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Resumo:
Recentemente, foi introduzido na ordem jus mobiliária angolana, pelo Decreto Legislativo Presidencial n.º
1/20, de 6 de Janeiro, o regime jurídico dos Títulos de Participação como forma alternativa de
financiamento das empresas públicas e das sociedades de capitais públicos, o que, em face do Programa de
Privatizações em execução, se coloca a questão de saber se, com a emissão deste instrumento financeiro, o
Estado pretende reduzir a sua intervenção directa na economia ou, pelo contrário, quer a manter a robustez
do Sector Empresarial Público. Para responder a esta questão, procura-se, neste escrito, entender as razões
subjacente para a introdução dos Títulos de Participação no mercado de valores mobiliários angolano.
1
Estas são as questões que, neste escrito, pretendemos reflictir, mas para o efeito
será antes necessário proceder a caracterização das EP e apresentar os tradicionais meios
financiamento empresarial, no qual daremos destaque aos títulos de participação.
1
SICHERLA, Pavle. “Conceitos de Empresa Pública em Diferentes Sistemas Socioeconómicos” In Revista
de Administração Pública, Rio De Janeiro, 16 (4):53-70, Out./Dez. 1982, p. 55.
2
SCHWIND, Rafael Wallbach. O Estado Acionista – empresas estatais e empresas privadas com
participação estatal, São Paulo: Almedina, 2017, pp. 49 a 74. Cfr. FIDALGO, Carolina Barros. O Estado
Empresário, São Paulo: Almedina, 2017, pp. 221 a 233.
2
Em Angola, as EP têm o seu regime jurídico definido na Lei nº 11/13, de 3 de
Setembro – Lei de Bases do Sector Empresarial Público, (doravante LBSEP), que as
define como sendo pessoas colectivas dotadas de personalidade jurídica e com autonomia
administrativa, financeira e patrimonial, criadas pelo Estado, com capitais próprios ou
fornecidos por outras entidades públicas, destinadas à produção e distribuição de bens e
a prestação de serviços, tendo em vista a prossecução dos interesses públicos e o
desenvolvimento da economia nacional.
As EP são regidas, para além da LBSEP, pelo diploma que aprova o seu estatuto
e, subsidiariamente, pelas normas de Direito Privado, desde que não contrariem o
interesse público (artigo 8.º da LBSEP).
No âmbito da organização, as EP orientam-se pelos princípios da autonomia de
gestão financeira, rentabilidade económica e liberdade de associação (artigo 19.º da
LBSEP). E quanto à actividade económica e financeira, as EP caracterizam-se por ter:
objecto social próprio; capital estatutário; património social próprio; contabilidade
própria; receitas resultantes da sua actividade, da exploração do seu património, das
dotações ou dos subsídios concedidos pelo Estado, das doações ou legados que lhe sejam
destinados; possibilidade do recurso ao crédito; e obrigações fiscais 3.
Como para qualquer realidade empresarial, uma das questões que se tem colocado
em sede das EP é relativa ao financiamento das suas actividades (nas suas diferentes fases,
de arranque ou de expansão) e, como resposta, tem-se entendido que, enquanto estrutura
empresarial e não obstante a injecção de capitais feita pelo seu proprietário (o próprio
Estado) com dinheiro que sai dos fundos públicos, as empresas do Estado, tais como as
empresas privadas, também devem procurar a melhor forma de financiamento, com base
naquela fonte que lhe ofereça um plano de pagamento mais adequado às suas
necessidades e capacidades, e que, por isso, lhe permita assegurar uma estrutura de
financiamento sustentável a médio e longo prazo. Mas, para o efeito, é necessário que se
inteire sobre: (i) os mecanismos de financiamento existentes e disponíveis; (ii) a melhor
estratégia, dada a natureza e dimensão do negócio; e (iii) a sua capacidade para fazer face
3
Vide artigos 20.º e 21.º da LBSEP.
3
às suas obrigações financeiras. Estes pontos permitem que, no âmbito da procura da
melhor fonte de financiamento, se pondere todas as possibilidades disponíveis e os
respectivos custos efectivos, por exemplo, taxas de juro nominais e todas as
comissões/encargos adicionais.
Antes de nos atermos sobre os meios de financiamento empresarial, julgamos
necessário dedicar alguma atenção para a função financeira em uma estrutura empresarial
e que abrange as tarefas relacionadas com a gestão dos recursos financeiros, a sua
obtenção e utilização mais convenientes. Na verdade, a função financeira está relacionada
com a (i) angariação de fundos no mercado financeiro, (ii) a sua aplicação na actividade
que se desenvolve, (iii) a gestão dos fundos gerados pela actividade por via do
reinvestimento dos mesmos ou do reembolso aos credores e/ou da distribuição de fundos
pelos investidores.
Com efeito, a função financeira deve (i) assegurar o equilíbrio de financiamento
dos capitais próprios de modo a transmitir confiança aos potenciais investidores externos
aos negócios; (ii) assegurar uma estrutura financeira saudável, sem demasiados encargos
financeiros, por exemplo, resultantes de juros de empréstimos; (iii) verificar o equilíbrio
entre os prazos de financiamento e a durabilidade do investimento.
Tradicionalmente, para financiamento das suas actividades, as empresas (de
capitais privados ou públicos) recorrem ao financiamento dos seus proprietários ou ao
empréstimo bancário.
Relativamente ao financiamento feito pelos seus proprietários, considerados como
financiamento interno ou autofinanciamento, as EP são financiadas com recursos vindos
dos fundos públicos e as empresas privadas são financiadas pelos seus sócios por meio
de prestações acessórias, prestações suplementares e suprimentos.
Quanto ao financiamento bancário, por ser uma fonte externa de financiamento,
encerra um conjunto de riscos cuja análise e determinação é feita por uma instituição de
crédito que terá em conta o mérito do projecto, o histórico da empresa e dos seus
proprietários junto da instituição de crédito, as garantias reais e pessoais concedidas e
mesmo o montante da sua poupança que se dispõe a investir.
Geralmente, as fontes alternativas de financiamento das empresas, quer sejam
públicas ou privadas, podem ser agrupadas em:
(i) Capital Próprio - Corresponde ao património líquido da empresa que é
composto é pelo capital social (montante das entradas, fornecidas pelos
sócios ou acionistas da empresa, para o início da actividade da sociedade);
4
pelas Reservas (resultantes da retenção de parte dos lucros pela empresa
ou de certas operações como a reavaliação do activo); pelas Prestações
suplementares (representam um reforço do Capital Próprio da sociedade,
contribuindo para a capitalização da empresa e para a proteção dos
credores); e pelos Resultados transitados (resultados, lucros ou prejuízos
que vão sendo acumulados ao longo dos exercícios económicos da
empresa. No que respeita aos lucros, acumula aqueles que não foram
distribuídos aos sócios, podendo, contudo, vir ainda a ser distribuídos) 4;
(ii) Quase Capital - Tipo de financiamento que permite o aumento do capital
próprio revertendo-se, posteriormente, em capital alheio. Por este facto é
designado também por capital reversível e é classificado entre capital
próprio e dívida cujo retorno para o investidor se baseia
predominantemente nos lucros ou prejuízos da empresa, não sendo
garantido em caso de incumprimento, e que permite financiar as empresas
através de aumentos de capital. Com o aumento de capital, a empresa irá
sofrer um efeito positivo nos rácios de autonomia financeira, contribuindo
assim para a melhoria do acesso ao crédito. As empresas não têm custos
financeiros com este tipo de operação, ficando apenas sujeitas ao
pagamento de dividendos no caso de terem resultados líquidos. As
operações de investimento neste capital serão revertidas a médio prazo,
com a transformação das participações em empréstimos a médio e longo
prazo, uma vez a atingidos os objetivos de negócio e capitalização
definidos pelas empresas 5.
(iii) Capital Alheio - Todo o tipo de financiamento assegurado por terceiros e
que, por isso, têm uma taxa de remuneração e planos de reembolso
associados que podem ser de curto, médio ou longo prazo.
O financiamento através de capitais alheios pode ser feito no mercado bancário
ou no mercado de capitais. No mercado bancário, é feito através do empréstimo bancário
sob a forma de (i) Crédito para Investimento, materializado em crédito clássico de médio
e longo prazo, locação financeira, microcrédito; (ii) Crédito Protocolado, através de
linhas de crédito protocolado; (iii) Crédito para Gestão de Tesouraria, materializado no
4
OLIVEIRA, Ana Perestrelo de. Manual de Corporate Finance, Coimbra: Almedina, 2015, p. 38 a 64.
5
OLIVEIRA, Ana Perestrelo de. Manual de Corporate Finance, op. cit., p. 149 a 170.
5
crédito clássico de curto prazo, conta corrente (facilidade de descoberto, cartão de
crédito), crédito stock, Factoring e confirming, letras e livranças, garantias bancárias,
crédito documentário6.
No mercado de capitais, para além das acções e das unidades de participações de
fundos de investimentos que representam meios de financiamento através de capitais
próprios, as empresas também se financiam através de capitais alheios, mediante emissão
de títulos como, por exemplo, as obrigações, o papel comercial e os títulos de participação
ou outros produtos híbridos (nomeadamente acções preferenciais, obrigações com
warrants e obrigações convertíveis), que contêm uma parte de capital próprio e outra de
dívida. Estes instrumentos constituem para as empresas uma oportunidade de encontrar
uma fonte de financiamento alternativa ao tradicional recurso ao financiamento bancário
de curto, médio e de longo prazo.
3. Títulos de Participação
6
OLIVEIRA, Ana Perestrelo de. Manual de Corporate Finance, Op. Cit., p. 119 a 128.
7
CORDEIRO, A. Barreto Menezes. Manual de Direito dos Valores Mobiliários, Coimbra: 4.ª Edição,
Almedina, 2018, p. 175.
8
CÂMARA, Paulo. Manual de Direito dos Valores Mobiliários, Coimbra: 4.ª Edição, Almedina, 2018, p.
157. Cfr. CORDEIRO, A. Barreto Menezes. Manual De Direito Dos Valores Mobiliários, op. cit., p. 175.
6
financiamentos sem, no entanto, alterar a sua estrutura de capital ou o seu poder de
controlo9.
Em Portugal, por influência francesa, os títulos de participação foram introduzidos
em 1985, através do Decreto-Lei n.º 321/85, de 5 de agosto 10, como meio de
financiamento para as EP e as sociedades anónimas pertencentes maioritariamente ao
Estado, direta ou indiretamente.
Actualmente, o capítulo 10 da Les valeurs mobilières émises par la SA de França,
consagra os títulos de participação como um empréstimo tendencialmente perpétuo,
concedido a EP ou detidas maioritariamente pelo Estado, e que confere ao seu detentor o
direito a uma remuneração com duas componentes: uma fixa e outra variável que é
calculada como uma percentagem do valor nominal do título de participação 11.
9
MLLE AMROUCHE, Kamila, Le Financement Des Sociétés Par Actions Par Émission De Valeurs
Mobilières, Faculté De Droit Da Université Mouloud Mameri Tizi-Ouzou, 2009, P. 81.
10
Que foi consolidada com as alterações introduzidas pela Lei Nº 407/86, de 6 de Dezembro, pelo Decreto-
Lei n.º 229-A/88, de 4 de Julho, pelo Decreto-Lei n.º 311/89, de 21 de Setembro e pelo Decreto-Lei n.º
213/91, de 17 de Junho
11
Vide L'article Premier de La Loi n.° 2000-35 du 21 Mars 2000.
12
Os emitentes, no processo de admissão ou de oferta pública de valores mobiliários, devem prestar um
conjunto de informações à sociedade gestora do mercado regulamentado (SGMR), à comissão do mercado
7
que apenas em parte, devendo o referido documento ser previamente aprovado pela CMC,
e de conter os balanços relativos aos três últimos exercícios e demais indicações impostas
pelo n.º 3 do artigo 21.º do RJTP, bem como as demais indicações legais e regulamentares
aplicáveis ao prospecto.
Relativamente ao reembolso, o RJTP estatui que os títulos de participação apenas
sejam reembolsáveis em duas situações bem definidas: (i) por decisão do emitente,
decorridos 10 anos sobre a sua liberação (n.º 1 do artigo 13), salvo se os títulos forem
utilizados para a subscrição de acções em aumentos de capital de uma empresa com
domínio público, justificando-se aqui o reembolso antecipado (n.º 1 do artigo 14.º) ou (ii)
se as entidades emitentes entrarem em falência, mas, nesse caso, os participantes serão
reembolsados somente depois do pagamento de todos os outros credores – Vide alínea j)
do n.º1 do artigo 10.º e n.º 2 do artigo 13.º do RJTP.
É de realçar o conjunto de direitos dos participantes, em primeiro lugar, o direito
à remuneração anual e que é composta por duas partes, uma independente/fixa e outra
variável em função dos resultados da empresa. De acordo com os n.º 3 a 6 do artigo 11.º
do RJTP, (i) a parte fixa é calculada aplicando a uma fracção do valor nominal do título
uma taxa predeterminada, invariável ou reportada a um indicador de referência; (ii) a
parte variável é calculada em função dos resultados, do volume de negócios ou de
qualquer outro elemento da actividade da empresa e com referência a uma fracção do
valor nominal do título compreendida entre 20% e 40%; (iii) os resultados da empresa a
atender para o cálculo da parte variável incluem as importâncias que, por força da lei ou
do estatuto, constituem rendimentos atribuíveis aos accionistas, não podendo ser
consideradas como custos as amortizações e provisões efectuadas para além dos máximos
legalmente admitidos para efeitos de imposto industrial; e (iv). o cálculo da parte variável
é efectuado uma vez por ano com base em elementos constantes das contas aprovadas do
exercício anterior ou, se existirem, das contas consolidadas, estas apuradas segundo
critérios a constar das condições da emissão.
de capitais (CMC) e, sobretudo, aos investidores para que estes possam tomar as suas decisões de
investimentos de forma avisada e esclarecida, e aqueles possam desempenhar as suas actividades de gestão
do mercado e de supervisão, respectivemente. MANUEL, Leonildo João Lourenço. Nótulas sobre a
responsabilidade do emitente pelo conteúdo do prospecto, in Revista de Direito das Sociedades e dos
Valores Mobiliários, n.º 7. Maio de 2018, p. 338.
8
Os participantes têm ainda “o direito de tomar conhecimento dos documentos da
empresa em condições idênticas às dos accionistas das sociedades anómimas 13”, de
acordo com artigo 22.º do RJTP.
Outro aspecto a ter em conta, dada a sua importância para a protecção dos
participantes é “o direito de reunir e deliberar em assembleia para salvaguarda dos seus
interesses, bem como eleger o seu representante comum”, conforme as disposições dos
artigos 23.º e seguintes do Decreto Legislativo Presidencial n.º 1/20.
Como se referimos acima, o RJTP, nos seus artigos 6.º e 7.º dispõe que os títulos
de participação “podem ser emitidos por EP e empresas com domínio público” mediante
autorização do titular do departamento ministerial responsável pela área das finanças, sob
proposta da entidade emitente, ouvido o Instituto de Gestão e Participações de Activos
do Estado (IGAPE).
Uma questão que pode aqui ser levantada é relativa à possibilidade de os títulos
de participação serem emitidos pelas sociedades comerciais integralmente privadas ou
com participações públicas minoritárias. Numa primeira impressão, poder-se-ia
responder negativamente, dado que os textos dos artigos citados supra fazem a expressa
identificação dos emitentes bem como dos requisitos prévios para emissão destes títulos.
Ora, tendo a lei fixado de forma inequívoca o seu âmbito de aplicação e dado que a
teleologia de tais articulados normativos não nos dão outra opção seria, talvez, sensato
afirmar que, em conformidade com a intenção normativa do legislador, apenas as
empresas do SEP (precisamente, as EP e as empresas com domínio público) estão
autorizadas a recorrer ao financiamento externo mediante emissão de títulos de
participação.
13
O direito a informação sobre a vida da sociedade vem consagrado, em termos gerais, pela al. C) do n.º 1
do artigo 23.º da Lei das Sociedades Comerciais, o qual se manifesta em três vertentes, nomeadamente, (i)
o direito a informação em sentido estrito, o qual permite que o sócio possa requerer uma resposta verdadeira,
completa e elucidativa sobre a vida societária; (ii) o direito de consulta, que permite ao sócio o exame dos
livros de escrituração e outros documentos descritivos da actividade da sociedade e (iii) o direito de
inspecção, o qual permite a vistoria dos bens da sociedade. No que respeita estritamente aos accionistas, a
Lei das Sociedades Comerciais consagra o direito à informação nos artigos 320.º e seguintes, o qual
compreende, entre outros, o direito mínimo à informação reservado por lei aos accionistas que detenham
pelo menos 5% do capital social. Este direito abrange a consulta (i) dos relatórios de gestão e documentos
de prestação de contas relativos aos três últimos exercícios da sociedade, bem como dos respectivos
pareceres do órgão de fiscalização e do perito contabilista; (ii) das convocatórias, das actas e das listas de
presenças das reuniões das assembleias gerais e especiais dos accionistas e das assembleias dos
obrigacionistas dos últimos três anos; (iii) dos montantes globais das remunerações pagas, nos últimos três
anos, aos membros dos órgãos de administração; e (iv) do livro de registo de acções. VALE, Sofia. As
Empresas no Direito Angolano. Lições de Direito Comercial. Luanda, 2015, p. 553.
9
Mas é de todo legítimo que se indague a respeito de quais seriam as razões
impeditivas à emissão de títulos de participação por parte das sociedades comerciais, pelo
que se deve diligentemente procurar entender as eventuais proibições impostas às
mesmas. Talvez se pense que a proibição de emissão desses títulos pelas sociedades
comerciais pudesse ser fundamentada na necessidade de conferir maior tutela ao
investidor, através da garantia de retorno do dinheiro investido, ou porque simplesmente
o legislador os caracteriza como representativos de dívidas contraídas por empresas do
SEP. Todavia, não nos parece ter acolhimento uma ou outra justificação porque, por um
lado, os riscos inerentes ao investimento em títulos de participação estão também
presentes no SEP, porventura até com maior incidência, atendendo os problemas de
corporate governance com que as empresas do Estado ainda se deparam14. Por outro lado,
o facto de o legislador caraterizar de uma forma certo valor mobiliário não impede que
este adquira uma nova caracterização com o desenvolvimento dos negócios nos
mercados.
Ora, o RJTP foi instituído em Angola com o propósito de “reestruturação
financeira” das empresas do SEP e, por essa razão, o diploma tem aplicação restrita, não
havendo qualquer referência expressa às empresas de capitais inteiramente privados nem
qualquer proibição de as mesmas recorrerem ao financiamento por meio dos títulos de
participação. E é por esse motivo que entendemos não existirem objectivamente
quaisquer razões que impeçam as sociedades comerciais, de modo geral (e até mesmo as
cooperativas) de, no âmbito da sua autonomia privada e na procura de melhores técnicas
de “engenharia financeira”, possam recorrer aos valores mobiliários, precisamente aos
títulos de participação, para fortalecerem os seus capitais e facilitar o exercício da sua
actividade económica em condições viáveis 15.
14
Sobre esta questão Vide MANUEL, Leonildo João Lourenço. Sobre A Independência e a
Responsabilidade dos Auditores Externos face a Terceiro - análise à luz do controlo societário e dos
princípios da governação corporativa, Lisboa: AAFDL Editora, 2020, pp. 61 A 70.
15
Todavia, admitindo-se a emissão dos títulos de participação pelas sociedades comerciais, importa referir
que não se lhes será aplicável o regime jurídico contido no DLP n.º 1/20 (salvo se as partes assim o
quiserem), uma vez que este tem o âmbito de aplicação bem definido, o qual se circunscreve às EP e às
empresas com domínio público (vide artigo 2.º), pelo que, estar-se-á perante uma lacuna legislativa e o
negócio se deverá reger subsidiariamente pelas normas respeitantes às obrigações em geral, bem como as
cláusulas contratuais que as partes estabelecerem no contrato, desde que se conformem às normas
imperativas e aos princípios gerais do direito privado.
10
3.3.Natureza jurídica dos Títulos de Participação
11
de dividendos; a receber uma percentagem do capital social da sociedade, caso esta seja
dissolvida; exercício de voto em assembleia geral (embora, normalmente, seja necessário
deter um número mínimo de acções); a ser informado sobre o desempenho da gestão da
sociedade.
Embora seja notória a proximidade existente entre esses dois instrumentos
financeiros, no entanto, não se confundem, uma vez que as acções conferem direitos de
maior amplitude do que os títulos de participação. Além disso, os fundos decorrentes da
emissão de acções constituem capital próprio da empresa, o que difere dos fundos
oriundos da emissão de títulos de participação, pois, embora possam ser equiparados aos
capitais próprios da sociedade, na verdade, não o são. Eles são, portanto, capitais alheios
como os que resultam da emissão das obrigações.
Então, serão os títulos de participação alguma modalidade de obrigações, uma
espécie deste género? Fazendo uma apreciação das obrigações, enquanto valores
mobiliários, constatamos que são valores mobiliários de duração limitada que
representam uma parte de um empréstimo contraído por uma empresa ou entidade junto
dos investidores.
As empresas que emitem obrigações contraem um empréstimo junto dos
investidores que nelas investem e elas podem ser empresas abertas à subscrição pública,
Estados ou outras entidades públicas ou privadas. Quem subscreve obrigações fica credor
da entidade emitente. O preço das obrigações admitidas à negociação está sujeito a
flutuações no mercado, conforme a lei da oferta e da procura. A rendibilidade obtida
depende do capital garantido, da maturidade, da rendibilidade esperada, e do resgate
antecipado.
As características das obrigações apresentam, em alguns aspectos, afinidade às
dos títulos de participação como, por exemplo, o facto de conferirem aos respectivos
titulares a posição de credor das sociedades emitentes, possuírem ambos os títulos valores
nominais inscritos ou no registo, taxas de juros aplicáveis ao valor nominal, só para citar
essas. No entanto, não obstante haver similitudes, os pontos dissonantes desde logo
sobressaem. As obrigações conferem aos obrigacionistas o direito ao recebimento
periódico de juros durante a vigência do empréstimo e ao reembolso do capital na
respectiva data de maturidade. Os títulos de participação, por seu turno, são apenas
reembolsáveis, em regra, depois de decorridos dez anos sobre a sua liberação ou em
processo de liquidação do emitente, e tem uma remuneração que se compõe de duas
partes, como se fez menção. Por outro lado, os títulos de participação têm os riscos
12
associados atenuados, na medida em que se atribuem aos participantes o direito de
consulta dos documentos da empresa em idênticas condições às dos accionistas das
sociedades anónimas, além de o representante comum dos participantes poderem praticar
actos de gestão em defesa dos interesses destes. Há ainda que sublinhar a figura do perito
contabilista que possui competências idênticas às do órgão de fiscalização da empresa e
às dos auditores. Assim sendo, pode concluir-se que os títulos de participação não são
uma modalidade de obrigações, tão-pouco com ela se confundem.
Entretanto, fica ainda por esclarecer a real natureza dos títulos de participação.
Quanto a isto, já se pôde notar que os títulos de participação se aproximam, em alguns
aspectos, tanto às acções quanto às obrigações, mas possuem outras características que os
separam de umas e de outras, pelo que se deve concluir que os títulos de participação têm
natureza híbrida. É isto mesmo que os seus elementos caracterizadores permitem dizer,
entendendo-se que a natureza jurídica dos títulos de participação é complexa, com uma
remuneração que se assemelha não só à posição financeira do credor, mas também à
posição jurídica do detentor de participação social (sócio), na medida em que a parte fixa
é reconduzível à remuneração das obrigações e a variável à das acções.
Diferente dos instrumentos financeiros tradicionais, os títulos híbridos, como o
nome sugere, combinam algumas das características dos títulos de dívida e de património.
Exemplos de títulos híbridos incluem bônus de subscrição de ações (opções emitidas pela
própria empresa que dão aos acionistas o direito de comprar ações dentro de um
determinado período de tempo e a um preço específico), títulos conversíveis (títulos que
podem ser convertidos em ações ordinárias da empresa emissora) e ações preferenciais
(acções da empresa cujos pagamentos de juros, dividendos ou outros retornos de capital
possam ser priorizados sobre os de outros acionistas).
Com isto, deve-se dizer que os títulos de participação são valores mobiliários de
natureza híbrida e que se distingue dos outros instrumentos financeiros pelas
características que apresentam, conforme se demonstrou acima. São instrumentos
adoptados pelo Estado angolano para permitir que empresas integradas SEP sejam
reestruturadas e captem financiamentos estáveis, com a possibilidade de os adquirentes
poderem, a longo prazo, converter esses títulos em participação efectiva no capital das
mesmas.
13
3.4.Os títulos de participação e as privatizações
16
MANUEL, Leonildo João Lourenço. “Privatizações Via Mercado de Acções: Que Desafios?” In Revista
De Direito Comercial, 2018, P. 771-798. FERREIRA, Helena Prata. “As Privatizações Das Empresas
Estatais Angolanas” In Direito dos Valores Mobiliários E Dos Mercados De Capitais (Coordenação De A.
Barreto Menezes Cordeiro e de Francisco Satiro), Coimbra: 2019, P. 280.
17
Relatório Publicado pela Comissão do Mercado de Capitais (CMC), Disponível Em
Https://Www.Cmc.Gv.Ao/Sites/Main/Pt/Lists/Cmc%20%20publicaesficheiros/Attachments/1350/Relat%
C3%B3rio_Consulta%20p%C3%Bablica_05.06.19.Pdf.
14
poderem ser reembolsados nas situações já mencionadas supra, servem ainda de
mecanismo de reforço de capitais próprios das EP. Daí a questão de saber como, então,
conciliar isto com a “necessidade de desinvestimento em EP e/ou empresas com domínio
público não rentáveis”.
Com relação à questão, são notórios os interesses do Estado quando introduz os
títulos de participação como instrumento financeiro à disposição das EP e das empresas
de domínio público, pois o preâmbulo do RJTP refere expressamente a intenção de
reduzir a intervenção do Estado de modo directo na economia, com a consequente
redução do SEP.
Acontece que tais empresas, como constata Ulica Bravante 18, são continuamente
confrontadas com sérios problemas relacionados com o dever de prosseguir uma gestão
eficiente, não sendo, muitas vezes, capazes de acomodar a sua gestão económica a um
aproveitamento racional dos meios humanos e materiais de que dispõem, minimizando
os custos de produção, de modo a poder responder na maior escala possível às
necessidades que se dispõem satisfazer, e isto devido a certos vícios institucionais que
enfermam o SEP tornando-o ineficiente.
O problema da ineficiência do SEP está intrinsecamente ligado às dificuldades
relacionadas com a compreensão dos objectivos empresariais, nomeadamente o velho
problema/dilema da prossecução do interesse público versus actuação de acordo as regras
de mercado, ou seja, maximização do lucro, problemas estes que são postos em relevo
pela “teoria da agência19”.
Com efeito, ainda nos dizeres de Ulica Bravante, uma empresa do SEP “apenas
poderá responder com eficiência aos objectivos que dela esperamos se lhe for permitida
actuar como tal, como verdadeira empresa, caso contrário a EP corre o risco de se tornar
uma casa sem dono, uma empresa sem empresário, em que as decisões são resultantes de
um confuso processo de múltipla interferência política”20.
Por outro lado, não obstante estarem previstos órgãos de fiscalização com
competências específicas (vide alínea b) do artigo 45.º e artigo 49.º da LBSEP), a verdade
18
BRAVANTE, Ulica Ercílio Lopes. Sector empresarial do estado angolano: análise e perspectivas.
Dissertação apresentada à faculdade de direito da Universidade de Coimbra no âmbito do 2º. Ciclo de
estudos em direito (conducente ao grau de mestre), na área de especialização em Ciências Jurídico-
empresariais/menção em Direito Empresarial. Coimbra, 2016, pp.76-77.
19
Sobre esta questão Vide MANUEL, Leonildo João Lourenço. Sobre A Independência e a
Responsabilidade dos Auditores Externos face a Terceiro - análise à luz do controlo societário e dos
princípios da governação corporativa, Op. Cit. pp. 61 a 70. Vide BRAVANTE, Ulica Ercílio Lopes. Sector
empresarial do estado angolano: análise e perspectivas. Op., Cit.. Coimbra, 2016, p. 77.
20
BRAVANTE, Ulica Ercílio Lopes. Sector Empresarial Do Estado Angolano... P. 77.
15
é que a fiscalização praticamente não funciona pelo facto de algumas das pessoas
nomeadas para esses órgãos não serem, normalmente, independentes da estrutura
administrativa do Estado.
A avaliação do desempenho é outro factor que joga em desfavor da eficiência das
sociedades estatais e tem agravado, ao longo do tempo, o seu ciclo de insucessos, pois
apesar da sua previsão, no artigo 32.º da LBSEP para administradores de EP, na prática
não se faz, o que concorre para que gestores menos eficientes continuem a administrar as
empresas públicas 21.
Com este cenário, torna-se bastante compreensível a actual situação caótica em
que se encontram grande parte das empresas do sector público e da economia angolana
de um modo geral, sendo de considerar que existe ao nível do sistema bancário uma maior
apetência em canalizar os recursos por si captados para o financiamento do Estado e este,
por sua vez, financia as EP, em detrimento do sector privado e das famílias, acarretando
assim consequências nefastas (directas e indirectas) tanto ao nível da captação de
investimento quanto para geração de empregos.
Sendo, em Angola, o sector empresarial público o espaço privilegiado para
financiamento bancário e, de maneira que se faça uma melhor afectação, para que este
financiamento encontre o seu uso alternativo mais produtivo e, consequentemente,
constitua uma ferramenta para a redistribuição e diversificação da economia, é necessário
que se mude de paradigma, por exemplo, a melhoria do desempenho económico das
empresas do SEP. Mas, para o efeito, é necessário que se: (i) recrute gestores públicos
com base na meritocracia, “profissionalizando-se” assim a actividade de administração;
(ii) promova a celebração de contratos-programa entre o Estado e as EP, nos quais sejam
claramente definidas as metas que os gestores públicos devem atingir; (iii) realize a
avaliação do desempenho dos administradores, com base em critérios pré-definidos; e (iv)
remunere os administradores tendo por base o seu desempenho ao longo de cada exercício
económico22.
Retornando a questão de saber se, com os títulos de participação, o Estado quer
reduzir a sua intervenção directa na economia ou pretende antes a robustez do sector
21
MANUEL, Leonildo João Lourenço. Revisitando o Governance no Sector Empresarial Público
Angolano: Que Desafios?, Working Paper No. 3/2019, Governace Lab,
Disponível em: https://governancelab.org/wp-content/uploads/2019/10/WP_32019_Revisitando-o-
governance-no-sector-empresarial-publico-angolano-que-desafios_vf.pdf
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MANUEL, Leonildo João Lourenço. Revisitando o Governance no Sector Empresarial Público
Angolano: Que Desafios?, Working Paper No. 3/2019, Governace Lab, op. cit.
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empresarial público, entendemos que, ao desenvolver o programa de privatizações, o
Estado procura certamente reduzir a sua estrutura empresarial, mas parece-nos que não
seja apenas este o objectivo central. Na verdade, todo o conjunto de medidas adoptadas
nesse período de mudanças políticas tem um interesse maior, o qual consiste precisamente
no aumento das receitas públicas mediante diversificação das suas fontes de arrecadação,
como se mencionou acima, já que o Estado enfrenta sérias dificuldades nesta área 23.
Mas, ainda nos cabe indagar até que ponto será esta a razão que justifica a
introdução dos títulos de participação como mecanismo alternativo de financiamento das
empresas do SEP, mesmo para aquelas que serão privatizadas, com o escopo de dotá-las
de maior capacidade financeira. Não haverá alternativas que permitam ao Estado reduzir
a sua intervenção directa na economia, ao mesmo tempo em que lhe forneçam os
necessários recursos financeiros?
Existem, de certo, outros mecanismos que possibilitam lograr um, outro ou ambos
objectivos preconizados pelo Estado. Este pode apostar num forte investimento directo
nas suas empresas de modo a permitir a sua reestruturação orgânica (com técnicos
devidamente qualificados) e financeira, para garantir o cumprimento dos objectivos
económicos de tais empresas, bem como aumentar o seu valor de mercado, o que
permitirá vendê-las directamente, isto é, privatizá-las a um preço competitivo no mercado
de acções24.
Acontece, porém, que a experiência demonstra que o investimento directo nas EP
não tem sido eficaz, pois, como se fez notório, muitas dessas empresas estão económica
e financeiramente fragilizadas devido aos inúmeros problemas cíclicos de governance
com que se deparam, razão pela qual o Estado quer desinvestir nessas empresas
ineficientes e pode fazê-lo mediante privatização no mercado de acções.
Para que entrem com sucesso no mercado de acções, o Estado terá de garantir que
as empresas do SEP a privatizar estão devidamente qualificadas, ou seja, para além do
cumprimento dos princípios das boas práticas de governa
23
Como Consta do Preâmbulo do RJTP.
24
No entanto, apesar de, em Angola, já se ter feito um roadshow para promover a existência do mercado
de acções, os resultados tardam a conhecer a luz do dia, porque faltam emitentes, isto é, empresas dispostas
a abrir o seu capital, tornando-se sociedades abertas, por via da sua cotação em mercado de acções. E, por
este facto, a elaboração e a execução do Programa de Privatizações de empresas de referência via bolsa,
previsto no Plano Intercalar, apresenta-se como a grande chave, não só para o Estado obter receitas ou
diminuir despesas, como veremos mais adiante, mas também para promover a existência e o funcionamento
do mercado de acções. MANUEL, Leonildo João Lourenço. Privatização de empresas via mercado de
acções: que desafios? In Revista de Direito Comercial. Disponívem em:
https://static1.squarespace.com/static/58596f8a29687fe710cf45cd/t/5b2b50db88251ba7a04ee7eb/152956
5404469/2018-16.pdf
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nce, em que se destaca o princípio da transparência, devem apresentar excelentes
resultados no desempenho dos seus negócios, no sentido de atrair o interesse do
investidor.
O desempenho dos negócios deverá ser relatado no prospecto, que deverá incluir
as informações contabilísticas sobre a situação financeira do emitente, fornecendo aos
investidores dados para avaliação e projecção do futuro das empresas a serem
privatizadas.
A publicação do prospecto está intimamente ligada ao princípio da transparência
que, no âmbito do price sensitive information, se pretende atrair os potenciais investidores
e vender as empresas ao melhor preço. Mas ocorre que, com base na situação actual do
SEP, pode notar-se que grande parte destas empresas terá certamente um baixo preço no
mercado, impedindo que as mesmas sejam vendidas a preço competitivo e, por esse
motivo, o Estado introduz os títulos de participação para recorrer ao financiamento das
suas empresas mediante capitais alheios o que, de algum modo, transfere os riscos
resultantes da má gestão das EP para os investidores, antes de privatizá-las.
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Protege-se também a posição dos participantes com a prevista constituição e
funcionamento das assembleias de participantes (artigos 23.º e 24.º do RJTP), onde,
inclusivamente, poderá discutir-se e deliberar-se sobre a modificação das condições dos
créditos dos participantes, conforme o disposto na alínea a) do n.º 1 do artigo 25.º do
RJTP.
Do mesmo modo, as figuras do representante comum dos participantes, com
poderes para praticar os actos de gestão mais convenientes à defesa dos interesses comuns
daqueles e de um perito contabilista, com competências idênticas, em matéria de exame,
inspecção, verificação e obtenção de informações, às do órgão de fiscalização da empresa
e às dos auditores, insere-se na mesma linha de preocupações.
Os participantes têm em cada emissão um representante comum, o qual pode ser
uma pessoa singular dotada de capacidade jurídica plena, um escritório de advogados ou
uma sociedade de peritos contabilistas, devendo nesses últimos casos ser nomeado um
dos sócios para representar todos os participantes de cada emissão, sem prejuízo de haver
um ou mais representantes comuns substitutos (n.º 1 a 4 do artigo 35.º do RJTP)25. A
nomeação e exoneração do representante comum e dos substitutos é feita pela Assembléia
de Participantes que define a duração das suas funções. Não sendo feita a nomeação em
Assembléia, o representante comum pode ser designado pelo tribunal, a requerimento de
qualquer participante ou da empresa, nos termos do n.º 4 do artigo 38.º do RJTP. De
acordo com o n.º 5 do artigo em causa, qualquer participante pode requerer a exoneração
do representante comum com fundamento em justa causa. Tanto a nomeação quanto a
exoneração ou mesmo a cessação de funções por outra razão do representante comum
devem ser comunicadas à empresa, por escrito, devendo esta promover a sua inscrição no
registo comercial (vide o n.º 6 do mesmo artigo).
Finalmente, a figura do perito contabilista ganha especial realce na protecção dos
participantes por via da elaboração de parecer relativo ao apuramento feito pela empresa
25
Todavia, existem restrições ao exercício desta função. Conforme determinado pelo n.º 5 do artigo 37.º
RJTP, não podem ser representantes comuns: a) os beneficiários de ventagens particulares e os
administradores, membros do órgão de fiscalização e membros da mesa da assembleia geral de accionistas
da empresa; b) os gerentes, administradores, membros do órgão de fiscalização e membros da mesa da
assembleia geral de accionistas de sociedade dominada pela empresa ou em cujo capital esta detenha
participação superior a 10% ou de sociedade ou empresa pública que domine a empresa ou detenha mais
de 10% do capital desta; c) o sócio de sociedade em nome colectivo que tenha com a empresa a ligação
prevista na alínea anterior; d) os que prestem serviço remunerado à empresa ou à sociedade ou empresa
pública que com ela tenha ligação prevista na alínea b) do presente artigo; e) os que exerçam funções numa
sociedade concorrente; f) os cônjuges, os parentes e afins na linha recta e até ao terceiro grau na linha
colateral de pessoas abrangidas pelas alíneas a), b), c) e e) do presente artigo, bem como os cônjuges de
pessoas abrangidas alínea d) do presente artigo.
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dos elementos a atender para a determinação e cálculo da remuneração dos títulos de
participação.
São impostas ao perito contabilista as incompatibilidades previstas no artigo 37.º.
A nomeação e exoneração, havendo justa causa, dos peritos contabilistas é feita pela
Assembleia de Participantes ou pela Assembleia Conjunta dos participantes para exercer
um mandato não superior a quatro anos. Na falta de nomeação, o emitente pode requerer
ao tribunal a designação do perito contabilista que se mantém em funções até ser nomeado
novo perito, respeitando-se, porém, o limite de quatro anos. Os participantes podem,
também, a sua exoneração com fundamento em justa causa. A nomeação ou exoneração
do perito deve ser comunicada por escrito à empresa que deverá promover a sua inscrição
no registo comercial26.
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Vide os artigos 40.º e 41.º do RJTP.
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A protecção do investidor é outro aspecto que se procurou indagar, considerando
que os títulos de participação não são geralmente reembolsáveis, o que pode comprometer
o retorno do capital investido. Entretanto, não obstante os riscos que correm os
participantes de não receberem a parte variável que da remuneração a que têm direito
devido, por exemplo, à falta de rendimentos líquidos da empresa, a sua protecção é
devidamente salvaguardada ao abrigo da lei, que garante o recebimento da parcela
fixa/independente do valor nominal dos títulos de participação. Mas, além disso, os
interesses dos participantes são protegidos por via de um conjunto variado de direitos que
lhes permite estar em posição privilegiada na empresa em comparação com demais
credores, tais como o direito a informação, o direito de participar e deliberar em
assembleia de participante, o direito de eleger um representante comum e um perito
contabilista.
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