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FACULDADE DOM BOSCO

DISCIPLINA CURSO ANO/SEMESTRE


PSICOLOGIA DA ADOLESCÊNCIA BACHARELADO EM 2021/ 2
PSICOLOGIA
NOME:MARIA CRISTINA
CASANOVA GARCIA

Boyhood- da Infância a Juventude

O filme conta a história de uma família de pais separados, onde a mãe é a responsável pela
criação dos filhos Mason e Samanta. As filmagens ocorreram ao longo de 12 anos,
acompanhando a idade cronológica dos personagens.
Mason é o personagem principal e no início do filme tinha 6 anos. Podemos perceber suas
mudanças físicas, psíquicas e a relação com os pais, até os 18 anos.

Freud não se deteve no estudo da adolescência, mas mostrou em “Três ensaios sobre
sexualidade “, esse momento do desenvolvimento psicossexual. Apresenta a puberdade
como momento psíquico importante para viabilizar acesso a vida adulta. Existe articulação e
mútua interferência entre o físico e psíquico.

O desenvolvimento da libido e as organizações sexuais, participam do processo de escolha


de objeto, baseado nas vivências amorosas da infância.
As mudanças físicas, ocorridas na puberdade, impulsionam as transformações psíquicas do
adolescente. Os jovens fazem uma revisão em seu mundo interno e experiências infantis.
Essa busca de si mesmo, leva a transição da identidade infantil para a identidade adulta.

No início do filme, a mãe por não ter condições de se manter, muda-se de cidade, buscando
ajuda de sua mãe.
Há um ressentimento das crianças que deixam sua casa, sua escola e seus amigos. Erik
Erikson fala sobre resíduos das situações que causaram traumas, ressentimentos e que
carregamos ao longo da vida até serem superados.
Mason e sua irmã encontram o pai após 3 anos de distanciamento. Sentem-se acolhidos
pelo pai. Aqui existe um reconhecimento da identidade infantil, são valorizados em seus
estudos e hobbies.

Em seguida, a mãe casa com seu professor, que é alcóolatra. Esta doença é escondida de
todos e em vários momentos coloca a todos em risco.
Após a separação da mãe, vão para casa de uma amiga da mãe. Mais uma vez terão que
trocar de escola, ficam tristes, revoltados e inseguros. Neste momento, sentem-se
fragilizados, tendo que lidar com a situação difícil e com a adolescência que já é em si
dolorosa. Construir uma nova identidade é um processo longo e penoso, tem que lidar com
seu luto pela perda do corpo infantil, flutuações de dependência e independência,
mudanças biológicas que não pode controlar, a falta de reconhecimento que tinha quando
criança e que não tem como adulto, mudanças conscientes e inconscientes, necessidade de
uma ideologia que lhe permita sua adaptação ao mundo e que tenha uma ação sobre ele
para mudá-lo. “A modificação é lenta, e nenhuma pressão, interna ou externa, favorece
esse trabalho...” Aberastury, pág.25
Com seu pai, distribuem placas de Obama nos gramados. Seu pai manda-o arrancar a placa
do adversário de Obama. Essa transgressão do pai pode ser vista como prova de um sonho
adulto presente e reprimido, a glorificação da delinquência pela cultura popular, como
vimos em Calligaris. Transmite ao filho que o ideal é aquele que faz exceção a norma.
A cena em que Maison está indo para o trabalho da mãe e encontra uma amiga, conversam
sobre uma colega que cortou os pulsos, a amiga também fala que outra colega gosta dele.
Mason comporta-se com segurança, diz que não tem namorada no momento. Durante o
percurso a amiga fala que o irmão mais velho está leu o mesmo livro que Mason está lendo.
Calligaris escreve que há duas qualidades subjetivas sociais que o adolescente aprende a
ser: desejável e invejável.
O adolescente se importa muito com a aceitação externa, se é desejável, bonito. Esta é uma
época de fragilidade da autoestima, onde pode ocorrer depressão e até suicídio. Não recebe
olhar apaixonado que tinha na infância e sente falta de palavras que o incluam no mundo
dos adultos. A insegurança é um traço desse período da vida.

Mason pede à mãe para acampar na casa de um colega. Bebem, quebram madeiras
medindo força, atiram um disco de uma serra numa madeira. Um deles não quer beber
cerveja e sofre bullying, falam de sexo e Mason mente que já ¨transou¨.
Em Adolescente Normal, vimos que o adolescente precisa do grupo para sentir-se
pertencendo. Procura pertencer a um grupo que se identifique e, às vezes faz qualquer
coisa para se identificar. A dependência que tinha dos pais, volta-se para o grupo, desejo de
estar entre os iguais. Em geral, os grupos têm um líder que é obedecido cegamente pelos
adolescentes que desejam ali permanecer.

Observa-se a exogamia, pois o adolescente busca outros grupos fora da família. E é positivo
quando os pais aceitam esta autonomia.
Calligaris coloca que quando o adolescente é invisível, não reconhecido em casa, na família,
pode buscar as gangues. Praticam destruições e outras transgressões em grupo. O pai
pergunta a Samanta se ela tem namorado, fala sobre gravidez precoce. Mason e Samanta
ficam envergonhados com a conversa.
Anna Freud (1986) fala sobre a relação física e psíquica: ¨o processo fisiológico que marca o
advento da maturidade física sexual é acompanhado pela estimulação dos processos
instintivos (pulsão), a qual transportada para a esfera psíquica na forma de um influxo da
libido (124).
Além das mudanças biológicas, o processo de adolescência é influenciado, pela época, pela
criação, pela cultura, pelo contexto social, etc.
A puberdade e a adolescência, segundo Anna Freud (1986 0), não são a causa um do outro,
podem aparecer simultaneamente ou não. A puberdade abrange as transformações físicas e
hormonais dos jovens, como a menarca, a primeira ejaculação, o aparecimento dos
caracteres secundários.
A reedição do conflito edípico ocorre em um corpo e um psiquismo diferentes do da
infância. A consumação do incesto torna-se uma possibilidade real, o que gera mais tensão,
angústia e maneiras defensivas do adolescente.
No ensino médio, dedica-se a fotografia, passa muito tempo na sala escura de fotos. Seu
professor o chama, alertando-o que precisa dedicar-se a todas as matérias.

O adolescente ainda está construindo a temporalidade. A noção do tempo não está clara, a
organização mental do tempo não está construída. Pode passar longos períodos fazendo o
que gosta, mas as coisas que acha inúteis não são incluídas no seu tempo. Nem sempre vai
fazer só o que quer, tem que fazer escolhas, pois está construindo uma identidade. O
critério do que é bom ou não, prazeroso ou não é frágil e sem conteúdo. Exercita sair do
critério prazer x desprazer e vai descobrindo o critério de conteúdo que precisa de
argumento, pensamento e raciocínio. O critério de conteúdo é necessário para a tolerância
a frustrações.
Mason viaja com uma amiga e acabam namorando, mas ela tem outro namorado. Quando
se separam ele fica muito triste e frustrado. Nestas cenas percebemos que Mason
relaciona-se de forma narcisista com a namorada, entrega-se totalmente ao outro sem
investir em si. Idealiza a namorada, está apaixonado. Existe um desequilíbrio, pois não se
contempla. Enquanto não se contempla, não enxerga o outro e acaba fazendo mal ao outro,
vive uma relação idealizada, está em contato com o “lago de Narciso”. Para construção do
amor precisa existir um equilíbrio do investimento em mim e no outro.
Na saída de casa para a faculdade, a mãe de Mason vê o quanto o “ninho” ficou vazio. Mas
o filho estava com vontade de ficar longe de casa. Não sabia se a faculdade lhe daria um
sentido de vida, pois sua mãe era confusa e bagunçada depois que fez faculdade.
Ao chegar na faculdade, faz uma trilha com os colegas. “Curta o momento, o momento é o
que te curte, é sempre o agora”, nessa frase do final do filme, percebemos a moratória
falada por Erik Erikson e Calligari.

Não temos rituais de passagem para idade adulta em nossa cultura, mas o adolescente
interpreta a vontade do adulto. A sociedade globalizada e individualista contemporânea,
reprime a entrada do adolescente na vida adulta, não o reconhece. Ao mesmo tempo, o
adulto busca seu ideal de vida na liberdade da adolescência. O adulto expressa consciente
ou inconscientemente ao jovem, o ideal de rebeldia, liberdade sem responsabilidade e
ideias transgressoras. E o adolescente tem a capacidade de fazer essa leitura no adulto.
Ocorre uma retroalimentação, o adulto dá uma moratória ao adolescente e continua com
seu ideal de liberdade adolescente. E essa relação é incentivada e sustentada por um
marketing e mídia de consumo desenfreado, com valores líquidos e fugazes.
BIBLIOGRAFIA
ABERASTURY, Arminda; KNOBEL, Maurício- Adolescência Normal- cap. 1 e 2

ERIKSON, Erik- Identidade, juventude e crise (1976) cap.1 a 6


MACEDO, Mônica M.K. (org.)- Adolescência e psicanálise pág.85 a 111
FREUD, Sigmund- Sobre narcisismo: uma introdução (1914)

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