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Dúvidas de Direito Penal

1-No âmbito do Critério da “necessidade” de tutela penal a Sra. Professora referiu que
“A violação de um bem jurídico não é suficiente para que se desencadeie a intervenção
penal. É importante ainda que tal intervenção se mostre absolutamente indispensável à
livre realização da personalidade de cada um na comunidade.”
As nossas questões residem no sentido de saber se:
-O aborto é indispensável para o desenvolvimento da personalidade do indivíduo
na sociedade?
-Se a mulher como sendo a principal portadora desse desenvolvimento e caso não o
deseje deve mesmo assim suportar na sua esfera jurídica o desenvolvimento da
personalidade daquele “ser” indivíduo?
-A criminalização do aborto não concorrerá como factor de criação de mais
violações do que aquelas que a criminalização pretende evitar e a melhor opção
não passaria por deixarmos a cargo de meios não penais de controlo social.
-Se poderiamos considerar o aborto como crime sem vítima?
-Se a criminalização do aborto levar-nos-á ao fenómeno da hipercriminalização?

2-A concepção que considera que a função específica do direito penal é a tutela de bens
jurídicos, também defende que o bem jurídico é o elemento fundamental do conceito
material de crime. Importantes consequências podem daqui ser retiradas:
a) As puras violações morais não conformam a lesão de um autêntico bem jurídico; por
isso, não podem integrar o conceito material de crime.
b) Também proposições meramente ideológicas ou imposições de fins (como pôr em
causa a pureza da raça, propagar doutrinas contrárias a uma certa religião ou a uma
determinada concepção do Estado, fazer apologia de uma qualquer doutrina religiosa,
moral, política, social ou cultural, ressalvando, como é óbvio a eventual ilicitude dos
meios utilizados, não pode constituir objecto de criminalização.
Quanto a proibição de doar sangue que algumas religiões impõem aos seus crentes
poderíamos considerar que tal imposição constitui uma lesão de um bem jurídico,
ou melhor, do principal bem jurídico tutelado pelo Direito penal, porquanto, no
caso dos menores, a não autorização feita pelos tutores leva a morte do menor,
reconhecendo, desde já, que as causas de tal transfusão não podem ser imputadas
aos tutores, nestes casos não se deveria limitir a liberdade de autodeterminação do
agente.
3-A Sra. Professora refere que “A realidade criminal é, em grande medida, resultado da
sua definição social operada em última análise pelas instâncias formais de controlo” e
cita Becker, fundador do labeling approach, em os Outsiders (1963, p. 9), este por sua
vez diria que “são os grupos sociais que criam a deviance ao elaborar as normas cuja
violação constitui a deviance ao aplicar estas normas a pessoas particulares,
estigmatizando-as como marginais”.
Por isso muitas realidades são consideradas crimes e isso não faz a realidade
criminal depender de factores culturais e muitos deles tendo na base dogmas que
contrariam os valores e ideias de um Estado de Direito, ou seja, não estaria a
realidade criminal submetida as paixões do povo em virtude de depender de
factores culturais.
Aqui também levantamos a questão da homossexualidade onde o Projecto do Novo
Código Penal no artigo 212.º pune os crimes de descriminação, mas, entretanto,
não há uma norma que de bom tom pune a discriminação contra pessoas
pertencentes a comunidade LGBT, porquanto não vai de acordo com os ideias
culturais angolano, porém, é contra os ideias do Estado de Direito a discriminação
contra quaisquer factores descriminativos.

4-Certos hábitos consuetudinários onde o agente antes de ser levado as instâncias


judiciais é privado da sua liberdade tendo como fundamento as regras consuetudinárias,
que no nosso ordenamento jurídico não estão tipificadas e nem se encontram
sistematizadas, o que nos parece incompreensível que o agente possa pelo mesmo facto
sofrer uma privação da ”liberdade disciplinar” e uma privação de liberdade criminal.
O princípio da legalidade cujo conteúdo essencial se pode resumir na seguinte
expressão: “não pode haver crime, nem pena que não resultem de uma lei prévia,
escrita, estrita e certa, por outras palavras, o princípio Nullum crimen nula poena sine
lege tem quatro colorários, nomeadamente:
-Lei Prévia
-Lei Stricta
-Lei Certa
-Lei Scripta (escrita)
Das nossas invetigações notamos que as normas consuetudinárias não preenchem
um requisito, as normas não são escritas, se as normas consuetudinárias do nosso
ordenamento jurídico não se encontram dispersas em documentos, como é o caso
das normas inglesas, como podem ainda assim ser aplicadas, não estariamos na
presença de uma excepção do princípio da legalidade, ou se os limites impostos
pela Constituição torna-la-ás na alçada da legalidade.
Uma grande parte dos doutrinadores defendem que o costume tem valia quando visa
não criar ou agravar a responsabilidade penal do agente, mas quando a sua intervenção
resulte benéfica para o agente, isto quer dizer quando o costume se venha traduzir no
âmbito de uma norma favorável, ou seja, quando o costume de alguma norma venha
atenuar ou então excluir a responsabilidade criminal do agente.

5-O artigo 152.º do Projecto do Novo Código Penal prevê a figura do homicídio
negligente e gostariamos de saber se o médico que por não implementar certas
cautelas levar a morte de um paciente, configurar-se-á homicídio negligente.
6-O artigo 153.º do Projecto do Novo Código Penal prevê a punibilidade à
incitação ou auxílio ao suicídio e gostariamos de saber se aquele que cometer
bulling e a vítima se suicidar poderá ser acusado de incentivá-la.
7-Muitos filósofos e activistas, como Angela Davis, defendem que o capitalismos
incrementa o fenómeno da hipercriminalização, porquanto a prestação de bens e
serviços no sistema carcerário é um negócio milhionário, as desigualdades provocadas
pelo capitalismo fazem com que maior partes dos reclusos sejam cidadãos de baixa
renda e muitos dos ilícitos que praticam resultam de falta de meios de subsistência, em
virtude das fracas ou inexistentes políticas sociais. Gostaríamos de saber o parecer da
Sra. Professora aquando do entendimento destes filósofos.

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