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Caso 32.

Frases comentários críticos – Causas de extinção dos negócios jurídicos


a) A denúncia constitui um modo de cessação típico das relações duradouras;
A denúncia consiste, grosso modo, numa forma de fazer cessar unilateralmente um
contrato de duração indeterminada, impedindo a sua prossecução ou a sua renovação
automática. A relação contratual extingue-se assim apenas para o futuro. O exercício da
denúncia é, em regra, livre (ad libitum), não dependendo da verificação de qualquer
fundamento. Apenas excepcionalmente se encontrará o exercício desta faculdade
vinculado por lei, como por exemplo sucede no regime do arrendamento urbano que
prevê uma forma de denúncia justificada nas alíneas a) e b) do artigo 1096.º e artigo
1098.º do CC
Outrossim, a denúncia surge como um corolário da interdição da perpetuidade
contratual, instrumento de tutela da liberdade das partes que poderia encontrar-se
comprometida por um vínculo excessivamente duradouro. A protecção daquela
liberdade impõe o reconhecimento desta faculdade nos contratos de duração
indeterminada, ainda que a lei ou as partes não a tenham expressamente previsto.
Idêntica preocupação justifica a disponibilização pontual deste direito a pôr termo ao
contrato, ad nutum, em relações jurídicas de execução duradoura ainda que a respectiva
duração não seja indeterminada.
b) A resolução tem sempre efeitos "ex tunc"
O artigo 433.º do CC determina que, na falta de disposição especial, a resolução é
equiparada, quanto aos seus efeitos, à nulidade ou anulabilidade do negócio jurídico,
com ressalva do disposto nos artigos seguintes . A resolução segue assim, em regra, o
regime jurídico da invalidade, constante dos artigos 285.º e seguintes do CC, com as
devidas alterações impostas pelo disposto nos artigos 434.º e seguintes do CC. Admite-
se todavia que, excepcionalmente, a lei ou as partes atribuam efeitos diversos à
declaração de resolução. Esta equiparação da resolução à invalidade tem vindo a gerar
alguma confusão na doutrina, em especial, no que à anulabilidade concerne, havendo
mesmo uma doutrina minoritária que entende a anulabilidade como um tipo de
resolução, na fronteira entre a ineficácia e a invalidade.

Neste afã, a resolução tem, em regra, eficácia retroactiva, ex tunc. Porém, em common
law, a regra é de que a cessação do contrato com fundamento em incumprimento produz
efeitos apenas ex nunc. Portanto, a retroactividade será afastada em quatro situações,
nomeadamente:
 Por convenção da vontade das partes, expressas ou implícitas;
 Se contrariar a finalidade da resolução;
 Nos contratos de execução duradoura no que concerna às prestações já
efectuadas, excepto se entre estas e a causa da resolução existir um vínculo que
legitime a resolução de todas (n.º 2 do artigo 434.º do CC). Quer isto dizer que,
em princípio, a resolução do contrato conduzirá à reconstituição da situação
anterior à sua celebração: há uma ficção jurídica de que o contrato não existiu;
 Finalmente, não serão prejudicados pela retroactividade os direitos adquiridos de
terceiros (n.º 1 do artigo 435.º do CC).
Pelas razoes expostas, em nosso pensar, a afirmação feita é improcedente, porquanto o
artigo 434.º estabelece excepções aos efeitos ex tunc das resoluções, ou seja, a regra da
retroactividade comporta excepções, isto quer dizer, que dá lugar a situações onde não
se poderá verificar a destruição dos acontecimentos anteriores.
c) A resolução só opera por sentença judicial;
A resolução pode ser oriunda de uma fonte legal ou convencional (n.º 1 do artigo 432.º
do CC). Na primeira modalidade, os pressupostos de exercício da resolução são
definidos pela lei, enquanto que na segunda modalidade são estipulados pelas partes.
Relativamente ao modo de efectivação da resolução, consagra a lei no artigo 436.º uma
regra de liberdade de forma ao determinar que o direito se exerce mediante declaração à
outra parte
Conforme ensina o Prof. Pedro Romano Martínez existem, todavia, alguns desvios a
este regime, por exemplo, quando a lei impõe a intervenção de um órgão judicial, seja
para decretar a resolução – veja-se a resolução do contrato de arrendamento, com
fundamento nas circunstâncias elencadas no n.º 2 do artigo 1093.º do CC, por força do
artigo 1094.º, seja para apreciar a declaração de resolução emitida por uma das partes.
Em alguns ordenamentos jurídicos, como é o caso do português, faz-se referência da
resoluçao-efeito que resulta automaticamente da lei.
Pelas razões acima expostas, concluímos que a ressolução não se opera apenas por
sentença jucial.
Convém ressaltar que a regra da liberdade de forma em nada obsta a que a contraparte
venha, posteriormente, contestar judicialmente a resolução, cabendo então ao tribunal
aferir da respectiva licitude. Independentemente da forma adoptada e em resultado do
carácter vinculado do exercício do direito de resolução, a declaração de resolução deve
ser precisa quanto aos seus fundamentos, não bastando uma mera referência a uma
situação de incumprimento. A resolução opera por meio de uma declaração receptícia
que, nos termos do artigo 224.º do CC, só produz efeitos quando chega ao destinatário
ou deste é conhecida, ou seja, sendo uma declaração receptícia, produz os seus efeitos
logo que recebida pela contraparte, ficando resolvido definitivamente o contrato,
independentemente de tal resolução ser legal ou ilega Ao declarar que resolve o contrato
o declarante não está pois (apenas) a descrever uma acção, mas a fazê-la, isto é, a
resolver o contrato. Trata-se de um enunciado performativo, elemento constitutivo da
resolução

d) A "denúncia" é sinónimo de "indicação à renovação"


Discordamos com essa afirmação, porquanto a denúncia não é sinônimo de indicação a
revogação, pois a denúncia é indubitavelmente sinônimo de extinção ou cessação da
relação obrigacional. À guisa de exemplo, podemos citar o artigo 1096.º quando refere
que o senhorio pode denunciar o contrato para o termo do prazo ou da renovação.
e) A revogação dos contratos, em sentido técnico, correspondente ao distrate
Nas nossas devassas pudemos notar que, conforme ensina o Prof. Menezes Cordeiro, a
revogação é também designada de distrate, podendo ainda ser designada por mútuo
dissenso ou contrarius consensus. A revogação consubstancia-se num acordo de
extinção de uma relação contratual pelas respectivas partes, manifestação do disposto no
artigo 406.º, n.º 1 do CC, cujos efeitos se projectam apenas para o futuro, pois reveste
natureza contratual. Sem prejuízo de a bilateralidade ser a regra, pode a revogação ser
emitida por apenas uma das partes, desde que exista previsão legal para tal, a título de
exemplo, a revogação da promessa pelo promissário, prevista no artigo 448.º do CC.
f) A morte de uma das partes não determina a caducidade.
A nosso pensar, a caducidade, em termos amplos, corresponde à extinção, ex nunc, de
uma situação jurídica, ipso iure, pelo decurso do tempo (principal causa de caducidade)
ou pela verificação de qualquer facto superveniente a que se atribua um efeito extintivo
do vínculo contratual.
Como referimos anteriormente, trata-se de um efeito automático de extinção de um
negócio jurídico que não depende da prática de um acto, ao contrário do que sucede
com a revogação, a denúncia ou a resolução.
Aqui chegados, a morte de uma das Partes, no âmbito da caducidade, pode levar-nos a
observar dois cenários:
 Quando determina a Caducidade, ou seja, quando é corrosiva como se pode
notar no artigo 1141.º com a morte do comodatário;
 Quando não determina a caducidade porquanto surge a figura da sucessão se este
deixar cônjugue ou descedentes, conforme ressulta do artigo 1077.º do CC.
Caso 24 Frases e trechos para comentários críticos – Obrigações genéricas
Nas obrigações genéricas:
a) A concentração é feita, em princípio, por escolha do devedor;
a) R: Pelo facto de a obrigação ser genérica implica naturalmente que tenha que ocorrer
um processo de individualização dos espécimes dentro do género. A este processo
denominamos de escolha que, nos termos do artigo 400.º pode caber a ambas as partes
(credor ou devedor) ou a terceiro. Por um lado, o artigo 539.º consagra a regra de que a
escolha da prestação pertence ao devedor, sendo que o artigo 542.º estipula as hipóteses
excepcionais de a escolha caber ao credor ou a terceiro.
No ponto em que nos econtramos, surge uma questão a de saber se o devedor é
absolutamente livre na escolha que faz, podendo escolher, por exemplo, a mercadoria de
pior qualidade. Neste seguimento, apresentaremos o posicionamento de dois Ilustres
Professores:
 Para o Prof. Menezes Leitão, o devedor deve entregar uma coisa de qualidade
média, esta solução resulta do artigo 400.º que estabelece que a determinação da
prestação deve ser realizada segundo juízos de equidade.

 Já o Prof. Menezes Cordeiro entende que mesmo que a lei não previsse tal
exigência de razoabilidade, decorreria da boa fé e dos deveres acessórios dela
decorrentes pela via da integração do negócio (artigo 239.º), ou seja, se houvesse
lacuna quanto ao modo da escolha, a boa fé imporia que ela fosse feita com
honestidade e lealdade e, se a natureza das coisas o justificasse, tendo em conta a
segurança do credor, imporia que ela fosse feita em termos razoáveis.
No mesmo sentido, prevê o artigo 243.º do Código Civil Alemão e o artigo 1178.º do
Código Civil Italiano que será razoável ou de boa fé a escolha de espécimes de classe e
qualidade médias entre aquelas que compõem o género.
Porém, mesmo a lei estabelecendo mecanismos para proteger o interesse do credor, a
nosso ver, pensamos que aquele direito deveria caber ao credor, pois o devedor se
encontra vinculado perante ao credor em adoptar uma conduta em benefício deste
último (artigo 397.º do CC), por isso, chega a ser contraproducente que o credor não
tenha o direito, como regra, de escolher as espécimes do género que irão satisfazer o seu
interesse.

b) O objecto da prestação é constituído por coisas fungíveis, determinadas apenas


quanto ao género;
B) - R: Não. O objecto da prestação não é constituído apenas por coisas fungíveis
(artigo 207.º do CC) cuja determinação é feita por referência a uma certa quantidade,
peso ou medida de coisas dentro de um género, mas não está ainda concretamente
determinado quais os espécimes daquele género que vão servir para o cumprimento da
obrigação, pois a obrigação genérica pode também abarcar coisas infungíveis, por
exemplo, se alguém se comprometer a entregar uma obra de determinado artista
plástico.

c) Em matéria de concentração, vigora, sem excepções, a teoria da entrega;


C) R: Em matéria de concentração, Código Civil consagrou como regra geral a teoria
da entrega de Jhering, essa solução, por sua vez, vem consagrada no artigo 540.º que
refere que «enquanto a prestação for possível com coisas do género estipulado não fica
o devedor exonerado pelo facto de terem perecido aquelas com que se dispunha a
cumprir». Efectivamente, se o devedor continua a ter que entregar coisas do mesmo
género, isso significa que a obrigação genérica ainda não se concentrou, pelo que essa
concentração apenas ocorre, regra geral, com o cumprimento. É, consequentemente,
também este o momento da transferência da propriedade sobre as coisas objecto da
obrigação genérica, já que a transmissão da propriedade sobre coisas genéricas exige a
sua concentração, que normalmente apenas ocorre mediante a entrega pelo devedor
(540º).
No entanto, refutamos a afirmação quando refere que vigora sem excepções a teoria da
entrega, em matéria de concentração, porquanto é a própria lei que admite no artigo
541.º, certos casos em que, embora cabendo a escolha ao devedor, a obrigação se
concentra antes do cumprimento, nomeadamente:
a) Quando resulta de acordo das partes;
b) Quando o género se extinguir a ponto de restar apenas uma, ou precisamente a
quantidade devida, das coisas nele compreendidas;
c) Quando o credor incorrer em mora (artigo 813.º);
d) Quando se está perante a promessa de envio (artigo 797.º).
Neste desiderato, concluímos, na esteira do Prof. Menezes Leitão, que, no nosso direito,
a concentração da obrigação genérica, quando a escolha compete ao devedor, apenas se
dá no momento do cumprimento, podendo até lá o devedor revogar escolhas que
anteriormente tenha realizado. Tal só não sucederá se tiver perdido a possibilidade
material de o fazer ou se a escolha tiver sido aceite, o que significa que as partes por
acordo modificaram a obrigação, transformando-a em específica. Não há desvios à
consagração da teoria da entrega no artigo 540.º, com soluções próximas da teoria da
escolha ou do envio, pois a mora do credor não deve impedir a realização de nova
escolha pelo até ao cumprimento e na promessa de envio referida no artigo 797.º é de
verdadeiro cumprimento que se trata.

d) Com escolha pelo credor, a transferência do risco ocorre no momento em que a


escolha é efectuada;
D) R: A transferência do risco ocorre no momento da escolha. O risco dá-se com a
individualização dos espécimes.
Quando estamos perante situações em que a escolha compete ao credor, a nossa lei
adopta plenamente a teoria da escolha, referindo o artigo 524.º que uma vez realizada
esta passa a ser irrevogável. Por conseguinte, a escolha pelo credor concentra
imediatamente a obrigação, desde que declarada respectivamente ao devedor ou a
ambas as partes. No entanto, se a escolha couber ao credor e este não a fizer dentro do
prazo estabelecido ou daquele que para o efeito lhe for fixado pelo devedor, é a este que
a escolha passa a competir (n.º2 do artigo 542º). Naturalmente que nesta situação
passam a ser aplicáveis as disposições do artigo 540.º e 541.º, como se a escolha
coubesse ao devedor desde o início.

e) A promessa de envio implica uma situação de concentração da obrigação antes


do cumprimento;
E) R: O caso da promessa de envio referida no artigo 797.º não consiste sequer numa
situação de concentração da obrigação genérica antes do cumprimento. Conforme refere
a doutrina, esta norma não diz respeito às dívidas em que o devedor se compromete a
levar ou enviar a coisa até ao local do cumprimento, suportando até então o risco do
transporte. Refere-se, efectivamente, apenas às denominadas dívidas de envio ou
remessa, em que o devedor não se compromete a transportar a coisa para o local do
cumprimento, mas apenas a, no local do cumprimento, colocar a coisa num meio de
transporte destinado a outro local.
Desta feita, estas obrigações cumprem-se no próprio local do envio ou da remessa,
ficando a obrigação extinta nesse momento em virtude do cumprimento. O facto de o
credor ainda não ter recebido a prestação é irrelevante, uma vez que o cumprimento
pode ser realizado a terceiro se assim tiver sido estipulado ou consentido pelo credor
(artigo 770.º)
f) A transferência da propriedade não pode ocorrer no momento da celebração do
contrato.
F) R: De facto a transferência da propriedade não pode ocorrer no momento da
Celebração do contrato. A indeterminação inicial da obrigação genérica agudiza o
problema da averiguação do momento em que tem lugar a transferência da propriedade
sobre as coisas que vão servir para o cumprimento da obrigação, que respalda a sua
importância para efeitos de determinação do risco, sendo que o Código Civil consagra
como regra que o risco do perecimento de coisa corre por conta do proprietário (art.
796º). Por conseguinte, na obrigação genérica a transferência da propriedade não pode
ocorrer no momento da celebração do contrato, conforme resulta genericamente do n.º 1
do artigo 408º, no que concerne às coisas determinadas.
Urge sempre a necessidade de determinar a prestação para se obter a transferência da
propriedade, conforme refere o n.º2 artigo 408.º, essa transferência opera-se quando a
coisa é determinada com conhecimento de ambas as partes.
A transferência da propriedade ocorre exactamente no momento da concentração da
obrigação, quando a obrigação, ou seja, quando a obrigação passa de genérica a
específica, não se exigindo que essa concentração seja conhecida de ambas as partes.

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