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CORAM DEO

1CO 10:31

Coram Deo é uma expressão teológica em latim elaborada no século XXI durante a
reforma protestante. No catolicismo medieval era muito comum a ideia de
compartimentar a vida entre o religioso e o não religioso, então estar na presença de
Deus era sinônimo de ir ao culto/missa ou que o serviço que agrada a Deus é ir ao
monastério e abraçar o sacerdócio, ser um padre, e dessa forma o trabalho do
açougueiro, do sapateiro, do artesão e da mulher do lar eram seculares, secundários
e sem valor espiritual. A distorção da verdade promoveu um tipo de espiritualidade
empobrecida, fraca que não conseguia conectar a mensagem do Evangelho com a
vida. Foi contra essa profanação que os reformadores protestaram afirmando que
todos nós vivemos na presença de Deus. Portanto devemos viver para glória de Deus
por meio do que somos e do que fazemos. Como ensinou o apóstolo Paulo:
“Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para
a glória de Deus”. (1 Coríntios 10.31)

O termo em si significa “diante da face de Deus”, o chamado para um “estilo de vida”


Coram Deo é para viver abundantemente e eternamente diante de Deus e para a
glória Dele, visando o futuro eterno com Ele. Devemos entender nosso propósito e a
importância que é o dom da vida, esta que é para Ele, diante Dele e por Ele.
(Romanos 11:36)

Entender e viver Coram Deo é simples se você entende que carrega o Autor da vida
dentro do seu ser. O conteúdo e objetivo teológico por trás desta expressão são
profundos e tem como objetivo primário promover a consciência de que a vida cristã
é, essencialmente, viver na presença de Deus.

"A comunhão de estar perto de Deus deve tornar-se realidade, na realização plena e
vigorosa da nossa vida. Deve penetrar e dar cor aos nossos sentimentos, nossas
percepções, nossas sensações, nossos pensamentos, nossa imaginação, nossa
vontade, nosso agir, nosso falar. Não deve colocar-se como um fator estranho em
nossa vida, mas deve ser a paixão que inspira por toda existência."
- Abraham Kuyper
Coram Deo x Carpe Diem
O termo Carpe diem se popularizou quando o império romano estava em decadência;
o sentido básico desse termo é: “vamos aproveitar tudo hoje porque amanhã pode
não sobrar nada!” é como se fosse aquela frase: nada é errado se te faz feliz. By:
Diabo. O real sentido dessa expressão é a promoção de uma vida desregrada, anti-
deus e promiscua que não leva em conta a perspectiva do eterno: “o real é o que
temos agora”

“Colha o dia, confia o mínimo no amanhã.

Não perguntes, saber é proibido, o fim que os deuses darão a mim ou a você.”

dizia Horácio - no Livro I de “Odes”, em que aconselha a sua amiga Leucone na


frase: “…carpe diem, quam minimum credula postero”. Uma tradução possível para a
frase seria “…colha o dia de hoje e confie o mínimo possível no amanhã”.

Sendo assim, o que me proíbe de assassinar alguém que eu não gosto hoje? Por que
não abusar de pessoas? No final das contas eu estou somente aproveitando o meu
dia e fazendo aquilo que eu quero!

Somente uma passagem é necessária para refutar essa “filosofia de vida” ➝ “Tenham
cuidado com a maneira como vocês vivem; que não seja como insensatos, mas como
sábios, aproveitando ao máximo cada oportunidade, porque os dias são maus.
Portanto, não sejam insensatos, mas procurem compreender qual é a vontade do
Senhor” (Efésios 5:15-17)

Já o Coram Deo vem nos mostrar que toda a nossa vida se passa diante Deus.
Quando trabalhamos, quando comemos, quando bebemos, quando criamos nossos
filhos, quando estamos no nosso momento de lazer e quando estamos na igreja. Em
outras palavras Coram Deo é a diferença que a verdade da morte e ressurreição de
Jesus faz na sua vida na segunda feira de manhã. Essa expressão nos leva a refletir
se temos sido durante a semana a pessoa espiritual que aparentamos ser no domingo
à noite na igreja.

Muitos cristãos querem misturar o Coram Deo com o Carpe Diem; pensam assim:
“Ah, primeiro quero fazer isso, isso e aquilo, conquistar tal e tal coisa, depois vivo a fé
em Cristo…” ou então, “quando eu tiver mais velho vou me comprometer melhor
com a fé em Cristo…” é uma grande ilusão e armadilha para sua alma pensar assim. A
Palavra diz que Deus trará juízo sobre todas as nossas atitudes (Eclesiastes 12:13-14).

Por que você está fazendo o que está fazendo? Qual a grande ideia da vida
cristã?

Viver a vida inteira na presença de Deus é entender que absolutamente TUDO o que
estamos fazendo e onde quer que estejamos fazendo isto, estamos agindo debaixo
do olhar fixo de Deus. Deus é onipresente, em todo o universo não há nenhum lugar
que seja tão remoto que possa escapar do Seu olhar. Entendendo isso, estamos
cientes da Sua soberania.

Quando Saulo é confrontado pela glória luminosa de Jesus no caminho de Damasco


sua pergunta logo de imediato foi: “Quem é, Senhor?”. Saulo não tinha certeza que
Quem estava falando com ele, mas tinha certeza de que quem estava falando, era
soberano sobre ele. Viver sob a soberania envolve o reconhecimento de que não há
um objetivo maior do que oferecer honra ao Senhor. Viver sob a soberania significa
que nossas vidas devem ser um sacrifício vivo, dádivas oferecidas em um espírito de
adoração e gratidão.

R. C. Sproul.

A de mulher de Tito 2 e o Coram Deo

“Semelhantemente, as mulheres mais velhas devem viver de modo digno. Não devem
ser caluniadoras, nem beber vinho em excesso; antes, devem ensinar o que é bom.
Devem instruir as mulheres mais jovens a amar o marido e os filhos, a viver com
sabedoria, a viver com sabedoria e pureza, a trabalhar no lar, a fazer o bem e a ser
submissas ao marido. Assim, não envergonharão a Palavra de Deus” (Tito 2:3-5)

Meninas, como que iremos viver de modo digno se não colocarmos Deus como o
centro de nossas ações, palavras e pensamentos? Como vamos ensinar o que é bom?
Como iremos ensinar nossos filhos e mulheres mais jovens a viverem com sabedoria
e pureza se nós mesmas não vivemos? É por isso que chamamos o Coram Deo de
essência do cristianismo. Quando vivemos para Ele e por meio Dele as outras coisas
vem á nós por estarmos centralizadas em Cristo. Nossas atitudes e vontades alinham
com a vontade do Pai e a Sua vontade é que sejamos cada dia mais parecidas com a
mulher de Tito 2.

Quanto mais você pôr em prática o Coram Deo mais você falará e
parecerá com Jesus.

Falai de Deus com a clareza


da verdade e da certeza:
com um poder
de corpo e alma que não possa
ninguém, à passagem vossa,
não O entender.
Falai de Deus brandamente,
que o mundo se pôs dolente,
tão sem leis.
Falai de Deus com doçura,
que é difícil ser criatura:
bem o sabeis.
Falai de Deus de tal modo
que por Ele o mundo todo
tenha amor
à vida e à morte, e, de vê-Lo,
O escolha como modelo superior.
Com voz, pensamentos e atos
representai tão exatos
os reinos seus
que todos vão livremente
para esse encontro excelente.
Falai de Deus.
– Cecília Meireles

É brilhante o modo como Cecília Meireles descreve o processo rico de conhecer e


fazer Deus conhecido, eu acho incrível. Nesse poema cabe tanta coisa, mas
principalmente a ideia e reconhecimento de Deus como bem supremo. Trata-se de
características evidentes daquele que foi encontrado por Jesus. A proposta ao leitor
mais sensível parece ser o de um evangelismo Coram Deo na medida em que sinaliza
uma mensagem poderosa o suficiente para alcançar todas as coisas, todos os tipos de
pessoas, em todos os tipos de situações, mas não sem antes atingir aquele que se
coloca no lugar do Falai, aquele que se torna o porta voz da mensagem. E se falamos
de conhecer uma pessoa, conhecer é inevitavelmente relação. Estar em dinâmica.
Em atividade de sair de si, aprender do Outro e voltar a si, em um movimento de eu e
tu que paulatinamente se transforma em intimidade e, com o tempo, modelação de
si mesmo e do entorno. Amar a Deus, por exigência, é sempre a tradução de uma
experiência de todo o coração, mente, entendimento e com todas as forças, como
ensinou Jesus ao ser interrogado por escribas (Lucas 10:27). Como não poderia ser
diferente, a cosmovisão cristã no diz de um amor fundamentalmente consumado
pela ação e não apenas pela emoção. E é ação em todos os níveis, sobre todos os
domínios e em todas as dimensões. Então, falemos de Deus! Porque é difícil ser
criatura, são urgentes os encontros e temos um Deus como o maior interessado e
benfeitor desse empreendimento. No entanto, ao falar de Deus, nos lembremos que
nós mesmos seremos os nossos primeiros ouvintes e tanto melhor será se houver já
de nossa parte a humildade e integridade e isso vai acontecer se colocarmos o Coram
Deo em prática e meditarmos em Romanos 11:36.

A forma como você gasta o seu dinheiro deve glorificar a Deus, a forma como você se
comporta no transito deve ser para glorificar a Deus, se Cristo é Senhor da sua vida ele
também é Senhor da sua família, do seu negócio, do seu trabalho, das suas relações. O
cristão não tem uma “vida secular” por que onde quer que ele esteja Deus estará lá!
Você vai estar diante de Deus quando cortar os legumes pro almoço, você vai estar
diante de Deus quando assistir uma aula na faculdade, você vai estar diante da face de
Deus no seu almoço no restaurante universitário, você vai estar diante da face de Deus
quando pegar seu ônibus pra voltar pra casa. Estamos 24 horas, 7 dias por semana
vivendo Coram Deo – diante da face de Deus – e aqui quero chamar a atenção em
como estamos nos comportando diante dessa verdade. Meninas, estamos nesse
mundo mas não somos desse mundo (frase clichê, eu sei), devemos viver com esse
pensamento e eu não vejo outra forma de fazermos isso se não glorificando a Deus em
qualquer coisa que fazemos, FALAMOS E PENSAMENTOS (A ênfase aqui, porque
muitas vezes esquecemos que o que falamos e pensamos também tem a ver com isso).
Por fim, eu deixo uma reflexão: Você está vivendo conscientemente debaixo da
presença de Deus? Estamos seguindo 1 Coríntios 10:31? O que você tem feito está
glorificando o nome de Jesus? Não quero que você apenas leia tudo isso e concorde
com as coisas escritas, mas que te leve à meditação e mudança.

Amo vocês. Com carinho, Amanda.


”Maria, porém, guardava todas estas palavras, meditando-as no coração.’ (Lucas
2.19). Permita sua memória guardar tudo sobre Cristo que você já sentiu, soube ou
acreditou, e deixe sua afeição segurá-lo para sempre. Ame a pessoa de seu Senhor!
Traga o vaso de alabastro do seu coração, mesmo se estiver quebrado, e deixe que
todo o unguento precioso de sua afeição seja derramado aos Seus pés perfurados.
Deixe seu intelecto se exercitar sobre o Senhor Jesus. Medite sobre o que leu: não se
detenha na superfície; mergulhe nas profundezas. Não seja como a andorinha que toca
o riacho com sua asa, mas como o peixe, que penetra a onda mais profunda. Fique com
seu Senhor: não deixe que Ele seja para você como o andarilho que apenas pernoita,
mas constranja-o, dizendo: ‘Fica conosco, porque já é tarde, e o dia já declina.’ Segure-
o e não o deixe ir embora.

A palavra ‘ponderar’ significa pesar. Prepare-se para o saldo do julgamento. Ah, mas
onde estão as balanças que podem pesar Cristo? ‘As ilhas são como pó fino que se
levanta’. – quem o levantará? ‘Pesou os montes em romana e os outeiros em balança’;
- em que balança deveremos pesá-lo?

Que assim seja, se seu entendimento não consegue compreender, deixe sua afeição
apreender; e se seu espírito não pode rodear o Senhor Jesus sob o domínio do
entendimento, deixe que o abrace nos braços da afeição.”

– Charles H. Spurgeon

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