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SEMINÁRIO DE INTRODUÇÃO A
TEOLOGIA
EPÍSTOLAS PAULINAS
➢ Ementa
A disciplina Epistolas Paulinas propõe-se a apresentar uma visão teológica das
epístolas paulinas. Desenvolve um trabalho de análise dos principais aspectos teológicos
e do contexto histórico que envolvem a época de cada carta.
Esta disciplina tem como propósito conceder ao aluno uma melhor compreensão de
todo conteúdo das epístolas de Paulo, levando-o a uma boa e correta interpretação do
conteúdo de cada uma delas.
➢ Objetivo Geral
Conduzir o estudante a uma visão correta e completa de cada carta do apóstolo Paulo.
➢ Objetivos Específicos
❖ Apresentar detalhes históricos do contexto das epístolas;
❖ Conhecer entender o porquê do envio de cada carta;
❖ Levar o aluno a aplicar em sua vida e nas vidas dos seus ouvintes as lições extraídas do
conteúdo das epístolas.
➢ Conteúdo Programático
1. Breve visão das cartas
2. Apresentação das cartas
3. Estudo Teológico das Cartas de Paulo
4. O contexto de cada carta
5. O material usado para escrever as cartas
6. As cartas em ordem cronológica
7. Um estudo sobre a Vida de Paulo
8. Analise da carta aos Romanos
9. Análise das Cartas de 1ª e 2ª aos Coríntios
10. Análise da Carta aos Gálatas
11. Análise da Carta aos Efésios
12. Análise da Carta aos Filipenses
13. Análise da Carta aos Colossenses
14. Análise das Cartas de 1ª e 2ª aos Tessalonicenses
15. Análise das Cartas de 1ª e 2ª a Timóteo
16. Análise da Carta a Tito
17. Análise da Carta a Filemon
➢ Metodologia
As aulas ministradas são de forma expositiva onde o professor fará uso de material
didático e recursos audiovisuais, com o objetivo de se obter uma melhor performance.
Breve Visão das Cartas Paulinas
Para entender adequadamente as cartas de Paulo, precisamos conhecer um pouco a
prática epistolar do mundo antigo — o contexto a partir do qual elas chegam a nós.
É certo que escrever cartas era uma atividade comum naqueles dias:
1. Uma contínua corrente de correspondência percorria por mar e terra todos os centros de
população;
2. Boa parte dela era governamental, levada por portadores oficiais;
3. Uma parcela considerável era comercial e pessoal, trocada entre cidadãos particulares:
mercadores pedindo bens, enviando instruções, tratando de remessas, pagando contas;
filhos escrevendo aos pais; soldados saudosos escrevendo às esposas; pessoas comuns
perguntando pela saúde dos amigos, prometendo visitas, pedindo favores.
4. Quem não lia nem escrevia podia contratar escribas;
5. Como não havia serviço postal para levar a correspondência privada, as cartas eram
entregues a amigos que viajavam ao local desejado ou a estranhos em quem se pudesse
confiar que recebiam pelo contratempo e recebiam instruções específicas sobre onde
entregar a carta, já que não havia endereços. Nessas circunstâncias, a comunicação bem-
sucedida requeria sorte e certa dose de persistência.
As cartas eram escritas em quase todos os materiais possíveis:
1. Pedaços de cerâmica quebrada;
2. O material-padrão era o papiro, que era escrito de um lado, dobrado para formar um
pacote oblongo, amarrado e preso com um selo de argila.
3. Como o papiro sobrevive indefinidamente num clima muito seco como o do Egito,
muitas dessas cartas antigas, no todo ou em parte, ainda existem.
4. Elas oferecem aos pesquisadores modernos valiosos dados sobre a maneira como a vida
cotidiana era conduzida no mundo helênico e são de grande ajuda na compreensão do
Novo Testamento.
Cartas como as de Paulo, que são incomumente longas, teriam precisado de várias
folhas de papiro coladas na extremidade para formar um pequeno rolo. A encantadora
carta a Filemom é a única entre as de Paulo a se assemelhar, em extensão e conteúdo, à
carta em papiro usual do século I.
A tradição epistolar helenística exigia certas fórmulas estereotipadas:
1. Havia uma saudação (“De A para B, saudações”) e votos de saúde para o destinatário;
2. No corpo da carta havia muitas expressões convencionais que hoje nos parecem
afetadas;
3. No final, havia uma fórmula de despedida (raramente uma assinatura);
4. O primor literário costumava estar ausente dessas cartas, mas escritores ambiciosos que
tinham estudado a arte epistolar na escola podiam recorrer a um considerável corpo de
retórica como adjutório.
As cartas de Paulo são parte dessa tradição. Elas são cartas genuínas, e não
“epístolas” (uma epístola é uma carta artificial ou falsa, escrita antes para
publicação do que para correspondência propriamente dita). Elas são escritas
no grego koiné padrão. Mas são mais elaboradas do que a maioria das outras cartas e
revelam algumas modificações características dos estereótipos.
1. Paulo escolheu a sua própria forma de saudação, abandonando ochairein (“saudações”),
e substituindo-o por charis hymin kai eiréné (“graça e paz a vós”);
2. Uma mudança deliberada, de tons teológicos, porque combina a idéia cristã da graça
com a saudação hebraica shalon (“paz”);
3. Além disso, na maioria das cartas, Paulo usou no início uma fórmula que autenticava
seu papel de apóstolo de Cristo;
4. A maioria delas também tem uma fórmula de ação de graças — não pela boa saúde dos
destinatários, mas pelo dom salvífico da fé em Cristo que eles possuem;
5. Em alguns casos, o final inclui saudações de Paulo e de outros a várias pessoas
específicas que se sabia fazer parte do grupo a quem a carta se dirigia (são nomeadas 26
na carta aos Romanos), e todas as cartas terminam com uma bênção.
Não há erro em dizer que Paulo deu a esse veículo comum de comunicação no
mundo helênico um novo uso e, podemos dizer também, levou-o a uma nova
dimensão.
Características Específicas das Cartas de Paulo
1. O corpo da carta paulina dá muitas vezes a impressão de uma composição apressada e
pouco ponderada, como se Paulo estivesse caminhando e ditando na rapidez com que o
seu secretário podia registrar as palavras, mal conseguindo conter a torrente dos seus
pensamentos;
2. Há sem dúvida muitos dados espontâneos nas cartas, mas a análise detalhada da sua
estrutura traz a lume muitos elementos que sugerem premeditação e, ao menos, certo
cuidado de expressão;
3. A verdadeira carta enviada teria passado pelas mãos de um secretário, mas pode muito
bem ser que o próprio Paulo trabalhasse um rascunho, ou rascunhos, antes de ditar.
4. Seja como for, sabemos que não foram escritas para publicação em livro, onde hoje
estão. Paulo com certeza ficaria atônito se pudesse voltar para ver o que aconteceu com
essas cartas, escritas para ocasiões imediatas e usos específicos, sem a intenção de criar
escritura para as eras vindouras;
5. Seu uso na época é bem claro: destinavam-se a ser lidas em voz alta na congregação
reunida a que Paulo se dirigia. Faziam o que ele faria se estivesse presente; elas
substituem a pessoa de Paulo, sendo, por conseguinte, um subproduto da sua atividade
missionária;
6. É seguro que as congregações que recebiam cartas de Paulo não somente as liam em voz
alta nas reuniões como também as conservavam e lhes davam muito valor;
7. Não há provas que sugiram a circulação das cartas fora do circuito dos destinatários até
que alguém, depois da morte de Paulo, pensasse em reuní-las e publicá-las como
coletânea;
8. Era inevitável que, nesse momento, algumas delas tivessem sido perdidas e não
estivessem à disposição (não podemos acreditar que, em toda a sua carreira, Paulo só
tenha escrito esse punhado de cartas). Era tão grande o seu prestígio que os imitadores
cedo o seguiram, usando a forma da carta paulina e, por vezes, o seu nome.
Assim, Paulo foi responsável — sem nenhuma intenção — pela introdução de um
gênero bíblico, a carta, assim como Marcos teve a oportunidade de introduzir o gênero
frequentemente imitado do evangelho.
O cânon do Novo Testamento não distingue entre as cartas genuínas e as cartas de
autoria paulinas disputadas. Em vez disso, apenas reúne as cartas atribuídas a ele em
dois grupos:
1) Cartas para igrejas;
2) E Cartas para pessoas, organizando-as no interior de cada grupo por ordem de extensão.
A Ordem Cronológica das Cartas
Uma ordem cronológica adequada das cartas teria muito mais utilidade, mas a
datação das cartas, em termos absolutos ou umas em relação às outras, é um árduo
problema. Como elas não têm datas, todas as evidências têm de ser inferidas do seu
conteúdo. Há boas razões para considerar Filemon a última carta de Paulo, e 1ª
Tessalonicenses pode ter sido a primeira. Romanos viria perto do fim, provavelmente
antes de Filemom. Todas parecem ter sido escritas na década dos anos 50 — embora
também isso seja um tanto disputado. Seja como for, somos lembrados, uma vez mais,
de quão cedo a Atividade Missionária seguiu a Crucifixão e por quantos anos
precedeu a Redação dos Evangelhos
Estudo Teológico das Cartas Paulinas
Introdução
Nos escritos do NT encontramos vinte e uma Cartas. Treze delas são atribuídas ao
Apóstolo Paulo (algumas tem sua autoria questionada, como veremos adiante), e outras
são colocadas sob a autoridade de outras figuras significativas da Igreja primitiva: duas
são de Pedro; três de João; uma de Tiago e uma de Judas. E temos a “Carta” aos
Hebreus de um autor desconhecido. Para a fé cristã estes escritos têm uma grande
importância, seja porque são “canônicos”, seja porque deram origem à sucessiva
reflexão teológica. Lendo as Cartas percebe-se logo que os autores manifestam um
vivo testemunho da vida das primeiras comunidades. Estas Cartas enriquecem muito
o quadro que obtemos do livro dos Atos dos Apóstolos, composto no final do I século.
As Cartas Paulinas são uma reflexão teológica ou pastoral num segundo momento
(com exceção da Carta aos Romanos). Antes disso, houve o trabalho missionário de
fundar e organizar as comunidades. É certo que o número de comunidades fundadas
pelo Apóstolo Paulo e seus companheiros foi muito maior daquelas que receberam
alguma Carta. Outra constatação importante é que não foi possível conservar todos os
escritos paulinos. Algumas cartas se perderam e não estão no cânon bíblico.
Antes do estudo propriamente dito das Cartas Paulinas, vamos conhecer um pouco
melhor a figura do seu autor. Sem conhecê-lo bem, é também sempre mais difícil
entender toda a riqueza da sua mensagem. O ambiente e o contexto de cada uma das
comunidades são conhecido por ocasião do estudo particular de cada Carta.
Paulo de Tarso
O Apóstolo Paulo nasceu entre os anos 5 e 10 dC, na cidade de Tarso da Cilicia (At
9,11; 21,39; 22,3). Era filho de judeus, da tribo de Benjamin e como era o costume
foi circuncidado ao oitavo dia. Jerônimo informa que seus pais eram de Giscala, na
Galiléia. Paulo cresceu seguindo a mais perfeita tradição judaica (Fl 3,5). Tinha
uma irmã e um sobrinho que moravam em Jerusalém (At 23,16). Sua profissão era
artesão, fabricante de tendas (cf. At 18,3). O seu estado civil também é um tanto incerto,
ainda que na maioria das vezes se afirme que era solteiro.
De fato, em 1 Cor. 7,8 ele escreve “Aos solteiros e ás viúvas, digo que seria melhor
que ficassem como eu”. Mas em 1Cor 9,6 ele escreve “Não temos o direito de levar
conosco nas viagens uma mulher cristã, como fazem os outros Apóstolos e os irmãos
do Senhor e Pedro?”.
Ainda jovem foi para Jerusalém e, na escola de Gamaliel, se especializou no
conhecimento da sua religião. Tornou-se fariseu, ou seja, especialista rigoroso e
irrepreensível no cumprimento de toda a Lei e seus pormenores (At 22,3).
Cheio de zelo pela religião, começou a perseguir os cristãos (Fl 3,6; At 22,4s; 26,9-12;
Gl 1,13). Esteve presente no martírio de Estevão, cujos mantos foram depositados aos
seus pés (At 7,58). Continuou perseguindo a Igreja (At 8,1-4; 9,1-2) até que se
encontrou com o Senhor na estrada de Damasco (At 9,3-19). A experiência de Jesus
mudou completamente a sua vida. De perseguidor passou a ser o anunciador até a sua
morte, provavelmente em 68 dC.
Na sua primeira missão apostólica, entre os anos 45 e 49, anunciando o Evangelho em
Chipre, Panfilia, Pisidia e Lacaônia (At 13-14), passou a usar o nome grego de Paulo de
preferência a Saulo, seu nome judaico (At 13,9).
Era um homem bem preparado, além de conhecer bem a sua religião (o que pode ser
comprovado pelas muitas citações ao AT), possuía boas noções de filosofia e das
religiões gregas do seu tempo. Em Tarso, sua cidade natal, havia escolas filosóficas (dos
estóicos e cínicos) e também escolas de educadores. Ali nasceu Atenodoro, professor e
amigo do imperador Augusto. Paulo algumas vezes utiliza frases desse educador: “Para
toda criatura, a sua consciência é Deus” (Cf. Rm 14,22a). Ou: “Guarde para você, diante
de Deus, a consciência que você tem” ou: “Comporte-se com o próximo como se Deus
visse você, e fale com Deus como se os outros ouvissem você” (Cf. 1Ts 2,3-7). Além
disso conhecia bem o grego e o método da retórica. Esforçava-se para compreender o
modo grego de viver. Além disso era cidadão romano (At 16,37s; 22,25-28; 23,27).
Embora não mencione isso em suas Cartas, como se o desprezasse, pois para ele a
verdadeira cidadania é outra (Fl 3,20). Porém, ele soube tirar proveito desse título, bem
como de toda a bagagem cultural adquirida, para conduzir todos a Jesus (1Cor 9,19-22).
Lendo as Cartas percebemos o caráter do Apóstolo: às vezes muito meigo e carinhoso;
às vezes, severo. Não abria mão das suas idéias e ameaçava com castigos. Escrevendo
às comunidades comparava-se à mãe que acaricia os filhinhos e era capaz de dar a vida
por eles (1Ts 2,7-8). Sentia pelos fiéis as dores do parto (Gl 4,19). Amava-os, e por isso
se sacrificava ao máximo por eles (2Cor 12,15). Mas era também pai que educava (1Ts
2,11), que gerava as pessoas, por meio do Evangelho, à vida nova (1Cor 4,15). Sentia,
pelas comunidades que fundou, o ciúme de Deus (2Cor 11,2), temendo que elas
perdessem a fé. Quando se fazia necessário, exigia obediência (1Cor 4,21).
Muitas vezes Paulo é apresentado como alguém distante do povo e das suas
comunidades, incapaz de manifestar sentimentos, indiferente ao drama das pessoas,
anti-feminista, moralista e assim por diante. Os que vêem Paulo com esses olhos
esquecem-se de suas viagens, cadeias, sofrimentos, perigos e, sobretudo, sua paixão por
Jesus e pelo povo. Era capaz de amar todos os membros de todas as comunidades, sem
distinção, chamando-os de “queridos” e “amados” ou “irmãos”. Queria que todos
fossem fiéis a Deus. Assim se tornariam seus filhos, como por exemplo, era Timóteo
(1Cor 4,17). É interessante ler as suas Cartas e anotar com quanta freqüência ele usava
expressões, tais como: tudo, todo, sempre, continuamente, sem cessar, etc., e com elas
expressar sua constante preocupação para com todos. E basta uma leitura mais cautelosa
das suas Cartas para descobrir que Paulo não é assim tão insensível e que todo o seu
apostolado vem carregado de sentimentos. “Nós vos falamos com toda liberdade, ó
Coríntios, o nosso coração se dilatou. Não é estreito o lugar que ocupais em nós, mas é
em vossos corações que estais na estreiteza. Pagai-nos com igual retribuição; falo-vos
como a filhos: dilatai também vossos corações!” (2Cor 6,11-13).
Encontrou dificuldade para ser aceito como Apóstolo. As suspeitas vinham do fato ser
um perseguidor e sobretudo porque não foi escolhido pessoalmente por Jesus. Quatorze
anos após a sua conversão, subiu a Jerusalém, para o Concílio, onde defendeu a não
circuncisão para os pagãos. Ele mesmo se defendeu das acusações (Gl 1,12, 2Cor 9,2-3;
12,1-4). Para ele, anunciar o Evangelho era uma obrigação: “Ai de mim se eu não
anunciar o Evangelho!” (cf. 1Cor 9,15-17).
Em sua incansável missão de anunciar o Evangelho Paulo sofreu muito, mas não
desistiu. Ele mesmo relata algumas das situações difíceis que passou:
“Muitas vezes, vi-me em perigo de morte. Dos judeus recebi cinco vezes os quarenta
golpes menos um. Três vezes fui flagelado. Uma vez apedrejado. Três vezes
naufraguei. Passei um dia e uma noite em alto-mar. Fiz numerosas viagens. Sofri
perigos nos rios, perigo dos ladrões, perigos por parte de meus irmãos de estirpe,
perigos dos gentios, perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, perigos
dos falsos irmãos! Mais ainda: fadigas e duros trabalhos, numerosas vigílias, fome e
sede, múltiplos jejuns, frio e nudez!” (2Cor 11,23b-27).
Teve que lutar contra os falsos missionários (cf. 2Cor 10-12) que anunciavam um
Evangelho fácil, que fugiam da humilhação e da tribulação. Anunciavam um Jesus sem
a cruz. Paulo anunciava o Jesus Crucificado, ainda que isso fosse escândalo (1Cor
1,23). Porém a cruz não era o fim. O mesmo Jesus da cruz é também o Jesus
Ressuscitado (1Cor 15).
Paulo e os Atos dos Apóstolos
Se Lucas, na segunda parte dos Atos (16-28), fala unicamente da atividade do Apóstolo
Paulo, isso não significa que ele tenha sido o único. Paulo tornou-se o símbolo de todos
os missionários que souberam levar a Boa Nova de Jesus Cristo pelo mundo afora. E
Paulo sozinho não teria atingido seu êxito, se não fosse a grande ajuda de tantas pessoas
que com ele abraçaram a fé, que o acolhiam em suas casas (At 16,15.34; 18,3.7) ou que
contribuíram com alguma ajuda para as suas necessidades (Fl 4,15-16; 2Cor 11,9).
Também é importante notar que nem sempre podemos ficar somente com as
informações históricas que Lucas nos dá sobre Paulo. Alguns estudiosos simplesmente
as ignoram, já que lendo os Atos se descobre que o objetivo principal de Lucas não
é tanto a informação histórica, mas a transmissão da mensagem. Outros estudiosos
tomam os dados dos Atos com cautela e tentam conciliá-los com os dados das Cartas,
sobretudo sobre as suas viagens.
Os Atos dos Apóstolos foram escritos cerca de 15 anos após a morte do Apóstolo.
Como se sabe, Paulo não era muito bem aceito em certos grupos cristãos. Lucas tentou
resgatar a imagem e o trabalho evangelizador do Apóstolo. Paulo é, para Lucas, a figura
ideal para representar o caminho do discípulo na história. Um caminho feito de
testemunhos em meio aos conflitos. Mostra que o caminho do discípulo não é diferente
do caminho do Mestre (cf. o Evangelho de Lucas). Por isso, serve-se de alguns (não
todos) os fatos marcantes da vida de Paulo, apresentando-os a seu modo e segundo sua
visão. A estrutura dos Atos dos Apóstolos muitas vezes coincide com a do Evangelho
de Lucas.
Nem sempre os Atos e as Cartas coincidem nas informações. E nesses casos, devemos
dar mais crédito às Cartas. Dois exemplos comprovam isso. Comparando At 17,17 e
18,5 com 1Ts 3,1a.6a. Lucas afirma que “Enquanto Paulo esperava em Atenas, ficou
revoltado ao ver a cidade cheia de ídolos... Quando Silas e Timóteo chegaram da
Macedônia, Paulo se dedicou inteiramente à Palavra, testemunhando diante dos judeus
que Jesus era o Messias”. Paulo contudo, tem outra versão: “Assim, não mais podendo
agüentar; resolvemos ficar sozinhos em Atenas, e enviamos a vocês Timóteo... Agora,
Timóteo acaba de chegar da visita que fez a vocês, trazendo boas notícias sobre a fé e o
amor de vocês”. A comparação mostra claramente a diferença. De acordo com os Atos,
Paulo estava sozinho em Atenas. Quando os dois companheiros chegam, Paulo já está
em Corinto. De acordo com a 1Ts, Paulo e Silas ficam sozinhos em Atenas e Timóteo
vai e volta sozinho de Tessalônica. Evidentemente deve-se dar crédito à versão de
Paulo.
Outro exemplo vem de 2 Cor 11,24-25, em que Paulo afirma: “dos judeus recebi cinco
vezes os quarenta golpes menos um. Fui flagelado três vezes; uma vez fui apedrejado;
três vezes naufraguei; passei um dia e uma noite em alto-mar”. Olhando para o que
Lucas diz de Paulo nos Atos, podemos perguntar: Onde estão as referências às cinco
vezes em que Paulo afirma ter sido punido com as 39 pauladas? Lucas ignora
completamente as 195 chicotadas que Paulo recebeu. E onde os Atos falam de
flagelações? Lucas contenta-se em narrar uma (At 16,22-23), omitindo as demais. Por
quê? Certamente porque em seus planos.bastava narrar uma flagelação. Nos Atos não se
mencionam as três flagelações.
Também Lucas narra somente o grande naufrágio da quarta viagem (na qual talvez
estava presente). E lembramos que quando Paulo escreve suas Cartas ainda estamos na
terceira viagem. E mesmo assim garante ter passado 24 horas em alto-mar.
O certo, porém, é que a vida e obra de São Paulo são bem maiores do que aquilo que
nos relatam os Atos e as Cartas.
Paulo e Jesus
Paulo seguramente não viu o Jesus histórico e nem ouviu sua voz e suas palavras. Teve
uma forte experiência do Cristo Ressuscitado (At 9,3-9; 1Cor 15,8). Alguns não
queriam reconhecê-lo como Apóstolo pelo fato de não ter sido um dos Doze Apóstolos
e de não ter sido escolhido por Jesus e de não ter vivido com Ele.
Alguns textos das Cartas dão margem a interpretações diferentes. Por exemplo, em 2Cor
5,16b ele escreve: “Mesmo que tenhamos conhecido Cristo segundo as aparências,
agora já não o conhecemos assim”. Outro texto como 2Cor 12,1-6 poderia induzir que
Paulo estivesse em Jerusalém por ocasião da Paixão do Senhor. Há outros que pensam
que Paulo fazia parte do Sinédrio e que tenha votado pela condenação de Jesus, a partir
da expressão “dei meu voto” (cf. At 26,10). Porém, a maioria dos autores segue a linha
de que Paulo de fato não conheceu pessoalmente Jesus e não teve contato com ele.
O Apóstolo não tinha ainda em mãos os evangelhos escritos. Ele os trazia impressos na
sua carne, marcada por toda sorte de sofrimentos (1Cor 11,21-29), a ponto de estar
crucificado com Cristo (Gl 2,19), trazendo em seu corpo as marcas da paixão de Jesus
(2Cor 4,10; Gl 6,17), e completando, no seu corpo, o que faltava das tribulações de
Cristo (Cl 1,24). Assim ele podia dizer que “já não sou eu que vivo, mas é Cristo que
vive em mim” (Gl 2,20).
Pelos escritos do Apóstolo Paulo, nós verificamos também algumas diferenças entre o
seu modo de anunciar e o modo como Jesus anuncia. Jesus anunciou a sua mensagem
praticamente aos judeus, da Galiléia, pois segundo os sinóticos, Jesus só foi a Jerusalém
para a Páscoa, quando foi crucificado e morto e depois ressuscitou. Paulo, por sua vez,
percorreu o império romano e foi à Roma (capital) como parte final da sua vida, onde
sofreu a sua paixão. Jesus falava em aramaico e anunciava o reino em parábolas, criadas
a partir da observação atenta da vida simples do povo da roça e das aldeias. Paulo, ao
contrário, embora também soubesse falar o aramaico, anunciou e escreveu em grego,
porque seus ouvintes eram judeus da diáspora e pagãos que falavam a língua oficial da
época. Paulo também era um bom observador da vida cotidiana, porém usava as
imagens sobretudo da vida e da cultura urbana, das grandes cidades. Ele falava do
atletismo, dos esportes, da construção civil, das paradas militares, das lutas nos estádios,
da vida dos soldados, etc. Por isso, tentava inculturar a mensagem de Jesus de Nazaré
(que viveu a maior parte do tempo na Galiléia) para o universo da cultura grega.
Um missionário que escreve cartas às suas Igrejas
DESTAQUES DE TITO
▪ Conselhos a um ancião sobre como lidar com as situações numa designação muitíssimo
difícil.
▪ Carta escrita pelo apóstolo Paulo, evidentemente após seu primeiro encarceramento em
Roma.
▪ Designação de presbíteros e como lidar com sérios problemas.
Tito é comissionado a corrigir as coisas defeituosas e a designar superintendentes nas
diversas cidades de Creta. (1:5)
▪ O homem designado superintendente deve estar livre de acusação, deve ser exemplar
tanto pessoalmente como em sua vida familiar, hospitaleiro, equilibrado, dominando a si
mesmo; precisa representar corretamente a verdade em seu ensino, sendo assim capaz
de exortar e repreender aqueles que contradizem. (1:6-9)
▪ Homens indisciplinados nas congregações têm de ser silenciados, especialmente os
adeptos da circuncisão, que subverteram famílias inteiras; devem ser repreendidos com
severidade para que todos sejam sãos na fé. (1:10-16)
▪ Questões tolas, genealogias e conflitos sobre a Lei devem ser evitados; alguém que
promova uma seita deve ser rejeitado depois de ter sido admoestado pela segunda vez.
(3: 9 - 11)
Boas Recomendações
❖ Os homens idosos são incentivados a ser exemplos de moderação, seriedade, juízo, fé,
amor e perseverança. (2:1, 2)
❖ As mulheres idosas são igualmente exortadas a ser exemplares; devem ser instrutoras do
que é bom, para que possam ajudar as mulheres mais jovens a encarar corretamente suas
responsabilidades como esposas e mães, a fim de não trazerem vitupério sobre a palavra
de Deus. (2:3-5)
❖ Os homens mais jovens são exortados a serem ajuizados. (2:6-8)
Os escravos devem estar sujeitos aos seus donos, para que adornem o ensino de Deus.
(2:9, 10)
❖ A benignidade imerecida de Deus deve motivar os cristãos a repudiar a impiedade e a
viver com bom juízo neste sistema de coisas, enquanto aguardam pacientemente a
gloriosa manifestação de Deus e de Jesus Cristo. (2:11-15)
❖ Devem mostrar a devida sujeição a governantes, evitar ser beligerantes e cultivar a
razoabilidade e a brandura. (3:1, 2)
❖ Paulo e seus con-cristãos haviam, outrora, procedido em maldade também; mas, por
intermédio da benignidade imerecida de Deus, foram salvos e têm agora a esperança
segura da vida eterna; esses fatos devem ser constantemente enfatizados, a fim de
incentivar os crentes a concentrar a mente em obras excelentes. (3: 3-8)
Esboço
Saudação inicial (1,1-4);
Orientações a Tito sobre os critérios de escolha dos responsáveis das
comunidades (1,5-9);
Aviso contra os falsos mestres (1,10-16);
Ensinamentos sobre o modo de comportamento de várias categorias de
crentes (2,1-15);
Elenco de deveres sociais (3,1-11);
Recomendações de caráter pessoal (3,12-14);
Saudação final (3,15).
Carta a Filemom
Pelo tema e pelo tom afetuoso, esta é certamente uma Carta autêntica de Paulo
(v.19). Filemom era um cristão de elevada posição social, convertido por Paulo, e tinha
como escravo um outro cristão, Onésimo. Este, tendo fugido ao seu senhor, refugiou-se
junto de Paulo (v.10), que o refere em Cl 4,9 como «irmão fiel e querido». Este fato era
motivo de graves penas civis, tanto para o escravo como para quem o acolhia.
Paulo, prescindindo da questão legal, envia-o ao seu senhor com o presente “bilhete” e
pede a Filemom que acolha de novo, não como escravo, mas «como irmão querido»
(v.16), um irmão na fé. Mais: como se fosse o próprio Paulo (v.17).
LUGAR
Pelo que é dito no v.1, a Carta terá sido escrita num dos cativeiros de Paulo
(Roma, Êfeso ou Cesaréia), nos últimos anos da sua vida (ver v.9-10.13.18). Os
companheiros referidos aqui (v.23-24) são os mencionados em Cl 4,7-17.
TEOLOGIA
Como noutras ocasiões em que trata a questão da escravatura, Paulo não se
preocupa em mudar a estrutura social em vigor (1 Cor 7,20-24; Ef 6,5-9; Cl 3,22-4,1). O
que ele faz é prescindir disso e deslocar o problema para a questão do amor fraterno,
mais profunda que a questão legal em vigor, pois, em Cristo, «não há escravo nem
livre» (Gl 3,28).
Daí em diante, Filemom deve tratar o (antigo) escravo Onésimo como irmão,
porque Paulo está disposto a recompensá-lo monetariamente, isto é, a resgatar
Onésimo.
Com isto, Paulo, embora não se oponha frontalmente à escravatura, tão-pouco a
aprova; e afirma que o amor fraterno, centro do Evangelho de Cristo, é que levará à
eliminação da escravatura.
Destaques de Filemom
❖ Carta que incentivava a que se mostrasse amor e misericórdia para com um escravo
fugitivo que se tornara cristão.
❖ Escrita por volta de 60 - 61 dC, enquanto Paulo era prisioneiro em Roma.
❖ Elogiado Filemom por seu amor e sua fé. (v 1 - 7)
❖ Paulo chama Filemom de amado e de colaborador.
Relatos sobre o amor e a fé de Filemom induzem Paulo a agradecer a Deus e dão ao
apóstolo muita alegria e consolo.
❖ Paulo manda Onésimo de volta como “mais do que escravo”. (v 8-25)
❖ O encarcerado Paulo, à base do amor, apela a favor do escravo fugitivo Onésimo, que se
tornou cristão pela associação com Paulo.
❖ Visto que Onésimo é útil em ministrar-lhe, Paulo gostaria de retê-lo; o apóstolo, porém,
o manda de volta, uma vez que não quer fazer nada sem o consentimento de Filemom.
❖ Exorta Filemom a acolher Onésimo como irmão, como se fosse o próprio apóstolo, e
Paulo expressa confiança em Filemom fazer ainda mais do que o pedido.
Esboço:
Apresentação e saudação: v.1-3;
Ação de graças: v.4-7;
Corpo da Carta: v.8-22;
Saudação final: v.23-25.