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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIAS PARA A SUSTENTABILIDADE


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS AMBIENTAIS
CURSO DE ENGENHARIA FLORESTAL

Alexandre Almeida da Costa

Capacidade de retenção hídrica da serapilheira em duas áreas com


diferentes níveis de sucessão ecológica no munícipio de Brotas, SP

Sorocaba
2019
2

Sumário
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 3.
2. REVISÃO BIBLIOGRAFICA .............................................................................................. 5.
3. METODOLOGIA .............................................................................................................. 7.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ......................................................................................... 10.
5. CONCLUSÃO ................................................................................................................. 17.
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1. INTRODUÇÃO

No processo de restauração busca-se restabelecer um ecossistema


que existia originalmente em um determinado local, por meio da recuperação de
suas funções (PRIMACK & RODRIGUES, 2001), as quais variam de acordo com
algumas características da floresta, como por exemplo, o clima, a copa e a altura
das árvores, as raízes, o próprio solo, e a serapilheira.
A retenção da água proveniente das chuvas pela serapilheira,
depende das características físicas da mesma, tais como espessura, estado de
decomposição e umidade (NETO, 2001), podendo levar a diferenças na
quantidade de água retida e disponível no solo (LIMA, 1996).
Este material é fundamental para a sustentabilidade da produção
florestal, pois permite que, parcialmente ocorra o retorno ao solo de uma
quantidade de nutrientes absorvidos pelas plantas, a importância desse ciclo que
existe entre a comunidade viva e o ambiente ao seu entorno pode ser observada
nas florestas que se mantêm em áreas com solos de baixa fertilidade
(SCHUMMACHER, et al., 2003).
Pesquisas sobre serapilheira, quantificam a produção e o estoque, e
favorecem o conhecimento dos processos de reciclagem da matéria orgânica e
nutrientes, da vegetação para o solo (VITAL et al., 2004). Porém, as diferentes
possibilidades topográficas podem causar alterações na ciclagem de nutrientes,
devido ao maior escoamento superficial e sub-superficial da água da chuva
(MOREIRA & SILVA, 2004).
O estudo da serapilheira é também importante para a restauração de
área degradadas pois a quantidade de água retida na serapilheira é um indicativo
da estabilidade do ecossistema e a quantidade de serapilheira produzida é um
indicativo de melhoria do mesmo.
A ocupação do solo decorrente do acúmulo de serapilheira sobre a
sua superfície é ainda um indicador de qualidade ambiental, pois representa um
estoque de nutrientes para futura mineralização e ciclagem (SILVA, 2006).
Os ecossistemas de florestas tropicais, possuem produção frequente
de serapilheira ao longo do ano, a sua produtividade nas diferentes épocas varia
de acordo com a vegetação considerada (LEITÃO-FILHO, et al. 1993). Além
disso Figueiredo-Filho et al. (2003) cita que fatores bióticos e abióticos alteram
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a produção de serapilheira, tais como: temperatura, relevo, precipitação, tipo de


vegetação, altitude, latitude, regimes de luminosidade, deciduosidade, estágio
sucessional, disponibilidade hídrica e características do solo, dependendo das
características de cada ecossistema um determinado fator pode prevalecer
sobre os demais.
Todo ecossistema florestal possui algum valor ambiental e social,
entre estes valores estão incluídos, a presença de espécies raras, áreas de
recreação, ou recursos coletados por população loca, quando estes valores têm
significado excepcional ou são de importância crítica, o ecossistema florestal
pode ser classificado como uma Floresta de Alto Valor de Conservação
(Internacional paper, 2017).
O munícipio de Brotas investe no ecoturismo, gerando renda e
trabalho para a população, dentre as possibilidades incluiu-se o trekking,
canoagem em corredeiras, mountain bike, circuito de tirolesas, natação, além de
navegação, reforçando a vocação do município para o turismo de aventura e
ecoturismo.
A economia da cidade se movimenta durante as temporadas os hotéis
ficam lotados e tem grande movimentação financeira com hospedagem,
alimentação, artesanato e atividades.
A RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural) Floresta das
Águas Perenes compreende um dos principais tributários do principal rio do
município, o Jacaré-Pepira, e sua conservação é importante para a manutenção
e conservação da bacia hidrográfica do rio Jacaré-Pepira o qual é importante
para região que necessita dessa bacia para pratica dos esportes que geram
renda com o ecoturismo.
Neste contexto, o objetivo do presente trabalho é quantificar a
capacidade de retenção hídrica da serapilheira acumulada sobre o solo em duas
áreas perturbadas com diferentes níveis de sucessão natural na referida RPPN
e a sua correlação com a pluviosidade.
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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A serapilheira é o material caído, que se acumula na superfície do


solo da floresta, formado por folhas, caules, ramos, frutos, flores e outras partes
da planta, bem como restos de animais e material fecal é possível dividir sua
composição em três partes as folhas , os galhos e o material amorfo já está em
estágio avançado de decomposição, assim que se acumula sobre o solo, a
serapilheira é submetida a um processo de decomposição que se inicia com a
ação da fauna edáfica constituída, sobretudo de artrópodes, que têm como
função a degradação do material para facilitar a decomposição pelos
microrganismos e, ao final do processo, exista a liberação parcial dos nutrientes
minerais que constituem os tecidos orgânicos (GOLLEY et al., 1978).
Segundo Figueiredo Filho et al. (2003) existem alguns fatores bióticos
e abióticos que podem alterar a produção de serapilheira, como exemplo: tipo de
vegetação, altitude, latitude, precipitação, temperatura, regimes de
luminosidade, relevo, deciduosidade, estágio sucessional, disponibilidade
hídrica e características do solo, dependendo do tipo de ecossistema um fator
pode interferir mais sobre os outros.
As pesquisas sobre a reciclagem de nutrientes minerais, através da
serapilheira, são importantes para entender a estrutura de ecossistemas
florestais. O processo de retorno de matéria orgânica e de nutrientes para o solo
florestal se dá em parte através da produção de serapilheira, sendo um
importante meio de transferência de elementos essenciais da vegetação para o
solo. (VITAL et al., 2004).
Para entender melhor o processo de restauração de um ecossistema,
é importante um prévio levantamento florístico com quantificação e qualificação
do material decíduo depositado pelas espécies, pois a partir de informações
sobre a vegetação e a contribuição das espécies de forma isolada nos processos
de formação, acúmulo e decomposição de serapilheira, e da liberação de
nutrientes para o solo (SANTANA, 2005).
Analisando fisicamente o efeito da serapilheira pode-se destacar o
fato de que ela diminui o impacto das gotas de chuva sobre o solo e evita sua
selagem, além de minimizar as taxas de evaporação (VALLEJO, 1982).
6

A presença da umidade neste material auxilia no desenvolvimento da


fauna endopedônica, com importante função de abertura de bioporos nos
primeiros centímetros do solo, o que aumenta a infiltração da água no solo
(CASTRO JÚNIOR, 1991).
Gonçalves et al. (2003) explica que a serapilheira reduz as perdas de
água do sistema através de diferentes níveis de decomposição, quanto mais
tempo de permanência da água nas camadas de serapilheira acumulada, menor
as perdas de água no ecossistema, sendo assim importante para manter a
disponibilidade de água para as plantas e para a manutenção das nascentes.
Segundo Voigt & Walsh (1976), o controle de umidade feito pela
serapilheira do solo ocorre devido aos fenômenos de absorção e adsorção ou
adesão superficial, a absorção depende, principalmente, de alguns fatores:
velocidade de decomposição, porosidade do material depositado, temperatura
do ambiente, variação da precipitação. A adsorção depende de: área das folhas,
estrutura, relevo, forma, relação superfície/peso seco e composição orgânica.
Uma das principais influências da floresta ocorre já no recebimento
das chuvas pelas copas das árvores, quando se dá o primeiro fracionamento da
água, onde uma parte é temporariamente retida pela massa vegetal e em
seguida evaporada para a atmosfera (ARCOVA, et al., 2003).
A precipitação efetiva pode ainda seguir outros caminhos, como
escoar livremente pela superfície do solo até encontrar um caminho direcional
como sulcos, ravinas, e cursos d’água. Porém, devido às características do piso
de ecossistemas florestais, com grande proporção de matéria orgânica fornecida
pela serapilheira, juntamente com a porosidade dos solos, grande parte da
precipitação efetiva tende a se infiltrar. A água infiltrada forma a umidade do solo,
os aqüíferos, e ainda pode escoar até atingir um fluxo de água externo, como
uma nascente ou diretamente um curso d’água. (SHINZATO, et al., 2009).
O escoamento pelos troncos, é estimado em torno de 1 a 5% dos
totais precipitados, tendo sua importância no ciclo hidrológico como uma
eficiente forma de reposição de água no solo, alcançando a superfície do solo
em baixa velocidade devido ao atrito com a superfície dos troncos, direcionando-
se próximo às raízes e reduzindo o escoamento superficial. Essa parcela de
água infiltra-se mais facilmente no solo e favorece o reabastecimento do lençol
freático e os reservatórios subterrâneos. (OLIVEIRA, et al., 2011).
7

Freitas et al. (2013) pesquisando sobre a distribuição da água de


chuva em Mata Atlântica concluiu que do total de chuva precipitada 18,1 % foi
interceptada pela copa das árvores e possivelmente evaporada, voltando
novamente à atmosfera. Outra parte 0,9 % foi interceptada pela copa das
árvores, escoando pelo tronco até atingir o solo, Oliveira et al. (2008) obteve
resultados parecidos na FLONA de Caxiuanã na Amazônia oriental, em relação
à precipitação total acima do dossel entre Março e Dezembro de 2004; a
interceptação correspondeu a 21,5%; e o escoamento pelos troncos de
correspondeu a 1,7%.

3. METODOLOGIA

A área de estudo pertence ao município de Brotas e está localizada


na RPPN Floresta das Águas Perenes que possui dimensão de 812,24 hectares,
estudos em parceria com universidades constataram uma concentração
significativa de valores relativos à biodiversidade em nível regional, parte da
microbacia hidrográfica está em processo de condução de regeneração natural,
sendo iniciado, depois que os eucaliptos remanescentes da área foram colhidos
no ano de 2006, com finalidade de destinar a área exclusivamente à conservação
da natureza para propiciar a proteção da bacia hidrográfica. (Internacional paper,
2017).
O Bioma da região consiste basicamente de Cerrado, com alguns
pontos de cerradão, o clima é classificado como Cwa segundo a Köppen e
Geiger, caracterizado como quente e temperado, com verões chuvosos e
invernos secos, com a temperatura média é 20.0 °C, a média anual de
pluviosidade é de 1337 mm (Climate-data, 2019).
Os tratamentos são áreas em condução da regeneração natural, com
dois estágios diferentes de sucessão natural, um fragmento natural sem
interferência humana por 45 anos, desde 1973, sendo o Tratamento A (TA)
(estágio avançado de regeneração). E o outro fragmento com 12 anos sem
intervenção após corte do eucalipto sendo esse o Tratamento B (TB) - (estágio
intermediário de regeneração). Foram instaladas 3 parcelas de 20m x20m
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(400m²) em cada tratamento, com 10 metros lineares de distância entre as


parcelas.
A coleta do material foi realizada utilizando um quadrante de 1m²
dividido igualmente em quatro partes iguais. Os dados mensais foram obtidos
através de amostras compostas de 10 coletas de um quatro do quadrante para
cada parcela aleatoriamente.
Foram coletados dados do mês de Julho com precipitação igual a 0
mm e do mês de Fevereiro com 156,34 mm com objetivo de comparar o mês
mais seco com o mês mais úmido.
A análise do material coletado foi realizada na Universidade Federal
de São Carlos – Campus Sorocaba, onde o mesmo foi limpo e peneirado, com
a finalidade de retirada de possíveis partículas de solo presentes na amostra e
em seguida separado nas seguintes frações: galhos, folhas, e material amorfo
que é um material parcialmente decomposto que se diferencia das outras
frações.
Na técnica utilizada para a avaliação da serapilheira o material
separado, foi utilizado o método o teste de capacidade de retenção hídrica (CRH)
desenvolvido por Blow (1955), submerso em água em um balde por 90 minutos,
em seguida as amostram eram suspensas ao ar livre por 30 minutos para que a
água fosse drenada do material. Após este procedimento o material foi pesado
na balança modelo Bel Engineering - L 20001 para a obtenção da massa úmida
(MU) e levado a estufa a 75ºC até atingir peso constante para obtenção da
massa seca (MS), então determinou-se a capacidade de retenção hídrica (CRH)
através da equação 1.

Equação 1:
CRH= [ (MU – MS) ÷ MS] × 100
Sendo:
CRH (%): capacidade de retenção hídrica
MU: massa úmida
MS: massa seca
9

Para fazer uma comparação de média é comum o uso do ANOVA,


porém dentre os pressupostos para a realização do teste é que os resíduos do
ANOVA devem seguir uma distribuição normal. Então é necessário validar essa
afirmação vendo o histograma e o gráfico Q-Q dos resíduos do teste e aplicando
o teste de normalidade de Shapiro Wilk.
O gráfico Q-Q dos resíduos mostrou uma assimetria com relação a
reta dos quantis da normal, não indicando uma distribuição normal. Para tentar
ajustar os resíduos a uma distribuição normal foi aplicada a transformação
logarítmica sobre os resíduos e após a transformação foi aplicado o histograma,
um gráfico Q-Q e foi feito outro teste de normalidade, o qual indicou que a
distribuição pode ser modelada pela distribuição normal, com isso foi possível
usar o teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade para o ANOVA entre
log(CHR) e as frações do amorfo.
Por não seguir a normalidade, é necessário utilizar testes não
paramétricos para fazer a comparação entre a medianas das variáveis, então
para comparar os diferentes locais e o mês úmido com o mês seco foi utilizado
o teste de Mann-Whitney com 5% de significância que verifica se uma população
tende a ter valores maiores do que a outra, para calcular a estatística do teste
ordenamos todos os valores (das duas amostras) em ordem crescente e
colocamos os postos associados. Consideramos Sm e Sn as somas dos postos
(postos são as posições, representados por números, que os valores ocupam
quando colocados em ordem crescente) relacionados aos elementos das
amostras X e Y respectivamente. A partir dos valores Sm e Sn, calculamos os
valores:

Como Sm + Sn é a soma de postos das duas amostras resulta que:


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É possível observar que os valores Um e Un estão relacionados


segundo a equação:

No teste calcula-se a estatística W que é igual a Un e obtém-se o p-


valor a partir da distribuição amostral dessa estatística sob H0.
Onde H0 = Inexistência de diferença entre os dados, as observações
das duas amostras independentes comparadas.

Para verificar a correlação entre a CRH e a pluviosidade foi calculado


o coeficiente de correlação para determinar a relação entre a capacidade de
retenção hídrica e a pluviosidade a equação do coeficiente de determinação é
apresentada a seguir:

Equação 2:

Onde: onde são as médias de amostra da matriz1 e matriz2.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados para o mês de Julho ou mês seco, mostraram que a


fração amorfo foi o material com maior CRH para ambos os tratamentos, no
tratamento A obteve média de 306% e para o tratamento B de 331,4%, seguido
pela fração folha com média de 258,2% para o tratamento A e de 260,3% para
o B. A fração galho foi a que obteve os menores valores de CRH tendo média de
137,7 % para o tratamento A e de 141, 9% para o tratamento B. Estes valores
estão de acordo com a literatura Melos et al. (2009), a qual cita estudos em área
de floresta Atlântica (secundária) com CRH variando entre 134% e 335%. As
11

médias de CRH obtidas no mês de Julho para o seu respectivo tratamento são
apresentadas na Figura 1.

FIGURA 1: Média da capacidade de retenção hídrica de cada fração para o seu respectivo
tratamento no mês de Julho.

O fato da fração amorfo ter sido o material com maior capacidade de


retenção hídrica ocorre provavelmente devido ao fato desse tipo de material ter
maior superfície de contato com a água e promovendo o fenômeno da
capilaridade, segundo Libardi (2005) capilaridade é o movimento da água em um
tubo capilar que é possibilitado pela tensão superficial da água. A formação
desse tipo de tubo é dificultada para as outras frações pelo tamanho do próprio
material, que tem a característica de absorver a maior parte da água que retêm
de acordo com a sua porosidade. Carneiro (2014) pesquisando sobre a
capacidade de retenção hídrica da serapilheira de clones de eucalipto, concluiu
que o material amorfo tem a maior capacidade de retenção por ser um material
de maior decomposição em relação a outras frações.

A fração galho foi a que obteve os menores valores de CRH.


Montezuma (2005) explica que a sua forma e tamanho favorecem o escoamento
do líquido e o material lenhoso absorve menos água, a CRH para os galhos é
determinada pelas características da espécie, como a densidade da madeira e
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a porosidade do material. Enquanto as folhas com uma área superficial maior


tendem a ter uma capacidade maior que os galhos, o teste de Tukey demonstrou
uma diferença significativa entre a CRH dos galhos e das folhas, porém a
diferença entre as folhas e o material amorfo não foi significativa o que
demonstra que apesar do material amorfo possuir maior CRH, as folhas
desempenham papel importante para a retenção de água da serapilheira, e
dificultam o escoamento superficial da água além de servir de proteção e habitat
para insetos e fungos decompositores.

A similaridade da capacidade de retenção hídrica entre os tratamentos


A e B pode estar ligada as espécies que existem no local e que dão origem ao
material que chega ao solo e forma a serapilheira, características intrínsecas
dessas espécies determinam a capacidade de retenção hídrica da serapilheira.
Mateus et al. (2013) por exemplo, observou que a serapilheira formada a partir
das folhas da espécie Clidemia urceolata apresentou retenção hídrica maior
quando comparado com a serapilheira na ausência da espécie, devido ao
aspecto glutinoso das folhas, demonstrando que a CRH pode variar de acordo
com as espécies da área. Assim se as serapilheiras de dois locais tiverem na
sua formação material de espécies com características semelhantes ou até de
uma mesma espécie o comportamento da capacidade de retenção hídrica
também tende a ser semelhante.

A ausência de chuvas favorece essa padronização da capacidade de


retenção hídrica pois diminui a oferta de água para ambos os tratamentos. Em
um solo úmido a água fica localizada em poros maiores da serapilheira pois os
menores já se encontram ocupados o que faz com que a evaporação decorrente
do período de altas temperaturas ou o escoamento superficial possa remover e
transportar essa água, Conceição et al. (2014) explica que em um solo seco a
água fica retida nos poros menores e nos tubos capilares sendo fortemente retida
pela serapilheira do solo garantindo a retenção de água mesmo em meses com
pouca ou na ausência de chuva.

Os resultados do mês de Fevereiro, indicaram que a presença da chuva


causou redução das médias de CRH do tratamento A para todas as frações. A
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média da fração folhas foi de 236,9% o que significa uma redução de 21,2% em
relação ao mês de Julho, a fração galhos teve média de 125,9%, e também
apresentou uma redução de 11,8% e a fração amorfo apresentou média de
264,5% com um queda de 41,1% o que aponta uma correlação negativa entre a
CRH e a pluviosidade.

FIGURA 2: Média da capacidade de retenção hídrica de cada fração para o tratamento A no mês
de Julho e Fevereiro.

Ao analisarmos resultados, verifica-se que o tratamento A é uma área


em estágio avançado de regeneração o que o torna resiliente á alterações no
ambiente e busca o equilíbrio em suas interações. Desta forma se a CRH
aumentasse com a chuva, o solo ficaria encharcado devido à combinação da
drenagem da água pelo solo e a retenção hídrica da serapilheira o que causaria
o apodrecimento das raízes e a falta de oxigênio no solo (NASCIMENTO et al.
2012). Isso explica a redução da CRH causada pela chuva no tratamento A.

A serapilheira tem a função de manutenção e resiliência do


ecossistema além de fornecer nutrientes a floresta através da sua
decomposição, ela possui a CRH que mantem a umidade no solo da floresta em
períodos secos, tornando-se indispensável para a longevidade do ecossistema
florestal.
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A CRH não sofre grandes alterações com a chuva pois apenas uma
parte dela consegue chegar ao solo, a parte que não chega acaba interceptada
pelas copas das árvores, pelos troncos, além disso nos períodos mais quentes
do dia a evaporação também reduz a água que chega até a serapilheira. Para o
tratamento B os resultados do mês de Fevereiro indicaram um aumento na média
de CRH para as frações folhas e galhos. A média da fração folhas foi de 268,9%
com um aumento em relação ao mês de Julho de 8,6%, a fração galhos obteve
média de 199,1% com um aumento de 57,1 %, e a fração amorfo teve média de
208,5 % o que significou uma redução de 122,8%.
350

300

250
Retenção hídrica (%)

200

150

100

50

0
Galhos Folhas Amorfo

Julho Fevereiro

FIGURA 3: Média da capacidade de retenção hídrica de cada fração para o tratamento B no mês
de Julho e Fevereiro.

O tratamento B é uma área em estágio de regeneração intermediário, a


qual está reestabelecendo suas propriedades e diversidade de espécies, sendo
assim é possível notar que diferente do tratamento A as frações folhas e galhos
tiveram um aumento de CRH isso se dá devido ao maior acesso da chuva ao
solo devido a menor altura das árvores do tratamento B em relação ao A, e a
menor cobertura oferecida pelas copas do tratamento B. A fração amorfo nesse
estágio teve uma redução de CRH o que aponta essa fração como a primeira a
adquirir esta característica de redução da CRH com a presença da chuva.
15

Comparando os resultados dos dois tratamentos no mês de Fevereiro,


nota-se que o tratamento B passa a ter médias maiores de CRH para as frações
galhos e folhas com destaque para a fração galhos, onde o tratamento B
apresentou 73% a mais de CRH em relação ao A. A diferença entre o nível de
decomposição dos galhos estar relacionada a este fato sendo que quanto mais
decomposto o material maior será sua CRH (Figura 4).

350

300
Retenção hídrica (%)

250

200

150

100

50

0
Galhos Folhas Amorfo
TA TB

FIGURA 4: Média da capacidade de retenção hídrica de cada fração para o seu respectivo
tratamento no mês de Fevereiro.

Os testes de Mann-Whitney realizados com 5% de significância,


relacionando as variáveis CRH e Local e outro entre as variáveis CRH e Mês
indicaram não haver diferença significativa entre a CRH nos diferentes locais e
nos diferentes meses. As variáveis testadas e o seu respectivo p-valor são
apresentados na tabela 1.

Tabela 1. Valores de p-valor para os testes de Mann-Whitney das variáveis


testadas para uma significância de 5%
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Variável p-valor
Local 0,9351
Mês 0,3865

O teste de Tukey entre o log (CRH) e as frações da serapilheira com 5%


de significância indicaram que não existe diferença significativa entre a fração
amorfo e a fração folhas, porém a fração galhos difere significativamente das
outras frações os valores de p-valor para o teste Tukey estão apresentados na
tabela 2.

Tabela 2. Valores de p-valor para o teste de Tukey entre o log (CRH) e


as frações da serapilheira para uma significância de 5%.

Fração p-valor
Folhas - Amorfo 0,7693938
Galhos - Amorfo 0,0000473
Galhos - Folhas 0,0003306

O resultado obtido com o cálculo do coeficiente de correlação entre a CRH


e a pluviosidade foi de – 0,158. Konig et al. (2002) também obteve um resultado
parecido a igual -0,18. O que indica existir uma pequena correlação negativa
entre estas variáveis, e aponta que os fatores que alteram a CRH são as
espécies que formam a serapilheira e o nível de decomposição do material que
a forma, o fato da fração amorfo em ambos os casos obter maior CRH sendo o
material formador da serapilheira com estágio mais avançado de decomposição
comprova este fato.

A pesquisa de espécies com importância significativa para a CRH como


a Clidemia urceolata citada por Mateus et al. (2013) e a Enterolobium
contortisiliquum citado por Konig et al. (2002) e os estudos quanto a forma e
velocidade da decomposição da serapilheira tem papel fundamental para a
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recuperação de áreas degradadas, pois desenvolvendo-se métodos que


favorecem a decomposição do material que chega ao solo aliado as espécies
que geram este material e possuem características positivas a CRH, os
ecossistemas em recuperação tendem a desenvolver a sua resiliência reduzindo
a mortalidade das espécies regenerantes e auxiliando no desenvolvimento do
banco de sementes além da ciclagem de nutrientes decorrente da decomposição
da serapilheira.

5. CONCLUSÃO

O material amorfo foi o que obteve os maiores valores de CRH, seguido pela
fração folhas e a fração galho obtendo os menores valores, o teste de Tukey
indicou não haver diferença estatística entre a fração amorfo e a fração
folhas enquanto a fração galhos diferiu das outras. O resultado do cálculo
do coeficiente de correlação demonstrou existir uma pequena correlação
negativa entre a CRH e a pluviosidade indicando que a capacidade de
retenção hídrica da serapilheira de uma área varia de acordo com as
características das espécies que habitam a área e o nível de decomposição
da serapilheira.
Os testes de Mann-Whitney mostraram não haver diferença significativa
em relação a CRH no tratamento A e B e também nos meses de Julho e
Fevereiro validando assim a conclusão anterior de que a CRH está ligada a
características intrínsecas das espécies, e que a pesquisa de espécies com
potencial para aumentar a CRH da serapilheira é importante para a
conservação e restauração de áreas em recuperação.
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