Você está na página 1de 6

CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS: UM RECURSO PARA ALFABETIZAÇÃO, LEITURA E

ESCRITA

Aline Gonçalves Barros França – Mat. 217010185


Mônica Nunes de Neves – Mat. 417010188
Disciplina: Alfabetização I – Turma P2

Resumo
O objetivo deste trabalho é apresentar a contação de histórias como recurso apropriado
na formação e criação de diferentes estímulos e experiências que fazem parte, principalmente,
das etapas iniciais do processo educacional. Na elaboração do mesmo, elencamos três pontos
que consideramos importantes, a saber: a contação de histórias na construção de relações, no
processo de alfabetização e sua relação com a leitura, a escrita e a oralidade. Nesse sentido, ao
contar uma história o professor pretende provocar e/ou despertar novas experiências, ativar a
criatividade, a imaginação, bem como a curiosidade das crianças, promovendo assim o
desenvolvimento individual e coletivo ao incentivar que estas se tornem leitoras ativas e
criativas, aptas a criar e contar suas próprias histórias interagindo com os demais,
apropriando-se também de novas habilidades e leituras de mundo a partir das suas relações
com o meio em que vivem.

Palavras-chave: Contação de Histórias; Alfabetização; Leitura; Escrita; Oralidade.

Desde os tempos mais remotos, o hábito de contar histórias se desenvolveu como


característica principal na transmissão dos costumes, heranças culturais e sociais, norteando
elementos morais que atravessaram gerações. Tal hábito, com extremada relevância na
atualidade, é desenvolvido como recurso pedagógico principalmente nos primeiros anos do
Ensino Fundamental, no que diz respeito ao processo de construção da leitura e da escrita.
Dessa forma, ancorada na ludicidade, a contação de histórias visa estimular o lado criativo e
imaginativo das crianças, e porque não dizer dos adolescentes e adultos também, permitindo
que estes possam experenciar novas realidades, potencializando suas leituras de mundo.

1
Contação de histórias: Construção de relações
Para além da oralidade transmitida através dos tempos, o homem sentiu a necessidade
de representar em códigos variados suas histórias e para tanto utilizou como suporte material
as paredes das cavernas, as pedras, entre outros que permitissem grafar as diferentes
transcrições que variavam conforme as comunidades. Assim, partindo de tal avanço,
perceberam que seria preciso ensinar as formas de registro para os demais e se lançaram ao
aprendizado dos escritos rudimentares e posteriormente ao processo de leitura. Percebemos,
sob esta ótica, que a contação de histórias teve no passado ligação direta com o ato de
escrever e com a leitura de textos que culminou com o desenvolvimento da gramática e da
literatura como conhecemos. No que diz respeito às obras literárias, Araújo, Moreira e Silva 1
afirmam que:
Além de contemplar sua formação escolar, as obras literárias oportunizam a
fruição e o deleite, pois estimulam a imaginação. Por isso, tais textos não
devem ser encarados como expedientes para servir ao ensino das boas
maneiras, dos hábitos de higiene, dos deveres do cidadão, dos tópicos
gramaticais, das desgastadas do prazer do texto, pelo contrário, os textos
literários devem assumir um caráter formativo no processo de aprendizagem
da criança, enriquecendo seu arcabouço literário. (ARAÚJO, MOREIRA E
SILVA, 2018, p. 215)

As autoras supracitadas concordam que o homem é o responsável pela criação da


literatura infantil, haja vista que esteve no processo inicial da transmissão de conhecimentos e
acontecimentos de seu cotidiano, buscando meios de legar suas heranças culturais e sociais
sustentadas pela oralidade. Vale ressaltar que a atividade de contar histórias também permite
estabelecer relações com o imaginário no sentido de promover e ampliar a criatividade dos
envolvidos, estimulando a narrativa das experiências externas e um desenvolvimento
perceptivo e cognitivo mais amplo. Conforme importante observação de Paulo Freire, a
leitura de mundo antecede à leitura de qualquer palavra, isto é, desde o nascimento já somos
leitores do mundo à nossa volta e as ações que por nós serão realizadas decorrem dessa
leitura. Portanto, o ato de ler é responsável por inspirar sentimentos, fomentar valores,
estabelecer relações e, sob esta lógica, a leitura é parte essencial no crescimento intelectual,
criativo, lúdico e crítico do indivíduo. (FREIRE, 2005, p.2) Ainda nessa linha de pensamento,

1
* Roberta Negrão de Araújo possui doutorado em Ensino de Ciências e Educação Matemática pela
Universidade Estadual de Londrina. Mestrado em Educação pela Universidade Estadual de Londrina.
Docente do Programa de Mestrado em Ensino (PPGEN). Líder do Grupo de Pesquisa em Educação
(GEPEDUC) e Professora da rede pública estadual - Paraná - Colégio Estadual Monteiro Lobato. *
Andreia Silva atuando como Professor Formador do curso Superior de Tecnologia em Gestão Pública
- CEAD pela Universidade Estadual do. Norte do Paraná – UENP. * Paola Ladeira da Silva vinculada
também à Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP).

2
Villardi2 destaca que “para formar grandes leitores, leitores críticos, não basta ensinar a ler. É
preciso ensinar a gostar de ler”. (VILLARDI,1999, p.2).
Percebemos então que a contação de histórias não é novidade no espaço pedagógico,
visto que o processo inicial de alfabetização se dá no contexto familiar do aluno, antes mesmo
de sua chegada à escola. Vale destacar que a criança possui experiências e relatos de mundo
que deverão ser considerados, mediados e estimulados pelo professor a fim de que toda a sua
bagagem possa ser efetivamente utilizada em seu desenvolvimento cognitivo. A partir dessa
estratégia, o ensino-aprendizagem proporcionará novas e diferentes vivências, despertará
curiosidades acerca de diversos assuntos, além de expandir a visão de mundo das crianças.
Logo, a contação de histórias aparece como auxiliar no processo de leitura e da escrita, pois
tende a ampliar o vocabulário, proporcionando a decodificação das letras e gradativamente a
formação de palavras e pequenas frases.

Contação de histórias no processo de alfabetização

Como tarefa complexa, a alfabetização atravessou diversos períodos e processos,


trazendo consigo uma diversidade de métodos que em suas particularidades demandam
profundas pesquisas e empenho por parte do professor/alfabetizador. Estando relacionada à
aprendizagem de escrita do alfabeto, ela se constitui através de uma técnica na qual o aluno
deve apresentar um certo domínio alfabético e ortográfico, bem como habilidades de leitura.
Nesse sentido, Soares3 define que a alfabetização é a “ação de ensinar/aprender a ler e a
escrever” (SOARES, 2012, p.40). Assim, o mediador deve utilizar uma variedade de métodos
que contemple as individualidades de cada aluno, tornando possível que este alcance o
objetivo pedagógico proposto. Logo, ainda nas palavras de Soares, “se entende por métodos
de alfabetização um conjunto de procedimentos que, fundamentados em teorias e princípios,
oriente, a aprendizagem inicial da leitura e da escrita”. (SOARES, 2016, p.16)

Isto posto, entendemos que a contação de história é um recurso que deve ser
amplamente utilizado pelo professor, tanto em sala de aula como fora dela, para o
desenvolvimento infantil, por meio do qual se poderá trabalhar diversas atividades através do
conto, da representação e oralidade.

2
Raquel Marques Villardi é Doutora em Letras (Letras Vernáculas) pela UFRJ (1992).
3
Magda Becker Soares é professora titular emérita da Faculdade de Educação da UFMG.
Pesquisadora do Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita – Ceale – da Faculdade de Educação da
UFMG. Graduada em Letras, doutora e livre-docente em Educação.

3
Contação de histórias: leitura, escrita e oralidade

As práticas da leitura e da escrita sempre estiveram no centro do desenvolvimento


pedagógico de todas as disciplinas que compõem as diversas áreas do conhecimento,
principalmente na língua portuguesa, cujo objetivo é justamente formar leitores e competentes
produtores de textos, todos com capacidade crítica e argumentativa para processar
devidamente as informações recebidas na sociedade. (FIORIN, 2007, p.95-116). Entretanto,
por muito tempo, os usuários da língua portuguesa se baseavam em uma concepção
tradicionalista, partindo de uma visão reducionista, vislumbrando a língua como algo estático,
desconsiderando suas peculiaridades, variações e diversidades, esquecendo-se que a língua é
viva e sofre transformações a todo tempo. Nessa perspectiva, se promove uma
supervalorização do que conhecemos como norma culta, propagada em um ensino voltado
para decodificação, sem produzir qualquer sentido para o aluno. Estes, por sua vez, sentem
dificuldades para compreender, construir sentidos, interpretar e até mesmo internalizar o
conhecimento, transformando, enfim, o aprendizado, em algo mecânico, voltado ao processo
de memorização sem despertar motivações ou interesses maiores no decorrer do processo
pedagógico.

Vemos então a necessidade de desconstrução dessa visão estática e normativa da


língua, naturalizando para os alunos que ela está sempre em constante transformação,
especialmente no processo de alfabetização, haja vista que é nesta etapa que as crianças
chegam usando inicialmente a linguagem oral carregada com suas experiências, passando
gradativamente ao desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita, somadas às
características gramaticais da língua. Os textos, com seus diversos gêneros, surgem como
recurso em potencial do aprendizado efetivando um importante trabalho marcado por
experiências e produções de sentido. No entanto, as práticas no chão da escola demonstram
que a ausência de qualidade na seleção dos textos, por parte dos professores, é um problema
pontual que se torna evidente em muitos dos casos de insucessos. Pesquisas sinalizam que tais
textos acabam descontextualizados e desconectados da realidade das crianças, sendo
utilizados apenas como foco em análise gramatical, resultando então no empobrecimento da
apropriação da língua e na produção textual. (ARAÚJO, MOREIRA E SILVA, 2018, p. 209)

Destarte, para que se realize um aprendizado real e significativo é necessário que os


professores selecionem previamente os textos com responsabilidade, explorando a diversidade
de gêneros para facilitar a compreensão das diferentes estruturas que perpassam as
modalidades da língua. Tal seleção possibilitará a promoção de estímulos sensoriais,

4
intelectuais e emocionais que incitam a criatividade e a interação dos grupos, visto que através
das histórias as crianças entram em contato com diferentes leituras de mundo, com seus
sentimentos e questionamentos, estabelecendo relações com os demais e com o meio que
estejam inseridos, especialmente a literatura, que, segundo, Araújo, Moreira e Silva,

É uma fonte de aprendizagem, desenvolvimento e humanização para a


criança. Por meio dos livros infantis esta tem a oportunidade de expressar
sentimentos, realizar descobertas, ampliar vocabulário, aprimorar a
linguagem e tudo isso pode ser explorado em articulação com a leitura, a
oralidade e a escrita, proporcionando o acesso à norma culta. (ARAÚJO,
MOREIRA E SILVA, 2018, p. 210)

O professor como mediador responsável desse processo precisa reconhecer o


verdadeiro sentido da leitura, compreendê-la como prática constante, para ter em mãos o
suporte necessário a fim de fazer uso do mesmo de forma efetiva na aprendizagem
objetivando a produção de sentido para formar leitores e escritores críticos. Vale destacar que,
baseados na perspectiva “sociointeracionista” de Vygotsky, somos constituídos como sujeitos
a partir das nossas interações sociais, mediados pelo uso de instrumentos e signos que
conduzem “os seres humanos a uma estrutura específica de comportamento que se destaca do
desenvolvimento biológico e cria novas formas de processos psicológicos enraizados na
cultura” (VYGOTSKY, 1991, p. 30), isto posto, desde o nascimento a partir das nossas
relações com os outros e com o meio aprendemos a nos comunicar. Tal comunicação, por
meio da linguagem oral, é a mais utilizada em nossas vidas, mesmo antes de aprender a falar,
sendo carregada por características sociais e culturais, como expressões, sotaques, gírias e etc.

Conclusão

A contação de histórias é uma das formas mais antigas de propagação de


conhecimento e de cultura, sendo nos dias de hoje algo essencial ao processo formativo das
crianças. Com a literatura infantil pode-se desenvolver vínculos, interações, construção do
pensamento crítico, hábitos de leitura escrita e maior compreensão de mundo. No processo de
alfabetização a utilização da contação de histórias abre um leque para que as crianças vivam
grandes experiências, aprendam novos vocabulários, bem como utilizar a leitura e a escrita em
seu dia-a-dia, além da possibilidade de ser utilizada como recurso pelo professor ao abordar
questões do cotidiano das próprias crianças, despertando as diversas vivências e visões de
cada um de acordo com o tema proposto. Com isso, os aspectos da leitura, da escrita e da
oralidade estão sempre presentes e relacionam-se durante a contação de histórias, sendo
necessário também que o professor/mediador seja ativo e criativo na elaboração das

5
atividades, propiciando aos seus alunos novos conhecimentos, interpretações, reflexões e que
suas leituras de mundo se desenvolvam com mais criticidade mediante as suas relações
enquanto sujeitos inseridos em uma sociedade. .

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ARAÚJO, Roberta Negrão de. MOREIRA, Andreia Silva. SILVA, Paola Ladeira. O Ensino
de Língua Portuguesa nos Anos Iniciais: O Papel da Literatura Infantil. Revista Educação e
Linguagens, Campo Mourão, v. 7, n. 13, jul./dez. 2018. Disponível em:
http://rpem.unespar.edu.br/index.php/educacaoelinguagens/article/viewFile/1772/1157 .
Acesso em: 19 abr. 2021
FIORIN, José Luiz. O ensino de português nos níveis fundamental e médio: problemas e
desafios. In: SCHOLZE, Lia; RÖSING, Tânia M. K. (Orgs.). Teorias e práticas de letramento.
Brasília, DF: INEP; UPF, 2007. p. 95-116. Disponível em:
http://docplayer.com.br/33865102-O-ensino-de-portugues-nos-niveis-fundamental-e-medio-
problemas-e-desafios-jose-luiz-fiorin.html. Acesso em: 23 abr. 2021.
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. São Paulo: Cortez, 2005.
VILLARDI, Raquel. Ensinando a gostar de ler: Formando leitores para a vida inteira. 1º ed.
Editora Qualitymark/Dunya, Rio de Janeiro, 1999.
VYGOTSKY, L. S. Formação social da mente. 4ª Edição. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
Versão digitalizada para deficientes visuais. Disponível em: <
https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/3317710/mod_resource/content/2/A%20formacao
%20social%20da%20mente.pdf> Acesso: 06 de abr. de 2021.
SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros / Magda Soares. – 3ed. – Belo
Horizonte: Autêntica Editora, 2012.
__________. Alfabetização: a questão dos métodos. São Paulo: Contexto, 2016.

Você também pode gostar