).
iii. LPL irá degradar os triglicerídeos em Glicerol e ácidos gordos.
iv. O glicerol não pode ser reaproveitado pelos adipócitos, que não têm
glicerol cinase, sendo então libertados no sangue e transportados até
ao fígado. Neste, por ação da glicerol cinase, é convertido a glicerol 3-
fosfato e transformado em dihidroxiacetona fosfato (intermediário da
glicose ou da gliconeogénese).
v. Os ácidos gordos são transportados pelo sangue, ligados à albumina,
para diferentes tecidos/ órgãos. Aqui sofrem β-oxidação, sendo
convertidos a acetil-CoA, que pode incorporar o TCA e produzir energia.
vi. Os ácidos gordos não são utilizados para obtenção de energia na célula
nervosa (a concentração destes é muito variável, o que poderia
comprometer a funcionalidade de cérebro), nos eritrócitos (por não
possuem mitocôndria, não podem produzir energia através de acetil-
CoA-TCA) e na medula supra renal.
Célula Secretora
TNF-α – aumenta a resistência à insulina
Leptina – diminui o apetite, por inibição do NPY (existente nos neurónios
orexigénicos-estimuladores do apetite), activam o POMC (pro-
opiomelancortina, presente no neurónios anorexigénicos- diminuidores do
apetite)
Resistina – aumenta a resistência à insulina
Adiponectina – diminui a resistência à insulina
PAI-1 – aumenta a resistência à insulina
IL-6 (interleucina-6) – aumenta a resistência à insulina
ApoE – interveniente na ligação dos quilomicrons, VLDL e HDL
No cérebro
Pâncreas
Fígado
Músculo
147
3. Interpretar o papel do adipócito na resistência à insulina,
diabetes obesidade e síndrome metabólica.
•fatores genéticos (ex.: disfunção nos recetores para a insulina ou mutações no gene
codificante da leptina)
•fatores ambientais;
•estilo de vida sedentário,;
•aumento de ingestão de alimentos
2
Agonista: substância química que interage com o receptor membranar ativando-o e desencadeando
uma resposta que pode ser de aumento oou diminuição da actividade das células às quais os receptores
estão associados.
148
Síndrome Metabólico;
Envelhecimento.
Hipertensão
Doença coronária
Diabetes
A obesidade encontra-se
associada ao aumento de probabilidade
de desenvolver diabetes tipo 2.
Em indivíduos obesos, o tecido
adipose liberta quantidades elevadas de
ácidos gordos não esterificados, glicerol,
hormonas, e citocinas pré-inflamatórias
que provocam a resistência à insulina.
Quando esta é acompanhada por uma
disfunção das células β pancreáticas
ocorre uma desregulação no controlo dos níveis de glucose. Anormalidades nas células β
149
pancreáticas são por isso potenciadoras do desenvolvimento de diabetes tipo II uma vez que
não há produção de insulina para promover a captação de glucose.
Desta forma, num indivíduo normal que tenha obesidade/ resistência à insulina, o
organismo irá aumentar o funcionamento das células β pancreáticas de forma a normalizar a
concentração de glucose. O indivíduo normal irá apresentar hiperinsulinémia compensatória.
Quando ocorre uma disfunção nas β células ou fatores de crescimento, ocorrerá uma
intolerância à glicose com aparecimento de diabetes tipo II.
Anorexia:
•Fatores genéticos
•fatores psicossociais
•fatores socioculturais
•levam a uma perceção errada da imagem corporal .
•Cachexia:
•grande persa de peso
•atrofia muscular
•fadiga
•perda de apetire
•Nesta situação o retorno apenas por ingestão correcta de
nutrientes já é difícil .
•Regulação anormal do sistema nervoso autónomo e das
hormonas:
•aumento do cortisol
•diminuição da gonadotroppina,
•hipotermia
•bradicardia
•queda de cabelo
150
Lipodistrofia
Distúrbio na forma como o organismo produz, usa e armazena a gordura.
Há dois tipos diferentes de lipodistrofia:
o Lipoatrofia – perda de gordura em zonas particulares do corpo (ex. braços,
pernas, face
Ex.: rosto profundo, pernas finas, veias a mostra, nádegas flácidas, barrigas
protuberantes; mas excesso de gordura por exemplo nas costas.
o Hiperadiposidade – associada à acumulação de gordura em determinadas
zonas do corpo
Ex. barriga, mamas, e parte de trás do pescoço
151
Esquemas de revisões:
Síntese de AG
152
Síntese de TG
153
154
O ADIPÓCITO (V2)
AULA TEÓRICA 23
TÂNIA CARVALHO
Tecido Adiposo
O tecido adiposo está presente maioritariamente debaixo da pele, na cavidade
abdominal, no músculo esquelético, vasos sanguíneos e nas glândulas mamárias.
Constituído pelos adipócitos, que são células gordas do tecido conjuntivo que se
diferenciaram e se especializaram (adipogénese) na síntese e no armazenamento de
lípidos (TG e Colesterol).
São importantes para a manutenção da homeostasia metabólica, por
manutenção do equilíbrio energético (reservas de gordura), pois ao armazenarem
lípidos, estão a armazenar compostos que podem ser recrutados e utilizados como
Acetil-CoA. Os triglicerídeos constituem metade da energia oxidativa do fígado, rim,
músculo cardíaco e músculo esquelético em repouso. É capaz de mobilizar fontes de
energia em resposta a estímulos hormonais e tem ainda uma função secretora de
hormonas (p.e. leptina, adiponectina e resistina).
Ao microscópio, o adipócito surge cheio de
triglicerídeos (t). O núcleo (n) está deslocado para a
periferia da célula quase encostado à membrana
celular. O citoplasma (c) surge como uma banda fina
que rodeia o depósito de gordura.
É célula chave no aparecimento de diversas doenças,
como diabetes, obesidade e lipodistrofia, síndrome
metabólica, entre outros.
155
Nota: A célula nervosa, o eritrócito e a medula supra-renal não utilizam os ácidos gordos
livres como potencial fonte energética.
Célula Secretora
• TNF-α – aumenta a resistência à insulina (os mecanismos ainda não estão bem
definidos mas pensa-se estar envolvido nos processos de resistência à insulina)
• Leptina – diminui o apetite, por inibição do NPY (neuropeptídeo que estimula
o apetite) e estimulando a síntese da hormona α-MSH (melanocyte stimulating hormone
- inibidora do apetite). É antagonista da grelina, produzida no estômago, que induz o
apetite.
• Resistina – aumenta a resistência à insulina.
• Adiponectina – diminui a resistência à insulina (inibe os processos que levam à
resistência da insulina, a sua concentração é inversamente proporcional à quantidade de
gordura).
- Estimula
Neoglicogénese e entrada da glucose nas células;
Β-oxidação dos ácidos gordos, clearance dos triglicerídeos
(capacidade de os retirar da corrente sanguínea);
Sensibilidade à insulina;
Perda de peso;
Protecção contra a disfunção endotelial;
Etc.
156
• PAI-1 – aumenta a resistência à
insulina
• Citosinas, adipsina, visfatina, entre
outros.
157
Dessensibilização dos receptores β-adrenérgicos
Adipogénese
158
os agonistas de PPARγ podem regular o balanço entre adipogénese e morte de
adipócitos e, portanto, a obesidade. Por isso, quando o nº de ácidos gordos aumenta, o
nº de adipócitos também aumenta.
Anorexia
Factores genéticos, mas essencialmente, por factores neuroquímicos e
socioculturais, vão causar uma imagem corporal distorcida, que tem como consequência
alterações patológicas na ingestão de alimentos.
Para além das alterações da dieta, vão ainda induzir o vómito, tomar muitos
laxantes, que impeçam a absorção a nível intestinal, e realizar um exercício físico intenso
que culminam todos juntos numa excessiva perda de peso. Isso vai levar a uma
malnutrição extrema, sendo que o seu retorno já seja muito difícil por apenas ingestão
correcta de nutrientes (cachexia).
Esta situação vai ter como consequência uma anormal regulação do sistema nervoso
autónomo e da libertação de hormonas. Desencadeando aumento da produção de
cortisol, diminuição da gonadotropina, hipotermia, bradicardia e queda de cabelo.
(Consultar Seminário 13)
Lipodistrofia
Distúrbio na forma como o organismo produz, usa e armazena a gordura. Há dois
tipos diferentes de lipodistrofia:
159
Caracterizada por:
Redução do tecido adiposo desde o nascimento (As células adiposas são escassas
e apresentam volume reduzido devido à sua incapacidade de armazenamento de
lípidos);
Resistência a insulina severa (devido a defeitos nos mecanismos pós-receptores
de acção da insulina presentes nos adipócitos, hepatócitos e células
musculares);
Hipertrigliceridémia (devido à resistência à insulina);
Esteatose hepática (“fígado gordo” devido à presença de vacúolos de gordura nos
adipócitos);
Diabetes precoce (carência de sinalização do adipócito para as células B);
→ Prevalência: <1:12 milhões de indivíduos.
160
A CÉLULA MUSCULAR – IMPORTÂNCIA DA FOSFOCREATINA
Aula Teórica 24
PEREIRA | CAPELAS
O tecido muscular começa a formar-se a partir da quarta semana de gestação, onde os mioblastos se
fundem e geram fibras musculares esqueléticas. A partir da embriogénese, provêm o tecido muscular estriado
esquelético e cardíaco, e o tecido muscular liso. O tecido muscular corresponde a 30% da massa total do corpo,
e possibilita a conversão de energia química em energia cinética e mecânica, denominando-se este processo de
transdução bioquímica.
Os três tipos de tecido muscular têm características diferentes:
Tecido muscular estriado cardíaco – é uninucleado e encontra-se apenas no coração, controlado
involuntariamente pelo sistema nervoso autónomo.
Tecido muscular liso – é involuntário e uninucleado. É o tipo de músculo mais difusamente distribuído
pelo organismo, sendo que se encontra nas paredes dos órgãos ocos, e vasos sanguíneos, etc.
Tecido muscular estriado esquelético – é multinucleado e depende grandemente do controlo
voluntário ou consciente pelo sistema nervoso.
O tecido muscular esquelético é composto por fibras
musculares esqueléticas, em que cada uma é uma célula
muscular com vários núcleos à periferia, encontrando-
se envolvida pelo sarcolema. Internamente na célula
encontram-se as miofibrilhas, e entre elas encontram-se
o sarcoplasma (liquido que banha as células), as
mitocôndrias e grânulos de glicogénio. As miofibrilhas
organizam-se em unidades contracteis, os sarcómeros, que estão entre linhas z, e envolvidos pelo sarcolema.
O sarcómero consiste em unidades repetitivas de filamentos de miosina e actina-F e contêm também troponina.
161
Sarcómero
O sarcómero é a unidade funcional da contracção muscular. O sarcómero é constituído por filamentos finos
(actina troponina e tropomiosina) e grossos (miosina). Nele podem identificam-se várias bandas:
Banda A – contém actina e miosina
Banda I – contém apenas actina
Linha Z – é o que separa dois sarcómeros
Quando há contracção muscular o sarcómero vai “encolher” reduzindo o seu tamanho em cerca de 1%.
O que acontece é que a cabeça da miosina liga-se à actina que está nos filamentos finos e quando a cabeça da
miosina se move, arrasta os filamentos finos e faz “encolher o sarcómero.
162
A maquinaria necessária á contração muscular é:
O sarcómero – unidade contráctil
O retículo sarcoplásmico e o sistema tubular transverso são o aporte de cálcio ao músculo através
de 3 proteínas importantes:
O canal de cálcio sensível à voltagem – abre quando há um aumento do
potencial de acção
Bomba de cálcio - SERCA
Canal de cálcio da riemidina
O sistema membrana-citoesqueleto pela ligação contrátil à membrana plasmática, que permite ao
músculo contrair como um todo. Isto é conseguido através de através de 3 proteínas importantes:
Distrofina – que se encontra associada a glicoproteínas
Espectrina
Integrina – que faz a ligação á matriz celular
Gânglios da base
córtex motor
iniciação da contração muscular através da libertação de cálcio do retículo sarcoplásmico após o potencial de
acção
163
o relaxamento muscular (para quebrar as pontes).Esta é a razão do rigor mortis porque deixa de existir ATP e
contracção mantém-se.
164
.
Quando existe muita Glicose 6P e muito ATP presente estes produtos vão inibir a glicogénio fosforilase
que deixa assim de degradar o glicogénio.
É de referir, também, que a própria calmodulina e o próprio AMP são capazes por si só de activar a
fosforilase cinase que vai depois activar a glicogénio fosforilase (são moléculas activadoras da glicogenólise
bem como da glicólise). O próprio iao Ca2+ tem a capacidade de activar glicogenólise, a glicólise e a fosforilação
oxidativa.
Glicose (sanguínea) e ácidos gordos – após os 10 minutos de exercício moderado começam a ser utilizados
fontes de energia sanguíneas como glicose e ácidos gordos, sendo que dos 30 minutos em diante a utilização de
ácidos gordos é predominante.
Para além do tipo de exercício, o estado das reservas energéticas do organismo também influencia na
escolha da fonte de energia a utilizar.
165
Para o músculo-esquelético, quando há glicose abundante no sangue a via preferencial é a via glicolítica
recorrendo ao glicogénio e a glicose sanguínea. Num estado em que há baixos níveis de glicose sanguínea, vão
ser usado preferencialmente os ácidos gordos sendo que num estado de fome (jejum prolongado) podem ser
usados os corpos cetónicos. Neste ultimo estado, pode haver ainda proteólise e libertação de aminoácidos que
servirão para formar glicose pela neoglicogénese (recordar ciclo da alanina).
No músculo cardíaco, a situação e ligeiramente diferente porque este musculo como precisa de estar
continuamente em actividade não utiliza glicose no estado basal mas sim ácidos gordos, pelo que, só em casos
de fome é que este tipo de músculo pode utilizar corpos cetónicos como alternativa. Aqui nunca poderá ocorrer
proteólise porque isso implicaria diminuição da massa muscular que neste caso levaria a morte.
Nota: esta divisão e respectivas características não são as mais correctas, mas como foi dado assim na aula decidimos
manter. Se alguém quiser saber mais pode consultar human physiology: the mechanism of body function, 8th edition.
166
Alterações patológicas do Músculo
Necrose muscular
Nestes caos há um aumento dos níveis plasmáticos de creatina e CK (porque há ruptura das células e estes
produtos extravasam para o plasma.
Miopatias
Miogénicas – a lesão está nas fibras musculares
Neurogénicas – a lesão está no neurónio motor
Doenças da Junção Neuromuscular
Doenças que levam a uma paralisia progressiva e que quando atingem os músculos do sistema respiratório são
fatais.
Esclerose Lateral amiotrófica (ELA ou em inglês ALS)
Atrofia Muscular Bulbar Espinal (Spinal Bulbar muscle atrophy – SBMA) – doença de Kennedy
Autoimune
Tóxicas
Miotonias
Há alteração do fluxo iónico que afecta o ciclo de despolarização e repolarização. Levam a paralisias.
Distrofia Muscular
Há uma alteração na proteína distrofina que leva a uma degeneração das fibras musculares. É uma doença
progressiva que se torna fatal quando atinge os músculos respiratórios ou cardíaco.
A distrofia mais frequente é a de Duchenne que é uma doença recessiva ligada ao X. Leva a uma hipertrofia
muscular dos tricípite sural e conduz a lordoses (aumento da curvatura da coluna lombar).
Perguntas:
A) A energia para a contracção muscular pode ser obtida rapidamente a partir da Creatina-P. – V
B) Por acção de um potencial de acção o reticulo sarcoplasmático liberta Na+. Falso, liberta Ca2+
C) A adrenalina é o neurotransmissor da junção muscular. Falso, é a acetilcolina. Embora também possa haver
activação pela epinefrina (em situação de stress) a acetilcolina é o principal.
D) A miosina tem função de ATPase. V
E) A ligação de Ca2+ à miosina permite a exposição dos locais de ligação da actina à troponina. Falso, a
ligação do Ca2+ à troponina é que permite a exposição dos locais de ligação da actina à miosina.
167
168
SISTEMA NERVOSO E INTERACÇÃO NERÓNIO-GLIA
AULA TEÓRICA 25
CAT-PAULII
169
Graças às células de Schawn, que contêm mielina
(isolador da passagem à corrente elétrica), a
despolarização do axónio acontece apenas nos Nódulos
de Ranvier. Diz-se portanto, que a passagem do impulso
nervoso é de forma saltatória. Este facto vai aumentar em
larga escala a rapidez de transmissão do impulso nervoso,
permitindo uma reação rápida ao estímulo.
Função elétrica: Esta permite o fluxo elétrico em cada neurónio, permitindo a propagação do
impulso nervoso e a transmissão da informação em cada neurónio.
Algumas toxinas, venenos ou até mesmo medicamentos têm como alvo os canais de Na+
sensíveis à voltagem. Assim, como não há entrada de Na+ para dentro da célula, o impulso
nervoso não é passado uma vez que não ocorre a despolarização da célula.
170
Interação neurónio-glia
Nas células da glia acontece que: o glutamato é convertido em glutamina pela glutamina
sintetase, o que permite incorporar amónia livre, daí esta conversão ajudar na proteção contra
a toxicidade da amónia.
Glutamina
Glutamato Glutamina
sintetase
Astrócitos Neurónios
Fonte de energia Glucose Glucose
Glicogénio Lactato
Alanina (estes últimos 2 provém do
piruvato em excesso dos astrócitos)
Metabolismo Anaeróbio Aeróbio
Vias de obtenção de energia Glicólise Glicólise, mas sobre tudo ciclo de
Krebs e fosforalição oxidativa
Reservas de Glicogénio Muita da glucose é armazenada sob a Toda a glucose é consumida e nã há
forma de glicogénio formação de glicogénio
Isoforma dos GLUT’s GLUT1 GLUT3
Enzimas específicas citosólicas Glutamina sintetase Colina acetiltransferase
Enzima málica Glutamato descarboxilase
LDH5 – transforma preferencialmente Neuronal enolase
piruvato a lactato LDH1– transforma preferencialmente
lactato em piruvato. Esse piruvato é
depois conduzido para o ciclo TCA
Enzimas específicas mitocondriais Piruvato carboxilase Glutaminase activada por fosfato
Neuroesteróide sintetase (muita)
Glutaminase activada por fosfato Enzima málica mitocondrial
(pouco) Creatina cinase de ubiquitina
mitocondrial
171
Como esta barreira é lipofílica, formada por membranas biológicas, permite a passagem de
moléculas também lipofílicas, enquanto as moléculas hidrofílicas apenas atravessam por
mecanismos de alta seletividade
Jejum: apesar da hipoglicémia, ocorre transporte de glucose pela BHE, pois o cérebro
não é sensível à glucagina
Se ↓↓ [glucose]plasma o cérebro pode utilizar reservas glicogénio, contidas nos
astrócitos
Se persiste ↓↓ [glucose]plasma o cérebro utiliza corpos cetónicos (β-Ho-butirato e
acetoacetato)
Utilização de corpos cetónicos pelo cérebro ocorre em:
o Jejum prolongado
o Dieta rica em gorduras ou corpos cetónicos (cetogénica – método de
tratamento de doenças como epilepsia ou défices de GLUT’s)
o Diabetes mellitus
172
A CÉLULA ÓSSEA
AULA TEÓRICA 26
AS BITCHES – CRAZY | DUMB | SCIENCE
Objectivos:
1. Analisar as características da célula óssea e o metabolismo do cálcio
e do fósforo.
2. Descrever os mecanismos de regulação do metabolismo do cálcio e
do fósforo na célula óssea.
3. Interpretar alterações do metabolismo do cálcio e do fósforo e
implicações clínicas.
O tecido ósseo
O nosso organismo é constituído por 4 tipos de tecidos primários: muscular,
nervoso, epitelial e conectivo (que inclui conectivo, cartilagem, sangue e osso).
O tecido ósseo pode ser considerado como tecido conectivo de suporte
altamente especializado. Este é constituído por:
Matriz orgânica/não mineral – formada maioritariamente por colagénio
tipo I (90-95%), mas contendo também outros componentes como a osteocalcina,
a osteopontina e a trombospondina, por exemplo.
Sais minerais inorgânicos – agregados de cálcio e fosfato, depositados na
matriz, que quando mineralizados formam cristais de hidroxiapatite
(Ca10[PO4]6[OH]2).
Osteoclastos – células provenientes de células estaminais
hematopoiéticas, responsáveis pela reabsorção óssea (dissolução dos cristais de
hidroxiapatite) e, consequentemente, pela reposição dos níveis sanguíneos de
cálcio e fosfato.
Osteoblastos – células derivadas de células estaminais mesenquimatosas,
responsáveis pela formação do tecido ósseo (células de suporte). As suas funções
passam pela deposição de uma matriz orgânica (de colagénio tipo I
principalmente), seguida de um processo de mineralização do cálcio e fosfato para
formação de cristais de hidroxiapatite.
173
Composição do Osso
Células estaminais
mesenquimatosas
RUNX2 - Condrócitos
OSTERIX - Adipócitos
Pré-Osteoblastos - Miócitos
RUNX2
DLX5
MSX1
RANKL
OSTEOBLASTOS
RANK
Células estaminais
Pré-Osteoclastos OSTEOCLASTOS
hematopoiéticas
174
formação do osso. Por outro lado, a diferenciação das células hematopoiéticas
origina pré-osteoclastos e, de seguida, osteoclastos maduros, que são as células
responsáveis pela reabsorção óssea.
É de salientar que os pré-osteoblastos produzem também um composto
denominado RANKL que, ao interagir com os pré-osteoclastos (através dos seus
receptores membranares RANK), irá estimular a diferenciação destes em
osteoclastos.
Assim, é de notar uma íntima interacção entre os processos de formação de
osteoblastos e osteoclastos – é através da actividade relativa destes dois tipos de
células que resulta a formação do tecido ósseo e a manutenção dos níveis de cálcio
no organismo.
Durante o crescimento: formação > reabsorção Daí que seja essencial
maior actividade dos osteoblastos ingerir maiores
quantidades de cálcio
Idade mais avançada: formação < reabsorção em idades mais jovens
maior actividade dos osteoclastos (para uma eficaz
formação óssea)
Ciclo de Remodelação do Osso
Recrutamento
Fase de repouso Ciclo de dos
osteoblastos
Remodelação
175
Existe, assim, uma manutenção do balanço entre a formação e a destruição do
osso. Nos indivíduos jovens, este ciclo tem uma duração aproximada de 120 dias,
sendo que as fases de reabsorção e neoformação são equiparáveis. Com o decorrer
da idade, os ciclos vão-se tornando mais longos, e o tempo destinado à reabsorção
do osso torna-se superior ao tempo destinado à sua formação – por esta razão,
com o avançar da idade, a densidade do tecido ósseo tende a diminuir e a sua
fragilidade tende a aumentar. Este facto pode levar a uma maior susceptibilidade
para algumas doenças como, por exemplo, a osteoporose.
176
Regulação hormonal do metabolismo do cálcio e do fósforo na célula óssea
Quando os níveis de Ca2+ sérico aumentam: a tiróide é estimulada a
produzir calcitonina, nas suas
células C. É inibida a produção de
PTH (hormona da paratiróide). A
calcitonina inibe a actividade dos
osteoclastos e por outro lado os
estrogénios, hormona de
crescimento, TGF-β, IGF-1 e
Tiroxina aumentam a actividade
osteoblástica, sintetizando matriz
óssea e depositando cálcio no osso,
reduzindo a calcémia. É também
aumentada a excreção renal de
cálcio; diminuída a absorção
intestinal.
Quando os níveis de Ca2+ sérico diminuem: as glândulas paratiroideias
secretam PTH (hormona da Paratiróide), que aumenta a produção de calcitriol
(vit. D3) no rim (aumentando a absorção intestinal de Ca2+); a PTH aumenta a
reabsorção renal de cálcio e a excreção de fosfato; estimula a actividade
osteoclástica, destruindo cristais de hidroxiapatite para libertar o cálcio para o
sangue, aumentando a calcémia.
Osteoblastos Osteoclastos
Estimulantes Estrogénios e PTH, que por sua vez
Androgénios, GH, TGF-β, estimula a produção de
IGF-1, Tiroxina vitamina D3
Inibidores Corticosteróides Estrogénio, Calcitonina,
TGF-β
*NOTA 1: A diminuição da excreção renal de cálcio é acompanhada por aumento
da excreção de fosfato, impedindo assim a precipitação como cristais de
hidroxiapatite, mantendo o cálcio em circulação no sangue.
177
*2: O aumento da calcémia devido à PTH é feito sobretudo à custa da reabsorção
óssea. A PTH sinaliza as células com receptores acoplados a proteínas G, activando
a adenilatociclase, que produz AMPc.
*3: A PTH está armazenada nas glândulas paratiroideias; a sua secreção é
condicionada pela concentração de Cálcio e de Magnésio no plasma, mas não pela
concentração de fosfato.
A vitamina D
178
A síntese de calcitriol é regulada por retroacção. A hipocalcémia estimula a
produção de PTH, que estimula a síntese de calcitriol porque estimula a 1α-
hidroxilase renal. A hipofosfatémia também tem esta acção, mas não tão acentuada
como a hipocalcémia.
Implicações clínicas
↑ PTH Implicações a nível cardíaco –
179
Causas Factores de Risco Tratamento
Doença; Sexo feminino; Exercício regular;
Deficiências na Raça caucasiana ou Suplementos de
dieta; asiática; vitaminas e
Deficiência Hábitos tabágicos e minerais
hormonal; alcoólicos;
Idade avançada. Exercício físico
excessivo;
Inatividade excessiva;
Dieta pobre em cálcio;
Anorexia;
Consumo excessivo de
cafeína.
Implicações clínicas
180
Alterações do metabolismo do Fosfato (fósforo)
Excesso de Fosfato – causado por excesso de degradação do osso; por aumento
de vitamina D3, também implicada na absorção do fósforo; por retenção renal.
Défice de Fosfato – causado por défice alimentar, défice de vitamina D3,
excreção renal.
Implicações clínicas
↑ reabsorção
tubular e
intestinal de Urolitíase (formação de
fosfato
perda de
↑ retenção cálculos renais);
fosfato por
renal de
parte das
fosfato Nefropatia (aumento da
células
retenção renal);
Artrite.
hiperfosfatémia
Implicações clínicas
↓ retenção
Osteomalacia,
↑ PTH renal de
Ca2+
enfraquecimento e
desmineralização dos
↓ absorção
carência ossos do adulto devido a
intestinal
de vit D3
de Ca2+
deficiência de vitamina D;
181
182
O Cancro I
Aula Teórica 27
Joana Pinto | Susana Oliveira
O que é o cancro?
O cancro é uma patologia caracterizada por uma acumulação anormal de células. Em indivíduos
saudáveis, as células crescem, morrem e são substituídas num conjunto de processos muito controlado. Erros
no material genético consequentes de factores ambientais ou internos por vezes resultam em células que não
morrem e que se continuam a replicar, originando um agregado (massa) de células e, consequentemente, um
tumor. Este acumular de células pode ser devido a:
- Desregulação da proliferação Aumento descontrolado da divisão celular;
- Desregulação da diferenciação Um bloqueio na diferenciação (de células estaminais, por
exemplo) leva ao aparecimento de células indiferenciadas e que têm maior capacidade proliferativa;
- Desregulação da morte de células por apoptose Resistência à apoptose.
Os cancros causados por um aumento descontrolado do número de células são muito agressivos e,
apesar da propagação rápida, respondem melhor à terapêutica convencional do que as que têm por base a
resistência à apoptose. Estes últimos apesar de terem um crescimento e progressão mais lenta, como são
resistentes à morte programada, respondem pior à terapêutica.
O cancro é uma neoplasia cada vez mais frequente, essencialmente devido aos hábitos de vida da
população: para além de uma dieta pouco saudável, também a exposição a agentes carcinogénicos (poluição,
tabaco, etc.) é cada vez maior. Neoplasias como o cancro do cólon que antes tinham uma incidência mais
tardia, começam a surgir em idades mais jovens. Actualmente, depois das doenças cardiovasculares, o cancro
representa a primeira causa de morte. No homem a forma de cancro mais comum é o cancro da próstata e na
mulher o cancro da mama; no entanto, há mais mortes consequentes do cancro do pulmão.
183
atingir um vaso sanguíneo e poder migrar para órgãos à distância. Há órgãos preferenciais como a medula
óssea (principalmente), fígado, pulmão, etc.
Limite de HayFlick
- Uma célula normalmente encontra-se em G0, mas por acção de factores de crescimento, pode entra
no ciclo celular e iniciar divisão. Normalmente, há uma barreira à proliferação das células (barreira de
imortalização), chamada Limite de HayFlick. Este limite existe porque os telómeros, sequências nucleotídicas
terminais dos cromossomas, vão sendo sucessivamente reduzidas em cada divisão. Ao chegar ao limiar de
encurtamento é desencadeada a apoptose.
Além disto, a presença de genes supressores tumorais no nosso genoma também contribui para este
limite. Isto porque quando há uma alteração no DNA numa célula, não há interesse que essa célula prolifere,
existindo mecanismos impeditivos desta proliferação. Alguns destes genes supressores tumorais produzem
proteínas importantes no controlo do ciclo celular ao activar mecanismo de apoptose.
-Numa célula tumoral não existe este limite: há uma capacidade ilimitada da proliferação. Isto acontece
porque a célula neoplásica tem telomerases, enzimas responsáveis pela “reposição” de telómeros depois de
cada divisão, evitando assim, a sua diminuição. Desta forma, nunca é atingido o limiar de encurtamento que
desencadeia a apoptose. É de notar que estas enzimas são quase inexistentes numa célula normal. Também
numa célula neoplásica há perda de controlo do ciclo celular por diminuição da expressão do pRb e p53 (genes
supressores tumorais – por hipermetilação local destes genes). Este último é considerado o guardião do
184
genoma por bloquear o ciclo celular quando o DNA está lesado (função pró-apoptótica e codifica enzimas de
regeneração do DNA). Em mais de 50% dos casos de cancro há inactivação do p53.
De notar que o aparecimento das neoplasias não depende exclusivamente da célula tumoral, mas
também do microambiente. Neste existem vários tipos de células (células endoteliais, fibroblastos, etc.) que
produzem factores de crescimento, capazes de estimular a célula neoplásica a proliferar. Além disso é crucial
garantir um correcto funcionamento do sistema imunitário se este estiver funcional é capaz de reconhecer
células estranhas ao organismo e destruí-las. No entanto, o problema do cancro reside no facto de a célula
tumoral ser capaz de se tornar invisível ao sistema imunitário ou resistente a ele (quando o SI deixa de ter
capacidade de actuar sobre as células).
185
frequente e o responsável pelas formas hereditárias de cancro; as mutações nas células somáticas, por sua vez,
são as mais frequentes e correspondem às formas esporádicas da doença.
Alterações epigenéticas Não há alteração da sequência de bases, mas sim no estado da expressão
génica, por aumento ou diminuição da expressão de certos genes. Um dos principais processos é a
(des)metilação do DNA, no qual estão envolvidas as enzimas DNA-metiltransferase e as DNA-desmetilases.
Estas (des)metilações ocorrem nos dinucleótidos Citosina-Guanina que se encontram dispersos ao longo de
todo o genoma, mas muito concentrados em zonas onde se localizam o genes supressores tumorais. No caso
da modificação das histonas há vários mecanismos bioquímicos envolvidos como a (des)metilação,
(des)acetilação e a (des)fosforilação. Relativamente aos genes tumorais, a hipermetilação e a desacetilação
levam à falência dos genes; por outro lado, a hipometilação do DNA e a acetilação das histonas acompanham
uma desrepressão destes. É por isso que uma hipermetilação localizada nas regiões promotoras de genes
supressores tumorais leva ao silenciamento de genes Inibição da expressão génica.
Nota: O cancro é uma doença que tem mais incidência em idades avançadas, pois ao longo do tempo há uma
maior acumulação de erros que levam às tais alterações genéticas ou epigenéticas. Em média, são necessários
7/8 genes modificados para que ocorra cancro.
186
O CANCRO II
AULA TEÓRICA 28
FILIPE LOPES | JOÃO LORIGO
Na aula anterior vimos que o cancro resulta de alterações genéticas e epigenéticas que
vão levar a que de facto haja alterações na proliferação, diferenciação e morte das células. Há
assim neoplasias que resultam de alterações nos mecanismos de proliferação. Estas originam
tumores que evoluem rapidamente e são geralmente mais agressivos para o organismo. Outros
resultam sobretudo de alterações que levam a uma resistência à apoptose, tendo assim uma
evolução mais lenta mas uma menor resposta à terapêutica convencional.
Autonomia;
Anaplasia;
Perda da ligação à matriz: outra característica fundamental das células neoplásicas é
a sua capacidade de se desprender das células vizinhas e da matriz extracelular (perda
de adesão célula-célula e célula-matriz) que leva a que ela se consiga libertar do tecido
onde reside e posteriormente, através da produção de protéases, (nomeadamente pro-
proteinases que degradam matriz) sair do tecido originário. Esta célula tumoral pode
depois proliferar e metastizar para órgãos à distância, ajudado pelo seu poder de
angiogénese.
Angiogénese: A célula tumoral, em situações de hipóxia, produz e secreta fatores de
crescimento (HIF, Factor Induzido por Hipóxia, que estimula o VEGF, Factor de
Crescimento do Endotélio Vascular) dos vasos sanguíneos, fatores esses que vão
promover a extensão dos vasos até à zona do tumor, aumentando em larga escala a
quantidade de sangue a circular nas imediações do tumor e com ele a quantidade de
nutrientes e oxigénio disponíveis para o tecido neoplásico.
Aumento da instabilidade genética.
Imortalização celular: Frequentemente, a célula tumoral ultrapassa o Limite de
Hayflick. Isto deve-se não só à acção das telomerases como também à hipermetilação
dos genes supressores tumorais e à perda do controlo do ciclo celular (por diminuição
de pRb e p53). Assim, passa a ter menor necessidade de fatores de crescimento, uma
vez que a célula tumoral produz os seus próprios fatores de crescimento.
187
Na célula tumoral, o ciclo celular é muito afectado. Isto porque as vias de sinalização celular
que promovem o avanço ou estagnação do ciclo estão também elas corrompidas.
Por um lado, há vias que promovem o progresso no ciclo celular e a entrada em mitose,
comandadas maioritariamente por ciclinas e cinases dependentes de ciclinas. Por outro, há vias
que controlam a progressão do ciclo, nas quais são muito importantes as proteínas codificadas
por genes supressores de tumores.
A célula tumoral é uma célula resistente a apoptose, porque tem desequilíbrios nas proteínas
envolvidas na regulação deste processo. Como exemplo, temos a família das BCL-2, proteínas
anti-apoptóticas que se encontram elevadas em muitos dos tumores estudados. Dentro das pró-
apoptóticas, podemos destacar proteínas como a BAX, BAC, BID, entre outras. O desequilíbrio
entre anti e pro determina a resistência ou sensibilidade à apoptose, tornando-se então claro
que no caso das neoplasias, a “balança” pende para o lado das anti-apoptóticas, que conferem
uma grande resistência à apoptose e portanto um período de vida da célula muito maior. Esta
maior ou menor sensibilidade à morte celular pode também determinar a resistência à
terapêutica. Uma célula tumoral com muitas proteínas anti-apoptóticas vai ser muito pouco
sensível às terapêuticas que tentam induzir apoptose em células tumorais.
Existem outras proteínas com funções pro e anti apoptose, nomeadamente proteínas da
família do TNF, que quando activados determinam a activação de vias de morte. Estas têm como
protagonistas as caspases, enzimas que participam na clivagem do DNA e levam a morte.
188
Não proliferantes: Como as células nervosas, do músculo estriado e do glomérulo
renal.
Com atividade proliferativa mínima: Como as do músculo liso e tecido conjuntivo, do
endotélio capilar e ainda do parênquima hepático.
Que proliferam em resposta a um estímulo fisiológico: Como células do periósteo
após fractura e do fígado após hepatotomia.
Nos tecidos adultos e renováveis, existem células capazes de repor tecido, e que têm para
isso características de auto-renovação e manutenção de estados não-diferenciados. Chamam-
se por isso células estaminais, e são, pelas suas características, susceptíveis a mutações e muito
resistentes às terapêuticas. Estas células com capacidade de renovação e replicação e capazes
de acumular mutações, conseguem originar tumores. A estas últimas, damos o nome de células
estaminais cancerígenas. São estas, na maioria dos casos, as responsáveis pela dificuldade na
cura completa dos doentes oncológicos mesmo depois dos tratamentos eliminarem o tumor. Se
existirem nesses tecidos células estaminais cancerígenas resistentes a terapêutica, com
capacidade de renovação mas com mutações, estas podem originar tecido tumoral de novo.
Assim, procura-se hoje investigar e identificar vias de sinalização destas células que permitam
novas terapêuticas incidentes nestas células.
Os dois indutores de
Factor de crescimento epidérmico (EGF)
crescimento de maior
Factor de crescimento derivado das plaquetas (PDGF) importância.
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Os GF são peptídeos que se ligam a receptores que estão à superfície das células, transmitindo
portanto indirectamente a informação ao núcleo, através de sinais produzidos e activados por
essa ligação, que são depois lançados no interior da célula.
Domínio Transmembranar
Domínio Intracelular
- Via das MAP Cinases: Regula o crescimento Celular (alterações em qualquer uma das
proteínas desta cascata podem levar a cancro).
Dimerização e
Recrutamento de
Ligação do GF ao atividade de Activação da Ras
CRB2 e GNRF que
Receptor tirosina cinase do (por fosforilação)
se acoplam a Ras
recetor
Transcrição de
Activação em
genes que induzem Foforilação da Migração da ERK
cascata da Raf-
o crescimento Elk-1 - Activação para o núcleo
>MEK->ERK
celular
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- Via da PI3 Cinase e da Akt: Regula os mecanismos de sobrevivência celular
Ativação de
fatores de
Atividade de
transcrição,
Ligação do serina- Fosforilação
inativação da Bad Proliferação
GF ao treonina da Akt
(por fosforilação) Celular
receptor cinase - PIP2 (ativação)
e fosforilação da
-> PIP3
GSK-3 (levando a
síntese proteica)
Nestas vias de sinalização, activadas pela ligação dos ligandos ao receptor com atividade
proteolítica, que cliva substratos dentro das células, os complexos proteicos são clivados e de
seguida parte destes migra para núcleo e activa factores de transcrição. Estas vias de sinalização,
sobretudo envolvidas na diferenciação, são importantes no desenvolvimento embrionário, e
determinam que células estaminais originem tecidos e órgãos, mas também são importantes no
desenvolvimento de tumores porque na vida adulta também podem estimular a proliferação
descontrolada das células estaminais, nomeadamente cancerígenas.
- Via Hedgehog
- Via Wnt
- Via Notch
Em certos tecidos renováveis, apesar das células estarem maioritariamente na fase G0 e G1,
elas podem voltar ao ciclo por acção de cinases e cinases dependentes de ciclinas. Contudo, se
estes fatores estiverem em desequilibro, a proliferação poderá ser desequilibrada e contínua.
Assim, para que isso não aconteça, temos outras moléculas que impedem o ciclo, normalmente
codificadas por genes supressores de tumores. A de maior destaque é a p53. Esta proteína tem
como funções:
O gene p53 encontra-se mutado em mais de 50% dos tumores, e pode ser ele próprio um
mecanismo gerador de neoplasias, uma vez que as células perdem as funções de protecção.
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Ligandos de Morte:
*TRAIL-R1 e R2: estão presentas nas células tumorais e sendo possíveis alvos terapêuticos.
APOPTOSE NECROSE
Em situações em que é preciso activar as vias de sobrevivência, como a via da PI3 Cinase
e da AKT, existe um importante factor de transcrição de proteínas anti-apoptóticas responsável
por essa activação, o NF-kB. Este factor de transcrição tem importância no aparecimento de
neoplasias porque ao contrário dos outros que se localizam no núcleo, este está no citoplasma,
e é um factor que se encontra normalmente inactivo por complexação com o seu inibidor, o IKB.
Assim, o NF-kB tem de estar complexado, uma vez que se estiver persistentemente activo, irá
causar a proliferação descontrolada. O problema é que quando alguns factores de crescimento
se ligam a receptores, activam cinases, que levam a foforilações sucessivas. Um dos alvos das
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cinases pode ser o IKB, cuja fosforilação funciona como um aviso para a célula, informando que
o IKB está pronto para ser degradado via ubiquitina-proteossoma. Sem o seu inibidor, o NF-kB
fica activo, migra para o núcleo e activa a transcrição dos genes descritos acima. O conhecimento
desta via de sinalização permitiu fabricar medicamentos para inibir o proteossoma, com o
objectivo de manter o IKB intacto e o NF-kB inactivo, portanto terapia para alguns cancros.
O cancro é causado por genes (oncogenes), que podem ser de origem viral (e incorporados
no genoma humano) ou resultantes de mutações nos proto oncogenes. Os de origem viral
verificam-se nos casos de HPV, que origina cancro do colo do útero, helicobacter pylori, capaz
de originar linfomas gástricos, entre outros. Os outros tipos de cancro resultam da exposição a
outros agentes carcinogénicos, tais como:
Assim, o cancro é causado na maior parte das vezes pela exposição a agentes
carcinogénicos, mas é necessário haver susceptibilidade intrínseca para que esta doença se
verifique.
Por último, muitos destes agentes carcinogénicos não são carcinogénicos per se. A sua
metabolização no organismo é que gera agentes carcinogénicos. Nitritos, nitratos, ou pesticidas,
metabolizados no intestino por bactérias, podem gerar nitrosaminas, fortemente
carcinogénicas. O mesmo se passa com aminas aromáticas, metabolizadas no fígado e rim e que
podem originar cancro da bexiga.
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As etapas do cancro:
Em primeiro lugar, ocorre a lesão de uma célula, devido a uma ou várias das causas que
anteriormente explicámos. Depois, esta célula pode morrer ou sobreviver. Quando tudo corre
bem, a reparação do DNA ou a apoptose são os destinos possíveis desta célula. No entanto, por
vezes a célula sobrevive, e leva a uma neoplasia, primeiramente localizada, e após algum tempo,
generalizada através de metástases.
Bibliografia recomendada:
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