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O filme conta a história de uma família de pais separados, onde a mãe é a responsável pela
criação dos filhos Mason e Samanta. As filmagens ocorreram ao longo de 12 anos,
acompanhando a idade cronológica dos personagens.
Mason é o personagem principal e no início do filme tinha 6 anos. Podemos perceber suas
mudanças físicas, psíquicas e a relação com os pais, até os 18 anos.
Freud não se deteve no estudo da adolescência, mas mostrou em “Três ensaios sobre
sexualidade “, esse momento do desenvolvimento psicossexual. Apresenta a puberdade
como momento psíquico importante para viabilizar acesso a vida adulta. Existe articulação e
mútua interferência entre o físico e psíquico.
No início do filme, a mãe por não ter condições de se manter, muda-se de cidade, buscando
ajuda de sua mãe.
Há um ressentimento das crianças que deixam sua casa, sua escola e seus amigos. Erik
Erikson fala sobre resíduos das situações que causaram traumas, ressentimentos e que
carregamos ao longo da vida até serem superados.
Mason e sua irmã encontram o pai após 3 anos de distanciamento. Sentem-se acolhidos
pelo pai. Aqui existe um reconhecimento da identidade infantil, são valorizados em seus
estudos e hobbies.
Em seguida, a mãe casa com seu professor, que é alcóolatra. Esta doença é escondida de
todos e em vários momentos coloca a todos em risco.
Após a separação da mãe, vão para casa de uma amiga da mãe. Mais uma vez terão que
trocar de escola, ficam tristes, revoltados e inseguros. Neste momento, sentem-se
fragilizados, tendo que lidar com a situação difícil e com a adolescência que já é em si
dolorosa. Construir uma nova identidade é um processo longo e penoso, tem que lidar com
seu luto pela perda do corpo infantil, flutuações de dependência e independência,
mudanças biológicas que não pode controlar, a falta de reconhecimento que tinha quando
criança e que não tem como adulto, mudanças conscientes e inconscientes, necessidade de
uma ideologia que lhe permita sua adaptação ao mundo e que tenha uma ação sobre ele
para mudá-lo. “A modificação é lenta, e nenhuma pressão, interna ou externa, favorece
esse trabalho...” Aberastury, pág.25
Com seu pai, distribuem placas de Obama nos gramados. Seu pai manda-o arrancar a placa
do adversário de Obama. Essa transgressão do pai pode ser vista como prova de um sonho
adulto presente e reprimido, a glorificação da delinquência pela cultura popular, como
vimos em Calligaris. Transmite ao filho que o ideal é aquele que faz exceção a norma.
A cena em que Maison está indo para o trabalho da mãe e encontra uma amiga, conversam
sobre uma colega que cortou os pulsos, a amiga também fala que outra colega gosta dele.
Mason comporta-se com segurança, diz que não tem namorada no momento. Durante o
percurso a amiga fala que o irmão mais velho está leu o mesmo livro que Mason está lendo.
Calligaris escreve que há duas qualidades subjetivas sociais que o adolescente aprende a
ser: desejável e invejável.
O adolescente se importa muito com a aceitação externa, se é desejável, bonito. Esta é uma
época de fragilidade da autoestima, onde pode ocorrer depressão e até suicídio. Não recebe
olhar apaixonado que tinha na infância e sente falta de palavras que o incluam no mundo
dos adultos. A insegurança é um traço desse período da vida.
Mason pede à mãe para acampar na casa de um colega. Bebem, quebram madeiras
medindo força, atiram um disco de uma serra numa madeira. Um deles não quer beber
cerveja e sofre bullying, falam de sexo e Mason mente que já ¨transou¨.
Em Adolescente Normal, vimos que o adolescente precisa do grupo para sentir-se
pertencendo. Procura pertencer a um grupo que se identifique e, às vezes faz qualquer
coisa para se identificar. A dependência que tinha dos pais, volta-se para o grupo, desejo de
estar entre os iguais. Em geral, os grupos têm um líder que é obedecido cegamente pelos
adolescentes que desejam ali permanecer.
Observa-se a exogamia, pois o adolescente busca outros grupos fora da família. E é positivo
quando os pais aceitam esta autonomia.
Calligaris coloca que quando o adolescente é invisível, não reconhecido em casa, na família,
pode buscar as gangues. Praticam destruições e outras transgressões em grupo. O pai
pergunta a Samanta se ela tem namorado, fala sobre gravidez precoce. Mason e Samanta
ficam envergonhados com a conversa.
Anna Freud (1986) fala sobre a relação física e psíquica: ¨o processo fisiológico que marca o
advento da maturidade física sexual é acompanhado pela estimulação dos processos
instintivos (pulsão), a qual transportada para a esfera psíquica na forma de um influxo da
libido (124).
Além das mudanças biológicas, o processo de adolescência é influenciado, pela época, pela
criação, pela cultura, pelo contexto social, etc.
A puberdade e a adolescência, segundo Anna Freud (1986 0), não são a causa um do outro,
podem aparecer simultaneamente ou não. A puberdade abrange as transformações físicas e
hormonais dos jovens, como a menarca, a primeira ejaculação, o aparecimento dos
caracteres secundários.
A reedição do conflito edípico ocorre em um corpo e um psiquismo diferentes do da
infância. A consumação do incesto torna-se uma possibilidade real, o que gera mais tensão,
angústia e maneiras defensivas do adolescente.
No ensino médio, dedica-se a fotografia, passa muito tempo na sala escura de fotos. Seu
professor o chama, alertando-o que precisa dedicar-se a todas as matérias.
O adolescente ainda está construindo a temporalidade. A noção do tempo não está clara, a
organização mental do tempo não está construída. Pode passar longos períodos fazendo o
que gosta, mas as coisas que acha inúteis não são incluídas no seu tempo. Nem sempre vai
fazer só o que quer, tem que fazer escolhas, pois está construindo uma identidade. O
critério do que é bom ou não, prazeroso ou não é frágil e sem conteúdo. Exercita sair do
critério prazer x desprazer e vai descobrindo o critério de conteúdo que precisa de
argumento, pensamento e raciocínio. O critério de conteúdo é necessário para a tolerância
a frustrações.
Mason viaja com uma amiga e acabam namorando, mas ela tem outro namorado. Quando
se separam ele fica muito triste e frustrado. Nestas cenas percebemos que Mason
relaciona-se de forma narcisista com a namorada, entrega-se totalmente ao outro sem
investir em si. Idealiza a namorada, está apaixonado. Existe um desequilíbrio, pois não se
contempla. Enquanto não se contempla, não enxerga o outro e acaba fazendo mal ao outro,
vive uma relação idealizada, está em contato com o “lago de Narciso”. Para construção do
amor precisa existir um equilíbrio do investimento em mim e no outro.
Na saída de casa para a faculdade, a mãe de Mason vê o quanto o “ninho” ficou vazio. Mas
o filho estava com vontade de ficar longe de casa. Não sabia se a faculdade lhe daria um
sentido de vida, pois sua mãe era confusa e bagunçada depois que fez faculdade.
Ao chegar na faculdade, faz uma trilha com os colegas. “Curta o momento, o momento é o
que te curte, é sempre o agora”, nessa frase do final do filme, percebemos a moratória
falada por Erik Erikson e Calligari.
Não temos rituais de passagem para idade adulta em nossa cultura, mas o adolescente
interpreta a vontade do adulto. A sociedade globalizada e individualista contemporânea,
reprime a entrada do adolescente na vida adulta, não o reconhece. Ao mesmo tempo, o
adulto busca seu ideal de vida na liberdade da adolescência. O adulto expressa consciente
ou inconscientemente ao jovem, o ideal de rebeldia, liberdade sem responsabilidade e
ideias transgressoras. E o adolescente tem a capacidade de fazer essa leitura no adulto.
Ocorre uma retroalimentação, o adulto dá uma moratória ao adolescente e continua com
seu ideal de liberdade adolescente. E essa relação é incentivada e sustentada por um
marketing e mídia de consumo desenfreado, com valores líquidos e fugazes.
BIBLIOGRAFIA
ABERASTURY, Arminda; KNOBEL, Maurício- Adolescência Normal- cap. 1 e 2